O homem que sabe servir-se da pena, que pode publicar o que escreve e que não diz a seus compatriotas o que entende ser a verdade, deixa de cumprir um dever, comete o crime de covardia, é mau cidadão. Por Júlio Ribeiro.

O mundo dos sonhadores - Por Humberto Rodrigues

A vida é como ela se apresenta. Então, fica claro que não pode ser vivida como certas pessoas sonham.

Os sonhos são construídos pela imaginação fértil, onde as ações movidas por vontade forte inexistem.

Os sonhadores acham que o produto de seus devaneios deveria chegar às suas mãos com facilidade.

Não teriam problemas a resolver se tudo conseguissem sem qualquer esforço. Mas o mundo real é bem diferente do universo fantasioso em que vivem. Ai se revoltam, se queixam da vida que levam. Mas a vida é assim, cheia de dificuldades, de grandes desafios a serem enfrentados e superados.

As diferenças existentes entre as pessoas devem ser compreendidas e toleradas, porque não adianta apontar defeitos nos semelhantes se a própria pessoa não percebe que ela mesma tem imperfeições a corrigir.

A Chave do Cadáver - Por Martinho de Mello Andrade


Martinho de Mello Andrade

A Chave do Cadáver
2012
(CONTOS)

Índice
Agradecimentos
Prólogo
I Capítulo
Julinha
Djú má Di
Dite e fête
Strelinha na Boca de Carbon
Geraldo
II Capítulo
Brodjud
Dentista
Colheta de Cana
Bodge na Fajã d’Boxe
Primer ê Engoce
III Capítulo
Bodge na casa de nhô Anton Jon
Guarda de mandioca
Larangêra d’Pove
Padjanca
Césa
Labája de Rôpa na Marê Palinha
IV Capítulo
Sentinel’Alerta
Compra d’Sucra
A Chave do Cadáver
Um Bedge má se Manta
Bôce seca tchel Combinação drête
Cal ê Banda q’Sol ta Nacê?
V Capítulo
Pá Jon má sês Nête
Pega ês Pedra na Mom
Bodge de Manel Anton
Concência Profissional
Gente ca Mestê ser Rico pa Gente ser Flize
Nos Futur no debê prepara’l qu’ond nos ê Nob
VI Capítulo
Guarda Cabeça
Odjada
Três amigo
Bomba
VII Capítulo
Spreta Galinha
Ladron
Lídia
Epílogo

Os poetas que a colonização não emudeceu - Por Luiz Andrade Silva



Crônicas da Terra Longe

Luiz Andrade Silva

Chiado Editora, Lisboa - 2004


Luiz Andrade Silva é autor, e estudioso da espiritualidade universal, mas é simultaneamente personagem ativo das vivências e fatos que relata, analisa e critica, com o peso e à medida que lhe conferem a sua vasta experiência de vida e o apetrechamento cultural que aperfeiçoou.


POETAS QUE A COLONIZAÇÃO NÃO EMUDECEU

abril de 2004

Iniciamos esta viagem pela poesia de Cabo Verde com os poetas que viveram o período monárquico constitucional e o período republicano que termina com o golpe de estado de 1926 e que leva mais tarde Salazar ao poder. Eugénio Tavares (1867/1930) é sem dúvida uma das figuras mais marcantes dessa época. Morreu de pé contra o fascismo. No ano de 1900 publica na solidão da sua ilha da Brava o poema Hinos, que teve o seu tempo e que continua actual, porque está acima dos partidos e somente comprometido com Cabo Verde. Desde a independência a questão do Hino Nacional não tem conseguido unir os cabo-verdianos à volta de um texto que une toda a Nação e que fosse cantado em todos os lugares, dentro e fora de Cabo Verde, pelas nossas crianças, pelos nossos trabalhadores no seu exercício diário ou pelas nossas mulheres quando ninam o sono dos seus filhos. Da independência (5 de Julho de 1975) a 1990, Cabo Verde e a Guiné-Bissau defenderam o mesmo hino nacional da autoria de Amílcar Cabral, mas com o golpe de Estado de Nino Vieira a 14 de Novembro de 1981, que deu lugar a um novo partido político em Cabo Verde (o PAICV), vimos-nos despojados do Hino. Lamentamos que o actual Governo não possa exigir do Governo da Guiné-Bissau que elimine o nome de Cabo Verde da sigla do PAIGC. A instalação da democracia em Cabo Verde, em 1990, que levou o Movimento para a democracia ao poder, permitiu a instituição de um novo hino nacional mas que não encontrou um consenso nem ao nível do MPD nem evidentemente do PAICV. Foi Félix Monteiro, nosso homenageado, que num dos números da revista Raízes publicou o poema Hinos, de Eugénio Tavares, que indirectamente nos fazia uma chamada de atenção necessária para a importância deste poeta na história cultural e política de Cabo Verde. Compreendemos que face aos conflitos à volta dos textos dos hinos, defendidos pelos partidos, ele propunha um poema que vinha de um homem maior na história de Cabo Verde, que dera ao crioulo e à nossa música a sua grande dignidade, que mais que ninguém defendeu os interesses de Cabo Verde e dos seus emigrantes, desde os fins do século passado. O soneto de Eugénio Tavares seria certamente o hino necessário para unir todos os cabo-verdianos à volta de Cabo Verde, pondo termo às querelas políticas suscitadas pelo hino nacional:

Hinos

 Revolução ou morte! Eis o nosso dever

A paz é já, um crime; e morte infame a vida!

E se  havemos de - irmãos! ...um dia apodrecer

No ventre desta terra infausta, tão querida

 

Se a Pátria santa ao mal  temos que ver rendida

Se  a aurora do combate um dia há-de romper

Se a lágrima, e o suor, e o sangue hão-de correr,

Avermelhando o mar e a terra envilecida.

 

E se hão-de, num futuro incerto, derramá-los,

Filhos do nosso amor às mãos dos mercenários,

Pátria e filhos - irmãos!...tentemos nós salvá-los!

 

Morte ou revolução! Que, não há cobardia

Que iguale a de legar a filhos os calvários

De nomes com brasões de lodo e vilania!