O homem que sabe servir-se da pena, que pode publicar o que escreve e que não diz a seus compatriotas o que entende ser a verdade, deixa de cumprir um dever, comete o crime de covardia, é mau cidadão. Por Júlio Ribeiro.

Como e por que se tornou racionalista? – Por Bernardo Scheinkman

Como e por que se tornou racionalista? – Por Bernardo Scheinkman

Edição Internet
2004
Texto adaptado da 1a edição, 1934, por Valdir Aguilera


A
Carlos Sussekind de Mendonça,
 Antonio do Nascimento Cottas
e
Remo Antonio Ottino
A amizade e admiração do
AUTOR 
É NAS UNIVERSIDADES QUE ESTÁ O FUTURO DO BRASIL.
É NA MÃO DAS UNIVERSIDADES
QUE REPOUSAM OS DESTINOS DO BRASIL.
  
A verdadeira cultura consiste no trato freqüente do mestre, na sistematização da consulta aos autores, no aprendizado técnico da pesquisa e no hábito adquirido do raciocínio.

Prof. Júlio Pires Porto Carrero (discurso proferido no Instituto Nacional de Música, por ocasião da solenidade de reabertura dos cursos universitários).


A TODOS OS MEUS COLEGAS

DAS UNIVERSIDADES BRASILEIRAS,

PARA QUE LEIAM, RACIOCINEM

E CONCLUAM.


Sumário

Nota do Editor. 10
Ao leitor. 11
Antonio Mendes Corrêa. 14
Antonio do Nascimento Cottas. 17
Católico apostólico português. 17
Defensor dos padres, hoje é um dos que mais os combatem.. 17
Católico – esoterista – racionalista cristão. 18
Enfim, a Luz. 18
Interessante fenômeno psíquico. 19
Iniciando-se... a Doutrina não deve ser imposta. 19
O exemplo, a melhor propaganda. 19
A Verdade, base da Doutrina. 19
De que dependem o êxito ou o fracasso do homem.. 20
A finalidade da Doutrina é, sobretudo, beneficiar almas. 20
A guerra movida à Doutrina. 21
Os médicos de honra estão com a Doutrina. 21
A Doutrina no estrangeiro. 21
Guerra, fome e peste é o que espera a humanidade. 21
Resolverá a humanidade primeiro o problema econômico, para em seguida resolver o espiritual, ou por intermédio de grandes desgraças encarará logo este último?. 21
A mocidade que estude para aprender e saber 22
O casamento deve ser realizado por simpatia ou amor 23
Instrução para o rico e para o pobre. 23
Ensino gratuito. 23
Luiz de Mattos visto pelo mais fiel dos seus discípulos
. 23
Um revoltado contra a mentira. 24
Diligente, trabalhador e inteligente. 24
Empregado no comércio. 24
Homem de destaque. 25
O primeiro passo para o Racionalismo Cristão. 25
Para fundar a Doutrina da Verdade. 26
A Razão e a orientação que sempre teve. 26
Não é essa a vida. 26
Maria Mattos do Nascimento Cottas. 28
A mediunidade e o seu desenvolvimento. 28
Todos os seres humanos são médiuns. 28
O valor de Luiz de Mattos. 29
O papel da mulher moderna. 29
A infelicidade conjugal que reina hoje nos lares. 29
O lar de uma mulher inteligente. 30
Só a educação. 30
Papel da mulher esposa e mãe. 30
Como se devem educar crianças. 31
Luiz de Mattos era dedicadíssimo à família. 31
Dois interessantes fenômenos psíquicos. 31
Amélia Maria de Mattos Thomaz. 32
Médium desenvolvido. 32
Uma vontade de aço, principal característica de Luiz Alves Thomaz. 32
Qualidades raríssimas. 32
Quase católico. 33
Uma vida de sofrimentos. 33
Provas de resignação e força de vontade. 34
Como desencarnou Luiz Alves Thomaz. 34
A primeira atuação. 34
Fluidos de Luiz Alves Thomaz nitidamente sentidos. 35
Esposa e mãe exemplares é o dever da mulher 35
Heitor Lima. 36
Excelente filosofia moral 36
Raízes na própria natureza humana e cósmica. 36
Fator valiosíssimo de aperfeiçoamento moral e espiritual 36
Em face da criminologia, é um terapêutica do crime. 37
O espiritualismo sempre governou a Terra. 37
O primeiro dever do Estado. 37
A marcha da humanidade. 37
Estudar os problemas fundamentais da felicidade humana. 37
O Espiritualismo e o divórcio. 38
Emir Nunes de Oliveira. 39
Como entrou em contacto com a Doutrina. 39
Distinção necessária. 39
A diferença. 39
Doutrina evidentemente espiritualista. 40
O telescópio para a visão física e os guias para a razão. 40
Contra o dogma e a fé. 40
A crise é uma resultante dos dois elementos antagônicos: o Bem e o Mal. 41
O Racionalismo Cristão perante a criminologia. 41
O desenvolvimento do raciocínio e a sua significação. 42
Dever primordial 42
A incontestabilidade de fenômenos espiríticos. 43
As diretrizes do Centro Redentor 43
Arlindo Estrella. 45
O Racionalismo Cristão perante a medicina. 45
Um fenômeno psíquico que leva à averiguação. 45
A medicina não pode prescindir do psiquismo. 45
Todos os fenômenos devem ser estudados. 46
Não há incompatibilidade. 46
Oito anos de aplicação dos princípios racionalistas cristãos. 46
O valor da influência psíquica. 46
Um caso concreto. 46
O verdadeiro médico. 47
Eduardo Freire. 48
O que é ser racionalista cristão?. 48
As explicações do padre. 48
Fenômenos convincentes. 48
Os problemas econômico e espiritual 49
Charles Boschini 50
Pugnando sempre pela Doutrina. 50
Depois que a humanidade tiver passado por grandes sofrimentos. 50
A escola das escolas. 50
Resultados obtidos com a Doutrina. 51
João Baptista Cottas. 52
Precisamos sair de toda e qualquer letargia. 52
Racionalismo Cristão e Medicina. 52
Nada de sobrenatural nem mistérios. 53
Sábios que reconhecem a existência de fenômenos psíquicos. 53
Agir e reagir prontamente. 53
Pontes de Miranda. 54
Seleção biológica e sociologia. 54
Espiritualistas e materialistas da esquerda e da direita. 55
O mundo marcha para o socialismo integral 55
Todos se preocupam muito com o problema econômico. 55
O que nos convém.. 56
No capitalismo são insolúveis os problemas educativos. 56
Combate ao fascismo! 56
Defender a liberdade é o dever da mocidade acadêmica. 56
Procópio Ferreira. 57


Nota do Editor

Esta edição digital do livro Como e por que se tornou racionalista?, de Bernardo Scheinkman, foi atualizada em alguns aspectos. Não mencionando questões menores de ordem ortográfica, retiraram-se opiniões emitidas e correntes na época e que não se coadunam mais com a atual postura do Racionalismo Cristão frente a outras organizações e políticas. Por outro lado, o material apresentado nesta edição digital é reprodução fiel daquele apresentado no livro.

Valdir Aguilera

Guarapuava, setembro de 2004

Ao leitor

“PORQUE SE TORNOU RACIONALISTA?” é um livro cuja finalidade é uma única: a de esclarecer.
A mocidade vibra ao contacto de qualquer idéia nobre. E o Racionalismo (cristão), se outros títulos lhe faltassem, indiscutivelmente a esse ele teria incontestável direito. Assim que deparei com essa doutrina, fiquei admirado de encontrar mentalidades admiráveis em seu seio.Não estou acostumado a, no regime burguês, ver o adepto de uma doutrina qualquer dizer que não quer crentes, nem fanáticos, para essa mesma doutrina. Foi esse a grande característica, que primeiro me chamou a atenção para o Racionalismo. Não foi uma, mas inúmeras vezes que ouvi em sessão o Presidente do Centro Redentor, dizer que só se prejudicaria aquele que, antes de mais nada, não tivesse confiança em si mesmo, que não criasse em si uma vontade forte e autônoma, a fim de não ser um simples joguete na vida. O Racionalismo, ouvi muitas vezes dizer o mesmo Presidente, é um conjunto de leis racionais e científicas, que podem servir de auxílio a quem quer que seja, mas para essas leis poderem ser assimiladas necessário se tornava que a pessoa tivesse absoluta confiança em si mesma.
Ora, eu nunca ouvi falar assim qualquer um que se dissesse adepto de uma crença qualquer. Os judeus falam no rabino, os católicos, no padre, os protestantes no pastor, etc.
Notando essa colossal divergência, pois, à meu ver, as crenças em geral servem para diminuir o desenvolvimento da personalidade, interessei-me, logo á principio, pela Doutrina (que tão firmemente caminha).
Procurei ler e observar. Pus-me em contacto com as pessoas que melhores informações me poderiam prestar sobre os princípios e fins do Racionalismo. E, confesso: encontrei um novo mundo, desconhecido para mim.
Materialista por excelência, não poderia nunca conceber o que verifiquei e averigüei.
Convicto que estou, de que a religião é a mais forte arma burguesa; de que esta, utilizando-se daquela, faz com que o proletariado fanatizado não realize a sua grande revolução, que será um passo gigantesco na evolução da espécie, estou disposto a bater-me, franca e sinceramente, com todo o entusiasmo de minha mocidade, para que o Racionalismo não se torne uma religião.
Aliás, a Doutrina visa exclusivamente, pelo que me consta, ao esclarecimento da humanidade, mostrando-lhe de onde vem o homem e para onde vai. Ora, qualquer marxista que deve ter antes de mais nada o desejo de evoluir, certamente não condenará homens que utilizando-se de meios científicos, procuram com desprendimento trazer alga mais á escuridão reinante no terreno dos conhecimentos humanos.
Reconheço, e digo-o francamente, que o problema magno para se andar mais depressa é a solução do problema econômico. Mas, reconheço também que ao lado deste existem outros, tão e mesmo mais importantes do que ele.
O desenvolvimento das forças psíquicas no homem representa, indiscutivelmente, o maior passo que esse homem pode dar para o seu progresso. Resolvido esse problema, o do desenvolvimento da força do pensamento, que é o problema individual, ter-se-á andado muito para solução do coletivo.
Que diferença entre o homem, embora culto e instruído, mas fraco de espírito, autômato nas mãos de outrem, e o homem-convicção, que tudo faz consciente e voluntariosamente, enfim o homem personalidade!
Aquele, utilizando a sua instrução e cultura, que adquiriu, não pelo desejo de progredir e vencer,mas porque viu os outros fazerem o mesmo, exclusivamente para um pequeno conforto pessoal, e este, embora sem, muitas vezes, ter esta cultura, pondo sempre em ação o raciocínio, sabendo o porquê de tudo o que faz.
Não há comparação possível. O homem de vontade desenvolvida torna-se um elemento essencial no conjunto. Dá exemplos bons e aproveitáveis; resolve os problemas que se lhe antolham com calma, ponderação e justiça; domina-se em seus impulsos irrefreados; sabe que os outros têm o mesmo direito à vida que ele; não pratica a caridade, pois para ele não existe este vocábulo, mas entende que é do seu dever auxiliar o seu semelhante, com ele colaborando para o progresso universal, que é o dele. O homem autômato, por ignorância e fraqueza fala muito em deus, em caridade, em nosso senhor, na virgem santíssima, etc., enganando os outros iguais a ele e, principalmente, a si mesmo.
Ora, quem reconhece o valor das forças psíquicas, e tem energia bastante de publicamente dizê-lo, não poderia deixar de se interessar por uma doutrina como o Racionalismo.
Consoante declarei no início destas linhas, procurei estudar e averiguar, achando-me ainda nesta fase de preparação.
Num belo dia, ou melhor, numa bela noite, em que raciocinava sobre certos trechos que eu tinha lido num livro hindu sobre a força do pensamento e a repercussão deste sobre a vida física do homem, lembrei-me de promover o presente inquérito, a fim de me esclarecer, exclusivamente a mim, sobre o assunto que ele aborda.
Desejava ver o Racionalismo através das mais autorizadas vozes físicas que sobre ele poderiam falar. Queria ouvir os homens que mais ativamente trabalham pela Doutrina.
Antes de mais nada, procurei, confesso, observar a vida de cada um desses homens, pois, um princípio, racionalista é o de que o homem só pode dar aquilo que tem, isto é, antes de pregar uma moral qualquer tem que se submeter incondicionalmente a ela. Verifiquei, então, que a maioria dos que ides ouvir adiante, e que eu tive oportunidade de observar, obedece restrita e sinceramente aos princípios, submetendo-se com entusiasmo e vigor à Doutrina, pois, têm-na como a Verdade.
Verificando isso, não duvidei mais, dispondo-me a levar avante, o que idealizara. Porém, mais tarde, refletindo melhor, achei de meu dever não fazer a presente enquete para em seguida metê-la na gaveta, mas sim, pela sua importância e significação, levá-la ao conhecimento do público.
Certamente, como acadêmico, eu desejaria que os que mais aproveitassem do livro fossem os meus prezados colegas. A nossa responsabilidade como estudantes é enorme. Precisamos observar e perscrutar tudo, tudo, a fim de podermos ser melhores do que os da geração que nos antecedeu, compreendendo melhor e mais perfeitamente a vida, que hoje é tão imperfeita.
Todos os nossos males, é preciso dizê-lo, devemo-los a nós mesmos. Seremos nós os culpados se,permitirmos que continue a péssima organização social de hoje; seremos nós os culpados se não nos pusermos ao lado dos que sinceramente lutam por um mundo melhor; seremos nós os culpados se não dermos um passo à frente na evolução natural das coisas.
Por pensar assim, é que deliberei fazer o presente livro.
Dele, todos os de boa vontade, podem tirar muito proveito e inúmeros ensinamentos. A opinião de homens como os que ides ouvir, cujas vidas são a maior recomendação do seu valor, energia e dignidade, sobre assuntos de grande importância é de suma utilidade para todos os que estudam.
B. S.

Antonio Mendes Corrêa

A VOZ DE PORTUGAL
ALGUMAS PALAVRAS COM O PROF. DR. MENDES CORRÊA

Assim que tivemos a notícia que o Prof. Mendes Corrêa, uma das mais brilhantes figuras científicas da Europa, viria ao Brasil inaugurar o Instituto Luso-Brasileiro, compreendemos que na presente obra não poderíamos prescindir de sua palavra.
Seria a palavra de Portugal, de quem tanto somos amigos, dizendo-nos algo de interessante sobre grandes problemas da atualidade. Mas, com o que não contávamos era que S. Exa., embaixador da alta cultura lusa dispusesse ele de tão pouco tempo.
De feito, o Prof. Mendes Corrêa não nos pôde dar uma entrevista completa devido à exigüidade do tempo de que dispunha. Mal tivemos tempo de fazer-lhe algumas perguntas às quais rapidamente respondeu com a carta que nos enviou, já de malas prontas para São Paulo. Contudo, embora sinteticamente, S. Exa. exteriorizou brilhantemente o pensamento de sua Pátria.
Pedimos licença à “REVISTA BRASILEIRA” para transcrevermos a página em que, noticiando a inauguração do Instituto Luso-Brasileiro, faz justas referências ao Prof. Mendes Corrêa.
Acha-se entre nós o eminente Prof. Antonio Mendes Corrêa que vem a convite do Instituto Luso-Brasileiro de Alta Cultura inaugurar a série de conferências portuguesas.
Realizará o Prof. Mendes Corrêa, entre outras conferências, as seguintes. “As origens do povo português”, “A arte pré-histórica”, “O homem fóssil”, “A Atlântida”, “As origens de Lisboa”, “Montaigne e a História Natural”.
O Sr. Dr. Mendes Corrêa, nasceu no Porto, em 1888, tendo-se formado em Medicina em 1911. Dois anos depois, foi nomeado, por concurso, assistente da Faculdade de Ciências do Porto.
Em 1919 entrou para a Faculdade de Letras, também do Porto, como Professor de Geografia e Etimologia e em 1921 foi promovido, na Faculdade de Ciências, a professor catedrático, regendo a cadeira de Antropologia e os cursos de Paleontologia e Geografia Física.
Desde 1921, dirige o Instituto de investigação Científica de Antropologia. Em 1929 foi nomeado Diretor da Faculdade de Ciências de sua cidade natal.
A sua bibliografia é enorme, desde a sua obra inicial em 1909, a tese de medicina “O gênio e o talento na patologia”, até agora publicou o Prof. Mendes Corrêa 186 trabalhos. Entre os seus livros mais notáveis e largamente conhecidos no Brasil, onde o nome do ilustre cientista é grandemente acatado, devemos mencionar “Os criminosos portugueses”, “Raça e nacionalidade”, “Crianças delinqüentes”, “Homo” em que desenvolve uma nova teoria sobre a origem do homem, “Povos primitivos da Lusitânia”, “A nova antropologia criminal”.
O Prof. Mendes Corrêa é sócio correspondente da Academia de Ciências de Lisboa, sócio efetivo da Academia Pontifícia dos Novos Linces de Roma; sócio honorário da Sociedade de Antropologia de Madri, Barcelona, Florença, Roma e Viena, titular e membro da direção do Instituto Internacional de Antropologia de Paris, sócio do Instituto Arqueológico da Alemanha e Cavalheiro da Legião de Honra, oficial de Instrução Pública da França, Grande Oficial da Ordem da Instrução Pública de Portugal, Cavalheiro da Ordem de Afonso XII de Espanha, Comendador da Ordem da Coroa da Bélgica.
Tomou parte nos Congressos de Ciências do Porto, em 1921, de Coimbra em 1925, de Roma em 1926, de Amsterdã em 1927, de Barcelona em 1929, do Porto em 1930, e de Paris em 1931, sendo presidente da Comissão Organizadora do Próximo Congresso de Antropologia Colonial do Porto.
Em 1931, realizou o Prof. Mendes Corrêa, por incumbência da Junta Nacional, uma série de conferências nas Universidades de Toulouse, Lion, Lille, na Escola de Antropologia de Paris, no Palácio da Justiça de Bruxelas e na Harnack-Hans do Instituto Imperador Guilherme, de Berlim.
Vê-se, pois, que ninguém melhor do que o ilustre cientista português poderia dar a contribuição de sua pátria para o “Como e por que se tornou racionalista?”

Meu amigo Bernardo Scheinkman
Respondo às suas perguntas:
O aperfeiçoamento moral da humanidade é muito mais lento do que o aperfeiçoamento material. Assim, aos estupendos progressos técnicos do nosso tempo não corresponde, no campo moral, a melhoria que seria para desejar. Operou-se mesmo um grave retrocesso por se haver suposto que os objetivos da existência são puramente materiais.
O espiritualismo é necessário numa justa medida que não prescinda totalmente das aquisições úteis da civilização. Só ele pode inspirar um otimismo saudável e restituir a humanidade a um equilíbrio de que ela se afastou numa louca vertigem de ambições e comodidades.
Se a civilização contemporânea fosse local, circunscrita no espaço, como as antigas, e não ecumênica, planetária, como é, eu julgá-la-ia, perante as lições do passado, condenada a subverter-se, como as da antiguidade, nos escombros duma catástrofe. Dada, porém, a sua amplitude, suponho que, por entre as ruínas causadas por um estado quase permanente de agitação e desordem – muitas vezes tristemente vãs e inglórias – sobreviverão ao terremoto alguns focos verdadeiramente renovadores onde, sem renegar o que houve de bom no passado, surgirá para os homens mais tranqüilidade, mais bem estar, mais justiça – nunca uma perfeição definitiva, geométrica, rígida, que, além de desoladamente monótona, é absolutamente impossível.
O dever da mocidade acadêmica de todos os países é, na minha opinião, interessar-se pelos problemas mais angustiosos da hora presente, num anseio nobre de justiça e de verdade, mas sem servir às paixões doentias ou perversas de seitas, de fanáticos ou de ambiciosos.
A mocidade é ardente e generosa, não deve servir de instrumento à maldade e à perfídia. As suas inquietações e dúvidas não me são desconhecidas: tenho-as sentido também! Mas, sem diminuição da sua fé, do seu ímpeto heróico e belo, ela deve reconhecer que lhe não pertence o exclusivo de seus ideais, que suas nobres aspirações não surgem agora pela primeira vez na face da terra e que os melhores no mundo não são precisamente aqueles que mais apregoam sê-lo.
É incompreensível o isolamento recíproco de duas juventudes que por tantos motivos podem e devem compreender-se. O meu convívio no Brasil com a mocidade universitária foi uma das mais gratas impressões da minha jornada, porque nela encontrei uma vibração intelectual, uma fisionomia que jubilosa e esperançosamente noto também na juventude do meu país.
Para uma aproximação entre os estudantes das duas nações irmãs, seria de desejar a organização de visitas recíprocas de grupos acadêmicos e estudantes isolados. A alternância de períodos letivos e de férias dum país para outro facilitaria e tornaria eficazes essas visitas. Deveriam instituir-se no Brasil e em Portugal fundos que financiassem essas excursões e mesmo missões mais demoradas de estudo por estudantes especialmente indicados como elementos desse intercâmbio.
À sua última pergunta, já respondi. À mocidade deve ensinar-se tudo o que se sabe e revelar-se até a extensão imensa do que se ignora. Precisamente isto a estimulará a querer saber mais, a querer penetrar mais fundo na vastidão do mistério.
Lamento ter de escrever tão apressadamente, num breve interregno de viagem. Quanto tenho sempre que dizer à gente nova!
Com simpatia e estima
A. Mendes Corrêa

Antonio do Nascimento Cottas
O RACIONALISMO CRISTÃO PELA PALAVRA DE SUA MAIS AUTORIZADA VOZ FÍSICA

Antonio do Nascimento Cottas, atual Presidente do Centro Redentor, é um homem de valor, cujos esforços para levar avante o que iniciara o seu sogro, Luiz de Mattos, têm que ser reconhecidos por todo homem que avaliar a obra desse incansável Presidente e acompanhar a sua ação, sempre orientada no sentido de prestar serviços à humanidade.
Modesto, como todo o ser sincero e de grandes merecimentos, quando lhe solicitei uma fotografia sua para estampá-la no fim do livro, ao lado dos fundadores do Racionalismo Cristão, pois nada mais natural do que o livro contendo as efígies de Luiz de Mattos e Luiz Alves Thomaz contivesse também a do atual e segundo Presidente do Centro, obtive uma recusa formal e decisiva, bem como um pedido para que não insistisse.
Diante disso, limito-me apenas, com as poucas linhas supra, a tornar pública a admiração e amizade que voto a este grande espírito, e ainda a minha gratidão pelo incentivo moral que me deu para levar a cabo a presente obra.
Quando se entra em contacto com um homem como Antonio do Nascimento Cottas, quando se lhe fala e se sente a sua irradiação valorosa, quer-se, principalmente quando se é moço, saber logo a causa que o levou a este estado, (quase diria, a esta perfeição se não soubesse que a perfeição não existe no ser humano) a fim de se verificar se é possível também ser-se assim.
Sabendo que o Presidente, como todos os que seguem a Doutrina, atribuíam ao que dela receberam o seu estado de compreensão nítida da vida, naturalmente a primeira pergunta que lhe fizemos foi: "O que o trouxe ao Racionalismo cristão?", e obtivemos, consoante se verá, uma resposta, pequena e concisa:
Ao Racionalismo Cristão me trouxe a ânsia de saber algo sobre as coisas da Alma, o desejo ardente de esclarecer-me sobre os porquês da vida e da morte.

Católico apostólico português

Seria interessante saber-se se, antes de racionalista cristão, era religioso ou materialista. Poderia dizer-nos algo sobre isso?
Pois não: Era católico apostólico português, (de Roma nunca quis ser), mas apesar de ter feito parte da mesa administrativa de certa irmandade, nunca fui católico praticante, sempre abominei os exorcismos religiosos, as subserviências e as humilhações provindas do confessionário.
Ia raramente à igreja, mas quando o fazia era movido pelo desejo de por-me em comunhão espiritual com “Deus” e os “Santos”. Diante das supostas imagens me colocava genuflexo, pois julgava que a igreja fosse templo para “rezar” e meditar e por isso censurava todos aqueles que a ela iam para “flertar”, para mostrar vestuários e maquiagens.

Defensor dos padres, hoje é um dos que mais os combatem

Antes de conhecer a História das Religiões, considerava o padre como se fosse, de fato, ministro de Deus, e quando alguém, já esclarecido ou materialista, se referia desairosamente aos sacerdotes e à igreja, defendia-os e ficava tendo os maldizentes como hereges, ou ateus, que se atreviam a falar do que não conheciam, porém, à medida que me fui tornando homem e me fui inteirando dos fatos, reconheci que os padres não eram os homens puros que eu supunha, mas continuava católico, embora já investigasse sobre o Protestantismo, Esoterismo e Espiritismo.
Esoterista já, discutia com os meus companheiros de mesa da irmandade a que pertencia. Era dentre eles o mais jovem, e se muitas vezes fingiam discordar dos meus comentários sobre a religião católica, faziam-no mais com medo de pecar e chegar às penas do “purgatório” ou do “inferno”, porém, intimamente concordavam comigo, mas sem esforço para estudarem e raciocinarem, acomodavam-se às bulas e encíclicas.

Católico – esoterista – racionalista cristão

Interessando-me as ciências ocultas, iniciei-me nos exercícios magnéticos e hipnóticos, obedecendo também às determinações secretas do esoterismo.
Como esoterista, reconhecia relativo valor em algumas disciplinas secretas, mas notando o mercantilismo de suas obras, que serviam para todos os fins, bons e maus, reputei uma doutrina perigosa, principalmente pelo ensino da concentração isolada e em “bolas de cristal” e outros objetos, a fim de ser-se bem sucedido no jogo, nas conquistas amorosas e noutras misérias humanas.
Se os fins fossem somente de elevação moral e de guerra aos bruxedos e patifarias, e não todo mercenário, como, aliás, acontece com todas as seitas, o esoterismo poderia, de algum modo, caminhar para o Racionalismo Cristão.
Alguns já me tinham como espírita, que não o era, mas todos me queriam no seu meio, e eu entre eles, como amigo, sempre me senti bem, mas a Alma queria algo mais e eis a razão por que, embora tendo prevenção com os praticantes de espiritismo, cheguei ao Centro Redentor poucos dias antes da grande epidemia de 1918.
Nas suas proximidades residia havia cerca de cinco anos, e muitas vezes fiz comentários ao ver tanta gente ingressar nele, de garrafas debaixo do braço.
Cheguei, pois, ao Centro Redentor não como enfermo do corpo, mas com o espírito repleto de dúvidas, de incertezas, preocupadíssimo com a composição do Universo, com as apregoadas LEIS DE DEUS, (que os próprios sacerdotes e católicos praticantes primam por praticar o contrário do que elas encerram) e como Deus estar em toda a parte já que mo apresentavam à semelhança do homem.
Enfim, a feitura de vários “Nosso Senhor” e “Nossa Senhora”, de santos e santas, fazia-me perturbado. Perguntava aos outros, consultava os livros sacros, a bíblia e tudo me respondia: é mistério.

Enfim, a Luz

Só no Centro Redentor é que a alma recebeu a luz de que carecia. Na primeira sessão pública de limpeza psíquica, tudo foi confusão para meu espírito, o que era natural, dado o fato de ter ele sofrido a limpeza psíquica que até então não sabia o que fosse, mas que depressa compreendeu tratar-se do afastamento dos espíritos malfeitores quedados na atmosfera da Terra e que assistem às criaturas conforme seus pensamentos místicos, religiosos, de gozo, etc.
Limpo psiquicamente não me foi difícil assimilar melhor, na segunda sessão, o que ouvia através dos médiuns e principalmente do próprio Presidente, cujo modo franco, leal e positivo por que se expressava me entusiasmava. Foi tal o meu entusiasmo com as suas doutrinações em tese, que pensei: “Por que este homem não vai pregar esta Doutrina lá por fora? Se ele fosse algum dia, oferecer-me-ia para acompanhá-lo”.

Interessante fenômeno psíquico

Quem não refletirá muito sobre um fenômeno como este que se vai ouvir, contado pela palavra sincera, honrada, de um homem sempre à procura de esclarecimentos, como se nos vai revelando, através do presente depoimento, Antonio do Nascimento Cartas?
Mal acabo de pensar isto, ouço na mesa um dos médiuns proferir textualmente as palavras retidas no meu mental.
E, estupefato, ouço o Presidente responder:
“Cada um caminha por si. Esclareça-se e cumpra o seu Dever, que eu procurarei cumprir o meu, não precisando que me acompanhem, mas de quem faça o que estou fazendo”.
Como acontece com quase todos que ainda não estão firmes nos Princípios da Doutrina, e também com muitos que nunca desejam estar, quando saí do Centro dizia para comigo: “de fato, eu pensei aquilo, mas não deve ser comigo, deve entender-se com algum outro, que no mínimo pensava como eu”.

Iniciando-se... a Doutrina não deve ser imposta

Naquele tempo somente existia o Espiritismo Racional e Científico (cristão), obra clássica da Doutrina, em primeira edição, que li de um arranco, e estando concorde com tudo, queria que todos os meus mais íntimos freqüentassem o “Redentor” também provindo dessa minha irrefletida atitude grandes sofrimentos morais, que não vem ao caso referir, mas, sim, deixar patente que a Doutrina explanada no “Redentor” não deve ser imposta a quem quer que seja, e que erra todo aquele que, sem estar bem firmado ainda nos Princípios Racionais e Científicos, se atreve a propagá-la e a quase impô-la aos seu amigos a freqüência às sessões. Esse procedimento vai justamente de encontro aos princípios básicos da Doutrina, que determinam que se diga a Verdade, mas que não se os imponham a terceiros; cada um deve agir por si nas coisas espirituais, e, portanto, neste particular, devemos nos limitar a dar explicações racionais àqueles que, por sua livre e espontânea vontade, no-las peçam.

O exemplo, a melhor propaganda

A melhor propaganda que se pode fazer de tão salutar Doutrina será o procedimento de cada um, esclarecido, na família e na sociedade: o exemplo é tudo, as palavras são como a fumaça, desaparecem com a ação do tempo.

A Verdade, base da Doutrina

Em seguida, fala-nos sobre quê se fundamenta a Doutrina.
A Doutrina se funda na Verdade, que é a fonte da ciência, e que nos encaminha para a investigação de todos os porquês da vida, fazendo-nos chegar às conclusões acertadas e à certeza absoluta de que no Universo tudo se rege dentro da Força e Matéria, e que o homem nada mais é que um universo em miniatura, e porque o é, sente todas as mudanças atmosféricas como se fosse um observatório.

De que dependem o êxito ou o fracasso do homem

Continua:
É, pois, dentro desses dois elementos – Força e Matéria – que o ser humano maneja a vontade e o pensamento, e consegue ter êxito ou insucesso na sua trajetória terrestre.
Todos os fracassos na luta pela vida provêm da ignorância e da desobservância das leis naturais, que tudo regem. Liberte-se o ser do misticismo, de crenças em absurdos, para confiar em si mesmo, no êxito de seus esforços, na ação de seus pensamentos criadores, idealizadores para o Bem, e o êxito será certo.
Só invocam a proteção do abstrato os amigos do menor esforço, os fanáticos de qualquer seita, os descrentes da vida. Os esclarecidos não mendigam proteção oculta, estudam e raciocinam convictos de que, agindo dentro das leis da atração e da evolução, reguladoras do trabalho e da honra, o que equivale dizer, dentro do cumprimento dos deveres que cada um a si impôs ao encarnar, têm que conseguir tudo que desejarem, porque só desejarão o que é possível obter-se neste mundo.
Os místicos, continua o Sr. Cottas, é que se descuram das coisas da Terra para cuidar das do hipotético céu, e disso é que provêm os desequilíbrios mentais.
“Na Terra como na Terra”, dizia Padre Antonio Vieira, e nós diremos: “O cuidarmos bem da vida terrena é termos certeza de que seremos bem sucedidos na vida espiritual, pois, a alma vive sempre, a morte do corpo representa apenas a mudança de invólucro para a alma ou espírito.”
Quem se atreverá a negar, hoje, a lei da reencarnação?
Não temos a própria História a descrever-nos feitos e fatos de certos personagens cuja ação é idêntica ao que fizeram em épocas próximas ou remotas?
Não temos as crianças chamadas prodígios?
E como explicar esses fenômenos senão pela lei da reencarnação?
Hoje não faltam fenômenos por toda a parte. O que falta é o espírito de investigação e sensatez.
Se uma criança descreve passagens de outra vida, citando fatos e fenômenos de nós conhecidos, e nos diz que em tal lugar havia isto e aquilo, que esteve no colégio tal, e lá ainda está fulano que foi seu filho (!), que dizer a isto se os quatro ou cinco anos da criança não nos deixam suscitar dúvidas?

A finalidade da Doutrina é, sobretudo, beneficiar almas

Desde que o Centro Redentor surgiu, em quanto calcula as pessoas beneficiadas moral, física e espiritualmente pela Doutrina?, perguntamos.
Não sendo o fim do Espiritismo Racional e Científico propriamente beneficiar corpos, mas sim almas, porque estas esclarecidas, beneficiados serão os corpos, é-nos impossível citar números, mesmo porque não se visa fazer propaganda para aquisição de adeptos, como em geral fazem religiões ou doutrinas.
Afirmamos, porém, por estar à vista de quem queira ver, que as sessões públicas de limpeza psíquica, no Centro Redentor (à Rua Jorge Rudge, 121 - Rio), são assistidas por cerca de quatro mil pessoas, realizando-se as mesmas todas as segundas, quartas e sextas, havendo nelas sempre novos assistentes.
O Racionalismo Cristão está se fazendo conhecido por toda parte, não só dentro do país, como no estrangeiro. Racionalistas, propriamente dito, não haverá muitos, pois aquele que de fato for racionalista será criatura de bons predicados: valorosa, trabalhadeira, honrada, justa em toda a linha. Agora, de criaturas com desejo de serem racionalistas, contar-se-ão milhares, senão já milhões.

A guerra movida à Doutrina

Seria interessante ouvir de um homem que tão brilhantemente nos vem expondo belíssimos princípios de uma Doutrina, até que ponto esta é combatida e por quem.
Tem a Doutrina sofrido grande opressão? Por parte de quem?
Sim, grande tem sido e será a guerra movida à Doutrina da Verdade: ela, como tudo que tem valor será combatida pelos nulos, pelos materialões e gozadores, religiosos ou não, que jamais conseguirão ofuscar a Verdade, pois ela corre mundos, vindo como o óleo à tona da água.
Opressores, propriamente ditos, nunca a Doutrina da Verdade teve, pois, não propagando a rebelião, mas sim a ordem, a reforma de usos e costumes, como valorosamente o fez Cristo, o maior revolucionário de sua época, está visto que todos os homens de honra e vergonha, amigos da Pátria, do Progresso e da Liberdade, estão em pensamento conosco.

Os médicos de honra estão com a Doutrina

Convém, porém, que fique patente estarem os médicos de honra e sentimentos, bem como os padres na forma, mas não no fundo, (cujos corpos amortalhados de negrura é que estão escravizados ao papa, mas não as suas almas) de pleno acordo com os Princípios Racionais e Científicos, pregados no Centro Redentor, e que não é pequeno o número de médicos que, de fronte erguida, assistem às suas sessões públicas de limpeza psíquica, tendo também muitos padres as freqüentado disfarçadamente e outros as assistem mentalmente por estarem conformes com a Verdade.

A Doutrina no estrangeiro

Só é conhecida no Brasil a Doutrina?
No Brasil e no estrangeiro, principalmente na América do Norte, México, Argentina, Espanha, França, Portugal, Açores e África Portuguesa.

Guerra, fome e peste é o que espera a humanidade

Quisemos ouvir de um homem culto e inteligente o que poderia esperar a humanidade dentro de um lustro. Para isso fizemos-lhe a seguinte pergunta: "o que prevê de mais interessante para a humanidade dentro de um lustro?"
Guerra, fome e peste. Ou os homens dos governos descem a estudar junto do povo outras formas de governar as Nações, ou as classes trabalhistas farão ruir os déspotas e imperialistas; o choque será tremendo, pois para governar nações é preciso preparo, não se pode ser administrador da noite para o dia.

Resolverá a humanidade primeiro o problema econômico, para em seguida resolver o espiritual, ou por intermédio de grandes desgraças encarará logo este último?

Foi nossa próxima pergunta ao Senhor Cottas.
O problema econômico vive ligado ao espiritual. Este, de fato, faria solucionar mais rapidamente aquele, mas dado o estado mórbido em que se encontra a humanidade é preciso que ela seja abalada por tremenda tempestade para, então, aqueles que não soçobrarem, darem outra feição moral à sociedade.
Devido ao sectarismo religioso, a humanidade não tem vivido, tem vegetado. Mas desde que a única religião seja o trabalho e o respeito ao próximo, será cultivada a inteligência, e serão criadas leis à semelhança das da Natureza, de igualdade para todos.
Aquele que delinqüir sofrerá as penalidades sem dó nem piedade. Bastaria que os homens se lembrassem que todos nascem e morrem por igual, para algo fazerem em proveito de si mesmos. Viver não é gozar: só vive quem sabe pensar.

A mocidade que estude para aprender e saber

Interrogamos:
Na qualidade de Presidente do Centro Redentor e, portanto, responsável físico pela Doutrina, o que aconselha à mocidade em geral, especialmente à acadêmica, no momento presente de incertezas e lutas?
Como homem e pai que deseja dar ao Brasil cidadãos que o elevem sempre moral e materialmente, aconselharei que se estude para aprender e saber, que não se passem os compêndios e se alisem os bancos das academias para aquisições de pergaminhos a servirem de passaporte para se apresentarem na sociedade, mas sim, que façam jus à consideração pública pelo seu talento, pelas suas elevadas qualidades morais e de trabalho.
O jovem só será útil a si e à pátria se seguir a sua vocação íntima. Erram os pais que forçam os filhos a seguirem esta ou aquela carreira científica. Cada um é para o que veio e não para aquilo que o querem forçar a ser.
O jovem, ao cursar uma Academia, deve ter em mira fazer-se por si e não estar contando com o valor político ou monetário do progenitor. Enfraquece o valor e o caráter todo aquele que está atido à proteção alheia. O inábil é pernicioso à sociedade.
O homem que se faz por si tem mérito e será sempre um bom amigo.
A juventude, para não prejudicar o intelecto e o físico, deve estudar e recrear-se dentro de método e disciplina inalteráveis, comer a horas certas, deitar e levantar a horas certas, não beber líquidos às refeições, só água 3 horas depois de feitas as mesmas, não sobrecarregar o estômago, nem tampouco dar-lhe alimento insuficiente, preferir sempre legumes, verduras e tudo que possua fósforo vegetal, e deste têm a cenoura e a maçã em abundância, frutas em geral e de preferência em jejum, peixe, ovos, pouca carne, bastante leite, queijo e manteiga.
As orgias, o álcool, o fumo e a libidinagem furtam anos de vida ao homem, perturbam o sistema nervoso e degradam o seu caráter. As melhores horas para estudar são as da manhã. O estudante deve deitar-se às 22 horas e levantar-se entre 5 e 6 horas.
Há jovens que, ao colarem grau, já são velhos para a luta pela vida.
O estudante é sempre a esperança dos pais e da Pátria, mas o que pode ele dar à família ou à Pátria, quando uma e outra o chamarem ao cumprimento do seu dever, se ele estiver de corpo e alma envenenados pela sífilis e pensamentos perniciosos?
Para termos uma mocidade gigante de alma e esbelta de físico, precisaríamos dar melhor rumo à família: educar a juventude para o trabalho, economia do tempo, preparando meninas e meninos para a compreensão da vida.
Ora, se isso fosse feito racional e cientificamente por pais e mães, os jovens saberiam se abster de tudo que os enfermasse, chegariam à vida conjugal sãos e puros como as suas jovens noivas.
O mal social, em grande parte, provém de não haver igualdade de direitos para o homem e para a mulher.
Respeitadas as leis da natureza, o homem deve casar dos 20 aos 25 anos. Até esta idade pode ele conservar-se alheio à sexualidade ou melhor à prática do ato sexual. O homem ou a mulher só poderão produzir bons frutos aos 20 anos. Há casos esporádicos, mas em geral, quem casa antes desse tempo força a natureza.

O casamento deve ser realizado por simpatia ou amor

O casamento deve ser realizado por simpatia ou amor e não somente com fins lúbricos. Destes virão filhos disformes; daqueles, esbeltos e robustos.
Se ambos se completam para a vida de reprodução, por que não retirar a mulher e o homem das peias do convencionalismo torpe, amorfo, religioso ou social?
Havendo igualdade de direitos para ambos os sexos, existirá mais moral, melhor sociedade, embora os curtos de idéias possam dizer, por conveniência, o contrário.

Instrução para o rico e para o pobre

O cultivo da inteligência é indispensável e deve ser proporcionado por igual para todos, ricos ou pobres. Deve acabar o privilégio de só cursarem academias os filhos dos ricos. Ricos ou pobres, são todos filhos da Pátria, e esta não pode ser mãe para uns e madrasta para outros.

Ensino gratuito

Os estudantes devem bater-se pelo ensino gratuito. Aconselharei, porém, a que tenham a máxima compostura na Escola ou fora dela e que não se perca o respeito aos Mestres. Estes, quando pela sua empáfia ou nulo saber não correspondam aos desejos da juventude estudiosa, deve ela recorrer a quem de direito para que seja afastado tal professor e preenchida a sua vaga por outro de mais valor moral e intelectual. Professores e discípulos devem se confundir no saber, mas nunca no desrespeito e na inépcia. Os professores, que são de fato professores, representam os nossos segundos pais. Uns o são materialmente, outros o são espiritualmente. Se uns nos guiam nos primeiros passos, os outros nos clarividenciam o raciocínio para todo sempre.

Luiz de Mattos visto pelo mais fiel dos seus discípulos

Um pouco ousada, consoante diz muito bem o Sr. Cottas, a pergunta que lhe fizemos: Como teria respondido Luiz de Mattos, fundador da Doutrina, à pergunta: “Como e por que se tornou Racionalista?”. Visávamos com ela obter um pequeno perfil daquele que fundou o Racionalismo Cristão, traçado pelo mais fiel dos seus discípulos e continuador de sua obra, e de feito, obtivemo-lo num pequeno e sintético resumo de Antonio Cottas:
É-me dificílimo responder. O mais competente ficaria aquém do seu sentir e explanar. Homem de sua envergadura moral e espiritual, psicólogo e analista, como jamais conheci, materialista que foi até ao meio século de sua existência na Terra, que não acreditava em Cristo, quanto mais em Deus, não é fácil a um terceiro interpretar o pensamento de tão eminente personagem. Julgando, pois, arriscada e até ousada a pergunta feita, como discípulo de Luiz de Mattos, o Mestre querido, direi:

Um revoltado contra a mentira

Luiz de Mattos, em toda a sua vida, foi um revoltado contra a mentira, a hipocrisia, a opressão e a dissolução.
Homem de caráter reto e de fibra guerreira tinha o valor e a honra inatos no espírito. Contam que desde a juventude era taciturno, retraído, sendo seus melhores amigos os livros.

Diligente, trabalhador e inteligente

Trabalhador e inteligente, depressa fez carreira no alto comércio de café, porém, para de algum modo descrevermos como ele era diligente desde rapaz, citaremos duas passagens interessantes da sua vida.

Empregado no comércio

Naquele tempo, era de praxe fazer plantão aos domingos nas casas de comércio. Os empregados não podiam sair a passeio todos de uma vez: saia uma turma, ficava outra. Luiz de Mattos saíra. Amigo que era da pescaria e da caça resolveu naquele domingo ir pescar. Quando quis regressar à terra fê-lo com dificuldade devido à corrente marinha. Chegando à casa do patrão, fora das horas de praxe para recolher, encontrou já trancada a porta e recolhida a turma que ficara de plantão. Veio abrir-lhe a porta o patrão, que o recebeu com insolentes impropérios. Querendo justificar a causa da sua demora, era interrompido com a saraivada de incontidas repreensões. Desesperado com a desconsideração do patrão, corre à porta, desprende a tranca de madeira e investe para o patrão, que se refugia debaixo da grande mesa das refeições. Com o alarido, acorda os demais empregados, inclusive o cozinheiro que, em vez de o socorrerem, ficaram à distância possessos de riso, tão cômico era o quadro deparado.
Implorando o patrão socorro, Luiz de Mattos julgou por bem não mais sacrificá-lo. Saiu porta fora e encaminhou-se para a casa de seu tio Mattos Chaves, a quem contou o sucedido, e que não pôde deixar de aprovar a sua atitude de homem, dado o fato de o patrão não ter permitido que ele se explicasse, justificando a sua demora.
O patrão e o tio de Luiz eram velhos amigos. No outro dia aquele vai à casa de Mattos Chaves para insistir na volta de Luiz ao serviço, mas este não quis, e não mais voltou. Empregou-se numa importante casa importadora e, em breves dias, pela sua competência, estava na gerência da mesma.
Tendo chegado da Europa, onde se achava cursando uma academia, um dos filhos do chefe da casa, este o entregou a Luiz de Mattos para o encaminhar na vida prática do comércio, dizendo-lhe: “entrego-lhe meu filho e espero que o prepare para que ele venha a ser um homem do comércio”. Luiz de Mattos marcou tarefa ao ex-acadêmico, esperança viva do pai para ser seu continuador na firma, até que, num certo dia, estando o rapar marcando mercadoria para exportação, Luiz de Mattos tropeça numa régua e vira-lhe a vasilha com a tinta; o rapaz (que era bem educado!) diz-lhe “não enxerga, seu galego?” Foi quanto bastou para Luiz chegar a roupa ao pelo do filho do patrão. Dirigindo-se ao escritório, despede-se do chefe, dizendo-lhe que supunha que lho tivesse recomendado o filho para o preparar para o comércio, mas não para o educar. Que com um mal educado daqueles não mais trabalharia.
Estimado que era na casa, todos procuraram impedir a sua saída, mas baldados foram os apelos, pois, ele saiu mesmo, e o mais interessante é que quando ele descia a rua General Câmara, encontrou-se com o ex-patrão a quem surrara e que novamente insistiu para que voltasse para a sua casa, o que fez com a condição de ir viajar.
Esta narrativa parece nada ter com a pergunta feita, mas tem, porque já fica o leitor sabendo ter sido Luiz de Mattos um espírito altivo, destemido, livre de subserviências e hipocrisias.

Homem de destaque

Aos 26 anos estava negociante conceituado, e conquistava as melhores relações na plêiade abolicionista e republicana, formando ao lado de Patrocínio, Campos Salles, e outras figuras notáveis daquele tempo.
Recusando ser deputado por São Paulo, era já, além de comissário de café, banqueiro e industrial; e foi organizador também do monopólio das carnes verdes, e da Empresa do Lixo (Limpeza Pública e Particular) no Rio. Era, como se vê, homem empreendedor, lutador incansável. A sua religião era a família e o trabalho. Não tinha crença, mas era um profundo admirador da Natureza, da Arte, e como Grão Mestre da Maçonaria pleiteava grandes reformas, que por escritos existentes no arquivo do Centro Redentor, verifica-se tratarem-se de Princípios que são hoje a base do Racionalismo Cristão.
É, pois, de supor-se que sendo interpelado “Por que se tornou racionalista?” , respondesse: “Por amor à Verdade e por amor ao próximo”.
“Racionalista já o era, faltava-me apenas saber por que o era. A esta prova submeti-me depois de desiludido do mundo e dos homens, pois, nem Buchner, que tudo baseava na ‘Força e Matéria’, me satisfez com a sua obra assim intitulada.”

O primeiro passo para o Racionalismo Cristão

“Inimigo figadal do espiritismo e dos espíritas, tive de estudá-lo forçado por circunstâncias especiais. E, desde o primeiro dia, causou-me surpresa estarem aguardando, no Centro a que me dirigi, a minha chegada para presidir a sessão, quando era certo ninguém saber que eu ali iria naquela noite.”
– “O nosso Presidente Astral ordenou-nos, irmão Comendador Luiz de Mattos, que logo que chegasse presidisse os Trabalhos”, disse-me o porteiro da choupana onde fui encontrar a prática do Espiritismo Racional e Científico.”
“Recusando, tive de aceitar por insistência, não só dos do Centro, como do meu depois dedicado companheiro Luiz Thomaz.”
“Presidindo os trabalhos, verifiquei que foram prescritos conselhos para vários enfermos, cujo formulário em original levei comigo e, tendo eu estudado medicina para curar os meus mais caros, entendi que fazendo como vira poderia, também, receitar com precisão. Fechei-me no meu gabinete e, sentado à escrivaninha, de olhos fechados, comecei a formular receitas para A e B (incorreu em grande erro, que o podia levar ao avassalamento). Surpreendeu-me o que havia escrito, mais por verificar que o médium traçara os tt e ponteara os ii e tudo o mais em linha reta, entretanto, eu nada disso fizera e estava tudo ilegível.”
“Inúmeras provas me foram dadas da existência da vida fora da matéria e também me foi afirmado pelo Astral Superior que os meus doentes (desenganados tuberculosos pelo meu particular amigo Dr. Oliveira Botelho), iam curar-se, e de fato se curaram, pois aí estão vivos e sãos para quem quiser se certificar.”
“Discutindo com os Espíritos de Luz atuados nos médiuns, como quem discutisse com os homens, foi-me dito que era preciso não estar gastando palavras, perdendo tempo, pois, muito tempo já eu tinha perdido.”

Para fundar a Doutrina da Verdade

“Que tinha encarnado justamente para fundar a Doutrina da Verdade, prosseguindo assim na obra criada por Cristo, mas deturpada pelos falsos discípulos. Que era chegado o momento de ele confirmar aquilo que os Evangelhos atribuíam a Jesus: ‘Que em tempo devido viria o Espírito da Verdade fazer o que ele não pôde fazer’, e que ‘de mil passaria, mas a dois mil não chegaria’. Esta máxima tem dado causa a explorações, pois, o clero afirma que Cristo dissera que o ano dois mil seria o fim do mundo. Como se o mundo ou o que tem vida tivesse fim.”
“A dois mil não chegaria a ignorância da Verdade, eis o que Cristo quis dizer e confirmado está desde 1910 com a implantação da Doutrina da Verdade ou Racionalismo Cristão.”
“Convencendo-me dia a dia da verdade, ainda assim levei 18 meses a completar os meus estudos psíquicos, pois, já havia concluído que o gênero humano poderia comparar-se ao relógio: defeituosa a menor peça, todo o maquinismo sofreria; portanto, o corpo humano bastaria ter uma das suas células enfraquecidas para todo o organismo se ressentir, e daí o concluir: Não havendo corpos perfeitamente sãos, toda a humanidade está anormal.”
“Admirando os mais notáveis escritores socialistas, via sempre: o espírito revoltado ensinando a destruir, mas não a construir dum modo racional e científico, embora falando muito em fraternidade.”
“Os sábios, em sua maioria, embaralham as causas e os efeitos, atribuindo ao efeito causa e a esta efeito. Em vez de se unirem para construir, guerreiam-se uns aos outros, cada qual querendo a primazia. Conclusão: Muito já há feito, mas os homens têm agido impulsionados para o progresso e amenização do sofrimento humano, sem que se apercebam da Força que os incita e movimenta.”
“Eis o que era preciso explicar ao mundo, mas, de modo racional e científico, livre de misticismo e sobrenatural, o que fiz através do livro Espiritismo Racional e Científico Cristão pela imprensa e por conferências.”

A Razão e a orientação que sempre teve

“Fundado o jornal A Razão, nunca tive a pretensão de diminuir a quem quer que fosse, mas, sim de fazer luz na inteligência daqueles que se abrigam sob os estandartes da ‘ciência’, ou da ‘caridade’."
“Era tão franca e leal a minha atitude, que sempre me propus oferecer graciosamente as colunas do dito jornal para ser combatida, sem alteração de uma vírgula, a Verdade.”
“Homem de atitudes francas, desejei sempre colaborar na Obra do Todo, como partícula do povo que almeja paz. Mas, para ser conseguida essa Paz tão falada, é preciso dar cultivo à inteligência a fim de vencer por meio dela, não pelo das armas que são o produto da ignorância ao serviço dos potentados sem alma, para quem a vida representa GOZAR, ainda que acobertados do pomposo título de religiosos.”
“Que lhes importa quem morre de fome se eles têm para gastar à larga?”

Não é essa a vida

“Racionalize-se o povo e estar-se-á movendo guerra aos vícios, aos nulos, aos escravocratas de casaca e batina, surgirá o governo do povo pelo povo – governantes e governados se respeitarão; os direitos serão iguais perante a Lei.”
“Se o Criador é um e único, por que favorecer a uns e desprezar a outros? Serão essas as suas leis?”
“Não! A Natureza nos está indicando que não. Isso é somente obra do homem bruto com requintes de civilidade.”
Eis por que e para que Luiz de Mattos se tornou racionalista: PARA CONTINUAR A OBRA GIGANTESCA DA VERDADE. PARA DESBRAVAR A MATA VIRGEM DA IGNORÂNCIA. PARA MOVER GUERRA DE MORTE À MENTIRA E À CIVILIZAÇÃO BASEADA NA HIPOCRISIA.



A MULHER PERANTE O RACIONALISMO CRISTÃO

As duas mais autorizadas vozes femininas, Maria Mattos do Nascimento Cottas e Amélia Maria de Mattos Thomaz,, falam-nos sobre o papel da mulher, segundo os princípios racionalistas e científicos.

Maria Mattos do Nascimento Cottas

Maria Mattos do Nascimento Cottas é filha de Luiz de Mattos e esposa de Antonio do Nascimento Cottas, o que já seria suficiente para recomendá-la como voz autorizada da Doutrina. Porém, antes de mais nada, impõe-se pelo seu valor pessoal, pois basta vê-la uma única vez transmitir uma comunicação de um Espírito de Luz, para nos convencermos que só uma mulher valorosa e digna seria capaz de desempenhar tal papel. Conforme fizemos ver no nosso prefácio, procuramos observar o modo de viver de todos os que neste livro se manifestaram sobre o Racionalismo Cristão e só depois de verificarmos que a pessoas os seguia é que procurávamos entrevistá-la. A Maria Mattos do Nascimento Cottas nunca fomos oficialmente apresentados. Porém, basta olhar-se para as suas filhas, cheias de saúde e vigor, educadas e disciplinadas, para reconhecer-se que só guiadas por mãe de princípios elevados é que assim podiam ser. Quanto ao seu grau de cultura, nada mais precisamos do que vê-la desempenhar a função de médium para nos convencermos tratar-se de uma senhora altamente instruída, pois é sabido que o espírito só se pode manifestar em instrumento afim. Ora, para um Luiz de Mattos, Pinheiro Guedes, Oswaldo Cruz, Henrique de Castro, Pedro Lessa e outros poderem transmitir os seus elevados e científicos ensinamentos, preciso é que o instrumento físico os conheça, a fim de haver a necessária compreensão por parte deste e, assim, fielmente interpretar o pensamento daqueles.
Pode, pois, a mulher brasileira orgulhar-se de, em seu seio, contar com um elemento do valor de Maria Mattos do Nascimento Cottas, cujas declarações, conforme se poderá verificar, revelam uma mulher de nítida compreensão da vida, capaz, portanto, de ser mãe e esposa exemplar.

A mediunidade e o seu desenvolvimento

A primeira pergunta que à nossa entrevistada fizemos foi a seguinte: É de grande dificuldade o desenvolvimento da mediunidade?
Desenvolvi a minha mediunidade muito facilmente, pois, esclarecida que era, fácil me foi perceber e diferenciar o fluido do Astral Superior do do inferior e docilmente receber as intuições dos mesmos. Estando esse assunto bem desenvolvido nos capítulos XVIII, XIX e XX do livro Espiritismo Racional e Científico Cristão, 7a edição, recomendo-o aos investigadores.

Todos os seres humanos são médiuns

Em seguida lhe perguntamos: Qualquer pessoa pode servir de médium para qualquer espírito?
Sendo a mediunidade uma faculdade que acompanha o espírito desde o seu encarnar, todos nós somos médiuns, embora uns mais desenvolvidos do que outros. Assim, sendo, qualquer pessoa que tenha a mediunidade desenvolvida, dentro dos Princípios Racionais e Científicos, está apta a receber qualquer espírito. O principal é saber como e por que se pratica a mediunidade, que sendo exercida sem as garantias de uma forte corrente fluídica é um perigo, pois pode levar a criatura à obsessão (loucura).
Desenvolveu a sua mediunidade como e por que? Teve o seu pai, Luiz de Mattos, grande interferência para que a desenvolvesse?
Desenvolvi a minha mediunidade livre e espontaneamente, sem que para isso interferissem nem meu pai, que sempre respeitou o livre-arbítrio dos seus filhos, depois de maiores, nem tampouco o meu marido. Achando que a Doutrina precisava de médiuns dedicados e desinteressados, prontos sempre para a prática do bem, resolvi desenvolve-me, pedindo a meu marido que me colocasse à mesa para dito fim. O que não fiz em vida de meu pai, vim a fazer meses depois da sua desencarnação.

O valor de Luiz de Mattos

Quais as qualidades que mais apreciava em Luiz de Mattos?
Dentre as muitas qualidades que possuía meu saudoso pai, a que eu mais apreciava era o seu valor. Dotado dum espírito forte nunca recuou diante do perigo e nunca fugiu ao inimigo.

O papel da mulher moderna

Saímos do terreno do problema espiritual, deixando os assuntos referentes ao espiritismo, e quisemos que a nossa entrevistada nos dissesse algo sobre a mulher moderna. Certamente, não entendemos por mulher moderna a que faz vestidos à última moda, com o maior decote possível, mas, sim, a mulher culta, instruída, integrada nas necessidades do século em que vivemos.
Qual o papel da mulher moderna na sociedade?
O principal papel da mulher moderna na sociedade é ser verdadeiramente mulher. Sendo esposa carinhosa e dedicada e mãe exemplar, imperará no lar como rainha.
Deve a mulher permanecer no lar ou sair fora dele?
Não se deve afastar do lar, dele só devendo sair em último recurso, e por isso deve toda mulher ter uma profissão que possa exercer dentro de sua casa, e que a ponha a salvaguarda de necessidades, caso não tenha quem possa, como pai, irmão ou marido, angariar o necessário. A mulher deve ser preparada para agir livremente no comércio e na indústria concernentes ao seu sexo. Ela dever ser independente, mas, desde que casa, tudo deverá fazer em conformidade com o marido. A mulher em plena liberdade, pelas ruas e em casas de comércio, está sempre sujeira às más irradiações de homens pouco sensatos e nada discretos, e para que ela possa sair ilesa desse meio é preciso que tenha uma sólida educação moral, conheça do que são capazes os homens e saiba se conduzir sempre com altivez, impondo-se ao respeito.

A infelicidade conjugal que reina hoje nos lares

E' sabido que, hoje em dia, em mais de 90% dos lares reina a infelicidade conjugal, devido a inúmeras causas. Quisemos que Dona Maria N. Cottas nos dissesse algo a respeito, fazendo-lhe, para isso, a seguinte pergunta: Havendo hodiernamente, tanta infelicidade conjugal o que deve fazer a mulher para atenuar, ou mesmo eliminar esta infelicidade?
Só a educação racional e científica eliminará a infelicidade conjugal. O casamento para ser feliz é preciso que haja comunhão de idéias, o que é bastante difícil dada a desigualdade de inteligência em uns, a falta de raciocínio em outros e o espírito de imitação (principalmente por parte da mulher) em muitos.
Sou mulher, mas reconheço que nós, na maioria das vezes, somos as causadoras da nossa própria infelicidade, pelo nosso descuido e pelo pouco zelo aos nossos maridos. Uma esposa nunca deve concorrer para que o seu esposo abandone o lar, o que acontece muitas vezes por seu desleixo, falta de raciocínio e paciência, não desculpando, antes condenando, não evitando discussões, antes provocando-as.
A traição do homem quase sempre é motivada pela sua vida de desinteligências com a esposa, ou por f alta de zelo da mesma.
Reconheço que há boas esposas, pacatas, que vivem na maior harmonia com os esposos (condescendendo em tudo com eles, mas sem raciocínio, vivendo apenas como autômatas) e que, no entanto, são traídas por eles, julgando-se então verdadeiras vítimas. Por que? Porque, segundo me dizia meu pai, a mulher para ser boa esposa, precisa ser superior, vivendo com inteligência, mas nunca servindo apenas de instrumento de prazer ao homem ou de sua simples criada.

O lar de uma mulher inteligente

O lar de uma mulher inteligente e amiga de seu marido deve ser um ninho de encantos e atrativos e não uma geladeira onde o homem penetrando, ao voltar do seu labutar quotidiano, sinta os efeitos de um ambiente sem calor e de uma esposa sem vida.
A traição da mulher é também, por sua vez, ocasionada pela falta de zelo do homem, seu marido. Ele, para ser um bom esposo deve mostrar que se interessa pela esposa, e ocupar no lar um lugar de respeito pela fidalguia do seu trato, pelo seu caráter e pela sua energia.
Os homens condescendentes, indulgentes até a covardia, que deixam as suas esposas em completa liberdade, dobrando-se a todos os seus caprichos, sendo assim governados por elas, não são bons esposos, são simplesmente ridículos. E quantos existem por esse mundo além ! São estes os mais traídos, apesar de toda a sua ‘sublime’ condescendência.
O bom esposo impera, tem vontade. Reconhece os direitos da esposa, concorda com os seus sensatos desejos e discorda dos que o não são. É carinhoso, indulgente, mas sempre homem, dominando pelo seu amor forte, ardente, mas sincero e elevado. Não é déspota, mas também não é covarde. Agindo assim, será sempre respeitado e dificilmente traído.

Só a educação

Assim sendo, só a educação eliminará a infelicidade conjugal, pois só ela fará desaparecer os caprichos e a falta de zelo na mulher e o despotismo ou a covardia no homem.

Papel da mulher esposa e mãe

Qual o papel da mulher esposa e da mulher mãe no momento atual, que a humanidade vem atravessando, locupleto de dificuldades e desgraças?
A mulher desempenhará a primor o seu papel de esposa se procurar conhecer o gênio e as tendências de seu marido, e souber compreendê-lo evitando discórdias e procurando modificá-lo nas suas más inclinações, o que conseguirá com persistência e calma. Não sendo nós nenhumas perfeições, devemos saber desculpar, sem o que não haverá equilíbrio na vida conjugal.
Ser mãe é o papel mais sublime, mas também mais árduo da mulher. Ser mãe é ser educadora de almas, cujo caráter aos seus cuidados está entregue, para, uma vez formada, torná-las úteis à sociedade e à humanidade.

Como se devem educar crianças

Como educa atualmente as suas filhas?  Foi a antepenúltima pergunta que fizemos a Dona Maria Mattos do Nascimento Cottas.
Educo as minhas filhas racional e cientificamente, de acordo com o que explica a nossa Doutrina.
Nada de religiosidades. A Verdade acima de tudo.
Procuro incutir-lhes no espírito o valor, e faço questão absoluta que as minhas filhas tenham vontade e saibam dominar-se, pois reputo estas as únicas qualidades capazes de tornar a mulher vitoriosa neste lutar constante da vida terrena.

Luiz de Mattos era dedicadíssimo à família

Na penúltima pergunta voltamos à personalidade de Luiz de Mattos, perguntando à sua filha se se dedicava muito à sua família.
Meu pai, respondeu-nos, era dedicadíssimo à família. Para seus filhos, irmãos e sobrinhos vivia, até fundar a Doutrina, à qual se entregou de corpo e alma, não vendo depois senão a sua explanação, a sua divulgação, estudando e vivendo unicamente para ela.
Era muito severo para com os filhos, mas extremamente carinhoso e amigo. Os conselhos que nos dava eram sempre os mais sãos e elevados. Eu o admirava e respeitava estremecidamente.

Dois interessantes fenômenos psíquicos

Por fim interrogamos: Deu-se consigo algum interessante fenômeno psíquico?
O mais interessante fenômeno psíquico que comigo se deu foi em vida de meu pai, quando, em minha casa, subitamente me encontrei atuada. Tendo sido chamado meu pai, recebi-o acintosamente, insultando-o e procurando agredi-lo. Fenômeno este que me demonstrou a mediunidade sensível que possuía e a necessidade que tinha de desenvolvê-la. Mas, mesmo assim, não me quis desenvolver naquela época, vindo a fazê-lo dois anos mais tarde.
Outro fenômeno psíquico constatei quando desencarnou minha mãe: Estava em minha casa fazendo as habituais irradiações, quando vi nítida, mas rapidamente, a minha progenitora, vindo a saber, no dia seguinte pela manhã, da sua desencarnação. Verifiquei, então, que tal aparição se tinha sido logo após a sua desencarnação.



Amélia Maria de Mattos Thomaz

Amélia Maria de Mattos Thomaz, esposa de Luiz Alves Thomaz, que ao lado de Luiz de Mattos fundou o Racionalismo Cristão, tem-se revelado, após a morte do seu esposo, um dos mais dedicados elementos da Doutrina, por ela trabalhando incansavelmente. Melhor do que quaisquer elogios que lhe pudéssemos tecer, falarão as sinceras e racionais palavras que adiante ela proferiu, atendendo ao pedido que lhe fizemos para que nos concedesse uma entrevista.

Médium desenvolvido

Era médium desenvolvido antes de se casar com Luiz Alves Thomaz? Foi a primeira pergunta que lhe fizemos, obtendo a, seguinte resposta:
Sim, e foi um dos motivos que o levaram a casar-se comigo o que prova que, já nessa época, 1911, ele era dedicadíssimo à Doutrina.
Eu já conhecia e praticava a Doutrina quando solteira. Naturalmente com o decorrer do tempo, fui adquirindo outros conhecimentos, mesmo porque ela tem evoluído muito, bem como passado por grandes modificações.

Uma vontade de aço, principal característica de Luiz Alves Thomaz

Em seguida, quisemos, por intermédio da pessoa que mais lidou com Luiz Alves Thomaz e a que ele mais amou, levar ao conhecimento dos nossos leitores, algumas das muitas qualidades morais que possuía este grande espírito. Interrogamos, assim, a Dona Amélia Maria Thomaz que nos respondeu com a franqueza habitual:
Luiz Alves Thomaz era senhor de uma vontade de aço. Em todos os atos da vida era um bravo. Empresa em que ele entrasse ia para diante, pois não olhava sacrifícios morais ou físicos para chegar ao fim almejado. De austero aspecto, era de um fundo boníssimo.

Qualidades raríssimas

A noção geral que se tem hoje de que homem forte, de vontade férrea, é aquele que sabe olhar com indiferença ou mesmo escarnecer do sofrimento alheio. É um conceito indiscutivelmente errado, combatido com veemência máxima pelos verdadeiros espiritualistas. Quando pela sua obra, pela sua ação eficaz, pois deixou, uma fortuna respeitável adquirida à custa de trabalho contínuo e inteligente, um Luiz Alves Thomaz se impõe aos homens, fica-se contente em verificar-se o adiantamento do seu espírito, que não se deixou levar pelo egoísmo e pela vaidade.
Continua Dona Amélia Thomaz:
Para se verificar o fundo boníssimo de meu pranteado esposo, basta dizer que chorava lendo um romance sentimental ou assistindo no teatro à representação de uma peça onde se desenrolasse o sofrimento de alguém.
Fazia justiça até aos próprios inimigos, e dava razão a quem a tivesse. De uma modéstia extrema, não dava importância à sua pessoa. Esforçou-se para adquirir fortuna, dizia ele, simplesmente para ser independente e não para se entregar aos gozos materiais nem para afrontar os outros. Metódico como ainda não vi igual, principalmente na vida comercial e financeira, tratava os seus subalternos com verdadeiro carinho e amor, exigindo deles o cumprimento dos seus deveres e dando-lhes exemplo de cumprir o seu. Com a boa orientação que tinha, fazia do fraco um forte. Concorreu para o bem estar material de muita gente, fazendo de um carroceiro um negociante, de um cavador de terra um administrador e depois um fazendeiro. Quem fosse trabalhador e bom filho, tinha nele um protetor incondicional. Muitos malandros valeram-se destas suas boas qualidades para ludibriá-lo. Gostava muito de dar conselhos, quer escrevendo, quer falando, a ponto de muitas pessoas não se sentirem bem e o criticarem; mas só o fazia quando as pessoas lhe mereciam consideração, as que desmereciam do seu conceito, não as censurava, mas não lhes dava mais importância.

Quase católico

Era Luiz Alves Thomaz religioso antes de aderir ao Racionalismo Cristão?
Não era religioso, mas também não era ateu. Pode-se dizer que era católico em idéias, mas não praticante. Teve alguma simpatia pela religião católica, (que era a religião de seus pais) porque acreditava que as missas fossem úteis às almas, tanto que anualmente as mandava rezar por alma dos seus pais, deixando de fazê-lo só depois que conheceu o Racionalismo Cristão. Não era praticante, mesmo porque não conhecia oração alguma, indo raramente à igreja; e quando isso fazia, era somente pelo preconceito social. Contava ele que em criança o pai tentou ensinar-lhe o Padre Nosso: pegava-o no colo e principiava a ensinar-lhe as palavras dessa oração. Ele, por sua vez, fingia adormecer. Então, o pai chamava uma das irmãs e lhe dizia: “Vai deitar este pequeno, que está a cair de sono”. Só aprendeu o Padre Nosso, quando começou a assistir às sessões espíritas.
Quais os motivos que levaram o seu marido à Doutrina?
Tendo liquidado a casa comercial Thomaz, Irmão & Cia., em princípios de 1909, encontrava-se bastante desanimado e abatido moralmente, pois tinha grande dedicação e zelo por essa firma. Para distrair-se um pouco, ia todas as tardes, após o jantar, para a casa de um seu amigo íntimo, Manoel João Alves.
Em uma tarde de setembro de 1909, chegando à casa desse amigo, por ele não pôde ser atendido. Luiz Thomaz perguntou-lhe qual o motivo porque não podiam palestrar naquele dia, dizendo-lhe o seu amigo: “Vou a uma sessão espírita, onde estou tratando minha mulher, pois os médicos nada têm conseguido, e com o tratamento espírita já vai bem melhor da paralisia”.
Luiz Thomaz quis acompanhar o seu amigo, indo à sessão referida. Lá encontrou o Comendador Luiz de Mattos, pessoa que até essa data não lhe era simpática. Assistiu à sessão achando muita graça no que diziam os espíritos e compreendendo pouco do que se passava: só tinha vontade de rir-se. Voltando no dia seguinte, foi-lhe perguntado se queria receita. Luiz, que não andava muito bem de saúde, respondeu pela afirmativa.
Por um dos guias, o Dr. Custódio Duarte, foi diagnosticado o que ele tinha, bem como dada a competente medicação. Não lhe foi difícil verificar que estava certo o diagnóstico, não só pelo que sentia, como também pelo que lhe havia sido dito por vários médicos. Este fato levou-o a raciocinar, tirando a conclusão de que a vida fora da matéria existe, pois, desconhecido como era do instrumento, não podia este, por si só, adivinhar os seus sofrimentos físicos.
Daí por diante, outros fenômenos se passaram com a sua pessoa, que o levaram à convicção da existência da vida espiritual.

Uma vida de sofrimentos

Foi de grandes sofrimentos a vida de Luiz Alves Thomaz?
Sim, a sua vida foi cheia de sofrimentos físicos e morais. Dava mais importância a estes do que àqueles. Durante os vinte anos e meio que vivemos juntos, vi-o passar muitos dias aborrecido e muitas noites sem dormir, por sofrimentos morais. Porém, mantinha-se sempre calmo e bem humorado nas doenças físicas, que foram bastantes.

Provas de resignação e força de vontade

É na adversidade que se revelam os homens. Luiz Alves Thomaz, conforme se verá pelas linhas abaixo, sofreu muito, enfrentando a dor com uma galhardia incrível.– Em 1914, apareceram-lhe enormes feridas nas pernas, passando depois a outras partes do corpo, o que o obrigou a estar de cama nove meses seguidos, e só melhorou de todo, em 1918! Foram quatro anos de martírio, que ele suportou com uma resignação admirável. Em 1923 teve um tumor no antebraço direito, que formou um buraco por onde se via o osso; ao fechar, encolheram-se-lhe os nervos do braço, ficando mais de um ano sem com ele poder fazer todos os movimentos naturais,
Com a força de vontade que lhe era peculiar, fazendo ginástica todos os dias, conseguiu fazer voltar ao braço todos os movimentos. Durante estes, como em outros sofrimentos físicos, mostrou sempre uma paciência sem limites, não se dando o mesmo com os sofrimentos morais, que o deixavam irritado, e estes foram, também, muitíssimos.

Como desencarnou Luiz Alves Thomaz

Desencarnou em virtude de alguma doença?
Vou responder a esta pergunta transcrevendo o tópico de uma carta que escrevi em 4 de Janeiro de 1932, ao mais distinto e honrado amigo de Luiz Alves Thomaz :
“Vou contar-lhe detalhadamente o que vitimou o seu leal e dedicado amigo, que o era de fato, o meu idolatrado Luiz: a 19 de novembro do ano passado, precisando tratar de negócios em São Paulo, foi lá, já doente, mas como o senhor sabe, ele era escravo do dever. Desse dia em diante não mais se levantou da cama. Depois de muitas dores e febre, apareceu-lhe um tumor no ombro esquerdo, a que o médico deu o nome de fleugma . Estava aplicando os remédios aconselhados pelos médicos astrais aqui do Centro, quando, no dia 24, eles ordenaram que fosse chamado um médico. O Luiz não queria, mas a muito custo consegui convencê-lo. Veio o médico – o Dr. Adalberto Moura Ribeiro – e disse que aquilo não era nada: com uma pequena operação ficava bom, mas que precisava ir para o hospital.”
“Diante disso, o Luiz deliberou ir para a Beneficência Portuguesa, aqui em Santos, que é um hospital modelo. Para lá fomos, eu e ele, no dia 25; nesse mesmo dia foi operado, correndo tudo muito bem. No dia seguinte, após ser feita a análise da urina, o médico verificou a existência de açúcar e, portanto, diabetes. O médico continuava a dizer que ia tudo muito bem, até que no dia 6 de dezembro começou a piorar, aumentando a febre. Nesse mesmo dia, foi feita uma conferência médica, mas em virtude de se ter manifestado a meningite, não teve mais cura possível. E foi assim que no dia 8 de dezembro, às 10 horas da manhã, lá se foi nosso querido Luiz para não mais o vermos até o dia em que nos seja permitido juntarmo-nos com ele em mundo melhor.”

A primeira atuação

Quais os mais interessantes fenômenos psíquicos por si observados? Perguntamos a Dona Amélia Thomaz, encerrando com a anterior as perguntas sobre Luiz Alves Thomaz.
O primeiro, e que mais me impressionou, passou-se numa das primeiras sessões a que assisti, ao ser atuada pela primeira vez. Estava na assistência (as sessões nesse tempo, fim do ano de 1910, eram feitas numa casa que não tinha um salão como o de hoje, ficando a assistência perto da mesa devido à pequenez da sala, não havendo um estrado como o de hoje), e após uma hora, mais ou menos, de serem iniciados os trabalhos, que naquele tempo principiavam às 8 horas e terminavam às 11:30, comecei a sentir uma coisa extraordinária que me fazia resfolegar pesadamente e arrastar os pés sem querer. Sentia na cabeça uma sensação como se estivesse caindo sobre mim uma chuva miudinha, sem poder coordenar os pensamentos, enfim, um estado completamente estranho. Apesar de tudo isso sentia um bem estar inexplicável. Daí por diante, outros fenômenos tenho sentido e observado, mas nenhum me impressionou tanto como este que acabo de narrar.

Fluidos de Luiz Alves Thomaz nitidamente sentidos

Sente alguma vez o seu falecido marido?
Sim, tenho sentido a irradiação de seu espírito muitas vezes e principalmente nos momentos em que me sinto preocupada com alguma coisa que se prenda aos interesses da Doutrina e que me faça sofrer. Sinto nesses momentos os seus fluidos e as suas intuições tão claras que me parece ouvi-lo dizer o que tenho a fazer.
Quanto à sua pergunta se me comuniquei alguma vez com o seu espírito, tenho a dizer-lhe que ele tem se comunicado conosco nas sessões públicas de doutrinação. Sempre que estou presente, e logo que ele começa a falar, recebo a intuição de que é ele, o que prova que entre os nossos espíritos há forte afinidade.

Esposa e mãe exemplares é o dever da mulher

Por fim, à nossa pergunta: Qual a mais eficaz maneira de a mulher moderna concorrer para a evolução da humanidade? a nossa entrevistada assim respondeu.
Sendo esposa e mãe exemplar, esforçando-se por ser de fato a rainha do seu lar, educando os filhos e o próprio marido, preparando-os moral e fisicamente para serem fortes de alma e corpo e, assim, úteis a si e à sociedade em que viverem; a mulher terá cumprido os seus deveres, dignificando e elevando o chamada “sexo fraco”.



O RACIONALISMO CRISTÃO PERANTE O DIREITO

O que nos disseram dois grandes causídicos brasileiros: HEITOR LIMA e EMIR NUNES DE OLIVEIRA

Heitor Lima

Heitor Lima é uma figura popularíssima no nosso País. As suas atitudes desassombradas na grande campanha para que o Brasil forme ao lado dos países que adotam o divórcio, que é atualmente uma imprescindível necessidade social, fê-lo conhecido por todos os que acompanham com interesse qualquer movimento intelectual em nossa terra.
Sabíamos que S. Sa. simpatizava com o Racionalismo Cristão, procurando estudá-lo para mais firmes conclusões e, por isso, resolvemos procurá-la para que nos dissesse algo sobre o assunto ventilado neste livro.
Não obtivemos uma exposição mais longa e mais fundamentada porque o Dr. Heitor Lima tinha a doce ilusão de convencer os constituintes que se devia adotar o divórcio, achando-se numa grande atividade jornalística, não poupando esforços para que se chegasse a conseguir qualquer coisa neste sentido na clerical Constituinte que elaborou nossa última Constituição .
A sua entrevista é verdadeiramente jornalística. S. Sa. falava e eu anotava. Contudo, em interessante síntese, o leitor poderá saber o que o nosso maior batalhador pelo advento do divórcio no Brasil pensa sobre o Racionalismo Cristão.

Excelente filosofia moral

À nossa pergunta “O que pensa do Racionalismo Cristão como filosofia?” obtivemos a seguinte resposta:
O Racionalismo Cristão, pregado, ensinado e divulgado pelo Centro  Redentor, é uma excelente filosofia moral, tão apegada à razão e à natureza que qualquer pessoa, seja qual for o credo religioso ou, como se dá comigo, destituída de qualquer crença, não poderá deixar de reconhecer o alto objetivo dessa Doutrina.

Raízes na própria natureza humana e cósmica

As afirmações do Racionalismo Cristão, os seus preceitos e os seus princípios têm raízes na própria natureza humana e cósmica. Ele ministra conselhos e ensinamentos que seriam da mais absoluta utilidade se adotados pelo homem.

Fator valiosíssimo de aperfeiçoamento moral e espiritual

Continua:
Partindo do princípio de que fora da natureza e da razão não há doutrinas aproveitáveis, e sujeitando, assim, os seus próprios teoremas à contraprova das leis naturais e racionais, essa doutrina de elevado espiritualismo constitui, em nosso país, um dos mais insignes elementos de progresso e um fator valiosíssimo de aperfeiçoamento moral e espiritual.

Em face da criminologia, é um terapêutica do crime

Estando em face de um cultor do Direito, não poderíamos deixar de fazer a pergunta que se segue. De fato, este livro destinando-se a estudantes de todas as universidades e, portanto, também aos de Direito, entre os quais eu me orgulho de figurar, muito alcance teria a opinião de um dos mais conceituados advogados da Capital da República, sobre tão importante assunto.
Qual a situação do Racionalismo Cristão diante da criminologia? Não concorreria ele muito para elucidar esta ciência do Direito?
Em face da criminologia, considero o Racionalismo Cristão uma verdadeira terapêutica do crime, que previne, por meio de uma profilaxia adequada ao soerguimento das forças morais do indivíduo, evitando, além disso, a reincidência, pela aplicação de uma pedagogia cujos efeitos nenhuma natureza humana se poderia furtar.
Obrigando o indivíduo a procurar em si mesmo as forças de energia para sentir, pensar e agir, elucida o problema tormentoso da intenção.
É sabido que, em criminologia, a intenção constitui, de feito, um problema tormentoso. Diante dele, juízes e advogados vêem-se em sérias dificuldades, pois para elucidação de qualquer crime, necessário é que se saiba se o crime foi ou não intencional. É, pois, de grande relevância a afirmação que Heitor Lima nos acaba de fazer, e mais do que nunca, nos mostra a necessidade de averiguarmos a sua procedência como futuros advogados e juízes que somos.

O espiritualismo sempre governou a Terra

O que pensa do movimento espiritualista atual?
É um erro supor que a era da máquina, do aeroplano e do rádio, tornando vertiginosa a vida, a tenha do mesmo passo materializado.
Se é certo que o espírito, como função da fisiologia ou da matéria, depende da integridade funcional do corpo, não é menos certo que a vida do espírito é irredutível .
O Espiritualismo, nesse sentido, nunca esteve em crise, nem abdicou jamais do governo da Terra.
O que tem acontecido é que há lances da História em que prepondera o jogo das forças materiais e telúricas. São desequilíbrios inevitáveis, mas passageiros.

O primeiro dever do Estado

A saúde do corpo é o primeiro dever do Estado, para que possa florescer a saúde do espírito, reitor da civilização.

A marcha da humanidade

Para onde caminha a humanidade?
A humanidade caminha incessantemente para mais altos desígnios, mas essa marcha não é linear.
Quanto à sua pergunta sobre o marxismo, direi: o marxismo teve o grande mérito de conter os desvarios teóricos e chamar à realidade os historiadores, ensinando-lhes que o materialismo histórico é o único critério na investigação das leis sociais.

Estudar os problemas fundamentais da felicidade humana

Qual o principal dever da mocidade acadêmica do nosso país?
A meu ver, a juventude acadêmica tem o dever de estudar os problemas fundamentais da felicidade humana e tomar parte em todos os debates que se ferirem em torno dos interesses nacionais.

O Espiritualismo e o divórcio

Acha que o verdadeiro espiritualismo está em contradição com o se adotar o divórcio, tão necessário na sociedade atual?
O Espiritualismo, pleiteando o máximo de harmonia e de beleza nas relações humanas, adota o divórcio como a expressão de uma necessidade irrecusável.



Emir Nunes de Oliveira

Emir Nunes de Oliveira é um dos mais destacados causídicos de nossa Capital. Jovem ainda, conseguiu impor-se pela sua competência, granjeando um círculo de amigos e admiradores que só por si bastaria para recomendá-lo à opinião pública. De que temos certeza é de que os nossos colegas da Faculdade de Direito receberão com grande prazer a colaboração desse advogado, pois é um dos mais admirados na mesma.

Como entrou em contacto com a Doutrina

Preliminarmente, perguntamos a Emir Nunes de Oliveira como tinha conhecido o Racionalismo, obtendo a seguinte resposta:
Quando, em 1923, o Sr. Antonio do Nascimento Cottas, com o assentimento do então Presidente do Centro Redentor, Comendador Luiz José de Mattos, confiou-me o cargo de advogado do Centro, conhecia eu os princípios basilares do Espiritismo, através os livros de Alan Kardec, Roustaing e das inúmeras publicações diárias de propaganda em revistas e jornais.
Julgando perfeitamente morais os princípios espíritas, todavia sempre desconfiei dos praticantes do Espiritismo como, aliás, boa parte do povo. É que tais praticantes sempre me pareceram visionários e ineptos para compreenderem proveitosamente os princípios espíritas.

Distinção necessária

Distinguia então, como ainda hoje distingo, os grandes e abnegados investigadores do que se chama Ciência Espírita, Metapsíquica ou simplesmente Espiritismo, da grande malta que apenas explora os crédulos do Espiritismo.
Relacionado, por dever de ofício, com inúmeros racionalistas cristãos, e pelo mesmo dever obrigado a estudar o Racionalismo Cristão para defendê-lo nas pugnas judiciárias, de pronto verifiquei que essa doutrina pregava princípios de elevada espiritualidade.
Em que pese o combate declarado pelo Racionalismo Cristão às diversas seitas espíritas, apontadas como praticantes da Magia Negra, o Racionalismo Cristão é uma doutrina espiritualista que, em suas práticas, apresenta alguma semelhança com as práticas espíritas comuns. Essa semelhança é, porém, mais aparente do que real.
Efetivamente, quem assiste uma sessão de doutrinação racionalista cristã pode confundi-la com sessão comum da mesma natureza (de doutrinação), de qualquer seita kardecista.

A diferença

O observador avisado, continua o Dr. Emir Nunes de Oliveira, porém, nota imediatamente a diferença. No Centro Redentor, onde se pratica o Racionalismo Cristão, não se invocam espíritos de mortos, para satisfação deste ou daquele assistente. As doutrinações são genéricas e abordam os temas mais variados. Nota-se imediatamente aí a diferença entre o Kardecismo e o Racionalismo Cristão nas práticas exteriores.
Quanto à Doutrina, são profundas as diferenças.
Embora o Kardecismo, e quando me refiro ao Kardecismo compreendo as demais seitas espíritas, tenha como princípio a dualidade da composição dos seres vivos – espírito e matéria – a indestrutibilidade e perpetuidade do espírito  e as reencarnações – e o Racionalismo Cristão mantenha idênticos princípios , grandes são as diferenças.
O Racionalismo Cristão tem maior extensão filosófica e pretende ter encontrado uma explicação simplista para todos os fenômenos que, sujeitos por análise ao cadinho da razão, são todos de ordem natural. No Racionalismo Cristão não existe sobrenatural, todos os fenômenos têm explicação nas leis fixas e imutáveis que regem o Universo.
Não está nos limites desta palestra uma digressão maior sobre o assunto, e parece-me que focalizada a relevância em que é posta a razão na Doutrina racionalista cristã, está bem fixada a diferenciação.

Doutrina evidentemente espiritualista

O Racionalismo Cristão, como Doutrina eminentemente espiritualista, mas feito para o homem, repele tudo que a razão humana não compreenda ou recuse. Essa assertiva parece conter grave restrição que tornaria a doutrina estacionária, pela relatividade do conhecimento humano, meio por que se exercita a razão ao investigar a verdade.
Essa restrição desaparece diante da lei da evolução ou de progresso, que o Racionalismo Cristão tem como basilar. O espírito progride, evoluindo sempre para a perfeição. Não há retrocesso no avanço espiritual . Daí ser apenas contingente e relativa a restrição, porque a razão humana de hoje não é a mesma de há mil anos, como não será idêntica à do próximo século. Com o progredir, aumenta o conhecimento, torna-se menos falha a razão.

O telescópio para a visão física e os guias para a razão

Continua o ilustre causídico: O Racionalismo Cristão, portanto, sujeitando à razão o conhecimento, nada restringe.
Vemos com os olhos, raciocinamos com a razão.
Para aumentar nossa visão dos corpos siderais, usamos o telescópio; para aumentar o alcance da razão não existe aparelho físico, mas dispõe o Racionalismo Cristão dos guias.
Esses guias, espíritos superiores, têm alguma coisa dos mestres terrenos. Inteligências mais adiantadas que valem aos homens quando o seu aparelho físico de pensar atinge o limite até onde pode funcionar.

Contra o dogma e a fé

O Racionalismo Cristão não admite o dogma, repele a crença, erigindo como fundamento único para o alcance da verdade a inteligência guiada pela razão.
Ora, o dogma, a verdade estabelecida a priori, sempre mereceu repulsa dos pensadores de todos os tempos. A verdade alcançada pela fé é anti-racional.
A luta do homem em busca do saber, surgiu com o próprio homem. Os mais insignificantes conhecimentos, que de esforços, lutas, mágoas e sofrimentos não custaram ao homem?
Por que, na matéria mais transcendente do conhecimento, erigir a fé como meio e o dogma, por princípio?
Assim encarando o princípio básico do Racionalismo Cristão, emergente de sua própria denominação, quem não será racionalista cristão?

A crise é uma resultante dos dois elementos antagônicos: o Bem e o Mal.

O que poderá o Racionalismo Cristão trazer de útil e interessante à humanidade? foi a segunda pergunta que fizemos a Emir Nunes de Oliveira:
É freqüente a afirmativa de que o mundo sofre de crise moral. A essa crise, políticos, pedagogos, moralistas, filósofos e religiosos, são unânimes em atribuir os males que afligem a humanidade.
A crise não é de hoje, foi de sempre e subsistirá enquanto persistirem os elementos antagônicos: bem e mal.
Praticar o bem é um dever. O bem passa desapercebido. O mal, pelo contrário, escandaliza, faz ruído.
Tome-se uma gazeta diária. A notícia de um assassinato enche colunas e colunas, obrigada à clichês e títulos retumbantes. É o mal escandalizando. No momento, porém, em que esse ato mau foi praticado, quantos e quantos atos bons passaram desapercebidos!
Certo que na mesma cidade, no mesmo bairro e, quem sabe, até na mesma rua, enfermeira extenuada pela vigília ainda prestava um último cuidado ao enfermo; mãe extremosa madrugava para dar mais algum conforto a seus filhos; no hospital, indivíduo desconhecido deu o sangue para reanimar um acidentado
Serei otimista, mas a despeito dos quadros tétricos que o presente nos oferece, mantenho convicção inabalável que o mundo melhora.
Doutrina que visa estimular o bem, que põe em evidência as virtudes cristãs, que obriga seus adeptos a serem bons e valorosos, é, evidentemente, útil à humanidade.
O combate ao mal é demorado, mas sem tréguas. Dia a dia a humanidade melhora, inegável sendo a influência para tal das doutrinas morais e elevadas.

O Racionalismo Cristão perante a criminologia

Também a Emir Nunes de Oliveira, animados pela resposta de Heitor Lima, pedimos que nos dissesse algo sobre este assunto, de tão grande relevância para nós.
De feito, pelos conhecimentos que já temos da Doutrina debatida neste livro, embora exíguos, achamos que nela se pode achar um verdadeiro farol para elucidação da, quiçá, mais importante ciência do Direito. Por isso houvemos por bem, dado o meio a que se destina a nossa obra, ressaltar bem o assunto através da opinião de dois ilustres advogados.
O Racionalismo Cristão, respondeu-nos o nosso entrevistado, estabelece estreito regime de responsabilidade pessoal.
Quando a maioria das seitas procura despersonalizar o indivíduo, o Racionalismo Cristão, a meu ver, pratica o inverso .
Obrigando o homem. a ser valoroso e a raciocinar livremente, torna-o grandemente responsável.
Em criminologia não há negar a importância do conceito.
O espírita em geral é fatalista. Para ele, como para os teosofïstas, o homem nasce com um bom ou mau Karma.
O Racionalismo Cristão, pelo contrário, é francamente livre-arbitrista.
Procurando desenvolver as faculdades volitivas do domem, o Racionalismo Cristão, admitindo embora a existência da obsessão, porque fornece os meios de evitá-la, não desculpa quem se deixa vencer. Não condena, porém, irremissivelmente e ao decaído fornece sempre os meios de reabilitação.
Mas, não é só na reação contra o determinismo, que torna os homens irresponsáveis, que se faz notar a importância do Racionalismo Cristão. Na correção dos criminosos, na individualização da pena e em diversos outros pontos de criminologia, muito há de interessante na aplicação dos princípios racionalistas cristãos.

O desenvolvimento do raciocínio e a sua significação

Conforme o próprio nome diz, o Racionalismo Cristão, antes de mais nada, baseia toda a sua doutrina na razão, tudo submetendo a um raciocínio demorado.,
Conhecedores disso, perguntamos a Emir Nunes de Oliveira: Acha que o homem que conhece ou pratica a Doutrina terá mais facilidade em apreciar as questões com justiça?
O homem de raciocínio forte, com o cérebro afeito a cuidar das elevadas questões espiritualistas, certo que está mais apto a apreciar as questões com justiça.
Todos nós julgamos. Em nossas funções domésticas, no trabalho com nossos subordinados, somos chamados a julgar inúmeras vezes.
Nesses julgamentos, praticaremos injustiça se o nosso raciocínio não for perfeito e olvidarmos a moderação, a bondade, a tolerância.

Dever primordial

O estudante de direito, que será amanhã advogado; o advogado, que será magistrado, têm naturalmente como dever primordial desenvolver a razão a um ponto excepcional.
Quando se impõe ao estudante de Direito a obrigação de estudar lógica, psicologia e filosofia, se lhe impõe também o dever de raciocinar bem.
Essas ciências, essencialmente abstratas, obrigam a pensar, a raciocinar.
Entre os diversos ramos do saber humano, não existirão outras mais aptas a criar celebrações perfeitas.
No estudo das ciências, não procuramos apenas o conhecimento geral, a explicação dos fenômenos e das leis que regem, se não também a verdade.
Não basta guardar na memória uns quantos nomes, leis e fenômenos, para conhecermos determinada ciência.
Mero decorador não conhece a ciência.
As páginas de um livro apenas expõem a ciência, esta é subjetiva: o homem é que pratica a ciência.
O decorador é inexpressivo; como as páginas de um livro, reproduzirá apenas imagens e expressões.
Elevado ao mais alto conceito o raciocínio para aprendermos a ciência, não há negar a influência decisiva de doutrina que erigiu essa faculdade humana como fulcro de suas teorias.
Aprendemos a ciência raciocinando, aprendê-la-emos melhor se nosso cérebro estiver, pelas elucubrações espiritualistas, desenvolvido e for capaz de discernir o verdadeiro do falso.

A incontestabilidade de fenômenos espiríticos

Teve oportunidade de observar algum fenômeno espirítico?
Os fenômenos ditos espiríticos podem classificar-se em três grupos: lucidez – faculdade de conhecimento diferente das faculdades de conhecimentos sensoriais comuns; fenômenos de ação mecânica – diferentes das forças mecânicas conhecidas, que se exercem sem contato à distância em condições determinadas sobre pessoas e coisas; materializações.
Propôs Paul Richet que se denomine Metapsíquica à ciência destinada a estudar esses fenômenos, criando três divisões que, sob os nomes de “crisptestesia”, “telecinésia” e “ectoplasmia”, compreendem o estudo dos fenômenos mencionados.
Procurando dar caráter absolutamente científico ao estudo desses fenômenos, excluída a hipótese espírita para explicá-los, o mesmo autor estabelece estas duas proposições com apoio rigoroso na observação e nos métodos da ciência positiva:
l) A inteligência humana tem vias de conhecimento diversas das dos sentidos normais;
2) Há vibrações (forças) no Universo que agitam nossa sensibilidade e determinam certos conhecimentos da realidade, que nossos sentidos normais não nos podem dar.
Os fenômenos em questão abrangidos pelas duas proposições são, porém, explicados por uma hipótese espírita, e conhecidos comumente por fenômenos espíritas ou espiríticos.
O Espiritismo atribui esses fenômenos à ação externa dos espíritos ou forças astrais.
No momento atual, penso não existir quem negue os fenômenos ditos espíritas, apenas esses fenômenos recebem nomes diversos, conforme a teoria que os procura explicar.
O materialista dirá que o fenômeno existe, mas encontra explicação nas propriedades desconhecidas ou ainda não estudadas da matéria.
O espiritualista, conforme a teoria de sua eleição, atribuirá o fenômeno às forças astrais, aos espíritos e até ... ao diabo.
Os fenômenos existem, as teorias explicativas é que variam.
Reputo esse assunto extreme de dúvidas e, por isso, desnecessário o meu testemunho.
Lembremo-nos ainda que o velho Aristóteles, depois de tratar das forças físicas, propôs-se estudar as grandes leis da Natureza, que ultrapassam as leis físicas e escreveu o memorável capítulo “Depois das coisas físicas”...

As diretrizes do Centro Redentor

Encerrando o nosso interrogatório, pedimos a Emir Nunes de Oliveira, que nos dissesse algo sobre as diretrizes atuais do Centro Redentor que divulga a Doutrina apreciada neste livro. Ninguém melhor do que S.Sa., que tão de perto tem acompanhado a vida do Centro, poderia nos falar sobre tão relevante assunto.
No Centro Redentor, as diretrizes de hoje são as de ontem.
Fundação dos beneméritos Comendador Luiz José de Mattos e Luiz Alves Thomaz, propôs-se combater as baixas especulações da Magia Negra e o materialismo avassalador.
Combatendo, destruindo portanto, não podiam os racionalistas cristãos do Centro Redentor, a esse objetivo cifrar o seu papel.
Agindo de modo contrário ao de certas instituições destruidoras, que atrás de si deixam o vazio, o Centro Redentor procura fazer obra de reconstrução. Para substituir teorias espíritas eivadas de crendices, bruxedos e abusões, oferece uma doutrina puramente espiritualista, desinteressada, despida de atavios complicados, e acessível aos simples de espírito.
Sobre a realização material do que é proposto nos Estatutos do Centro Redentor, melhor do que eu, dizem seus volumosos relatórios anuais.


Arlindo Estrella

O Racionalismo Cristão perante a medicina

O Dr. Arlindo Estrella, conhecido clínico nesta cidade, muito se tem interessado pelo verdadeiro psiquismo, procurando averiguar para concluir.
Sabedores disso, procuramo-lo obtendo dele as seguintes declarações:

Um fenômeno psíquico que leva à averiguação

À nossa pergunta, desde quando conhece o Racionalismo Cristão? assim responde:
Desde 1923, era eu, nessa época, aluno da Faculdade de Medicina, matriculado na terceira série do curso médico. Tinha uma pessoa da família que era freqüentemente acometida de crises nervosas de forma convulsiva, que se prolongavam por algumas horas. Durante essas crises, a paciente proferia frases incompreensíveis, terminando, muitas vezes, num sono profundo, que a deixava extenuada, com dor de cabeça e sem noção alguma do que se havia passado.
Outras vezes, verificavam-se os fenômenos de maneira diversa: após um intervalo de dez a quinze minutos de repouso, involuntariamente a vítima ficava com respiração estertorosa, ansiedade em estado de torpor, logo secundado por estremecimentos. A situação, então, mudava por completo: tornava-se risonha, com fisionomia exprimindo bem estar e passava a cumprimentar a todos, como se fosse uma outra pessoa que no momento tivesse chegado.
Conversava, fazia perguntas e respondia as que lhe eram feitas, terminando por declarar sua personalidade e nome. Pelo nome tratava-se de pessoa muito nossa conhecida, pois, referia-se com clareza, a inúmeros fatos passados quando em vida, chegando mesmo a referir-se e descrever o que viu no dia em que eu fui prestar exame de geografia no Colégio Pedro II (em 1919), quando se passou um fato só de mim e desse meu amigo morto, conhecido.
Declarava-me sempre que estava em toda a parte onde eu estivesse, com o fim de proteger-me.
Mas, o que se tornava objeto de séria preocupação era que nem sempre se tratava dessa alma tão dócil, pois, freqüentemente, a pessoa que servia de médium era atormentada por espíritos perigosos que causavam sérios temores.
Só depois que começamos a freqüentar o Centro Redentor é que todos esses fenômenos deixaram de se passar em minha casa. É claro que eu não poderia deixar de entregar-me a sérias averiguações depois disso. Comecei, então, a estudar o Racionalismo Cristão.

A medicina não pode prescindir do psiquismo

A medicina, continua o nosso entrevistado, poderia tirar do Racionalismo Cristão os resultados que já têm tirado os estudiosos do psiquismo, como por exemplo, os grandes mestres Cesar Lombroso, William Crookes, Paul Gibier, Chacot, Richet e muitos outros. São bem conhecidas as importantes obras "Hipnotismo e Espiritismo" de Cesar Lombroso, "Espiritismo", "Faquirismo ocidental" do Dr. Paul Gibier, médico interno dos Hospitais de Paris e ajudante naturalista do Museu de História Natural, "Fatos Espíritas" de William Crookes, da Academia de Ciências da Inglaterra, e muitas outras.

Todos os fenômenos devem ser estudados

A medicina oficial cai no mesmo erro do dogma “crê e não pergunta por que": foge à análise de fatos, embora observados por sábios de incontestável valor, que de maneira alguma podem ser tomados por loucos ou visionários.
Todos os fenômenos são dignos de análise dos cientistas e, se assim não fosse, a química ainda estaria hoje nos domínios da alquimia e a astronomia nos da astrologia.
Se os fatos, que desde tempos imemoriais preocupam os filósofos e grande parte da humanidade, fossem objeto de acurado estudo da ciência médica, e julgados por sentença a posteriori, não estariam sob o jugo de analfabetos, sujeitos a influências perniciosas para especulação do charlatanismo .

Não há incompatibilidade

Há incompatibilidade entre a doutrina e a medicina?
Investigando todos os fenômenos psíquicos, poderia a medicina descobrir inúmeros traços de união entre os fenômenos psíquicos, radioativos, cósmicos e fisiológicos (a obra A levitação, de Alberto de Rocha, bem como a sua introdução sobre os eflúvios ódicos de Rochembach, apreciam muito bem o que acabo de afirmar), que viriam desde o micro ao macrocosmo desvendar as leis físico-químicas determinantes das moléstias e suas curas.
A medicina, como toda a ciência, é objeto de previsão constante e verificação imediata, e, assim sendo, todo o estudo racionalmente feito, dentro dos princípios da lógica, só lhe poderá trazer proveitos.

Oito anos de aplicação dos princípios racionalistas cristãos

Para confirmar o que acima disse, basta dizer-lhe que há oito anos sou médico, e desde então, aplico aos meus doentes o que o Racionalismo Cristão nos ensina.
Os resultados têm sido bons, pois, ao medicar o enfermo, procuro afastar-lhe más sugestões que criam, fatalmente, um ambiente desfavorável à físico-química de todas as defesas orgânicas. Isto, aliás, não é novo: já muitos sábios averiguadores têm-no afirmado, ocorrendo-me agora citar Ochorowiez, que em sua obra A sugestão mental, muito bem defende esse ponto de vista. Ochorowiez é lente de psicologia da Universidade de Lemberg e a aludida obra é prefaciada por Charles Richet.

O valor da influência psíquica

A medicina de nada valerá se não for acompanhada de sugestões otimistas, controladoras do subconsciente . É essa a função dos médicos, em parte. Ao lado do tratamento físico, é indispensável o psíquico.

Um caso concreto

Continua o Dr. Arlindo Estrella:
Vamos exemplificar: Tive uma enferma que, desde 1927, sofria horrivelmente de crises melancólicas e completo desânimo da vida. Queixava-se de dores de cabeça, fadiga, não podendo executar qualquer trabalho por falta de ânimo. Tentou por duas vezes suicidar-se por meio de envenenamento, sendo salva por socorros urgentes. Todos os tratamentos tentados por vários médicos fracassaram.
No ano passado (1933), tive oportunidade de tratar de uma pessoa, parenta da enferma em questão, que operei de apendicite. Nessa ocasião, a doente, nervosa como diziam os meus colegas, não me tolerava, opondo-se veementemente a que eu operasse a sua irmã, alegando que eu não obteria êxito. Verificou-se justamente o contrário: a operação correu muito bem e alguns dias após a paciente estava inteiramente boa.
Um ano mais tarde, a antipatia que a nossa enferma me votava transformou-se em simpatia, e, por ocasião de uma das suas crises, mandou chamar-me para que eu a tratasse.
Expliquei-lhe quais eram os seus deveres como doente, receitando-lhe em seguida. Imediatamente ela melhorou muito com os meus remédios e ... minhas palestras.
As nossas relações de médico e doente amiudaram-se e, com a freqüência ao Centro Redentor, ficou completamente normalizada, vivendo hoje satisfeitíssima.
É preciso ponderar que, conquanto os resultados obtidos com o tratamento e investigação de todas as funções orgânicas revelassem não ser ainda a enferma portadora de qualquer lesão dos centros nervosos, é claro que a contínua repetição dos fenômenos psíquicos poderia acarretar sérios distúrbios e lesões destes centros.
Em biologia ainda se discute se a função faz o órgão ou este a função. Os anatomistas dizem que o órgão é que cria a função, pois, sem o órgão não poderá haver função. Os fisiologistas dizem o contrário.
Penso que a função é que faz o órgão, pois este está subordinado às solicitações que partem do meio exterior.
Da ínfima célula ao órgão imperfeito e deste ao perfeito, o exercício da função, resultante dos motivos que a solicitam, é que realiza a estrutura orgânica sob as condições de adaptação às influências do meio.
O órgão responde aos estímulos que recebe continuamente e desta repetição surge o hábito que, no dizer de Charcot, é uma segunda natureza; logo, todo o organismo está sujeito às influências do ambiente.
Se ele está mergulhado em um meio puro, são, mantém-se no estado de equilíbrio, gerador da saúde; se ele se encontra num meio corrompido, o estímulo que parte deste meio para o organismo gera-lhe o estado mórbido.

O verdadeiro médico

Assim, o verdadeiro médico tem que aplicar todos os esforços tendentes a tornar-se o médico da alma e do corpo. E como conseguirá. esse desideratum ? Tendo sempre em vista o estado psico-fisiológico e os fenômenos intracelulares do doente, fenômenos estes de alta investigação físico-química ou biológica; bem como os múltiplos fenômenos do meio interior e exterior.
A História registra no correr dos séculos uma infinidade de fatos dignos da meditação do verdadeiro cientista, e, todo aquele que julgar a priori, fora do atento exame dos fenômenos, nunca chegará a ser um simples observador, e muito menos à altura de ser considerado um médico no verdadeiro sentido do vocábulo.


Eduardo Freire


O RACIONALISMO CRISTÃO PERANTE O COMÉRCIO.
A palavra de um industrial e negociante, e de um Diretor de uma grande companhia estrangeira.

Eduardo Freire, industrial e negociante, Encarregado Geral do Centro Redentor, é desses homens raros que sabem sentir e aliviar os sofrimentos alheios.
Qualquer pessoa que se dirija ao Centro Redentor pela primeira vez depara com essa alma bondosa e paciente, obtendo, assim, ótima impressão da Casa. Tem o Sr. Freire uma verdadeira alma de médico, a todos tratando com delicadeza cativante. Enfim, trata-se de uma pessoa que, no alto cargo que ocupa, eleva e dignifica a Doutrina.

O que é ser racionalista cristão?

À nossa pergunta inicial, assim nos respondeu o Sr. Eduardo Freire:
Racionalista cristão, na verdadeira acepção do vocábulo, é todo o ser que raciocina e investiga, é todo o homem honesto e laborioso que procura cumprir os seus deveres para consigo, os seus e a humanidade em geral.
Ingressei nas fileiras do Racionalismo Cristão após estudo feito na sua obra básica, bem como dos trabalhos realizados nas sessões de limpeza psíquica. Chegando à conclusão de que os princípios da Doutrina eram um farol seguro para romper as trevas da ignorância humana, libertando os homens da cegueira a que vêm sendo atirados há milhares de anos, por aqueles que nisto têm interesse para mais comodamente "gozarem a vida" como eles dizem; não duvidei em abraçar o Racionalismo, pois estava, estou, convicto de que por ele se poderá trilhar o caminho da verdade.
Aliás, racionalista cristão já o era antes, pois procurava não fazer a outrem o que não queria que me fizessem: obtive no Centro Redentor a explicação de inúmeros fenômenos, vendo os efeitos reais da limpeza psíquica.

As explicações do padre

Quanto à sua pergunta se eu era religioso antes de me tornar racionalista cristão, responderei que, apesar de criado no catolicismo, não o era.
Quando ainda criança, já era rebelde ao que o padre da aldeia em que morava me queria incutir. Tinha eu sempre vontade de compreender certas coisas que na Bíblia se enunciava e, para isso, procurava o nosso cura, que me dizia haver certos mistérios que o homem não podia nem devia penetrar. Eu, certamente, não me conformava com as suas respostas, e insistia nas minhas averiguações, o que me valeu ficar conhecido em toda a aldeia como um ateu. E, de fato, o era até que conheci a Doutrina explanada no Centro Redentor.

Fenômenos convincentes

Pergunta-me se, desde que sou Encarregado Geral do Centro Redentor, tenho assistido a interessantes fenômenos psíquicos. Acho que, para quem investiga, todos os fenômenos merecem a devida atenção, sejam de que espécie forem. Entretanto, citarei alguns que, a meu ver, só por si bastariam para convencer o incrédulo ou novato no estudo do psiquismo, para fazê-lo acordar e compreender os efeitos da vida fora da matéria organizada ou da força atuando.
O desdobramento de Luis de Mattos, por exemplo, quando em vida veio atuar no médium e doutrinar a assistência com a sua característica linguagem franca e leal; com a sua verve ferina quando queria causticar alguém, como só ele o sabia fazer com maestria, e com doçura quando o espírito se apresentava sofredor e ignorante, enfim com aquele todo particular seu, tão familiar aos que o conheciam. Pois bem, ouvimo-lo através do médium e, terminada a sessão, soubemos que havia desencarnado no pavimento superior do Centro Redentor no instante em que atuou no instrumento. No mesmo dia, às 20 horas, na sessão pública, o ex-Presidente físico do Centro Redentor veio novamente, comunicar à assistência a sua desencarnação.
Outro fato interessante é o da cura de um jovem de 14 anos que, depois de vários meses em mãos da medicina oficial, na Policlínica de Botafogo, no hospital de Psicopatas, etc., sem encontrar alívio para os seus sofrimentos, veio, como geralmente acontece, bater às portas do Centro Redentor. O seu estado era tal que parecia uma verdadeira estátua, pois permanecia em posição ereta, sem poder mover qualquer dos seus membros. Para que ele pudesse ficar à mesa, foi preciso que o deitássemos em três cadeiras nos colo de duas pessoas. Pois bem, no fim da terceira sessão de limpeza psíquica a que assistiu, retirou-se sem apoio de espécie alguma, caminhando firmemente, e, ainda hoje, freqüenta o Centro Redentor, completamente bom, inteiramente curado.
Casos idênticos têm-se dado em grande quantidade, porém, como a finalidade da Doutrina não é a de curandeirismo, torna-se desnecessário propagá-los. O que nós visamos é apenas o esclarecimento da humanidade, provando-lhe a existência da vida fora da matéria.
Ao Centro Redentor aportam doentes do corpo e da alma, e posso afirmar, com convicção e conhecimento de causa, que em maior ou menor escala todos obtêm benefícios. Porém, as curas só se solidificam quando os enfermos, depois de conhecerem as causas, colocam-se dentro de uma disciplina mental, moral e material, indispensável para qualquer êxito na vida.
Já que abordei este assunto, cabe-me dizer quais, geralmente, os motivos por que um enfermo que se trata no Redentor retarda, muitas vezes, a sua cura definitiva. Os fatores que para isso concorrem são os seguintes: falta de disciplina no viver; fraqueza espiritual adquirida antes do conhecimento dos princípios racionais e científicos que regem o universo; e, conseqüentemente, falta de força de vontade para vencerem velhos usos e costumes.

Os problemas econômico e espiritual

Qual o problema que terá que ser antes solucionado pela humanidade, o econômico ou o espiritual? perguntamos finalmente ao Sr. Eduardo Freire.
Penso que a humanidade dará primeiramente solução ao problema material, isto é, ao econômico.
Embora seja a parte espiritual a que mais deveria interessar aos homens, estes se acham tão materializados, tão aferrados às coisas da terra, desejosos unicamente de gozos, fausto e luxo, que a lógica das coisas nos leva a concluir que só depois de resolvido o problema econômico é que a humanidade se voltará para o estudo e averiguação do verdadeiro psiquismo.



Charles Boschini

Charles Boschini, diretor de uma grande companhia estrangeira, muito conhecido nos meios racionalistas, também foi por nós ouvido, embora mui sinteticamente, fazendo-nos as seguintes declarações:

Pugnando sempre pela Doutrina

Na minha infância não tive educação religiosa e os meus passos foram guiados dentro de princípios sãos e verdadeiros, idênticos aos que, mais tarde, conheci no Racionalismo Cristão.
Quando alcancei a idade de 16 anos já tinha compreendido que, por serem falhas e não estarem com o meu modo de pensar, não podia aceitar a religião católica nem a protestante, que tinham adeptos em alguns dos meus parentes mais próximos.
Procurando algo que me desse uma explicação científica a respeito da nossa finalidade e da nossa composição, fui levado a ingressar no espiritismo kardecista, onde encontrei muita coisa que não me satisfazia plenamente.
Fácil foi, pois, em 1919, quando me foi dada a felicidade de conhecer o Centro Redentor, levado por um grande amigo do Comendador Luiz de Mattos, compreender que essa era a doutrina que eu há tanto tempo procurava, visto estar de acordo com a minha forma de sentir e pensar.
Desde então, freqüento o Centro Redentor e sempre pugnei pela Doutrina, por achar que só ela poderá fazer feliz a humanidade que tanto sofre hoje. Em novembro de 1932, comecei a tomar parte direta nos trabalhos do Centro Redentor.

Depois que a humanidade tiver passado por grandes sofrimentos

A meu ver, a Doutrina que se explana sob o nome do Racionalismo Cristão terá que vir a dominar a humanidade, por ser a Verdade, que é uma só. Porém, isto só se verificará depois que os homens tiverem passado por grandes e muitos sofrimentos; encontrarão, então, os lenitivos para os seus males nesta Doutrina, que se tornará o bálsamo almejado e lhes mostrará a estrada para o seu progresso espiritual.

A escola das escolas

Pergunta-me se a classe comercial, da qual me honro de fazer parte, pode tirar proveitos do Racionalismo Cristão.
Todas as classes, sem distinção, podem dele tirar proveitos incalculáveis, porque é, finalmente, o guia que leva a todos os de boa vontade e que sigam à risca os seus princípios, ao caminho da evolução espiritual, que é o que tem por fim a perfeição.
Assim, aconselho a todos que abraçam a carreira comercial a que estudem o Racionalismo Cristão, pois, a prática dos seus princípios põe em ação todos os elementos necessários para uma vitória certa. A luta pela vida está se tornando cada vez mais difícil e aqueles que não se prepararem para enfrentá-la, só poderão esperar o desânimo, a perturbação e a falência física e espiritual.
Os novos conhecimentos que se adquirem com o estudo do Racionalismo Cristão abrem caminhos para novas formas de pensar e, quem sabe bem pensar resolve os problemas da vida da forma a mais satisfatória possível.

Resultados obtidos com a Doutrina

Terminando este meu despretensioso depoimento, quero mencionar alguns dos resultados que obtive com a prática dos princípios racionalistas cristãos.
A) O esclarecimento de todos os fenômenos psíquicos, sobre muitos dos quais até então tinha dúvidas;
B) A convicção absoluta da existência da vida fora da matéria;
C) A verificação pessoal de inúmeras curas psíquicas e físicas, o que solidificou a convicção da letra B .
D) Os benefícios produzidos tanto no meu físico, como no meu espírito.


João Baptista Cottas

O RACIONALISMO CRISTÃO VISTO POR UM ACADÊMICO
João Baptista Cottas, acadêmico de medicina, embora jovem ainda, já é possuidor de uma noção exata da vida.
Extremamente estudioso e averiguador, é desses que não se satisfazem com afirmações e dogmas, mas que exigem para tudo uma explicação racional e científica.
Torna-se, pois, muito valiosa a sua colaboração nesta obra, que se destina a todos os meios, mas que visa, principalmente, levar os conhecimentos do Racionalismo Cristão aos acadêmicos de nossas universidades.

Precisamos sair de toda e qualquer letargia

Sobre a sua pergunta: “Qual a sua impressão sobre o estado atual dos acadêmicos? direi:
A mocidade atual, principalmente a acadêmica, de quem muito se espera, não só nos meios científicos, como também no terreno moral, vem se ressentindo de falsos princípios educacionais e de não menos falsos métodos de ensino, até nós chegados por intermédio de espíritos de pouco alcance.
A juventude de hoje não é a mesma de há anos atrás. Se é certo que tudo evolui e nada estaciona, por que, então, não reagir, não combater todos os absurdos, todas as teorias sem base? Precisamos sair quanto antes desta letargia, deste mutismo, para o qual muito têm concorrido os dogmas religiosos.
Unamo-nos moral e fisicamente, rompendo com todos os preconceitos, e assim chegaremos a um novo sistema de ensino, mais racional e científico.

Racionalismo Cristão e Medicina

Os estudantes de medicina muito proveito tirariam se procurassem estudar o Racionalismo Cristão.
A Medicina baseia-se apenas na matéria, naquilo que vê e apalpa. Não vai além disso. O invisível para ela é como se não existisse, daí a dificuldade que alguns médicos têm para diagnosticar certas enfermidades, principalmente as chamadas mentais.
O Racionalismo Cristão, a Ciência da Verdade, vai mais além. Não se queda apenas no cognoscível, vai até ao incognoscível. Enquanto a medicina escalpela e ausculta o corpo, ele, o Racionalismo Cristão, perscruta a alma, fonte, origem de todas as doenças físicas ou psíquicas. É na alma, nessa partícula da Inteligência Universal, que tudo reside; é ela que dá força e energia ao corpo; é ela que organiza, movimenta e incita o mesmo, assim afirmam cientistas notáveis como William Crookes, Claude Bernard, Paul Gibier, etc.
Se falhas há na medicina, elas desaparecerão quando se der mais atenção à alma, quando se a estudar com maior interesse. A alma é causa; a matéria é efeito. Esta, mesmo viva, é inerte.
Estude o médico a alma e a matéria na sua verdadeira essência, seja mais espiritualista, e verá, então, desaparecer as dificuldades que encontra não só na sua vida de estudante, como no exercício da sua profissão, diagnosticando com mais acerto e exatidão.
O Espiritismo Racional e Científico (cristão), sendo uma ciência, não é contra a medicina, nem a combate. Ele apenas deseja que os médicos se interessem mais pelo estudo da Força, primeiro elemento componente do Universo, visto ser nela que tudo reside.
O Racionalismo Cristão é tão velho quanto o mundo, pois, muitos séculos mesmo antes de Cristo ele já era praticado no Egito sob o nome de Espiritismo. Foi nele que se embalou a "divina arte de curar". Foi nele que Hipócrates, o pai da Medicina, e muitos outros sábios daquele tempo beberam os seus ensinamentos.

Nada de sobrenatural nem mistérios

Encontro no Racionalismo Cristão a plena satisfação do meu espírito, porque tudo nele se explana e pratica dentro dos princípios da razão e da ciência. Ele não admite sobrenaturais e mistérios; tudo explica livre de misticismo, o que não se dá com as muitas e diversas religiões que existem no planeta Terra.
No Racionalismo Cristão, divulgado pelo Centro Redentor, podemos encontrar tudo o que precisamos para formarmos uma geração forte e de valor.
Um dos seus principais fins é justamente este: educar e preparar pais para que eles, por sua vez, possam bem encaminhar seus filhos, educando-os racionalmente, dentro de princípios sólidos de valor, honra e justiça, formando-se, assim, caracteres impolutos, que é o que não se vê atualmente. O mundo atravessa uma grande crise econômico-financeira, mas a principal, a responsável por aquela é a crise de caráter. Haja caráter, honra e moral e tudo correrá normalmente.
Para bem se formar uma geração forte e valorosa, é preciso educá-la livre de crendices, bugiganguices, sectarismos e outros absurdos, que só servem para embotar e empedernir o raciocínio dos infantes.

Sábios que reconhecem a existência de fenômenos psíquicos

Voltando à medicina diante do Racionalismo Cristão, quero frisar o espanto que causa a qualquer estudante, que de fato estude e que investigue com dedicação as coisas sérias da vida, o abandono em que jaz qualquer estudo referente à alma e não à matéria organizada. Realmente, depois de se ler William Crookes, Challis Morgan, Lodge, Lombroso, Charles Richet, Aksakof e muitos outros, que afirmam existirem fenômenos psíquicos e nos aconselham a conhecê-los e a sobre eles demorarmos o nosso raciocínio, não se compreende o descaso, atualmente, em que a ciência oficial deixa tais estudos.
Nas Sessões Públicas de Limpeza Psíquica, do Centro Redentor, tenho assistido a diversos fenômenos tais como os de desobsessão, cura de enfermos declarados incuráveis por médicos de grande nomeada; limpeza astral feita pelas Forças Superiores, e muitos outros dignos de meditação, estudo e averiguação.

Agir e reagir prontamente

Agir e reagir prontamente, mover guerra à mentira e a tudo que esteja fora da razão e do bom senso é o dever imediato da juventude do século em que vivemos.


O PROBLEMA SOCIAL VISTO POR DOIS GRANDES BRASILEIROS:

PONTES DE MIRANDA E PROCÓPIO FERREIRA

O que nos disse o grande pensador, polemista, filósofo, escritor e jurista brasileiro Pontes de Miranda sobre o problema social.
Uma carta do maior dos nossos atores; daquele que tanto tem concorrido para o progresso do teatro nacional, do chamado “um para quarenta milhões”: Procópio Ferreira.

Pontes de Miranda

Pontes de Miranda é uma das figuras de maior repercussão social no nosso meio.
As suas muitas obras, as suas inúmeras conferências, polêmicas em torno dos problemas sociais que no momento agitam a humanidade, consagraram-no no nosso país como um dos nossos maiores sociólogos. Nada mais eloqüente para confirmar esta nossa opinião do que a curiosidade que vai nos meios culturais do país em torno da figura de Pontes de Miranda. Ainda há bem pouco, S. Exa. realizou um curso de sociologia na Biblioteca Nacional, ao qual acorreram muitos estudantes de nossas Faculdades Superiores, professores, etc., confirmando mais uma vez o alto conceito em que é tido.
Tornava-se, assim, um dever incluir num livro que se destinava a acadêmicos, a opinião valiosa e autorizada de Pontes de Miranda.
Talvez, para alguns, constitua motivo de admiração que, num livro espiritualista, seja incluída a opinião de dois materialistas, tais como Pontes de Miranda e Procópio Ferreira.
Mas, incorre num erro quem assim raciocinar. O nosso livro não é materialista nem espiritualista: debate ideal e aborda assuntos que muita interessam à juventude atual. Visávamos, de feito, obter algumas opiniões sobre o Racionalismo Cristão, assunto principal em torno do qual gira a presente obra. Mas, julgamos que faríamos obra desinteressante que, em absoluto, não poderia satisfazer aos nossos colegas de universidades se não debatêssemos idéias do século e, dentre elas, ocupa lugar de destaque tudo o que se: refira ao problema social. Assim pensando, procuramos com o maior prazer obter entrevistas de Pontes de Miranda e Procópio Ferreira. Do primeiro obtivemos as seguintes declarações:

Seleção biológica e sociologia

Pergunta-me o acadêmico Bernardo Scheinkman se o verdadeiro espiritualismo e o marxismo têm a mesma finalidade.
Preliminarmente, não sei o que seja e qual seja o "verdadeiro espiritualismo"; tantos há e tantos hão de surgir por esse mundo de variações quase individuais de crenças! Demais, não há correlação necessária entre o avançar para a solução eqüitativa, ou radicalmente igualitária do problema econômico e da distribuição da cultura (socialismos utópicos, socialismo nacional e socialismo internacional ou universalista) e o ser espiritualista ou materialista.
Quase todos os materialistas ríspidos do Século XX, provindos de filósofos alemães biologistas ou biologizantes, com alguns dos quais convivi, e temos muitos no Brasil, são, politicamente, da direita. Só souberam extrair do muito ou do pouco que aprenderam na biologia o fácil e errado corolário do laissez aller como facilitação do processo “salve-se quem puder” da seleção natural. De passagem, observemos que tais pensadores superficiais não viam, nem vêem, entre a seleção biológica e sociológica a diferença importantíssima da existência de meios artificiais, como as heranças de fortunas que perturbam e invertem, por vezes, o processo seletivo.
Se, no haras ou nas matas, estabelecermos contabilidade para que uns cavalos tenham verbas maiores de alimentação e de alojamento ou animais bravios comam e se aninhem em função das suas responsabilidades nos livros de um abstrato controller, de certo que se não realizará aquela eliminação que Darwin descreveu e por tantos modos diferentes os biólogos posteriores pensaram e repensaram.

Espiritualistas e materialistas da esquerda e da direita

Por outro lado, se é certo que há espiritualistas da esquerda e querem a renovação social em termos de tecnicidade e de justiça humana, há-os também do mais estreito reacionarismo, intimamente ligados e associados aos mais torpes processos de exploração humana.
Por isso, sempre entendi que devemos pôr o problema de recomposição sem a preocupação de separações filosóficas. Naturalmente, o que interessa saber é quais são e onde estão os que querem esta recomposição e até onde a querem, e não qual colorido metafísico ou só sentimental da sua religiosidade ou suspeita de outra vida. Basta pensarmos em que os primitivos cristãos e alguns arcebispos e bispos posteriores foram comunistas, como Lenine e Stalin, e em que há centenas de descrentes que defendem a canhões, a velha injustiça.

O mundo marcha para o socialismo integral

Para onde caminha a humanidade e como ela chegará ao término da jornada que ora empreende?
Dois fatos mostram bem, nos nossos dias, o nosso futuro próximo.
Os dois maiores blocos de população civilizada e de territórios nacionais, os Estados Unidos da América do Norte e a Rússia, constituem os dois únicos Estados técnicos do mundo: Um, ainda no capitalismo individualista e em plena crise econômica e social; outro, em verdadeira febre de construção, em marcha decidida e heróica para o socialismo integral. Não é fenômeno sem grande significação histórica o entusiasmo de um pelo outro. Enquanto outros povos estrangulam a liberdade sem as compensações da distribuição mais justa dos bens da vida, os Estados Unidos e a França procuram evitar que o reacionarismo lance mão das fórmulas fascistas, retardando, com o sacrifício da liberdade, a inevitável reestruturação econômico-cultural da humanidade.
O verdadeiro caminho será chegar-se a ela com o mínimo possível de tal sacrifício.
A jornada a que se refere, se a temos de ver até o dobrar dos horizontes, só nos pode levar a realizações de ainda maior intervenção da inteligência e do bom senso na solução dos problemas humanos. Porque o bom senso está em ir para a frente.

Todos se preocupam muito com o problema econômico

Atualmente, no mundo, os homens mais se preocupam com o problema espiritual ou marxista? perguntamos.
Cada um se preocupa mais com aquilo em que crê: mas todos se preocupam muitíssimo com o problema econômico.

O que nos convém

Respondendo à sua pergunta se nos convém ou não, imediatamente o socialismo, direi: Há muitos socialismos. O que nos convém, imediatamente, tenho dito, em termos assaz claros, nos meus livros, principalmente na coleção "Os Novos Direitos do Homem" e noutra, sob o título “Iniciação Socialista”. Afasto qualquer idéia de um partido socialista a lutar dentro da democracia envolvente; o Estado é que tem de ser socialista nos seus fins, e em todos os partidos (desde que haja pluripartidarismo) têm de respeitar os fins precisos. Fora daí só poderá existir fascismo (adiamento e agravação da luta) ou preparação para o golpe radical.

No capitalismo são insolúveis os problemas educativos

Quais os resultados que traria ao nosso país uma educação sexual bem encaminhada, a fim de esclarecer a nossa mocidade sobre o magno problema sexual?
Não preciso dizer-lhe qual a importância que dou a todo o problema de educação, inclusive o sexual, e, mais ainda, o de educação de todo o organismo. Aí está a biologia criminal com todo o seu fulgor. Como, porém, chegar a resultados globais, ponderáveis, de educação sexual, sem os meios materiais e morais e sob a ação degenerante e eticamente conspurcante do capitalismo opressor e sustentador de todas as espécies de prostituição?
Só o Estado Socialista poderá ir por diante na obra profunda da moralização do homem e da mulher.

Combate ao fascismo!

De que maneira deve ser combatido por nós o fascismo?
O fascismo deve ser combatido com todas as armas.

Defender a liberdade é o dever da mocidade acadêmica.

Por fim, perguntamos ao nosso ilustre entrevistado: Quais os deveres da mocidade acadêmica mundial? Quais os deveres da mocidade acadêmica do Brasil?
À primeira pergunta dificilmente poderia responder. Cada povo tem o seu problema com aspectos diferentes. Em todo caso, todos os moços, nos povos que têm liberdade, precisam defendê-la, e alistar-se entre os que querem renovação social em termos de justiça humana.
Os moços do Brasil precisam: pugnar pela escola única, desde o curso primário ao curso superior, para que com eles venham concorrer os elementos fortes de toda a população; defender os restos da liberdade que ainda jazem sobre as cinzas do período que vivemos; mas, principalmente, fazerem-se técnicos, homens que saibam de verdade, homens dignos da nossa era e do nosso destino, para os grandes dias que vão vir.

Procópio Ferreira

Procópio Ferreira, o maior ator do Brasil, é um grande estudioso. Não gasta ele as suas horas de lazer, e são bem poucas, senão no estudo e na meditação.
Sob o ponto de vista revolucionário, tem ele realizado uma obra de real valor, representando, com a perfeição que lhe é peculiar, peças de verdadeiro valor, criticando e ridicularizando os aspectos sumamente ridículos deste regime horrível e imperfeito em que vivemos. Dentre elas, celebrizou-se a de Joraci Camargo, “Deus lhe pague”, que tão bem demonstra a podridão do regime burguês.
Não sei se Procópio é o ídolo da cidade, mesmo porque não estou em contacto com todas as classes do Rio. O que, conscientemente, posso afirmar é que Procópio é o ídolo dos estudantes, que lhe votam uma admiração e amizade indescritíveis. E Procópio também, através de inúmeros atos seus, tem demonstrado ser nosso amigo.
Finalizando, transcreverei as primeiras linhas que escrevi por ocasião de uma entrevista que Procópio Ferreira me concedeu, quando eu era redator da revista “Vida. Automobilística”.
“Procópio Ferreira é um vencedor. Muito moço, estudou, trabalhou e vai colhendo os louros magníficos dessa vitória esplêndida. Mas não pára, não se perturba com o êxito alcançado e estuda e progride sempre.
Inteligente e culto, constituiu para o jornalista um prazer ouvir o artista consagrado que não se limita às respostas, que aborda os assuntos com visão superior".
Procuramos o grande ator brasileiro para que nos dissesse algo para o nosso livro. Como resposta, obtivermos a seguinte carta, que fazemos questão de publicar na íntegra, pela sua franqueza e atitudes definidas do seu autor.

Prezado amigo Bernardo Scheinkman.
Tenho o prazer de responder à sua carta, como me é possível, neste momento:
Preliminarmente,
O questionário apresentado pelo amigo, na forma de uma simples enquete sobre as preferências pessoais dos astros de cinema, demandaria o trabalho de compor uma enciclopédia dos remotos conhecimentos humanos e dos conhecimentos que só agora adquire a humanidade. Cada uma de suas perguntas exige uma resposta segura e que não resistiria à síntese mais perfeita. Eis porque, de forma alguma, eu as poderia dar, a menos que resolvesse tornar-me autor de obras que só pelo tema e pela extensão imporia o meu nome à consideração dos contemporâneos, e, talvez, dos que vêm amanhã .

Todavia, direi que:
I - O que diz do espiritualismo como ciência?-
O espiritualismo é uma ciência que se chama psiquismo.
II - No universo está muito desenvolvido o espiritualismo?
O espiritualismo (espiritismo, como quer o amigo) já entrou em franco declínio, por força do materialismo triunfante.
III - O espiritualismo prático, o espiritismo, tende a se impor á humanidade?
Nada mais se imporá á humanidade, fora das verdades materiais.
IV - Pode fazer um paralelo entre espiritualismo e materialismo?
O paralelo já está feito: o que existe e o que não existe...
V - Para onde caminha a humanidade, e como chegará ao fim do roteiro que empreende?
Estou com João Ribeiro: Para o comunismo .
VI - O marxismo será a forma política que dominará o mundo?
Prejudicada pela precedente.
VII - Pode dar-nos uma idéia do que representará para a humanidade uma radical transformação social?
A felicidade.
VIII - Qual o papel destinado ao Brasil por ocasião desta transformação?
Não haverá papéis diferentes para os países.
IX - Qual deve ser a atitude da mocidade acadêmica do nosso país?
Estudar o materialismo histórico e ... nada mais.
X - Quais os principais fatores de estarmos tão atrasados socialmente falando?
Ignorância e todas as desonestidades dos homens políticos.
XI - Por que permanece o nosso povo inculto e doente?
Por causa do capitalismo. . ,
XII - É ou não a ciência oficial grande criminosa? Por que?
É. Capitalismo ...
E assim, meu caro amigo, termino, julgando indispensável dizer-lhe, em substituição às laudas que poderia, inutilmente, escrever, que se há um remédio geral, definitivo, cômodo e prático: REVOLUÇÃO. Não me vá denunciar à polícia...
E creia-me seu admirador.
Procópio Ferreira