PELA VERDADE
A ação do Espírito
sobre a Matéria
Luiz de Mattos
9ª edição, 1983
Índice
Prefácio
Introdução
Aos acadêmicos
1. A vida moderna e
a debilidade nervosa
2. A cura dos
nervosos - I
3. A cura dos
nervosos - II
4. A ignorância dos
materialistas é a mais perigosa
5. Não pode haver
efeito sem causa
6. Contradições da
medicina
7. O mar
tempestuoso da vida terrena transborda, quem não se preparar para enfrentar o
temporal será arrastado na voragem
8. Saber onde canta
o galo. E cantar de galo
9. O medo da loucura
e o subconsciente do nervoso
10. O Racionalismo
Cristão quer o cumprimento da verdade
11. Distúrbios da
alma
12. Dores de
consciência já sentidas
13. Não sabem o que
dizem
14. Educação
psicomoral
15. Medicina
moderna precisa ser completada
16. Os porquês das
mentiras científico-médicas, que tantos males têm causado à humanidade
17. Parecer e não
ser mestre copista
18. Um parto
científico após catorze anos de gestação
19. Por si se
destroem
20. Pedantismo
científico
21. O diabo tornado
ermitão
22. Não mais
imperam os loiolas científicos
23. Camarão não
passa nesta malha, porque é esta a rede da verdade
24. A moral
verdadeira tem por princípio soberano o dever
25. O nervosismo é
um mal psíquico
26. A fadiga
cerebral
27. A ciência
materialista em apuros
28. Cada um dá o
que tem.
29. Entre uns e
outros
30. O sentir real
do médico e o remorso em ação
31. Doutrinas
falsas
32. Os cavouqueiros
da verdade são invencíveis
33. O cérebro não é
a sede da vida nem produz pensamentos.
34. Inteligência a
peso
35. Penedos
científicos
36. Novo rumo
37. A composição do
Universo
38. Para se
compreender a Verdade
39. Força e Matéria
40. Os diversos
estados da Força e da Matéria
41. Inteligência
Universal
42. A educação da
vontade
43. O Espiritismo é
uma verdadeira ciência.
44. A origem da
medicina
45. O Espiritismo é
a ciência das ciências, afirmam os médicos eruditos e honrados.
46. A medicina, sua
origem e situação na atualidade
47. Como os médicos
honrados lecionam.
48. O Espiritismo,
seu estudo e instrumentos
49. O fenômeno
vital, denominado atavismo
50. O papel do Espiritismo na Antropologia e na
Nosologia
51. O estado
psíquico e sua influência sobre as doenças
52. O atavismo
explicado pelo Espiritismo Racional e Científico
53. Corpos e
fenômenos, eis o que se nos depara no mundo.
54. A alma humana
55. A vontade, a
consciência e o livre-arbítrio
56. Gênese da alma
57. A força
psíquica
58. A formação da
inteligência
59. A percepção, a
memória, a compreensão, a concepção e a imaginação
60. A evolução da
alma, a lei do trabalho e a lei da reencarnação
Prefácio
PELA VERDADE vem a público como obra de
luta, mas de luta construtiva, como foi toda a vida de seu imortal autor.
Há aqui a demonstração eloqüente da capacidade e
brilho com que Luiz de Mattos tecia as suas campanhas, afirmando sempre a sua
personalidade invulgar de construtor sadio, que lança os lampejos da sua
inteligência sobre a multivariedade dos assuntos que mais diretamente a
solicitam, para desbravá-los, com a sua indiscutível boa vontade de esclarecer
seu semelhante.
Abrangendo, na sua pesquisa, campos de
outros mais conhecidos, ainda assim o seu talento polimorfo se afirmou como um
colaborador sensato e honesto, rasgando caminhos novos em setores científicos
ainda ignorados.
No terreno do psiquismo, abandonado pelo
materialismo ortodoxo aos planos secundários e desprezíveis do misticismo e da
superstição, Luiz de Mattos traçou, com pulso firme de Mestre, um vasto
programa de estudos, que culminaram numa melhor compreensão do homem, da vida e
do Universo.
Sem estudos médicos que !he outorgaram uma
bagagem desses conhecimentos, pôde, ainda assim, à maneira de Pasteur,
tornar-se o descobridor de causas novas de doenças, desbravando um terreno
inculto pela desídia dos homens de ciência, e proclamando, com dados objetivos,
que a atividade mental do individuo influi, poderosamente, tanto na
sua saúde, quanto na doença.
É bem verdade que há muitos séculos se fala,
discute e afirma em obras médicas, que o psiquismo individual pode, por si só,
ocasionar distúrbios da mais variada natureza.
Verificamos, porém, que as vozes que se têm
erguido nesse sentido, pela unilateralidade dos seus conceitos, foram postas à
margem, por não terem encontrado a acústica precisa para assertivas de tão alto
teor.
Vencer sempre aquele outro ponto-de-vista,
também unilateral, de encarar o lado psíquico do homem, como subalterno da
matéria, e assim mais acentuadamente se vinculou o espírito ao corpo, ou a alma
à matéria.
Com Luiz de Mattos, começamos a ter uma
visão de conjunto, uma idéia mais harmônica e precisa das correlações
existentes entre a alma e o corpo. Tudo isso, bem interpretado, nos leva àquela
unidade do ser que os nossos tempos, de mais liberdade de raciocínio, deixam
antever.
Assim, começamos a dar, por uma medida de
reconhecida justiça, o devido valor aos estudos admiráveis que nos levaram ao
conhecimento completo da matéria, e senhores de outros dados, avançamos,
resolutos e decididos, no estudo sistematizado e científico daquela parte
invisível do homem.
No terreno da saúde, já sabemos quais as
causas físicas, microbianas, químicas e tantas outras das inúmeras doenças que
a Medicina estuda. Mas, a estas, podemos acrescentar, dada a sua importância
capital, a força psíquica, ainda hoje discutível, mas absolutamente impossível
de ser negada. Foi exatamente visando essa demonstração, que Luiz de Mattos
escreveu estas páginas, convidando os homens da ciência ao estudo criterioso da
psique humana.
Criaturas pouco afeitas à ponderação e ao
justo raciocínio, não compreenderam bem a obra do grande lidador,
estigmatizando-a, logo, como malsã, por verem na crítica altamente construtiva
que ele fazia à medicina materialista, na parte em que esta se sobrepunha à
transcendência dos assuntos atinentes à Força, o ataque ao médico.
Os princípios do Racionalismo Cristão,
fundado por Luiz de Mattos, têm, como origem, o estudo científico do homem,
como base, a cultura e, como fim, a espiritualidade dos seres.
Podemos ainda, em breves palavras, definir
essa obra grandiosa como tendo o estudo individual por princípio, o
enobrecimento da família como base e a espiritualização dos povos como fim.
Os seus princípios basilares demonstram o
desejo de que as criaturas esclarecidas e fortes abram caminho na vida,
construindo existências úteis, sadias e valorosas, sobreexcedendo-se a si
mesmas, dando, cada vez mais, o melhor de si próprias, alargando o raciocínio,
cultivando a inteligência e enobrecendo a existência humana.
Luiz de Mattos não regateia aplausos e
elogios á obra de muitos médicos e à ação salutar e meritória da Medicina, que
a Humanidade beneficiada reconhece. Seu objetivo é dizer que a obra da Ciência
é infindável e como processo contínuo não pode estacionar nem anatematizar
aquilo que ignora, pelo simples fato de não querer pesquisá-lo.
Os redutos acadêmicos, em matéria de estudos
psíquicos, têm agido, em regra, de maneira anticientífica, prelecionando sobre
fatos que não estudam, achando mais cômodo condená-los, do que entendê-los.
Esses mentores do saber organizado e
inatacável são prejudiciais à humanidade, porque sem a sua indolência, não
haveria tanta superstição e tanta religiosidade malsã a arruinar almas e
corpos.
Cabe à Ciência tudo estudar. Não lhe é
permitido, em nosso século, dogmatizar, porque as Academias não são Concílios
onde os guardiões dos dogmas revelados se reúnem para decretar, como puros e
certos, os sofismas esdrúxulos da fé.
Ciência significa estudo, pesquisa e Verdade.
Sendo assim, não admite atitudes defensivas, porque ela se alteia aos
interesses de classes.
Luiz de Mattos, em toda a sua vida, nada
mais pediu aos homens de Ciência que não fosse o estudo daquilo que ele lhes
apresentava.
Lutou, valentemente, mas não logrou ser
compreendido. Não teve, como Pasteur, a glória de ver os redutos acadêmicos
aplaudi-lo e homenageá-lo, mas aqueles que lhe secundam a obra, esperam vê-la
um dia no seio das próprias Academias, compreendida e acatada como merece.
Introdução
As novas gerações ouvem ou lêem que Luiz de
Mattos foi jornalista destemido em sua época, que suas campanhas e polêmicas
despertavam grande interesse a tinham larga repercussão no seio do povo.
Entretanto, a não ser que procurem nas bibliotecas os jornais daquele tempo,
num trabalho interessante, mas exaustivo, ou nas coleções do seu jornal A
RAZÃO, atualmente mui pouco encontrariam sobre tais assuntos.
É que livros de sua autoria que reuniam seus
escritos sobre as campanhas que realizou, como Cartas ao Chefe do
Protestantismo no Brasil, Cartas ao Cardeal Arcoverde, Cientistas Sem Ciência e outros,
estão com suas edições esgotadas e não mais serão reeditados.
A época é outra, tudo evoluiu, e até a
singular linguagem usada por Luiz de Mattos hoje seria diferente, segundo
alegam os seus editores.
Mas a sua campanha sobre o aparecimento da
obra A Cura dos Nervosos, de autoria
do Prof. Austregésilo, também nome de grande evidência naquela ocasião, recebe,
agora, nova edição, por ser o motivo da polêmica, embora antigo, sempre novo, e
continuará ainda a sê-lo por muito tempo, até que a Ciência, reconhecendo a
existência da Força e sua predominância sobre a Matéria, aceite a tese
defendida pelo grande doutrinador, há mais de cinqüenta anos, de que existem
enfermidades nervosas provocadas por um agente que atua sobre o espírito do
enfermo, cujo afastamento será bastante para promover a sua normalização.
Na verdade, a ciência e o espiritualismo não
chegaram ainda a um acordo sobre as controvertidas questões da imortalidade da
alma e da lei das reencarnações e, por isso, pensam os editores que esta
reedição ainda vem "sanar uma lacuna", como é de hábito escrever-se,
nessas circunstâncias.
Outro ponto que também contribuiu para o
lançamento agora de PELA VERDADE foi
o de tornar conhecida a linguagem característica do Autor que, embora
escrevendo diariamente – sua seção diária intitulava-se NOTA e saía sempre no
mesmo lugar do jornal – atraia a atenção dos leitores doutrora, como há de
despertar os de hoje, movidos pela curiosidade de conhecer os velhos adágios,
os antigos provérbios, as expressões da época, que entremeiam a contestação dum
livro árido de medicina, como que amenizando assunto tão sério para ser tratado num diário.
¾ Viria daí a simpatia, a popularidade, a razão do
sucesso do escritor?
A Verdade é que ele como que polarizou o
jornalismo da época com suas tão discutidas e controvertidas alegações, e sua
fundação – o Racionalismo Cristão – persiste, até hoje, na defesa e explanação
dos princípios por ele disseminados há sessenta e cinco anos, cada vez mais
atuante, numa ascensão vitoriosa de seus propósitos.
Rio, 1977.
Aos
acadêmicos
Pelo
título desta obra, claro fica que ela é portadora de proveitosas lições
destinadas a todos e, sobretudo, à mocidade estudiosa, a quem a verdadeira
ciência confia a sua continuidade. É preciso, para tanto, cultivar a
inteligência, não esquecendo aquele princípio sábio: saber esperar, mas lutando sempre.
E saber
esperar é raciocinar com acerto, reprimir os ímpetos animalizados e preparar a
alma para agir com inteligência esclarecida, em todos os momentos.
Saber
esperar é ser vigilante para bem preparar a retirada, quando necessária, como
por vezes acontece na luta pela vida.
Saber esperar é
encarar as dificuldades com a calma de quem tem a certeza de que a maturidade
não dá saltos e de que o ser humano, causa de todos os males, não se remodela,
nem mesmo em séculos de existências.
Saber
esperar é olhar todos os fenômenos como eles são, não os deturpando para
ajustá-los a falsas interpretações.
Saber esperar é o indivíduo
contar consigo próprio, com a sua vontade fortemente educada para o bem, e
estar preparado para enfrentar todas as lutas a que é obrigado na Terra, onde
tem de viver rodeado de seres remodeláveis somente em muitas reencarnações.
Saber
esperar é encarar os maiores perigos, as mais tremendas lutas dirigidas por
indivíduos ou grupos políticos, com a calma dos convictos, e caminhar, de
cabeça levantada, com a disposição de quem nada teme.
Saber esperar é ter a alma voltada para as causas
justas, para o bem do todo, seja a Pátria ou a Humanidade. É não querer mal a
pessoa alguma e estar certo de que o ser malvado, egoísta e animalizado, terá
de reparar, mais hoje, mais amanhã, o mal que faz, porque quem mal faz, para si o faz.
Saber
esperar, enfim, é ter a certeza do triunfo em todas as naturais campanhas da
vida, a que o ser humano está obrigado neste mundo; e triunfa sempre quem sabe
agir com inteligência e valor.
O ser conforme pensar assim será, porque é
pelo pensamento, ao serviço da vontade, que todos praticam o que na Terra se
denomina lei psíquica de atração.
Se o
grande patriota Floriano Peixoto não soubesse esperar, não fosse conhecedor da
força mental dos homens, não teria vencido a revolta contra o seu governo, que
não possuía
Exército nem armada a seu favor. Todos os elementos
humanos lhe eram contrários, para, mais à vontade, poderem satisfazer os seus
desejos de riqueza e de domínio.
Mas
Floriano, que conhecia o valor dos homens da sua época, não se atemorizou com o
isolamento em que o colocaram no Itamarati, e calma e resolutamente, com
confiança absoluta em si próprio e na mocidade das escolas civis e militares,
deu tempo ao tempo, e foi preparando, pouco a pouco, o Exército e a Armada,
para com eles consolidar o seu governo e a República proclamada em 15 de
novembro, com o eficaz auxílio do Marechal
de Ferro.
Pelo
mesmo motivo, e porque souberam esperar e lutar com calma e valor, venceram os
abolicionistas e triunfaram também os propagandistas da República, que mui
poucos eram no Brasil.
Procure,
pois, a mocidade estudiosa e patriota saber esperar, e tudo chegará no seu
devido tempo, para glória da ciência e da humanidade.
LUIZ DE MATTOS
Janeiro de 1918.
1.
A vida moderna e a debilidade nervosa
Tratando
da cura dos nervosos, houve, por bem, o Dr. Austregésilo escrever um livro de
204 páginas, e teve a gentileza de remeter-nos um exemplar, com a seguinte
dedicatória:
"À
ilustrada redação de A RAZÃO, homenagem do Austregésilo. - Rio, 5 de Janeiro de
1918'".
Sabemos
que o Dr. Austregésilo não é um simples homem formado em Medicina, mas um
cientista consagrado pela ciência oficial do país e pelo que de mais
intelectualizado aqui existe.
A oferta
que S. Sa. se dignou fazer ao A RAZÃO, e a dedicatória exarada na referida
obra, são o reconhecimento tácito do valor intelectual e moral dos que redigem
e dirigem esse jornal, incapazes de faltar à verdade e aos deveres de cortesia,
especialmente a homens como o Dr. Austregésilo, cujas produções parecem bem
intencionadas e com o fim de esclarecer a humanidade tão sofredora, tão
infeliz, nesta triste época que o mundo inteiro atravessa.
Assim,
vamos agradecer ao Dr. Austregésilo, dizendo-lhe a verdade sobre a sua referida
obra, para certificar-se que A RAZAO foi fundada somente para o bem, e sente
prazer, por isso, em auxiliar todas as classes sociais, e mui especialmente a
médica, nobre e digna como a que mais o julgue ser, e de cujo trabalho,
bom-senso e equilíbrio, dependem a saúde, o bem-estar e até a moral da humanidade.
É claro
que este grande interesse pela humanidade não existe em certos homens formados
em Medicina que costumam dar logo por mortal qualquer achaque, para que, se o
enfermo morrer, se atribua a morte à violência da doença e, se escapar, sejam tidos por sábios.
Notáveis
homens existem, por certo, cujos
erros cobrem a Terra e que, se fazem algumas mortes, nem como aos homicidas se
tira devassa, nem como aos ministros se lhes tira residência. Vá ou não vá o
enfermo para a cova, à bolsa deles sempre vão as moedas, enriquecendo-os com os
males alheios, e sendo o seu maior mal a "saúde dos outros", conforme
afirmou, em 1720 (mais ou menos), o erudito padre Manoel Consciência, citado
pelo também erudito Sr.
Solidônio Leite, no seu magnífico trabalho denominado Clássicos Esquecidos.
A esses, a tais
vulgares pergaminhados, não dá A RAZAO guarida, e pronta está sempre para
apresentá-los ao público, como eles são.
Assim
sendo, digne-se ler-nos, com a devida atenção, o Dr. Austregésilo, como se
digna ler-nos o público, que é o principal interessado no assunto, para
convencer-se de que a Ciência é a descoberta da Verdade, a que desde muitos
séculos, no tocante à compreensão do que seja o espírito, suas perturbações e
enfermidades, ela, a ciência, está divorciada das Academias e do mental dos
acadêmicos, que tudo subordinam à matéria organizada.
* * *
Quer isto
dizer que a sua bem intencionada obra sobre a debilidade nervosa e sua cura,
denominada A Cura dos Nervosos, não contém toda a verdade
baseada na Força e na Matéria, e que, portanto, S. Sa. apenas demonstrou
desejos de bem fazer, algo que pudesse ser proveitoso ao sofrimento horrível
por que estão passando todos os estados sociais; mas como não é de bons desejos
que as obras dos sábios devem tratar, e sim da verdadeira causa dos males que
afligem a humanidade, e da sua cura, não foi feliz o Dr. Austregésilo
publicando tal trabalho, para o fim destinado, porque nele pouco explica sobre
a causa real das enfermidades psíquicas, e muito menos a respeito da maneira de
curá-las.
Entretanto,
o seu "eu", o cidadão Austregésilo, simples e bom, como acreditamos
que o seja no fundo e nas horas de paz, contrariando a rotina comum, houve, por
bem, levantar uma pontinha do véu que entre os sábios terrenos encobre a
verdade, quando diz, no prefácio do seu livro, linhas 14 a 18:
“A influência do espírito sobre o corpo é grande, e
quanto mais dilato a minha prática neuriática, de mais de 20 anos, tanto mais
reconheço as prisões mútuas do pensamento e dos órgãos.”.
Esta
afirmativa do Dr. Austregésilo, de que a influência
do espírito sobre o corpo, e assim sobre o matéria, é grande, é real, é
inconfessável, já é um passo dado por S. Sa. para a descoberta da Verdade,
base da Ciência,
Esse
princípio será aceito, como certo, pela Ciência, e rigorosamente estudado; por
ser absolutamente real.
Desde que S. Sa., na sua prática "de mais de 20 anos", reconhece essa
influência do espírito sobre a matéria organizada e, mais, que as ânsias doentias partem do pensamento e
que só uma terapêutica psíquica poderá aliviá-las, (como também o afirma a
folhas 4, linhas 5 a 7 da sua referida obra), fácil se lhe deve tornar agora
explicar o que seja o espírito, o que seja o pensamento, a qual a terapêutica
psíquica a aplicar para a cura ou alívio dos enfermos, portadores desse mal.
Sem essa explicação,
valor algum tem tudo o mais que se possa dizer.
A
verdade, pois, cifra-se nisto:
a) que é o espírito, sua
origem, seus deveres, e o que ele é capaz de fazer para o mal ou o bem?;
b) que é o pensamento, e
qual a sua influência na vida do ser humano?;
c) qual a terapêutica
psíquica eficaz a que S. Sa. se refere, para cura e alívio dos nervosos?
No seu livro tal
explicação não existe, tornando-se uma obra incompleta, e a S. Sa. compete, por
isso, concluí-la, explicando o que é a Força, a ação do espírito, do
pensamento, e a eficácia da terapêutica psíquica.
Para tal fim, está A
RAZÃO à sua disposição, gratuitamente, já se vê, e por esse motivo não se
poderá furtar ao nosso convite, que pode ser satisfeito nestes oito dias,
findos os quais, não se dignando S. Sa. dar a explicação pedida, de que tanto
precisa o público (e muito grato lhe ficará, se for completa e clara), então
provará que falta à ciência o conhecimento inteiro da criatura, já que apenas
da matéria e de certos efeitos do espírito possui elementar noção, ignorando,
todavia, a parte mais importante e invisível do ser, que é a Força, também
denominada Espírito, quando encarnada em corpo humano.
Assim, se
dentro desse prazo o nosso apelo não for atendido, nós daremos as necessárias
explicações, porque só o conhecimento da Força permitirá à Ciência normalizar
os nervosos e fortificar os débeis.
2.
A cura dos nervosos - I
(Que a medicina atual não pode conseguir)
Em A
RAZAO de 20 de março de 1918, afirmamos que no livro A Cura dos Nervosos, da autoria do Dr. Austregésilo, não existe a
explicação clara, certa e segura da causa das enfermidades nervosas que, melhor
seria dizer, do espírito.
Afirmamos
mais que S. Sa. falava do que não conhecia, quando tratava do espírito e da
terapêutica psíquica a aplicar-se aos nervosos, as muitas fobias (loucuras),
mais conhecidas como moléstias nervosas.
Pedimos-lhe se
dignasse explicar o que entende por espírito e esta terapêutica psíquica a que
se refere constantemente no seu livro, pois que a sua posição de especialista
esse dever lhe impunha.
Demos a
S. Sa., para essa explicação, o prazo de oito dias.
Esse
prazo se findou no dia 29 do citado mês, na semana Santa, como dizem os colegas
de S. Sa., também formados em dogmas e religiosidades.
Assim sendo, e como o prometido é devido, cá estamos para
cumprir o nosso dever para com a humanidade, de explicar o que é o espírito e
esclarecer a terapêutica psíquica a que S. Sa. se refere, no dito livro.
Antes,
porém, de entrarmos em ação, de provar que o livro A Cura dos Nervosos é
incompleto, por não explicar, racional e cientificamente, o que afirma sobre
tais enfermidades, e sua cura; que tal livro é incompleto, ainda, por contar mais um engano doce e ledo do seu autor, quando a verdade, base da
ciência, não permite que se cometam tais enganos; antes de demonstrarmos que a
ciência materialista, no seu estágio atual,
não pode curar essas enfermidades, por desconhecer a causa que as produz e a
verdadeira terapêutica a ser aplicada, vamos, como preparo para esta
proveitosíssima campanha e para o espírito dos nossos leitores e, mais
especialmente, o do acadêmico Dr. Austregésilo, explicar o que somos, o que
queremos, o nosso fim, portanto, ao iniciarmos este debate, que jamais foi tratado
em qualquer imprensa com tanto desejo de bem fazer, de ser útil a todos, como
agora o faz A RAZAO.
Em
primeiro lugar, devemos declarar que não temos prevenções contra pessoa alguma,
e muito menos contra o Dr. Austregésilo, ao qual, pessoalmente e como cidadão,
tributamos muita consideração, e por quem até sentimos uma certa simpatia que a
sua pessoa nos inspirou, a primeira e única vez que tivemos o prazer de vê-lo
no Centro Redentor, onde foi S. Sa. passar um atestado de cura, feita ali, de
um doido retirado da casa Eiras, para ser normalizado naquele Centro.
O nosso
fim único é, pois, prestar serviços à humanidade, com os esclarecimentos que
vamos dar, e, para prova disto, pomos à disposição do Dr. Austregésilo as
colunas deA RAZÃO, para dar oportunidade a S. Sa. de ir contestando as nossas
afirmativas, podendo o ilustre médico, dessa forma, com inteira liberdade,
escrever, ao lado destas NOTAS, tudo quanto possa ser útil aos leitores, porque
tudo será publicado, sem alteração de um só sinal ortográfico.
O nosso
desejo é que ao terminarmos esta explanação dos Princípios de tudo quanto
existe, cuja base é Força e Matéria, todos tenham lucrado, e que o Dr.
Austregésilo reconheça que, de fato, somos os seus melhores amigos, únicos que
o souberam contraditar.
É isto
mais fácil de compreender-se, quando se deve saber que não almejamos coisa
alguma de quem quer que seja, nem honrarias, nem popularidade, nem dinheiro,
nem importância política ou social, e que, acima de todas essas coisas,
colocamos o nosso dever a cumprir, dever que não conhece potentados nem
governos, quando é preciso dizer a verdade, e assim, esclarecer a humanidade.
O que
nos importa são os Princípios que defendemos.
Desta forma, e além do que aí fica, diremos ao Dr.
Austregésilo que o nosso saudoso e grande filólogo Júlio Ribeiro, mineiro de
Sabará, escreveu, numa das suas notáveis e eruditas polêmica, o seguinte:
O homem que
se sabe servir da pena, que pode publicar o que escreve e que não diz a seus
compatriotas o que entende ser a verdade, deixa de cumprir um dever, comete o
crime de covardia, é mau cidadão.
Disse, ainda, o mesmo escritor:
O homem público, na qualidade de homem
público, (e é nessa que nos dirigimos ao Dr. Austregésilo) não tem individualidade, é um órgão social.
Se a função que lhe corresponde saiu
imperfeita, (é o caso do livro de S. Sa.) é que ele, como órgão, é defeituoso; e cada cidadão está no direito de
apontar-lhe o defeito, o vício, e de citar-lhe o nome.
Disse
mais o mesmo grande brasileiro que “repetir textos, não é mostrar ciência, é
provar memória, e que é tempo de reconhecer-se que assim como há bacharéis
sábios, há também sábios não bacharéis e indivíduos que, na frase de Michelet, ‘são doutores aos quinze anos, e asnos toda
a sua vida’, e concluía por afirmar que ‘escrever a verdade, mas só a verdade,
é ter certeza de triunfo.’ ” (Cartas
Sertanejas, edição de 1885).
O que aí
fica é a resposta, antecipada, não só às objeções, às desculpas, às dúvidas
referentes à nossa individualidade, por parte do Dr. Austregésilo, como de
todos que, mais audazes do que S. Sa., e mais queimados e revoltados, se
mostrarem contra as verdades que continuarão a ser ditas nestas NOTAS.
Viver,
pois, às claras, é o nosso verdadeiro lema, e por isso aí fica o que queremos,
o que somos e para que trabalhamos.
3.
A cura dos nervosos - II
(Não a pode
ainda fazer a medicina atual)
O Dr.
Austregésilo não foi feliz escolhendo, para o seu último livro, o título
sedutor de A Cura dos Nervosos.
Não foi
feliz, por ignorar o que seja o espírito, a sua função, o seu papel e a
influência do mesmo no organismo humano.
Assim,
não podem, por mais que S. Sa. e seus colegas façam e queiram, curar as
enfermidades nervosas, as loucuras várias, que outras coisas não são tais
enfermidades.
Não conhecem, porque
esse ramo da ciência está baseado em princípios falsos, na matéria organizada
ou mesmo cósmica – que é efeito e não causa – e é claro que tudo quanto é
baseado em efeito, não pode ser tomado a sério.
Ora, tendo afirmado,
no prefácio do seu referido livro, ter sido ele escrito para os doentes, e que
o que nele se contém "são conselhos úteis aos pacientes que, às
vezes, sofrem muito, sem saberem que o remédio está perto deles", (vide
linhas V a VII), e a esses doentes nada tendo
dito de proveitoso, deixou S. Sa. de ser um bom conselheiro, para tornar-se um
vulgar reclamista da sua posição de destaque, nivelando-se aos antigos
dentistas americanos que, na boléia dos seus carros dourados, anunciavam, na
praça pública: “Arrancam-se dentes sem dor, e somente com dois dedos da mão
direita!”
Confiou demais o conhecido facultativo nos seus
títulos científicos, nos seus dotes literários, daí resultando essa grave falta
para com a humanidade, para com os nervosos, de prometer-lhes remédios e
conselhos, e só lhes dar pomada de cheiro,
que é como quem diz pílulas de puro miolo de pão; essa sua afirmativa foi mais
um logro pregado a todos os seres, pois que o seu referido livro só contém
palavras, palavras e mais palavras . . .
Quando
se escreve para o público, e em bem dele, obrigação é a de quem escreve ser
claro, verdadeiro, honrado, especialmente quando se é, como o Dr. Austregésilo,
consagrado pela ciência oficial de aquém e além Atlântico.
Assim
não fazendo, S. Sa. corre o risco de que esse público sofredor o classifique de
intrujão, de "fiteiro", e duvide da reputação de que tem gozado até
agora.
Prometer
aos enfermos a felicidade, ensinar-lhes as causas das doenças nervosas e sua
cura e só lhes dar exibições de um falso saber, não é próprio de quem almeja a
conservação do título de especialista de tais enfermidades, que S. Sa. reputa,
em sua maioria, de imaginárias, como se houvesse algum efeito sem uma causa
inteligente.
Afirmando,
a folhas 4, linhas 5 e 7, que “as ânsias doentias partem do pensamento, e que
só uma terapêutica psíquica poderá aliviá-las”, obrigação era a sua de explicar
não só aos enfermos, mas também a toda gente:
1) O que
é o pensamento e como, e por que partem dele "as
ânsias doentias";
2) O que
é o psiquismo e, assim, a terapêutica psíquica, única que poderá aliviar essas "ânsias doentias", a que se
refere.
Não o fez
S. Sa. no livro que estamos comentando, e já agora o não poderá fazer, como
obra sua, como produção sua, de sua investigação, do seu raciocínio, do seu
labor, não só por não lhe permitir o seu estado social, como também porque tal
descrição já se acha feita no livro denominado Racionalismo Cristão.
Para o
fazer, seria necessário mencionar a referida obra, e isso não está nos moldes
de especialistas como S. Sa.
Se o Dr.
Austregésilo conhecesse a real composição psíquica do homem, como conhece a sua
fisiologia, se cada um dos cientistas se conhecesse como um composto de Força e
Matéria e conseguisse adquirir, pela observação dos fatos, a certeza absoluta,
incontestável, de que o ser humano é constituído de três corpos, um visível,
que é o corpo carnal, e dois invisíveis, mas já fotografados por investigadores
da Inglaterra, Rússia, França, Itália e América, e que assim se descrevem:
1) Corpo Mental, que é a Força, a
Inteligência, ou o Espírito;
2) Corpo Astral, fluido nervoso ou
duplo-etéreo;
3) Corpo Físico ou carnal.
Com este conhecimento certo e seguro, saberia então
o Dr. Austregésilo o que são o espírito, o fluido nervoso e a ação deste no
organismo humano, a causa das enfermidades e como se curam com a
terapêutica-psíquica, única real e verdadeira.
E mais:
que o sistema nervoso do corpo humano representa o esqueleto, a urdidura do
corpo astral, formado com a matéria cósmica, quintessenciada, que o espírito
traz consigo do mundo que lhe é próprio, quando vem encarnar, conforme
demonstramos na obra A Vida Fora da
Matéria.
Depois
que esse corpo astral é organizado, formada está a urdidura nervosa do corpo
físico, à qual fica ligado o corpo mental, que é Força, Inteligência ou Espírito, como quiserem chamá-lo.
Assim,
pois, quando de tal verdade estiver certo, facilmente compreenderá o Dr.
Austregésilo a causa verdadeira das enfermidades dos corpos, e como se curam,
porque então conhecer-se-á a si mesmo como Força e Matéria.
4.
A ignorância dos materialistas é a mais perigosa
É, de
fato, a mais perigosa das ignorâncias a que domina certos homens pergaminhados
que se fazem anunciar em periódicos, revistas e jornais; e é a mais perigosa,
porque eles ficam cegos e surdos a tudo quanto não seja aquilo que aprenderam
nos compêndios.
Para
tudo o que não condiga com a sua especialidade, têm esses senhores um arzinho
de mofa, de irônico desprezo, e respondem logo:
¾ Isso
não pode ser porque, se fosse exato, seríamos os primeiros a sabê-lo.
Ou
então:
¾ Isso
é charlatanismo, não pode ser tomado a sério pela ciência, que está acima de
tudo, inclusive das religiões.
Tais
pessoas não servem à ciência, porque a menosprezam e restringem, apenas, ao seu
saber. Cientista é aquele que tudo investiga e que, em lugar de condenar o que
ignora, procura estudar, para aprender o que não sabe. Só assim se faz ciência,
e só assim é possível colocá-la acima de tudo, inclusive de quaisquer
preconceitos.
Nem os
próprios fatos convencem tais seres porque, usufruindo direitos especiais,
inclusive o de matar sem responsabilidade (e sem terem receio de ser punidos),
nutrem desprezo profundo por tudo o que estiver em desacordo com a sua
especialidade e a sua ciência.
Oportunamente
contaremos um episódio ocorrido entre dois sábios franceses, um velho e
acadêmico, e o outro, novo, repleto de curiosidade, grande investigador, mas
contrário à rotina, à sabedoria oficial e ao sistema do ancião, que acreditava
tudo saber.
Por
agora, diremos, apenas, que não estamos iludidos com os seus colegas
proclamados pela companhia do
elogio-mútuo, a sociedade anônima de maior número de associados que jamais
se viu no mundo!...
Nenhum
desses cavalheiros é capaz de "dar o
braço a torcer", de confessar em público os seus erros e a ignorância
das causas motivadoras dos fenômenos da vida e do porquê das coisas.
São como
os sacerdotes das várias seitas: intolerantes, chasqueadores uns dos outros e
até perseguidores dos que não lêem pela sua
cartilha.
Por esse motivo, não acredite o público na
modificação de tais seres, no abandono do preconceito que os escraviza, para
abraçarem a verdade. Tratemos de esclarecer a humanidade, para que ela possa
raciocinar com acerto e assim ficar habilitada a ver claro e a caminhar com
segurança, sabendo e podendo separar o
joio do trigo, como é do interesse humano.
A folhas 4, linhas 2 a 7
do livro A Cura dos Nervosos, diz o
autor:
"que se acha o nervosismo tão espalhado, que
podemos dizer que todo mundo foi, é ou será nervoso. É metáfora que resvala
pelos limites da verdade."
Isto quer dizer que o nervosismo é um mal
torturante de que todos sofrem ou têm de vir a sofrer, mas não esclarece o
autor por que razão todos sofrem ou têm de vir a sofrer de tal mal.
Ao mesmo tempo que tal afirmativa faz, assevera, na
mesma página, de linhas 8 a 14:
"Quase
todos os nervosos sofrem pela imaginação e pela fraqueza de vontade".
Quer S.
Sa. dizer que tais enfermidades são imaginárias, sem existência, ou base real
vista, apalpada ou cheirada pelos especialistas, e, como ignora a causa, afirma
serem filhas da imaginação e da fraqueza de vontade.
Mas, se a
imaginação e a fraqueza da vontade podem produzir tal estado mórbido e tão
grande mal, a enfermidade nervosa resulta de uma causa, que não é destituída de
valor, como S. Sa. pretende, e obrigação era a sua de explicar o que são a
imaginação e a vontade, e qual a terapêutica a aplicar, em tal caso.
S. Sa., porém, não pôde prestar esse benefício;
nada explicou sobre a fonte dessas duas causas, (que de fato são reais,
afirmamos nós); e não deu essa explicação porque o mal não reside na matéria
organizada, nas células por ele estudadas, que são efeito e não causa.
A seguir,
desde as linhas 3 a 7, diz que “muitos
dos sintomas atormentadores são produtos de erros de interpretações a propósito
da função do órgão”.
“As palpitações e o cansaço fazem pensar em
doenças do coração, e ainda: que a sensação de vazio no cérebro, conduz o
paciente ao medo da loucura”.
O
despropósito e a contradição de S. Sa., em tão poucas palavras, saltam aos
olhos, porque:
a) não há
sintomas atormentadores, como afirma, e sim causas atormentadoras;
b) esses
sintomas não são produtos de interpretações das funções dos órgãos, por ser
efeito e não causa dos males e interpretação errada de qualquer coisa;
c) afirmando também
que as palpitações e o cansaço fazem pensar nessas doenças do coração, prova
nada saber das funções da Força ou do Espírito, e embaralha tudo, porque não
são as palpitações e o cansaço que fazem pensar em doenças.
Não! Isso é querer fazer andar o carro adiante
dos bois!
As
palpitações e o cansaço são conseqüências do mau funcionamento do coração e de
todo o sistema nervoso. Não são elas que fazem pensar; são, antes, o resultado
da ação do pensamento irradiado durante muitos dias, por vezes meses e anos,
até chegar a ser produzido o chamado nervosismo, com essas fobias várias, essas
palpitações e cansaços.
Vê,
pois, o leitor como se faz uma salada russa tão mal temperada, que somos
incapazes de a digerir.
Embrulham,
de tal forma, os leitores dos seus livros, que qualquer pessoa acaba por dizer:
“O Dr.
Fulano ou Sicrano é um talento, é realmente um sábio, escreve primorosamente,
mas eu não entendi nada do seu livro, tão elevada, tão notável é a sua
linguagem, a sua terminologia”.
É
especialidade de muitos confundir efeitos com causas, falar nestas, afirmar a
sua existência, sem as haverem estudado.
5.
Não pode haver efeito sem causa
Era corrente em todos os povos, como o foi em todas
as civilizações, desde a egípcia à indiana, à chinesa, até à grega, da primeira
das quais, a egípcia, muitos séculos antes de Jesus, surgiu a Divina Arte de
Curar proclamada como ciência, então praticada pelos sacerdotes, nos templos
para esse fim construídos, era então corrente, dizíamos, que não há efeito sem
causa, e que a todo efeito inteligente, corresponde uma causa inteligente.
É o mesmo
que dizer que tudo se ressente da origem, e que, portanto, os seres, as coisas
e as enfermidades têm uma origem certa e segura, da qual, como afirma a própria
medicina, resultam as taras e os tarados.
Em virtude desse princípio certo, produto das leis
comuns e naturais, que o homem, por mais sábio que seja ou pareça, não pode
alterar, não pode destruir, é que nós afirmamos estar errada toda interpretação
que tente negá-lo ou mesmo deturpá-lo ou transformá-lo, tomando os efeitos
pelas causas e teimando em impingi-los, como tais, à humanidade.
Assim é que, no seu referido livro, diz o Dr. Austregésilo, a folhas 4, linhas 13 e
14:
"A sensação de vazio no cérebro conduz o paciente ao medo da loucura".
Quer
isto dizer que é o próprio enfermo quem engendra o vazio no cérebro e o medo da
loucura, sendo, portanto, imaginária a enfermidade dos nervosos, sem causa
real, séria, apreciável.
Mas tal
afirmativa está errada:
1°)
porque a sensação de vazio no cérebro e o medo da loucura já são efeitos que
têm uma causa real, verdadeira, que é o estado nervoso em que se acha o
indivíduo, e o nervosismo, por sua vez, já é um meio caminho para a loucura,
tudo isso resultante da indisciplina e incompreensão do espírito;
2°)
porque os órgãos materiais de qualquer parte do corpo, inclusive o cérebro, não
podem engendrar enfermidades ou ser delas a fonte;
3°)
porque existindo um elemento fora da matéria – Força – que de fora a
incita e movimenta, como afirma o pai da fisiologia moderna, Claude Bernard, do
Instituto de França, e confirma o querido discípulo de Pasteur, o sábio Paul
Gibier, a esse elemento, que é Força, que é vida, deve atribuir-se a causa de
todos os males psíquicos de que sofre a humanidade. O Dr. Austregésilo, além de
estar em contradição consigo mesmo, o está também com os reais mestres da
Divina Arte de Curar.
É por
essas e outras que os leitores de certos livros ficam, às vezes, desorientados,
por só lerem palavras e mais palavras, deparando, aqui e ali, com contradições
e mais contradições dos autores, cada um dos quais procurando suplantar o
outro, pouco se importando com os meios para chegarem aos fins que têm em
vista.
O sábio
Claude Bernard, e o não menos sábio médico-bacteriologista Paul Gibier, afirmam
que a matéria é inerte, mesmo viva, e que é a Força, que está fora dela e de
fora lhe vem, que a organiza, incita e movimenta. Que pena a medicina oficial
desprezar esses
reais princípios, atirando às urtigas o resultado de
pacientes investigações desses eminentes sábios!
Isso é
realmente de lamentar-se!
No
entanto, a base da medicina autêntica é definida nesta frase, tida como
símbolo: Sublata causa tolitor effectus, dominada
a causa cessam os efeitos.
É esse
um princípio dos mais sábios, mas esquecido no que diz respeito às doenças do
espírito.
“Vazio no cérebro e medo da loucura” têm todos os que fazem parte da “grande sociedade anônima, fundada para a
exploração do elogio-mútuo”, onde todas as criaturas vão buscar títulos de
saber e nomeadas de especialistas.
Mas não
fica nesse pandemônio de contradições, de trocas
e baldrocas, de efeitos por causas, de não saber dar o nome aos bois, com que lavra
o Dr. Austregésilo; ele foi muito além: senhor
de faca e cutelo, príncipe da ciência e da literatura, invadiu, por sua
conta e risco, o terreno de outrem, penetrando na seara alheia, sem pedir
licença ao dono; fértil na produção de tubérculos, e senhor do seu principesco
nariz, o ilustre esculápio é capaz de mandar-nos plantar os pés, como, com
muita graça, o fez o grande Camilo aos acadêmicos monopolizadores da crítica
literária, por estarmos aqui a embargar as suas ligeirezas.
Nesse
muito além que ele foi, e continuará a ir, tem esta tirada, a folhas 5, linhas
1 a 4:
“Este
livro, denominado A Cura dos Nervosos,
é dedicado aos padecentes de sofreres cuja base é a comoção ou a sugestão a que
abrangem quase que exclusivamente os múltiplos sintomas das psiconeuroses”.
Compreendeu
o leitor amigo o que o doutor acadêmico quer dizer?
Não, não
lhe é fácil, porque ele afirma ser a comoção a causa, quando apenas é o efeito
de um estado mórbido que atormenta o enfermo.
A sugestão não pode
ser a causa, por que também é ela o efeito
da mesma causa que produz todas as loucuras, todas as fobias.
Sendo,
pois, a comoção e a sugestão efeitos e não causas, novamente cincou o
Dr. Austregésilo, que não quer ter o trabalho de estudar o elemento que tudo
organiza, incita, movimenta e vive fora da matéria, que se chama Força ou Espírito.
Além
disso, como se não bastasse a S. Sa. ignorar a causa das comoções, também demonstrou desconhecer o que é a sugestão, qual a sua fonte de origem, e
como se opera e consegue vencer.
Não nos
explicou nem explicará nada disso, porque tais coisas não pertencem à matéria
organizada, não estão nela, embora ela as manifeste, e sim no elemento que vive
fora, já fartamente referido.
6.
Contradições da medicina
O Dr. Austregésilo
afirma, no prefácio da obra denominada A
Cura dos Nervosos:
a) que o que se acha nesse livro são conselhos
úteis destinados aos pacientes que às vezes sofrem muito, sem saber que o
remédio está perto deles, (neles próprios, dizemos nós, por ser essa a
verdade);
b) que a literatura
médica francesa é abundante em publicações idênticas à sua, e bastam que sejam
citados – diz ainda S.Sa. – os trabalhos de Dubois, Gauckler, Dejerine,
Zbinden, Fleury, Levy, Payot, Emyeu, Bernheim, Thomas, (os quais, como ele,
ignoram as
causas dessas enfermidades, asseguramos nós) cujo fim
está na psicoterapia educadora dos que sofrem física ou moralmente, o que é
exato;
c) que pode garantir a
existência da alma (do espírito) e que a sua influência sobre o corpo é grande;
d) que quanto mais
dilatada é a sua prática neuriática, de mais de vinte anos, tanto mais
reconhece as prisões mútuas do pensamento
e dos órgãos. (O pensamento é um fator de grande importância para a
normalização dos órgãos e, portanto, dos seres, afirmamos nós).
Adianta,
ainda, a folhas 4, que “se acha o nervosismo tão espalhado, que podemos dizer
que todo o mundo foi, é ou será nervoso” e que, portanto, é uma enfermidade
real, torturante e perigosa, e a folhas 5, ressalta que “a causa desse sofrer é a comoção ou a sugestão”.
Diz,
também, a folhas 4, linhas 8, que "quase todos os nervosos sofrem pela
imaginação e pela fraqueza de vontade", o que, bem interpretado, significa
que a causa está no Espírito, e do seu equilíbrio resultará a cura. Acrescenta,
a folhas 14, linhas 3 e 4, que tem tido consulentes que se zangam quando lhes
diz que de nada sofrem.
Para confirmar este amontoado de contradições e
este ultimo despropósito de que a enfermidade é imaginária, pois que o enfermo
de nada sofre, o Dr. Austregésilo lança mão do seu colega de Berna, o Dr.
Dubois.
A folhas
42, linhas 11 a 16, diz mais: “Conheço alguns amigos e vários consulentes que
se curaram, graças a duas ou três visitas
feitas a Dubois, de Berna, e repetem-me, como um bastão de vitória, frases
do bom sábio, as quais lhes serviram de arrimo para toda a existência”, e que
são:
“Pas de remédes! Ayez confiance en vous!" que em
português quer dizer: Nada de remédios,
ou então: Não tomeis remédio algum,
tende confiança em vós, e nada mais precisais.”
Estes simples estribilhos, ditos pela boca
sapiente do apóstolo da psicoterapia, (S. Sa. se refere ao Dr. Dubois), têm
servido de "poderosas alavancas para curas definitivas ou grandes melhoras
de indivíduos que arrastavam a existência cheia de doenças, tristezas e
desesperações".
Mas que
embrulhada diabólica fazem esses sábios daquém e dalém Atlântico?!
Ao mesmo
tempo em que dizem uma coisa, abeirando-se do bom-senso e da Verdade, como a da
influência real do espírito sobre a matéria, e do pensamento e da vontade,
asseveram que as enfermidades dos nervos são imaginárias, dando, assim, ao
espírito, à vontade e aos pensamentos valor também imaginário, depois de
admitirem a sua existência.
Afirmam,
nas suas obras, que só se pode curar e tratar o que existe, e ao mesmo tempo
dogmatizam que essa enfermidade não existe no ser humano, e que se cura sem
remédio algum.
No mesmo
momento em que dizem, aos nervosos, “Nada de remédios”, e que perto do próprio
enfermo está o remédio, o qual consiste na confiança que este deve ter em si
próprio, garantem que a terapêutica a aplicar-se para a cura de tais
enfermidades imaginárias é a psicoterápica, que desconhecem na sua inteireza,
enquanto não estudarem o que somos, como Força
e Matéria. Desta maneira torna-se impossível a qualquer enfermo saber o que
diz e o que quer a medicina representada pelo Dr. Austregésilo.
Com
relação às enfermidades nervosas, para ele são e não são reais, têm e não têm
causa, precisam e não precisam de remédios, e neste amontoado de contradições e
despropósitos, vê-se bem que a terapêutica do Dr. Austregésilo não se firma nem
esteia em princípios sólidos, e por isso, quando neles toca, pouco se demora, e
deles foge, como os morcegos da luz.
Embora a Força seja invisível aos olhos e aos
sentimentos materializados dos pesquisadores vulgares, é ela reconhecida por
suas ações, e quando a ciência a estudar, com isenção de ânimo e sem paixões,
verá, como afirma o médico independente Dr. Alberto Seabra, já liberto dos
preconceitos da ciência oficial, na obra de sua autoria denominada O Problema do Além e do Destino:
“O invisível nos cerca
por todos os lados; o corpo físico é a manifestação da nômade invisível (a
alma), que o engendra por intermédio de seu corpo astral, de natureza
ódica." "E o od é o
verdadeiro mediador plástico entre o homem físico e o homem transcendente.”
“O invisível é o que
temos de melhor e mais nobre: a consciência, a vontade, a inteligência, a
sensibilidade, a memória.”
“Invisível é o vapor da
água, de tão notória influência em climatologia...”
“Invisível são o calor,
a eletricidade, o som, os raios químicos, e de todo esse invisível gozamos ou
sentimos os seus efeitos.”
Como estas verdades, de vital interesse para a
ciência, não são aceitas pelas escolas oficiais, embora apontadas por
cientistas já libertos da tutela de seus pares, o nosso trabalho terá de
prosseguir, uma vez que ele visa somente o esclarecimento e, portanto, o bem
geral da humanidade.
Assim sendo, que
importância, que crédito se deve dar a esse alto oficialismo do aquém e além
Atlântico, que troca as causas pelos efeitos, que acredita e proclama que há
efeitos sem causa e que existem enfermidades imaginárias, quando homens como
eles, igualmente cientistas, que aprenderam nos mesmos compêndios, mas ricos de
vontade e, por isso, independentes, como o médico Alberto Seabra e tantos
outros, que iremos mencionando, já afirmam e provam o contrário? . . .
7.
O mar tempestuoso da vida terrena transborda, quem não se preparar para
enfrentar o temporal será arrastado na voragem
O
temporal desfeito está caindo, há anos, sobre todos os povos, e agora, com
redobrada fúria, se tem tornado tempestuoso, grandemente empolado, furiosamente
cavado; o mar lamacento e pútrido da vida terrena ameaça, com o
transbordamento, levar de arrastão os seres que não se prepararem para
enfrentar esse temporal produzido pela má educação de todos os povos, da qual
resultaram o egoísmo, a avareza, a prepotência, a vaidade e demais vícios que
agora estão sendo castigados pela guerra.
Esse
preparo para a tremenda luta que está travada entre o homem e o mar tempestuoso
da vida terrena, têm de fazer todos os povos por si, pelo seu raciocínio, pelo
seu esforço próprio, sem contarem com auxílio de qualquer das seitas que
existem, porque umas e outras estão completamente animalizadas, sem o menor
interesse pela verdade, pois tudo quanto afirmam é falso e só concorre, como
tem concorrido até agora, para mais empolar o mar da vida terrena, para mais
desmantelar essa vida e torná-la insuportável, como se está observando por toda
parte.
É
terrível a situação em que se encontra a humanidade, devido à ignorância do que
ela própria seja como Matéria e como Força, em que a têm conservado,
principalmente, as religiões, que, responsáveis pela educação material e moral
de todos os seres, só maus exemplos lhes têm dado, só coisas erradas lhes têm
ensinado, só males lhes têm produzido.
Justamente
no momento mais aflitivo da vida dos povos, e neste nosso Brasil querido, nesta
grande pátria que já teve padres da estatura épica de Diogo Feijó e de
Mont'Alverne; engenheiros, como o grande Rebouças; generais, como Caxias e
Osório; poetas, como Gonçalves Dias, Fagundes Varela, Castro Alves e Casemiro
de Abreu; comerciantes, como Visconde de Mauá e o Visconde de Figueiredo;
médicos e operadores, como os Pertences, Sabóia, Torres Homem, João e José
Silva, Benício de Abreu, Monat e Alberto Seabra, para só citarmos esses, em
cada profissão, surge o Dr. A. Austregésilo, para dizer-nos, no livro A Cura dos Nervosos:
Que dos
inúmeros sintomas que angustiam as pessoas nervosas, os principais são:
1)
Os medos doentios ou fobias;
2)
A insônia;
3)
O cansaço e a fraqueza;
4)
A grande emotividade;
5)
As alterações gastrintestinais;
6)
Palpitações, falta de ar, fraqueza genital, cacoetes ou tiques, dores várias e
erráticas e os acidentes histéricos e neurastênicos, propriamente ditos.
Depois
desse amontoado de sintomas naturalíssimos num organismo humano atacado na sua
matéria quintessenciada primacial, e, portanto, com influência real sobre todos
os órgãos, afirma ainda a folhas 41, linhas 11, que quase todos os sintomas
nervosos são de origem psíquica ou ideativa, o que quer dizer que os
padecimentos são criados ou mesmo muito aumentados pela imaginação do paciente.
Aceitando
a afirmativa de que esses sintomas de sofrimentos sejam oriundos da imaginação
dos pacientes, como afirma o Dr. Austregésilo, e tomando, portanto, essa imaginação
como causa, perguntamos:
a) sendo
a imaginação uma causa de sofrimentos tão graves que levam à loucura, não é
porque de fato, realmente, tal imaginação existe e se torna elemento terrível
na vida das criaturas e, assim, da humanidade?
b) existindo,
realmente, esse elemento, essa causa de grandes males que afligem a humanidade,
qual é a sua fonte de origem, onde se acha alojada e como opera essa imaginação
sobre os seres humanos, ao ponto de torná-los loucos, inconscientes, quase
irracionais?
O nada
não existe, o sobrenatural também não, porque um e outro são produtos da
ignorância humana; e se a imaginação existe e é tão poderosa a sua influência,
que chega a produzir os maiores males de que sofre a humanidade, deve ter uma
origem, como tudo que se vê, se sente e se observa, sendo obrigação dos sábios
que tal causa apontem como única a produzir esses grandes males, essas
loucuras, de diferentes categorias, explicar a origem dessa imaginação, o ponto
em que ela se apóia, como se a domina e de que maneira se curam as enfermidades
dos nervos que ela produz, cujos
sintomas acima ficam descritos.
Vamos,
pois, Dr. Austregésilo, explicar tudo isso, porque a humanidade está farta de
ser intrujada pelo materialismo e pelas seitas religiosas; ela precisa preparar-se
para vencer o temporal que está ameaçando a todos, para não ser tragada pelas
ondas desse mar de lama, cuja causa é a ignorância da verdade.
Não é só
inventar termos arrevesados, é preciso dizer, com acerto, e provar o que se
diz, vista que os tempos são chegados e não mais pode continuar a imperar a
mentira dos privilégios de que desfruta essa “sociedade anônima do elogio-mútuo”, porque outro poder mais alto se
levanta, que é o poder emanado da Força, o que vale dizer, da Verdade.
É isto o
que quer o Racionalismo Cristão que explanamos, o qual há de chegar, em mais ou
menos tempo, a todos os recantos do mundo.
8.
Saber onde canta o galo. E cantar de galo
Ditados populares há que
estão a calhar para o nosso caso. O primeiro, é o que diz: “F. ouviu cantar o galo mas não sabe onde”. Este se aplica aos casos em que
qualquer indivíduo, mais ou menos sábio, mais ou menos pernóstico, com mais ou
menos prosápia, fala de coisas verdadeiras ou delas se abeira, por ouvir dizer
ou haver lido, mas sem lhe conhecer a real origem, a fonte verdadeira, e,
portanto, o que tal coisa significa.
Está neste caso de ouvir cantar o galo sem saber onde,
o Dr. Austregésilo, quando afirma, a folhas 44, linhas 19 a 22:
“É a fraqueza da vontade e
a do pensamento, que dão origem às sofrenças dos nervosos”, (ele quer dizer às
doenças dos nervos).
“As relações existentes entre o espírito e o corpo
são tão grandes que basta o indivíduo concentrar o pensamento no órgão para que
medre novo sintoma aflitivo.”
“O
pensamento humano é quantidade neutra que tanto pode ser conduzido para o bem,
como para o mal.”
“Para
sentir sofrimentos, basta começar a neles pensar.”
Está muito bem. O Racionalismo Cristão aceita esses
princípios, porque são tão velhos quanto o mundo, e foram por nós já experimentados
e provados com inúmeros fatos.
Essa
afirmativa, porém, não é sua, não é da sua criação. Foi copiada de Dubois e
Dejerine, com os quais, ao citá-los, diz estar de pleno acordo.
Entretanto,
devemos dizer ao Dr. Austregésilo, que esse princípio, tão velho quanto o
mundo, tornou-se um axioma dos espiritualistas de todas as épocas,
especialmente dos egípcios e dos Asclepíades, praticantes da medicina nos
templos já por nós referidos, os quais afirmam que o ser conforme pensa assim é, o que equivale a dizer que o ser conforme
pensa atrai de fora o elemento que vive fora da matéria – axioma esse que foi
desprezado pelos sábios do Oriente, especialmente os modernos, de mais bazófia
científica, que agora são obrigados a se referirem a ele e a aceitá-lo, sem
convicção, sem certeza do que afirmam: chama-se, pois, a isso, ouvir cantar o galo sem saber onde, e assim
fazer de fonógrafo, quando se afirmam coisas cuja causa, cuja fonte se
ignora, quando, ao tratar-se de ciência e de coisas sérias da vida, se fazem afirmativas,
como as de folhas 45, linhas 1 e 18, em que se diz:
“Para
sentir sofrimentos, basta começar a neles pensar”, (demonstrando ignorar, com
isso, o que seja o pensamento e o seu real valor na vida dos seres).
Cantar de galo, ainda, e assim fazer o
que fez o Dr. Austregésilo, depois de falar com acerto sobre os “porquês” das
coisas, aconteceu, em certo dia, com D. Pedro II, que visitando o hospício,
ouvia, atentamente, um hospitalizado falar com tanto equilíbrio mental, que se
surpreendia o monarca de estar ele ainda ali, e já se dispunha o imperador a
recomendar ao diretor que lhe fosse dada alta, quando, de repente, o enfermo se
virou para o visitante, dizendo-lhe:
“Além do
que lhe narrei, sei também cantar de galo”; e batendo com as mãos abertas nas
pernas, como o galo faz com as asas, estendeu o pescoço, e cantou de galo,
embora um tanto rouco.
Eis o
que fez o Dr. Austregésilo, quando escreveu o que ficou descrito, sem saber o
que dizia, por ignorar o significado de Força e Matéria, base de tudo quanto
existe.
Escreveu
S. Sa., a folhas 51, linhas 4 a 8:
“Todas as
perturbações cerebrais que sentem os nervosos, são produto da atenção deles
sobre as faculdades do espírito, por causa da emotividade que os fadiga e a
sugestibilidade que os convence.”
Essa
trapalhice, esse amontoado de palavras com que S. Sa. enche o seu livro, é o
que o torna um “cantador de galo”.
O Dr.
Austregésilo diz nesse último “cantar de galo”, nesse último despropósito, que
as perturbações cerebrais são produtos da atenção sobre as faculdades do
espírito.
É, pois,
uma nova causa: a atenção atuando,
operando sobre as faculdades do espírito, Por isso, nova pergunta se deve
fazer:
Qual é a
fonte dessa atenção, dessa causa que chega a dominar ou, pelo menos, a
influenciar as faculdades do espírito?
Que novo,
que poderoso elemento causador de estados nervosos, de fobias várias, é esse,
que chega a “dominar o espírito”, que
é tudo, como Força, como elemento primacial, conhecido dos sábios antigos e
modernos, como Claude Bernard, Paul Gibier, Visconde de Sabóia, Pinheiro
Guedes, Alberto Seabra e outros honrados médicos estrangeiros e brasileiros?
Se esta
atenção domina as faculdades do espírito, qual a sua origem e como combatê-la,
para não continuar a dominá-las?
Preciso
se torna que S. Sa. explique claramente ao povo, que quer ser esclarecido, qual
a fonte de origem dessa “atenção, cujos
produtos, dominando o espírito”, já o afastaram do seu livro, como causa primacial da loucura.
Não se
preocupe, Dr. Austregésilo, com as nossas interrogações, que têm uma finalidade
amiga e de cooperação, qual seja a de contribuir para dar clareza à sua obra,
estimular o seu raciocínio, obrigá-lo mesmo a aprofundar-se mais em todas as
coisas da sua profissão e da especialidade a que se dedica, para por fim ao
papel ridículo que está representando de querer dar lições do psiquismo que
desconhece, e de estabelecer sobre ele confusão e balbúrdia que só males
produzem no espírito dos nervosos que pretende curar.
Quem
estas coisas diz, e lhe pede tais explicações, não é qualquer indivíduo, mas A
RAZÃO que, como jornal, interpreta o pensamento do povo.
9.
O medo da loucura e o subconsciente do nervoso
Nesse amontoado
informe de afirmações e contradições denominado, pelo Dr. Austregésilo, A CURA
DOS NERVOSOS, nesse maxixar em que S. Sa. revelou invejáveis qualidades de
mestre emérito, nesse mexer e remexer, curvar e recurvar, torcer e retorcer
sintomas de enfermidades dos nervos, nesse desdobrar de sim e não, de que é
formada a massa e o recheio do palavreado sem base, sem suco, sem cheiro do
autor, não perde o Dr. Austregésilo a oportunidade de enterrar-se, cada vez
mais fundo, no areal da ignorância dos porquês das coisas, e até mesmo do
verdadeiro, do real, do autêntico significado dos termos que emprega.
A fls. 48, linha 10,
escreve o ilustre autor:
“A fobia ficou
cristalizada no fundo do subconsciente do nervoso.”
Por essa afirmação
se verifica que o Dr. Austregésilo possui, dentro de si, qualquer coisa de
espiritismo, porque subconsciente quer dizer outro indivíduo dentro daquele que
se vê e apalpa.
Por tudo
isto, é necessário que S. Sa. seja mais franco, mais sincero, mais Pai
espiritual da nova geração que o tem por Mestre, e lhe diga, francamente:
¾ Eu
conheço o espiritismo vulgar, esse que se pratica por toda parte, que em
Pernambuco se denomina “Candomblé", no Sul "Canjerê",
"Magia Negra" e "Serviços".
¾ Conheço, meus amigos, esse tráfico ignóbil com os
espíritos, esse evocar de feras e bêbedos astrais, que enchem os hospícios de
seres humanos, que os chamam “protetores do espaço” – miséria que também é
praticada no Hospício Nacional, a título de “experiências psíquicas”, pelo meu
respeitável colega Juliano Moreira, chefe daquele cemitério de vivos; mas não
tenho coragem, eu, Austregésilo, de fazer essa afirmação em público e raso, e
muito menos de ir estudar o que se denomina Racionalismo
Cristão, que normaliza realmente, loucos, e cuja base já me foi explicada,
e eu classifiquei de Ciência, por ser, de fato, Racional e Científica.
“Por
isso, ide vós estudar esse ramo, essa ciência, até que o convencionalismo me
permita ir eu próprio a esses praticantes, cuja explicação, em lugar adequado,
me fez abrir a boca, e exclamar:
¾ Mas
isso é ciência, e bela! Até lá, apenas irei empregando um ou outro termo do
baixo psiquismo, que é o único que eu e os meus colegas conhecemos e temos
praticado, para ver se com ele chegamos a descobrir a cura dos loucos.
¾ Por isso, amigos meus, toda a terminologia
usada em meu livro, como espírito dominando a matéria, pensamento e vontade
agindo para a cura dos nervosos, e agora "o subconsciente do
nervoso", etc., etc., é puro espiritismo, é a prova da existência da vida
fora da matéria, da Força parcelada intuindo e agindo em nosso mundo, como
senhora absoluta; mas, o que seja tudo isso, o que significam realmente todos
esses termos, eu não posso dizer-vos, porque apenas os copiei do baixo
espiritismo, que o Dr. Oscar de Souza, meu nobre colega, explica, de vez em
quando, aos meus alunos.
¾ E se
ainda tal terminologia uso, é porque outros sábios também a usam, entre os
quais o Dr. Dubois, de Berna. Mas o que significa verdadeiramente, realmente, o
subconsciente, eu, Austregésilo, confesso lealmente que não sei; apenas observo
que esse outro corpo, que está dentro do nosso corpo físico, também é
denominado, por investigadores europeus, Corpo
Astral, Duplo-Etéreo, ou Fantasma dos Magnetizadores.
¾ Sei que existe, de fato, e que vários sábios
experimentadores já o têm visto e fotografado, nas suas experiências, e por
este motivo é que eu o emprego em minha obra, para rivalizar com esses
investigadores da Inglaterra, França, Itália, Rússia e América do Norte. O
Racionalismo, amigos, afirma, por sua vez, a existência desse duplo-homem, e
não só o afirma, explica também como ele está em nós e como de nós se retira,
quando dormimos ou quando em trabalhos de desdobramento.
Esclarece,
ainda, que esse subconsciente é o segundo corpo que em nós existe, chamado
Corpo Astral, que incita a matéria organizada.
“Diz mais
o Racionalismo que, de fato, está dentro de nós esse corpo, (cuja urdidura é
representada por todo o nosso sistema nervoso condutor, por todo o nosso
organismo, essa vida também denominada anímica,
sem a qual impossível se torna a força incitar e movimentar o nosso corpo
físico”.
Se assim
o Dr. Austregésilo falasse à esperançosa mocidade das escolas, aos futuros
doutores, a quem caberá o encaminhamento da ciência e a regeneração da
humanidade, teria prestado um grande serviço a esta querida mocidade,
imensamente desejosa de conhecer a verdade sobre tudo quanto existe; mas S. Sa.
prefere mais conservar vaidosamente a sua posição, do que tornar-se, dessa
mocidade, um verdadeiro pai espiritual, encaminhando-a para a verdade, que é a
Ciência autêntica.
O Dr.
Austregésilo, pois, desconhece, no fundo, o que é o subconsciente, e qual a sua
origem. A verdade é que o subconsciente é efeito de uma causa inteligente e não
a própria causa; e não sabe porque a folhas 49, tratando do medo da loucura,
diz:
“Uma
afirmativa desde já posso fazer: quem tem medo de ficar louco, não enlouquece.”
Provou ele estar em erro com tal afirmação, quando
é certo que o indivíduo que tem medo da loucura já está a caminho dela, dentro
dos próprios princípios esposados por S. Sa. de que “tudo está no pensamento e
de que o ser, conforme pensa, assim é”.
Mais uma
prova da sua subserviência aos sábios europeus, especialmente ao “Santo Varão
Dubois”, quando, a folhas 53 e 54,
linhas 21 e a 3, pontifica:
“Começa a
desenvolver-se uma seriação de pensamentos vários, de associações de idéias,
porque o pensamento não é função absoluta da nossa vontade, como demonstrou
Dubois.”
Ora, o
que ocorre é justamente o contrário do que o Dr. Austregésilo afirma, apoiado
no sábio Dubois, de Berna.
Ai tem o
leitor amigo nova “embrulhada”, nova Mixórdia
das mãos de Mestres, (como dizia o grande cirurgião Figueiredo de
Magalhães, de saudosa memória) mais uma prova do ser e não ser, de uma nova
causa, o sub-consciente, de mistura com o pensamento, cuja origem S. Sa.
ignora, e é ainda, por isso, que a folhas 55, linhas 1 e 2, afirma:
“Repito,
pois, que quem tem medo de ficar louco, não ficará, e se algum doente soube que
um simples nervoso enlouqueceu, é porque o diagnóstico do médico estava
errado.”
Que
ciência é essa, Dr. Austregésilo, que mete os pés pelas mãos, que afirma e
desmente, ao mesmo tempo, que aceita e repudia a verdade, que, pretendendo
ridicularizar, se torna ridícula?
10.
O Racionalismo Cristão quer o cumprimento da verdade
Diversas
pessoas eruditas e humanitárias nos têm enviado telegramas, cartas e cartões de
felicitações pelas nossas NOTAS dirigidas ao Prof. Austregésilo sobre o livro A Cura dos Nervosos, e referentes ao
triste papel da Ciência ortodoxa, quando se mantém alheia ao estudo do
verdadeiro psiquismo, que deve começar pelo espírito, como Força imortal.
Verbalmente,
uma dessas criaturas, formada em medicina, já ciente e consciente do seu dever,
nos disse:
“As suas
NOTAS racionalistas vieram mostrar que há muita coisa errada na Terra, e
destruir as teorias materialistas, provando que a Ciência emana da Força – o
Espírito criação de tudo.”
¾ Nós
não estamos destruindo a lei, mas cumprindo o nosso dever denunciando os que
deturpam a ciência, os que a menosprezam, os que a não querem elevar, já que
não há governo disposto a fazê-lo, por medo de ferir, fundo, os interesses do
primeiro estado
social, no qual se acham
metidas, como piolho em costura, as classes ditas religiosas e científicas
deturpadoras das leis comuns e naturais.
Nós
apenas representamos princípios; pelos quais nos batemos, por obedecerem eles à
razão e à Ciência, e não a homens nem associações pomposamente denominadas de altos estudos, nem a seitas, nem a
vontadinhas de quem quer que seja.
Esses
princípios que representamos, e pelos quais nos bateremos até morrer por eles,
se for preciso, têm por base a Verdade, e por fim único o bem geral dos povos.
A
doutrina que tais princípios defende, é por nós denominada Racionalismo Cristão, a única verdadeira porque obedece, de fato, à
razão esclarecida, e tem por base a Força e a Matéria.
Tendo
tornado bem claras as nossas intenções na maneira de nos expressarmos, só os
seres mal intencionados poderão ver menosprezo a A ou B ou outra qualquer
preocupação subalterna.
Para nós,
por mais altamente colocado que esteja, o indivíduo é sempre um instrumento do
bem ou do mal, conforme a sua espiritualidade e educação.
Se, como
instrumento, ele funciona mal e produz males para a humanidade, o nosso dever é
denunciá-lo ao público, para que todos se precavenham contra o mau funcionamento
de tal máquina humana, evitando os danos que ela possa causar.
Em nossa
NOTA 2, ficou bem claro o nosso fim, o papel da imprensa livre, que sabe o que
quer.
Nessa
NOTA, citamos a opinião do valente Júlio Ribeiro, (verdadeiro e independente
como ninguém o foi mais) sobre o homem público, e assim sobre qualquer
instrumento humano, ocupando cargos públicos: “O homem público, na qualidade de
homem público, não tem individualidade, é um órgão social! Se a função que lhe
corresponde saiu imperfeita, é que ele, como órgão, é defeituoso, e cada
cidadão está no direito de apontar-lhe o defeito e vícios, e de citar-lhe o
nome.”
Nessa
mesma NOTA, exaramos, do mesmo autor, o seguinte aviso:
“Repetir
textos não é mostrar ciência, é provar memória; e é tempo de reconhecer-se que
assim como há bacharéis sábios, há também sábios não bacharéis e indivíduos
que, na frase de Michelet, são doutores aos quinze anos, e asnos toda a sua
vida.”
Um dos
mais notáveis médicos, trabalhando honrada, altiva e nobremente, o Dr. Figueiredo
de Magalhães, não respeitava pergaminhos nem posições oficiais, por maior que
fosse o seu destaque, quando era preciso dizer a verdade e rebater toleimas,
prosápias, falsas sabedorias de pergaminhados como ele.
Não
rebuscava termos, dizia as coisas como elas eram, para serem compreendidas por
todos, pouco se importando que o contendor, na sua vaidade, se julgasse
ofendido com a sua terminologia, visto que toda ela era própria, era
verdadeira, e as tais melosidades intrujonas, não são admitidas por homens
conscientes dos seus deveres.
Ele
dizia:
“Quem não
quer que o chame de lobo, e que como tal se o descreva, que de tal animal não
vista a pele, que é como quem diz: quem não quer sofrer conseqüências, não
pratique faltas.”
Não tem, pois razão de queixa o Dr. Austregésilo,
por esta nossa explanação, mas a verdade é que S. Sa. e seus colegas
especialistas da mais terrível das enfermidades, a loucura, não a curam.
Pouco ou
nada eles têm feito de bom, até agora,
nesse sentido. Os hospícios e manicômios estão repletos de infelizes enfermos
que poderiam ser curados, em sua maioria, por um sistema racional e científico.
Deturpam
as leis comuns e naturais que bem claramente demonstram que no Universo só
existem Força e Matéria, e sendo a Força Inteligência é a causa de tudo quanto
ocorre, embora inteiramente desprezada pela ciência oficial, que só trata da
matéria organizada.
Quem
deturpar as leis e, propositalmente, se afastar das causas, e assim da verdade
e do cumprimento do dever, não pode ser considerado sábio, porque, além de não
curar os males, deixa morrer, nos hospícios e nas casas de saúde, chefes de
família, esposas adoráveis, filhos e filhas queridos, só porque a descoberta da
cura dessas enfermidades não foi feita por eles.
11.
Distúrbios da alma
É fartamente sabido
que quando um lente de medicina, repleto de prosápia, de bazófia científica, se
quer salientar perante a mocidade que o ouve e que é obrigada, mesmo a
contragosto, a engolir as suas explicações absurdas, tentando provar que a
matéria é tudo e a Força é nada; esse ser pernóstico, quando no lugar próprio,
rodeado de cadáveres, ali trazidos para o estudo do corpo humano, de matéria
organizada, vira-se para os futuros médicos e operadores, e lhes diz:
¾ Aí
têm os senhoras todos esses cadáveres para estudá-los, e só quando neles
encontrarem a alma, bem nítida, bem clara, é que eu acreditarei nela.
Quer
assim fazer acreditar que a alma não existe por não ser encontrada na matéria
organizada, muito embora a inércia desta só se opere após a coagulação do
sangue e, assim, da desagregação da Força que incitou e movimentou o corpo.
Todos esses
pernósticos em evolução negam a existência da alma, que é a Força, porque eles
não a viram, não a cheiraram nem a apalparam.
Negam,
assim, a existência da Inteligência Universal e, portanto, a sua própria
existência inteligente, preferindo iludir-se, a buscar a sua origem elevada e
nobre acima das coisas físicas, quando se recusam a aceitar os princípios
racionalistas de notáveis mestres, que afirmam que a matéria, mesmo organizada,
só se incita e movimenta com um elemento
que lhe vem de fora e vive fora dela,
que é a Força.
É por
esse motivo que a mocidade das escolas fica, por vezes, triste e descrente de
tudo e de todos, sentindo-se afrontada por tais Mestres, que dizem barbaridades
como esta: se nesse cadáver acharem a
alma, então eu acreditarei nela.
No
entanto, o Dr. Austregésilo procurou, na sua obra A Cura dos Nervosos destoar desses materialões, para imitar os
seres que têm alma e raciocínio certos, e foi introduzindo nela o espírito
dominando a matéria e influenciando nas enfermidades, e o pensamento, a vontade
e o subconsciente concorrendo para o
mesmo fim, e por último, a folhas 69 e 70, linhas 21, 22 e 1 a 7 do referido
livro, diz: “Por princípio, deve saber o paciente que não é com drogas ou
eletricidade que se curarão os distúrbios da alma. Poderemos nós, médicos,
fazer melhorar o estado geral, a fraqueza orgânica dos nossos consulentes”.
Não pode, falta à verdade, quando a causa é
psíquica nas enfermidades nervosas, porque somente depois de removida a causa é
que se pode conseguir fortificar o organismo que, só então, pode assimilar os
fortificantes.
Prossegue
o Dr. Austregésilo: “porém, para os estados morais doentios, só a palavra
educadora, a persuasão do clínico e o bom e justo raciocínio, conseguirão afastar definitivamente as angústias,
fobias, os medos e escrúpulos manifestados pelos nervosos”.
Não é
verdade também que com palavras educadoras, como S. Sa. assegura, se possam
curar tais enfermos, porque, enquanto a causa imperar, eles nada vêem nem
ouvem, de nada querem saber que não seja aquilo que lhes é intuído e que vem e
vive fora deles; e essa causa terrível não se afasta com palavras nem com
raciocínios falsos.
No
entanto, S. Sa. confessa a existência da alma, cujos distúrbios, como afirma, não se curam com drogas nem com eletricidade,
com o que estamos de pleno acordo,
visto que não sendo material a causa, não se lhe pode aplicar terapêutica
material, mas a psíquica, que S. Sa. e os seus colegas ignoram.
Mas, se
drogas e eletricidade não curam os distúrbios da alma, e se as palavras, mesmo
conscientes, (quanto mais as inconscientes, como as dos que ignoram as causas)
não podem curar, como afirmamos e provaremos oportunamente, mesmo porque entra
aqui o velho ditado que afirma que para
palavras loucas, ouvidos moucos, e quando não são loucas, mas dirigidas a
loucos, essas palavras leva-as o vento, por não poderem penetrar na mente do
indivíduo enfermo; se, pois, essas palavras e essa terapêutica não podem curar,
o que é, então, que cura esses distúrbios da alma, a que se refere o Dr.
Austregésilo?
Se, por
um lado, S. Sa. se afasta dos seus colegas materialões, desrespeitadores dos
princípios do pai da fisiologia moderna, Claude Bernard, e outros; se,
confirmando a existência da alma e dos distúrbios desta, S. Sa. já traz um
pouco de prudência, de moderação e de luz para o mental dos alunos de tais
lentes e estabelece dúvidas entre os futuros médicos, o que já é uma grande
coisa; por outro lado S. Sa. continua a “cantar de galo”, por falar do que não
conhece e afirmar inverdades, como a da cura das perturbações da alma, com
simples palavras, baseadas em princípios falsos.
A palavra
esclarecida pode reeducar criaturas e erguer almas; no entanto, é indispensável
que estejam despertas as pessoas a quem é ela dirigida. Tal não acontece com
aquelas cujo estado de perturbação confina com a obsessão, as quais só dentro
de correntes fluídicas, racionalmente organizadas, poderão atingir esse
despertar.
Depois disso,
a disciplina no viver, o controle da vontade e do pensamento, concluem a
normalização dos portadores de distúrbios da alma.
Tudo
isso exige, como imperativo inadiável, o conhecimento do que somos como Alma e
como Corpo, e à ciência, sobretudo, cabe estudar integralmente a criatura
humana.
12.
Dores de consciência já sentidas
Por mais farofeiro,
por mais pernóstico que seja qualquer indivíduo, pergaminhado ou não; por mais
mestre em intrujices que tenha sido e queira continuar a ser, lá vem um dia, um
momento, uma hora, em que raciocina com um pouco de acerto e atende aos ditames
da sua consciência.
Quer isto dizer que
não há ser humano, por mais vaidoso ou ignorante que seja, que não tenha a sua
hora boa para reconhecer as suas faltas, e que nessas horas, nesses únicos
momentos humanos da sua vida, não tenha vontade de regenerar-se, de
desdizer-se, de tornar-se um homem honrado e, assim, de pedir desculpas pelos
seus maus atos, praticados em prejuízo de todos, até da sua profissão, dos seus
colegas e amigos, e de si próprio.
Está o
Dr. Austregésilo nessa crise de bem pensar.
Está ele
reconhecendo, agora, que fez muito mal em ter publicado o livro que estamos
comentando, e maior mal ainda à sua vaidade em ter oferecido essa obra à ilustrada redação de A RAZÃO, como homenagem de S. Sa. à referida redação.
Se não
houvesse feito tal oferta a A RAZÃO, não nos teria, agora, a dizer-lhe que nem tudo quanto luz é oiro, e que muitas
vezes, como agora, no seu caso, não passa de latão amarelo, matéria-prima das esporas
do Timpanas, que na Severa, de Júlio Dantas, representa o papel de
rufião-ajudante, intrujão-mor do alquilador Romão, que, à fina força, procurava intrujar, passar as palhetas
no Marialva, comprando-lhe o cavalo alazão cego, como se fosse possível alguém
enganar um Marialva em questão de compra, venda e estado de cavalos de qualquer
raça.
O Dr.
Austregésilo, oferecendo-nos o seu livro e, assim, rendendo homenagem a A RAZÃO, como ele afirma, colocou-se no papel do alquilador Romão, da Severa procurando impingir-nos o seu
alazão cego, que é, no caso, o seu livro.
Mas nós,
já velhos conhecedores de todos os Romõezinhos, de todos os Timpanas, de todos os Marialvas, não nos deixamos
levar pelo tamanho, cor e andar lépido de qualquer alazão dessa estatura marialvina,
indo-lhe logo ao toutiço e percorrendo-lhe, com a mão direita, todo o corpo,
descobrimos a cegueira e, com ela, o fraco do alazãozinho do Dr. Austregésilo,
pois na corrida a que o obrigamos, mil tropeções tem dado sem que o seu dono,
imitador dos finos, valentes e donairosos Marialvas, lhe tenha podido valer,
nem mesmo o chamando à fala, para que venha, por estas colunas, justificar as
mazelas que no dito alazão, (o seu livro) se encontram, já bem desenvolvidas.
Sempre
ouvimos dizer que quando a consciência dói, o homem perde a força, a coragem, e
torna-se um ser apavorado de si próprio e da sua obra.
Foi o
caso do Dr. Austregésilo: num momento de pleno domínio da consciência, viu que
de fato a medicina é ainda incompleta, pois apenas trata da matéria.
* * *
Tendo
atingido pontos culminantes, no sentido experimental, para o estudo do
homem-matéria, a medicina ainda nada fez para devassar o homem-espírito.
Eis a
razão pela qual a medicina, como ciência, é incompleta, enquanto não dominar,
por inteiro, essas duas partes do ser: a
alma e o corpo.
Muitos
médicos já estudam, em todo o mundo, à revelia das restrições acadêmicas, a
fenomenologia psíquica, embora tenham de enfrentar o comodismo rotineiro e improdutivo dos mestres, que tudo
supõem saber.
13.
Não sabem o que dizem
Saber
dar o nome aos bois, e assim saber com que bois lavra a terra, é o primeiro
cuidado do lavrador que honra os seus deveres e a sua nobilíssima profissão, e
é por isso que o homem consciente em qualquer assunto, diz logo: não aceito
patranhas, porque sei dar o nome aos bois com que lavro a terra.
É o que
felizmente nós também podemos afirmar neste caso das trocas e baldrocas, porque sabemos dar o nome aos bois com que
estamos arando este árido terreno da explanação da verdade, deixado a baldio,
em completo abandono, pelos que se dizem cientistas e literatos.
É claro que, se
assim não fosse, não estaríamos aqui tão afoitamente a tratar de seara que até
hoje era alheia para toda gente que não fosse pergaminhada nessa especialidade,
e sentimo-nos tão à vontade, como se estivéssemos no melhor dos mundos, dentro
da nossa própria casa, sem temer a menor contestação séria de quem quer que
seja.
A
maioria dos especialistas, infelizmente, não pode dizer a mesma coisa, porque não sabendo dar o nome
aos bois nem pegar na rabiça do arado, tem andado em ziguezague, em bolandas,
no campo torgoso e árido da medicina e da sua especialidade – as doenças
nervosas.
Fazem
lembrar, neste caso, a figura grotesca do cavaleiro Manchego, o legendário D.
Quixote que, montado no seu esquelético rocinante, de lança em riste, arremetia
contra todos os moinhos de vento que encontrava no caminho, e contra todos os
rebanhos de mansos e pacientes carneiros que, apascentados por pacatos
pastores, se abeiravam da sua via, tão truanescamente trilhada.
Tantas e
tão despropositadas são as arremetidas contra o bom-senso, contra os princípios
racionalistas baseados nas leis comuns e naturais, e até contra os mestres de
medicina do passado, que nos fazem lembrar o D. Quixote.
Afirma o
Dr. Austregésilo, no seu referido livro, a folhas 27, linhas 3:
“Um dos elementos mais necessários à cura dos
nervos, está no exercício da energia da vontade.”
A folhas 71, linhas 2 a 4, também diz:
“Todos os acidentes neurastênicos e histéricos são curáveis, tudo
depende de tempo boa-vontade do
doente e do médico.”
¾ Mas
diga-nos, Dr. Austregésilo, como é que S. Sa. quer uma vontade forte, boa, num
enfermo do espírito, um fraco, como são todos os nervosos?
Tirar
força da fraqueza orgânica e mental de um ser, só ao diabo lembraria!...
A folhas
182, linhas 18, diz ainda o sábio referido:
“A boa
educação da vontade é meio caminho andado para a saúde dos nervosos.”
Está
muito bem, aceitamos como certa esta terapêutica, mas perguntamos-lhe:
¾ O que
é a vontade, qual a sua fonte de origem, como se deve educá-la, principalmente
quando fraca, combalida pela enfermidade, sem afastar a causa desse estado mórbido do enfermo?
¾ Será
possível reconstituir, mesmo materialmente, uma parte lesada, sem adotar os
meios, os elementos necessários a essa reconstituição?
Pois a
mesma lei é aplicada à alma, à parte psíquica a que S. Sa. se refere.
Depois
destas afirmativas, depois de dar “a
vontade como elemento curador das enfermidades nervosas”, depois de aconselhar
o que não conhece, volta-se para outro elemento que também diz curador, que é o
pensamento, e assegura: "Basta o indivíduo concentrar o pensamento no
órgão atacado, para que medre novo sintoma aflitivo."
A folhas
40, linhas 14 e 15, diz: “O hábito de pensar erradamente é tão funesto, como o
de tomar morfina ou álcool.”
¾ Mas,
Sr. doutor, como é que a humanidade pode deixar de pensar erradamente, se os
cientistas como V. Sa. não a esclarecem, para pensar com acerto?
¾ Como
pode o povo nervoso, como V. Sa. diz, pensar acertadamente, e mui especialmente
sobre as enfermidades que o torturam?
Mas
afirma, ainda, o Dr. Austregésilo, a folhas 54, linhas 1 a 3, da sua citada
obra: ... “porque o pensamento não é função absoluta da nossa vontade, como bem
demonstra Dubois, etc.”
Se o
pensamento não é função absoluta da nossa vontade, o que é ele, então? E o que
obriga os seres a pensar errada e tão funestamente, como S. Sa. afirma, se o
pensamento é um elemento livre dessa vontade?
¾ A
que lei está, nesse caso, sujeito o pensamento que, como a vontade, tão real
influência exerce sobre a saúde ou a enfermidade dos seres, como afirma o
ilustre autor, e qual o ponto de apoio ou a origem desse pensamento, para poder
ele existir e agir como age?
Afirma e
nega S. Sa. com a mesma facilidade com que os garotos pulam os muros para irem
as goiabas maduras, sem se lembrar que um mestre nada deve dizer, nada deve
afirmar que não possa provar teórica e praticamente, de acordo com as leis
naturais que tudo regem.
Dessa
facilidade de S. Sa. dizer e não dizer com os sábios europeus, nasceram as
verdades com que A RAZÃ0 está pondo na berlinda o Dr. Austregésilo, porque a
ciência oficial ignora o que seja a Força, a Inteligência Universal, e como ela
opera no mundo físico.
Afirmando
o Dr. Austregésilo e seus colegas cientistas que o pensamento é um elemento que
age (independentemente) da vontade da criatura, estão completamente errados.
Não é
admissível a ação do pensamento sem o concurso da vontade, porque só esta pode
orientar aquele para o bem ou para o mal, conforme a educação moral da
criatura.
14.
Educação psicomoral
Entre o
amontoado de termos contraditórios e sem significado de tomar os efeitos pelas
causas, de seu livro A Cura dos Nervosos,
o Dr. Austregésilo, a folhas 30, linhas 1 a 3, tem esta tirada:
“Com a
medicação apropriada, com a tonificação do sistema nervoso geral, com a
educação psicomoral, os suores e as sensações estranhas podem desaparecer ou
diminuir muito.”
Entretanto,
a folhas 42, linhas 16, diz que para a cura dos nervos, o principal remédio é
não tomar remédio, o que quer dizer – e ele o afirma por toda parte – que não é
preciso tomar remédio para a cura de tão torturante enfermidade.
São
constantes as contradições:
A folhas
30, assegura, desenvoltamente, que com medicação apropriada, tonificação do
sistema nervoso geral e com a educação psicomoral se podem curar nervosos; para
logo adiante, a folhas 42, dizer, como Dubois, de Berna, "Paz de remédes!" "Ayez confiance en
vous!"
Isso
está certo, mas um nervoso não pode raciocinar sobre esse conselho nem ter
confiança em si, se não o esclarecermos, devidamente, fazendo-o compreender que
ele próprio é quem engendra e mantém todas as perturbações funcionais que
acusa, exclusivamente pelo seu viver errado a pelos pensamentos mórbidos que
irradia.
Psiquismo significa
funções ou coisas do espírito, fonte da moral. A medicina inventou esse termo;
porque sente que há um elemento, além do material, que é imponderável, que não
é visto mas que tem influência real sobre a vida dos seres, e, para não
confundir causas invisíveis, partidas da Força, com causas materiais, criou as
palavras psiquismo, psicologia e
psiquiatria.
Ora, se
o psiquismo diz respeito ao espírito e nele está a fonte da moral, a que vem o
Dr. Austregésilo com a sua psicomoral, quando era bastante referir-se à educação psíquica,
que é de fato a moral, por
ser a educação da vontade manejada pela Força que em nós existe?
A educação
psicomoral, a que o Dr. Austregésilo se refere e aconselha na sua obra, é mais
uma das muitas provas que S. Sa. dá ao leitor de que desconhece a composição do
Universo como Força e Matéria, mas, agora, já não continua em campo de cegos.
Acabou-se
o tempo dos reis e senhores inventores de termos para encobrirem a Verdade.
Agora,
fia mais fino: pão é pão; queijo é queijo, e quem não tem suco real, verdadeiro, de mastruço, de
erva-moura e outros, para curar o cancro roedor do bom-senso e do critério, não
pode estar em público como homem de valor, nem ser útil a si e à humanidade porque, ao menor sinal da
razão esclarecida, recolhe-se à sua insignificância, ou vai chorar na cama, que
é lugar quente.
15.
Medicina moderna precisa ser completada
As
criaturas afirmam, por aí além, que a natureza
não dá saltos. E se é verdade que
tudo tem a sua época e todas as coisas, especialmente as grandes revelações,
vêm a seu tempo ou em tempo próprio, guardamos, para ocasião oportuna,
explicar:
1° A
causa real de certas enfermidades nervosas;
29 Como
se geram essas enfermidades, até chegarem ao alto grau de deformar o espírito
e, paralelamente, também o corpo, degenerando-se em loucura, paralisia, etc.;
3° Como
se afasta essa causa, se tonifica o organismo e se produz a normalização.
Antes de chegarmos a
essa explanação da verdade, em medicina, precisamos preparar o espírito do
leitor para que veja como a humanidade tem sido iludida e explorada.
Por ora,
o nosso trabalho cifra-se em bombardear a vaidade, a prosápia, e o fazemos
servindo-nos das palavras dos próprios médicos.
Sob a
epígrafe A Ciência e os Fatos,
escreve o reputado médico paulista Dr. Alberto Seabra[1],
no seu livro A Alma e o Subconsciente,
que “a psicologia clássica não atende à totalidade dos fatos psíquicos; finge
ignorá-los, simplesmente. Faz como o avestruz, esconde a cabeça debaixo das asas,
para não ver o perigo. Além disso, os fatos que ela incorporou ao conjunto do
seu saber, excedem a medida das
explicações materialistas.”
“Não é petulância afirmar que o materialismo é um
saber incompleto, um sistema decrépito que seleciona, de propósito, tão-somente
os fatos que julga poder explicar por meio de combinações atômicas e
moleculares, pela ação exclusiva de forças mecânicas, pelas leis da
físico-química.”
“Semelhante
atitude mental contrapõe-se à dignidade do espírito humano e desvaloriza o
prestígio da ciência.”
“Em
ciência, atitude puramente negativa é ridícula. As negações científicas exigem
demonstração.”
O Dr.
Alberto Seabra estudou nos mesmos compêndios do sábio Austregésilo, como é
inteiramente independente da pecúnia dos homens, é tomado
por nós como uma das
melhores bombardas para destruirmos as muralhas dos
castelos científicos argamassados com a confiança de uns e a indolência
intelectual de quase todos.
Mas
nessa parte real, verdadeira, incontestável, não está sozinho o médico Alberto
Seabra, que tem por companheiros os próprios mestres citados pelo Dr.
Austregésilo, sem este saber como, e sem se aperceber da contradição que, para
a sua profissão, trazem tais citações.
Ora,
dizendo o sábio de Berna, o Dr. Dubois, citado e acatado pelo Dr. Austregésilo,
a folhas 42, linhas 16:
“Pas de remédes! Ayez confiance en vous;”, quer dizer também,
como o Dr. Seabra, que na própria pessoa está o remédio para a cura dos seus
nervos.
Se a
medicina é a arte de curar os enfermos com a prescrição de remédios pelos
médicos receitados, se é para esse fim único que ela nasceu em Cós e em Delfos,
e os homens a estudam, e se, depois de mais de quatro mil anos, vêm os sábios,
consagrados como tais, dizer, como Dubois e outros, que o ser humano não deve tomar
remédios, mas procurar em si próprio o remédio para os seus males, para os seus
sofrimentos psíquicos, e do corpo, quando derivados daqueles, é porque essa
arte de curar foi deturpada, foi falseada nos seus princípios básicos, e se
tornou, em parte, nesse desvirtuamento, um mal para a humanidade, a tal ponto que o notável e honrado sábio Dubois
aconselha aos nervosos a fugirem dos remédios.
Além
dessas provas reais, temos mais a do convite feito em 1917 pela Associação
Médico-Cirúrgica, desta capital, ao padre João Gualberto, para este padre,
sabedor de coisas puramente materiais, dizer, em conferência, a esses eruditos
médicos o que é a medicina e como aplicá-la com acerto, convite que comentamos,
desenvolvidamente, em nosso jornal A RAZÃO, de 17, 18, 19 e 20 de setembro de
1917.
¾ Procurar um clérigo para explicar medicina a uma
associação de médicos, equivale a dizer que esses médicos pouco sabem do seu
ofício!
Que
fossem os médicos procurar o padre João Gualberto para lhe confessarem os seus
pecados, as suas fraquezas e vaidades e a
ignorância da verdadeira medicina, vá, porque, seria, quando menos, um
desafogo de consciência e provaria um pouco de desejo de não continuarem a
prejudicar a humanidade, mas que se vá chamar um padre para ensinar medicina
aos médicos, só ao diabo lembraria tal idéia.
16.
Os porquês das mentiras científico-médicas, que tantos males têm causado à
humanidade
Dissemos que a
medicina é incompleta, e provamos essa afirmativa com o médico Alberto Seabra,
com o próprio Dr. Dubois, citado pelo Dr. Austregésilo, e com o convite que a
Associação Médico-Cirúrgica desta capital fez ao padre João Gualberto,
certamente por não saberem a quantas andam, e por julgarem que esse clérigo,
estando mais em contato com o "Deus-Católico", segundo eles, lhes
pudesse demonstrar os porquês da vida e da morte, e assim a causa de uma e de
outra, o que vale dizer: da saúde e das enfermidades.
Além
desses, muitos outros eruditos médicos temos para citar, como prova de que, de
fato, a medicina só poderá ser completa, se governos fortes impuserem a
remodelação do ensino e acabarem, de vez, com a ciência-negócio, o maior mal
dos homens de valor moral e intelectual que querem ir além dos que já foram,
mas encontram essa barreira de vaidosos e indolentes, que impede o progresso da
verdadeira ciência.
As
mentiras científico-médicas têm por causa a ignorância dos porquês das coisas
por parte dos mestres que por aí existem, como cogumelos entre os musgos dos
castanheiros bravos das serras.
Ignorância,
sim, porque afirmando que no Universo existem Força e Matéria, apenas tratam
desta, quando eles mesmos asseveram que, por si só, ela não se pode organizar,
incitar e movimentar, como disse o fisiologista Claude Bernard.
Ora,
desde que esse princípio certo e seguro foi falseado, foi desprezado, para só
tomarem por base e por causa de todos os males a matéria organizada, claro está
que por terra tudo teria de cair.
Desprezado que foi o estudo da Força, da
Inteligência Universal, torna-se de evidência solar que abandonada a verdade,
ficamos todos - povos, clero e ciência – sob o império da mentira.
¾ Mas,
perguntará o leitor, admirado destas verdades, terão assim agido por ignorarem
essa composição do Universo, esses princípios básicos de tudo quanto existe, ou
será cegueira proposital?
Nada
disso, porque tais verdades foram reveladas pelos Mestres do passado, e da
própria história da medicina fazem parte esses princípios, mas, depois da decadência da Grécia, a decantada civilização
ocidental comodista, gozadora e má, vendo que o estado da Força e a prática da
verdade importavam em sacrifício de comodidades, gozos, vícios e satisfação de
desejos intemperados, de tudo o que têm sido as principais capitais do mundo
moderno, especialmente Paris, as fontes, os fartos campos dessas misérias, as
fartas mesas desses banquetes animalizados e bestiais, com desprezo profundo
pelo homem propriamente dito; vendo essa moderna civilização que a vida,
baseada na Força Inteligente e na prática da Verdade, dela originada, só
sacrifícios do corpo e da alma lhe impunha, abandonou essa Força, essa base de
tudo, e ficou na infecta matéria, elemento sem responsabilidade alguma na
existência dos seres.
Nada mais, nada menos do
que isso, e tanto assim é que quando a maioria dos sábios materialistas é
atacada, como agora, de frente, para que venha explicar o seu saber, justificar
os princípios em que se baseia, grunhe e rosna umas palavras sem nexo, sem
fundamento sério, e cascalha com os queixos, à maneira dos onagros, dizendo:
“Se isto fosse verdade, já nós teríamos
sabido”, ou então “não descemos a discutir com leigos,
charlatões e doidos”, que outra
coisa não são, para eles, os investigadores honrados que vieram a este mundo
para se baterem por causas justas e pelo bem geral.
São
assim, dizem assim, riem assim, essas figuras grotescas, animalizadas, dos
sábios da época, que se julgavam invioláveis na sua prosápia científica.
Se quisessem ser honestos e verdadeiramente
cientistas, fácil lhes seria essa fortuna, recorrendo ao berço da medicina, à
fonte da verdadeira ciência, e de lá trariam a convicção dos porquês das
coisas, como a têm trazido sábios de valor intelectual e moral, reais e
verdadeiros, entre os quais se destaca o Dr. Paul Gibier, naturalista do Museu
de História Natural, oficial da Academia, cavaleiro da legião de Honra,
investigador a quem a Faculdade de Medicina de Paris, por esses e outros
trabalhos notáveis, concedeu a mais elevada recompensa.
Na sua
obra Análise das Coisas, escreveu
ele, a folhas 30, linhas 16 a 28, o seguinte:
“Para
compreender-se a essência da vida, não é inútil fazer-se o exame comparado do
Universo e do homem, do Macrocosmo e do Microcosmo.”
“E depois
só podemos ter concepções claras das coisas, elevando nossa alma acima das
operações ordinárias do pensamento, de onde nascem, quase sempre, os
preconceitos, as idéias errôneas, as ilusões a respeito do que nos cerca.”
“É mister
libertarmos, embora momentaneamente, o nosso espírito do quadro estreito da
vida cotidiana, a cujas exíguas dimensões ele tende a amoldar-se.”
A folhas 31,
linhas 10 a 26, diz ainda esse notável médico:
“Outra
condição que importa também não desprezar, é a de curar-se o homem deste
orgulho que acompanha inevitavelmente uma má educação cientifica e uma
instrução especializada incompleta, como são tão freqüentes em nossos dias.”
“Pessoas
muito esclarecidas em um pontinho especial dos conhecimentos humanos, julgam
poder decidir arbitrariamente sobre todas as coisas, e repelem,
sistematicamente, toda novidade que lhes choque as idéias, quase sempre por
este único motivo, que em geral não confessam: que se aquilo fosse verdade,
elas não podiam ignorar!”
“Por minha
parte – diz ainda o Dr. Paul Gibier – encontrei freqüentemente este gênero de
bazófia entre homens cuja instrução e estudos deveriam preservá-los dessa
deplorável enfermidade moral, se não tivessem sido especialistas escravos de
sua especialidade.”
“É um sinal
de inferioridade relativa, uma pessoa julgar-se superior!”
Esse final
do notável bacteriologista, querido discípulo de Pasteur, é o retrato fiel dos
sábios pretensiosos da época.
É, pois,
a falta desse estudo do Macrocosmo e do Microcosmo, do Universo e do homem,
pois este é, em sua composição, o Universo em miniatura, a causa das mentiras
científicas.
Quer isto
dizer que tais cientistas não se conhecem a si mesmos, na sua composição
psíquica e fisiológica.
Esses
não são sábios, e deixam de ser úteis à humanidade, por se converterem em fonte
de vaidades e de vícios.
17.
Parecer e não ser mestre copista
Parecer e
não ser, é o estado enganador de muitos, especialmente da gente política e
religiosa que acredita que todos os meios são bons ou servem para chegar aos
fins reprovados que têm em mira, como o de iludir a humanidade com hábitos,
maneiras e palavras melosas; é a requintada hipocrisia em ação.
Mas, que parecer e
não ser fosse o estado atual de um considerável número de cientistas e da
maioria dos professores e que a mentira se erigisse no estado normal de tal
gente, é que ninguém, até hoje, tinha pensado, por lhe parecer impossível.
Embora
sendo uma tristeza, uma tremenda desilusão para o público o que aí fica é a
pura verdade, como o leitor tem observado e continuará a observar daqui em
diante, afirmado por homens de valor real, já libertos das garras da tal
ciência oficial; e, assim, de todos os preconceitos sociais e de classe.
Não é,
pois, o que parece, o livro que o Dr. Austregésilo escreveu, porque:
1º) tendo
usado em A Cura dos Nervosos
linguagem simples, como afirma no prefácio do livro, desde a primeira linha,
nada adiantou, nada disse de novo sobre a cura dos nervos;
2°)
escrevendo tal livro, iludiu o povo e os seus discípulos, pois não tem ele
originalidade nem coisa alguma que demonstre ser um criador, um investigador
consciente, um homem dedicado à causa da ciência e da humanidade;
3º) o Dr. Austregésilo, em tal obra, provou ser um
simples copista das observações e trabalhos alheios, como os de Dejerine,
Guackler, Zbinden, Fleury, Levy, Payot, Eymieu, Bernheim, Thomas, e, sobretudo,
os do professor de neuropatologia da Universidade de Berna, o Dr. Dubois.
O referido livro é o que se pode chamar uma manta
de retalhos, uma manta pregada aos enfermos dos nervos, ao público e aos seus
discípulos.
É todo
ele calcado na obra do Dr. Dubois, editada em 1904, sob a denominação de Les Psichonevroses et leur Traitement Moral
– Leçons faites à l'Université de Berne par le Dr. Dubois; que, em português, quer dizer: “As
enfermidades psiconervosas e o seu tratamento moral – Lições produzidas na
Universidade de Berna, pelo Dr. Dubois”;
4º) essa
cópia verifica-se desde o prefácio em que ele fala da psicoterapia educadora
dos que sofrem física ou moralmente, da influência do espírito sobre o corpo,
até a última página, em que trata da preponderância da vontade e do
pensamento na cura dos nervos, da educação psicomoral, da alma do nervoso e da
psicoterapia, até ao hábito de pensar erradamente, etc.
Que essa
cópia da obra do Mestre francês foi leviana e atabalhoadamente feita, prova-o o
fato de o Dr. Austregésilo haver empregado a terminologia de Dubois,
baseando-se nos seus princípios, sem os chegar a compreender, do que resultou
misturar a sua zurrapa de tal forma, que estabeleceu o ser e não ser, o é e não
é, o precisa e não precisa de remédio, a cura e a não cura sem fortificantes,
demonstrando que, mesmo como copista, não soube respeitar o Mestre nem os seus
próprios discípulos, aos quais devia confirmar o que afirma o Dr. Dubois na sua
primeira lição, a folhas 4, linhas 31 a 33, e folhas 5, linhas 1 e 2, em que
trata das inovações sucessivas da medicina e dos erros de orientação dos
estudos médicos, quando escreve:
“On oubliait les troubles fonctionnels, les
névroses; on négligeait le côte psychique de l'être humaine, et je me suis
permis de dire il y a bien longtemps: Il n'y a entre la medicine et l’art
veterinaire qu'une difference de clientélle! C’est encore vrai
aujourd'hui", cuja tradução é a seguinte:
“A
medicina tem esquecido as perturbações funcionais, as neuroses, tem descurado,
por completo, a parte, o lado psíquico do ser humano, a ponto de me permitir
dizer, há já bastante tempo: que entre a medicina e a arte veterinária, a única
diferença que existe é a da clientela! O que é, ainda hoje, verdade.”
A folhas
21, linhas 11, diz esse mestre de Berna:
“A
imensa maioria dos médicos, compenetrados somente do seu papel de médicos do
corpo, é nos órgãos do abdome que os praticantes vão procurar a causa de todas
essas perturbações psíquicas e nervosas."
A folhas
20, linhas 11 e 12, assegura também o Dr. Dubois:
“O
nervosismo é um mal psíquico, antes de tudo, e ao mal psíquico é preciso
aplicar-se tratamento psíquico.”
A folhas
496, linhas 11 e 12, esclarece ainda o mesmo cientista:
“A
neurastenia é mal psíquico, que pode ser tratado em qualquer lugar!”
A folhas
497, linhas 13 a 15, referindo-se a um comunicado de um seu cliente, médico
especialista em Ginecologia, salienta:
“A
amenorréia, a dismenorréia, as flores brancas, podem ter uma origem psíquica.”
Mas o Dr.
Austregésilo não quis dar as mesmas lições, no seu livro, aos seus discípulos,
porque:
1º) a
primeira afirmativa do professor Dubois, nivelando o médico ao alveitar, ao
ferrador antigo, e a medicina a essa
arte de curar burros e cavalos, vinha provar o que dissemos;
2º) afirmando o mesmo Mestre Dr. Dubois que os
médicos em geral vão procurar a causa das enfermidades nervosas na barriga dos
enfermos, quando ela é psíquica, dá-lhes, assim, o diploma de seres inúteis;
3º) afirmando, ainda, o
mesmo Dr. Dubois, que a causa dos nervosos e das neurastenias é psíquica, atira
por terra toda a teoria materialista e a própria medicina, que toma efeitos por
causas, por só tratar da barriga dos enfermos e da sua própria, como qualquer
brutinho irracional.
Essas
admiráveis lições do professor Dubois estão de acordo com as do Racionalismo
Cristão, explanado por nós desde 1910.
18.
Um parto científico após catorze anos de gestação
Ha um axioma racionalista
que diz: Tudo progride e nada retrograda
ou estaciona por muito tempo. Este axioma é baseado nas leis comuns e
naturais, que absolutamente não falham, por serem inerentes à Inteligência
Universal.
Até agora não se
conhecia nem sombra de exceção para tal regra, porque os homens, apesar da sua
imperfeição moral, faziam o que podiam e eram, quando menos, intuídos ou
empurrados por outros elementos astrais, também sujeitos a essa lei.
Há também ditados que
afirmam que quanto mais se vive, mais se
aprende, ou que há morrer e aprender ou, ainda, aprender até a morte, o que se pode
agora aplicar com a exceção por nós notada a essa regra, determinada pelas leis
do progresso, e esta exceção consiste no estacionamento, na prolongadíssima
gestação de um filho da exma.
ciência oficial.
Mas, vejamos o caso que nos
interessa:
Em 1904,
publicou o Dr. Dubois um livro, contendo as suas lições dadas na Universidade
de Berna, a que nos referimos. Nessas lições, trata o Dr. Dubois:
1º) da
influência do espírito sobre a vida fisiológica (do corpo dos seres humanos);
2º) do
pensamento e da vontade na cura dos nervosos;
3°) dos
males da alma, aos quais se deve aplicar uma terapêutica psíquica;
4°) deixa
bem claro o insigne Mestre que as enfermidades nervosas têm causa psíquica,
assim como outras enfermidades do corpo.
Pois bem,
catorze anos depois, em 1918, o Dr. Austregésilo dá à luz um produto desse
robusto filho do professor de Berna, um livro copiado do editado em 1904, como
advertência à medicina oficial, comparando o médico ao alveitar, com a única
diferença que esse pimpolho científico-literário não se parece, em beleza de
alma, com o seu respeitável pai da Suíça, o Dr. Dubois, e sim com o mental de
sua mãe, que, neste caso, é o Dr. Austregésilo.
A semente
do professor Dubois é sã, é joeirada, exala o perfume da honradez do seu
semeador, ao passo que o seu produto saiu, depois de catorze anos de gestação,
disforme, amostrengado, sem pés nem cabeça regulares, perfeitamente zarolho,
mazorro e cambaio.
A parte
boa, a parte honrada da semente, não pôde germinar no mental de sua mãe, nem
gravar-se no subconsciente da mesma, porque, de acordo com a lei de atração, os
similares se atraem e os contrários se repelem, e assim não podia o Dr.
Austregésilo atrair e gravar a boa semente de Dubois no seu árido terreno
mental, porque este, (filho do mal, e só no mal, que é a vaidade) pensando,
repelia o bem, que é o bom-senso, a lealdade, a honradez do professor Dubois,
quando define a medicina e o médico tal qual são uma e outro, e opta pelo
tratamento psíquico, educador da alma, esforço da vontade e pureza do
pensamento, elementos, que ele, Dubois, sente em si, por havê-los observado na
fenomenologia das várias enfermidades, mas cuja causa ignora, por desconhecer,
como todos, o que seja a força em si e a matéria em si, e assim as diversas
categorias destes dois princípios de que se compõe o Universo e o próprio
homem, e como a eles se aplica a lei física da atração dos corpos.
19.
Por si se destroem
Os
pseudo-sábios e a ciência de fancaria
Há, lá
para as bandas lindíssimas e fertilíssimas do oeste paulista, um ditado, entre
o bom povo, o puramente nacional, que afirma: “quando o urubu está caipora, não
há galho que não quebre ao procurar pouso para descansar”. Então diz o
campônio, com a graça e bravura que lhe são peculiares, ao valentão fanfarrão,
quando apanha uma desanca:
¾ Quá,
nhô Quim! (e quem diz Quim, diz nhô Doutô) vancê 'stá mesmo um urubu caipora!
Este
ditado nós o podemos, com verdade, aplicar ao caso presente.
Não
trataremos o Dr. Austregésilo de urubu, esse pobre alado que por toda parte
abunda a fazer de empresário da limpeza pública, mas podemos, com acerto,
denominá-lo de gralha caipora, por haver-se enfeitado com as penas do pavão
real chamado Dubois, que nos artísticos parques, nos relvados lindíssimos que
os orlam, enfeitando cristalinos lagos de propriedades solarengas medievais, de
estilo gótico-bizantino, da velha Europa, ou nos lindos e originais chalés
suíços, passeia, vive e medita sobre as coisas sérias da vida, sobre a nulidade
da ciência defeituosa e da sua perigosíssima prática por criaturas repletas de
vaidades e vícios.
Pelo que
até aqui temos dito por nossa conta, e transcrevendo eruditos de real valor,
fácil se torna verificar a certeza desta afirmativa, mas como a abundância de
provas só pode beneficiar os inocentes e mais condenar os delinqüentes, lá vai
mais uma das que muito aproveitam ao leitor e à humanidade.
A folhas 189, linhas 3
a 5, do livro A Cura dos Nervosos,
diz o Dr. Austregésilo:
“De todas
as escolas, a melhor é a de Dubois, de Berna, em que a persuasão afetiva
constitui a base do tratamento moral ou psíquico.”
Quer isto
dizer que se de todas as escolas, a melhor é a do Dr. Dubois, está por terra a
medicina Austregesiliana, baseada na matéria, que mesmo viva, não pensa, e por
terra estão, assim, todas as teorias materialistas, porque Dubois, além do que
já transcrevemos da sua obra de 1904, copiada na parte vulgaríssima pelo Dr.
Austregésilo, continua a afirmar, em todo o seu livro:
a) que a
medicina atual está nivelada à arte de curar irracionais;
b) que a
causa das nevroses e de algumas enfermidades do corpo, é psíquica, e não está nas
células de parte alguma do corpo humano, e para mais salientar a sua
opinião, torná-la bem clara, bem patente, salienta o Dr. Dubois, a folhas 32,
linhas 20 a 26 da sua obra citada:
“Não
resta dúvida que existe, entre os feitos de consciência e o estado físico do
cérebro, um abismo, para mim intransponível.”
“Eu não
posso, de forma alguma, conceber como é que o trabalho fisiológico das células
cerebrais pode engendrar uma sensação,
fazer nascer uma idéia.”
“Posso
afirmar que ignorava e continuo a ignorar”, conclui ele.
Esta
afirmativa já foi feita, antes de Dubois, por muitos outros notáveis
professores e médicos, entre os quais se acha o nosso saudoso e grande Mestre
Visconde de Sabóia, quando ainda diretor, lente jubilado da Faculdade de
Medicina do Rio de Janeiro e membro de diversas sociedades científicas
brasileiras e estrangeiras, de cuja abalizada opinião lançaremos mão, em
ocasião azada, para, com ela, reduzirmos os materialistas de cá e de lá, de
aquém e além Atlântico, às suas verdadeiras proporções, não de gralhas
caiporas, mas de cágados e batráquios neurológico-científicos, porque outra
coisa não merece quem tão ousadamente vem afrontando o saber; o bom-senso dos
outros e a confiança da mocidade das escolas e de toda a gente.
Sendo, pois, a Escola do Dr. Dubois a melhor de
todas, como reconhece o Dr. Austregésilo, e afirmando esse sábio que o cérebro
não pode engendrar sensações ou qualquer idéia, qualquer pensamento, (apesar de
Dubois ignorar ainda a fonte, a causa das sensações, das idéias e dos pensamentos)
fica clara a nulidade da mestrança do Dr. Austregésilo, e destruída a sua
teoria materialista de que o cérebro segrega o pensamento como o rim a urina, e
a sua própria nomeada de mestre de coisas, cuja ignorância acaba de confessar,
com Dubois.
¾ Em
que posição fica, pois, colocado o Dr. Austregésilo, se ele próprio,
concordando com Dubois, se destrói?
Todos
sabem que o ser ou não ser, do grande dramaturgo inglês, não se pode aplicar a
princípios sérios, como os científicos, e desde que o Dr. Austregésilo
apresenta, como a melhor das escolas, a do professor Dubois, de Berna, é
obrigação sua dizer aos seus discípulos que cessa tudo quanto a Musa Médica
Oficial canta, porque outro poder mais alto se levanta, destruindo, neste
momento, as teorias materialistas, e que, por isso, ele, Austregésilo, faz uma
parada nessa corrida de professor, até que possa, em lugar próprio, estudar,
compreender e praticar a terapêutica psicomoral autêntica, o verdadeiro
psiquismo, a que se refere o mestre Dubois, para depois voltar à escola médica
do Rio de Janeiro, como mestre e cientista da verdade.
É isto que S. Sa. deve
fazer.
Por si
próprio, destruindo a sua teoria materialista, confessando, com Dubois, que ela
é falsa, em medicina, a ponto de nivelar o médico a um ferrador antigo, é agora
tratar de descer desse pedestal de barro em que se colocou, e vir dizer, em
público e raso:
¾ “Eu,
Dr. Austregésilo, da Academia Brasileira do Rio de Janeiro, Professor
Catedrático de Clínica Neurológica da Faculdade de Medicina da dita cidade,
médico do Hospital da Misericórdia e Membro da Sociedade de Neurologia de
Paris, declaro que vou estudar a verdadeira ciência, que é baseada em Força e
Matéria, para depois vir ensiná-la aos meus discípulos.”
Faça
assim, Dr. Austregésilo, por ser esse o seu dever de homem verdadeiramente
honrado.
20.
Pedantismo científico
Discípulo ingrato - brasileiro que não o sabe ser
Afirmam os latinos
“que dos audazes a fortuna é certa”; mas, antes e depois dos latinos, entre os
egípcios, hindus e gregos, também se afirmava, e continua a afirmar, que “os
males com que atormentamos o próximo nos perseguem como a sombra ao nosso
corpo”, e que em virtude desse princípio, “quem mal faz para si o faz”, e “mais
tarde ou mais cedo, cada um tem o que merece” e paga, com usura, o mal que faz
a outrem e, mui especialmente, a audácia de haver faltado à verdade.
É o caso dos
cientistas materialistas.
Acreditando-se
em terra de cegos, julgam os outros por si, atirando para cá, para o mundo
ledor, as suas obras, algumas verdadeiras mantas de retalhos. O livro A Cura dos Nervosos foi calcado no
trabalho de Dubois, e como coisa nova e original apresentado, faltando à
verdade.
A obra de
Dubois gira em torno do valor do espírito, do pensamento e da vontade sobre o corpo físico, sobre a matéria
organizada, numa palavra, sobre a real influência dessa trindade.
É essa
trindade que constitui a escola de Dubois, considerada, entre todas, pelo Dr.
Austregésilo, a melhor (vide sua obra a folhas 189), tida e havida como coisa
nova, como descoberta moderna, para explicar os vários fenômenos, e muitos
sintomas que os clínicos notam nos enfermos que os procuram, e, por esse meio,
condenar a teoria materialista, de grande prejuízo para a humanidade.
O que
são, porém, o espírito, o pensamento e a vontade, sua fonte de origem, as suas
diversas categorias e como devem elas ser usadas na vida física, neste planeta
inferior, é o que nem Dubois nem seus copistas sabem.
Mas isto
de os eruditos falarem do que não conhecem, fica para depois; o caso, agora, é
outro: provar que, ainda desta vez, se verifica que não há nada de novo sobre a
Terra, e que, por isso, novo não é o que afirmam o Dr. Dubois e o seu discípulo
Austregésilo.
Não há
nada de novo sobre a Terra, e nova não é a teoria, a escola de Dubois e do Dr.
Austregésilo, porque:
1º) do espírito, do
pensamento e da vontade, trataram, com real proveito, os egípcios, os hindus,
os chineses e os gregos, na Antigüidade;
2º) a própria medicina,
como arte de curar, é filha legítima desses três elementos, e praticava-se nos
templos erguidos em honra de Esculápio;
3º) essa prática se
verificou (entre outros lugares), na ilha de Cós, pátria de Hipócrates, e
também de Epidauro, Siracusa, Pérgamo, Esmirna e Atenas, onde funcionavam os
Asclepíades, bem como em Delfos, cujo templo era o mais célebre, onde o ofício
divino consistia na cura das moléstias, e aí foi Hipócrates buscar as primeiras
noções da “divina arte de curar”;
4º) além
disso que aí fica, mesmo depois de Cristo, até aos nossos dias, muitos têm
tratado dessa trindade, embora pela rama, desconhecendo a sua fonte de origem,
mas, pelos efeitos observados por eruditos propagandistas dessa teoria, que tem
por base o espírito ou alma, o pensamento e a educação da vontade, de todos se
destaca o grande mestre brasileiro Visconde de Sabóia, diretor da Faculdade de
Medicina desta Capital, como se pode verificar na sua magnífica obra, de 622
páginas, denominada A Vida Psíquica do Homem, publicada antes
da de Dubois e outros citados pelo Dr. Austregésilo, e por este desprezado,
unicamente por não provir da Europa e ser genuinamente brasileira, e assim
honradíssima e a mais desenvolvida e de melhor clareza de quantas existem, até
hoje, como o leitor terá ocasião de verificar;
5°) de
tal assunto trata, também, da melhor maneira que lhe foi possível, Prentice
Mulford, que escreveu quatro volumes,
de perto de 400 páginas cada um, sob a epígrafe As Nossas Forças Mentais, traduzidos do inglês por D. Palmira de
Abreu Castelo Branco, e editados em São Paulo; H. Durville, em diversos
trabalhos e experiências científicas realizadas em Paris, Dr. J . Ochorowiz,
Charles Richet, (que condena a influência da rotina e do hábito da ciência
oficial), do Dr. W. Gebhardi, que diz na sua obra denominada Como se Adquire Energia:
a) Mal se acredita quanto pode o homem, pela
força de sua vontade firme;
b) Se o
espírito quer, o corpo cede;
c) Só um
tratamento médico orientado pela relação viva entre a alma e o corpo, pode
operar uma transformação.
Nessa
obra, o seu autor indica, ainda, a maneira prática de fortalecer a vontade,
para adquirir energia.
Além
desses eruditos de valor, temos também grandes moralistas, como Spencer,
Marden, Samuel Smiles e outros, cuja base dos seus trabalhos é essa trindade
sublime: alma, pensamento e vontade.
¾ Por
que, então, só agora o Dr. Austregésilo se lembrou de fazer propaganda desses
princípios puramente psíquicos, contrários a toda ciência materialista,
copiando o Dr, Dubois, quando, no seu grande país, rico de talentos e de
honradez, existia trabalho completo?
¾ Por
que só agora se achou com coragem para isso, visto que, escravo das mentiras
convencionais, sentia-se fraco para afrontar e suportar o desdém dos seus
colegas, e isso mesmo só o fez copiando Dubois e apresentando-o ao seu público
e colegas como o escudo protetor de que precisava?
Provou,
assim procedendo, ser um discípulo ingrato, porque não soube respeitar o seu
mestre, Dr. Sabóia, que, antes de todos, tratou do assunto, com mais clareza e
proveito.
21.
O diabo tornado ermitão
Isto do diabo tornar-se
ermitão, é também um ditado popular que se aplica aos indivíduos ultravelhacos
e malfeitores, que vêm a público com ares seráficos, maneiras e gestos
estudados, pregar moral, fingir que pugnam pelo bem e se interessam por alguém
ou pelo progresso da humanidade.
Quando um ser é de
condição, de origem espiritual reconhecidamente hipócrita, traidor
incorrigível, mas que precisa e quer, em dado momento, chegar a brasa à sua
sardinha e tirar a dos outros com a mão de gato, que é como quem diz: quando precisa
aumentar o “seu”, à custa do alheio bem-estar, e sabe que é fartamente
conhecido, veste-se, mentalmente, com o hábito de monge honrado, de ermitão
boníssimo, torce e dobra o rabo para as costas, amarra-o à nuca,
calça`sandálias, para que se não vejam as patitas rachadas, à maneira dos
bodes, arranja uns ares de bondade e, mãos cruzadas sobre o peito, lá vai ele
por esse mundo fora, a dizer o que não sente, o que não sentiu e jamais
sentirá, por ser de inferior espiritualidade; e assim vestido de monge,
de ermitão, procura engazopar os que o ouvem, os que lhe dão atenção.
Chama-se
a isto “o diabo tornado ou transformado em ermitão”; e é esta a figura que
representa a ciência materialista, agarrando-se ao Flos-Sanctorum, livro que trata da vida por moedas de oiro, metal
sonante, cá fora, no mundo profano, para, com esse auxílio, fazer acreditar que
está convertido, que já acredita em Deus e em todos os santos da Corte
Celestial, como dizem os padres romanos.
Ao
tratar da educação da vontade (que o Dr. Austregésilo não explica como se faz),
e da influência que o médico pode exercer sobre o enfermo, desde que procure
merecer deste os elementos de “seguranza” para conquistar-lhe o apoio moral,
(folhas 199) diz ele, a folhas 200, linhas 1 a 5, da sua citada obra:
“A
bondade, com a paciência para com o enfermo, é dever terapêutico e humano,
cumpre mostrar-se não dura e áspera, e sim
doce e suave, como aconselha Santo Inácio, em seus exercícios.”
Ora, aí está o diabo da ciência oficial a meter-se
no burel e na alma do ermitão, o célebre Santo Inácio de Loiola, para iludir os
Católicos Apostólicos Romanos e encobrir a ignorância sobre as coisas sérias da
vida, que são só as da alma, e torna-se aceitável, quando tem certeza de que o
povo já a não toma a sério
Vê bem o
leitor que agora até a sotaina, o hábito e o monge, servem de capa para
encobrir as mazelas dos preconceitos sociais.
Mas como
tudo se ressente da origem, lá foi essa ciência, por intermédio do seu mais
cotado instrumento, atraído pelo passado deste Santo Inácio de Loiola, de fundo hipócrita e mau como o seu
próprio, e assim se desmascarou, em vez de ocultar-se debaixo da roupeta desse
chefe feroz do jesuitismo de todos os tempos.
Cabriolando
para o campo religioso, procurou o mais hipócrita, que é o Católico Apostólico
Romano, e deste o mais requintadamente velhaco, que é o jesuítico, e nele foi
buscar a força para a sua fraqueza científica, quando nessa lista de santos de
Roma existem alguns de moral superior é desse “santo” infeliz, desse mau discípulo
de Jesus.
É a tal
coisa da lei comum e natural: os similares se atraem e os contrários se repelem
porque, se assim não fosse e o Dr. Austregésilo quisesse exibir conhecimentos
dessa natureza, ficava-lhe melhor, e dava mais substância à sua causa, ler e
citar os padres Manoel de Nóbrega, José de Anchieta, Antonio Vieira, pais da
literatura brasileira e modelos de virtudes, (embora delas se tenha o autor
divorciado, em obras e pensamentos) frei Jaboatão, o cronista do Norte; frei
Gaspar da Madre de Deus, o cronista do Sul, da Capitania de São Vicente, frei
Francisco de Mont'Alverne, o grande orador sacro do Império, e outros grandes
brasileiros no fundo e na forma, (embora nascidos os três primeiros fora do
Brasil). Citando-os, o Dr. Austregésilo poderia ter ao menos deleitado o
espírito de seus leitores e discípulos.
Em
desespero de causa, porém, atirou-se ao que mais se harmonizava com o seu fundo
espiritual e o fundo de todos os perdidos materialistas, e lá vem o nosso amigo
fazer-se de ermitão, agarrando-se à alma grandemente criminosa de Inácio de
Loiola, para mais fácil se lhe tornar o papel de “Judas” da sua ciência
materialista, e mais facilmente fugir ao julgamento que a trindade vencedora de
todos os tempos - espírito, pensamento e
vontade, por intermédio de “A RAZÃO” lhe está submetendo.
Mas
enganou-se o Dr. Austregésilo, porque tão cedo não ficará liberto das garras da
verdade que, por nosso intermédio, o está zurzindo, e a toda essa "companhia do elogio
mútuo", que durante séculos tem vivido intrujando a humanidade
e abusando da sua confiança.
Além de
ir-se amparar nos chefes dos Jesuítas, e, assim, na fonte do maior mal social
que jamais existiu, além de ir confirmar o outro ditado que diz lé com lé, e
cré com cré, que quer dizer, mau com mau, além dessa prova de falta de
patriotismo, ainda erra, mais uma vez, quando diz que o curador de nervosos
deve ser somente doce e suave, como aconselha Loiola, quando é justamente o
contrário: o que trata de loucos e de outros enfermos cuja causa é um vício
qualquer, filho da má educação da vontade e da própria fraqueza destes, (que é
o vício mais terrível que pode ter um ser) tem obrigação de ser boníssimo, mas
forte, enérgico, parecer, por vezes, áspero, não desculpar a menor falta,
contrariar todas as vontades viciosas ou fracas do enfermo, impor-lhe a sua
vontade forte de acordo com os ensinamentos constantes do livro Racionalismo
Cristão, para assim o auxiliar a reagir contra o mal que o avassala.
Continua,
pois, o Dr. Austregésilo a provar, com estes autores e conselhos, que nem mesmo
o “milagreiro santo” Inácio de Loiola o
salvou desta vez.
22.
Não mais imperam os loiolas científicos
De rebater mentiras,
clarear dúvidas, desvendar misérias científicas, políticas e sociais, desnudar
patifes dourados e entregá-los ao julgamento do povo, mostrando-os tais quais
são, tem sido a nossa vida, desde os 18 anos de idade até agora, e mais
eficazmente, desde 1910 em que, encontrando a verdade, com ela caminhamos, de
braço dado, para toda parte onde haja um ser honrado e defender, um oprimido a
libertar, um individuo ou uma associação de indivíduos a esclarecer ou a
corrigir.
Se a
verdade tivesse sido procurada com afinco, com a possibilidade, como agora, de
ser explanada, não teríamos de notar e até ver imperar algures, as ridículas
doutrinas espalhadas pelo mundo, para embrutecer os povos.
1º) Não
haveria a doutrina epicurista[2],
sem dúvida uma grosseira deturpação do pensamento elevado e espiritualista do
autor, da qual fizeram os deturpadores a primeira teoria sistematizada em
oposição à espiritualidade, quando encara a vida apenas como oportunidade para
a satisfação de gozos materiais;
2º) A
doutrina positivista, criada por Augusto Comte, que se propõe a tratar dos
conhecimentos humanos, sujeitos à observação externa e à experiência,
estabelecendo e sustentando, em nome da ciência, (ou da razão e contra a razão,
afirma Sabóia), que somente se deve admitir como real e verdadeiro o que pode
ser observado e diretamente experimentado, medido e pesado, desprezando-se a
causa e quedando-se na matéria organizada, como qualquer preguiçoso
intelectual;
3°) a
doutrina monista, cuja paternidade pertence a Haeckel, que nunca viu monera
alguma, e por isso a descrição que ele faz desse ser não passa de uma fantasia
quase burlesca, imprópria de um homem de ciência, como afirma e prova o
Visconde de Sabóia, de folhas 45 em diante da sua já por nós citada obra;
4°) a
doutrina evolucionista, cujo genitor foi Spencer, que tirou do Positivismo e do
Darwinismo os princípios fundamentais para a sua concepção do Universo,
afirmando, como Comte, que não podíamos conhecer senão os fenômenos visíveis e
palpáveis, tanto físicos como biológicos e sociais, e a solução de todos os
problemas cosmogênicos e antropológicos, sem exceção da origem dos seres;
5°) a
doutrina materialista, que pretende explicar a existência do mundo e de tudo
que nele se revela ou manifesta, pela matéria e pela força, mas sem saber o que
elas são.
Esta
doutrina, que teve e tem apologistas e detratores, foi abraçada, em seus
princípios fundamentais, pelos discípulos deturpadores do pensamento de
Epicuro, tanto na Grécia como em Roma.
Quer
isto dizer que tais doutrinas, por nós fartamente conhecidas, nunca passaram do
campo puramente material, do mundo puramente físico, e por isso nenhuma delas
se entendia, todas se digladiavam, todas se contestavam, vivendo dentro do
mesmo círculo vicioso da matéria organizada, e nada mais.
Nenhuma delas chegou
à descoberta da Verdade, que é a compreensão da Força, porque todas desprezaram
este elemento que organiza, incita e movimenta a matéria, para só tratarem
desta, e para ela viverem.
Por aí
se infere que sabemos o que sabem os cientistas materialistas, porque até aos
cinqüenta anos foi esse o nosso estudo, o nosso trabalho: a procura da Força, a
procura da Verdade, já que resultara improfícuo o esforço que fizemos para
descobrir a sede da loucura no corpo humano, por estar ela inteiramente fora da
matéria.
Assim
afeitos à luta e a caminhar, de viseira erguida, sorriso nos lábios, passo firme,
por todos os campos onde mais se precise de força mental, da luz da Verdade
para beneficiar os que sofrem, e, sobretudo, para auxiliar o progresso da
humanidade, sentimo-nos sempre bem quando, como agora, precisamos divergir de
afirmações não provadas.
Temos dito muitas vezes que estamos prontos para
discutir com quem quer que seja, e que quanto mais alta for a posição de
destaque ou o valor dos haveres do nosso contendor, mais alegres, mais à
vontade nos sentiremos.
Mas a
ciência materialista e seus representantes não querem entender assim, e levam
para aí a bazofiar, às escondidas, umas coisas que não podem passar sem rebate,
por indignas de nós e da Doutrina Racionalista, a que servimos; por isso,
preciso se nos torna clarear a situação, para que a mocidade estudiosa, os
médicos e demais pessoas bem intencionadas não nos confundam com esses cientistas de Loiola.
Para ver
se se salvam do ridículo a que já chegaram no conceito da gente séria, das
pessoas que sabem ler e raciocinar, espalham, que nós, afirmando verdades e
rebatendo mentiras, negamos o valor e o progresso das diversas disciplinas
inerentes ao estudo da ciência da matéria, e queremos destruir obras-primas e
descobertas importantes, nesse sentido.
Assim
tentaram eles, mas em vão, fazer-nos passar pelo que não somos e jamais
seremos. Uma intriguinha barata, como se vê.
Só pode
negar o progresso estupendo da física, da química, da cirurgia, da fisiologia e
anatomia, da bacteriologia e de outros ramos da ciência, quem for totalmente
ignorante, insiste no erro e chasqueia da verdade que se lhe apresenta; só pode
negar esse valioso trabalho dos investigadores honrados, essas magníficas,
essas estupendas conclusões a que eles têm chegado, com suas notáveis
descobertas do micróbio da tuberculose, da sífilis, do crupe, das vacinas e dos
soros contra tantas enfermidades, inclusive a peste bubônica e outros terríveis
males, todos esses proveitosíssimos estudos e descobertas, e de outros
micróbios produtores de grandes males e epidemias, de grandes danos ao corpo
humano, à vida dos seres em geral, quem pretender passar por imbecil.
Afirmamos,
porém, que sem o conhecimento da Força Inteligente, dessa causa que o
microscópio da maior potencialidade não pode desvendar, tudo está incompleto,
por mais aperfeiçoado que seja ou pareça, salvo na cirurgia, que não cogita de
causas e, sim, e somente, de cortar e consertar corpos puramente materiais.
E porque tudo está falso ou incompleto em seus
fundamentos, é que muitas têm sido as doutrinas e filosofias organizadas pelos
homens, mas todas de acordo com o intelecto de cada um.
Admiradores
da obra imortal de Pasteur, que não era médico, mas que, como criador da
bacteriologia, se constituiu no esteio da medicina moderna; admiradores, ainda,
dos estudos esplêndidos de médicos como Erlich, Koch, Behring e muitos outros
tornados, pelas suas descobertas, benfeitores da humanidade, não podemos passar
por inimigos da ciência verdadeira.
Nós
damos o seu a seu dono. Mas os falsos sábios da época, vestindo a pele dos
opositores desses benfeitores da humanidade, agora se rebelam contra aquilo que
não conhecem, quando lhes mostram que as doenças exclusivamente psíquicas têm
uma causa essencialmente psíquica também.
Esses
falsos sábios estão de novo representando aquele ridículo papel. Revoltaram-se
contra Pasteur e Erlich, quando estes, de microscópio em punho e com
demonstrações palpáveis, afirmavam a causa específica e microbiana das
epidemias e doenças infecciosas.
Agora,
repetem o mesmo triste papel, tornando-se surdos e cegos propositais, quando
lhes mostramos a causa real das doenças psíquicas que, em suas mãos, têm
servido para descrições abundantes e com luxo de detalhes, mas sem nenhum
proveito para os pobres enfermos.
Revoltam-se,
ainda, quando lhes mostramos o valor espiritual da Força, que o microscópio não
revela – mas cujos efeitos se fazem presentes, e são fartamente conhecidos
23.
Camarão não passa nesta malha, porque é esta a rede da verdade
Pelo que até agora
temos demonstrado com relação à Ciência materialista e ao seu ilustre
representante, o Dr. Austregésilo, não pode restar ao leitor a menor dúvida
sobre o remédio psíquico, que ele chama moral, quando afirma, em todo o seu
livro, que “só a educação psicomoral”, (folhas 30) “e ascendência moral sobre o
indivíduo enfermo” (folhas 198), etc., podem curar os nervosos.
Efetivamente,
a folhas 203 do livro que vimos comentando, assegura: “O nervosismo é um mal
psíquico, e somos nervosos porque pensamos mal”, e que “os meios físicos e
medicamentos se constituem em elementos auxiliares, porque as doenças morais.
não se curam com drogas, e sim por meio
de idéias e afetos sãos”.
Está
muito bem, Sr. Doutor, é isso mesmo; os seus mestres têm razão, observaram que
era assim, e o disseram, há muito tempo, sem rebuços; e se V. Sa., afirma, como
eles, que a causa de muitas enfermidades nervosas e outras é a imoralidade,
como salienta a folhas 204, e que é só com o desenvolvimento moral e a sua
aplicação como terapêutica que se cura, o que é razoável, segundo mesmo o
axioma conhecido de que “veneno com
veneno se neutraliza”, é porque deve conhecer essa moral.
Assim,
pois, perguntamos ao Dr. Austregésilo:
¾ Que
é a moral?
¾ Qual
a sua fonte de origem, e como se a conhece, se a desenvolve e se a aplica para
a cura das enfermidades dos nervos e da alma?
Se a
causa de muitas enfermidades dos nervos é, como afirma S. Sa., a falta de
moral, e se, como ainda assevera, a maioria da humanidade sofre desse mal e é
nervosa, é porque então ela, essa humanidade, ignora realmente o que seja a moral
verdadeira, e, portanto, a causa primacial dos seus males.
Se a
medicina materialista só agora está acordando do seu proposital sono de cerca
de dois mil anos, e diz ser a moral a única terapêutica eficaz a aplicar aos
enfermos, é porque essa mesma medicina não sabia, nem sabe o verdadeiro
significado da moral.
Assim
sendo, de duas, uma: ou a maioria da humanidade não tem moral, não sabe o que é
esse grande bem, esse grande remédio que, de fato, não só cura, como muitos
males evita, ou então a noção da moral está errada entre todos, porque até
agora os casos nervosos e de loucura e outras enfermidades têm aumentado
extraordinariamente.
Não sabem
o que é a moral, nem como se curam os nervosos, porque a moral verdadeira não é
filha da matéria, e todos eles só pensam materialmente, por ignorarem o que são
a Força em si e a composição psíquica do ser humano.
Sendo
assim ignorantes da base de tudo quanto existe, o são também com relação à
moral verdadeira e curadora, e como ela se desenvolve e aplica, porque cada um
só pode dar o que tem em si, e se no seu “eu” não existe a nítida, a clara
noção da moral, não a pode oferecer, não a pode ensinar, não a pode aplicar a
outrem, mui especialmente para curar enfermos.
O que aí fica é lógico, é racional, e demonstra que
o maior mal da humanidade é, realmente, a ignorância da verdade, como disse
Platão, e que por isso se diz também que cada cabeça cada sentença; porque
qualquer dessas cabeças anda à matroca, repleta de teorias falsas, produtos de
criaturas ocas, como se diz em gíria materialista.
É claro,
pois, que cada chefe de seita ou doutrina tem a noção da moral à sua maneira,
conforme os seus gostos, os seus interesses, o seu intelecto, e é por isso que citamos:
1º) a moral Epicurista.
2º) a moral Positivista.
3º) a moral
Transformista.
4º) a moral Monista.
5º) a moral
Evolucionista.
6º) a moral
Materialista.
7º) a
moral de Schopenhauer e a de Max Nordau, que se popularizou por ridicularizar
os mais nobres sentimentos dos seres humanos.
Cada uma
dessas doutrinas, pois, tem a sua moral, cuja base é a matéria, são os
instintos e desejos materiais, a idéia da fortuna pecuniária, do gozo em tudo,
cada uma com a forma que lhe apraz, para não se confundir com as outras, mas
todas girando em volta do mesmo círculo vicioso: utilidade terrena, satisfação
de gozos e desejos materiais, e nada mais.
Mas isso
nunca foi moral! A moral propriamente dita, a que cura, a que evita
enfermidades e desastres, mesmo às coletividades, é baseada na Verdade.
A moral
verdadeira está sujeita a leis, que, por sua vez, obrigam o homem à compostura
e à prática de atos verdadeiramente elevados, nada animalizados.
Sob a inspiração dessas leis comuns e naturais,
quando bem conhecidas pelo ser humano, ele trata de zelar por sua honra e é
capaz de praticar, com maior espontaneidade, os mais admiráveis rasgos de
heroísmo, sacrificando mesmo até a própria vida por amor de outrem, emocionando
até às lágrimas e provocando os mais estridentes aplausos e o maior entusiasmo
nos que assistem a tais atos de abnegação, como bem diz o nosso querido Mestre
Visconde de Sabóia, a folhas 522, linhas 7 a 14, da sua bela e já citada obra.
¾ Será esta a moral a que se referem o Dr. Austregésilo e
a ciência materialista?
Não! Não
é, porque esta é a ciência do dever a que Kant deu o nome de Deveres de Virtude, pelos quais o homem voluntariamente glorifica as
suas obrigações ao ponto de dominar as paixões, renunciar a certos prazeres e à
própria felicidade terrena, como meio de aperfeiçoamento de si mesmo e
expressão ideal de moralidade.
Não é,
nem pode ser verdadeira a moral, a dos materialistas, porque não pode ela
quedar-se onde imperam a vaidade, o vicio, a moral utilitária e a moral do
gozo, única que apraz a tal gente praticar e nela basear tudo quanto pensa, diz
e faz.
24.
A moral verdadeira tem por princípio soberano o dever
A moral é
baseada na lei do dever, e este tem o apoio na vontade que, quando mal educada,
destrói o agente moral, mas quando bem educada, o eleva, dando lugar às mais
nobres ações. Para que a moral seja praticada pelo ser humano, como deve, é
preciso que este tenha a noção clara do dever a cumprir, e a vontade fortemente
educada para o bem.
Para isso, porém, é
preciso saber que a lei do dever se desdobra, e nesse desdobrar impõe ao ser
humano, como primeira condição, conhecer-se a si próprio como Força e Matéria,
isto por resultar daí o conhecimento certo e seguro do porquê das coisas e,
assim, da sede da vontade, do que ela é, e de como se deve educá-la para o bem
e utilizar como sustentáculo do dever a cumprir.
Só depois
deste conhecimento é que o ser humano poderá ter a noção exata da verdadeira
moral, do que ela é, realmente, e de como se pratica, porque então conhecerá a
composição do Universo, do qual ele não passa de uma simples miniatura.
Fora
disso, a moral apregoada, ensinada e proclamada, é a moral utilitária, é a
moral do gozo, filha do egoísmo, apoiada nos instintos, nos vícios que por toda
parte campeiam envoltos nas mentiras convencionais, no postiço de uma educação
falsa e de conveniências e, assim, nas vaidades fúteis e misérias terrenas, o
que em vez de animar, de fortalecer e de confortar o enfermo, mais o deprime,
mais o vicia, mais o degrada, mais o enfraquece.
Sendo,
pois, a vontade a base de todas as manifestações da moral, é claro que uma
vontade fraca ou mal educada não pode ser apoio de sentimentos nobres, e é por
isso que a humanidade sofre muito.
Se,
pois, a humanidade em tal estado se encontra, como todos afirmam, inclusive o
Dr. Austregésilo, em melhor estado não se encontra a ciência materialista, que
fala do que não conhece, porque nada mais tem feito do que conservar a
humanidade na ignorância da vida real, do que ela é como Força e Matéria, e
assim do que seja a lei do dever, fonte da moral, sem a qual não se podem evitar
males nem curar enfermidades, como o próprio Dr. Austregésilo afirma.
Desta
maneira, como quer ele curar enfermos nervosos, se na sua ciência não existe
esse eficaz remédio, essa moral autêntica, base de todo o progresso da Força,
da Vida e da Alma?
Onde
encontrar esse progresso na moral dos materialistas?
Com a
moral dos materialistas, nada se pode conseguir para alívio dos que sofrem de
enfermidades psíquicas.
Se o Dr.
Austregésilo fosse realmente esclarecido sobre os porquês da Vida, da Força, e
da morte (ou transformação da matéria) não teria praticado o ato impatriótico
de desprezar os sábios do Brasil, mais adiantados em princípios sérios e, por
conseguinte, racionais, do que os europeus, por ele citados e copiados.
Teria,
sim, procurado conhecer o que de bom existe no seu país, e estudar esses
mestres, para depois citá-los nos seus livros, a fim de provar que o Brasil tem
espíritos criadores, originais, que estão muito acima dos que, de vez em
quando, vêm “fazer o Brasil”, como se fôssemos um país de silvícolas.
Se não
houvesse os que pensam como o Dr. Austregésilo, certos pseudocientistas não
viriam ao Brasil fantasiados de sábios para receber dos seus colegas homenagens
e reverências, desmoralizando as nossas tradições, os nossos verdadeiros
mestres, como o Visconde de Sabóia, o qual escreve, na sua obra A Vila Psíquica do Homem, a folhas 506,
linhas 1 a 6, tratando da moral:
“Pensar,
sentir e querer, formam a personalidade humana: mas quem a faz sobressair, quem
a torna completa e a transforma em individualidade consciente, é a moral ou o
princípio pelo qual o agente pensante, sensível e volitivo, põe em ação todos
os elementos constitutivos de sua natureza, dirige e encaminha a sua vida
psíquica e social, tendo por bússola o dever”.
A folhas 517, linhas
12 a 16, tratando da moral e da lei do dever, diz ainda esse insigne mestre
brasileiro:
“É em lugar mais
elevado do que a realidade humana, perturbada por tantos erros e crimes, que se
deve procurar a origem superior dessa lei e a razão desse respeito misterioso
que ela obtém de nós e que recusamos à necessidade mecânica dos fatos”.
A folhas 511, linhas
6 a 115, continua o conde de Sabóia:
“A lei moral ou do
dever está impressa na natureza humana, e tem o seu fundamento na consciência
que proclama e nos afirma, sem o menor constrangimento na liberdade, a
obrigação a que estamos sujeitos, não só para conosco, como para com os nossos
semelhantes, a fim de que seja respeitada a nossa personalidade, assim como
sentimos que devemos respeitar espontaneamente a dos outros, surgindo de tudo
isso, ou do próprio dever, a intuição do direito e da Justiça”.
“É o imperativo
categórico, segundo Kant, que cria o dever, e este, uma vez criado, cria, por
seu turno, o direito.”
Se,
pois, o Dr. Austregésilo possuísse a noção do dever, base da moral,
forçosamente teria seguido e ensinado o que se acha na obra do grande
brasileiro Sabóia, evitando tanta inverdade.
25.
O nervosismo é um mal psíquico
A
epígrafe desta NOTA é a afirmativa feita pelo Dr. Austregésilo, a folhas 206,
linhas 5 e 6, da obra que vimos comentando: A
Cura dos Nervosos.
Ora, se o nervosismo
é um mal psíquico e, portanto, da alma, destruída fica a teoria materialista
que tudo atribui à matéria, negando, ao mesmo tempo, a existência da alma, que
é a Força; se somos nervosos porque pensamos mal, como afirma o Dr.
Austregésilo, é porque a humanidade não possui moral, visto que mal pensar é
sair fora das leis do dever, que têm apoio na vontade de tornar-se imoral e, em
tal estado, ser mentiroso, imponderado, injusto e desprezível, como afirmam os
moralistas, e a nossa razão observa.
Assim
sendo, aconselha que, para a cura dessa enfermidade, que tem por causa a
imoralidade, se aplique a terapêutica por ele denominada educação psicomoral.
(Vide folhas 30 de A Cura dos Nervosos).
Mas já demonstramos que é a imoralidade que campeia
e domina por toda parte, visto estar a maioria da humanidade atacada dessa
enfermidade nervosa, como também o reconhece o autor da mesma obra.
Provamos,
ainda, que a humanidade sofre desse mal por ignorar o significado da moral
verdadeira, (a que cura e evita enfermidades) e por não a praticar, pois ela quase nada sabe sobre a vida do ser
humano, e muito menos o que ele é como Força e Matéria.
¾ E
por que tal estado de ignorância?
¾
Porque só se tem tratado, até hoje, da matéria, desprezando-se a Força, que é a
vida real, e daí haverem criado a doutrina da moral epicurista, baseada no
falso princípio de que todas as tendências do homem estão voltadas para o gozo
e o prazer, devendo este, para evitar a dor e as amarguras da vida, ver no bem
e no mal somente o resultado de uma sensação agradável ou desagradável, e tudo
fazer para que esta última seja sempre evitada, mediante certa repressão no uso
e aquisição dos prazeres, que devem ser fruídos com constância e grande
intensidade e duração - como salienta o notável mestre Visconde de Sabóia, a
fis. 534 e 535 da sua importante obra citada, na qual também acrescenta:
“Epicuro
não deixou de incluir, entre os prazeres, a cultura intelectual, mas quando
esta servia para descobrir meios mais aperfeiçoados de gozo material e requinte
aos apetites alimentícios e às volúpias dos sentidos ou dos instintos
genésicos”.[3]
O homem,
pelo que encerrava essa doutrina, não devia deixar pairar no espírito, na alma,
os fantasmas da vida e do julgamento
futuro, e lembrar-se de que só tinha liberdade para escolher os prazeres e
suicidar-se, nos casos em que a vida se tornasse intolerável.
A moral
epicurista, tão do agrado dos seres animalizados, porque é essa que lhes dá
prazer, nunca foi nem pode ser a moral curadora, a moral benéfica, a moral
fortificadora, de que precisa a humanidade para libertar-se dos males que a
atingem.
Entretanto, com relação ao prazer, escreve, ainda,
esse grande mestre Visconde de Sabóia, a folhas 535:
“O prazer
deve entrar por uma grande parte da vida humana, mas nunca poderá formar a sua
essência ou o seu único objetivo, e muito menos representar os grandes
princípios da moral, quando ele não serve senão para aguçar ou incitar
grosseiros instintos e impedir o nosso aperfeiçoamento por meio da concentração
egoística do nosso espírito avassalado pela idéia de gozo e só do prazer, como
um animal abjeto.”
“Se mesmo
o mal pode ser convertido em prazer, não haverá ação indigna e revoltante que
não se justifique, sendo o gozo daí resultante igual ou da mesma natureza que o
do animal feroz, quando devora a sua presa”.
Nesta
moral utilitária, como diz Sabóia, o homem pratica o bem, não como um
imperativo do senso moral, mas como um sacrifício que faz para obter de outro
uma soma maior de prazer, e é com este intuito que a virtude se manifesta, não
passando a abnegação e o heroísmo de uma grande tolice ou loucura.
O mal
pode ser praticado impunemente, desde que não provoque ou não acarrete prazer
algum para o próprio indivíduo, e não comprometa o interesse geral.
Não se
impõe, na moral utilitária, o respeito ao interesse individual nem ao direito
natural.
Tudo
está subordinado ao prazer individual: o homem não pratica o bem como um dever
magnânimo, visto que nenhum ato de abnegação e de heroísmo passa da esfera do
mais feroz egoísmo, sendo a pena infligida ao crime somente na proporção do
interesse que a sociedade deixou de alcançar.
O que é a
moral do prazer, firmada no utilitarismo e não no dever, descreve-a o nosso
querido mestre Visconde de Sabóia:
“É o
cântico da lascívia ou o grito da desesperança e do pessimismo que solta
Lucrécio, declarando que a vida humana não é se não uma morte, e que sente o
seu coração devorado pelo abutre de Prometeu! Schopenhauer, que gozou uma vida
feliz e cultivou a moral do prazer viu tudo tão mau no mundo, que não achou
para termo cobiçado da existência, senão o nirvana búdico.”
“A moral
do prazer deixa de lado o dever, a consciência e sanção presente e futura, pois
que a recompensa ou o castigo, depois da morte, tem uma base exclusivamente
conjetural e precária, como igualmente se nota na moral de estoicismo.”
É essa
moral dos animalizados a causa de todos os males da humanidade, porque é a
moral do gozo, e assim do vício, que produz loucos e produziu essa tremenda
guerra (1914), que aí está, baseada no egoísmo e, assim, no instinto
animalizado.
26.
A fadiga cerebral
Medo da loucura
A ciência
materialista nos garante, por intermédio do Dr. Austregésilo, que a alma, espírito,
vontade e pensamento são as causas de todo bem e de todo mal, conforme a sua
aplicação na vida física, e ao mesmo tempo afirma que as enfermidades dos
nervos têm por causa a falta de moral, e só esta as pode curar, (reconhecendo,
assim, a causa psíquica e que a moral pertence à alma e não à matéria). A
folhas 98 e 99 da sua obra, afirma que existe “a fadiga cerebral”, e que “os
que têm medo da loucura não enlouquecem”. Também a folhas 99, linhas 4 a 6,
reforça esse seu modo de ver:
“Posso
vos afirmar isso com segurança, porque o medo de endoidecer é, apenas, uma
fobia, que nunca se realiza”.
É essa
mais uma prova de que o Dr. Austregésilo desconhece a causa da obsessão;
professor, não sabe o que isso é, e cabriola sempre sobre o bom-senso e os
reais princípios da verdade.
O que
esse mestre chama fadiga, fraqueza cerebral, nada mais é do que o esgotamento
geral por trabalho excessivo ou vida desregrada, permitindo o avassalamento do
espírito humano por elementos psíquicos, (espíritos do astral inferior).
É, nada
mais nada menos, do que o avassalamento geral do homem físico, (espírito
encarnado) pelo homem psíquico (desencarnado), tendo por causa a imoralidade de
ambos, como se reconhece nas manifestações nervosas do enfermo.
É assim,
e não como afirma o Dr. Austregésilo, mesmo porque o seu mais notável mestre em
fisiologia assegura que “a matéria mesmo
viva é inerte e não pensa, não passando, por isso, de um instrumento da Força,
e nada mais”.
Essa
afirmativa demonstra ser psíquica a causa do nervosismo, portanto, a Força
impura, sem moral, e que o cérebro não segrega o pensamento.
E tanto
isso é verdade que, uma vez afastada a causa psíquica que produz o nervosismo e
as muitas fobias, normal fica o espírito, sem precisar de drogas.
Ora, se
a fraqueza fosse, de fato, do cérebro, seria material, e só com remédios materiais, com drogas somente se normalizaria.
Quanto ao
medo da loucura, que o Dr. Austregésilo garante (ao assegurar que “jamais
enlouquecerão os que da loucura têm medo”) ser, apenas uma fobia, parece
incrível que esse mestre neurologista não saiba que o ter medo já é um estado
anormal do ser, e muito especialmente o ter medo da loucura, que prenuncia, sem
sombra de dúvida, um estado de obsessão, de categoria branda; e tanto é assim
que ele próprio afirma ser “esse medo de endoidecer apenas uma fobia”. Ora,
sendo fobia, danação, loucura, louco já está o que de ficar louco e furioso tem
medo.
Mas, se
ignorante das coisas sérias da vida não tivesse provado ser o Dr. Austregésilo,
não teria o desplante de dizer, a folhas 99, da obra que estamos comentando:
“Posso vos afirmar isto, com segurança, de que jamais os que têm medo da
loucura enlouquecem”.
Em todo
esse saltar pocinhas do Dr. Austregésilo, vê-se bem o velho professor da escola
materialista a meter as mãos em seara alheia, como é o psiquismo.
Quis
fazer bonito, quis acompanhar os Dubois, da
Europa, e não trepidou em copiá-los sobre coisas novas, sobre coisas da alma,
sem saber o que esta seja, porque propositalmente nega a sua existência, sem se
lembrar da figura triste que faz e da desmoralização que acarreta para a sua
doutrina, para a sua escola materialista A sua única preocupação foi
multiplicar palavras sobre coisas que não conhecia nem conhece, porque tal
conhecimento se opõe à sua ciência e à dos seus colegas, inclusive quanto ao
Grande Foco ou Inteligência Universal, como salienta o nosso querido mestre
Visconde de Sabóia, a folhas 29, linhas 24, no prefácio da sua bela obra já
citada:
“Por mais
extensos, admiráveis e estupendos que sejam os progressos que a física, a
química e a fisiologia tenham alcançado, eles até hoje não conseguiram
demonstrar que não há alma imortal, vontade e liberdade humanas, e que o
pensamento e a consciência sejam fenômenos materiais, sujeitos às leis físico-químicas
e à energética.”
Continuando,
o grande médico e professor brasileiro diz de folhas 30, linhas 3, em diante:
“É, pois, uma ciência toda conjetural, em que
predominam tanto a fantasia como as mais atrevidas hipóteses, que pretende
substituir a antiga psicologia pela nova, como se Kant, conforme diz um
escritor, tivesse tido necessidade de estudar as circunvoluções cerebrais, as
doutrinas cinética e energética, para dar uma análise genial da sensibilidade
das categorias do entendimento ou das idéias da razão, natureza do homem, leis
do raciocínio, lógica e moral.”
“Nada se estende além do
domínio das hipóteses absurdas, apresentadas, dogmaticamente, como a expressão
da verdade experimental, sendo todas mascaradas com o nome de científicas, para
que em nome dessa ciência, mais fantástica do que real, se possam facilmente
destruir todas as idéias fundadas na razão e crenças que elevam o espírito do
homem, e substituí-las por conceitos que deixem livres os maus instintos e as
paixões humanas, negando as leis morais e a necessidade de tudo que possa pôr o
homem em relação com Deus” (com a Força, com a sua fonte de origem,
esclarecemos nós).
É assim
que o maior dos mestres, e o mais categorizado dos professores da Faculdade de
Medicina do Rio de Janeiro se manifesta, depois de mais de trinta anos de
estudo, de ensino e de prática da medicina, e vem confirmar tudo quanto temos
dito dessa ciência materialista, desses sábios professores da atualidade, a
quem Dubois, mestre preferido pelo Dr. Austregésilo, chama de alveitares.
27.
A ciência materialista em apuros
Andam
por esse mundo milhares de criaturas, milhares de loucos no fundo e sectários
crentes na forma, a afirmar, por todos os cantos, ruas e lares, que os tempos são chegados, querendo, com essa
afirmativa, levar aos outros a convicção das coisas sérias da vida que eles
próprios ignoram.
Mas
esses indivíduos, esses “espíritas em
provação”, como eles próprios se denominam, esses seres ridículos que na
Terra existem, cogitaram, algum dia, de saber para que é que os tempos são chegados?
Não,
absolutamente não, por lhes faltarem as qualidades indispensáveis para provar o
que afirmam, e para raciocinarem sobre qualquer coisa séria; são, em sua
maioria, uns infelizes fanatizados e, em geral, cretinizados, imitadores
praticantes da Magia Negra, da torpe
feitiçaria que eles denominam Espiritismo,
e outros há que comerciam com as forças ocultas inferiores, praticando,
assim, o baixo psiquismo, e concorrendo, ambos, para a ininterrupta fabricação
de loucos, de torpezas e de misérias materiais e morais.
Entretanto,
os tempos são, de fato, chegados para tudo ser colocado nos seus verdadeiros
lugares, para que tudo se esclareça, para que a verdade se explane e impere por
toda parte, como único elemento de progresso libertador dos povos escravizados
à ignorância em que os têm deixado as religiões e a ciência materialistas.
É a lei
natural da evolução dos seres e das coisas, que neste mundo e no Universo
existem, às quais todos estão sujeitos.
Quer isto
dizer que o desmoronamento é geral para tudo quanto não tenha por base a
verdade, e só ela, e que nada escapará à lei do progresso e à derrocada por tal
lei decretada.
Em
virtude desse princípio, a própria ciência tem de modificar determinadas idéias
e a sua base, porque estão esteadas na matéria organizada, faltando‑lhe o
conhecimento da causa – que é a Força que a incita e movimenta.
Para a destruição da
falsa ciência e desses falsos princípios, os que mais concorrem são os
verdadeiros cientistas.
Só os
superficiais, os nulos, os ridículos, os ambiciosos vulgares, os atoleimados, é
que teimam em manter‑se nesse pedestal de barro.
Tanto assim é que o próprio Dr. Austregésilo,
copiando os sábios europeus e fazendo suas as teorias destes, destrói o
materialismo, sem o querer, já se vê, sem mesmo o pensar, é certo, mas derroca‑o
de seu pedestal.
Desde
que o Dr. Austregésilo confessa que o
espírito, o pensamento e a vontade
têm real influência na vida fisiológica dos seres, e que só uma educação da vontade, e, assim,
moral, é que pode curar enfermos da alma, destruída fica a teoria
materialista com essas explicações.
Entretanto,
essa teoria, contrária à materialista que ele apresenta como nova, é velha, e
dela têm tratado os homens de mais valor que na Terra têm vivido, como professores,
médicos e outros.
Entre
esses mestres, está o saudoso professor Visconde de Sabóia, que vimos citando,
o qual, no prefácio da obra de sua autoria A
Vida Psíquica do Homem, a folhas 12, linhas 19, tratando da teoria
materialista, diz:
“Para
esses fisiologistas, psicólogos e naturalistas, quem pensa, quem raciocina,
quem idealiza, não é o espírito, não é a alma, é a massa cerebral e, com
certeza, o neurônio, (ou célula terminal dos nervos) que, além disso, se
emociona, tem paixões, vontade, sentimentos, segundo as impressões que recebe e
as excitações provocadas, porque na esfera psíquica tudo se reduz à sensação e
representação consecutiva.”
“Eles
não podem compreender, senão por um milagre, a ação sobre o corpo de uma coisa
imaterial, como a alma, mas evitam explicar como é que apenas do contato dos
germes masculino e feminino pôde expandir a vida anímica; e se, com efeito, o
cérebro pode estar submetido à lei de conservação da energia, não se segue que
não exista, nos centros cerebrais uma força imaterial, não havendo fisiologista
que dê, a respeito, uma prova irrefutável.”
“Dizer
que o mundo vivo, como o mundo inanimado, não oferece outra coisa mais do que
mutações de energia, e que os fenômenos da vida não são mais do que
metamorfoses energéticas, como são também os outros fenômenos da natureza, é
formular hipóteses que não adiantam à solução da questão e nem a esclarecem.”
“A
moral, para essa escola, ou não existe e se reduz a uma questão de costume
individual ou social, ou não passa de um produto evolutivo de dois instintos
antagônicos – o egoísmo e a simpatia interessada – ou tem, como queria Littré,
uma origem orgânica, por depender da luta entre o instinto nutritivo, que é
egoístico, e o instinto sexual, que é altruísta, ou resultando, como sustentam
Darwin e Huxley, de transformação pura e simples dos instintos sociais.”
Nessas
teorias não se encontram, ainda que em uma só vez, nem a idéia nem uma palavra
sobre a liberdade, nem idéia nem palavra de obrigação.
“Não
existe lei moral, nem esta é mais o imperativo que se impõe à vontade, uma
ordem superior, à qual o homem se sente obrigado a obedecer.”
É assim
o materialismo, como continuaremos a provar ao lado de homens de real valor,
como Sabóia e outros mestres brasileiros.
28.
Cada um dá o que tem.
Afirma o
ditado popular que cada um dá o que tem, e que há momentos do homem
propriamente dito, racional e calmo, e momentos do animal, da besta humana,
como disse o erudito francês, e, como todos os ditos populares, é este
certíssimo.
Em
virtude da confusão reinante e da indecisão científico-social, o Dr.
Austregésilo copiou coisas certas de eruditos honrados, tratou da alma, da
vontade, do pensamento, e acabou por confessar que a “imoralidade era a causa dos males humanos”.
Até
aqui, mesmo a contragosto, andou certo, disse a verdade e foi intuído para a
verdade.
Via-se,
no entanto, em A Cura dos Nervosos, o
constrangimento em que estava o seu Eu, em ter de afirmar teorias referentes
somente à alma, dá-las como boas, como únicas benéficas às enfermidades dos
nervos, e que só por vaidade, só para salientar-se dos seus colegas é que ele
foi copiar e dar como bons, e até como seus, aqueles princípios destruidores do
materialismo explanados por eruditos europeus, dos quais Dubois é o chefe
preferido pelo Dr. Austregésilo.
Não era
uma obra de todo má, pois tinha a envolvê-la uma película da Verdade, embora
somente na forma, contrária à teoria materialista que tantos danos tem causado
à humanidade, denominada espírito,
pensamento, e vontade, sem dúvida
elementos curadores.
Mas, no
dia 27, foi a A TRIBUNA, jornal da tarde que se publica nesta cidade, e deu
inteira expansão ao seu estado animalizado, tratando da sexualidade como causa,
agora, das várias enfermidades nervosas.
É por
esse motivo que afirmamos que cada um dá o que tem.
A linhas
28 de sua publicação, expõe ele:
“Do
instinto sexual originam-se o bem e o mal humano, e os liames e os tecidos
psicológicos que daí emanam, constituem a trama mais séria da afetividade e das
comoções. Os veios dulcíssimos e os caudais
verticosos do amor têm suas raízes na sexualidade.”
Como vê o
leitor, já não são mais o espírito, o pensamento, a vontade e a moral que produzem o bem ou o mal, como ele afirmou no seu
livro; agora são o instinto sexual que impera e a sexualidade que produzem os
veios dulcíssimos e os caudais verticosos do amor, segundo informa, a base
deste.
É ainda
desse estado normal no bode e no macaco, é das funções genésicas
ultra-animalizadas, às quais a alma não preside, que esse mestre faz derivar os
liames e os tecidos psicológicos e, assim, as funções do espírito,
materializado, este ao ponto de lhe fornecer tecidos para se ligar ao cerebelo,
base do sexualismo e da animalidade.
Um homem
desses, fazendo a apologia do instinto animal mais perigoso que existe, sede do
libidinismo, como base do amor, poderá merecer entrada em casa de família
séria, para examinar senhoras e filhas queridas?
Aí tem o
leitor a confissão tácita daquilo que nós temos afirmado: que tal mestre não
tem noção do espírito, do pensamento, da vontade e da moral, apesar de haver
recheado o seu livro com palavras a eles ligadas.
Se faz do
cerebelo sede do sexualismo e do libidinismo, a base do amor, dos sentimentos
nobres, que só pertencem à alma, à Força, à Inteligência, como é que quer curar
as enfermidades cuja causa é, como ele diz, a falta de moral, com instintos
animalizados caprino-bodéficos?
Como o
homem se torna animalizado, quando não se conhece a si próprio e não possui a
noção real da moral nem a compostura precisa para afirmar coisas com as
maneiras próprias dos homens educados!
Como
desce o homem quando deixa que o domine a matéria, o instinto, e se acobarde a
alma e, com ela, os sentimentos bons, dignificadores, que o tornam, de fato,
civilizado!
Chama-se
a isso confundir o Amor – sentimento do espírito esclarecido e nobre – com o
instinto sexual, comum aos animais, e indispensável à conservação da espécie.
29.
Entre uns e outros
Doutrinas
que elevam – Doutrinas que deprimem
A
maioria dos seres humanos tem por hábito inveterado julgar tudo e todos pelo
seu intelecto, que é o estado, a categoria de sua mentalidade, o grau de Força
que o indivíduo possui. E é por esse motivo que se diz “cada cabeça, cada sentença”, ou
“cada um dá o que tem e julga o seu vizinho, seu semelhante, por si”, conforme
o grau de espiritualidade, de sentimentos e de educação moral, que possui.
É raro
ver‑se um ladrão que não afirme que todos o são; um pretensioso, pergaminhado
ou não, que não julgue todos pela sua craveira; um debochado, que não afirme
que todos são também debochados, uma adúltera, para quem toda mulher, mesmo a
mais honrada, não seja uma adúltera, uma meretriz disfarçada como ela; um juiz
prevaricador que não afirme que todos os seus colegas prevaricam; um médico
materialão, um sensualista, mais bode ou macaco do que os próprios bodes e
macacos, que não afirme que seus colegas são nulos, e que só ele é especialista
e até sábio.
É por esse motivo
que nós estamos aqui para separar o joio do trigo e dar a cada um o que a cada
um pertence, mostrando a diferença que existe entre eruditos honrados e os que
como tais se inculcam, se proclamam; entre os que tinham .tradições gloriosas
de família, de ciência e de patriotismo a defender e tudo fizeram para
respeitá-las, conservando e elevando o saber, a dignidade, o critério, e os que
hoje tudo fazem para deprimir essas belezas da alma sábia brasileira de
outrora, para engulharem as pessoas honradas com a corrupção de usos, costumes
e a deturpação dos sãos princípios da moral, do valor e da honradez, em todos
os tempos provados pelos Mestres, pelos discípulos e pelo povo que os procura
imitar.
Os que
partiram eram eruditos de valor intelectual e moral; tinham a noção exata das
coisas sérias da vida e possuíam também a franqueza de confessar que tudo em ciência
“estava incompleto”, e que era preciso acertar.
Os que
andam por aí a blasonar de professores, de neurologistas‑psiquiatras, ocultando
a verdade, procurando tudo deturpar, desenvolvendo, apenas, os seus baixos
instintos, desonram a classe.
Os
verdadeiros sacerdotes da Medicina, tinham nítida a noção da honra e do dever;
por isso diziam, como o grande médico‑operador Visconde de Sabóia:
“Achando-me, como cirurgião, e principalmente como
lente de clínica cirúrgica da Faculdade de Medicina do Rio de Janeiro, em
condições de observar, por mais de trinta anos, os fenômenos referentes aos
grandes e curiosos processos de reparação dos tecidos orgânicos, ou de
tisiologia-patológica, sentia-me arrastado, diante da admirável coordenação e
relação desses fenômenos com a origem da vida nos seres orgânicos e,
principalmente, no homem, a perguntar a mim mesmo qual era a natureza e
essência das causas ou leis que determinavam as transformações ovulares e
embriogênicas, e faziam com que um corpúsculo celular, no estado fisiológico,
passasse por diversas transformações e encerrasse em si uma espécie de
virtualidade, para no músculo formar uma fibra muscular – ora lisa, ora
estriada – gozando ou desenvolvendo todas as propriedades do respectivo
aparelho orgânico; nos nervos – uma célula nervosa – nos ossos ‑ uma célula
óssea ‑recebendo, para desenvolver-se, o mesmo impulso da vida que o óvulo ou
semente experimenta ao contato do germe fecundante, de que resulta a
impregnação da vida na matéria, ao passo que essas mesmas células, chamadas a
refazerem esses cosmos tecidos, quando acidentalmente sofriam uma divisão ou
solução de continuidade, estabeleciam a união e reparavam assim a solução de
continuidade, mas às vezes sem apresentarem a constituição e assumirem os
caracteres e as propriedades das células musculares nervosas e ósseas.”
“Em
contraposição, apresentavam‑se em lugares e regiões onde não havia necessidade
de qualquer reparação ou composição orgânica, massas de tecidos de natureza
muscular, óssea ou nervosa, constituindo produtos chamados heterogêneos ou
heterólogos.”
"Em
resumo: por que é que o sangue, como diz Raul Pictet em seu Estudo Crítico do
Materialismo e do Espiritualismo, pág. 302, deposita aqui o músculo, ali o osso, mais adiante o humor vítreo, a unha, a
cartilagem, os cabelos, a sinóvia, o conjunto dos tecidos de que o corpo de
todos os animais é constituído?”
“Por
que, ouso inquirir, a plasticidade ou a célula elementar, chegando ao periósseo
ou ao tecido ósseo, a fim de reparar as perdas fisiológicas ou acidentais que
este sofrer, se converte em célula óssea, e não em um tecido de espécie
diversa, restabelecendo ali, por um trabalho verdadeiramente ontológico, a
forma específica, e seguindo assim uma direção apropriada e um plano
determinado, como um prolongamento da ontogênese?”
"São questões estas bem cativantes e
interessantes que, em todo caso, as teorias físico-químicas ou das energias
químico-térmicas, não podem, por si mesmas resolver."
É assim
que esse honrado e querido Mestre se manifesta, de folhas 1 em diante do
prefácio da sua obra, já por nós citada, sobre a composição do homem,
demonstrando que o significado de Força e Matéria, e assim o elemento que
preside a composição fisiológica do homem e a sua incitação e movimentação, que
procurou explicar o melhor que lhe foi possível na obra citada, a ciência ainda
não sabia, e achava ele, o insigne Mestre, logo a folhas 9, linhas 17, “que
descortinar esses mistérios tão curiosos das forças orgânicas, era penetrar na
essência da vida”, que até então ele e a ciência oficial ignoravam, como ainda
o ignora a maioria dos cientistas.
Depois
desta confissão tão lúcida e honrada do Visconde de Sabóia, o Dr. Austregésilo
vem afirmar, à última hora, que a
escola de Freud e o que os pseudoclássicos Kraft-Ebing, Fere Ferel, Garnier,
Mantegazza proclamam e ele, Dr. Austregésilo, aceita como última palavra, é o
instinto sexual a fonte do amor,
portanto, de todos os sentimentos
nobres.
Para
tais animalizados sábios, o amor da Pátria, esse grandioso e belo sentimento do
conjunto, e o amor de Mãe, de Pai e todo o bem querer pela humanidade, o chorar
sobre as desgraças alheias, que é uma das mais belas manifestações da Força
humana, da alma, da vida dos seres, todas essas belezas do espírito têm origem no desenvolvimento do libidinismo, no
sensualismo, funções genésicas, na parte mais inferior, mais animalizada do ser
humano.
É essa a
teoria materialista defendida pelos sábios orientadores da mocidade estudiosa
das escolas e do povo! ...
Que
tremenda barbaridade!
Compare o
leitor a leal franqueza do mestre Visconde de Sabóia, com a audácia, com a
subserviência copista de alguns sábios desta época, e diga-nos, depois, se não
temos razão em contradizê‑los, com a veemência com que o fazemos?
30.
O sentir real do médico e o remorso em ação
Da composição
psíquica e fisiológica do ser humano, resulta que cada indivíduo contém em si
os mesmos elementos de que se compõe o Universo, que são, como sabemos, Força e
Matéria. Esses elementos estão sujeitos às leis imutáveis emanadas da
Inteligência Universal ou Força.
A única
diferença existente entre os seres humanos é a que resulta da sua educação,
pior ou melhor, da sua vontade mais forte ou mais fraca, mais ou menos
desenvolvida, do bom ou mau emprego de seu livre-arbítrio, que, conjugados,
orientam a conduta de cada um na sociedade.
Assim,
as qualidades morais, baseadas na noção exata do dever a cumprir para consigo
próprio, para com a humanidade e a Inteligência Universal, que tanto elevam e
dignificam o ser humano, são inatas no espírito e se manifestam; uma ou outra
vez, mesmo quando a educação da vontade é imperfeita e má.
Em
virtude da composição do Universo e de tudo obedecer a leis comuns e naturais,
todos estão sujeitos às correntes espirituais boas ou más. Portanto, o indivíduo
de qualquer classe social tem horas boas, de paz, que mui poucas são, em que
pode raciocinar com relativo acerto e ver, através desse raciocínio, todo o seu
passado, quer como estudante, doutorando, quer como clínico, professor,
advogado, engenheiro ou portador de outra qualquer profissão intelectual ou
não.
Assim
sendo, o médico, por exemplo, depois de alguns anos de clínica, resolve-se a
dar balanço mental em sua vida de clínico, de operador e parteiro, etc.,
justamente na ocasião em que um ente querido seu se acha atacado de rebelde
enfermidade que a coisa alguma cede, que a terapêutica alguma obedece.
Neste
estado de meditação, de concentração mental, em seu gabinete, rodeado de
compêndios diversos, de revistas médicas incontáveis, eis o que lhe vem à
mente, o que lhe é intuído, o que sente bem claramente, o que vê diante dos
seus olhos psíquicos, que são os que verdadeiramente tudo enxergam:
Sentado
na sua poltrona, junto à mesa de trabalho, com a cabeça apoiada na mão
esquerda, e a mão e o braço direitos apoiados na mesa, em plena concentração e
em posição de ser intuído fortemente pelo elemento que vem de fora e vive fora
dos seres, como afirma Claude Bernard, eis o diálogo mental que ele estabelece
entre o homem visível e o homem invisível.
“Fui um
estudante repleto de boa vontade e convicto de que seria um médico de real
valor e me salientaria, por isso, entre todos os outros, tornando-me estimado
dos meus clientes e respeitado pelos meus colegas.”
“Formei-me,
assim, repleto de esperanças, convicto do valor de minha profissão, de sua
utilidade na vida dos seres e, especialmente, na minha vida de sonhador de
grandezas e de posições de destaque na sociedade. Entrei na vida prática cheio
de ilusões, satisfeito porque ia realizar os meus ideais, ia ter a realidade
desse sonhar acordado que se transforma, quase sempre, em desenganos constantes
na vida real.”
“Tempos
após a minha formatura, casei-me com uma mulher adorável, companheira digna do
meu saber e da minha posição.”
“Desse
enlace, resultaram filhos queridos, que constituíram a alegria do nosso lar, do
ninho de amor sonhado em nossa juventude, em que tudo é cor-de-rosa, em que
todas as flores, mesmo a camélia, têm aromas inebriantes, em que todos os
homens são honrados, e as mulheres, criaturas adoráveis.”
“Em virtude desse estado, dessa organização do lar,
dessa constituição da família, base do progresso material e moral das nações,
mais se desenvolveu em mim o desejo de
salientar-me científica e
monetariamente, e por isso com mais denodo me atirei à prática da medicina, ao
exercício da minha, até então, nobilíssima profissão.”
“Sempre
alerta, sempre pronto para atender a qualquer chamado, fosse qual fosse a
hora e o estado do
tempo, a ninguém me negava, a todos
atendia, porque, além da parte pecuniária, eu tinha a ambição da popularidade,
baseada no trabalho e nas curas que fizesse.”
“Assim
tenho vivido, até hoje, numa luta titânica, num trabalhar ininterrupto, num
mourejar sem tréguas, para alcançar a glória e a fortuna pecuniária, sendo que
esta já está feita.”
“Chega, porém, o momento mais crítico da minha
vida. Minha querida esposa, e companheira dedicada, mãe dos meus filhos, está
atacada de rebelde enfermidade, que a nada tem cedido, até agora, e por isso
estou aqui a examinar mentalmente todos os meus mestres velhos e modernos, para
ver se neles encontro algo com que possa salvar esse ente querido, vida da
minha vida, e nesse estado horrível de dúvida, eu remonto ao meu tempo de
estudante, de doutorando e de início da clínica, e o que observo, até agora,
até este momento mais terrível da minha vida?”
“Observo
quadros de dor que poderiam ser minorados ou mesmo evitados, se o oficialismo
médico que me foi imposto, bem como
aos meus colegas, fosse mais completo e estudasse a vida invisível dos seres,
como estuda o lado visível.”
“Em
todos esses quadros que se apresentam aos olhos do meu eu psíquico, vejo:
a) ali,
uma mãe extremosíssima, de joelhos, diante da filha querida, quase a
desfalecer, de mãos postas, olhos fixos em mim, a suplicar‑me que lhe salve a
filhinha, alegria do seu lar e de toda a família, ainda que depois tenha de ser
minha escrava, para pagar-me o que fizer por ela;
b) mais
adiante, uma esposa e mãe, com as filhas, já mocinhas, sentadas em volta da
cama, onde se acha o esposo querido; o pai idolatrado, em perigo de vida,
olhando-me todos e me rogando que o salve, para não ficarem sem o seu amparo
moral e material;
c) à
minha direita, cinco menores, cuidadosamente tratados, chorando, em volta da
cama de sua mãe querida, do supremo bem do seu lar, e a menina mais velhinha
envolvendo-me com o olhar carinhoso, em suas lágrimas, e dizendo:
¾
Doutor, salve a nossa mãezinha, que é tão boa para nós e tanto nos quer! Veja
como ela sofre, como geme e como nos o!ha com os seus olhos tão lindos,
repletos de lágrimas, pérolas da sua alma branca, luminosa e pura, que fazem
dela a nossa protetora, a quem adoramos, acima de tudo. Salve-a, porque ela
precisa viver para nós e para o nosso querido papai que está em viagem, e que
louco ficará, ao voltar à nossa casa, se ela tiver morrido. Por tudo o que lhe
é caro, pela sua querida esposa e pelo amor de seus filhinhos, salve a nossa
mãezinha.
“Horrível
tudo isto! Nesses quadros, vejo a precariedade da ciência com os dogmas
pseudocientíficos que me obrigaram a aceitar!”
“Apesar
das suas inegáveis conquistas, há ainda muita coisa a desvendar e aprender!”
“Quero a
todos salvar, mas nem sempre tenho condições para isso, diante da impotência da
minha vontade e do meu saber! Horrível situação a minha, obrigado a enfrentar
todos esses quadros, mui especialmente este último, que se está produzindo na
minha casa, com a enfermidade de minha esposa, que não sei como combater! A
verdade é que nada pode a ciência humana ante os direitos da morte!”
“E foi
para isso, afinal, que eu estudei?”
“Que
tremenda miséria! Que horroroso conjunto de súplicas de mães, de filhos e de
amigos, sem nada eu poder fazer para salva-los da morte, pela insuficiência de
conhecimentos médicos impostos por falsos e despreparados sábios que tudo
subordinam à matéria e vaidosamente pretendem tudo saber, sacrificando vidas
que poderiam ser salvas.”
Vendo
esses quadros de amor intenso entre enfermos prestes a morrerem, o médico sente
que a vaidade dos homens restringiu a medicina ao estudo da matéria,
desprezando o espírito, para só tratar do corpo.
Mas,
diante de um novo quadro de dor mais intensa, ele reflete mais profundamente, e
sente que outro poder mais alto existe nos seres, consubstanciado nas forças
latentes do espírito, embora a ciência enfatuada se recuse a aceitá-lo.
Os
remédios falham, muitas vezes, e noutras não correspondem à expectativa, mas a
energia nova que brota da alma
consciente, inunda o enfermo e o médico de uma força vigorosa e sã.
A ação
do invisível torna-se, então, patente. A reação psíquica é manifesta, e o
médico, reabilitado perante si mesmo, resolve estudar cientificamente as forças
criadoras inerentes ao espírito.
Convicto
da importância desse estudo, a que ele pensa entregar-se, certo de que a força
psíquica é uma verdade que o futuro de encarregará de demonstrar, para a
relativa felicidade dos seres.
Estava
assim meditando, quando foi despertado pesos gritos de seus filhos, em volta da
mãe que acabava de expirar, sem que ele a pudesse salvar!
31.
Doutrinas falsas
Origens de grandes
males
De
falsas doutrinas tem vivido embalada, até hoje, a humanidade em geral, e, em
especial, os povos do Ocidente.
Desde as
várias doutrinas conhecidas, até á materialista atual, todas são baseadas em
princípios falsos, porque os seus fundadores e explanadores se limitaram às
coisas e observações do mundo físico,
desprezando as outras que denominamos causas psíquicas, e cujo conhecimento é
indispensável para chegar-se à descoberta da verdade.
Em
terrível engano têm vivido os adeptos dessas doutrinas e os das diversas seitas
espalhadas pelo mundo, principalmente por haverem aceitado, sem reflexão, a
concepção de um ser supremo, inteiramente materializado.
Todas as
doutrinas, seitas e sectários se contradizem, procurando suplantar uns aos outros,
quando a sua base, a sua maneira de ver as coisas é, no fundo, a mesma, apenas
se diferenciando na forma, no palavreado e na maneira de se apresentarem.
É
difícil avaliar os males que tais doutrinas e seitas, com os expedientes de que
têm lançado mão, através dos tempos, têm causado ao mundo.
Na
verdade, têm sido uma sementeira de ódio, de desarmonia, de intrigas, de
malquerença, de orgulho, de vaidade, de egoísmo e, acima de tudo, de
superstições e obscurantismo.
Ninguém
pôde, até agora, harmonizá-las, e muito menos induzi-las ao estudo das suas
próprias concepções, para chegarem à conclusão de que nada de bom, nada de
útil, nada de aproveitável possuem para oferecer aos seus adeptos,
principalmente enquanto não se
decidirem a libertar-se das idéias falsas que têm
sustentado e dos dogmas mitológicos que as escravizam.
A
libertação é difícil, reconhecemos, de quem se apega a todo um sistema falso e
rotineiro pseudocientífico, e às doutrinas obscurantistas em que ele se apóia,
em que a base da vida – a Inteligência Universal – é obstinadamente negada.
Por
isso, as religiões e a ciência materialista têm feito deste mundo um grande
manicômio, onde cada um exibe as suas loucuras, os seus tristes estados
mentais. Essa situação é tão dolorosa, que ninguém cometeria qualquer exagero
se afirmasse que dentre os habitantes deste planeta, não se tiram cinco por
cento de seres humanos normais.
E por
que este infeliz estado da ciência, das seitas e da humanidade? A razão é fácil
de explicar: cada chefe dessas doutrinas, dessas seitas é, com raríssimas
exceções, um composto de vícios e de misérias resultantes da vaidade que os
domina, e dentre esses vícios e essas misérias, é o egoísmo – causa de muitas
falências morais e materiais – que mais se salienta.
Assim
escravizados, apenas conhecem as coisas do mundo físico que lhe possam dar
proveito, que satisfaçam os desejos e ambições materiais e garantam as posições
que conseguiram alcançar, não raro à custa de curvaturas vertebrais, senão
mesmo de baixezas e degradações.
Cegos e
surdos propositais a tudo quanto vá de encontro à sua maneira errada de encarar
a vida e os deveres profissionais, não querem saber da Força Inteligente, da
vida espiritual que os incita e movimenta, bem como a todos os seres dos
diversos reinos da natureza.
Mergulhados
no oceano profundo do materialismo dissolvente e desagregador, recusam-se a
ouvir a voz da razão e arremetem, furiosamente, contra a idéia da existência do
homem-espírito que, se aceita e estudada, acabaria por iluminar todos os caminhos
da Ciência e conduzi-la aos seus reais objetivos, prevenindo e curando os males
do corpo e da mente.
Eles não ignoram que
a teoria materialista em que se apóiam é falsa, mesquinha, e que grandes males
tem acarretado à humanidade, mas recusam-se a rever o problema, apesar dos
conceituados mestres do Materialismo científico, corajosos e honrados, a virem
condenando, por entenderem não se enquadrar a referida teoria nos cânones da
verdadeira ciência, que coloca a pesquisa e a investigação acima de tudo.
Entre
esses notáveis eruditos e consagrados mestres, está colocado, em primeiro
plano, o eminente professor da Faculdade de Medicina do Rio de Janeiro,
Visconde de Sabóia, que diz, a fls. 30 e 31 da sua magnífica obra A Vida Psíquica do Homem:
“Ninguém
desconhece nem poderá negar a importância das ciências, como a física, a
química, a anatomia e a fisiologia, na solução de algumas questões
antropológicas, e mesmo psicológicas; mas fazer da fisiologia o fundamento e a
base de toda a psicologia, ou reduzir a vida psíquica, a vida moral a um feixe
ou coleção de funções cerebrais, de sensações ou de modificações de fenômenos
essencialmente semelhantes, não passando, conforme Renan, o bem e a virtude se
não de um ideal, não pertencendo a moral, segundo Hartmann, Schopenhauer e
todos os enciclopedistas, se não ao mundo de aparências, não sendo as
faculdades da alma, segundo Taine, se não palavras vãs e cômodas, por meio das
quais arranjamos juntos em um comportamento distinto, todos os fatos de uma
espécie distinta, é abusar da ciência, e em seu nome negar, sem base alguma, a
existência da alma e de suas faculdades: a unidade, identidade, permanência e
atividade do “eu”, terminando-se por dizer, com Ribot, que a concepção do “eu”,
distinto dos fenômenos, é uma hipótese digna de uma psicologia ainda na
infância, como se a doutrina fenomenista e sensacionalista chegasse a
mostrar-nos como os fenômenos e sensações podiam existir sem a unidade viva –
um centro permanente – onde viessem ter e fossem conservados.”
“A verdadeira
ciência, como Kirn demonstrou, é a primeira, sem a indução metafísica, a
fazer-nos ver que, nada existindo que possa ulteriormente extinguir-se, a
imortalidade da alma é a dedução lógica do princípio anímico, não sendo
admissível que o pensamento, o sentimento e a vontade sejam o resultado de
simples vibrações cerebrais, como o calor, a luz e a eletricidade são
manifestações das vibrações do éter, porque leve‑se ao ponto que se queira
imaginar o movimento vibratório das
células cerebrais, nunca se poderá fazer com que dai surjam o pensamento, a
memória e a consciência”.
É assim
que os honrados mestres da ciência oficial no passado se manifestam contra as
bases dessa falsa ciência, que os da época teimam em impor à mocidade, aos
enfermos da alma que hoje existem em maior grau, sem que tal ciência possa
evitar ou curar esses males que afligem a humanidade.
As
experiências desses valorosos homens do passado, as suas investigações, o seu
honrado critério não têm valor algum para os sábios do presente, que só apontam
a matéria como fonte dos sentimentos elevados do ser humano.
32.
Os cavouqueiros da verdade são invencíveis
São
invencíveis os cavouqueiros da Verdade, porque há séculos que eles vêm
cavoucando as mil mentiras convencionais, religiosas ou com roupagens
científicas que, em todos os tempos, têm causado repulsa aos homens honrados.
Os cavouqueiros não têm prisões terrenas, não têm ouro, posições de destaque
nem poderio oficial a respeitar, a temer, a escravizá-los, como acontece à
maioria dos sábios da época.
São
invencíveis os cavouqueiros da Verdade, porque são livres e porque livres eram
antes de se locomoverem neste mundo de miséria, e são livres e valentes para a
luta, por procurarem em todos os sistemas filosóficos, em todas as doutrinas conhecidas
e já mencionadas por nós nestas NOTAS, a origem do homem, a sua causa primária
e a dualidade do mesmo como corpo e espírito, ou Força, funções do espírito e
do cérebro, para, desses estudos, se conhecerem a si próprios, na sua
composição psíquica e fisiológica, o que vale dizer: Força e Matéria.
Das
conclusões desses estudos demorados, em noites e dias seguidos, chegaram à
descoberta da Verdade, e com a luz puríssima dela irradiada, puderam esses
cavouqueiros, pergaminhados ou não, concluir que a Força, também denominada
espírito ou alma, é que tudo organiza, incita e movimenta, quer neste, quer nos
outros planetas.
Desse investigar
constante, ficaram convencidos os cavouqueiros da Verdade que o homem ignorante
destes princípios agora por nós explanados é sempre dominado pela paixão e vê
somente as coisas pelo prisma do seu interesse exclusivo, ou pelo desejo levado
ao auge do paroxismo, como diz Sabóia: tudo deturpa, tudo amolda ao seu
intelecto, aos seus desejos desordenados. tornando-se intolerável aos olhos da
própria família, dos próprios colegas, que têm o hábito de raciocinar.
Entre
esses cavouqueiros da Verdade, contam-se médicos honrados e independentes,
corno o Dr. Alberto Seabra, que escreveu:
“O corpo
dissolve-se, e numerosas vezes, durante a vida, se reforma.”
“Entretanto,
apesar dessa transformação constante – através das modificações do corpo
material –, ficamos sempre a mesma pessoa, o espírito é sempre idêntico a si
mesmo e com ele subsistem a memória, a recordação de um passado, de que não
participou o corpo atual.”
“Há,
pois, em nós um princípio distinto da matéria, uma força indivisível que
persiste e se mantém no meio dessas perpétuas substituições.”
“Sabemos
que por si mesma não pode a matéria organizar-se e produzir a vida.”
“Desprovida
de unidade, ela se desagrega e se divide ao infinito.”
“Em nós,
ao contrário, todas as faculdades, todas as potências intelectuais e morais
agrupam-se a uma unidade central que as abraça, liga e esclarece, e esta
unidade é a consciência, a personalidade, o Eu.”
Esse
“Eu”, a que se refere o erudito médico paulista Alberto Seabra, é a Força que,
independente da matéria, dela se serve para fazer o que lhe apraz; é o
espírito, sobre cujas funções esclarece o professor Visconde de Sabóia:
“Todas
essas funções – pensamento refletido, levado a idéias gerais e abstratas,
memórias, imaginação, ânsia de saber – se exercem, sem dúvida alguma, por meio
do cérebro, que é o órgão e instrumento
do espírito e corresponde, pela perfeição, à sua essência, mas é de todo o ponto inadmissível que ele as
produza, que tenha em si condições
que o façam experimentar o desejo de obter o conhecimento
das coisas, ou ter o gozo e a delícia que desperta o descobrimento da Verdade.”
“Um
cérebro privado da alma não teria procurado, diz Dolfus, nem experimentado o
prazer de um Arquimedes ao descobrir a circulação do sangue, ou o de um
Copérnico, ao entrever em espírito a circulação dos planetas, não sendo o
cérebro, por mais que se dividida em partes onde se acomode cada operação psíquica,
se não uma condição fisiológica para o recebimento das impressões que aí vão
ter ou que recebe do mundo externo, e
de que o espírito toma conhecimento,
lavra o julgamento, segundo as leis do entendimento, e guarda a lembrança que
será despertada voluntariamente ou involuntariamente por impressões ou
percepções congêneres, de que em outras ocasiões o aparelho cerebral pôde ser
afetado ou que a alma provocou por uma ação própria sobre o cérebro,
revelando-se na consciência do eu a realização do ato lembrado ou despertado
pela vontade ou motivos que esse tem para agir".
Aí tem o leitor dois médicos e eruditos de valor, cavouqueiros
da verdade, a afirmarem a existência da Força, da alma, do espírito, da vida fora da matéria, e independente dela a servir-se
do cérebro como aparelho, como instrumento seu, por ela, para tal fim,
organizado.
E a essa
bela conclusão têm chegado todos os investigadores honrados da existência da
Força independente da matéria e da sua ação suprema sobre esta, confirmando-se,
assim, a afirmativa de Claude Bernard e outros eruditos notáveis, de que a
matéria mesmo viva é incapaz de pensar, por pertencer essa função ao elemento
que lhe vem de fora e vive fora dela –
que é o espírito.
Tal
verdade repugna, porém, à falsa ciência imposta pelos mestres, porque vem
desmontá-los dos pedestais de barro em que a toleima de uns e a preguiça
intelectual de outros os têm colocado.
E porque
assim é, terão todos de ouvir a voz da verdade e sentir fundo os seus efeitos
na consciência, até que se humanizem e libertem de preconceitos escravizadores.
33.
O cérebro não é a sede da vida nem produz pensamentos.
Que o
cérebro não é a sede da vida nem a matéria organizada é sede ou fonte de
inteligência, é já fartamente sabido pelos que mais honrada e desprendidamente
procuram a descoberta da Verdade, e tratam de estudar o homem em sua composição
psíquica e fisiológica, e assim a composição do Universo, do qual é o ser
humano uma miniatura.
Que é um
fato a existência da. Vida, da inteligência, da Força fora da Matéria,
independente desta, o têm afirmado os mais eruditos professores do mundo.
Que os
pensamentos são forças suturadas de poder, que nós atraímos ou repelimos
conforme a nossa vontade, é afirmativa de cientistas que, após anos de
escravização à ciência oficial, dela se libertaram, por já engulhados de tanto
preconceito por essa ciência teimosamente sustentada em prejuízo da humanidade
e da verdadeira ciência, que é aquela que se baseia na Verdade.
Tais
verdades só são ignoradas pejos indolentes e pelos cegos propositais, que são
todos os homens escravos de preconceitos científicos, religiosos ou sociais –
por todos, enfim, que, pelo seu estado de escravidão, não querem acreditar nas
investigações, ou a vaidade não os deixa ver as pesquisas honradas de homens da
ciência, convictos de que a vida esteve sempre e continua a existir fora da
matéria.
Os
homens podem mentir e mentem sempre que a vaidade os domina e a sua condição de
escravos a isso os obriga, mas a fotografia não pode mentir, porque reproduz o
que existe. Nesse caso está a fotografia do pensamento e dos corpos astrais ou
duplo-etéreos.
São,
pois, grandes impostores os que teimam em sustentar as teorias falsas em que se
apegam, como as que têm por princípio, por base, a matéria e o cérebro como
sede da vida e segregador do pensamento.
Tais
homens, por mais sábios ou professores que pareçam, não podem merecer a menor
consideração e respeito, por serem arautos da mentira, escravos do vício, e
assim só males, e grandes, produzirem à humanidade.
Tudo
quanto temos afirmado e continuaremos a afirmar, até o fim, não é novo, é
velhíssimo, tem a idade do primeiro homem, dos primeiros habitantes deste
planeta, pois que pouco existe de novo
na Terra; e é por esse motivo que temos momentos em que somos obrigados a ferir
fundo a vaidade, os vícios, as misérias desses cientistas oficiais, por serem
eles os maiores teimosos que se conhecem, para os quais, nem o acicate da dor,
nem as desgraças alheias, e às vezes até as próprias, os demovem do firme
propósito em que se acham de tudo negar, de tudo deturpar, de contra tudo o que
não se harmonize com as suas incompletas teorias, se revoltarem.
Têm eles
certeza absoluta de que estão errados, de que mentem e de que são os coveiros,
os desmoralizadores da ciência propriamente dita, que tem por base a descoberta
da Verdade e, por fim, o bem geral da humanidade, mas lhes é mais fácil aceitar
as mentiras dos compêndios, quedarem-se nelas e até desenvolvê-las, do que ter
o trabalho de procurar a Verdade, ter a coragem de vencer os vícios que os
dominam a partir os grilhões das mentiras que os prendem a essa ciência
incompleta e dogmática.
Obra de
escravos voluntários é essa teoria, e esses seres têm de parecer-se fatalmente
com os seus descobridores, com os seus sustentadores, porque filho que se não
parece com o pai é produto roubado à virtude do lar, à honradez do chefe desse
lar, e portanto não é possível deixar de reconhecer que tal pai, tal filho, tal
ciência, tais cultores seus.
Estão tão fora do
mundo moral, tão alheios à verdade e à honradez ciceriana, que para conservarem
os falsos princípios que sustentam, para que eles continuem a imperar, vão à
Europa buscar eruditos que com eles estejam, embora na forma, ou em parte,
desprezando a prata da casa, os sábios brasileiros, os que sempre colocaram a
honradez científica acima de tudo, como Pinheiro Guedes, Alberto Seabra e o
Visconde de Sabóia, que diz, a folhas 289, linhas 10, da sua já citada obra:
“Dizer
que o cérebro pensa, porque se pode perceber certa correlação entre o
pensamento e a sua condição física é
pedir à experiência externa o que essa não podia dar, porquanto o
pensamento lhe escapa em seu modo e em sua natureza íntima.”
"Se
o pensamento e as idéias fossem um produto da massa cerebral, como a bílis é um
produto do fígado, as urinas um produto dos rins, eles seriam semelhantes em
mim como nos outros homens e, no mesmo momento, as mesmas impressões, as mesmas
imagens, as mesmas emoções e os mesmos desejos se manifestariam, por forma
idêntica.”
Mas como não é,
dizemos nós, é absurdo o princípio de que o cérebro segrega o pensamento como o
rim segrega a urina, e que o cérebro seja a sede da vida, o gerador e expedidor
da Força, representada pelos pensamentos.
A folhas
287, linhas 19, continua o Visconde de Sabóia:
“No
cérebro, todos os traumatismos ou violências produzem fenômenos correspondentes
aos que podem ser observados em órgãos mesmo essenciais à vida, sem que a inteligência sofra uma modificação proporcional e persistente.”
“Tenho
visto e observado doentes vítimas da
perda de uma não pequena porção da massa cerebral, sem que a inteligência deles
oferecesse a menor modificação ou perturbação.”
“Mosso,
em seu livro O Medo, diz ‘que se têm
visto homens, nos quais se havia feito a ablação de grande parte do cérebro
que, em virtude de acidente, fazia hérnia através de uma abertura craniana, não se observando a menor sensibilidade na
massa cerebral’. ”
O que o
materialismo médico afirma, com relação ao cérebro e à vida do homem, carece de
fundamento, pois que, como dizem os eruditos acima, o cérebro nada mais é do que um instrumento da Força, da vida que
existe fora dele ou que a ele fica ligado para movimentar o corpo e fazer
articular palavras para exprimir pensamentos do espírito, e nada mais.
Mas, há ainda mais argumentos aniquiladores desses
mestres queridos que nós iremos publicando para o bem da ciência e da
humanidade, pouco nos importando com esse oficialismo sem base, sem noção de
honradez própria das almas evoluídas, embora humildes.
34.
Inteligência a peso
É como a entende a
ciência oficial
É sabido
que a escola materialista atribui a formação de todos os seres orgânicos ou de
todas as coisas, às forças cegas da matéria, como diz o Dr. Sabóia, e não tem
dúvida em sustentar que não há uma alma dotada de faculdades, e que aquela não
é mais do que a representação do conjunto das funções do cérebro.
Convém, todavia,
assinalar um fato curioso: os materialistas, negando a existência do espírito,
não deviam falar em psicologia, ciência que se ocupa, não das funções
cerebrais, mas das faculdades ou operações íntimas do espírito; entretanto,
todos empregam esse termo, ainda mesmo quando tratam das faculdades atribuídas
por eles às funções cerebrais, com o título de fenômenos psicológicos, dando à
luz trabalhos que se referem à psicologia da atenção, da consciência, da
memória, do caráter, do amor, etc.
Mesmo
Maudsley, um dos mais notáveis sectários do materialismo, publicou dois
importantes livros, um com o título de Fisiologia,
e outro com o de Patologia do Espírito
-– o que seria o caso de perguntar-lhe: “Se
não há espírito, como poderá haver fisiologia e até patologia do espírito?” .
O
Visconde de Sabóia, a folhas 267, de seu já citado livro, escreve:
“A escola
materialista tem, pois, o privilégio de conceber não somente uma psicologia sem
espírito, como até mesmo uma psicologia experimental, que deveria ser uma psicologia em que fosse observado e
examinado o espírito e estudadas as suas faculdades experimentalmente (o
que até agora se não conhece, nem disso quer tratar a ciência oficial, dizemos
nós).”
“Mas nada
disso acontece, porque também seria de uma impossibilidade absoluta observar no
cérebro a fabricação ou produção do pensamento, da consciência, da atenção, da
memória, das idéias abstratas e gerais, do sentimento e da vontade.”
“De que
se ocupam, então, os materialistas nos laboratórios que instituíram para o
estudo experimental da psicologia?"
“É do
estudo dos animais inferiores de certa ordem de fenômenos nervosos, para daí
deduzirem que no homem as operações psíquicas ou mentais podem ser explicadas
pelas leis da física e da química”.
Confirma,
assim, o grande Prof. Sabóia o que temos afirmado: que a falsa sabedoria de
alguns mestres atuais leva-os a falar do que não conhecem e a inventar termos
para encobrir a ignorância que os domina sobre o homem físico e o homem
psíquico, o que vale dizer: sobre os porquês da Força e da Matéria.
Depois
de um sem-número de tolices afirmadas pela ciência materialista para fazer
valer o falso princípio de que o cérebro é a sede da vida e o segregador do
pensamento, atirou-se à forma da caixa craniana, peso e volume do cérebro do
homem, como prova da inteligência mais ou menos desenvolvida.
Para
isso, lançaram mão do professor Broca, que disse que abaixo de 907 até 1049
gramas de peso para o homem, e 900 gramas para a mulher, o cérebro deixava de
oferecer as condições necessárias para a normalidade das funções mentais.
Esqueceu-se, porém, que se esse notável antropologista atribuía grande
importância ao volume do cérebro, aferido diretamente, pelo peso ou pela
capacidade craniana, ele protestou, formalmente, contra a idéia, que poderiam
atribuir-lhe, de ter querido estabelecer uma relação absoluta entre a
inteligência e o volume ou peso do cérebro.
Mas, como
cada um quer o que quer, faz questão de trabalhar o menos possível e de obter
este mundo e o outro sem esforço, continuam os pescadores de águas turvas a
agarrar-se ao peso do cérebro, embora as pesquisas feitas por Gambetta, segundo
diz Poral, no seu livro O Crime e a Pena,
viessem mostrar que “a inteligência está longe de conservar relação constante
com o peso do cérebro; tanto que o daquele tribuno não pesava mais de 1294
gramas, quando a média do peso dos cérebros dos parisienses é de 1357 gramas.”
O Dr.
Manouvrier declarou que “Um fisiologista, diante do cérebro de Gambetta, não
teria hesitado em crer que pertencia a um selvagem”.
Por essa
pequena amostra, vê bem claramente o leitor até que ponto chega, e pode chegar,
a audácia de qualquer fisiologista que do psiquismo verdadeiro nada perceba,
como nada percebem todos eles.
Não se
lembram que “o cérebro de alguns macacos é quase igual, em forma e volume, ao
do homem; entretanto, que diferença enorme entre aquele animal e este último,
dispondo, às vezes, de uma inteligência capaz de tudo conhecer e de elevar-se
às mais sublimes concepções”, como ensina Sabóia, a folhas 284.
É claro,
pois, que se a vida estivesse no cérebro, e este segregasse o pensamento,
quanto maior fosse o volume da massa cerebral, mais desenvolvida devia ser a
inteligência, e então o macaco devia pensar e agir como o homem, e como ele ter
os mesmos sentimentos, os mesmos pensamentos.
No
entanto, assim não é, nem pode ser, porque se tal toleima fosse possível, a
baleia, que dispõe de um cérebro que pesa 2500 a 4000 gramas, seria o mais
inteligente dos seres da criação, e é ela um dos mais estúpidos, como bem diz
Sabóia, combatendo todo esse amontoado de despropósitos. Com efeito, tratando
das funções do espírito e do cérebro, assevera,
a fls. 298:
“Até hoje
ninguém descobriu ainda os elementos que são empregados no cérebro para a
produção do pensamento; ninguém
chegou ainda a mostrar como as moléculas do sangue penetram no corpo da célula
cerebral, e se tornam parte da consciência; ninguém sabe como do conjunto da
vida de uma simples célula possa nascer alguma coisa que represente a
consciência e a sensibilidade.”
“As
doutrinas aqui não servem para coisa alguma.”
“As
doutrinas se confundem no nada de nossa ignorância.”
“A
essência da matéria não é menos incompreensível que a do espírito.”
“Desde
Lucrécio, que apresentou trinta provas da materialidade da alma, até os
materialistas modernos, não se tem dado um passo para a frente no
conhecimento da essência do pensamento.”
“No
fundo, os materialistas destroem um dogma, para levantarem outro.”
“Se
repelimos as hipóteses dos espiritualistas, afastamos, com igual severidade,
dos confins da ciência experimental, aqueles que hoje pretendem explicar por
meio de doutrinas materialistas a gênese do pensamento.”
“A
anatomia e a fisiologia, o conhecimento da estrutura e funções do cérebro, não
se acham bastante adiantados, e ainda
reina uma obscuridade profunda acerca da natureza dos fenômenos nervosos e
dos movimentos físicos e químicos que se passam nas partes desconhecidas em que
a consciência tem a sede.”
“Não
falemos da alma, nem da matéria.”
“Confessemos,
com franqueza, a nossa ignorância.”
“Tenhamos
confiança no futuro da ciência, e persistamos na procura da verdade.”
É assim
que os honrados mestres, como o Visconde de Sabóia e Mosso, concluem sobre o
peso do cérebro e demais toleimas científico-oficiais, e indicam à mocidade das
escolas que tenha persistência na procura da Verdade, para ver garantido o
futuro da ciência.
A
Verdade está sendo agora explanada nestas NOTAS, de uma forma simples, e ao
Brasil coube a sua descoberta; a mocidade que a aproveite e a imponha, porque
sendo luz irradiada sobre eles, sobre a ciência oficial, muito a poderá ajudar.
Aproveite-a
a mocidade das escolas, porque é para ela e para a humanidade, que a
explanamos.
35.
Penedos científicos
Em
destruição pela Verdade
Mudos e
quedos como os penedos do imortal Camões, são e estão os pseudoprofessores,
neste momento em que confundimos a vaidade humana, numa tentativa, talvez vã,
de despertá-los para a Verdade. Tudo está a indicar que nem o rufar de
tambores, nem o toque dos clarins da Verdade em marcha para a conquista do bem
da humanidade, para o acordar das qualidades afetivas da honra, do dever e,
pois, da moral verdadeira, conseguem incutir em suas consciências petrificadas
o ânimo, a disposição, a coragem para dominarem a vaidade e enveredar pelos
amplos caminhos da Verdade, libertos da rotina à qual vivem escravizados.
Tristíssima,
realmente, é a figura que tais “penedos-sábios” estão representando no momento
em que o Racionalismo Cristão e a humanidade lhes pedem contas de toda essa
viagem científica de cerca de dois mil anos, ainda muito longe de terminar, sem
coragem para virem a público dizer algo que demonstre, ao menos, a confiança no
ensino que praticam.
Os
representantes da medicina materialista não ignoram as falhas existentes
naquilo que pregam. O que lhes falta é o ânimo, a franqueza e o valor para
virem dizer ao público e aos seus discípulos, que não passam, todos eles, de gralhas
enfeitadas com penas de pavão, que nada sabem ao certo das coisas sérias da
vida, e mui especialmente da desagregação da matéria organizada e da
continuação da vida e da força que incitava essa matéria.
Quando
atacados por balda certa, como agora, quando desafiados a virem explicar os
porquês racionais do que afirmam, furtam-se a esse dever e dizem aos seus
discípulos e aos de sua família:
¾ Não
respondemos, porque nos colocamos acima de tudo e de toda essa gente que nos
reprova; estamos em boa companhia, como a de Haeckel, que escreveu: “a alma, ou
atividade espiritual, é uma função cerebral, uma função fisiológica governada
por fenômenos mecânicos”; estamos com Le Dantec, que afirma “que a vida
psíquica é um epifenômeno da vida fisiológica”, e também com de Metchnikoff,
que assevera ser “a noção do aniquilamento total da consciência uma noção
tornada corrente, aceita pela enorme maioria das pessoas ilustradas.”
Nesse depoimento de
sábios e filósofos, funda o materialismo as suas esperanças salvadoras, que nós
classificamos de esperanças perdidas, porque nem todos os Haeckeis, todos os Le
Dantecs, de mistura com todos os Metchnikoffs do mundo, mesmo materialmente
falando, empilhados uns sobre os outros, formando muralhas mentais ou Montes
Alpinos de todas as toleimas fabricadas pela sua perturbadíssima
espiritualidade, poderiam impedir a explanação e a vitória da verdade, e assim
do progresso de tudo quanto existe neste planeta de lutas e miséria.
O grande
erudito português Alexandre Herculano, na sua obra Eu e o Clero, disse: “um absurdo é sempre um absurdo, embora
inventado por um engenho grande ou pequeno”. Quer isto dizer que por maior que
pareça um indivíduo tido como sábio, está ele sujeito, quando não se conhece a
si próprio, a inventar absurdos que depois os dorminhocos, os preguiçosos,
tomam como certos ou como coisas sérias, e sobre elas arquitetam afirmativas e
toleimas, com ares de quem manda e não pede.
Além
disso, com referência a essas figuras de destaque entre os parlapatões
científicos da época, diz o médico Alberto Seabra, na sua obra O Problema do Além e do Destino, a
folhas 55, linhas 21, em diante:
“Dentre
os autores citados, os que ainda vivem, ou negam os fatos sem poderem, contudo,
provar serem eles ilusórios, inautênticos, irreais, ou os aceitam e, não
podendo incorporá-los ao monismo materialista, fingem, por isso,
desconhecê-los.”
“Num ou
outro caso, estes homens ,estão abaixo da situação da hora presente.”
“Porque,
com efeito, são fatos que importam à humanidade no mais alto grau, e que
contribuem largamente para a solução do grande enigma do além e do destino
humano.”
E assim
conclui o Dr. Seabra, a folhas 56:
“Do
‘creio’ da fé dogmática para o ‘sei’ da indução científica, vai uma distância
que, uma vez transposta, seria para a humanidade como a maior e a mais
proveitosa das descobertas.”
Como vê
o leitor, o Dr. Alberto Seabra, está
de acordo com o seu colega Visconde de Sabóia e com o Racionalismo Cristão.
Havendo feito parte do materialismo, hoje se revoltam contra ele, porque nesse
corpo de doutrina nada conseguiram observar de sério e de proveitoso para a
ciência nem para a humanidade.
Ainda o
Dr. Alberto Seabra, no capítulo IV da sua obra, ao tratar da “Hipótese
materialista – Existência objetiva do od, Ação dinâmica”, diz:
“Mal nos
pomos a caminho, procurando esclarecer e interpretar os fenômenos mais simples
da física transcendente, e já percebemos que o leitor se revolta acusando-nos
de viver em um mundo de ilusórias fantasias e hipóteses imprestáveis.”
“É que o
saber corrente recebe como fatos certos, autênticos, somente os acessíveis a
nossos sentidos, e como ciência genuína, as interpretações que resolvem os
ditos fatos, nos termos da matéria, do movimento ou da força.”
“Esse
modo de pensar é que nos parece ilusório; meia ciência essa em que se debate a
quase totalidade dos sábios contemporâneos.”
“Convém
não esquecer que a explicação materialista dos fenômenos é também uma pura
hipótese, hipótese insuficiente e nunca demonstrada.”
“A
ciência e a filosofia materialistas reduzem os fatos da experiência aos termos
de uma solução que escapa á experiência, isto é, a uma pura hipótese.”
É um
médico erudito e independente que assim se manifesta, e com certeza, todos
esses professores materialistas não terão coragem de se considerarem superiores
a esse seu colega esclarecido.
Conhecedores
da existência das obras do Dr. Alberto Seabra, do Visconde de Sabóia e do Dr.
A. Pinheiro Guedes, brasileiros todos, não tiveram a coragem precisa para
contestar as suas afirmativas ou aceitá-las, convertendo-se à verdade, e
procuram até esconder dos seus discípulos esses honrados autores nacionais,
para só lhes darem europeus vaidosos como eles próprios.
Tornaram-se,
assim, penedos científicos que,
lentamente, estão sendo destruídos, para que a verdade possa caminhar e
penetrar nas escolas, para o bem da mocidade iludida por esses mestres de alto
lá com eles.
36.
Novo rumo
Navegar a uma larga
Destruídos,
arrasados os penedos científico-oficiais
pelo broquear ininterrupto do Racionalismo Cristão e a dinamite da Verdade,
reduzidos a alvenaria e a brita esses penedos que por egoísmo e pretensão
atravancavam os largos mares do progresso dos seres e coisas deste mundo, dever
é agora, o nosso, dar novo rumo a estas NOTAS, que podemos considerar modernas
caravelas pilotadas pela Verdade neste tormentoso mar de mentiras
convencionais, empolado pelo irracionalismo de tal grei científico-oficial, a
navegar, à larga, para os mares calmos, bonançosos, da sabedoria real,
verdadeira, até podermos chegar, com vento de feição, com essa larga constante,
ao porto do destino, que é o progresso real da ciência e da humanidade.
A rumo,
pois, da Força (único princípio inteligente do Universo) nos fazemos, agora,
deixando pela popa todos esses parcéis de intrujices, cobertos pelas algas das
conveniências do vesgo materialismo científico.
A uma
larga de deitar pelo menos catorze milhas por hora, vão navegar, agora, as
caravelas condutoras das almas sequiosas da luz puríssima da verdade, para se
alumiarem neste terrível caminho trevoso que escolheram, para mais rapidamente
se purificarem.
Quer
isto dizer, leitor amigo, que depois da demonstração cabal, certa e segura, da
nulidade dos preconceitos da ciência oficial e da triste figura de seus
adeptos, da falta de raciocínio desses seus escravos pergaminhados, que seriam
desculpáveis se não fosse a falsidade que os domina contra a Verdade, base da
felicidade dos povos; que depois da destruição das bases da doutrina
materialista pelos mestres brasileiros, chefiados pelo notável Visconde de
Sabóia, que, depois de trinta e tantos anos de estudos constantes, acabou por
condenar as teorias materialistas, vamos agora tratar mais amplamente da
explanação da Verdade.
Vamos
expor o verdadeiro psiquismo, complementar no estudo da matéria organizada, e
assim o que seja a Força e a Matéria, base de tudo quanto existe no Universo,
portanto não só neste planeta, como em todos os outros.
O nosso
psiquismo denomina-se racional e científico, porque de fato obedece à razão e à
ciência, que é a descoberta da Verdade, e não a indivíduos mais ou menos
vaidosos, fabricantes de teorias tolas, inventores de termos mais ou menos
pomposos para encobrirem a ignorância que os domina sobre tudo quanto existe, e
que andam por este mundo a fazer papéis de macacos
em loja de louça, de palhaços de feira barata, dando-se ares de importância
e de mestres, que de fato são, mas de mixórdias
baratas.
É esse o
mudar de rumo a navegar em uma larga com vento de feição: deixar os falsos
sábios entregues à sua provada insignificância.
Antes,
porém, de levantarmos ferro e sair do porto do materialismo perigoso, dever é o
nosso chamar a atenção do leitor para o que diz o mestre cearense Visconde de
Sabóia, a folhas XI, linhas 9, na sua obra A Vida Psíquica do Homem.
“O homem
é considerado um ser distinto de todos os outros animais, composto como estes
de um corpo, mas dotado de uma alma espiritual, e que a esse espírito, uno,
indivisível, simples e imortal, se prendem todos os atos mentais – a
inteligência, o pensamento refletido, a vontade livre – base da verdadeira moral, procedendo a alma e vida de um poder
perfeito e infinito – criador de tudo e das leis que regem o Universo na mais
sublime e admirável ordem e harmonia, traçando para o espírito princípios
diversos dos que regem a matéria, mas os unindo nas mais estreitas relações
para a manifestação da vida psíquica, deixando o homem preso à sua contingência
e imperfeições, mas dotando-o do livre-arbítrio e estabelecendo leis morais,
para que compreendesse o bem e o mal, a verdade e o erro, a virtude e o vício,
enfim o belo em todas as suas formas”.
Acompanhados
desse mestre em navegações
científicas, que no mar da cirurgia foi piloto sem rival, é que vamos dar
início à nossa navegação pelos mares desconhecidos da Inteligência Universal,
que tanto temor causam aos pseudocientistas, dos quais, em boa hora, se
divorciou o grande Visconde de Sabóia.
Não se vai, pois,
tratar de reles crendices, baseadas nas explicações das milhares de seitas que
no mundo existem, dessas religiões que até agora têm dominado os povos, sob
diversas denominações. Não! Nada disso, que só produz fanáticos. Vai-se tratar
da verdadeira ciência, baseada em princípios certos e seguros e em leis
imutáveis que, aceitos por homens de real valor, não têm sido, todavia,
explanados de maneira acessível a quem quer que seja.
Vamos, portanto,
completar a obra desses honrados eruditos, abrir, de par em par, as portas do
templo onde impera a Verdade, que é Força, que é Inteligência, sem a qual nada
poderia existir no Universo.
É isto
que faremos, daqui por diante, para o bem da humanidade, sem visarmos a menor
recompensa de quem quer que seja, visto que, escravos que somos do dever, só à
nossa consciência devemos satisfação, e nos julgamos fartamente pagos com a
certeza do dever cumprido.
Afirmam
os mais eruditos que não se podem
prevenir nem curar os males da humanidade, sem se lhe falar claramente.
Por ser racionalista e grandemente verdadeira esta
afirmativa, é que nós, os explanadores do Racionalismo Cristão, tudo temos
feito para bem claro tornar os porquês das coisas, a causa de todos os bens e
males que atormentam a humanidade, para os quais nem a ciência, nem seita
alguma, das que mais se conhecem, têm indicado remédio eficaz e procurado
extingui-los ou mesmo minorá-los, até agora.
Explanando,
a fartar, a composição do Universo e os bens e os males que pode produzir a
força universal, quando parcelada no mundo físico ou astral, temos sido de uma
simplicidade tão grande, de uma clareza tão completa, que com ela se têm
espantado a ciência oficial materialista, os potentados e até os homens de
relativa honradez, mas fracos no dizer e no agir; temos mesmo usado de uma
terminologia que ao modernismo social e
cientifico tem parecido bárbara e ofensiva, apesar de simples.
É que
sendo preciso expressar pensamentos honrados, fortes, desinteressados, em tudo
verdadeiros, só o podíamos fazer pondo em evidência certos fatos, por palavras,
termos e feitios que a mentira convencional, as várias profissões exploradoras
da humanidade, seitas ou religiões, haviam desprezado e substituído, para que
em seu nome, como se presente fosse, imperasse essa coisa reles e caricata que
aí está com o rótulo de civilização dos
povos e civilização ocidental, que fez desaparecer a alma e a honradez em
todos os atos humanos, para dar largas à preguiça intelectual, à vaidade, fonte
de todos os vícios e de todas as misérias, e todas as manifestações da besta,
do ser inferior e desprezível.
Por esse motivo não é entendida, por tais
infelizes, essa terminologia simples, usada pelo Racionalismo Cristão, para
exprimir a verdade verdadeira; essa linguagem utilizada em todos os tempos, por
Hermés, no Egito; por Confúcio, na China; por Platão, Sócrates e outros, na
Grécia; Krishna, na Índia; Virgílio, Horácio, Juvenal e Cícero, em Roma; Joana
d'Arc, Descartes, Voltaire, Zola, Gambetta, Thiers, Napoleão e outros seres na
França; Dante e Machiavel, na Itália; Afonso Henriques, Gualdin Pais, Egas
Muniz, D. Diniz, D. João I, Nun'Álvares Pereira, João das Regras, Príncipe
Perfeito, D. João II, Corte Real, Vasco da Gama, Afonso de Albuquerque, D. João
de Castro, Gil Vicente, Bernardim Ribeiro, o incomparável épico Luís de Camões;
o padre Antônio Vieira, Manoel da Nóbrega, Alexandra Herculano, Camilo Castelo
Branco, Oliveira Martins, Pinheiro Chagas, José Estevam e muitos outros, em
Portugal; Cairu, Araguaia, Libero Badaró, Evaristo da Veiga, padre Feijó,
Quintino Bocaiúva, José do Patrocínio, Luís de Castro, Apulcro de Castro,
Ferreira de Araújo, Júlio Ribeiro, Silveira Martins, Eusébio de Queirós,
Cotegipe, Visconde de Ouro Preto, Caxias, Osório, Porto Alegre, Campos Sales,
Floriano Peixoto, Benjamin Constant e muitos outros deste Brasil querido.
Esse
português por nós repetido com o vigor preciso, irrita cientistas materialistas
e toda essa magna caterva doirada,
balofa, vazia de idéias e de senso e repleta de todas as misérias que a tornam
ridícula e até mesquinha em demasia; mas temos certeza de que beneficia o Todo,
que é a humanidade, e que é do agrado do povo simples e autêntico, desse
honrado mourejador de todos os dias, desse eterno explorado por essa casta
parasitária que só vive para arrancar o dinheiro ao povo, por atos de
verdadeiros salteadores de estrada, para proveito deles e de seus apaniguados.
Nessa linguagem
assim clara, assim benéfica para o povo, para a humanidade, é que explicamos
tudo quanto os seres precisam saber para levar a bom termo a sua existência e
bem cumprir os seus deveres, sem perder tempo e agindo com segurança para
libertar, afastar os maus elementos e atrair os bons, os que fortificam o
corpo, elevam a alma e a tornam digna de ascender às esferas superiores e de
ligar-se às verdadeiras purezas astrais.
Neste
livro tem a humanidade, bem claramente desenvolvidos, os porquês das coisas e
assim, a causa de muitos bens e de muitos males, de que sofre, e como estes
males podem ser evitados; só quem muito animalizado, materialista, escravo de
falsos princípios, enfim, muito mau for para si próprio, é que duvidará do que
ficou escrito e desses Princípios Racionalistas, pelos quais se há de reger a
humanidade, daqui em diante, quer queira, quer não queira, porque é para isso
que são chegados os tempos.
Assim
tudo explicado e bem claramente descrito, vamos demonstrar, na segunda parte
deste livro, como se fica louco (nervoso, etc), como se evitam e curam tais
enfermidades e como se fortificam o corpo e a alma para a luta pela vida
destinada ao ser humano na Terra.
Preparem-se,
pois, os materialistas, para estudar a Força, primeiro elemento componente do
Universo, bem como a ação desta sobre a matéria, pois não se pode chegar a ser
cientista, ignorando a força-máter de tudo que vida tem.
37.
A composição do Universo
Força
e Matéria
Na primeira parte deste
livro, ficou provado:
a) a ignorância sobre o
que seja a Força e a Matéria, e assim a base da verdadeira ciência;
b) que as diversas
doutrinas conhecidas e por nós já mencionadas, são todas falsas, porque têm por
base a matéria, embora com diversas denominações ou rótulos para se enganarem a
si próprias e à humanidade;
c) que a medicina,
como arte de curar, é incompleta, por sofrer do mesmo mal das doutrinas
diversas, que é o de tudo basearem na matéria organizada, desprezando a causa
verdadeiramente inteligente, que é a Força.
Toda essa prova foi
feita e reforçada pelo erudito mestre Visconde de Sabóia, pelos médicos Dr.
Alberto Seabra e Dr. Pinheiro Guedes, e pelo médico-bacteriologista francês,
Dr. Paul Gibier, discípulo querido de Pasteur, havendo ainda muitos da mesma
opinião.
Destruídas,
assim, as bases falhas dessas doutrinas, preciso se torna, tratar agora da
verdadeira ciência, para o que ela serve e qual a sua base real, incontestável
e benéfica.
Para que
o leitor possa chegar a essa conclusão, para que possa a sua razão aceitar a
Verdade, base da ciência, tal qual ela é, em sua simplicidade, preciso se lhe
torna:
1º) pôr
de parte, por dias ou por todo o tempo preciso, os preconceitos religiosos e
todo saber que não se alicerce em provas reais;
2º)
deixar de lado esse saber sem base séria, até que o seu raciocínio possa
compreender o que vamos explanar; essas explanações, apesar de não serem novas,
e sim tão velhas quanto o mundo, lhe devem causar espanto, pela sua
simplicidade;
3º) que
não tenha a menor prevenção contra aquilo que for lendo, embora lhe pareça
impossível, bizarro ou sobrenatural, como dizem, e que tudo vá submetendo ao
cadinho da sua razão, do seu raciocínio, quando baseado nos princípios
derivados da Força, e que lhe serão apresentados nestas lições.
Quer isto
dizer que sem desprendimento, sem calma, com egoísmo, com vaidade, com idéias
preconcebidas, sem que o leitor faça o que lhe indicamos, nada compreenderá, a
conclusão alguma proveitosa chegará, e se manterá no erro em que se têm quedado
esses orgulhosos materialistas, com a prosápia característica das suas figuras
de destaque.
O nosso
fim não é fazer adeptos, não é fazer crentes, é obrigar a raciocinar, é mesmo
obrigar a pensar com acerto, porque, quando isso acontecer, salvas estarão a
humanidade e a ciência.
Não
queremos escravos nem preguiçosos intelectuais a nos louvarem; queremos seres
livres, em pleno raciocínio, com a força e a honradez precisas para bem
compreenderem e praticar a Verdade.
Queremos
que todos se convençam de que o bizarro, o milagre, o sobrenatural, são
produtos da ignorância humana, e que o homem que não se conhece a si próprio,
na sua composição material e espiritual, não é esclarecido, é um joguete das
falsas teorias, da falsa ciência e da religiosidade vã.
Queremos,
ainda, que todos se convençam de que não há bem que não custe desgostos, nem
saber sem o tributo do trabalho, e que a Verdade não há de vir saltar-lhes ao
pescoço.
É mister
procurá-la, é preciso pensar para concluir que não há religião, por mais
elevada, que se compare à Verdade.
Queremos,
por último, que o leitor não se preocupe com o autor destas NOTAS, e sim, e
somente, com os princípios nelas explanados, visto que acima dos homens de
qualquer categoria intelectual e social, estão esses princípios, e deles
somente se deve tratar, e não dos indivíduos, que de fato pouco ou nada valem.
A Verdade tem que vencer
em toda a linha.
É ela
quem afirma ser o Universo composto de Força e Matéria, e que desses dois
únicos princípios tudo deriva, desde os grandes planetas que gravitam no
Espaço, ao planeta Terra, um dos menores, bem como tudo que compõe os reinos da
natureza. É, pois, o homem o Universo em miniatura, porque contém em si os dois
princípios e os elementos existentes e já descobertos na Matéria.
A Força
é também denominada Inteligência Universal, Luz, fonte da vida de todos os
seres, e que, parcelada no mundo físico, organiza, incita e movimenta todos os
corpos dos reinos da natureza.
Essa
Força, essa Inteligência Universal que também se denomina Grande Foco, pode ser
observada nos diferentes reinos da natureza, e sentida pelo ser humano em si
próprio, a todos os momentos, como adiante se verá; ela não é da Terra, aqui
vem, em partículas de diversos graus, e fica sujeita às leis do progresso de
todos os seres.
Em
virtude dessas leis comuns, naturais e imutáveis, é que essa Força parcelada
incita e movimenta os corpos visíveis e mesmo os que os olhos armados não vêem,
mas que existem, em volta de nós, e são chamados pelo vulgo seres invisíveis.
É essa
Força (o elemento principal que no Universo existe) que surpreende os homens,
que os assusta e os tem feito recuar das investigações da Verdade, por
faltar-lhes moral e desprendimento.
À ela é
que referem os Drs. Claude Bernard, Paul Gibier, Sabóia e muitos outros,
sustentando que vem de fora e vive fora de nós, e que de fora chega para
incitar e movimentar a matéria organizada.
38.
Para se compreender a Verdade
Para que
nada se perca e tudo se aproveite do que temos escrito e vamos continuar a
escrever; para que, com relativa facilidade, possa, quem ler estes escritos,
aproveitar o seu tempo e conhecer-se a si próprio e, assim, os porquês das
coisas; para que os maus hábitos, criações de vontades fracas e mal educadas,
não se anteponham, não evitem o raciocínio que cada ser tem obrigação de pôr em
ação sobre tudo quanto lhe for dito neste livro; para que, enfim, a besta, que
é a matéria, não domine a alma, que é a partícula inteligente, (a Força que em
nós existe) e possa esta reagir contra as imperfeições da primeira e agir com
acerto nas resoluções que tomar para chegar à descoberta da verdade, dela se
convencer e praticá-la, preciso se torna:
1º) Cada
ser humano ter sempre presente que a Força, a Inteligência Universal que os
diversos povos da Terra denominam Deus, Ser Supremo, Supremo Arquiteto do
Universo, Supremo Arquiteto dos Mundos, base de todas as seitas que existem e o Racionalismo Cristão afirma ser o
Grande Foco e não ter forma de homem ou outra qualquer, é a Grande Luz
Universal de que se compõe o Universo, em que estão envolvidos os planetas que
nele gravitam e todas as galáxias;
2º) que,
além deste planeta, milhares de milhões
de outros existem, de diferentes categorias, todos envolvidos numa atmosfera
que lhes é própria, de acordo com a sua categoria;
3º) que o planeta Terra é envolvido por uma
atmosfera gasosa que estabelece, ao seu redor, como que uma aura que,
rarefazendo-se, gradualmente, se perde no espaço infinito;
4º) que,
em virtude das leis comuns e naturais, de complicadíssima sabedoria para o
homem físico que, por isso, o perturbam e assustam, leis essas que encerram
todos os segredos e esclarecem todos os fenômenos, só nos mundos inferiores e
atrasados, como o planeta Terra, é que as partículas da Inteligência Universal,
desse Grande Foco, desde as que se acham ligadas aos diversos reinos da
natureza, até ao ser humano, é que têm forma, é que têm corpo, porque assim é
preciso para, em tal meio, em tal
atmosfera pesada, poderem estar e agir essas partículas e cumprirem o seu dever
de trabalhar, constantemente, na organização, evolução e aperfeiçoamento desses
diversos reinos da natureza e, portanto, do seu próprio;
5º) que,
por essa razão, as partículas humanas, as mais evoluídas, as mais adiantadas
das que já passaram por todos os reinos da natureza, de que se compõe este
planeta, têm uma forma diferente das outras, de todos os animais, denominada
corpo físico ou carnal, e que serve de carro para a Força, que é a alma ou
espírito, locomover-se dentro deste lamaçal tremendo em que é obrigada a estar;
6º) que,
assim sendo, é preciso que cada ser humano procure convencer-se do que
anteriormente foi dito e aqui fica explicado, sobre:
a) a
composição do Universo, como Força e Matéria;
b) a
certeza de que a Força é tudo, e a Matéria organizada é para a inteligência que
a. anima, um mero instrumento;
c) de que,
desagregado o corpo, a Força continua a viver e a manifestar-se por vários
modos, até por intermédio do ser humano, para tal fim desenvolvido;
d) de
que, por esse motivo, é preciso que coloque apenas os pés no mundo físico e
ligue a sua partícula de Força à Inteligência Universal, para bem compreender
os porquês das coisas e convencer-se de que não deve tomar a figura humana ou qualquer corpo organizado
deste planeta, para modelo de coisa nenhuma, visto que a matéria, liberta dela a Força ou alma, entra logo em estado
de putrefação, até ir juntar-se, já em estado fluídico, cada categoria de
fluido aos que lhes são, neste próprio planeta, afins.
Se,
pois, o ser humano não se convencer do que aí fica, e não se colocar em condições
de bem raciocinar para concluir que limitar a vida dos seres ao que se passa,
se vê e se observa neste planeta, é erro grave, do qual têm sido vítimas muitos
estudiosos da Terra, pois que, além deste mundo, milhões de outros existem,
habitados pelas partículas da Inteligência Universal.
A alma
não é deste mundo e sim de outros mais adiantados, onde não é preciso o corpo
carnal para se viver e agir, já que em tais mundos se vive em partículas de
luz, ligadas, harmonicamente, umas às outras, formando um todo uno em vontades,
desejos e pensamentos, e assim, em verdadeira e franca fraternidade; se de tais
verdades não se quiser convencer, ou não se colocar em condições de as ouvir e sobre elas raciocinar,
nada aprenderá e tudo continuará a negar, como até aqui o tem feito a falsa
ciência.
Perdendo
a velha mania de tudo querer subordinar
à matéria e a este mundo, de tudo querer comparar ao homem físico, que nunca
foi a imagem da Força, mas sim um invólucro da partícula dessa Força para aqui
lutar e vencer; convencido de que o homem físico é, apenas, uma forma animal
organizada pela Força espiritual, pela alma, para a sua estada provisória neste
mundo, e dando à Força, a Inteligência, a forma de um imenso foco de luz que
tudo organiza, incita e movimenta, e que está em toda parte, porque em toda
parte onde há vida se faz presente o Grande Foco, rapidamente compreenderá o
que aqui se for escrevendo, porque então estará colocado em condições de tudo
ver e sentir bem claramente, uma vez que pairará acima das mentiras
convencionais, das vaidades, dos vícios e misérias terrenas, das correntes
animalizadas de certos meios em que vive, e sobressairá o homem psíquico, o
homem moral, o homem Força, o homem luz, para tudo ver de maneira mais simples
e exata, para raciocinar sobre as coisas sérias da vida, sobre a sua composição
e sobre a real, certa e incontestável composição do Universo.
Tudo
compreenderá e tudo fácil lhe será assimilar, para chegar à conclusão de que a
humanidade tem vivido enganada pelas seitas religiosas, pelos falsos
raciocínios alimentados por todos, até hoje, por acreditarem que só neste mundo
se vive, que só aqui o homem pode imperar e que, após a morte do corpo, nada
mais existe que dê prazer e felicidade aos seres, como em geral afirmam essas
criaturas grandemente criminosas por se dizerem sábias e sacerdotes, quando não
passam, em sua maioria de seres vaidosos e gozadores, para quem a carne é tudo,
e a Força, a alma, não é nada.
39.
Força e Matéria
Ação
no planeta Terra
Não é
demais tratarmos aqui da Força e da Matéria, do que uma e outra são, realmente,
dos seus efeitos e das falsas bases da ciência materialista. O próprio Buchner,
o mais notável dos eruditos do nosso tempo, que escreveu sobre a Força e a
Matéria – título até de um livro seu – declara que o que sejam a matéria em si
e a força em si, nem ele nem sábio algum ainda o sabiam.
Todos
conheciam até o quarto estado da matéria neste planeta, até o estado radiante,
descoberta do investigador inglês Willian Crookes, (quando, em verdade, esses
estados são inúmeros), mas ignoravam, por completo, a origem da matéria
organizada e os seus diversos estados neste e noutros planetas.
E assim,
sem ultrapassar os limites do mundo físico, todos os sábios faziam derivar a
força da matéria organizada ou mesmo da de certo grau de fluidez ou eterizada,
buscando nas células do corpo humano, especialmente no cérebro, a sede da vida
e dessa Força, e chegando alguns ao gravíssimo erro de afirmarem que o cérebro
segregava o pensamento, como o rim segrega a urina.
Tão grosseiro erro
praticado pelos adeptos de todas as doutrinas, inclusive as denominadas
espiritualistas, e por todas as seitas conhecidas, tem sido a causa do atraso
da ciência, da moral dos povos e da humanidade, que tem agido mais
instintivamente, sob a influência do hábito e do medo da morte e dos castigos
neste planeta e fora dele, após a morte, do que racional, consciente e
cristãmente, como era e é do seu dever, do seu desejo íntimo, quando em horas
boas, horas de paz, que todos os seres humanos têm durante esta torturante vida
física.
E porque
assim tem sido e continua a ser entre todos os povos, apesar dos sofrimentos
pelos quais a humanidade está passando, é que insistimos para que se estude a
Força, por ser ela a base racional e
científica de tudo quanto existe, e da Verdade.
Asseveramos
que a Força já descrita não é originada da matéria, porque isso seria andar o
carro adiante dos bois, pois seria o maior dos absurdos admitir que a matéria,
que não pensa e se decompõe, fosse a geradora da Força, que é inteligência, que
é luz.
A Força,
que no mundo físico se sente e tem origem no Grande Foco, também denominado
Inteligência Universal.
Desse
Grande Foco vem ela incitar e movimentar todos os corpos orgânicos e
inorgânicos, animados e em lenta evolução, dos reinos mineral, vegetal e
animal.
É essa
Força parcelada que se observa em atividade constante neste planeta, que
assusta o homem que não sabe fazer bom uso do seu livre-arbítrio e raciocínio.
A Matéria
organizada está nas auras que envolvem os diversos planetas, desde a que forma a do planeta Terra até à dos grandes
planetas cinzentos, opacos, brancos, diáfanos e de luz que se movimentam no
Espaço infinito, grandioso e belo.
Não há no
Espaço montes, nuvens ou campos de matéria, e sim mundos em organização, (as
nebulosas), e outros já organizados, envoltos em auras ou atmosferas cinzentas,
opacas, brancas, diáfanas e de luz, ligados ascendentemente uns aos outros, e é
destas atmosferas cósmicas ou fluídicas astrais que as partículas da Força
lançam mão para organizarem corpos.
Tem,
pois, a matéria organizada, origem na Matéria em si, que é elemento fluídico,
do qual a Força lança mão para fazer, em conformidade com as leis do Universo,
o que lhe apraz, neste planeta e fora dele.
Se a dita
matéria não fosse o fluido cósmico que envolve os astros, com diversas cores,
trazido à Terra pela Força, para o que lhe é preciso organizar todos os seres,
humanos ou não, teriam a mesma conformação fisiológica, a mesma cor e
consistência.
Mas assim
não é, porque ao planeta Terra tudo vem de fora e vive fora dele, fornecido
pelos outros planetas que o rodeiam, em obediência às leis imutáveis do
progresso, para o auxiliar, e aos seus habitantes, que não poderiam viver se
lhes faltasse o oxigênio proveniente de outros planetas, e sem os ventos fortes
ou fracos, e até as suaves brisas marinhas para limpar a atmosfera deste mundo.
Aí tem o
leitor o que a Força faz da Matéria, que mesmo viva, no mundo físico, é incapaz
de pensar e agir, como afirmam médicos de erudição e honradez comprovadas.
Raciocine
com calma, e verá como a Força se manifesta, se vê, se sente e se a usa para o
bem ou o mal, conforme o estado espiritual, o livre-arbítrio e a vontade dos
seres.
40.
Os diversos estados da Força e da Matéria
Como
eles se observam no planeta Terra
A Força, a
Inteligência Universal, é o elemento vital criador de tudo quanto existe.[1]
Essa Força, parcelada, facilmente se observa:
a) nos
corpos sólidos, como no cristal, que se refaz, quando fragmentado, obedecendo
às linhas geométricas da sua espécie, o que denota a ação dum elemento
inteligente e diretor;
b) nos
vegetais, na sua variadíssima e delicada constituição, desde as gramíneas, as
flores, às portentosas árvores, de que se compõem as grandiosas florestas
brasileiras e européias, no seu desenvolvimento, florir, frutificar e murchar,
enquanto não desagregadas, decepadas, podadas do seu todo e arrancadas da
terra.
c) no
reino animal, irracional, desde o animal doméstico mais meigo, mais dócil, aos
ferozes;
d) nos
alados, nos seus movimentos e cantos, desde a águia da Serra do Marão, em
Portugal, ao condor dos Andes, ao cisne das margens do Mississipi, ao
urubu-rei, ao mutum grande, negro, bico amarelo, das florestas mineiras, ao
jaó, à perdiz e centenas de outros, inclusive o sabiá-laranjeira ou coleira, o
Caruzo das nossas florestas, e ao rouxinol, chefe dos cantores alados de todo o
Planeta.
e) no
movimentar, agir, pensar, falar, rir e chorar do ser humano das diferentes
raças, estados sociais e categorias materiais e espirituais.
Cada
corpo vivo contém uma partícula da
Força em evolução, em ascensão, e daí o princípio de que não existem duas
coisas ou seres iguais na natureza.
No ser humano, essa Força, e as suas variadas
categorias, são de fácil constatação, já pela conformação fisiológica de cada
ser, já com relação às suas manifestações intelectuais e mentais, instintos,
hábitos, usos e costumes.
Quem, pois, se quiser colocar em condições de bem
raciocinar e observar o que se passa nos diversos reinos da natureza, em volta de
si, e até em si próprio, fácil lhe será conhecer os vários estados da Força
parcelada no mundo físico, as categorias dessa força e, assim, da matéria.
Não é
preciso recorrer ao milagre, ao sobrenatural, ao bizarro, ou às várias
doutrinas, fontes de teorias absurdas e inteiramente contrárias à verdade e às
leis comuns e naturais que tudo regem, para se ter a certeza da existência real
da Força, da inteligência e da matéria; é bastante cada ser dominar-se a si
próprio, colocar-se em condições de bem raciocinar, para assim tudo observar,
ver, sentir e convencer-se de que, de fato, tudo é como dito fica.
Os
diversos estados, ou categorias da força, estão sempre em evolução, em
ascensão, embora lentamente, porque tudo progride e nada retrograda nem
estaciona. Mas este progresso é somente em relação à Força, à inteligência,
porque a matéria já existe, tal qual deve ser e é necessária, nos seus diversos
estados, envolvendo os milhares de mundos, ligando-os, uns aos outros,
ascendentemente.
Sendo a
matéria elemento inerte, sujeito à ação da Força, esta, à medida que vai
progredindo, diafaniza o seu corpo, substituindo a matéria por outra menos
densa e mais de acordo com o seu progresso. É por essa razão que se diz na
Terra que a matéria do corpo humano se refaz, se substitui de 7 em 7 anos, e em
virtude dessa substituição, a matéria A, que se desagrega do corpo B, passa ao
estado que lhe é próprio, impulsionada pela lei da atração, e desse estado sai
depois para a composição de outros corpos idênticos à sua categoria, de acordo
com o adiantamento do espírito ou força.
Esta
substituição da matéria dá-se com o ser humano e com todos os reinos da
natureza, porque todos evoluem, ascendem e, assim vão substituindo,
diafanizando os seus corpos físicos, visto que as leis do progresso são
imutáveis, e todas as categorias de Força a elas estão sujeitas.
Assim,
facilmente se compreende que a matéria não progride, em virtude dela já existir
nos diversos estados, nas milhares de categorias de mundos e espíritos, na
formação das auras desses mundos.
A matéria grosseira que envolve os planetas
inferiores, à medida que se desagrega dos corpos diversos que no planeta
existem, vai servir para a organização de novos corpos ou mundos.
É por
esse motivo que se afirma que nada estaciona, nada morre na natureza, tudo se
transforma, tudo se move na organização de novas formas e novos mundos, sempre
dirigidos pelas leis naturais, emanadas da Inteligência Universal.
São
esses os diversos estados da Força e Matéria, que podem ser observados neste
planeta e em corpo astral, em evolução. O ser humano tudo recebe de fora, e é
por isso que a ciência materialista ignora, até hoje, de onde vêm o oxigênio, a
eletricidade e tudo quanto dá auxílio e vida ao planeta e seus habitantes.
41.
Inteligência Universal
O espírito humano,
devido à sua natural perturbação causada pela diferença da atmosfera diáfana do
mundo a que pertence, (e do qual veio) com a densa, gasosa, pesada, da Terra, e
pela sua ligação fluídica à matéria, ao corpo, por ele próprio organizado, para
nele se depurar pelo trabalho, pelo sofrimento derivado da ingratidão dos
seres, com os quais é obrigado a conviver, fez o ser humano mais sobressair
pelos instintos, especialmente o da conservação física, (a parte animalizada) e
o hábito originário da sua vontade, só materialmente educada.
Desse
imperar de instintos e hábitos animalizados, se desenvolveu, cresceu e ficou
nele predominando o egoísmo, motor de todos os seus atos, desejos e pensamentos
terrenos, todos utilitários, todos materializados e bestiais.
Desse
egoísmo, filho dos maus instintos, dos maus hábitos e da falta de educação da
vontade, resultou o hábito pernicioso do ser humano considerar-se superior a
tudo, repleto de orgulho e prepotência.
Dessa
errada noção de independência, de liberdade, do poder e do dever, resultou
também a sua soberbia, o repúdio do seu semelhante, da disciplina e da
obediência precisas para a harmonia e o progresso seu e de todos os seres.
Desse
instinto, desse hábito, dessa má compreensão dos seres e das coisas sérias da
vida, e assim dos seus deveres, resultou, por último, a revolta contra o seu
semelhante e a invenção de um ser supremo, superior a todos os homens,
engendrado à sua maneira, à sua semelhança, conforme o seu intelecto e a sua
vontade, ao qual ele se pudesse dirigir nos seus momentos de fraqueza, de medo,
de sofrimentos físicos.
Desse
erro, filho da crassa ignorância e da animalidade dos povos, resultou ainda a
idolatria – invenção de ídolos pelos povos selvagens e dos deuses do paganismo
– além do “deus” das diversas seitas atuais dos povos ditos civilizados, e com
essas criações, o hábito de adorar esses ídolos representados por tais deuses,
que os católicos denominam santos, à imitação do paganismo grego, da época em
que cada família tinha o seu “deus”, conforme lhe aprazia, como hoje cada
família Católica Apostólica Romana tem o santo de sua devoção, conforme lhe
apraz, e assim ficou arraigada, em todos os povos, a idéia de um ser supremo,
materializado, que, depois de muitas denominações, passou a firmar-se mais em
uma só: na do “Deus todo-poderoso”, mas, ainda assim, à imagem de cada povo.
E é por
este motivo que o Deus dos Normandos era Odin, o deus da carnificina, por estar
de acordo com os seus inferiores desejos, com os seus instintos, inteiramente
animalizados; e, ainda, que o atual imperador da Alemanha[2]
exerce o poder em nome do seu Deus, que denomina “Deus velho” e, portanto, o
Deus dos da origem da sua raça, a arrasar cidades, a desorganizar lares, a
desonrar donzelas, a trucidar velhos e crianças e a meter nas fornalhas, para a
produção de gorduras, os soldados mortos em combate.
Todavia,
se o instinto animalizado, o hábito depravado criaram essa figura, esse ser
supremo tão feroz, a alma humana, nas suas
horas de paz, elevando-se acima das coisas e misérias terrenas, também
sentia necessidade de ligar-se a alguma coisa que na Terra não existia, tal
qual devia ser, e que uma saudade, uma nostalgia indefinida para a alma lhe
fazia sentir e compreender ser ele uma realidade, embora o ser humano não
visse, nem apalpasse.
Ora,
desde que dele tinha saudades, e o sentia nesses momentos, é porque de fato ele
existia; e daí a idéia de o adorar, tomando, como
tal, o que foi inventado pelo instinto, pelo hábito, pelos desejos desordenados
de todos os seres ignorantes, limitando tudo à sua imagem, ao seu “Eu”, já que
Deus devia ser uma figura de homem ou outra que tivesse forma física terrena,
superior ao homem, surgindo, por essa errada idéia, a materialização da Força.
E tanto
assim foi sempre, e continuar a ser, que o Catolicismo Romano – que se dizia o
continuador da doutrina de Jesus – deturpou os princípios que este grande
espírito deixou na Terra, como base do seu ensino, para mais facilmente
conseguir adeptos, fazer conversões de almas encarnadas, e inventou também um
Deus, à semelhança do homem, apresentando Jesus como Deus, como a imagem do ser
supremo, e imitando, desta maneira, o paganismo grego que Cristo veio combater.
Assim
engendrado, esse Deus todo material, todo terreno, todo à imagem do homem, dos
animais e até dos astros, todo utilitário, somente evocado para a satisfação de
coisas e gozos materiais, não podia a humanidade dele fazer uma idéia nítida e
real, e daí as muitas mil seitas, cada uma com um Deus de acordo com a sua imaginação,
à maneira de cada povo e para os fins de os salvar da fome, da peste, da
guerra, dos sofrimentos físicos, de dar-lhes o bem-estar, satisfazer-lhes a
matéria, sem se importarem com os desejos, fins e bem-estar da alma, da
essência e da composição desse ser supremo, da sua verdadeira espiritualidade,
limitando-o ao mundo físico, sem pensarem no infinito.
Entretanto,
pelo que dissemos com relação à Força e à Matéria, fácil se torna agora
compreender não o Deus inventado pelas religiões, porque tal não existe, mas
sim a Inteligência Universal (Grande Foco), tal qual é, e garantir, sem receio
de contestação, que no Universo apenas existem Força e Matéria, e que é na
Força que se encontra a explicação dos porquês de todas as coisas, e a ela se
liga o ser pela irradiação de seus pensamentos elevados.
Fica
assim destruída a falsa idéia de um Deus à imagem do homem, dos animais
diversos e até dos astros, ou inteiramente materializado, como é apresentado
por todas as seitas, inclusive a Católica Romana, cuja ignorância crassa sobre
a existência da Força, em si é completa, e fácil se torna isso verificar pelo
aparato das suas grotescas exibições e dos Templos e figuras de santos neles
existentes, como se fossem um mercado de coisas, onde cada freguês pudesse adquirir
o que mais lhe agradasse à vista e ao paladar, desde a figura de Santa
Quitéria, Santa Efigênia, até à de São Benedito, São Gregório, e outros.
Fica,
pois, assim definido o Grande Foco, Inteligência Universal ou Força Criadora, o
primeiro Princípio componente do Universo, a Alma Máter de tudo quanto existe e
vida tem.
O Grande
Foco, e como Ele se faz sentir e ver, tanto quanto é possível, neste mundo
físico, nós o dizemos nas obras Racionalismo
Cristão, capítulo III, e Vibrações da
Inteligência Universal.
42.
A educação da vontade
Pelo que
escrevemos até agora, facilmente deve ter compreendido o leitor que é a vontade
mal orientada a causa de certos males; e como esta tem origem no próprio
espírito, em ação, conclui-se que é a má educação do espírito, e, assim, da sua
vontade, a causa dos males, pois que sem a ação deste, sem que a sua vontade
queira, sem que o seu livre-arbítrio determine, nada de maior lhe acontecerá,
nem maus elementos atrairá.
Por isso,
diremos que para educar-se a vontade é preciso primeiro esclarecer-se o ser
humano, para que ele compreenda, e se convença, de que conforme pensa assim é, assim atrairá para si aquilo em que pensa.
Esclarecido,
portanto, sobre o que seja a Força e a Matéria, fácil lhe será conhecer o valor
da vontade e a ação do pensamento, assim como o que lhe pode resultar do mau
uso do livre-arbítrio, se não procurar raciocinar com acerto.
Para um
espírito adiantado, fácil se torna a educação da vontade, porque nesse
adiantamento já está o germe do progresso, da educação dessa mesma vontade.
Para os
espíritos atrasados e indolentes, que são a maioria dos que se acham encarnados
neste planeta, não é fácil essa educação, mas isto não quer dizer que seja
impossível; desde que o homem educa um irracional, até ao ponto de levá-lo a
fazer coisas admiráveis, se o cavalo e o cão se prestam a uma educação que
causa admiração a todos os que os observam, por que motivo o homem, ainda que
de inferior espiritualidade, não há de superiorizar-se a esses animais, na
educação?
Pode,
pois, o ser humano, por mais baixa que seja a sua condição espiritual,
tornar-se atraente pelas suas ações, filhas do seu livre-arbítrio, e este, por
sua vez dependente da sua vontade, quando fortemente educada para o bem.
E como
conseguirá o homem de espírito superior ou inferior, a educação da vontade,
para a boa aplicação de seu livre-arbítrio e benéfica irradiação de pensamento?
¾
Conhecendo-se a si próprio, como Força e Matéria, e mais:
a)
procurando os bons para ser como eles, e com eles adquirir bons hábitos,
porque, afastando-se dos maus, tanto quanto lhe seja possível, adquirirá
hábitos fortes e, ainda que maquinalmente, o seu espírito agirá como os desse
meio bom, e adquirirá, por fim, o hábito de raciocinar; quando este hábito lhe
for familiar, estará resolvido o problema da educação da sua vontade, de bem
pensar para bem agir, bem atrair e constituir, portanto, uma assistência Astral
Superior para bem o intuir, e assim, evitar más aplicações do seu
livre-arbítrio;
b)
procurando ter o espírito sempre voltado para as coisas úteis e seres bem
assistidos, de moral relativa, e ouvir as pessoas honradas, que são as
valorosas, ponderadas, moderadas e justiceiras, para com elas aprender que só
esses predicados podem dar ao livre-arbítrio o impulso preciso para a prática
do bem, para os bons pensamentos e as boas obras;
c) assim
fazendo, aprenderá a distinguir o falso do verdadeiro e a caminhar, com
segurança, nessa vida.
À medida
que se instrui, que se educa, que se esclarece, progridem a vontade, os pensamentos
e o livre-arbítrio,
O
livre-arbítrio representa os sentimentos e a vontade de cada ser humano, e com
a sua prática torna-se este inteiramente responsável pelas suas ações, visto
que o possui para a prática do bem, e quando, em vez do bem, pratica o mal, o
faz contra si próprio, e terá de responder, por isso, em reencarnações
consecutivas ou em corpo astral, neste ou noutros planetas, com o
intransferível dever de esclarecer, assistir e reparar o dano causado em suas
vítimas; terá de fazer, em mais ou menos tempo, tudo aquilo de que depende a
sua evolução.
Infelizmente,
estes princípios comezinhos, relacionados com a origem e a interpretação do
livre arbítrio, não são conhecidos da maioria dos que se dizem espiritualistas,
e aqueles que os conhecem furtam-se à sua boa prática, por depender ela de
sacrifício e de disciplina rigorosa. Daí, o avassalamento das criaturas pelo
astral inferior, ao qual, pelo mau uso dessa faculdade, se acham constantemente
ligadas, e com tal ligação, além de fazerem a sua desgraça material e moral,
danificam todas as pessoas que delas se aproximarem.
* * *
Pelos
princípios expostos e claramente definidos pelo Racionalismo Cristão,
conclui-se que o ser, não empregando para o bem o seu livre-arbítrio, além de
aumentar as suas faltas com injustiças, com o mau uso dessa importante
faculdade, sujeito, como está, às leis dos homens decretadas para reprimir
abusos e maldades, será por essas leis punido, e por vezes caríssimo lhe custa
o abuso. Isto, quanto ao homem físico, pois que quanto ao espírito, esse,
depois que desencarnar, fica sujeito às leis espirituais, que são, em tudo,
imutáveis.
Se, pois,
as leis que na Terra existem, tanto quanto possível benéficas, são reflexos das
do Espaço Superior, e essas leis coarctam a liberdade dos seres, quando
praticam faltas que prejudicam a terceiros, ninguém deve estranhar que se
coarcte o livre-arbítrio a delinqüentes astrais, a espíritos desencarnados que
se quedam e vivem na atmosfera da Terra, perturbados uns, perversos outros e
materializados todos, fazendo mau uso dessa faculdade.
Quer isto
dizer que os Espíritos Superiores, quando o julgarem preciso ao progresso da
humanidade e dos próprios espíritos desencarnados, podem fazer cessar o uso do
livre-arbítrio pelos espíritos materializados, impedindo-os da continuação dos
seus malefícios.
É tão racional o que fica dito, como racional é a
existência das leis entre os povos civilizados e mesmo certas usanças e
disciplinas entre os selvagens, para a repressão de abusos e de crimes.
Claro está,
portanto, que se entre os espíritos encarnados, já nos países civilizados, já
entre os povos selvagens, são indispensáveis as leis de repressão, pelos
benefícios que produzem aos
indivíduos e às coletividades, e sendo, como de fato é, a atmosfera da Terra, o reflexo da própria Terra; e assim
habitada por espíritos que quando encarnados foram ignorantes da sua essência,
e por isso se tornaram viciados, turbulentos, egoístas, maus, criminosos, que
outra coisa não são os espíritos nesse estado de imperfeição e que nele
permanecem, com mais certeza, com mais facilidade, essas leis de repressão
podem ser e de fato são aplicadas nessa atmosfera, quando as circunstâncias o
exigirem.
Se assim
não fosse, as leis do progresso não se fariam sentir, e os seres de baixa
espiritualidade, os grandemente materializados, embora de profundos
conhecimentos terrenos, todos inteiramente perturbados pelos fluidos grosseiros
que os envolvem, pelas irradiações dos pensamentos dos encarnados e pela ação
das correntes fluídicas a que estão sujeitos nessa atmosfera, onde se acham à
vontade, por ignorarem a existência do Espaço Superior, dos mundos adiantados,
nunca sairiam desse estado, dessa atmosfera, continuando, indefinidamente, a
dar livre expansão aos seus sentimentos maus, ou mesmo viciados, impuros.
É,
ainda, em virtude destes princípios, que o Astral Superior, firmado nas suas
correntes, atrai e arrebata para o lugar que lhes é próprio muitos dos
espíritos que se recusam ao cumprimento das leis do progresso, para se libertarem
os encarnados da sua má influência.
Errados,
pois, estão todos os que insistem em
que “a natureza não dá saltos” com o progresso indispensável que precisa fazer
o espírito humano, o qual contém em si as grandes potencialidades, vontade e pensamento, que são capazes de
fazer do fraco um forte e do ignorante um esclarecido.
Para
certos espíritas que vivem fabricando obsessões (loucuras) para si e para os
outros e só têm, por isso, desmoralizado e ridicularizado o Espiritismo, para
esses, cuja anormalidade é patente, pela falta de bom senso, de raciocínio, da
razão esclarecida que demonstram, completamente ignorantes da verdade
propriamente dita, esta maneira de agir e de cassar o livre-arbítrio dos
espíritos, é injusta, porque, dizem eles comicamente: “Deus não pratica
violências, nem autoriza que alguém as pratique”, mesmo porque – alardeiam
ainda – “a. natureza não dá saltos”, sem todavia saberem o que são a
Inteligência Universal e a natureza que “não dá saltos”; e assim, ignorantes e
vaidosos, confundem as violências dos homens egoístas e repletos de ciúme,
inveja e desejos de vingança, com as ações que as próprias leis da natureza
impõem, por serem justas e necessárias, praticadas pelos Espíritos Superiores
para a repressão de crimes, visando, unicamente, o bem-estar da humanidade e o
progresso dos espíritos desencarnados, libertando-os das influências maléficas do meio, da matéria, dos
pensamentos a que estão sujeitos todos os seres.
43.
O Espiritismo é uma verdadeira ciência.
Temos
afirmado, constantemente:
a) que quase nada de
novo, espiritualmente, existe na Terra, e que, portanto, novo não é o
Espiritismo, que foi praticado séculos antes da vinda de Jesus, no Egito;
b) que, depois do Egito
e de Jesus, só ao Brasil coube a ventura de conhecer o Espiritismo autêntico,
tal qual o prometeu Jesus, e que devia ser sempre a base de tudo e, pois, a
Ciência, por excelência;
c) que esse
conhecimento, essa ventura, foi dada ao Brasil, em 1910, com a fundação em
Santos, Estado de São Paulo, do Centro
Espírita Amor e Caridade, hoje Centro
Redentor, Filial;
d) que foram eruditos
brasileiros, médicos honrados, os que mais, melhor, mais claro e com mais
acerto, disseram e escreveram, até àquela época, (1910), sobre o Espiritismo,
as manifestações dos espíritos e os fenômenos espíritas;
e) que
dentre esses médicos brasileiros eruditos e honrados, se destacam entre muitos,
outros, os doutores: A. Pinheiro Guedes, que escreveu um livro denominado Ciência Espírita, e Alberto Seabra, de
São Paulo, que escreveu O Problema do
Além e do Destino, A Alma e o Subconsciente
e Fenômenos Psíquicos.
Acrescentamos
a estes o nome do Visconde de Sabóia que, como Mestre de Medicina, escreveu um
trabalho filosófico A Vida Psíquica do
Homem, onde é afirmada a existência do espírito.
Quer
isto dizer que foi o Brasil o país escolhido pelas Forças Superiores para nele
se desenvolver e consolidar o Racionalismo Cristão, puro, benéfico, explanando
a verdade como base da própria ciência; e que foi no Brasil que primeiro se
escreveu, com seriedade, com honradez sobre o invisível, sobre os porquês das
coisas e das enfermidades várias, oriundas das perturbações da alma.
Estando,
pois, no Brasil a verdade sobre tudo quanto existe explanada por médicos
notáveis, foi ela desprezada por pergaminhados, que preferiram aceitar o latão
dos cientistas europeus, já citados por nós, ao ouro de lei de cientistas
brasileiros, honrados e queridos, seus compatriotas, seus irmãos ou
companheiros de estudo. Esses vaidosos, esses especialistas do que não
conhecem, desprezaram a prata de casa,
para aceitar as figuras científicas da velha Europa.
Vamos,
agora, provar o que temos dito, e, para isso, principiaremos pelo que afirma o
notável médico Dr. A. Pinheiro Guedes, na sua referida obra, que iremos
transcrevendo nas partes mais importantes, para bem da humanidade, em que ele
demonstra:
1º) que
a Medicina, como arte de curar, é filha legítima do Espiritismo;
2º) que
o Espiritismo é a Ciência das Ciências, por ele unificadas em uma síntese
admirável ;
3°) que
só no Espiritismo, como Ciência, se pode explicar a origem, a natureza e a
evolução da alma humana.
44.
A origem da medicina
Sendo o fim do
Racionalismo Cristão tratar dos porquês das coisas, do seu desenvolvimento e
ampla explanação, de maneira que o erudito e o analfabeto bem se certifiquem de
tudo quanto existe no Universo, a tal ponto que cada um, cada ser humano se
conheça a si próprio e possa saber o que é, donde veio e para onde vai, não
podemos deixar de tratar dos conhecimentos que mais interessam à humanidade,
como a medicina, que teve, na sua origem, a denominação de “Divina Arte de
Curar”, e cujos praticantes foram, como já dissemos, os sacerdotes.
Vejamos,
pois, como o notável médico Dr. Pinheiro Guedes, na sua obra Ciência Espírita, a fls. 1, explica a
origem da Medicina:
“A medicina, como arte
de curar, é filha legítima do espiritismo.”
“Estranha, ousada,
paradoxal, parecerá essa proposição àqueles que não conhecem a doutrina
espírita e ignoram as origens da ciência hipocrática.”
“A
História, entretanto, dá testemunho e provas de sua veracidade, não obstante o
véu de longevidade, (brumas dos tempos idos) as origens de todas as artes,
senão de todas as coisas.”
“A
crítica, porém, armada de fino escalpelo, rasga esses véus; e se ela o não pode
fazer, a Razão, analisando as faltas, procurando analogias, superando-lhes o
valor, cria focos de luz que iluminam as trevas e espancam as brumas.”
“Percorrendo
os domínios da História, penetramos no terreno da mitologia, onde a imaginação
– artista incomparável – cria lendas supersticiosas, envolvendo a verdade em
roupagens fantásticas, que a velam e escondem aos olhos inexpertos; aí, nessa
região onde a fantasia domina, como rainha absoluta, vamos encontrar o berço da
medicina, nos templos erguidos em honra de Esculápio, o criador da arte de
curar, o deus da medicina.”
“Os
serventuários desses templos, seus sacerdotes, eram chamados Asclepíades, do
nome de Esculápio – Asklepos em grego; e assim também eram denominados os
templos, onde os doentes iam pedir remédios para os seus males; e também,
quando curados, vinham depor, em testemunho de gratidão, as descrições dos seus
sofrimentos e a indicação dos remédios com que se curaram.”
Vê bem o
leitor que é mais antiga do que se pensa, a “Divina Arte de Curar”, e que a, sua
origem é a mais pura, a mais honesta que se possa imaginar, não se podendo
comparar com essa coisa que para aí é praticada por muitas criaturas comparadas
a alveitares, como afirma o honrado médico e professor Dubois, de Berna, no
livro a que nos temos referido.
Assim
começou a Medicina. Não queremos, por certo, e isso seria rematada estultice,
substituir o médico pelo médium, e as Universidades pelas Casas Racionalistas.
Mas, desejando ser compreendidos, tentamos demonstrar que a arte de curar foi
assim, no seu início, porque não se esquecia o sacerdote que o paciente era uma
unidade, composta de corpo e de alma. É bem verdade que a prática inicial da
Medicina era um ato religioso efetuado nos Templos de Cós, Epidauro e Ismirna,
não possuindo nenhum foro de Ciência.
Seria
absurdo querer substituir as largas aquisições do laboratório da medicina
experimental e especulativa, já obtidas pelo intenso labor dos homens de
ciência, pelos atos litúrgicos da pitonisa do Templo de Apolo.
Não
visamos o retrocesso, como poderão pensar os apressados, mas o estudo
científico desses fatos e dessas curas, pois que trazidos uns, e esmiuçadas
outras nos campos da ciência moderna, teríamos acabado com a superstição, e o
Espiritismo seria estudado como verdadeira ciência e não como nova “arte divina
de curar”, tão do sabor das legiões da crendice, mas como grande reserva de
conhecimentos que por si demonstram a existência da alma, a continuidade da
vida após a chamada morte, e o papel preponderante que o fator psíquico exerce na conduta e na saúde humana.
Saberiam
assim os homens de ciência que nas Escolas de Medicina deveria estudar-se a
verdadeira Psicologia – que é a ciência da Alma – e nela se incluiria, por
certo, o Espiritismo Filosófico e Experimental.
Ao
explanar o Racionalismo Cristão, só visamos despertar o interesse dos homens da
ciência pela verdade inteira, que se de todo não estava com os sacerdotes dos
Templos, ali emergiu como manancial de fatos que Hipócrates observou,
tornando-se o criador da moderna Medicina, arrancando-a da superstição dos seus
primeiros dias, para o terreno fecundo da especulação racionalizada.
45.
O Espiritismo é a ciência das ciências, afirmam os médicos eruditos e honrados.
Não há
nada como um dia depois do outro, ou como rir por último, para rir melhor, como
afirma o povo, e de que é acertado esse dizer, se deve convencer o leitor que
nos vem acompanhando nesta jornada.
Há mais
de meio século se vem chasqueando das forças ocultas, dos fenômenos e da
ciência espírita, sem que alguém se dispusesse a pôr-lhes embargos. Em sua
magnífica obra Ciência Espírita, o
Dr. Pinheiro Guedes, diz:
“A
opinião pública, mal orientada até por cultores do Espiritismo, parece
convencida de que ele é mais uma seita religiosa, acrescida às que já existiam,
vegetando, como parasitas, à sombra da frondosa árvore do Cristianismo.”
“Tem
sido induzida em erro, ciente ou inconsciente, pela imprensa, pelos padres e
outros sectários de todas as seitas religiosas; pelos médicos e até por
espíritas que, seduzidos pelas conseqüências ou efeitos morais resultantes do
conhecimento da doutrina, consideram-na uma Religião.”
“A
imprensa assoalha que o Espiritismo é a mais perniciosa de todas as
filosofias.”
“Os
padres, católicos e acatólicos, proclamam, do púlpito e pela sua imprensa, que
ele é obra do “demônio”, e o maior inimigo da Igreja; os médicos, na sua
maioria, propalam que ele povoa os Hospícios de Alienados e os cemitérios.”
“São as
mil bocas da ignorância pretensiosa, do obscurantismo científico, da
intolerância religiosa e do fanatismo estúpido que vociferam contra aquilo que
não conhecem.”
“Essa
grita infrene, toda essa celeuma, fez surgir em meu espírito a idéia de
oferecer aos espíritas, aos médicos, aos padres, à imprensa e ao povo, estas
páginas, em que lhes mostro:
ao povo,
que o Espiritismo é como um farol que guia o navegante ao porto;
à
imprensa, que ele é a mais racional, a mais consoladora de todas as filosofias,
senão a verdadeira filosofia, porque nos eleva e conforta a alma;
aos
padres e aos sectários de todas as seitas religiosas, que ele é o guia seguro
nas jornadas infinitas para os mundos de Luz, e não um inimigo da Religião; não
a condena, antes a justifica;
aos
médicos, que ele não só não é um túmulo, antes um berço, onde primeiro se
embalou a divina arte de curar; não é a morte, antes dá a vida; que em vez de
povoar os Hospícios, abre-lhes as portas, para fazer sair desses ergástulos,
casas de torturas, antros de horror, alguns infelizes que para lá foram
empurrados pela mão da medicina materialista;
aos
espíritas – místicos ou fanáticos –.que ele não apresenta nenhum dos requisitos
das seitas religiosas, mas possui o caráter e preenche os requisitos das
ciências; emprega métodos, processos e instrumentos que lhe são peculiares para
o estudo, observação e análise dos fatos que constituem o seu objetivo.”
“Este
trabalho é talvez como a faísca elétrica que, atravessando as nuvens carregadas
de eletricidade, despede raios e trovões e as desmancha em tempestades; ele vai
atravessar as hordas adversas, agitá-las, sacudi-las, com as verdades contidas
em suas páginas.”
“Prevendo
contestações e até invectivas, conto, de antemão, com a crítica: não a temo;
antes a desejo; que venha, severa, mas séria e justa.”
“Não
tenho a pretensão de haver feito trabalho sem senão.”
“Não há obra humana
perfeita.”
“Não espero aplausos.”
“Não viso à glória, mas
a verdade.”
“Niterói: 13 de agosto
de 1900.”
Dr. Pinheiro Guedes.
Pelo que
aí fica, pode o leitor avaliar o quanto é prejudicial à humanidade o
preconceito dos homens, quando ditado pelos interesses da cátedra, da escola ou
da Igreja.
Devido
aos preconceitos, o Espiritismo, como Ciência, tem sido negado e denegrido, e
assim continuou ao sabor dos charlatões e supersticiosos, quando ele interessa
a todos e, sobretudo, ao homem da ciência.
Sendo o
propósito do Racionalismo Cristão fazer luz e Verdade, não se cansa de exigir
estudo, método e esforço de raciocínio e de investigação, para que o
Espiritismo se afirme sempre como verdade demonstrável e ao alcance dos que a
quiserem estudar, para se
espiritualizarem.
Assim, ele é útil e
necessário à Ciência Integral e à Humanidade, porque esclarece, liberta e
engrandece a vida.
46.
A medicina, sua origem e situação na atualidade
Conhecendo
a capacidade intelectual da maioria dos homens escravos dos preconceitos de uma
ciência materialista, como é a medicina atual, é claro que não é para tais
seres que escrevemos, porque só a mentira convencional tem valor para eles.
Não
podemos, porém, deixá-los à vontade, porque isso jamais o farão os homens
honrados, os cristãos verdadeiros, que são obrigados a dizer a verdade, fira a
quem ferir.
Por esse motivo, e
em continuação, transcrevemos o que escreveu o valoroso médico Dr. A. Pinheiro
Guedes, a folhas 33 da sua citada obra:
“Entre os
lugares onde se praticava a ‘divina arte de curar’ e os enfermos iam buscar
alívio, a ilha de Cós, pátria de Hipócrates, possuía um desses templos; foi aí,
muito naturalmente, que o Pai da Medicina encontrou os materiais com o que o
seu grande espírito construiu os alicerces da ciência médica.”
“Não só
em Cós, mas em Epidauro, Siracusa, Pérgamo, Ismirna e Atenas, onde funcionavam
os Asclepíades, mas também em Delfos, certamente, onde havia o mais célebre dos
templos, cujo ofício divino (divinum est
opus sedare dolorem), era a cura das moléstias, foi Hipócrates buscar as
primeiras noções da divina arte de curar.”
“Mas, se
em Cós e nas outras cidades, onde havia Asclepions, templos de Esculápio, eram
sacerdotes que oficiavam, discípulos ou descendentes de Esculápio, assim não
era em Delfos; e isto é importante, do nosso ponto de vista, é argumento chave
de abóbada: em Delfos, cujo templo era dedicado a Apolo, o oficiante era uma
Pitonisa.”
“A
Pitonisa, sacerdotisa de Apolo, era uma mulher do povo, de condição humilde,
obscura, sem instrução nem educação, virgem ou velha. Recolhida no templo, onde
permanecia isolada, só proferia os oráculos em certos dias, sentada na trípode,
sob a qual havia uma abertura ou fenda no chão, de onde subiam vapores
aromáticos; e assim, mergulhada numa atmosfera de perfume, era tomada de
fortíssima agitação, e então começava a falar, emitindo oráculos ou respostas
às interrogações que lhe eram dirigidas, ou sentenças, que eram religiosamente
registradas e guardadas pelos sacerdotes ou serventuários do templo.”
“A
Pitonisa era, portanto, um médium.”
“Essa era
a convicção dos sacerdotes e do povo, que acreditavam ser um Espírito divino
que lhes falava, por intermédio daquela mulher.”
“Assim,
pois, a medicina, como arte de curar, tem a sua origem nas revelações dos
Espíritos.”
“Afirmei
e demonstrei que a medicina, como arte de curar, se deve à comunicação dos
espíritos; e o fiz, baseando-me na História.”
“Essa
argumentação, entretanto, a meu ver, não é a melhor, constituindo, apenas, um
elemento de convicção; na ratione,
parece-me, a demonstração é mais compreensível, mais convincente, cala mais
fundo, torna-se incontestável; os seus argumentos, os elementos de convicção
encontram-se em toda parte, somente é preciso saber vê-los.”
“Assim, a
dor, o sofrimento, a moléstia – ninguém o contestará, ninguém intentará,
sequer, pô-lo em dúvida –, são contingências da vida, inerentes à criatura; são
conseqüências inevitáveis, quase necessárias, da luta do vivente com a
Natureza; do organismo com o ambiente ou meio em que surge e se desenvolve.”
“A dor
material ou moral, um sofrimento qualquer é, desgraçadamente, uma necessidade
da vida; sem isso, não haveria progresso, pois que este, produto da atividade
pela liberdade, tem sua origem na necessidade, que significa falta; falta, que
representa um sofrimento; sofrimento, que traduz a dor.”
“A
existência da primeira família humana foi, de certo, a mais precária que se
possa
imaginar.”
“Seres
fracos, ignorantes, desprovidos de tudo, sujeitos às intempéries e às mil
vicissitudes da vida; a dor, o sofrimento, a moléstia, foram, sem dúvida, seus
companheiros, desde os primeiros anos.”
“Em tais
condições, como prover as suas necessidades? Como conjurar seus males, obviar o
sofrimento, aliviar a dor?”
“A
observação do que ainda se dá em nossos dias, dos fatos que ocorrem por toda
parte, cotidianamente, responde a essas interrogações.”
“Quando
sentimos uma dor, levamos instintivamente a mão ao sítio dolorido,
automaticamente, para afastar a causa, ou para obtermos alívio.”
“É por
essa razão, indubitavelmente, que a Mitologia dá ao pai ou mestre de Esculápio,
o nome de Quirão – nome derivado do vocabulário grego, que significa mão.”
“O
silvícola recorre ao Pajé, que é o seu sacerdote, o intermediário entre ele e a
divindade, aquele que fala com Tupã, de quem recebe ordens e bálsamos.”
“Ainda
mais: quem se sente ferido, aquele a quem a dor punge, esse grita por socorro,
mesmo achando-se só e num deserto, pede, implora auxílio; auxílio que só pode
vir da sabedoria e do poder infinito, por intermédio dos executores de sua
vontade, que são os Espíritos.”
“A
Inteligência Universal, inteligência suprema, alma do Universo, só age
indiretamente, posto que esteja presente em toda parte.”
“Assim
como o Espírito humano está no corpo todo, que é feitura sua, e só age por
intermédio dos nervos; assim também se pode afirmar, por analogia, que a
Inteligência Universal, alma do Universo, que é feitura sua, só age
indiretamente.”
“Eis a
razão por que ou apelando para o auxílio da Inteligência Universal,
diretamente, instintivamente, o que quer dizer por intuição ou sugestão, porque
o instinto é faculdade intelectiva do espírito; ou recorrendo a um
intermediário, o homem primitivo só achou recursos para debelar os seus males
na intervenção direta dos Espíritos.”
“É,
portanto, a Medicina, como arte de curar, filha legítima do Espiritismo.”
* * *
Assim
foi, na sua origem, a Medicina popular, e assim continuou, através das idades.
O homem que sofre foi ao templo, como selvagem, procurou o pajé, exatamente
como em nossos dias se procura o espiritismo receitista, buscando, pela
credulidade, adquirir aquilo que só a ciência inteira e a vida sã poderão dar.
O
Racionalismo Cristão jamais se confundirá com isso. Interessa-lhe que o homem
saiba viver com método e preceitos salutares, no que respeita à vida física e
mental.
Interessa-lhe
também que os médicos estudem e investiguem a composição astral, mental e
física das criaturas. Só assim, estarão aptos a compreender a nobreza da arte
de curar. Só assim – conhecendo o espírito como já conhecem o corpo – serão
para a Humanidade os seus verdadeiros condutores, preservando-a de enfermidades
do corpo e do espírito.
O ponto
fraco da Medicina Moderna é a sua unilaterização de conhecimentos; só cuida do
corpo, da matéria, e a alma ou espírito, continua ao sabor dos interesses dos
místicos, dos exploradores e dos charlatões.
47.
Como os médicos honrados lecionam.
O sono e o sonho; suas causas
O Dr.
Pinheiro Guedes, no capítulo em que trata da Espiritologia, diz:
“O
Espiritismo é a ciência das ciências; ele as unifica em uma síntese admirável.
O Espiritismo é ciência profunda; vasta, eclética, cujo estudo fornece
conhecimentos não só sobre o homem espiritual, mas também sobre o homem
corpóreo; e ensinamentos de ordem moral e intelectual.”
“Ele nos
faz compreender melhor o mecanismo das funções, não só das psíquicas ou
mentais, mas também das orgânicas ou vitais; e as relações da alma com o corpo,
cujas perturbações são causas predisponentes, e até determinantes, de estados
mórbidos.”
“O sono,
quer natural, quer provocado pela hipnose ou pelos anestésicos, assim como os
sonhos e as alucinações, não podem ser explicados de modo compreensível,
racional e cientificamente, pelos processos fisiológicos comuns e ordinários da
escola organicista ou materialista.”
“O sono é
a supressão das funções de relação; é a suspensão da atividade psíquica junto
ao corpo, a quase cessação da vida animal.”
“Durante
o sono, o corpo repousa; e a alma, se a vida durante o dia foi calma; ascende
ao mundo astral que lhe é próprio, donde envia ao seu corpo físico, ao qual
está ligada pelos cordões fluídicos, a vida anímica que o refaz para novas
lutas; se houve, porém, durante o dia, grandes atribulações motivadas por
sentimentos inferiores, como a inveja, o egoísmo, o ciúme, a maledicência etc.,
a alma fica na atmosfera da Terra, ligada aos meios perturbadores.”
“Enquanto
repousa, o corpo repara as suas perdas, refaz-se, e a alma retempera-se,
aprestando-se para novas lutas.”
“O sono, como
a vigília, é um modo de ser do vivente; ambos afirmam a existência, em
antítese: pois que a vida é dupla – vegetativa ou orgânica, animal ou de
relação.”
“As
escolas materialistas procuram explicar o sono, quer o natural, quer o
artificial –provocado ou mórbido –, por uma espécie de paralisia do cérebro,
devida à sua compressão, ora pela falta, ora pela superabundância de sangue.”
“Incontestavelmente,
tanto a anemia como a congestão acompanham-no ou se apresentam no sono; dado o
sono natural, provocado ou mórbido, o aparelho cefálico se encontra num desses
dois estados; mas indicar o estado ou a condição de um órgão ou aparelho, na
realização de um fenômeno ou de uma função; explicar o seu mecanismo ou a
maneira de efetuar-se, não é determinar a sua causa; são fatos diferentes, não
devem ser confundidos.”
“A
observação registra que a perda de sangue, em quantidade excessiva, e às vezes,
até a de uma pequena porção, traz, como conseqüência, o sono, o delíquio, a
síncope, ou a vertigem e mesmo a morte, que é um sono do qual se não desperta.”
“Ainda
outras manobras provocam o sono: a inalação de anestésico, os passes
magnéticos, a sugestão, o repouso e até o movimento, quando cadenciado, um
canto monótono e a só ausência de luz; tudo isso, todas essas manobras, são
apenas condições para o sono; são, quando muito, causas predisponentes.”
“A causa
do sono, a única real, verdadeira, aquela que o determina e impõe, é a
necessidade da suspensão da atividade psíquica, a supressão das funções de
relação: a paralisação temporária da vida animal.”
“O sono
é para a vida animal o que a fome e a sede são para a vida orgânica: pela fome
e a sede, o corpo reclama alimentos; pelo sono, a alma pede alento.”
“O sono é uma
necessidade psíquica.”
“Os
sonhos e as alucinações são fenômenos puramente psíquicos, que não podem ser
explicados fisiologicamente; por isso, as teorias, que a ciência materialista
criou, para os explicar, são falsas e até irrisórias.”
“Por
elas, os sonhos são produzidos por perturbações do aparelho digestivo!”
“São o
produto de uma atividade inconsciente!”
“São o
fruto da superexcitação de certos grupos de células cerebrais, quando outros
centros estão em repouso, daí a sua incoerência!”
“Não se
lembram os criadores de tais teorias esdrúxulas de que há registrados sonhos
autênticos, que foram verdadeiras profecias.”
“Passa-se
nos sonhos o mesmo fato que se dá no sonambulismo lúcido: a alma do magnetizado
vê e ouve aquilo que se dá a centenas de léguas: lê no passado e no futuro.
Fatos que o corroborem, não faltam: encontram-se nos livros religiosos e nos
profanos, nos romances e nas páginas da História.”
“As
alucinações estão no mesmo caso, não podem ser explicadas fisiologicamente,
porque nem são fenômenos psíquicos, mas fatos espirituais.”
“A
pretensão da ciência materialista, a explicá-las, é simplesmente ridícula.”
“Não se
pode aceitar, seriamente, como perversão dos sentidos, a alucinação, a audição
de palavras, frases e dissertações em língua que o ouvinte não conhece, e que
ele repete, com dificuldade; ou, ainda, a audição de uma peça de música.”
“Assim, também a
descrição exata da figura de um indivíduo que o vidente nunca viu antes,
falecido ou ausente; descrição minuciosa de seu porte, feições, atitudes e
gestos habituais, o que revela a realidade e prova a identidade da pessoa,
embora só a ele visível.”
“São
numerosos os fatos desta natureza, registrados na literatura médica, na
dramática e em outras.”
“Portanto,
as teorias, inventadas pelos materialistas para explicar o como e o porquê dos
sonhos e alucinações, são falsas; não
passam de meras hipóteses, sem fundamento, sem as condições das científicas.”
“Fenômenos
puramente psíquicos e fatos espiríticos, como certas alucinações, verdadeiros
casos de mediunidade, não obedecem a leis
orgânicas.”
“As nevroses
e, entre elas, principalmente o sonambulismo, a catalepsia e a loucura não têm
explicação satisfatória e racional fora das teorias, princípios e leis
provenientes do estudo dos fenômenos espiríticos.”
“Os
fenômenos hoje estudados e vulgarizados sob o nome de Hipnotismo, e de há muito
conhecidos por Mesmer, Puissegur, Dupotet e muitos outros, antes e depois
deles; a chamada transposição dos sentidos, a penetração ou leitura do
pensamento e sua transmissão, assim como a exteriorização da sensibilidade e outros,
não podem ter explicação plausível, racional, científica, senão na existência
do corpo astral, corpo anímico ou perispírito, que é constituído pelo fluido
etéreo, ou fluido universal, cuja existência já foi demonstrada,
experimentalmente.”
“O Espiritismo,
portanto, é uma ciência profunda, vasta, eclética, cujo estudo é de suma
utilidade.”
48.
O Espiritismo, seu estudo e instrumentos
Continua
o Dr. Pinheiro Guedes:
“Tendo
afirmado que o Espiritismo é ciência vasta, profunda, eclética, cumpre-me demonstrá-lo;
porque hoje não basta afirmar, é preciso provar, tornar coisa evidente,
palpável: o tempo do magister dixit,
foi-se. Obediente ao método, provarei, primeiro, que é
ciência, demonstrando, depois, que é vasta, profunda,
eclética; porque abrange o ciclo das evoluções que o Espírito realiza desde o
seu início, desde a sua origem.”
“Vejamos,
para isso, em que consiste o que se denomina ciência:”
“A
ciência é o conhecimento das coisas, dos fatos e dos fenômenos em si mesmos, em
sua natureza e nas suas relações entre si e com tudo o que os cerca, o meio, o
ambiente.”
“Esse
conhecimento só se obtém pelo estudo metódico, observação atenta e análise
minuciosa.”
“É,
portanto, a ciência fruto de nossa inteligência, resultado do nosso trabalho;
ela visa a um fim: satisfaz uma necessidade do nosso Espírito.”
“O Espírito sente incessantemente necessidade de
investigar; é ávido de conhecimentos; quer luz, mais luz, sempre luz.”
“O Universo é infinito; a avidez de luz é insaciável; a
matéria de estudo inesgotável.”
“A
ciência é um corpo de doutrina, sintetizando todas as leis e princípios
deduzidos do estudo do Universo; ela é, pois, um conjunto de ciências.”
“As
ciências, portanto, são múltiplas e várias; tantas, quantas são os objetos de
estudo; todas visam ao mesmo fim; mas cada uma tem o seu objeto – a matéria de
que se ocupa; umas são concretas, outras abstratas.”
“Assim,
pois, não podem todas aplicar os mesmos métodos; cada qual reclama métodos,
processos e aparelhos adequados à observação e análise da coisa, fato ou
fenômeno, que é objeto do seu estudo, quer na parte puramente física, quer na
parte astral.”
“É o que
se vê, o que se nota em todas as ciências até hoje constituídas.”
“A
Matemática, a Astronomia, a Física, a Química e as ciências biológicas – Botânica,
Zoologia, Antropologia e a moderna Sociologia – todas têm a sua matéria de
estudo, e servem-se de métodos, processos e aparelhos apropriados, de acordo
com a natureza do seu objeto, e segundo as necessidades do estudo.”
“¾
Preencherá o Espiritismo esses requisitos, satisfará essas condições, para
merecer os foros de ciência?”
“O
Espiritismo tem por fim: esclarecer-nos sobre o outro mundo, sobre a vida de
além-túmulo; provar a existência da alma, sua preexistência e sobrevivência ao
corpo, satisfazendo assim uma necessidade iniludível da nossa alma, aspiração
incessante do nosso eu.”
“Ele estuda os fatos
extraordinários, mas numerosos, numerosíssimos, que constituem uma ordem de
fenômenos, até há pouco reputado sobrenaturais, e por isso relegados como inobserváveis,
indignos de estudo, os quais, entretanto, convenientemente observados, provam a
existência do Espírito, esclarecem-nos sobre a vida de além-túmulo, pondo sob
os nossos olhos maravilhados, estupefatos, outros mundos.”
“Os
fatos que constituem o objeto do Espiritismo, não são sobrenaturais, nem mesmo
extraordinários, senão porque escapam à observação dos que não sabem vê-los;
eles são naturais, como tudo quanto
existe no Universo; são comuns, ordinários e até freqüentes: o sobrenatural é
produto da ignorância humana.”
“Mas
para os ver, os observar, aprender a notá-los e os reconhecer, quando e onde
quer que se apresentem, era preciso descobrir o instrumento capaz de os
registrar, tornando-os evidentes e palpáveis.”
“Esse instrumento é o médium, quando honrado e
disciplinado.”
“Achado o instrumento, estudado em suas aptidões,
começaram os fatos a ser observados, a princípio os espontâneos, mais tarde os
provocados, no intuito de reconhecer a natureza da causa produtora de tais
fenômenos.”
“Como
resultado dos estudos espiríticos, a imortalidade da alma é estatuída em
princípio perfeitamente determinado por provas irrefutáveis.”
“A
sucessão das existências ou multiplicidade de vidas corpóreas de uma
individualidade consciente – o espírito humano –, denominada reencarnação,
constitui uma lei, a que estão sujeitos todos os Espíritos, e é condição
essencial ao seu progresso.”
“Assim,
pois, o Espiritismo visa a um fim, estuda uma ordem de fatos, emprega métodos,
processos e instrumentos exclusivamente seus; cria teorias, estatui princípios,
estabelece leis; .satisfaz, assim, e preenche todos os requisitos exigidos
pelos foros científicos: o espiritismo é, portanto, sem a mínima dúvida, uma ciência.”
“Ciência
vasta, profunda, eclética, ele constrói a síntese da vida humana, abrange o
ciclo das evoluções do Espírito, ab
initio ad eternum, do início ao Infinito.”
“Seus
princípios, suas leis, têm aplicação universal; são um fanal no meio das trevas
que nos cercam; são um farol no mar tempestuoso da vida.”
“São uni
farol no mar tempestuoso da vida porque fazem ver um porto de abrigo na calma,
na resignação, na paciência; refúgios seguros contra as tempestades morais,
conseqüências de nossos vícios e erros; frutos do nosso atraso, do nosso
orgulho.”
“São um
fanal no seio das trevas que nos cercam porque, desvendando o mistério de como
se opera o nosso progresso intelectual e moral, pelo processo da reencarnação
ou sucessão de vidas corpóreas; demonstrando a preexistência e sobrevivência da
alma humana, rarefaz, adelgaça o véu que oculta à nossa vista uma série de
vidas, cada qual menos luminosa, menos limpa de erros, faltas, vícios e crimes,
o que faz compreender o porquê do mundo ser uma escola, onde devemos aprender a
amar ao próximo como a nós mesmos; e como a reencarnação é uma necessidade,
pois que a vida corpórea é um meio de reparação, aproximando um do outro – o
ofendido e o ofensor – ou reunindo em uma mesma família, sob o véu da matéria,
e graças ao esquecimento do passado, a vítima e o seu algoz!”
49.
O fenômeno vital, denominado atavismo
Prossigamos na
lição do Dr. Pinheiro Guedes:
“Demonstramos,
com argumentos tirados da História, e também por uma apreciação dos fatos
inerentes à natureza humana, que a Medicina, como arte de curar, é filha
legítima do Espiritismo.”
“Provamos,
depois –, e o fizemos por demonstração analítica –, que o Espiritismo é
ciência, e ciência de observação, na qual também se recorre ao método
experimental.”
“Vamos
agora mostrar, por uma exposição de fatos, o ecletismo, a profundeza e vastidão
da doutrina espírita.”
“O
fenômeno vital denominado atavismo, cuja explicação pela escola materialista é
inaceitável, repugna à razão, por absurda, explica-se, entretanto,
espiriticamente, de modo racional e satisfatório, pela teoria da reencarnação;
e o fato torna-se evidente, palpável, indiscutível, porque fala à razão.”
“E não só
se compreende e aceita o atavismo psíquico – moral e intelectual – como também
o mórbido e o orgânico; estes absolutamente inadmissíveis com a explicação
materialista ou organicista; e aqueles, ainda mais, porque não se compreende o
seu mecanismo – o processo da transmissão, e não se atina com o transmissor da
herança.”
“Provada
a existência da alma, ninguém, de certo, porá em dúvida que é ela quem dirige o
corpo, quem o anima e domina: ela vai ser o transmissor, o veículo dos vezos e
cacoetes e também das moléstias.”
“Um
espírito brutal deve ter um corpo grosseiro, adequado às suas necessidades,
para estar de acordo com a sua natureza.”
“Um
espírito angélico tem, não pode deixar de ter, um corpo delicado, apropriado à
agudeza de seu engenho, afinado pela sutileza de seus sentimentos.”
“O corpo
é para a alma o que a roupa é para o corpo; um agasalho, um abrigo contra as
intempéries, um véu sobre a nudez.”
“Nem só o rosto, que
se diz ser o espelho da alma, com a sua feição particular – a fisionomia –, mas
o corpo todo, no seu conjunto, pela proporcionalidade das suas formas e por sua
atitude nos impressiona; não há quem o não tenha experimentado; e essa
impressão é agradável, simpática ou antipática; mas só a temos em presença de
um vidente, criatura humana ou animal; a emoção que sentimos ante o morto é mui
diversa; é antes um abalo, um choque, um sentimento de repulsa instintiva.”
“Assim
pois, a alma domina o corpo, envolve-o todo e até se revela nas mais simples
formas físicas.”
“As mãos
patenteiam de tal sorte a natureza e tendências do espírito, que, estudando-as,
criou-se a Quiromancia, cultivada, na Antigüidade, por sábios e filósofos:
Artemídoro, de Êfeso, Agripa, Henrique Cornélio, médico, filósofo e
historiógrafo; Robert Fludd, médico e filósofo; o sábio jesuíta Del Rio e
outros.”
“É,
porém, sem dúvida, a cabeça que mais e melhor mostra a influência da alma sobre
o seu corpo, com suas bossas e protuberâncias; a face, sede dos músculos da
expressão de nossas emoções, tão bem estudadas por Darwin e Duchenne de
Boulogne; a boca, larga ou estreita, de lábios grossos ou finos, de comissuras
levantadas ou abatidas, cuja forma, finalmente, traduz, exprime, uma variedade,
quase infinita, de sentimentos e idéias; a boca forma e emite a palavra; a boca
estereotipa esses frementes estados
de alma – o pranto e o riso.”
“E os
olhos que são, por seu brilho e transparência, como uns globos cristalinos,
onde se refletem, em cambiantes infinitas, as emoções da alma! E até o nariz e
as orelhas, finalmente, todas as partes componentes do rosto são delatoras das
disposições e tendências do nosso espírito.”
“Lavater,
com os seus belíssimos e mui interessantes estudos das fisionomias, em que
colaborou o grande Moreau de la Sarthe; e, antes deles, Adamantius, médico do
século IV; Porta (Giambattista), célebre físico, inventor da câmara escura,
publicou um tratado – De Humana
Fisionomia – em Sorrento, no ano de 1586; Lachambre, médico de Luís XIV; o
célebre pintor Lebrun, e ainda outros; Gall e Spurzheim, médicos, criando a
Frenologia, cultivada, depois, por Broussais, F. Combe, Vimont e outros; todos
eles são intérpretes da ação, da influência e domínio da alma sobre o corpo;
todos eles são os precursores no estudo das relações do espírito com o corpo.”
“Esse
estudo só o Espiritismo pode tornar completo, fazendo conhecer o modo por que
se estabelecem essas relações e como se formam ou se criam as ligações entre o
espírito e seu corpo.”
“O médium
vê e descreve os laços fluídicos que ligam o espírito ao seu corpo; e assim,
mas só assim, e por esse processo, o estudo da encarnação pode ser feito.”
“Sabe-se,
hoje, que o espírito assiste, preside a formação do seu corpo, por intermédio
do perispírito, corpo anímico – ligando-se a este molécula a molécula, órgão
por órgão, durante a gestação, até completar a evolução fetal; e dele toma
posse inteira, absoluta, à natalidade, assenhoreando-se então totalmente do
barco que aparelhou para navegar no mar tempestuoso da vida material.”
“Sabe-se,
hoje, e isto é racional, cala na consciência, sente-se que deve ser assim; é o
próprio espírito quem escolhe, após demorado estudo na vida espiritual –
durante a desencarnação – e busca, segundo suas necessidades – de ordem moral e
intelectual, o país, a sociedade, a família, os seus genitores, tudo, enfim,
quanto deva e possa concorrer para o seu progresso.”
“Assim
ele é o principal, senão o único responsável pelas contingências, pelas
vicissitudes e dificuldades que o assoberbam durante a vida corpórea.”
“Por esse
modo, admite-se que o espírito possa transmitir; aceita-se, porque é
compreensível, que ele imprime em seu corpo, igualmente como o tipo e a forma,
sua feição característica, suas tendências morais e intelectuais, dando mais
desenvolvimento, ora aos centros afetivos, ora àqueles que servem à
inteligência, de onde resulta a diferença de caráter, de gênio e de
temperamento que se observa nos indivíduos, desde a infância.”
“Assim se
explicam e compreendem as vocações; a maior ou menor habilidade para as
belas-artes, ou para as artes mecânicas; e porque se diz, e é exato, que a
criatura nasce músico, poeta, ator,
lavrador, industrial, comerciante, militar ou médico.”
“Resulta,
desse fato, provém daí a importância do papel da família na sociedade e a
responsabilidade social dos genitores, a quem incumbe educar a prole,
constituindo o fim principal da educação reprimir ou, ao menos, modificar as
tendências perniciosas dos filhos, que cedo se revelam, e acoroçoar e desenvolver
as benéficas.”
“O
Espiritismo é um poderoso foco de luz, cujos raios atingem as fronteiras da
esfera intelectual e iluminam todo o ciclo da vida.”
“Ele
esclarece e justifica as chamadas Ciências Ocultas, explicando, racionalmente,
suas deduções, augúrios, predições e horóscopos.”
“A
História Universal, a vida dos povos, sua natureza, seu caráter, recebem dele a
mais viva luz.”
“E a que
se esparge sobre as ciências médicas ilumina todo o seu vasto território,
devassando os mais profundos recônditos dos seus domínios.”
50. O papel do Espiritismo na Antropologia e na
Nosologia
Ainda a
magnífica lição do Dr, Pinheiro Guedes:
“Da Antropologia,
designação que abrange a Anatomia, ciência da estrutura e conformação dos
órgãos; a Embriologia, ciência da formação e desenvolvimento do feto; a
Teratologia, ciência das anomalias dos indivíduos (os monstros), e dos órgãos
(disformidades); o Espiritismo revela, desvenda e põe patente sob os nossos
olhos o porquê desses fenômenos, sempre desagradáveis, ora estupendos, muitas
vezes repulsivos.”
“Ele nos
faz ver e compreender o como e o porquê de uma emoção perturbar as funções do
aparelho digestivo, que até certo ponto, isto é, no seu mecanismo íntimo, nos
seus processos físico-químicos, são independentes da vontade; e as do aparelho
circulatório, que também se efetuam fora desta alçada; e cujo centro – o coração – tem, entretanto, o seu ritmo
perturbado e pode imobilizar-se,
determinando a extinção da vida, ao embate de uma emoção violenta e brusca.”
“Estas
funções, como todas as que têm por fim nutrir, reparar, conservar os órgãos, e
são, por isso, denominadas de vida vegetativa, se exercem e operam sob o
influxo direto e imediato de uma inervação que lhe é peculiar – o sistema
ganglionar, também chamado o grande simpático, constituído por uma série de
gânglios nervosos, (reunião, grupo de células nervosas) ligados, entre si, por
cordões igualmente nervosos, verdadeiro rosário composto de 19 a 25 gânglios
para cada lado (os padre-nossos do rosário), que se encontram nas cavidades
esplâncnicas (região cervical, caixa torácica e ventre), junto à coluna
vertebral, desde o atlas até o cóccix, circulando-a como um colar ou cadeia sem fim.”
“Posto
que autônomo na sua função peculiar, o nervo trisplâncnico, ou grande simpático
não só não se acha separado do sistema cérebro-espinhal, mas vive sob a sua
influência, – é seu subalterno, está ligado a ele pelos nervos aferentes,
cordões nervosos que, partindo dos nervos
cranianos e dos raquidianos ou espinhais, penetram – um por um – todos os
gânglios do grande simpático onde se originam os numerosíssimos filetes
nervosos, que, acompanhando os canais circulatórios – sanguíneos e linfáticos –
envolvendo-os como a hera envolve o muro, e penetrando suas paredes,
dirigem-se, como eles, a todos os órgãos e tecidos do corpo humano.”
“Nestas
condições, só indiretamente os órgãos e aparelhos da vida de nutrição recebem
influxo do sistema nervoso cérebro-espinhal, adstrito à vida de relação; pelo
que, para explicar a perturbação das funções digestivas e circulatórias por
traumatismo moral, sente-se, reconhece-se a necessidade de um outro agente,
além dos nervos, capaz de fazer compreender os efeitos de uma ação indireta,
remota e, posto que impalpável, tão enérgica, tão terrível, que pode fulminar
como o raio.”
“Esse
outro agente é o perispírito – corpo anímico, constituído de uma matéria
etérea, parte do fluido universal animalizado, por cujo intermédio o espírito
se incorpora, consubstancia-se órgão por órgão, molécula a molécula, com o seu
corpo, e cuja organização, e cuja constituição e feitura ele assiste e preside,
semelhante ao pedreiro que amassa o barro, prepara a argamassa, escolhe e
afeiçoa o material com que faz o muro e constrói o edifício.”
“Ao
embate de uma paixão violenta, o espírito se conturba, comove-se e se
confrange, o perispírito contrai-se, necessariamente, mais ou menos, conforme o
choque mais ou menos violento, inesperado e cruel; o perispírito contraindo-se,
diminui o seu influxo sobre a molécula material, sobre a célula orgânica, sobre
o órgão que, por isso, perde o calor, a energia, a atividade e até a vida.”
“Assim,
desse modo, compreende-se como uma emoção brusca e violenta pode não só
perturbar funções que se não exercem sob o influxo dos nervos da vida de relação,
mas até aniquilar o vivente.”
“Eis aí
como, com um pequeno raio de luz, o Espiritismo ilumina, esclarece pontos
obscuros da Anatomia, da Fisiologia, da Patogênese e da Embriogenia, até hoje
imperscrutados e, sem essa luz, imperscrutáveis.”
“Acaba
de ver o leitor como a luz que ser irradia dos estudos espiríticos, penetra nos
mais fundos recessos das ciências positivas, como são as antropológicas,
fazendo achar a solução racional para os intricados problemas de fisiologia
patológica e embriogenia.”
“¾ Supõe,
talvez, que aí pára a força iluminativa do fanal, que é o Espiritismo?”
“Se
assim pensa, engana-se, como vai ver e, para convencer-se do seu engano, basta
uma digressão pelo campo da Nosologia, onde se, encontram, principalmente no
terreno da Etiologia – um dos mais escabrosos – os mais difíceis problemas das
ciências médicas.”
“Aqui o
auxílio da ciência espírita é inestimável pelos recursos com que arma o médico
para vencer as maiores dificuldades do diagnóstico; pelos esclarecimentos que
lhe fornece para explicar a origem de certas moléstias, e também a resistência
admirável do organismo às causas morbigênicas!”
“Em
geral, o indivíduo que é metódico, paciente e calmo, que segue uma norma de
vida regular e não é atropelado pelo revolutear da sociedade, cuja atividade
não é solicitada simultaneamente por uma multiplicidade de coisas, as mais
disparatadas, esse tal é sadio, tem a vida longa.”
“As
estatísticas da mortalidade pelas profissões são disso a melhor prova.”
“Para
ele, singra em mar sereno o batel da vida.”
“Aqueles,
porém, cuja atividade é despertada e instigada, quase incessantemente, por mil
objetos diferentes; que vivem contrariados sob a pressão de sentimentos
deprimentes; esses são doentios, sua vida raramente é longa; são eles que
concorrem, com a maior cifra, para o obituário.”
“Esses
são os pilotos cujos barcos, acossados pelas tormentas da vida, muita vez
soçobram em meio da viagem, porque as ondas enfurecidas, que são as paixões,
gastaram, exauriram as forças, e com elas a coragem, o ânimo ao timoneiro, que
tomba vencido.”
51.
O estado psíquico e sua influência sobre as doenças
A influência do
estado psíquico sobre várias enfermidades foi por nós explicada, bem
claramente, com base na razão e na ciência. Quando tratamos das enfermidades
nervosas, da obsessão e da normalização do enfermo, detivemo-nos bastante nessa
parte primacial, para esclarecimento da humanidade; e se ainda, nesta altura,
insistimos nos comentários sobre esse assunto é para provar que os médicos
honrados estão de inteiro acordo conosco, concordando com o Espiritismo
Racional e Científico.
Assim é
que tratando o Dr. A. Pinheiro Guedes das causas predisponentes das
enfermidades, assegura:
“A
maioria das enfermidades tem suas causas predisponentes no enfraquecimento do espírito,
que, por seu abatimento, por seu desânimo não comunica, não transmite ao corpo
a vitalidade que nasce da energia e deixa-se avassalar pela atração constante
que faz do astral inferior.”
“A
alegria é expansiva, ela avigora a circulação, aquece, dá calor ao corpo, anima
e robustece o organismo, mantém a saúde, prolonga a vida, porque, em tal estado
de alma, atrai elementos bons, salutares e curadores.”
“A
tristeza, ao contrário, é reconcentrada; ela retarda a circulação, arrefece,
tira calor ao corpo, desanima e enfraquece o organismo, arruína a saúde,
encurta a vida, porque só atrai elementos danificadores, idênticos a esse
estado d’alma.”
“Mas,
como os extremos se tocam e todo o excesso é mau; se a deprimente tristeza é
funesta à existência, a alegria, quando excessiva, não o é menos podendo, até,
fulminar.”
“São os
proletários, para quem a vida é mais penosa, mais cheia de contrariedades, os
que povoam os hospitais: eles, de cujo seio saem esses bravos, esses
destemidos, esses heróicos pilotos, mártires do progresso, cujos nomes,
entretanto, a história rara vez registra; eles que navegam em busca da verdade,
afrontando as sirtes e cachopos do mar bravio, que é a vida humana.”
“Tendo
mostrado, e assim feito ver, que as conturbações da alma, seu abatimento e
desânimo, pelas inúmeras e perenes dificuldades que a assoberbam,
cotidianamente, são causas predisponentes às moléstias somáticas, pelo estado
de languidez e falta de energia do organismo para reagir sobre o circunfuso; e
nesta designação estão incluídos todos os agentes capazes de modificar o
organismo ou alterar a saúde e aniquilar o vivente; quer os de ordem material,
quer os de ordem moral – os físicos e os sociais, ou sociológicos; passo a
mostrar, tornar visível, palpável aquilo que, entretanto, já de si é evidente,
menos, porém, para os organicistas ou materialistas; isto é, que as nevroses são moléstias da alma, devidas a
sofrimentos do espírito, ou pura e simplesmente provocadas por espíritos.”
“Dá-se o
nome de nevroses, em medicina, a estados
mórbidos que consistem em perturbações funcionais, sem lesões materiais nem
causas apreciáveis, que se observam
principalmente na vida de relação, mas também na vegetativa.”
“As
nevroses, com sede no aparelho digestivo, no circulatório e no respiratório,
raramente são impulsivas, isto é, são capazes de dominar a vontade; a
Dispepsia, a Asma e a Angorpectoris; aquelas, porém, afetam a vida de relação,
e são constituídas por alterações da motilidade, da sensibilidade ou da
inteligência, perturbam, suspendem, alienam a vontade e subjugam a consciência;
quase reduzem a criatura humana às condições de bruto, da fera.”
“As
primeiras, têm por causa uma alteração de função, dependente, ordinariamente,
de um vício diatésico: o herpetismo, a sífilis, a escrofulose, etc.”
“As
segundas, as que afetam a vida animal, não se filiam a causa alguma orgânica
apreciável.”
“Destas,
umas, como a Nostalgia e a Hipocondria, são mera exteriorização de estados da
alma; outras, traduzem uma desordem nas relações da alma com o seu corpo, como
a Catalepsia; outras, como a Histeria, representam estados complexos, misto de
desordens psíquicas e intervenção de uma vontade ou atividade estranha,
invisível – um espírito; outras, finalmente, como a Loucura, na maioria dos casos são fenômenos espiríticos, são fatos
da vida espírita. O doente, neste
caso, é simplesmente um médium, um possesso, um obsedado.”
“O
fenômeno de possessão (ou incorporação, na linguagem espírita), que significa o
domínio do espírito encarnado pelo desencarnado, o qual se apossa do organismo,
bruscamente e com violência, como na Epilepsia; ou, como na Loucura, lenta e
sub-repticiamente; e de um ou de outro modo na Histeria, é o que constitui o
chamado desdobramento da personalidade, que
é antes uma duplicação do indivíduo; porque, não podendo a alma separar-se
completamente de seu corpo, pois seria a morte, o que de fato se dá é a subjugação do encarnado pelo desencarnado, o predomínio deste sobre
aquele, que, não obstante, continua ligado ao seu corpo, na posse dele, posto
que contrariado, subjugado.”
“Isto é
admissível, compreende-se: ao passo que o desdobramento da personalidade, como
diz o organicista, materialista disfarçado, é inaceitável, por absurdo, a
unidade é indivisível; o homem é uno, a criatura é indivisa.”
“A
loucura é, na maioria dos casos, uma obsessão; às vezes, simples alucinação dos
sentidos; outras vezes, desordens da inteligência ou perversões do senso moral;
outras, depressão, quase aniquilamento das faculdades psíquicas, verdadeiro
embrutecimento.”
“São
estados da alma devidos à ação mais ou menos direta dos espíritos
desencarnados, ou mesmo de encarnados, influindo sobre as criaturas de diversos
modos:
desde a simples sugestão – insistente, perene, tenaz –,
até a ação direta, enérgica, violenta, provocando os chamados ataques.”
“O
espírito age movido pelo amor ou pelo ódio; sob influxo de um desses
sentimentos, mas dominando sua paixão, ele procura captar a confiança de sua
vítima, sua ação é intencionalmente demorada, mas branda; incessante mas delicada;
se, porém, a paixão o domina, a agressão é violenta e brutal.”
“Assim
se compreende e explica o porquê das formas tão variadas, quase infinitas da
histeria, desde a simples tristeza ou alegria, sem causa que as justifique, até
a abstração, enlevo ou embevecimento, e o êxtase até à loucura; desde o estado
em que a vítima canta ou dança, grita e chora sem saber porque, até aquele em
que, furiosa, rasga as vestes, debate-se e cai por terra, convulsa, em
contorções medonhas, horrorosas ou lúbricas; as quais, para serem explicadas
racional e satisfatoriamente, só podem ser atribuídas à natureza do sentimento
que anima, agita e impulsiona o espírito agressor ou obsessor.”
“E assim
também se explicam as formas diversas da Loucura, que não podem ser atribuídas
a enfermidades do órgão da mentalidade, porque a necropsia, praticada em
indivíduos falecidos de moléstias intercorrentes, logo em começo da loucura, nunca revelou a mínima lesão material do
cérebro, sendo certo, entretanto, que se encontram profundas alterações nos
cérebros daqueles que sucumbem, após longo tempo de sofrimento pela loucura; o
que torna bem patente que tais lesões são efeito e não causa das perturbações
psíquicas.”
“Esses
fatos podem ser observados e analisados por quem quer que seja.”
“E
aqueles que o fizerem sem idéias preconcebidas, sem sujeição a Escolas ou
Seitas, livres de quaisquer. peias, hão de reconhecer sua veracidade.”
52.
O atavismo explicado pelo Espiritismo Racional e Científico
O atavismo, só agora
explicado pelo Racionalismo, é confirmado pelo Dr. A. Pinheiro Guedes, como o
leitor vai ver nas linhas que se seguem:
“Não obstante já ter
assim demonstrado, pois julgo havê-lo feito ou, se o quiserem, ter ao menos
patenteado a influência, a efetividade da ação da alma sobre seu corpo e a dos
espíritos sobre os homens (dos mortos sobre os vivos); quero chamar, quero
despertar a atenção do leitor para um fenômeno que manifesta, mais clara a
positivamente, o predomínio da alma sobre o seu corpo. Esse fenômeno é o
atavismo.”
“O atavismo é a
prova evidente de que o espírito cria o seu organismo, preparando, afeiçoando,
mais ou menos habilmente, os materiais, segundo as suas necessidades, de acordo
com o modo ou gênero de vida e condição social a satisfazer, durante a
existência corpórea; e influi sobre o aspecto, sobre a forma ou certa aparência
que, no estado de completo desenvolvimento, no estado adulto há de apresentar o
seu corpo, ao qual imprime, assim, por um processo que é o verdadeiro atavismo,
um cunho, certas disposições que aparentam ou trazem a idéia do sexo diferente:
– um homem de formas e gostos feminis; uma mulher de aspecto e aptidões
varonis; ou ainda, o que não é raro, o tipo de um animal, e com ele os seus
instintos mais ou menos sopitados.”
“Esse
fato, tão significativo, tão
importante deste ponto de vista, evidencia, torna palpável a filogênese, isto
é, a filiação, o encadeamento das
espécies que formam o reino animal; ele patenteia, por indício claro,
manifesto, incontestável, o caminho, o viaduto, a
via dolorosa que o espírito percorre, na sua marcha
evolutiva genésica: formação, individualização, aperfeiçoamento.”
“Esse
fenômeno, o da conservação ou reprodução não só de disposições e tendências
afetivas – o caráter, gostos, inclinações e aptidões; mas até de certa feição,
atitudes e forma, é o que constitui o verdadeiro atavismo; é ele, certamente, o
efeito, o resultado, o produto, não das causas fúteis que se lhes assinalam,
mas de uma causa eficaz, lenta, mas incessante, a qual não pode ser outra senão
a modalidade que o perispírito, corpo anímico, corpo astral dos ocultistas -
conserva, guarda, retém da forma e do caráter adquiridos em vida anterior,
próxima ou remota.”
“No
processo de formação, individualização e aperfeiçoamento do espírito, está a
razão de ser dos reinos da Natureza; eles são os laboratórios, as oficinas onde
se realiza o trabalho ingente e maravilhoso da criação da alma humana.”
“Cada um
dos reinos consta de regiões diferentes, ocupadas por Estados (as espécies)
mais ou menos independentes (distintas), e ligadas, hierarquicamente, dos mais
simples aos mais complexos.”
“A
hierarquia depende do número de oficinas, a mais ínfima contém uma única
oficina, a mais elevada encerra todas, ocupando-se, cada qual, com um trabalho
peculiar; cada uma executando o seu; as mais ínfimas, separadas e
sucessivamente, (cada qual, por sua vez, uma após outra, a começar por ela, a
mais ínfima), até que, criadas todas e constituído o laboratório, passam a
funcionar simultânea e sinergicamente, concorrendo todas, e cada uma, com o seu
trabalho, convergindo os seus esforços para um mesmo fim – a criação.”
“Constituído
o laboratório, (o vivente) com as oficinas necessárias, (as partes componentes
do corpo) e estas com os seus maquinismos (os órgãos), ele entra em atividade e
funciona incessantemente, enquanto as máquinas se moverem, regularmente, até
que não possam mais ser reparadas; a menos que um acidente venha interromper o
trabalho de transmissão do movimento; porque então o laboratório emudece,
temporária ou definitivamente.”
“A
reprodução, arremedo ou simulacro da estática, (formas, atitude, feição) é uma
espécie de memória física, retentividade de formas, a qual se pode, ou antes,
se deve considerar como transformação, ou melhor, vitalização da força de
coesão, que é aquela que conserva e torna permanente a configuração dos corpos;
é o atavismo orgânico, corpóreo.”
“O mesmo
fenômeno de ordem dinâmica, reprodução do caráter, aptidões e tendências
afetivas e intelectuais, é o atavismo psíquico, ao qual se deve reputar como
uma espécie de memória, não material, mas mecânica, e, portanto, ainda
retentividade, que chamarei memória perispiritual, pois que é o corpo anímico
que conserva as modalidades de existências passadas.”
53.
Corpos e fenômenos, eis o que se nos depara no mundo.
Depois
de demonstrar que o Espiritismo é a ciência das ciências e provar a influência
do estado psíquico da criatura sobre a sua saúde; depois da explicação do
atavismo, continua o Dr. Pinheiro Guedes a tratar da Síntese Genésica, começando
por dizer:
“A
seriação é lei universal”; e prossegue sobre os corpos e fenômenos:
“Corpos
e fenômenos, eis o que se nos depara no mundo.”
“Os
corpos são formados de matéria.”
“Os
fenômenos representam movimento; o movimento é produzido por uma força.”
“A
matéria afeta os nossos sentidos.”
“A força
se manifesta pelos seus efeitos.”
“Os
corpos têm formas, ocupam lugar no Espaço, persistem.”
“Os
fenômenos não têm formas, não ocupam lugar, não permanecem.”
“Ali, a
forma, a duração; aqui, a modalidade, a sucessão.”
“Os
corpos são numerosos, mas limitados: gasosos, líquidos, sólidos.”
“Os fenômenos são
inumeráveis, variam ao infinito.”
“O Infinito constitui o
Universo.”
“O
Universo é o conjunto de todos os sistemas planetários.”
“O sistema planetário é
um grupo de mundos.”
“Os mundos compõem-se de
seres.”
“Os seres são: uns,
puramente materiais, inertes, denominados inorgânicos; outros, chamados
orgânicos, não são puramente materiais, são constituídos de outro modo, são
ativos, têm vida.”
“Os seres
inorgânicos não têm atividade própria; sofrem, sem reagir, a ação das forças
que produzem os fenômenos materiais.”
“Os
seres orgânicos reagem contra as forças externas; têm atividade própria,
produzem fenômenos que se denominam funções.”
“As
funções são materiais e espirituais.”
“As
funções materiais são apanágio de todos os seres organizados; as espirituais só
se encontram nos animais.”
“Os
animais são seres organizados que produzem, com o organismo, todos os fenômenos
materiais e exercem todas as funções orgânicas e ainda outras, denominadas de
relação.”
“As
funções de relação são o apanágio da animalidade; são funções sociais,
puramente espirituais; umas, as de ordem moral, que são sempre conscientes;
outras, as de ordem sensual, carnal, fisiológica, que são puramente animais, as
quais são instintivas, inconscientes.”
“As
primeiras, as de ordem moral, puramente espirituais, são o apanágio da criatura
humana.”
“O homem
é, portanto, um microcosmo: matéria e força, corpo e funções.”
“A
matéria, de que se forma o corpo do vivente, não tem a mesma aparência, o mesmo
aspecto, nem a mesma composição da que constitui os corpos brutos; sendo, não
obstante, formada dos mesmos elementos; é uma matéria nova, matéria orgânica,
matéria vitalizada, criada para formar órgãos.”
“As forças,
que operam no corpo organizado, já não são as cósmicas, mas forças biogênicas;
aquelas não geram funções, só produzem fenômenos de ordem material; estas criam
funções e produzem, além dos fenômenos materiais, outros, de natureza diversa,
denominados vitais, elementos das funções orgânicas.”
“O corpo
é sempre um e o mesmo; tem a sua origem na matéria orgânica, metamorfose da
matéria cósmica.”
“As
funções são múltiplas e várias; originam-se nos fenômenos vitais, transmutações
dos fenômenos materiais; estes produzidos pelas forças cósmicas; aqueles, pelas
forças biogênicas.”
“As
forças biogênicas são transmutações das forças cósmicas.”
“Estas
criam a matéria inorgânica e formam os corpos brutos, inertes, sem atividade
própria, sem iniciativa. Aquelas criam a matéria orgânica, de onde surgem os
seres dotados de energia, atividade, iniciativa, o que constitui a vida.”
“A vida
é, portanto, a manifestação suprema da força biogênica, que para esse fim cria
o organismo, um corpo composto de órgãos.”
“O
organismo é, assim, o instrumento da vida; é um aparelho que varia ao infinito,
desde uma simples peça – a célula vegetal – até a árvore; desde a célula animal
– citode, amibo, monera, até o maravilhoso conjunto de peças, combinadas com
admirável precisão, dispostas com justeza e na maior harmonia, para satisfazer
a necessidades diversas, tendentes à realização de determinado fim: a formação
de instrumentos da vida – os corpos dos animais.”
“O
animal é, pois, o produto final das forças biogênicas; a manifestação mais completa
da força vital que se encontra no mundo orgânico; a satisfação absoluta dessa
necessidade suprema – necessitas suprema
est lex, – a necessidade de expandir-se, de produzir, de criar; que é a
essência da força e poder criador.”
“O
animal é o microcosmo; em seu organismo, preso ao mundo inorgânico pelos
elementos componentes da matéria orgânica, operam as forças cósmicas,
produzindo fenômenos materiais – mecânicos, físicos e químicos; operam as
forças biogênicas, produzindo fenômenos vitais, cujo objetivo é a conservação
do indivíduo e da espécie, tanto animal como vegetal; e por isso tais fenômenos
são denominados funções da vida orgânica ou vegetativa, funções de nutrição e
de reprodução.”
“E
assim, não só pela matéria, mas também pelas funções orgânicas, o animal se
prende, igualmente, ao vegetal.”
“Além
dessas, porém, o animal exerce e manifesta outras funções que lhe são
peculiares, exclusivamente suas, que, por isso, o caracterizam: as funções de
relação.”
“As
funções de relação são puras manifestações da vida animal; elas têm por órgãos
o sistema nervoso, cuja composição, cuja contextura e estrutura realizam o
supremo esforço das forças vitais; são o produto mais elevado da biogênese.”
54.
A alma humana
Em
seguimento, continua o médico Pinheiro Guedes:
“Temos
visto que cada nova ordem de fenômenos é produto de uma nova força: as funções
de relação são a manifestação de fenômenos intelectuais, de ordem social,
denominados fenômenos psíquicos; eles não podem ser produzidos pelas forças
biogênicas, pela força vital.”
“A força que os
produz revela uma qualidade especial: a cognição; um caráter novo: a
intelectualidade; uma esfera de ação mais ampla: a sociedade, o mundo; tais são
os atributos da força psíquica.”
“A força
psíquica, nova entidade criadora, não deve ser considerada como uma entidade
erguida do nada, ex nihilo nihil; mas,
por analogia, como uma transmutação da força vital, a sincretização das forças
biogênicas e cósmicas.”
“As
funções de relação que caracterizam a vida animal são o apanágio de todos os
animais, tanto racionais como irracionais.”
“E assim,
por esse laço funcional, como pela identidade de organização, acha-se ligado ao
bruto irracional, o homem, o último elo, neste mundo, da cadeia que o poder
criador vem formando.”
“Mas o homem, a criatura humana, se distingue do
bruto irracional por seus atos refletidos, pela consciência, pela razão e pelo
livre arbítrio; pelo seu engenho criador e pela religiosidade, que são
manifestações de natureza mui outra, que não aquelas que patenteiam os mais
inteligentes, dentre os irracionais.”
“Esses
fenômenos não podem ser produzidos pelas mesmas forças que produzem aqueles que
se observam nos outros seres. Eles devem ter outra causa, outra geratriz;.
porque cada ordem de fenômenos é o produto de uma nova força; essa causa, essa
geratriz, essa nova força é o que se chama Alma humana.”
“A alma
humana é, portanto, a síncrise de todas as forças que operam no mundo; agem e
criam; ela é a suma potencial – a síntese das criações originadas do amor eterno,
infinito, absoluto – Deus (Grande Foco).”
“Eis aí a
trajetória da Força, ab initio ad eternum.”
“O ciclo
evolutivo está completo até onde pode chegar a inteligência humana, armada com
o seu maravilhoso instrumento – a razão – que se deve chamar o criptoscópio.”
“A nossa
razão é, de fato e incontestavelmente, um criptoscópio, instrumento ou aparelho
por meio do qual se pode ver o
invisível, o oculto, o que não está patente; porque, de fato, é pela razão que
nós nos analisamos, que o nosso ser, o nosso espírito se observa, se estuda, se
vê.”
* * *
Pelo que
até aqui temos transcrito da obra Ciência
Espírita, do notável médico Dr. A. Pinheiro Guedes, deve ter verificado o
leitor de boa vontade e de boa intenção que certíssimas estão todas as
afirmativas do Espiritismo Racional e Científico, que é o Racionalismo Cristão;
e que é lastimável que os médicos de boa-vontade e libertos da ciência oficial,
não tenham conhecido a referida obra, para, com real proveito para as suas
almas e sua profissão, poderem praticar “a divina arte de curar”.
Os
psiquiatras e os especialistas das enfermidades nervosas conheciam essas obras,
assim como conhecem tudo o mais que temos explicado, através do livro Racionalismo Cristão.
Tudo
conhecendo e achando certo, não procuram contestar ponto algum dos por nós
explanados, ou dos desenvolvidos pelo Dr. Pinheiro Guedes, na linguagem
própria, técnica da Medicina; é por esse motivo que lhes temos dito duras
verdades, porque os julgamos cientes e conscientes do mal que estão fazendo, em
prejuízo da sua profissão e da humanidade.
É preciso
que lá fora, especialmente na velha Europa, se fique sabendo que se no Brasil
há criaturas que desonram as letras e o saber, há outras que nada ficam devendo
aos mais notáveis médicos de outros países, o que prova a sua alta
espiritualidade.
E porque
assim é, preciso se torna que continuemos a esclarecer a humanidade e a honrar
o Brasil, pondo em evidência os seus filhos eruditos e honrados.
55.
A vontade, a consciência e o livre-arbítrio
A vontade é o
dínamo e a bobina psíquica. É assim que começa o honrado e erudito médico
Dr. A. Pinheiro Guedes, de folhas 165 da sua citada obra, até folhas 168:
“A vontade é a
energia, a potência, a atividade da força inteligenciada em ação, agindo,
operando; a capacidade de reagir e opor-se, não só ao mundo externo, repelindo,
anulando sua influência, seus efeitos, pela produção de outros em contraposição
àqueles; mas também, e principalmente, às solicitações íntimas, quer as que
nascem dos instintos e apetites, .quer as que provêm das necessidades
corporais.”
“A
vontade é a potência biomagnética inteligenciada; ela é, na essência, a
polarização, pois que é, no fundo, um impulso em última análise, um movimento.”
“Ela já
se manifesta nos animais, os mais inferiores; porquanto certos fenômenos da
nutrição – a procura e apreensão dos alimentos – se não efetuariam sem a sua
intervenção.”
“A
vontade evolui na série animal; a princípio, é um simples movimento reflexo,
semelhante à distensão de uma mola; depois, um impulso instintivo, verdadeira
descarga elétrica; afinal, um ato refletido, consciente, livre; ao qual
precedem: a apreciação das circunstâncias, a análise das condições, deliberação
e decisão.”
“Confunde-se, ordinariamente, a vontade com o
desejo e o apetite; e essa confusão, que se nota, com freqüência, no trato
vulgar, observa-se, também, não só na conversação de pessoas instruídas, mas
igualmente – o que é menos tolerável – até em produções de literatos e homens
de ciência, que dizem e escrevem: ‘Tenho vontade de dormir, de chorar, de
comer, etc., etc., quisera vê-la; quero falar-te; tenho vontade de sonhar com
ela; tenho vontade, mas não posso satisfazer tal necessidade corporal”.
“O
emprego do vocábulo vontade é errôneo em todas as frases; e nem só incorreto,
mas antagônico.”
“A
vontade se manifesta, ao contrário, no ato de oposição ou resistência à
satisfação de um desejo, na insubmissão às solicitações; tanto orgânicas, como
psíquicas.”
“Isso,
sim, é ter vontade.”
“Ter
vontade, é ser forte, saber resistir a todas as tentações, quer mundanas -
materiais e sociais, quer anímicas.”
“A
vontade é o alicerce do caráter; é a pedra angular em que ele se firma.”
“Pela
vontade, a alma torna fecundos os atos da inteligência.”
“Aqui a
oficina intelectual trabalha com todos os seus instrumentos, iluminada,
esclarecida pela razão; depois o tribunal supremo, a consciência moral,
delibera, julga em última instância e lavra a sentença – absolutória ou
condenatória; o livre-arbítrio decide pró ou contra; a vontade executa.”
“O poder
executivo é, na organização social, o símile da vontade no ser humano.”
“A
consciência está para as criaturas, como o tribunal para a sociedade.”
“¾ Como
explicar a constituição da consciência?”
“Quanto
mais penetramos nos domínios psíquicos, tanto mais difícil se torna a marcha;
achamo-nos na situação do viajante que atravessa uma região nunca antes
percorrida, para a qual não há vaqueanos; ele tem de caminhar sem um guia,
confiado, apenas, na sua orientação, entregue à sua perspicácia, Encontra-se,
após algumas jornadas, ante uma floresta virgem, cujas árvores são
numerosíssimas; e, posto que de diversas espécies, se assemelham, um tanto,
pelo que não podem ser facilmente distinguidas; suas copas
frondosas ensombram o chão e limitam, encurtam o campo da
visão, tornando difícil, senão impossível, a marcha.”
“Tal é a
minha situação ante o problema da constituição da consciência.”
“Para
achar e explicar a constituição da consciência, faz-se preciso a maior
concentração da alma sobre si mesma, na mais profunda introspecção
criptoscópica, em que a atenção, fazendo agir a percepção nessa câmara – o santo sanctorum espiritual – rebusca os
fatos, agitando a luz da razão em todos os refolhos psíquicos.”
“Ocorre-me
a fórmula do Universo – a variedade na unidade; é incontestavelmente a base
sólida da lei do transformismo, que explica e justifica a doutrina da
evolução.”
“Ora, eu
venho demonstrando, (e tenho como certo havê-lo feito rigorosamente) a evolução
da força, desde o calórico, que cria a polarização, a qual produz a coesão e a
afinidade, que, congregadas e transfundidas, constituem a força vital ou Biogênica que
se desdobra em assimilatividade, motricidade e sensitividade, cuja sincretização
se denomina força fitogênica, quando
cria o reino vegetal, e zoogênica, na
criação do reino animal.”
“A força
vital – bio-fito-zoogênica, se converte, por síncrise, em força psíquica, alma
humana – pelo predomínio da sensitividade que, em sua evolução, produz o tato, a gustação, o olfato, a audição, a visão e os sentidos; neles se manifestando a ação da inteligência.”
“A
vontade tem sua origem na síncrise da sensitividade
com a motricidade, predominando esta como fonte de energia.”
“Da
união da inteligência com a vontade nasce a
consciência animal, que se converte em consciência espiritual.”
“A
consciência espiritual ou moral é, pois, um aparelho, mas aparelho anímico,
dinâmico, não-material, psíquico, constituído pela memória, atenção, percepção
e compreensão; iluminado pela razão, nele se refletem todos os atos da força psíquica.”
“Para
que possa condenar, como condena, não só os atos, mas os sentimentos e os
pensamentos que não traduzem o amor ao próximo, é preciso que a consciência
seja influenciada por princípios (seres) de ordem superior.”
“Ela é,
assim, um aparelho sensitivo espiritual, pelo qual a Força se comunica.”
“A consciência é na
criatura, o que o poder judiciário é no Estado.”
“O livre-arbítrio é o
fundamento da moral.”
“O
livre-arbítrio é a vontade esclarecida pela razão, perante a consciência.”
“Alguns filósofos
– os deterministas, os fatalistas, os materialistas – negam o livre-arbítrio;
os primeiros, fazem da criatura humana um autômato, um animalejo sob a ação das
forças externas; os segundos, a reduzem às condições dos corpos brutos,
inorgânicos, sobre os quais operam, sem contraste, as forças da Natureza; os
últimos, considerando a alma uma simples função cerebral, nem ao menos lhe
atribuem a individualidade.”
“Esquecem-se,
aqueles, de que a alma humana é um ser inteligente, dotado de atividade; os materialistas,
fingem ignorar aquilo que se passa em si mesmos.”
“Todos
eles não se lembram de que negando o livre-arbítrio, eliminam a
responsabilidade moral; reduzem a criatura humana às condições do bruto.”
“O
livre-arbítrio é a origem do mérito; ele é, portanto, o fundamento da moral.”
“Termina
aí o ciclo evolutivo da força psíquica, Pela sensibilidade, ela recebe as impressões do mundo externo; pela inteligência, as compreende; pela vontade, age
e reage, opera, produz, cria; pela razão perscruta
o infinito; pela consciência, se
esclarece, pelo livre-arbítrio,
determina o seu destino.”
“¾ Eis a
alma humana!”
“A sua
origem está no infinito; a sua natureza é dinâmica; sua evolução, neste mundo,
se faz através do reino animal – do amibo ao homem, – para continuar –
infalivelmente – em outros mundos”
“Há de
continuar necessariamente sua evolução, porque, como força que é, não se
destrói, não se aniquila: existe, subsiste e persiste; vem do infinito, em
marcha para o eterno.”
“Tudo se
cria; nada se perde.”
“Portanto,
como tudo no Universo, ela vem da Força, caminha incessantemente para o
Infinito Eterno, onde não há princípio nem fim.”
56.
Gênese da alma
Sobre
esse importante tema, diz o Dr. Antônio Pinheiro Guedes:
“A
unidade supõe a continuidade.”
“A
correlação das forças implica, impõe a sua unidade.”
“A
metamorfose da matéria é conseqüência da lei de continuidade.”
“A
sincretização das forças é conseqüência da lei de correlação.”
“A
natureza do problema, cuja solução busquei e venho apresentando, é de tal transcendência
que, até hoje, ninguém ousou, que eu saiba, ainda ninguém intentou, sequer,
formulá-lo e considerá-lo de ânimo resoluto.”
“¾ O
que é a alma humana? ¾ Qual a sua origem? ¾ Como se formou? ¾ Gera-se com o corpo? ¾ Já existia? ¾ De onde vem?”
“São
interrogações que se levantam diante dos homens cultos, hirtas, horripilantes,
quais íngremes montanhas de gelo, que ninguém pensa escalar, porque parece
impossível realizá-lo.”
“O
impossível está sempre diante da fraqueza humana.”
“Mas,
quantos impossíveis o gênio do homem tem vencido?”
“O que é
a vida, senão uma luta, sem tréguas, com o impossível?!”
“A vida
é impossível sem o fogo; a criatura humana descobre o meio de produzir o fogo.”
“Era
impossível transpor os mares: o homem venceu os mares.”
“Quantos
impossíveis se erguem ante o homem, são todos outras tantas batalhas a vencer.”
“O
progresso representa uma série de vitórias incruentas; a civilização, os
despojos opimos.”
“A
ciência, as artes, a indústria são conquistas, representam assinalados triunfos
do espírito humano.”
“Mas
aquele que primeiro tenta vencer um impossível, desvendar um mistério; esse é
tido por visionário, utopista, senão apontado como insensato.”
“Parece-me, pois,
que com a publicação deste trabalho, em que, respondendo aquelas interrogações,
abordo o mais temeroso problema humano, estou a conquistar, na opinião dos meus
contemporâneos, um posto naquelas fileiras, fazendo jus aos qualificativos com
que se costuma brindar aqueles que nelas militam.”
“Oxalá.. . porque: sic itur ad astra.”
“Seja
como for, aconteça o que acontecer, importa galgar os degraus da escada que nos transporta às alturas.”
“As
soluções, até hoje dadas, são antes respostas evasivas, começando pela dos
teólogos, que respondem com a Bíblia: Deus fez o homem à sua imagem e
semelhança; mas fê-lo de barro, e, bafejando-o, deu-lhe alma e vida; depois
adormeceu-o, e arrancando-lhe uma costela, fez a mulher.”
“Como
essa afirmação é pueril, inverídica, falha de senso e contrária às leis
naturais para aquele que observa, analisa, aprecia a natureza, estuda-a em
todas as suas manifestações, e tem sempre assestado, entre o seu Eu e o mundo
externo, esse instrumento maravilhoso que eu denominei criptoscópio, ante o
qual passam todas as coisas, todos os fatos, todos os fenômenos.”
“A
criação do homem e da mulher, segundo o gênesis, é profundamente ridícula.
Observe-se o absurdo: O Grande Foco (Força Criadora) fazendo operar, como
qualquer cirurgião, a tal ablação de uma costela de Adão, operação por demais
hospitalar e pueril para ser aceita.”
“O erro,
a tolice, começa pela primeira frase bíblica que diz que Deus fez o homem à sua
imagem e semelhança.”
“Ora,
toda imagem é limitada, por ser a representação, a cópia, a reprodução de uma
coisa, de um objeto, de uma figura, enfim.”
“Essas
duas expressões, portanto – imagem e semelhança –, não podem ser tomadas a
sério, com relação a Deus (Grande Foco).”
“Ele é
infinito. O que é infinito não é limitado. O que não é limitado não tem figura,
não tem forma e não pode formar imagem.”
“Semelhante
ao infinito, só o infinito!”
“Deus –
o Grande Foco, como o queiram chamar, não tem forma, mas os espiritualistas o
vêem e sentem em toda parte, nas mínimas coisas que se apresentam à sua visão e
percepção.”
“O
homem, espírito e corpo, é o microcosmo e representa o Universo em miniatura,
porque é constituído dos mesmos elementos.”
“Deus é,
na essência, puro espírito a animar o Universo. O espírito humano, partícula
sua, anima o seu corpo.”
“Deus é eterno. O
espírito humano é imortal.”
“Deus é
onisciente. A criatura humana é inteligente.”
“Deus é
onipotente. O espírito humano possui vontade.”
“Deus é
absolutamente livre. O espírito humano tem livre-arbítrio.”
“Deus é
Criador onisciente, onipotente, eterno, infinito. O espírito humano é criador
inteligente, volitivo e também infinito[3] .
Atribuir, porém, a Deus a figura material do homem. não é só um absurdo, é
profundamente ridículo.”
“As
doutrinas e teorias metafísicas, (inclusive a bíblica) dos teólogos e
filósofos, acerca da origem e natureza da alma, são, de tal sorte anagógicas e
infundadas, que não merecem discussão.”
“E assim
também as teorias materialistas, que nem admitem a existência da alma,
confundindo fenômenos anímicos com funções cerebrais.”
“Fiz
essas considerações, que julguei indispensáveis ou ao menos convenientes, como
um ligeiro retrospecto, para servir de elo entre o passado e o futuro; também
para exteriorizar, como um refletor, as emoções de meu espírito previdente,
assistindo, como observador antecipado, às peripécias que o embate destas
teorias e doutrinas há de provocar, em todos os arraiais, desde os
materialistas até os espiritistas.”
57.
A força psíquica
Tudo
se cria, nada se aniquila.
O
espírito, eterno viajante.
“A força psíquica –
transmutação da zoogênica em que se converte a biogênica para criar o reino
animal, depois de ter sido força vital, quando criou a matéria orgânica, como
demonstrei – desdobra‑se, desenvolve‑se, multiplica‑se e vai adquirindo vigor,
à medida que avança na construção dos instrumentos, com que há de erguer o
edifício, o monumento, que é o corpo humano.
Pela assimilatividade, uma das alavancas com
que trabalha a força zoogênica, o organismo monocelular aumenta de volume,
cresce e multiplica‑se, como ficou demonstrado; e assim, pelos processos que expus,
se criam os organismos policelulares.
Aí, a sensitividade cria o tato; o primeiro e o mais geral de todos os sentidos, o único
que se encontra nos animais inferiores, os protozoários.
A
motricidade cria a locomoção: a princípio, simples deslocamento por ondulação
ou propulsão, por saltos, como nos animálculos infusórios, bactérias e outros:
depois, a verdadeira locomoção, como nos animais superiores, passando,
sucessivamente, por todas as graduações, até atingir a perfeição, como no homem
A força
psíquica é, na essência, a sensitividade inteligenciada.
As duas
outras alavancas zoogênicas – assimilatividade e motricidade – são apenas
auxiliares prestimosos; esta vai buscar os elementos
que aquela afeiçoa e congrega.
Assim,
pois, a sensitividade, que é a polarização vitalizada, criado o tato, primeiro
e o mais geral de todos os sentidos, base inicial dos outros todos, vai dotando
o organismo dos aparelhos necessários à sua conservação e aperfeiçoamento: a
visão, a audição, a olfação e a gustação, que são simples modificações do tato;
são tatos especiais criados pela necessidade orgânica ou vital de receber a
impressão das diversas ordens de movimentos produzidos pela variedade infinita
das vibrações do éter, de que o organismo se apercebe gradualmente; não
sentindo, a princípio, senão as mais intensas ou as mais grosseiras, de que o
tato dá conhecimento.
Não sei,
ao certo, qual dessas modificações do tato precede as outras; pela observação
direta, não se pode saber, pois que os rudimentos dos aparelhos da visão e da
audição se encontram nas medusas e até em alguns infusórios, postos que não
reunidos no mesmo indivíduo.
Os
aparelhos da olfação e da gustação também estão no mesmo caso; são mesmo menos
distintos nos animálculos, sendo, entretanto, os vigias na nutrição.
Mas,
refletindo sabre as condições das funções a preencher, e sobre a urgência das
necessidades a satisfazer, julgo, pelo que o criptoscópio me faz ver, que a
urgência da visão, sendo maior, mais instante, porquanto ela fornece maior soma
de elementos instrutivos, além de que as vibrações luminosas são mais
constantes e mais excitantes do que as sonoras, a visão deve preceder a audição.
Cumpre
ainda notar, em virtude das ponderações quanto à urgência das necessidades a
satisfazer e quanto às condições da função, que o criptoscópio – a nossa razão
–, nos induz a proclamar que a gustação e a olfação precedem a visão e a
audição: porquanto estas funções se prendem à vida orgânica, são as sentinelas
da nutrição e obedecem à inervação ganglionar, a que não estão imediatamente
sujeitas a audição e a visão.
Criados
os aparelhos destinados à conservação do individuo e da espécie; providas a nutrição e a reprodução, a força
psíquica, manejando as suas alavancas, preparou os instrumentos com que se
apercebe dos fenômenos que se operam fora do organismo, mas atuam sobre ele; e
os criou à medida que a necessidade se fazia sentir pela repetição insistente
das mesmas impressões.
É assim
que a necessidade cria a função, e esta o órgão que a exercita.
E tanto
é assim, tanto é certo que a necessidade cria a função, e esta o seu órgão, que
os protistas exercem as suas funções sem órgãos; eles não têm nervos.
Provido
o organismo dos meios de manter‑se e reproduzir‑se, e também das condições para
aperceber‑se do que se passa fora, no ambiente, no mundo externo, foi criado o
que rege as funções da vida orgânica, de cujos pares de gânglios superiores se
forma, depois, o cérebro com o cerebelo e todo o sistema nervoso que serve para
a vida animal. A força psíquica se
exalta, incitada, ainda agora, pelos fenômenos do mundo externo, que a
despertam e ativam. agindo, incessantemente, sobre o organismo, de cujo fato
resulta, provém, nasce a necessidade para ela de apreciá‑los e avaliar a sua
influência, a fim de utilizar‑se deles ou repeli‑los, quando nocivos, ou
modificá‑los, tornando‑os prestáveis.
É isso o
que constitui a função primordial da vida psíquica – a atenção que, analisada com o concurso do criptoscópio, não é senão
a sensitividade agindo em esfera mais ampla, mais complexa, mais elevada – a
vida de relação.
A
sensitividade deixa de ser o que era – apenas alavanca da força vital bio‑zoogênica,
para converter‑se em sensibilidade,
que é um instrumento mais
aperfeiçoado, preparado para receber impressões de fenômenos de outra ordem,
menos grosseiros e mais complexos, produzidos por agentes menos materiais, mais
numerosos e de diversas naturezas: as criaturas, as sociedades, as idéias, o
pensamento nas suas diversas manifestações e múltiplas expressões – a mímica, a
fala, a escrita, a música, a pintura, a escultura, etc., e a atenção que,
recolhendo e apreciando as impressões do tato, da vista, do ouvido, do olfato e
do paladar, as transforma em sensações, graças à sensitividade.
É
difícil, é mesmo quase impossível, acompanhar a evolução da força, nestas
alturas: falta‑nos o apoio, somos tomados de vertigem.
Enquanto
a pesquisa versa sobre fenômenos materiais, como são os fisiológicos, encontra‑se
apoio, o terreno é firme: desde que, porém, a investigação recai sobre fenômenos
psíquicos, de ordem puramente espiritual, o apoio falta, o terreno não é
sólido, a região não é alumiada, apresenta muitas cavernas, cada qual mais
escura, ligadas por numerosos caminhos, comunicando‑se entre si: um verdadeiro
labirinto”.
58.
A formação da inteligência
“A
inteligência – prossegue o Dr. Pinheiro Guedes – é para o espírito o que os
sentidos são para o homem. Inteligência, entendimento, intelecto e inteléquia
são os vocábulos, com que se nomeia a faculdade, o poder, a capacidade que
possuímos de conhecer, distinguir, separar, diferenciar de nós mesmos tudo
aquilo que nos cerca; tudo quanto vemos, ouvimos, cheiramos, saboreamos e
apalpamos; tudo o que nos impressiona ou afeta, de um modo qualquer.”
“É por
essa faculdade que nós apreciamos e diferenciamos as impressões que nos vêm do
mundo externo, daquelas que se originam e surgem ou despertam no nosso foro
íntimo, sem nenhuma provocação estranha; e as designamos: aquelas, com o nome
de sensações, estas, com o de emoções.”
“As
primeiras nos chegam por intermédio dos órgãos dos sentidos, as segundas, são
filhas genuínas de nossa alma, fruto de partenogênese.”
“Assim,
pois, a inteligência – que é Força, Espírito ou Luz – admiravelmente
constituída, a irradiar por todos os órgãos dos sentidos, recebe, por
intermédio desses mesmos órgãos, as impressões que, transformadas pela
inteligência em sensações, criam as idéias,
pensamentos e sentimentos; e assim
também as emoções, tudo discernindo.”
“A sensação é um
fenômeno complexo, misto de fenômenos diversos: físicos – a impressão, o abalo;
fisiológicos – a comoção nervosa e a sua transmissão ao cérebro; psíquicos – a
apreciação e a discriminação de sua origem e caráter; o efeito – simpático ou
antipático, a reação orgânica de atração ou repulsão; e, finalmente, a
retenção, conservação ou arquivamento da emoção. Temos assim o conhecimento
pleno, íntimo da emoção e do agente emocionante, como coisas distintas do
paciente – o emocionado.”
“É isso
que os cientistas e alguns filósofos denominam consciência, o Homo compos sui.”
“É essa consciência
que estabelece distinção entre o "eu" e o não "eu", e
separa o mundo externo do interno; é ela que os materialistas confundem com a
consciência moral, balança onde são pesados todos os nossos atos, tribunal
espiritual onde são julgadas todas as nossas ações.”
“Essa
consciência, que eu denomino consciência orgânica ou animal, conscienciosidade, o homem a compartilha
com os irracionais; é o que neles se chama instinto.”
“O
instinto é um movimento da alma, espontâneo ou provocado por uma impressão
brusca, irritativa, do mundo externo, que determina uma reação a que o vivente
obedece automaticamente; ele é a síntese da sensitividade com a motricidade
criada para defesa da vida; ele é luz, aviso, guia do animal, principalmente do
irracional.”
“Há dois
instintos principais: o da conservação e o da reprodução, servidos por órgãos
especiais; para o primeiro, os do aparelho digestivo; para o segundo, os do
aparelho sexual; em ambos, predominam a inervação da vida vegetativa, o sistema
ganglionar ou nervo grande simpático.”
“O
instinto de conservação tem por sentinelas a fome e a sede, que se localizam,
se fazem sentir como necessidades urgentes nos órgãos do aparelho digestivo;
ele gera o egoísmo, com o seu cortejo de sentimentos individualistas, o
egotismo.”
“O
instinto da reprodução, cujo objetivo é perpetuar a espécie, é como que uma
evolução do outro; ele tem por escudeiro o amor, mas amor sensual, que eu
denomino afinidade fisiológica, a
qual é o germe, a origem da simpatia entre os racionais, – atraídos pela lei
natural da reprodução da espécie – o casamento – a união de corpos, da qual
pode nascer e desenvolver-se o mais belo e sublime dos sentimentos – a amizade
verdadeira, que é aquela que nasce do amor espiritual, com a sua coorte de
sentimentos filantrópicos – o altruísmo.”
“A idéia,
de dar por sede do amor o coração, é erro, e grave; denota falta de
conhecimentos ou de prudência ao raciocinar, pois não se pode atribuir ao
efeito aquilo que somente pertence à causa.”
“A sede
do amor está na alma – Força, ou Espírito, é ela a causa ou origem de todos os
órgãos que compõem o corpo, é ela quem os irradia e vivifica através de cordões
fluídicos, mas é preciso que não se atribua a órgãos receptores e
distribuidores aquilo que só pode residir e pertencer à alma: a amizade ou o
amor.”
“Pelo fato de o coração ser o elo que prende a vida
orgânica à psíquica – laço entre a vida material e a espiritual – não pode ser
ele o depositário do amor; ele nada mais é que o centro circulatório, o
propulsor da vida orgânica e repositório e distribuidor dos elementos vitais.”
“O
sangue, propelido pelo coração, se distribui por todo o corpo, fornecendo a
todos os órgãos os elementos de vida e dando-lhes vigor para o exercício de
suas funções individuais e coletivas, particulares
e gerais; e assim o cérebro e toda a inervação da vida animal se acham sob a
dependência do coração; porém a sede, o órgão do amor espiritual está na Alma –
partícula da Força – que é a suma, a síncrise de todos os sentimentos, o
sentimento que converte o homem e o transmuta em pureza, aproximando-o da
Verdade.”
“Por esta
resenha se vê que a conscienciosidade, síncrise
da sensitividade com a motricidade, é a base, o fundamento para o cultivo da
inteligência: a lapidação do espírito.”
59.
A percepção, a memória, a compreensão, a concepção e a imaginação
Em
continuação, ensina o Dr. Pinheiro Guedes: “Cada aparelho sensitivo recebe e
transmite ao cérebro, que é o órgão receptor da inteligência, a impressão de
uma certa ordem de fenômenos; estas impressões convertem‑se aí em sensações,
cuja origem, caráter e efeitos são discernidos, estabelecendo distinção entre o
agente emocionante, a emoção e o emocionado; e isso constitui o que se chama
consciência, o Homo compos sui.”
“Há em
tudo isso, ou além disso, um esforço, atividade, certa energia; é a atenção.”
“A
sensibilidade, a atenção, a consciência e o senso íntimo, auxiliando‑se
reciprocamente, são centelhas da
inteligência, em cuja função se notam a percepção, a compreensão e a
concatenação ou memória, que são processos intelectuais.”
“A
percepção é como um instrumento agudo, penetrante, ou uma sonda de que nos
servimos para explorar; é como o tentáculo dos insetos; é o órgão do tato do
nosso Espírito.”
“Excitado
pela atenção, ele apalpa a consciência animal, orgânica – o sensório; esse é o
modo de agir da força psíquica sobre as suas sensações e emoções.”
“A
percepção é para o Espírito, o que os sentidos corporais são para o homem; ela
é a sua recapitulação.”
“A
memória é o registro e o arquivo das sensações, emoções convertidas em idéias,
pensamentos e sentimentos.”
“Ela
exerce, no mundo psíquico, a mesma função que a coesão e a afinidade, no
corpóreo.”
“O
agrupamento, a concatenação, o registro e o arquivamento de tudo quanto impressiona
ou afeta o nosso Espírito, se opera, se efetua, faz‑se e realiza‑se por
continuidade e contigüidade, por simpatia ou antipatia, por analogia ou
antagonismo, por similitude e antítese, não só das idéias e sentimentos, mas
também das imagens.”
“A compreensão é um
instrumento mais complexo do que a percepção, e constituído diversamente: só
funciona em operações cujos elementos são idéias.”
“Na sua
estrutura, além da atenção e conscienciosidade, elementos que concorrem para a percepção, entra a memória, que é o
repositório dos elementos necessários à operação preliminar – a comparação, que
constitui a base da compreensão e é o processo mediante o qual ela se efetua.”
“A compreensão é
como um instrumento detentor, uma concha polida, um espelho côncavo, para cujo
centro convergem as imagens refletidas da periferia.”
“Ela colhe, abrange, analisa e compara as
sensações e emoções, os pensamentos e sentimentos.”
“São
esses os instrumentos e aparelhos da inteligência, mediante os quais adquirimos
conhecimentos, nos instruímos e aperfeiçoamos.”
“O
raciocínio, a abstração, a generalização, a comparação e o juízo, como
elementos do intelecto, são funções, são operações do entendimento, cuja
matéria‑prima é a idéia, o pensamento.”
“Eis aí
como age a inteligência, e como atua em todas as espécies animais, desde os
infusórios até os antropóides, cada qual com o seu contingente; eles (os
animais) são as oficinas, os laboratórios onde se forjam e afeiçoam os
instrumentos e aparelhos, cujo aperfeiçoamento
se há de completar no laboratório, que é a recapitulação de todos os outros – o
homem.”
“A
inteligência no homem é uma oficina completa e perfeita; ela possui todos os
instrumentos necessários à inspeção do Universo, à análise e à síntese de todos
os fatos da natureza e à descoberta das leis que os regem.”
“A
inteligência humana dispõe de recursos como a de nenhum outro animal no mundo;
ela maneja instrumentos que todos os animais só reunidos apresentam; e ainda
outros mais perfeitos, constituídos pela junção de alguns daqueles, formando
aparelhos mais sensíveis e de maior alcance: a concepção, a imaginação e a
razão.”
“A
concepção cria idéias; é um aparelho constituído pela memória, atenção,
compreensão e percepção.”
“A
imaginação cria imagens, figuras, formas; é constituída pelos mesmos
instrumentos que a concepção, mas concatenados segundo a função que têm de
preencher, e mais a inventiva, que é constituída pela apreciação, comparação e
apropriação de formas por analogia (adequabi1idade); faculdades, cuja origem, o
criptoscópio descobre na Polarização.”
“A
concepção compara, combina sensações, cuja essência é a modalidade; a
imaginação compara e combina impressões cujo caráter é a forma.”
“A razão
é o mais complicado, o mais perfeito, o de mais alcance e de mais utilidade dos
aparelhos da inteligência; é a reunião, a síncrise de todos os outros; e por
isso funciona como superintendente; todas as operações, todos os trabalhos
feitos na oficina intelectual lhe são submetidos; e, mais do que tudo isso, ela
é a luz da oficina.”
“A
inteligência é para o homem o que é para o Estado o poder legislativo".
60.
A evolução da alma, a lei do trabalho e a lei da reencarnação
“A
evolução é uma lei a que tudo está sujeito no Universo. A evolução da alma
humana, à luz da razão, é intérmina. Uma vez adquiridos os recursos,
conquistados os meios, alcançados os postos que a necessidade ia criando,
sucessivamente, sob a imposição dos fenômenos impressionantes do mundo externo,
na sua variedade quase infinita, no Universo considerado estática e
dinamicamente – a força psíquica humanizada – a alma humana aperfeiçoa‑se e
progride, perlustrando a escala dos seres humanos que se diferenciam, formando
classes distintas, pelo caráter, pelo saber e pela moral.”
“E a
evolução não pára aí, mesmo neste mundo.”
“Necessidades
de outra ordem, mais complexas, oriundas do agrupamento dos indivíduos em
famílias, em sociedades, em povos, modificam a alma, compelindo‑a a amoldar‑se
às contingências do meio (lei de adaptação aplicada à alma); e, desse modo, as
arestas, as agruras, as asperezas, as sombras deixadas pela hereditariedade,
que só o é na parte material (outra lei proclamada pelo sábio Darwin) são
cortadas, aplainadas, brunidas, esbatidas; e assim a alma se despe, se limpa
das impurezas que trazia da longa jornada percorrida do berço à virilidade , da
criação à individualização; e neste último estágio, que é o do aperfeiçoamento,
percorre os agrupamentos – a família, a sociedade, a nação.”
“Assim,
pois, as diversas condições em que se realiza, em que se efetua a vida
corpórea, as circunstâncias que a rodeiam, as peripécias que se dão, são outros
tantos meios, são outros tantos incentivos à evolução, ao aperfeiçoamento, ao
progresso do Espírito.”
“Portanto,
as dificuldades e misérias da vida, as lutas contra as intempéries, as
necessidades de toda espécie – materiais, intelectuais e morais – são os
aguilhões, os instigadores, os promotores do progresso humano.”
A LEI DO TRABALHO
O trabalho é a
alavanca do progresso.
"A lei do
trabalho, imposta à criatura pela necessidade de obviar as intempéries, vencer
as dificuldades, suprir as necessidades, minorar o sofrimento e sobrepujar‑se
nas lutas, dominando os elementos adversos e tirando partido das
circunstâncias; o trabalho é o corretivo de todos os males que assediam a
humanidade; o bálsamo sagrado que cura todas as chagas, o lenitivo de todas as
dores.”
“O
trabalho, portanto, não é, nem pode ser, um castigo (como alguém o disse e
impensadamente se vai repetindo), imposto à criatura por Deus.”
“¾ Pura
mitologia! O Universo tem as suas leis imutáveis, e dentro delas tudo é
regido.”
“¾
Ninguém, até hoje, se deu conta da blasfêmia que tal idéia encerra?”
“¾
Ninguém protestou ainda contra o pensamento nefando de atribuir à Inteligência
Universal, tamanha perversidade?!”
“Considerá‑lo
castigo, é tirar‑lhe o mérito, negando‑lhe a espontaneidade.”
“Se o
trabalho é castigo, a submissão é filha da obediência, e prova humildade; mas a
punição provoca a revolta, filha da insubmissão, que nasce do orgulho.”
“As
sábias leis do progresso, quando bem interpretadas, jamais provocariam a
revolta!”
“¾ O
trabalho é imposto aos irracionais. Qual o crime dessas criaturas?”
“¾ Não!
O trabalho não é punição; nem todo o sofrimento é castigo, como demonstra o dos
irracionais.”
“Se o
trabalho é punição, é prêmio o sofrimento!”
“O
trabalho, não; os trabalhos, sim, são castigo, são a justa punição das faltas,
dos erros e dos crimes.”
“Todo o
sofrimento é um aguilhão do Progresso; e o trabalho o meio, o modo de realizá‑lo.”
“É por
ele que todas as criaturas efetuam a sua evolução, e o homem, só arrimado a
esse bordão, caminha pela estrada do progresso para a perfectibilidade.”
“Se, pois, como procurei demonstrar, as diferenças
intelectuais e morais de indivíduo a indivíduo, representam graus de progresso;
e essa gradação existe nos agrupamentos que constituem a família, a tribo, a
sociedade policiada, o povo, os habitantes, enfim, de uma região, de um
território; é indubitável, é certo que a alma humana, submissa à lei de
perfectibilidadc, perlustra todas essas estações de progresso.”
“Portanto,
terminado o período de sua criação, que se efetua, como ficou provado, através
da série animal, cuja razão de ser é essa,
nem pode ser outra; inicia‑se o da sua individualização na primeira
existência corpórea humana, seguindo‑se a do aperfeiçoamento.”
“E,
pois, certamente, todas as condições, todos os estados em que se apresenta a
criatura humana neste mundo, desde o selvagem e bárbaro até o de maior
civilização, cultura e policiamento, são outros tantos estágios por ela
percorridos; são outras tantas estações na longa estrada de perfectibilidade.”
A LEI DA REENCARNAÇÃO
“Destas
considerações resulta, clara e evidentemente, que a reencarnação é uma
necessidade indefectível, é uma lei psíquica a que o espírito humano está
sujeito.”
“É nela,
e só por ela, que a alma humana pode, perlustrando a via da perfectibilidade,
realizar o seu progresso, aperfeiçoar‑se, depurar‑se e elevar‑se na escala dos
seres à categoria angélica de espírito puro.”
“O espírito puro não tem mais necessidade, não
carece de tomar um corpo carnal (só o fazendo quando se torna preciso ao
progresso da humanidade e do planeta) para evoluir e trabalhar neste mundo,
porque completou o seu tirocínio, tendo atingido o grau de adiantamento intelectual
e moral que ele pode proporcionar.”
“A reencarnação, além de ser uma
necessidade, pois que sem ela o Espírito não pode aperfeiçoar‑se, é também o meio de que ele pode socorrer‑se para
reparar as suas faltas, provando assim um arrependimento sincero.”
“Uma
vida, uma existência corpórea, por mais longa que seja, é insuficiente,
incontestavelmente, para a criatura, por mais inteligente que seja, adquirir a
totalidade dos conhecimentos, que são o cabedal, os tesouros da humanidade.”
“Demais,
a inteligência desenvolve‑se, evolui, como tudo no Universo; não surge
completa, perfeita, como Minerva da cabeça de Júpiter:”
“Se um
aluno perde o ano, por desídia, por não haver estudado ou porque sua
inteligência não é bastante lúcida, ele não fica inibido de repetir o curso,
seu pai não o priva, antes anima‑o, compele‑o mesmo a fazê‑lo.”
“¾ Por
que, pois, há de a Inteligência Universal impedir suas partículas, as
criaturas, de repetirem o curso desta escola, privando‑as assim do único
recurso de que podem dispor para aprender as lições racionais e científicas já
explanadas por Jesus e que também nos ensinou a amar ao próximo com a nós
mesmos?”
“¾ Onde
está esse que tenha dado provas positivas de saber a lição, em uma única
existência?”
“¾
Como, pois, atribuir à Bondade Infinita, ao Grande Foco, a crueldade sem nome de tolher a criatura, tirando‑lhe
a possibilidade única de ser discípulo aproveitado da Verdade, como todos devem
e hão de ser?”
“¾ Não!
Tal coisa não é possível; a Inteligência Universal não comete iniqüidades.”
“A
criatura não é feitura direta do Grande Foco. Se o fosse, seria pura, perfeita;
não estaria cheia de iniqüidades: se estiver cheia de iniqüidades, está impura,
é imperfeita; mas, como essência, é partícula do Grande Foco ou da Inteligência
Universal.”
“Para
que se realize a Verdade; para que a criatura venha, quando alma, a
confundir-se com o Grande Foco e seja também luz puríssima, tem de aperfeiçoar‑se
dia a dia, para purificar‑se.”
“Mas o
Grande Foco é infinito; a perfeição é infinita; logo, a criatura é perfectível:
contudo não pode atingir o alvo, não pode aproximar‑se do modelo, sem
perlustrar o caminho da perfeição, que é, não pode deixar de ser, infinito.”
“Portanto,
são necessárias jornadas sucessivas e infinitas, para percorrê‑lo.”
“Essas
jornadas da alma são as existências sucessivas – as reencarnações do Espírito.”
“A
reencarnação é, pois, uma lei; a lei do progresso espiritual, que não pode ser
frustrada, à qual todos os espíritos têm de submeter‑se, absoluta e
necessariamente; todos, sem exceção de um só, e ab initio in aeternum.”
61.
Que é o mundo?
A oficina, a escola, o hospital, a penitenciária e o
teatro
Ainda o Dr.
Pinheiro Guedes:
Essas epígrafes dizem sinteticamente o que é o
mundo; são as teses que me cumpre desenvolver, para completar o monumento da
origem, natureza e evolução da alma humana. A demonstração dessas teses vem
coroar a obra; como uma bela cúpula sobre um edifício majestoso, completa‑o,
aformoseia‑o e o realça.
A oficina
O mundo é
para a alma humana ou Espírito apenas individualizado, ainda no início de sua
evolução, uma oficina de trabalho e uma escola de educação.
Ao
Espírito – verdadeiro aprendiz que apenas acaba de fazer sua entrada na oficina
– o mundo apresenta, oferece e fornece matéria‑prima, para ser manipulada e
mestres para guiá‑lo.
Os
mestres são os Espíritos cujo tirocínio está concluído, auxiliados por outros,
cujos conhecimentos, cujo desenvolvimento, conquanto não seja completo, é, não
obstante, suficiente para permitir‑lhes a direção em certos trabalhos.
São
considerados e chamados, ordinariamente e erroneamente, “anjos da guarda”,
“protetores”, “guias” – os mestres;
os Espíritos auxiliares são os que têm afinidade espiritual com o encarnado.
Esta é a
norma nas nossas oficinas e escolas, onde os mestres e chefes entregam à
direção de um aprendiz mais adiantado um ou mais condiscípulos.
E sente‑se
e se reconhece que assim é, de fato, realmente, e nem podia ser de outro modo;
não se aprende sem mestre.
A
matéria-prima que o mundo apresenta e fornece ao espírito não é toda da mesma
natureza; ela tem origens diversas: é o fluido etéreo, simplesmente polarizado;
a molécula vegetal e a substância animal; são os fenômenos cósmicos e os
pensamentos e fatos sociais, sentimentos das criaturas.
É
evidente o trabalho do Espírito, quando encarnado, mas o do desencarnado,
conquanto seja menos apreciável, não é menos real, é mesmo mais intenso e de
mais difícil execução; pois que se exerce sobre a matéria‑prima de todas as
origens.
Os
Espíritos, instrumentos da Inteligência Universal, são os executores das leis
universais.
O perispírito – teoria e funções
O Espírito encarnado labora a matéria de seu corpo
e maneja todas as substâncias do mundo: mecânica, física e quimicamente.
As
funções orgânicas não se efetuam sem consumo dos elementos componentes dos
órgãos; os elementos gastos são substituídos, simultaneamente, por outros
imediatamente elaborados no seio do organismo.
Nessa
elaboração, notam‑se duas fases distintas, posto que simultâneas: uma, de
separação e eliminação do material gasto; outra, de agregação, assimilação e
consubstanciação da substância orgânica, convertida em célula de cada um e de
todos os tecidos, que formam a estrutura dos órgãos.
Na incorporação de novos elementos, em substituição
dos consumidos, o trabalho do Espírito é nimiamente complexo a delicado: cumpre‑lhe
atender à escolha da matéria, ao afeiçoamento e distinção dos elementos segundo
as funções; ele se transfunde no elemento que incorpora; ele o absorve e
individualiza, imprimindo‑lhe um cunho peculiar, dando‑lhe uma feição
exclusivamente sua; ele o vivifica.
Na fase
de eliminação do material gasto, o trabalho reduz‑se à segregação dos resíduos
– fluidos, líquidos e sólidos, os quais levam consigo as disposições, a
vitalidade que adquiriram no organismo de onde se desprenderam.
Assim,
pois, ao repositório geral, (vide a obra
A vida fora da matéria) voltam as moléculas e átomos, levando consigo as
modificações que receberam.
De
simples matéria inorgânica, passaram a substâncias orgânicas; de simples
substâncias orgânicas, tornaram‑se elementos vegetais e elementos animais.
Em cada
um desses estados, o fluido etéreo que acompanha o átomo, a molécula, a célula,
recebeu modificações que !he imprimem uma modalidade peculiar a cada corpo.
Todos os
corpos desprendem emanações que, se escapam à nossa vista, são observadas pelos
médiuns, que as descrevem como formando uma atmosfera, um halo, em torno de
todos eles, inclusive os minerais.
É a aura
dos esoteristas, ou o perispírito dos espíritas.
Do que
fica exposto se infere, logicamente, que o Espírito elabora o seu perispírito,
desde o início de sua formação e individualização: ele é a sua pele e o seu
arcabouço. É como a corrente elétrica, de que ele é o dínamo; o azeite, de que
ele é a mecha; são inseparáveis, ab
aeterno in aeternum.
O
perispírito tem por base o fluido etéreo do mundo a que pertence o espírito.
Há,
portanto, muitas ordens de auras ou atmas ou perispíritos, desde os que
envolvem os corpos brutos, até os que
provêm da criatura humana; mundos de diversas categorias, de cujo fluido ou
auras que os envolvem, forma o espírito humano o seu perispírito, o seu fluido
nervoso, do qual se serve o espírito para colorir a sua aura, conforme a sua
categoria espiritual.
As
muitas ordens de auras humanas, portanto, são produzidas pelo espírito, com o
fluido vital que lhe é próprio e com o que atrai das zonas, estados, ou mundos
superiores; são o reflexo do seu próprio “Eu”, e assim do seu sentir, conforme
afirmamos em nossas lições anteriores.
O
trabalho do Espírito encarnado não se limita ao que acabo de indicar, mas
abrange todo o ciclo da atividade humana, na labuta da vida, para satisfazer as
suas necessidades, no afã do serva to
ipsum; e vai além: suas idéias, os pensamentos que formula, as imagens que
cria, os sentimentos que o agitam e impulsionam, vivem e se movem com o seu
perispírito; são agentes que o encarnado maneja.
É prova
disso a hoje bem conhecida transmissão do pensamento.
E, como o
pensamento, também o sentimento se transmite.
A
sugestão e a obsessão têm a sua base na vontade e pensamento.
O
espírito desencarnado utiliza‑se desse fluido para realizar os seus trabalhos,
servindo‑se do animalizado para se materializar, tornar‑se visível e palpável;
e se tem de apresentar a forma de um animal ou um vegetal, ou o movimento, a
deslocação de corpos, recorre ao fluido correspondente à natureza do fenômeno
que quer produzir; buscando o da espécie animal e, mais particularmente, o
idêntico ao tipo: mamífero, ave, inseto, réptil, etc. (vide o livro A vida fora da matéria).
Como se
vê, o laboratório é vasto, e os operários que produzem a matéria‑prima (o
fluido polarizado, nos corpos minerais e vegetalizado e animalizado nos
viventes) devem trabalhar, e trabalham efetivamente, sem cessar, a fim de
fornecer os elementos de que se servem os Espíritos desencarnados para produzir
a variedade infinita dos fenômenos do Universo.
E assim o
mundo é uma oficina de trabalho, tanto para o Espírito encarnado, como para o
desencarnado.
A escola
Como escola
prática de educação, o mundo oferece ao espírito dois grupos distintos de
aulas: um, destinado à instrução propriamente dita, cultura intelectual; outro,
destinado à educação e cultura moral.
Na
oficina, o espírito vitaliza e animaliza a matéria, tornando‑a apta para formar
o corpo astral, corpo anímico ou perispírito.
É esse o
trabalho que, com o auxílio do criptoscópio, lobrigamos na oficina.
A escola,
no seu grupo de aulas para cultura intelectual, é tão completa, tão pródiga
mesmo, que nenhum aluno conseguiu ainda nem jamais conseguirá completar o
curso, senão após numerosas matrículas, (reencarnações) para freqüência com
assiduidade e aproveitamento.
No grupo
das de cultura moral e formação do caráter ou educação propriamente dita, as
aulas são ainda mais numerosas, constituindo diversos cursos, cada qual mais
difícil; desde aquele em que se deve modificar uma simples disposição viciosa,
até aqueles em que devem ser corrigidos defeitos e vícios inveterados: a
vaidade, a desídia, a luxúria, a inveja, a maledicência, a mendacidade, o
latrocínio, o ciúme, a ira, o ódio, o orgulho e outros tantos vícios que tornam
o homem infeliz e fazem o atraso da humanidade.
Na
oficina, o espírito pule a matéria; na escola, ele é polido pelo atrito das
paixões com os interesses: lá, o esmeril é a necessidade; aqui, a dor.
Quer
num, quer noutro caso, a reencarnação, ou volta do espírito à vida corpórea, é
a matrícula na escola; ela não só é indispensável, como ainda é o único meio, é
o único recurso que há para freqüentar as aulas; e, sem essa freqüência, a alma
não pode mostrar‑se habilitada; sem estar habilitada, não terá acesso,
permanecerá na escola, como ouvinte, sem direito ao exame, à prova; direito que
só a matrícula – a encarnação – ou o trabalho em corpo astral, pode dar.
A
matrícula – a reencarnação – se repetirá tantas vezes quantas forem necessárias
para completa e perfeita habilitação do espírito, demonstrada por provas
irrefragáveis, Então, mas só então, a partícula do Grande Foco passará a ser
Espírito puro, capaz de evolar a outro mundo mais adiantado.
Muitas
são as moradas (mundos) que se movimentam no Espaço, disse Jesus mas de suas
palavras também se infere que este mundo,
sendo uma das moradas, é igualmente a escola de que é ele o Mestre.
Ora, a
Astronomia nos ensina que as estrelas que giram em torno do Sol, são outros tantos mundos; e, portanto, na frase
de Jesus, outras tantas Escolas, para onde e por onde o Espírito terá de
passar, impreterivelmente, na sua marcha evolutiva para a perfectibilidade.
Sendo os
planetas moradas dos espíritos, dessas moradas é composto o Universo; e o
Universo é infinito.
Logo, a
marcha evolutiva do espírito para a perfectibilidade é intérmina; a perfeição
está no infinito, que é a Inteligência Universal ou o Grande Foco.
O hospital
Fácil é
a demonstração de que o mundo é um hospital para as criaturas.
A alma
humana é o produto da evolução da Força, através do reino animal.
Ficou
provado que o fluido etéreo é inseparável do átomo, e se revela, como aura, em
todos os corpos e seres, apresentando as modificações que cada grupo lhe
imprime.
Ora, a
alma humana se forma, atravessando a fieira animal, do micróbio ao antropóide.
Cada
indivíduo imprime certa modificação à sua aura, ao seu perispírito, segundo as
necessidades de sua existência (a sua vontade).
Cada
indivíduo concorre para constituir o caráter do grupo, que se compõe de
diversos graus, desde a variedade, até á espécie; o perispírito retém, guarda,
conserva a modalidade adquirida durante a vida corpórea do ser.
E, pois,
a força psíquica, quando chega a ser Espírito humano – alma – tem
necessariamente gravada no perispírito todas as qualidades distintivas,
características das espécies animais; qualidades que são as condições
absolutamente indispensáveis à manutenção da vida para cada um deles; para
este, a audácia, para aquele, a timidez; ora, a ostentação, logo, o disfarce; e
assim: a astúcia, a ganância, a velhacaria, a versatilidade, a hipocrisia, a
imprudência, a vaidade, o orgulho, a teimosia, a ferocidade e muitíssimas
outras que o estudo da vida dos animais tem patenteado, que são virtudes nos
animais e vícios no homem.
Além
dessas disposições viciosas, oriundas do processo de sua formação, outras são
criadas, hauridas no meio em que se desenvolve o Espírito, proveniente de suas
relações e muitas outras circunstâncias; tais são: a ambição, a mendacidade, o
latrocínio, a venalidade, a maledicência, a luxúria, o fanatismo, o ceticismo,
etc.; os atentados aos bens, a honra e à vida dos seus semelhantes.
Tudo isso
constitui estados mórbidos da alma, mais ou menos inveterados, que importa
curar; e para os quais o remédio está nas variadíssimas condições da vida:
desde o estado selvagem, com sua dureza, até o da maior civilização, com suas
hierarquias e numerosíssimas profissões, desde as mais humildes até as mais
elevadas; com sua multiplicidade de funções, desde as mais baixas e repulsivas,
até as mais honrosas e agradáveis; de um extremo a outro, para cada chaga, se
encontra um bálsamo; para cada cancro, um antídoto; para cada pústula, para
cada úlcera, um cautério. E, como disse Hipócrates: ea quae ferrum non sanat ignis sanat.
A cura, é
sempre possível; ela há de realizar‑se, impreterivelmente; depende de tempo e
da severidade na aplicação do remédio.
E assim,
vê‑se que o mundo é, de fato, um Hospital.
O mundo como
penitenciária
O mundo é
também, indubitavelmente. ai de nós! uma Penitenciária.
Para
prová‑lo basta apontar para as desgraças e misérias da vida, que pesam sobre a
população das grandes cidades.
Os
acidentes, os desastres, os atentados, os crimes – uns bárbaros, outros
hediondos – são outras tantas penas de Talião.
¾ Quem
com ferro fere, com ferro será ferido.
A
cegueira, a surdo-mudez e todos os aleijões de nascença, os vícios de
conformação, as monstruosidades, são, de certo, penas, castigos, expiações.
A ciência
materialista se expande sobre o como de tais fenômenos; sobre o porquê, é muda, por que ela o ignora.
¾ Como
conciliar a justiça indefectível com tais fatos?
¾ É,
ou não, castigo, e castigo tremendo, nascer e viver cego ou surdo‑mundo, sem
pés, sem mãos e até sem pernas e sem braços?
¾ É,
ou não, castigo e castigo cruel, nascer idiota, cretino, epilético?
Ninguém
dirá: ¾
Não! Todos pensam e sentem que o é.
Então a
criatura que nasce em tais condições deve ter já vivido uma existência
anterior, na qual delinqüiu.
A falta
pede, exige o corretivo; o delito, a pena.
Assim,
compreende‑se o fato, reconhece‑se a justiça.
Deus
(Grande Foco) surge em nossa consciência, e o veneramos, e o respeitamos,
cumprindo os deveres.
O mundo como teatro
Mais
verdadeira do que pensam muitos dos que a empregam é a frase: o mundo é um
teatro.
Sim: o
mundo é um cenário, onde se desenrolam os dramas da vida; as comédias, as
tragédias e também as farsas; é mesmo, muita vez, um teatro de bonecos.
Cada
indivíduo é, de fato, um ator no cenário do mundo; e freqüentemente um
comediante, um farsista.
Assim
como o ator é entidade dupla, quando entra em cena, representando uma
personagem fictícia ou verdadeira cujo caráter o autor da peça procura
salientar pelos pensamentos e sentimentos que lhe atribui, os quais o ator tem
de interpretar e manifestar nas atitudes, gestos, entonações da voz e nas mais
insignificantes minudências de uma existência mui diversa da sua; assim também
as criaturas representam duas entidades: uma íntima – a real; outra, fictícia
ou fingida – a que se ostenta na sociedade e se apresenta aos olhos do mundo.
O
entrecho das peças é urdido das fraquezas, vícios e torpezas da mísera
humanidade.
Sobre o
palco, a virtude, a honradez, a inocência triunfam, ordinariamente; mas na
grande cena social, nesse teatro, onde todos são atores, o que triunfa é a
esperteza, a habilidade na arte de iludir; é a dissimulação, a hipocrisia e a
fereza, com que se sacrifica tudo à plutocracia.
A origem
de todas as misérias que constituem a trama, a urdidura, o enredo das comédias
e tragédias que se representam cotidiana e incessantemente neste pandemônio, é
a descrença que lavra nos espíritos, é a sede de gozo neste mundo, porque é
geral a dúvida sobre a realidade de uma vida futura; é o efeito de uma
religião, toda exterioridades, prometendo prêmios e penas irrisórias;
recompensas e castigos, em que ninguém acredita; é a relaxação dos costumes,
fruto do consórcio do sensualismo com o ceticismo.
O desejo,
a sede de gozos inerentes à natureza humana, ligados à dúvida ou à descrença
sobre a realidade da existência da alma e, conseqüentemente, sobre a de uma
vida futura real e positiva; esse consórcio danado produziu a tirania que
avassala, domina, subjuga as sociedades civilizadas, impondo‑lhes uma
organização que cria a necessidade de ilaquear, fingir, iludir, sofismar, para
não perder de todo a liberdade; porque opor‑se, altivamente, lutar às claras, é
buscar ser esmagado, quando se não é esclarecido.
Eis por
que, como o demonstrou Max Nordau, a mentira é a rainha do mundo.
Eis o que
é mundo!
Julgo
haver demonstrado, senão com beleza, ao menos com verdade e clareza, de modo
compreensível, logicamente, a tese relativa à origem, natureza e evolução
da alma humana; indo até à altura
em que a alma tendo se feito espírito puro, evola para outros mundos.
Com o
auxílio do meu criptoscópio, instrumento – a razão – por meio do qual se vê
aquilo que, por sua natureza, não é visível e se pode devassar as regiões
metafísicas, fui até onde era possível, até onde encontrei fenômenos; fui mesmo
além; fui até onde a indução e a analogia me facultaram chegar, prevendo outras
séries de evoluções do Espírito.
Além
está o impossível, o que não pode ser descoberto nem sequer pressentido pela
inteligência, a mais perspicaz, servida por um criptoscópio perfeito,
constituído como ele é até agora.
Aqueles que lerem estas
páginas, sem prevenção de seitas ou escolas, desculpem‑me a ousadia, hão de
reconhecer que elas encerram uma verdade, que representam uma valiosa
conquista, que são o resultado do valente esforço de uma vedete que procura
obedecer ao conselho de Sócrates, quando disse: Nosce te ipsum.
[1]
Leia-se Racionalismo Cristão e A Vida Fora da Matéria.
[2] Referia-se a Guilherme II, guerra
européia de 1914,/1918.
[1] Autor
também do livro “O problema do além e do destino”.
[2]
Epicuro, filósofo grego, discípulo de Xenócrates, (341-270 a.C.), ensinava ser
o prazer o maior bem do ser humano, não devendo este poupar esforços para
desfruta-lo, ao máximo; no entanto – advertia – esse prazer não devia
constituir-se no gozo material, mas na cultura do espírito a na prática da
virtude. Por haver sido interpretada erroneamente a sua doutrina, Epicuro,
homem de rara continência e exemplar virtude, tem sido considerado como um
materialista, cujos horizontes não ultrapassavam os domínios dos baixos
prazeres dos sentidos.
[3] Sobre a
deturpação do pensamento de Epicuro, vide o reparo que fizemos no capítulo 22,
deste livro.