O homem que sabe servir-se da pena, que pode publicar o que escreve e que não diz a seus compatriotas o que entende ser a verdade, deixa de cumprir um dever, comete o crime de covardia, é mau cidadão. Por Júlio Ribeiro.

Cartas Oportunas sobre o espiritismo - Por Luiz de Mattos





CARTAS OPORTUNAS

sobre espiritismo
  
14a Edição

1991

EDIÇÃO ESGOTADA

Sumário


Prefácio

Ao reeditarmos esta coletânea de artigos e cartas de Luiz de Mattos, publicados na imprensa desta Capital, sentimo-nos no dever moral e de consciência de não calar a Verdade pregada e praticada pelo fundador do Racionalismo Cristão, verdade que fere e caustica muitas almas transviadas do bom caminho, para forçá-las a meditar sobre as coisas sérias da vida, entre as quais a prática abusiva do espiritismo.
Pelo seu conteúdo eminentemente esclarecedor e, pois, de combate, não aos homens, mas aos seus erros, compreende-se que este livro não possa ser bem acolhido nos meios melosos do espiritismo não científico, cujos praticantes se sentem feridos na sua vaidade de pontificadores de incautos.
Que nos importa, porém, o que pensam esses pobres ignorantes da vida real, se a finalidade desta obra não é fazer comércio, não é explorar a ignorância ou a credibilidade de quem quer que seja ou alijar criaturas de certas posições, para que outras as ocupem?
Cartas oportunas é obra elucidativa que tudo esclarece sobre espiritismo, mostrando a espíritas e não espíritas o perigo que representam as atuações desordenadas, ainda que feitas com as melhores intenções.
Nos artigos e cartas de Luiz de Mattos, reproduzidas neste livro, usou ele, em muitas delas, linguagem causticante, para alguns dos seus críticos, demasiadamente forte. Mas para quem, como ele, conheceu de perto os praticantes da Magia negra, muitas vezes oculta insidiosamente sob a capa do espiritismo, tais expressões se justificam plenamente, principalmente se levarmos em conta que almas inveteradas no crime astral ou terreno só acicatadas pela dor despertam da embriaguez em que vegetam, rompendo a nuvem negra que as envolve.
Luiz de Mattos foi sempre, na sociedade e na família, um perfeito diplomata, um fidalgo no porte e no trato, mas a sua alma boníssima era como a de todos que se batem por causas justas: vendo a maioria da humanidade resvalar para a prática do mal, escrava de paixões e sentimentos inferiores, dominada pela ideia do gozo puramente material e movendo-se num círculo de honrarias e vaidades tolas, revoltava-se contra tanta materialidade e deixava-se invadir por uma espécie de nostalgia, um desejo de retornar – ele que era, e continua a ser, um espírito de elevada evolução – ao seu mundo de luz.
Não fora um ser esclarecido, com a consciência, já nítida, da missão que o trouxera à Terra, e se teria deixado talvez vencer pela ânsia de desprender-se da matéria, para ascender ao plano Astral Superior.
As duras verdades contidas nesta obra não devem, pois, inspirar qualquer sentimento de revolta ao leitor, seja qual for a sua maneira de encarar o problema, e não o inspirará, certamente, se considerar que Luiz de Mattos não escreveu por simples passatempo, mas para transmitir à humanidade um pouco do muito que sabia da vida.
Se a sua palavra parecia seca, dura, causticante, a sua alma era transbordante do calor e vida com que envolvia a todos, porque só o bem desejava ao próximo.
Ele verberava para fazer doer e curar, e por isso aqueles que se sentiam atingidos pelas suas verdades, que não podiam refutar, o chamavam de inimigo. Não deixavam de ter certa razão, porque se não era inimigo das criaturas, era-o do que elas praticavam: a mentira e a exploração em nome de Jesus.
Luiz de Mattos deve ser visto, através desta obra, como o Pai austero que censura o filho por vê-lo transviado do bom caminho, mas que, sabendo-o em sofrimento ou já regenerado, vai ao seu encontro, e só se lembra do que precisa fazer para proporcionar-lhe felicidade e bem-estar.
Despeitos, prevenções e ideias preconcebidas devem, pois, ser postos de lado, quando se lê esse livro.

OS EDITORES


O espiritismo não deve ser manto de imoralidades

Racionalismo Cristão (Espiritismo Racional e Científico Cristão), que se pratica no Centro Redentor e suas Filiais, tem por base a Força e a Matéria, únicos elementos de que se compõe o Universo, nomeadamente o ser humano e tudo o que tem vida.
Nas Sessões Públicas de Limpeza Psíquica, realizadas três vezes por semana, nas segundas, quartas e sextas-feiras, às 20 horas (horas da noite), para desobsedar criaturas mal assistidas ou atuadas por espíritos perturbados, encontra o observador sensato e estudioso fenômenos que o obrigarão a pensar e raciocinar, para convencer-se de que, de fato, somos alguma coisa mais que o monte de carne que vemos e apalpamos, e que, enquanto nos causa a matéria asco e repulsa, após a morte, o espírito, quando desce do seu verdadeiro mundo até nós, com a luz que lhe é própria, nos inebria.
Pelo reflexo do que os assistentes pensam, e pela atuação dos espíritos obsessores que avassalam os médiuns ignorantes ou perversos, praticantes da magia negra, e, ainda, pela manifestação do Astral Superior, que preside as Casas Racionalistas, fácil é a compreensão da vida fora da matéria e da razão por que Jesus disse: “Sereis o que pensardes”.
E assim é: pelo pensamento, engendramos a nossa desgraça ou felicidade material e espiritual, a saúde ou a enfermidade, as boas ou más relações sociais, o progresso ou a ruína dos negócios, quaisquer que eles sejam.
O que são as leis comuns e naturais, a força em si e a matéria em si, como causa e efeito de tudo, quer de ordem material, quer espiritual, não têm querido saber os espíritas não esclarecidos, porque a eles não interessa o espiritismo sobre base racional e científica, por faltar-lhes disposição moral para submeter-se à rigorosa disciplina que nos impõe o dever a cumprir para com a Humanidade, que está carecendo de preparo espiritual para resistir ao tremendo vendaval de loucura que se tornará a peste mais danosa do século e de todos os tempos, e para a qual o materialismo da ciência médica não terá remédio.
É sabido que as guerras prosseguirão até o fim deste século e princípios do vindouro, e que a mortandade, a fome e a peste serão terríveis, passando o mundo por grandes transformações. A marcha da ciência ninguém ousará pôr entraves, mas os efeitos morais das guerras e da peste serão de tal ordem, que os espíritos fracos terminarão por enlouquecer, havendo, no final deste século, uma espécie de peste da loucura, como já houve a “peste negra”, que dizimou, pode-se assim dizer, mais criaturas do que as maiores guerras de antanho.
Naquela ocasião os empestados eram mortos à bala, para que o mal não grassasse, só se salvando os fortes de espírito e do corpo. Eis o que está reservado aos glutões, aos gozadores, aos devassos, aos escravos dos tóxicos que supõem que a vida se resume em comer, dormir e praticar atos bestiais. A vida está nos mostrando ser de lutas, investigações e trabalhos incessantes. Mas, repetimos, das coisas sérias da vida não quer saber a grei sectária. A esta apraz ser ludibriada e mistificada por espíritos que se apresentam com nomes respeitáveis que, conhecendo as suas fraquezas morais, falam-lhes ao seu paladar, obsedando médiuns, presidentes e quem assiste a essas comédias.
Essa gente leva a ruína a lares, cujos componentes, durante anos, viveram em harmonia e paz. Com tão prejudicial assistência, vão avassalando pessoas honestas que caem no ardil de deixar-se desenvolver em tais antros, ficando tão dominadas e fanatizadas pelo que nelas se praticam, que acabam por prostituir-se.
Muitos salafrários da verdade utilizam-se da doutrina de Kardec para dar cobertura aos seus crimes. Kardec, estamos certos, nunca supôs que em seu nome se praticassem tantas monstruosidades e sua doutrina servisse de capa para essa malta de saltimbancos.
Não é para tal gente, evidentemente, que escrevemos, porque com o que não presta não se perde tempo, mas para os incautos desse espiritismo rasteiro a fim de que se precavenham e não cheguem a ver a ruína moral de seus lares e a desgraça material de toda ordem.
A finalidade do Espiritismo autêntico consiste em tornar o homem senhor de si mesmo, preparando-o para o desempenho de seus encargos na Terra, e nunca, mas nunca mesmo, para ser um instrumento degradante da família e da sociedade.
Pela ladainha dos “enviados divinos (médiuns e presidentes de sessão avassalados), o raciocínio e o livre-arbítrio são faculdades mortas, e se a humanidade se conduzisse pelas suas ridículas teorias, a obsessão seria ainda maior.

Espíritas verdadeiros e embusteiros

Entre os grandes males que sempre afligiram a humanidade, destaca-se a prática da magia negra, disfarçada, muitas vezes, com rótulos de “centro espírita”, tem papel dos mais destacados.
Nesses “centrelhos” não se cogita da regeneração moral de quem quer que seja. O que neles se trata é de vinganças, cangamentos e outras misérias morais. A ajudá-los, estão os espíritos malfeitores, zombeteiros, embusteiros que viveram, quando encarnados, sempre praticando patifarias.
Se à humanidade fossem explicados os porquês da vida, inclusive a composição do Universo, que é a mesma do ser humano – Força e Matéria – estaria ela hoje esclarecida, e dispensaria aos pensamentos o mesmo cuidado que tem com a eletricidade, o radium etc. É pelo pensamento que o ser humano alcança a saúde ou a doença, o êxito ou o fracasso.
A solução dos problemas da vida dos indivíduos, das coletividades, das nações e do mundo, depende da normalidade dos homens, da sua educação moral e preparo intelectual, baseados em princípios racionais e científicos, cada um sabendo que é uma força geratriz de pensamentos e que, como os alimentar, assim será: bom ou mau, feliz ou infeliz, saudável ou doente.
Sendo os pensamentos forças saturadas de poder, preciso se torna esclarecer as criaturas, fazendo-lhes ver que sem preparo, sem disciplina, sem bom estado psíquico, sem moral em todos os lares, nada absolutamente de bom, de útil, de estável conseguirão, porque sem esses predicados, as fobias várias que avassalam a humanidade, filhas da falta de moral, continuarão a imperar por toda parte.
Para que isso se não dê, é necessário que cada um de nós, os já esclarecidos, já senhores dos porquês das coisas, não deixe que caminhe tão desenfreadamente esse veneno mental, essa praga de espíritas embusteiros, como são os praticantes da magia negra.
O Espiritismo é a ciência das ciências! A filosofia das filosofias! Aquela que sendo a ciência da vida, nos guia, acertadamente, na luta travada na Terra, preparando a alma para a vida de elevação moral e de futura vitória espiritual!
O Espiritismo, quando bem orientado e colocado no campo do esclarecimento, consola, anima, encoraja e retempera os espíritos para os embates da vida, como ensina o notável médico Pinheiro Guedes em sua obra magistral: Ciência espírita, é “a chave certa de todos os problemas”.
Entretanto, para certos “espíritas”, é ele capa de sem-vergonhices, praticamente limitado ao desenvolvimento de médiuns, alguns analfabetos que se prestam à prática do mal, à corrupção de políticos, à desonra de lares, satisfazendo aos consulentes, também maldosos, que não tendo a hombridade precisa para enfrentar criaturas de algum valor material, moral ou político, vão às escondidas, a altas horas da noite, fazer as suas encomendas aos “pais de serviço”, “pais de mesa” ou “pais santos”, aos quais pagam bem para que o “trabalhinho” visado seja bem feito.
Desgraçados daqueles que mercantilizam com o espiritismo e abusam da fraqueza e ignorância dos seres humanos!
É chegada a hora de todos se esclarecerem para se libertarem desses embusteiros.
Só triunfarão na luta pela vida os que souberem o que são como Força e Matéria, e quanto valem a vontade educada e os pensamentos ao seu serviço.
Os esclarecidos de verdade nada temem, porque a sua arma de defesa consiste no valor, na honradez, na calma, no desprendimento, e quem emite pensamentos elevados, jamais será atingido pelas falanges obsessoras postas ao serviço maldoso dos perversos, dos comodistas e negocistas da desgraça alheia.
Trabalhar para bem pensar é dever que se impõe a todos que da honra têm noção.

Tratamos de Doutrina e não de pessoas

Aos bem intencionados, a quem estas publicações interessam, pedimos toda a atenção quando lerem o que escrevemos, e que o façam livres de ideias preconcebidas ou paixões, para, então, com verdadeira isenção de ânimo, poderem julgar as nossas palavras. Assim fazendo, muito deverão lucrar espiritualmente, embora o que tenhamos dito e venhamos a dizer sobre Espiritismo, não seja novo, porque nada, absolutamente nada de novo existe neste mundo de torturas, verdadeiro alambique depurador de almas.
Há, todavia, coisas que aparecem e passam por novas, por descobertas da atualidade, em virtude da ignorância em que tem vivido o gênero humano. A certa classe de gente ainda apraz conservar a verdade oculta, em benefício de seus interesses pessoais, morais e materiais, e da vaidade que exibem, grotescamente.
Essas coisas sobre espiritismo, que a muitos possam parecer novas, não o são, porque todos os fenômenos psíquicos, espiríticos, são muito conhecidos e tornaram-se corriqueiros nas anteriores civilizações do Oriente, e até do Ocidente da Europa.
Disso tem tratado o Centro Redentor, em narrativas várias, e agora novamente o faz através de ligeiras palestras, para não fatigar o espírito ou alma do leitor, partícula da Inteligência Universal que o vulgo chama Deus, e que, quando liberta de ódio e malquerenças, só anseia por paz, amor, verdade e justiça, e quer luz e mais luz!
À medida, porém, que fordes lendo estes escritos, haveis de certificar-vos de que não é possível evitar nem curar os males da humanidade, sem se escrever claramente ou falar a verdade, e isto é princípio firmado pelo Racionalismo Cristão, Doutrina que se prega e pratica no Centro Redentor e suas Filiais.
Por assim ser, diremos somente a verdade, porque só esta torna livre a humanidade.
Quer isto dizer que assumimos inteira responsabilidade de tudo quanto dissermos nestas colunas, pois nenhum outro intuito nos move que não seja o de prevenir os lerdos, esclarecer os ignorantes e despertar os incautos, uma vez que nada querendo e nada precisando de ninguém, visamos, apenas, cumprir o nosso dever de cidadão esclarecido e fiel discípulo da Doutrina implantada por Jesus e codificada pelo Racionalismo Cristão.
Ao serviço da Verdade, definindo princípios doutrinários e nunca tratando de pessoas, teremos sempre um prazer imenso em ver contestadas as nossas asserções; mas contestadas por homens de valor e saber, criaturas verdadeiramente normais, que, como nós, desejem ser apenas instrumentos de esclarecimento do povo deste soberbo, lindo e querido Brasil que, queiram ou não, há de ser o pioneiro da nova civilização, por ser habitado por muitas almas já grandemente evoluídas, que só se sentem felizes vendo os demais povos em paz.
Ao tratarmos da Doutrina Espírita, claro está que só de princípios cuidaremos, e não, repetimos, de pessoas, por mais normais e sábias que pareçam. As pessoas serão sempre, para nós, instrumentos bons ou maus, esclarecidos ou ignorantes, conforme o seu estado de alma, de pensar e sentir, refletidos em ações ou obras. Serão, pois, representantes de princípios certos ou errados, salutares ou danificadores, e nada mais.
Para o homem conseguir algo de bom, precisa ser, além de metódico e disciplinado, livre para pensar e agir, pois, doutro modo, nada de bom, de útil fará para o bem do Todo, do povo, da família e de si mesmo.
Pelo exposto, pedimos ao leitor amigo nunca veja em nossas palavras a cor do despeito, o desejo de sobressair, de menosprezar ou diminuir a quem quer que seja, espírita ou não.
Demonstraremos, com clareza, os perigos da materialização dos pensamentos, da prática da Magia negra, das sessões espíritas em família, venham elas com o rótulo que vierem.
Os bem intencionados hão de acabar por dar-nos razão, e talvez cheguem à Doutrina do meigo Nazareno, que recomendava: “Amai o próximo, como a vós mesmo”.
Estes poderão transformar os seus lares em templos de amor e virtude, e também em oficinas de trabalho e produção. O Rabi será o cidadão trabalhador, honrado esposo e extremoso Pai, e a diretora, a preceptora, a respeitável esposa e carinhosa e muito querida Mãe. Os assistentes, discípulos e trabalhadores, serão os filhos, os irmãos, os sobrinhos, os netos, toda a família, enfim.

O Racionalismo Cristão esclarece

Explicada, como ficou, a nossa atitude na publicação anterior, sob o título “Tratamos da Doutrina espírita e não de pessoas”, para que dúvidas não restem sobre os nossos intentos e deveres, diremos que não havendo efeito sem uma causa inteligente, não podemos nem devemos tratar da mais séria, da mais proveitosa das Doutrinas, sem partir da sua base, na parte prática.
O principal instrumento do Espiritismo, na prática, é o médium desenvolvido. Dos perigos que correm os médiuns e aqueles que os endeusam, aceitando todas as suas sentenças, não souberam, porém, tratar os que mais escreveram sobre Espiritismo.
Inúmeras foram as obras escritas por Kardec. Médium que era, muitas vezes foi atuado por espíritos jesuítas, e daí a influência do misticismo religioso nos seus escritos que, embora possuindo boa moral, são nocivos aos espíritos fracos.
Seus ensinamentos levam as criaturas ao desenvolvimento mediúnico, mas nada lhes é ensinado sobre os perigos a que estão expostos os médiuns, nada se lhes disse sobre a sua composição astral e física, do que resulta a prática do espiritismo sem método e sem disciplina, deixando-se os médiuns atuar em qualquer lugar para praticarem a pretensa “caridade” a que, a propósito de tudo, se referem.
Para os sectários inimigos gratuitos do Espiritismo Racional e Científico[1] que se pratica no Centro Redentor e suas Filiais, o médium é uma personagem “divinal” que “incorpora” para dar “receitinhas” de pingos de água “alcoolizada” e outras bugigangas, algumas beberagens até perigosas, em qualquer parte, “centro espírita” ou casa de família, nas mesas de botequins, tabernas ou centrelhos, e que também dá “passes”, faz “água rezada” e articula um amontoado de palavras sem significado nem valor, que são tidas entre os crentes como “mensagens do além”, dadas por “protetores”, por “irmãos do espaço”, por espíritos “camaradas” e até por “mensageiros do pai” ou de “Nosso Senhor Jesus Cristo o Divino Mestre” etc
Dizemos médiuns desenvolvidos, porque médiuns intuitivos são todos os seres humanos, e é por isso que se diz “saber ou dizer tal ou qual coisa por intuição”; e intuição só é aquela que nos vem de fora e vive fora de nós, e o elemento que intui só pode ser partícula da Inteligência Universal, chamada alma ou espírito pelo vulgo; mas médiuns desenvolvidos, sem vontade, o são somente as pessoas fracas e as que, menos fracas, procuram desenvolver-se nos centrelhos espíritas, para “receberem espíritos” e praticarem a tal “caridade”.
O leitor, por certo, não se espantará com a afirmativa de que todos somos médiuns intuitivos, e mais ainda se lhe dissermos que médiuns videntes e auditivos são também os cavalos e os cães, como se prova através do livro A vida fora da matéria”, editado pelo Centro Redentor.
A esses médiuns assim desenvolvidos e praticando a mediunidade em qualquer parte ou centro espírita, temos, bem a contragosto., de chamar a pior praga que no mundo existe, por serem todos eles ignorantes do que seja a mediunidade humana e de como ela se desenvolve e deve praticar, para o bem próprio e da humanidade.
Ora, sendo a ignorância a origem de todos os males, e não se conhecendo o médium a si mesmo, como Força, partícula da Inteligência Universal, também ignora ser ele uma porta aberta para os espíritos materializados, que perambulam no astral inferior, obsessores de médiuns ignorantes e de pessoas que não se conhecem como Força (alma) agindo sobre a matéria.
Não sabem, ainda tais médiuns o que é a mediunidade e como deve ser ela praticada com as precisas garantias para não terminarem avassalados pelo astral inferior, composto de espíritos que se quedam na atmosfera da Terra, por haverem, por sua vez, desencarnado na mais completa ignorância; pois nem Alan Kardec, nem todos os outros seus discípulos, inclusive os dos outros ramos denominados “ciências ocultas”, algo disseram a respeito de Força e Matéria.
Todavia, desde 1910, o Racionalismo Cristão está sendo explanado e praticado no Brasil, tendo se iniciado em Santos, Estado de São Paulo.
O primeiro a iniciar aqui no Rio de Janeiro o Espiritismo Racional e Científico Cristão, como representante do Centro de Santos, foi Ignácio Bittencourt, antigo espírita kardecista. Como o Espiritismo Racional e Científico Cristão é feito por Espíritos Superiores, de verdadeira pureza, que lhe impunham uma disciplina rigorosa no viver material e no espiritual, determinando horas para tudo e exigindo uma moral pelo menos relativa, esse médium da primeira hora, não tendo força para praticar tal disciplina, desertou, rapidamente, para o antigo campo de espíritas de fancaria, que é uma variante da Magia negra.
Por este e outros exemplos verificados em médiuns da primeira hora, chegamos à conclusão, na prática de 14 anos, que tais médiuns são, de fato, a pior praga que na Terra existe.
É com esses instrumentos viciados, vaidosos e obsedados, portadores de diferentes fobias, que se pratica, por aí, o tal espiritismo, tendo por chefes astrais (astral inferior) caboclos ou pretos Lodoros, Urubatãs, Juncos Verdes, Ismaéis, todos do ambiente brasileiro, místicos, e outros infelizes obsessores que empolgam, dominam e enlouquecem “pais de mesa” e “presidentes de sessão”, como o vulgo os denomina.
Médiuns e presidentes são similares, e por isso, de acordo com as leis comuns e naturais, que eles chamam divinas, sem saber porque, só Lodoros, só inferioridades astrais, só obsessores podem atrair. Faltam-lhes sentimentos e conhecimentos para se constituírem em corrente fluídica, ímã de atração dos espíritos puros, do Astral Superior.
Depois desses médiuns ricos ou pobres – homens ou mulheres – ignorantes do que são como Força e Matéria, e por isso entregues aos espíritos obsessores, com grande perigo para os incautos, são os presidentes de sessão os mais criminosos dos seres humanos, espiritualmente falando, como a seguir explicaremos, para que o leitor amigo fique sabendo que não está perdendo o seu tempo ao tomar conhecimento destes esclarecimentos para livrar-se de tal praga, a pior, até hoje, conhecida.
A essas criaturas ultraperigosas, vêm os espíritos do Astral Superior esclarecendo, desde 1910; elas conhecem os Princípios explanados pelo Centro Redentor, em suas diversas obras, mas, como tais princípios são baseados na Verdade, e têm por fim o desenvolvimento das virtudes dos seres, e, portanto, o alijamento dos seus maus hábitos, o domínio pleno da alma e a prática da moral verdadeira e das virtudes recomendadas pelos espíritos do Astral Superior; só essas qualidades podem dar força e vigor ao ser humano, e torná-lo um instrumento útil a si mesmo e à humanidade em geral.

A mediunidade não é graça divina

Ao leitor desprevenido deverá parecer heresia a maneira de tratarmos os praticantes do baixo espiritismo, principalmente os médiuns, por estar certamente habituado a ouvi-los dizer que a mediunidade é uma “graça divina” etc.
Quando iniciei os meus estudos sobre o espiritismo, e antes de aprofundar-me neles, na maior boa-fé também tomei os médiuns como mensageiros de Deus (Grande Foco), sem me aperceber do que eram capazes esses infelizes que fazem da mediunidade uma profissão torpe e não passam de instrumentos do astral inferior.
Somente depois da publicação da 1a edição do livro Espiritismo Racional e Científico (cristão)[2] pude demorar meu raciocínio nos porquês das coisas e observar o logro de que havia sido vítima, ao acreditar em tal falsidade, que por toda parte era tida como verdade.
Só então, depois de haver publicado esse logro da “graça divina”, foi possível ao Astral Superior que dirige o Centro Redentor e seus Filiados atuar num médium devidamente esclarecido e previamente preparado, mesmo sem que ele o percebesse, portanto, um dos médiuns mais aptos, e em hora de maior calma, colocado dentro de forte corrente fluídica, constituída por seres de boa vontade, para dizer aquilo que eu havia já concluído, mas não divulgado a pessoa alguma, que “graças são favores e que se tais favores pudessem ser concedidos, se os praticasse Deus (Grande Foco), falharia a lei que determina que cada um tem o que merece”.
Essa explicação do Astral Superior veio confirmar as máximas de Jesus: “Como pensares, assim serás”. “Como fizeres, assim terás”.
Somos, pois, aquilo que pensamos, e os nossos pensamentos estão sujeitos às leis naturais, por ser o pensamento uma força saturada de poder, para o bem ou para o mal.
Ora, essa balela de tomar a mediunidade como um favor divino, uma graça do pai celestial, é própria desses médiuns ignorantes, indisciplinados, desordenados e alguns até perversos e imorais que fazem questão de que essa tolice ganhe foros de verdade entre os espíritas, para mais facilmente se tornarem dominadores dos incautos e fazerem jus a salamaleques, melosidades, honrarias e privilégios no seio das famílias honestas, que às vezes se tornam desonestas, com a sua inferior assistência astral.
Tão viciados desses privilégios ficaram os médiuns desenvolvidos e praticantes do espiritismo em família e, fora dela, nos salões dourados, nos centrelhos de todos os feitios, como viciados e iludidos na sua boa-fé ficaram os assistentes de tais sessões, a tal ponto foi e vai essa crendice, essa léria especulativa, por parte de tais médiuns e seus admiradores e fanáticos, que hoje, ao lerem as nossas incontestáveis afirmativas sobre tais instrumentos, revoltam-se contra nós, “honrando-nos” com barbaridades diversas, das quais temos que rir, por julgá-las naturais e próprias da ignorância que os domina e nos tentou dominar, inicialmente, mas que terminará por desaparecer do mental de todos, como desapareceu do nosso, quando pudemos raciocinar e concluir que o sobrenatural e o milagre são produtos exclusivos da ignorância humana, e que o Grande Foco, gerador de tudo, não pode dar mais a uns do que a outros, não pode castigar nem perdoar, porque a isso se opõem as leis naturais, em virtude das quais cada um tem o que quer ter e por si engendra o bem e o mal, de acordo com a sua vontade, o seu livre-arbítrio e a irradiação dos seus pensamentos, impulsionados por essa vontade; sendo, portanto, certo que cada um tem o que merece.
Por assim ser, aqueles que lerem estes escritos, devem procurar raciocinar muito sobre o que formos publicando com relação aos médiuns e a outras verdades referentes à prática do espiritismo, e se isso fizerem com isenção de ânimo, livres de ideias preconcebidas e paixões mal cabidas, hão de acabar concluindo que nos sobrou razão para as asserções contrárias a tudo quanto tais instrumentos do mal afirmam.
Espíritas ou não devem ler, com atenção, estas apreciações, como verdadeiros cristãos que são todos aqueles que não aninham ódios nem prevenções no seu espírito, lembrando-se de que quem se zanga turba a razão, desperta as más paixões, a verdade se esconde, o sentimento de justiça foge, as virtudes choram e todos os sentimentos altruístas elevados adormecem, de acordo com as conclusões a que cheguei nos meus estudos de psicologia humana.
Preparem-se todos, pois, para continuar a ler verdades sobre a mediunidade e o médium – a parte mais séria da vida dos seres – e da prática do espiritismo, que tanto seduz o gênero humano.

Quem praticar o mal, terá de repará-lo

Na obra Racionalismo Cristão (já na 36a edição), explana-se o que o Centro Redentor e seus Filiados demonstram em teoria e prática sobre o Espiritismo. A disciplina e o bom método criam a ordem, e só com esta é que se podem atrair espíritos de luz para beneficiar os que sofrem moral e fisicamente, normalizar criaturas obsedadas, acalmar as nervosas ou irritadas, que nada mais são do que médiuns avassaladas, ignorantes do que seja a mediunidade.
Naquele livro pode o leitor estudioso, pois, ver claramente o que são a mediunidade, o livre-arbítrio e o Astral Superior que dirige o Centro Redentor.
Esse livro encerra tão profundos ensinamentos, que homens de real valor o cognominaram de verdadeiro luzeiro da humanidade.
Estudando-o, analisando-o, facilmente se conclui que o espírito traz, ao encarnar, a mediunidade intuitiva, o livre-arbítrio, o raciocínio, além de outras faculdades necessárias ao processo de sua evolução, umas desenvolvidas e outras latentes.
Esses elementos são as armas que acompanham cada espírito, ao encarnar, ao deliberar descer a este planeta para trabalhar em corpo físico, a fim de poder levar a bom termo a sua depuração, o cumprimento do seu dever e, portanto, o seu aperfeiçoamento.
A mediunidade é tanto mais desenvolvida, quanto maior esforço for preciso para reparar males praticados. Os mais criminosos, portanto, os mais fracos, trazem a mediunidade vidente e auditiva (ver e ouvir os espíritos, como em geral dizem), que serve para proporcionar-lhes mais facilmente os conhecimentos sobre a vida fora da matéria.
E trazem essas faculdades mediúnicas para, vendo e ouvindo espíritos desencarnados, se convencerem da continuação da vida após a morte do corpo, e assim não mais falirem e não perderem a encarnação.
É, pois, a vidência, quase sempre, prova de inferioridade espiritual ou reflexo de muitas encarnações perdidas, de muitas dívidas e faltas cometidas, de muito se haver feito sofrer aos outros na prática de crimes de toda espécie.
A vidência, possuem-na o cavalo e o cão, como elemento natural de progresso, como auxílio para o seu caminhar para a evolução, a que tudo e todos estão sujeitos; por determinação natural das leis da vida, a Força Criadora de tudo, por muitos chamada Deus, mas que poucos sabem definir, e que nós reconhecemos por Grande Foco, por ser Luz e Inteligência a clarividenciar os espíritos, as mentes ou inteligências, e a impulsionar os átomos para a formarão de células e moléculas.
Bastante razão teve Guerra Junqueiro ao chamá-lo de Grande Fogo!
Mas é tão errônea a concepção da vida, principalmente da transcendente – que os médiuns que vêem e ouvem espíritos, passam entre os espíritas incautos por “enviados especiais do pai celestial”, como “mensageiros privilegiados seus”, e entre outros, como “bruxos” ou “criaturas endemoniadas”, possuidoras do demônio ou satanás, quando se trate de seres mergulhados na mais profunda ignorância. Aí, essas criaturas têm o dom de falar com as entidades da corte celestial, fazendo jus até à canonização. No passado, os plebeus podiam chegar à fogueira, como sucedeu com a grande Joana D'Arc!
Entretanto, tudo isso só demonstra, na realidade, serem almas atrasadas umas, covardes muitas, e grandes criminosas a sua maioria.
Em toda parte se desejara comunicações com espíritos, mas, a não ser o Astral Superior, ao serviço da grande causa de Jesus, alguém tratou de fazer luz sobre a composição do Universo?
Pôde, pois, o Astral Superior, servindo-se da nossa mediunidade intuitiva, firmar Princípios doutrinários indestrutíveis, e, com a cooperação de médiuns treinados e desejosos de servir à Verdade, portanto, à causa do Bem, fornecer os elementos precisos, baseados nas leis naturais, para confecção da matéria que encerram os livros Racionalismo Cristão e A vida fora da matéria.
Neste, que contém gravuras demonstrativas da vida fora da matéria, pode o estudioso constatar o perigo que correm aqueles que se concentram para receber “mensagens do além”, praticando espiritismo em família ou em qualquer centro, sem base, sem corrente fluídica, método e disciplina, e observar a assistência astral dos “pais-de-mesa”, de “serviço”, “presidentes de sessões” e dos seus médiuns analfabetos e ignorantãos, ou alfabetizados e grandes espertalhões.
É sabido pelos estudiosos – e isto se afirma no Redentor e em suas Casas Filiais – que todos os médiuns mistificam, por vontade própria ou sem o querer; e porque assim é, torna-se de fato o médium um instrumento perigoso, como o tem sido a maioria daqueles que vêm praticando a célebre “caridade” (dar receitinhas), e os que têm feito questão de passar por grandes médiuns, o que nos levou, com motivos justificados, a classificá-los “como a pior praga que existe neste planeta depurador de almas”.
São, pois, todos os médiuns inexperientes ou pretensiosos, criminosos por vontade própria ou sem vontade, e até, às vezes, desejosos de bem fazer a si e aos outros. Não queremos com estas palavras desmoralizá-los, por serem tais sentimentos impróprios de todos os que, com a consciência esclarecida, estão a serviço do Centro Redentor.
O que visamos é somente esclarecer as criaturas com a verdade, para evitar o desenvolvimento da obsessão e doutras desgraças entre os incautos, os bem intencionados, e chegarem à loucura provinda da obsessão desenvolvida, todos os dias, com a mediunidade mal praticada.
A boa-fé e o tal ridículo desejo de praticar a “caridade”, como em geral dizem os falsos espíritas, não os inibe de chegar à loucura. Mal é mal, crime é crime, embora praticado involuntariamente, ou em boa-fé.
Não há atenuante para o espírito (alma) que pratica crime de lesa-incautos contra a humanidade e contra si próprio.
Estude-se, pois, o viver das criaturas, o seu passado e o presente, e fácil será prever-lhes o futuro.
Nesta penitenciária – a Terra – tudo se há de resgatar, a maioria dos casos em encarnações futuras.
Somente os humildes perante a Verdade, altivos perante o dever, valorosos no perigo e cordatos com a razão, justos no julgar, poderão ter saúde e paz de espírito.
Mais vale, pois, a pobreza farta, que a riqueza mal adquirida.
O mal dá-nos remorso; o bem traz-nos sossego espiritual.
– Por que não fazer esforço para tornar-se bom, em toda a extensão da palavra?
Sejamos, hoje, melhor do que fomos ontem. Este deve ser o lema do cristão.

Para obsedados, não há lógica

Os que conhecem a psicologia das criaturas, em virtude do estudo diário, dentro e fora do Centro Redentor, dos atos humanos, chegam à certeza absoluta de que a normalidade dos seres é mui rara, e que a lógica nada consegue dos anormais, por serem estes criaturas obsedadas.
Tendo fundado, com o meu companheiro Luiz Alves Thomaz, dois hospitais para a normalização de loucos, que existiram até 1916, um em Santos, a bela cidade praiana do Estado de São Paulo, na avenida Ana Costa no 67, e outro no Rio de Janeiro, na rua Jorge Rudge no 121, ficaram até os mais céticos convencidos de que a obsessão só poderia ser curada com o emprego do método e da disciplina aconselhados pelo Centro Redentor.
Um médico, velho amigo meu, me dizia: “Para anormais não há lógica, e só uma disciplina constante e obrigatória poderá fazer com que o anormal acorde e se ponha a raciocinar para compreender o que se lhe diz, e assim se vá normalizando pouco a pouco”.
Ora, em virtude do estado de alma da maioria dos seres humanos, e da minha confiança inabalável nestes Princípios, tornados terapêutica para as mais variadas fobias, fartamente observadas por mim, tomei a resolução inabalável de não dar importância à opinião de quem quer que seja, para censurar-me, para julgar-me bom ou mau, certo ou errado, isto por ser bem claro que os elogios ou censuras não me atingem, porque não trato nem discuto pessoas mas, sim, e unicamente, Princípios. Para mim só tem valor real, só pode merecer consideração e respeito, quem me provar, com fatos e não palavras, possuir moral verdadeira, exata noção do dever e permanente empenho em cumpri-lo.
Os Princípios pregados por Jesus e fartamente divulgados pelo Centro Redentor, ensinam-nos que só se deve tomar a sério aquele que quer estudar e aprender; se aos viciados apontamos em tese os vícios e suas misérias, é para alertá-los com o conhecimento da verdade, obrigando-os, pelo esclarecimento proporcionado, a raciocinarem com acerto.
A Doutrina Racionalista Cristã nada quer materialmente para si própria, mas os seus Princípios exigem, porém, que todos raciocinem, para se tornarem esclarecidos, e assim úteis a si mesmos, à família, à pátria e à humanidade.
Assim sendo, caros leitores, não deveis perder tempo em julgar-me, porque o vosso julgamento e a vossa opinião, quaisquer que sejam, não me fazem abalar, não me vão preocupar o mental, que está sempre pronto para auxiliar os que dele precisarem, e muito deseja o vosso progresso moral, a normalização de todos, com o que sente imenso prazer a minha alma; mas não levará ela a sério qualquer coisa partida deste ou daquele que não tenha uma finalidade elevada e despersonalizada.
As paixões, quaisquer que sejam, toldam o raciocínio e perturbam a razão. Portanto, só levarei a sério aqueles que saibam pôr de lado as suas pessoas, para tratarem valorosamente da humanidade enferma da alma e do corpo, como o soube fazer Jesus.
Sinto-me, pois, muito bem no trabalho contínuo de difundir e praticar a verdade, o Espiritismo Racional e Científico Cristão (Racionalismo Cristão), elucidando os de boa vontade sobre as coisas sérias da vida, aqui e no Além grandioso e belo, coisas estas que todos reputamos, no Centro Redentor, muito sérias, sem nada desejarmos das pessoas, nem mesmo agradecimentos.
Sinto-me feliz em saber que estou contribuindo para o bem-estar físico e moral de alguém, como satisfeito fico também quando, de algum modo, posso socorrer um necessitado, mas prefiro que nunca me toquem no benefício prestado, porque se alguém lucra, sem dúvida, é aquele que socorre com a consciência do dever, e não o socorrido.
É, pois, para as pessoas de boa vontade que o Racionalismo Cristão existe e o Astral Superior desce à Terra. Para os indiferentes, pretensiosos e criminosos, ele não convém, por serem esses cegos propositais, que só aceitam como bom o que agrada ao seu paladar depravado, à sua vaidade, aos seus vícios, às suas misérias morais.
A quem não agradar esta rude franqueza, que tenha paciência, mas que a grave no seu mental, para não se deixar, em tempo algum, iludir com aqueles que, cientes e conscientes, tenham de falar em nome do Centro Redentor.
As pessoas que representam o Centro Redentor têm por dever ser trabalhadores, livres e independentes, embora pobres de pecúnia...
Eles não vivem da Doutrina nem dá credulidade do povo. Trabalham, e por isso só se sentem satisfeitos quando sabem que o mau se tornou bom, que o desonesto se tornou honrado, que a adúltera se regenerou, que o materialista se espiritualizou, que o obsedado se desobsedou, enfim, que todos se tornaram úteis a si e à coletividade.
Continuai, leitores amigos, a ter a paciência de ler estas publicações e, sem ofensa às vossas crenças ou doutrinas, demorai-vos a raciocinar sobre o que lerdes e, por certo, haveis de concluir tratar-se de um trabalho de grande alcance psíquico e moral.

Sobre a mediunidade

Além do que se acha exarado no livro Racionalismo Cristão, editado pelo Centro Redentor, sobre a mediunidade, o médium (e como este mistifica, mesmo sem o querer), além desses preciosos esclarecimentos, tem o médium de subordinar tudo, toda a sua vida material e espiritual aos Princípios Racionais e Científicos da Doutrina.
O médium tem por dever raciocinar muito sobre esses Princípios, sobre os seus maus hábitos, desejos desordenados, imperfeições e, muito especialmente, deve convencer-se de que nas suas vidas anteriores, por falta de conhecimentos dos porquês das coisas e da instrução e educação erradas, acumulou no seu corpo astral (perispírito, subconsciente ou duplo etéreo), e no seu próprio espírito, maneiras, teorias, hábitos e conhecimentos errados, baseados nas falsidades dos mistificadores.
Tão errados conhecimentos impedem a manifestação clara da Verdade pelo Astral Superior (espíritos esclarecidos), atuando no médium.
Com tais conhecimentos errados, vindos de épocas passadas, o espírito do médium não aceita as intuições contrárias aos mesmos e, por isso, só articula ou escreve aquilo que tem gravado, que fixou no corpo astral, durante suas vidas passadas, nessas encarnações quase todas perdidas ou de pouquíssimo aproveitamento para ele.
Por esse motivo é que se nota no estudo e prática do alto e baixo psiquismo – que os adeptos de Alan Kardec denominam Espiritismo – que o espírito do médium teima em conservar esses errados conhecimentos e os seus maus hábitos, ao ponto de repelir o Espírito Superior (depois deste haver atuado nele), passando a irradiar na sua própria vida anímica, imitando a irradiação do Astral Superior, e a articular e escrever as suas falsas teorias e todas as formas religiosas, sectaristas, filosóficas ou pseudocientíficas, que tem gravadas no seu perispírito.
Por assim ser, raríssimo é o médium que serve para todos os trabalhos psíquicos, pois se um prescreve conselhos regularmente, outro é eficiente somente nas Sessões de Desdobramento e nas Sessões Públicas de Limpeza Psíquica (de desobsessão), para se deixar atuar, receber o astral inferior (espíritos da atmosfera da Terra), e transmitir à assistência aquilo em que pensa o ser que se acha na mesma Sessão, a quem o espírito atuado assistia e obsedava.
O Racionalismo Cristão não aprova a prática dos passes executados como habitualmente fazem por aí, ou à maneira obsessora dos “pais de mesa”, “presidentes de sessão” e magna caterva canjerista, a quem, desde 1910, se empenham o Centro Redentor e o Astral Superior em esclarecer, através de seus médiuns disciplinados, para bem dos incautos e deles próprios, que só males produzem com tais passes, portadores de seus próprios fluidos, ou atuados por espíritos obsessores possuidores de fluidos venenosos captados nos corpos em decomposição nos cemitérios, nas águas estagnadas das valas, nos corpos enfermos hospitalizados e outros quaisquer, mesmo de irracionais.
Poucos são os médiuns habilitados a darem comunicações certas, baseadas nos Princípios da Doutrina da Verdade, porque para isso é preciso que o espírito do médium não tenha sido sectarista, fanático, beato, nas outras vidas (encarnações) ou pelo menos na última, que não haja gravado no seu perispírito os falsos princípios sectários, e possua em si o ardente desejo de evolução, que precisa fazer, baseada em princípios racionais.
É necessário, enfim, que o espírito do médium seja evoluído, livre de manias e de mentiras convencionais desta encarnação, para que se confirme o velho ditado que afirma que “o ser já nasce feito” e que “o que o berço dá, somente a tumba leva ou só na tumba desaparece”, como continuaremos a provar para o bem geral.

O médium só é útil, quando esclarecido

Os que têm lido estas publicações domingueiras, caro leitor, devem ter observado que o que no mundo existe de mais sério e perigoso, é o médium mal orientado, ignorante dos porquês das coisas, que não se conhece a si mesmo como Força e Matéria e trabalha sem disciplina e método, fora das correntes fluídicas organizadas pelo Astral Superior e não pelos homens, pelos ridículos e grotescos “pais de mesa”, “presidentes de sessão”, como eles se denominam.
E tomai bem nota: O médium que foi sectário de qualquer das seitas existentes, não pode dar comunicação alguma que não seja baseada nos falsos princípios que praticou na última encarnação, e está sempre com o milagre, o sobrenatural e as conhecidas melosidades na boca, tais como o “perdão” e a “caridade” sempre humilhantes, e o falso “pai celestial” pois falam muito em Deus, mas nunca o definiram de um modo claro e racional.
Só o Astral Superior, através de seus instrumentos, pôde vir colocar as coisas nos seus devidos lugares e, definido como sendo o primeiro elemento componente do Universo, ao qual, se tivesse de dar um nome, caberia o de Grande Foco, porque o definiria melhor e faz desaparecer a falsa crença de que “deus” é uma figura à semelhança do homem, materializando-se, assim, vergonhosamente, o que nunca foi matéria nem tem forma.
Com os falsos princípios religiosos, tais criaturas, os médiuns, nem em centenas de encarnações alijarão de seu perispírito essa bagagem mística, fanática e intrujona, que não os deixa falar em “deus” sem melosidades e mentiras subservientes, sem expressões repletas de súplicas, amor animal, caridade e perdão, todas contrárias às leis naturais, à razão e ao bom-senso, mas que por muitos séculos vêm sendo explanadas como verdades, como coisas sérias e certas, quando não passam de intrujices criadas pela vaidade, filha da ignorância, da subserviência vilíssima e especulativa, do fanatismo do ser físico, sendo esta forma de loucura mansa a mais terrível, a mais danificadora, desde muito antes de Jesus.
O médium tem de carregar toda essa bagagem de conhecimentos e hábitos errados até poder dela libertar-se pelo estudo raciocinado, e as doutrinações que deve ouvir dos seres esclarecidos e honrados, como têm por dever de ser todos aqueles que assumem a responsabilidade de presidir Sessões no Centro Redentor e seus Filiados.
Nesses Centros – Casas do Racionalismo Cristão – nenhum médium pode trabalhar sem estar organizada a corrente fluídica, por ser esta, a um só tempo, a sua garantia e apoio dos espíritos de luz, para trabalharem com o único fim de beneficiar a humanidade pelo esclarecimento da verdade, e não pela humilhante e falsa caridade de receitar aguinhas bentas.
Mas sendo certo que essas criaturas fanáticas, obsedadas, não fazem o menor esforço para alijar essa bagagem repleta de falsos princípios educativos e preceitos sociais e religiosos, dever têm os Presidentes dos Centros onde se pratica o Racionalismo Cristão de estar bem senhores dos Princípios Básicos da Doutrina, como dóceis instrumentos do Astral Superior, e terem muita paciência com tais médiuns que venham a enveredar para a Verdade, desejosos de acertar, de se adaptarem à disciplina que os Princípios do Racionalismo Cristão impõem a todos, pois se a isso se prestarem, fazem jus à consideração das pessoas honradas, que saberão dar-lhes a sua irradiação de valor e amizade, e que não ignoram que se tais médiuns, já modificados no seu viver moral e material, não dão mais intelectual e espiritualmente, é porque não podem, pois a natureza não dá saltos e o espírito não pode chegar à perfeição senão com muito trabalho e luta constante contra os maus hábitos e as suas concepções erradas, gravadas no seu perispírito durante muitos séculos.
Todavia, se o médium, depois de esclarecido e amparado pelo Astral Superior e pelas criaturas também esclarecidas e honestas, prefere continuar no erro e se revolta contra a disciplina racional e contra o que para o seu bem é dito, deverá ser posto de lado, abandonado mesmo pelos seus companheiros disciplinados, que o devem esquecer para não sofrer a influência deletéria de sua maléfica assistência astral.
Um médium avassalado é sempre perigoso numa casa de família, pela atmosfera pesada, densa, doentia que cria, a todos perturbando. O convívio diário com tais criaturas torna-se prejudicial ao corpo e ao espírito, podendo ocasionar perturbações e doenças várias, se forem espíritos fracos e ignorantes do valor do pensamento e do poder da vontade.
É para que não continuem a grassar as endemias espirituais nos lares, que o Centro Redentor vem fazendo luz no espírito de todos que queiram raciocinar.
O homem esclarecido, que se conhece como Força e Matéria, não enferma facilmente, e está habilitado a criar um lar com absoluta saúde mental e física.

Todo efeito inteligente tem uma causa inteligente, que serve de base à explicação dos porquês das coisas.
As causas desses “porquês” são a Força, que se deve procurar na sua fonte de origem, o primeiro elemento componente do Universo, pois os efeitos são a matéria, e nada mais. No Universo só existem Força e Matéria, os mesmos componentes do homem e de tudo que tem vida. Nada reais há, além desses dois elementos
Força e Matéria. Tudo se engendra e desdobra dentro deles.
A Força, parcelada em todos os reinos da natureza, causa primacial de tudo quanto existe neste e nos outros mundos, que o vulgo erradamente denomina Deus e nós chamamos Grande Foco, por ser incitador de tudo quanto existe neste e nos outros mundos, – não a conhece a humanidade nem a definem as inumeráveis seitas existentes na Terra, desde as praticadas pelos selvagens, às dos povos ditos civilizados.
Também não a conhecem os espíritas religiosos, em geral, que nada mais praticam que variantes da Magia negra, a torpe e vilissima feitiçaria, saídos todos esses praticantes das diversas seitas, que nada souberam explicar sobre a composição do Universo e o que são a Força, a Inteligência e o Espírito, causa de tudo quanto existe.
Nenhuma dessas pessoas (umas tidas como chefes dalguns ramos do espiritismo, e outras dirigentes das várias seitas), soube explicar o que toda gente tem necessidade de saber para esclarecer-se sobre a alma, na qual todos falam, por “ouvir dizer”, mas sem a noção exata, certa e segura do que seja, como partícula integrante de um dos dois elementos componentes do Universo e dos seres.
É dessa ignorância, oriunda da indolência espiritual, uma das mais perigosas, porque dela nascem os males de que a humanidade está sofrendo, que resulta para todas as seitas e pessoas em geral, a aceitação do “coração”, como fonte de sentimentos humanos, de alegrias e tristezas de toda gente, quando aquele órgão não passa de um músculo, cuja maior importância consiste em ser pêndulo do corpo que, como no relógio, carece de corda, e se a este a dá a mão humana, àquele, ao coração, a dá o espírito, que, tal qual a mão, vive do lado de fora desse referido músculo, mais intensamente ligado ao cérebro, motivo pelo qual nos grandes abalos morais, é a cabeça que mais sofre.
Diante do exposto, o coração nada mais é que um órgão receptor das emoções vibradas pelo espírito sobre o cérebro e deste reproduzidas sobre aquele, mas já como conseqüência do dano produzido no sistema nervoso e na ramificação arterial, visto ser o coração o órgão distribuidor do sangue. O cérebro é o engenho central da rede telefônica, e o coração a estação nutridora.
No relógio, a corda, depois de alguns anos, arrebenta e fica sem conserto, não exercendo a mão do homem mais influência sobre a máquina. Na criatura, chegando o tempo, gasta a matéria, fica enfraquecido o pêndulo (coração) e é obrigado o espírito a cessar também a sua influência irradiativa sobre o corpo.
Se não houvesse ignorância a respeito dos porquês da vida e de todas as coisas, e do que cada um é, as criaturas não atribuiriam ao coração, importante, mas simples víscera do corpo humano, qualidades, sentimentos, bens e males, alegrias e tristezas que só podem existir e, de fato, existem, no espírito (alma), visto que a matéria “só se organiza, incita e movimenta por um elemento que lhe vem de fora e vive fora dela, que é o espírito”, princípio explanado e consagrado por Claude Bernard, o pai da Fisiologia moderna, pelo grande Paul Gibier, discípulo querido de Pasteur, e outros cientistas honestos.
Quem empregar as frases “o coração manda”, o “coração chora”, o “coração canta”, o “coração tem melodia”, e “o coração tem amor”, prova nada conhecer da composição do Universo, do que sejam o pensamento e a alma. Sua obra poderá ter boa literatura, mas encerra poucos ou nenhuns ensinamentos, visto ter por base a matéria e pensamentos materializados. Isto é a verdade, e porque o é, não agrada a muitas nem pode ser compreendida pelos que se dizem espíritas e praticam o espiritismo sem método e disciplina, tornando-se fanáticos, que loucos são, por não quererem fazer o menor esforço para raciocinar e tão pouco para melhorar o seu “eu”, preparando-se para o cumprimento do dever, a fim de colaborarem na grande obra do Todo, como verdadeiros obreiros do Bem, que só podem ser aqueles que se conhecem como Força e Matéria e palmilham o caminho traçado pelos Princípios racionais pregados por Jesus, que se neguem à vida de prazeres desordenados, à mentira, às convenções saciais, pondo de lado evangelhos e teorias esdrúxulas, e surgindo no palco da vida como homens sensatos, francos, leais, valorosos, nunca encobertos como manta da hipocrisia, escondidos sob pseudônimos ou acovardados no anonimato, nem como vive a maioria dos seres que se intitulam evangelistas-espíritas, todos melosidade, mas também insinceros, subservientes, como insinceros são os seus guias, embora rotulados de nomes pomposos com que gostosamente os ludibriam, sugam-lhes a vida anímica e enfraquecendo a espírito, levando os mais fracos ao avassalamento, à loucura.
Por assim ser, e não como muitos supõem, é que afirmamos, com segurança absoluta, que tais praticantes do Espiritismo mística são uns infelizes, porque não passam de fabricantes de loucos, como tereis, caro leitor, ocasião de ler através destas colunas em que tudo vos explicaremos, pelo desejo que temos de cumprir o nosso dever de cristão, e jamais como exibicionista.
Estas coisas, caros leitores, precisais saber, por serem elas as mais sérias da vida humana, que se conservaram, apesar disso, por muito tempo encobertas e assim continuariam por séculos, se não fossem chegados as tempos prometidos por Jesus, para o raiar de uma nova aurora.

Os perigos da prática do Espiritismo

Não conhecendo os praticantes do Espiritismo vulgar a causa inteligente de todos os efeitos, de tudo quanto se observa, quer material, quer espiritualmente, quer, ainda, dos fenômenos mediúnicos e outros, é claro que tais criaturas sem base, método e disciplina, só males podem praticar, como de fato praticam, embora algumas não sejam mal intencionadas.
Se para as artes, desde o pedreiro, o carpinteiro, ao artista mais categorizado, ninguém pode prescindir da aprendizagem subordinada à disciplina e métodos indispensáveis, se para qualquer profissão puramente material é necessário estudo sério para que o resultado seja compensador, como é que os praticantes do Espiritismo (que é a ciência das ciências, a arte das artes, “a ciência profunda e eclética”, no dizer do ilustre médico brasileiro Antônio Pinheiro Guedes, na sua sapiente obra Ciência Espírita), que tudo explica e tem por fim o benefício geral da humanidade, pelo esclarecimento, pela explanação ampla da Verdade, como é que os praticantes do espiritismo, dizíamos, não querem sujeitar-se a uma aprendizagem séria, a um estudo acurado, racionalmente feito, a fim de que assim tenham a indispensável base para trabalhar e produzir os bens que a ciência espírita quer colocar, através do esclarecimento, à disposição do gênero humano?
Se, pois, todas as práticas e profissões, ainda que puramente materiais, exigem um estudo sério, baseado em teorias experimentadas e provadas, como é que uma ciência tão importante para a prática da mais bela, da mais séria e, por isso mesmo, da mais complicada e perigosa doutrina filosófica, que denominam Espiritismo, por ser a ciência que tudo explica com relação ao espírito, desvendando a causa principal das suas enfermidades e da obsessão e loucura, como pode ser praticada sem estudo?
Como é que pessoas de destaque social, muitas portadoras de títulos universitários, vão a sessõezinhas em família, chegando à macumba, aos terreiros, que são verdadeiros chiqueiros espirituais (onde, para agravar, para satisfazer a animalidade de espíritos terrivelmente obsessores da atmosfera da Terra, são sacrificados bodes pretos, galinhas e patos da mesma cor), como é que pessoas, decentes e de destaque social, dizíamos, se podem confundir, se podem misturar com os praticantes dessa nojenta magia negra, supondo que tal miséria lhes poderá trazer “sorte”, resolver os seus problemas amorosos, vencer os desafetos e até acertarem na loteria?
Como devem ser classificadas as pessoas que prestigiam essas práticas miseráveis e, com elas, os “pais de santo”, os tais médiuns mistificadores e os que frequentam os centrelhos que ostentam títulos pomposos ou não, onde dizem “praticar a caridade”, quando não passam, mesmo sem se aperceberem, de instrumentos do astral inferior, de espíritos zombeteiros e gozadores, portanto, que se aproveitam da ignorância de médiuns e presidentes para ludibriar os que os levam a sério?
Consciente ou inconscientemente, os frequentadores, além de muitos se prejudicarem com essa frequência, correndo sério risco de ficar obsedados, loucos, e até com a vida material e familiar arruinada, contribuem para a proliferação dessa chaga social que se vai estendendo, cada vez mais, por toda parte, com graves riscos para a sanidade mental e física das criaturas humanas.
Se tais pessoas perderam a noção das coisas sérias da vida, e assim da moral verdadeira, merecem ser chamadas de loucas, classificação idêntica à dos tais “pais-de- mesa” dos celebérrimos “presidentes-de-sessão”, que guerreando os padres e o papa, fazem questão cerrada de passar entre os incautos por grandes personagens do espiritismo, apesar de não serem mais que figuras grotescas a pontificarem nos centros onde se pratica não o verdadeiro espiritismo, mas a magia negra, cuja assistência astral é obsessora e danificadora de corpos e almas.
Quem desce a confabular com um “pai de mesa”, no seu antro infecto e nauseabundo, espiritualmente falando, ou chamando-o em sua casa, confunde-se com ele e acabará por ser vítima do astral inferior, que, ao seu serviço, lhe armará a cilada que planejar. É tal a influência que os obsessores exercem sobre as senhoras de espírito fraco, que elas, sem se aperceberem, se prestam à prática de atos indignos e repulsivos, traindo os maridos, desonrando os seus lares, atos esses que praticam sem se aperceberem do ridículo, da vergonha e do crime que cometem, pois a assistência astral de tais macumbeiros leva-as ao estado de excitação sexual e quase de abstenção dos sentidos, como que em estado cataléptico.
Não há exagero na afirmação de que a maioria das conquistas, dos desmoronamentos dos lares, é tramada pelo astral inferior, ao serviço dos “pais de mesa”.
Homem ou mulher que alimenta ideias de conquista amorosa, cria em redor de si um ambiente sensual, atrai espíritos gozadores e sensualistas, que o ajudam a dar o bote na pessoa visada, e se chega a fazer a sua encomenda de cangamento ao “pai de serviço”, então fica tal ambiente carregado, e para que a criatura não venha a cair no laço que lhe é armado, é preciso que possua moral rígida, caráter impoluto, nunca haja descido a consultar cartomantes ou canjeristas e tenha a vontade fortemente educada para o bem.
Fiquem certos de que, mesmo entre as famílias religiosas, muitos casamentos são realizados com a interferência do astral inferior. As mães, coitadas, por ignorância, vão aos “pais de serviço” e às cartomantes para amarrar os noivos de suas filhas, principalmente se virem neles bons partidos.
Quem dera que com estes esclarecimentos pudéssemos despertar as criaturas, para que os criminosos se tornassem bons cidadãos e os incautos seres pensantes e raciocinadores.

O Espiritismo é uma ciência

Ciência profunda e eclética, que é o Espiritismo, no dizer do Dr. Pinheiro Guedes, não pode ela ser praticada, tumultuada e boçalissimamente, como está sendo, nos tais centrelhos dos “pais de mesa”, nos centros sem corrente fluídica ou em casas de família onde se fazem as sessõezinhas de invocação para a prática da “caridade” etc.
Aquele notável médico brasileiro, na sua obra Ciência Espírita, escreve: “Assim, pois, o Espiritismo visa um fim, estuda uma ordem de fatos, emprega métodos, processos e instrumentos exclusivamente seus, cria teorias, estatui princípios, estabelece leis; satisfazendo assim e preenchendo todos os requisitos exigidos pelos foros científicos”. “O Espiritismo é, sem a mínima dúvida, uma ciência, e seus princípios, suas leis, têm aplicação universal: são um fanal no meio das trevas que nos cercam, são um farol no mar tempestuoso da vida”.
Sim, é tudo isso que esse sábio, honra dos cientistas brasileiros, afirma, e o Centro Redentor, na prática, o comprova, nas suas Sessões Públicas de Limpeza Psíquica e outras, confirmando-o também em teoria, através de suas obras.
Praticado, porém, por criaturas ignorantes do que seja a Força em si e a Matéria em si, base da composição do Universo e, portanto, de tudo quanto existe, somente males, só danos morais e materiais o espiritismo místico pode produzir, e, de fato, produz, sendo essa a razão de muitas criaturas sensatas não levarem a sério tais praticantes. Outro não foi também o motivo dos egípcios e gregos haverem ocultado ao povo ignorante o conhecimento do espiritismo científico, por não estar ele preparado para praticar essa verdadeira ciência, cuja chave está no pensamento e ação. Daí limitarem a sua prática aos iniciados, e darem-lhe o nome de ocultismo, ou ciência oculta.
Os sábios desprendidos quiseram, em épocas diversas, revelar ao povo essa ciência, mas os negocistas, os que tiram proveito da sua ignorância, aliados aos que defendem o obscurantismo, a isso sempre se opuseram tenazmente.
A verdade é que tão importante ciência não pode ter como intérpretes médiuns e presidentes de mesa ignorantes e, em sua maioria, destituídos de formação moral e intelectual e sem condições, além disso, para compreender que a sua finalidade principal é esclarecer e orientar a humanidade.
Poderá o Espiritismo resolver os problemas sociais praticado por tal gente, com presidentes pernósticos, médiuns analfabetos atuados por pretos “Lodoros”, caboclos “Urubatãs”, “Juncos Verdes”, “Pariparobas”, “Mães do Ouro”, “Mãe d'Água”, “Sete Coroas” etc., que nada mais são do que espíritos quedados na atmosfera da Terra (astral inferior), zombeteiros uns, brincalhões outros, perversos muitos, sofredores alguns, mas obsessores e obsedados todos?
O Espiritismo há de resolver, sim, muitos problemas sociais, cuja causa é de ordem espiritual e não material. Se se cogitasse da espiritualização do homem e da mulher, mas de um modo racional, com base nos princípios de fraternidade pregados por Jesus, não teríamos o comunismo, o fascismo e outras correntes extremistas a avassalar o mundo com o seu materialismo egoísta que torna os seres humanos frios e insensíveis.
– Mas, o que têm feito as religiões e os próprios “espíritas em provação”?
– Apenas materializar todas as coisas da alma, e daí a descrença de tudo e de todos nos mentores espirituais, por verem neles exploradores da ignorância humana e bugigangueiros.
Mas, aos poucos, confirma-se, por toda parte, que os tempos são chegados, pois vão surgindo homens de ação e valor, para tudo colocarem nos seus devidos lugares.
A própria igreja se acha profundamente afetada, e só no autêntico, no verdadeiro Cristianismo poderá a mocidade encontrar a força moral capaz de regenerar o mundo em decomposição.
É claro, pois, que não se pode regenerar o mundo nem provar que o Espiritismo é ciência, com tais espíritos ignorantes das leis da vida, que aceitam todas as baboseiras transmitidas por espíritos zombeteiros, atuados em médiuns boçais, apresentando-se-lhes com o corpo astral de “frades” ou “santos”, para mais e melhor os intrujarem.
Compreenderá o leitor amigo que tudo isso e mais as feitiçarias praticadas por tal insensata gente, não podem ser tomadas a sério pelas criaturas bem formadas de intelecto, com noção da higiene física e mental, possuidoras de razão e bom-senso.
E se são criminosos todos os praticantes dessas misérias derivadas da magia negra praticada pelos povos selvagens da África e outros, menos criminosos não são aqueles que a tal gente der mão forte, que frequentam terreiros ou centrelhos, pois há senhoras e políticos que até os sustentam, materialmente, para tê-los ao seu serviço.
De acordo com as leis comuns e naturais que tudo regem, os similares se atraem e os contrários se repelem, portanto, não podem os meios civilizados ser frequentados por espíritos selvagens, caboclos, “Urubatãs”, “Juncos Verdes” etc., sendo, pois, todos mistificados e mistificadores.
Mas se pudéssemos admitir que tais atuações fossem verdadeiras, reais, que bem poderia fazer um pobre e ignorante espírito das selvas ou dos sertões da África – as almas mais atrasadas que existem neste planeta?
Por tudo estar errado, por não querer dar trato ao raciocínio, por viver a maioria fora das leis naturais, em divergência com a razão e o bom-senso, é que a loucura e outras enfermidades aumentam, e nós, a serviço da Verdade, do Astral Superior, de Jesus, temos que vir a campo para esclarecer os bem intencionados, a fim de orientá-los sobre as coisas sérias da vida, mostrando-lhes a rota que os conduzirá a uma vida simples, livre de males da alma e do corpo, sem ostentação e enganos, mas portadores de riquezas morais, únicas que levara o ser ao acatamento e respeito, tornando-o valoroso e destemido, cristão, portanto.

Só a alma esclarecida evoluirá

Para que dúvidas não pairem sobre o que vimos escrevendo a respeito de médiuns e espíritos mistificadores, diremos:
a) Que é certo e seguro que o espírito desencarnado faz tudo quanto lhe apraz do fluido em que estiver envolvido;
b) que, por isso, não só imita corpos astrais de pessoas desencarnadas e mesmo das ainda encarnadas (vivas), como imita também os de qualquer animal (cobra, cavalo, macaco, rato, jacaré) e de hediondas figuras, a fim de atormentar os médiuns videntes, a quem obsedam, e as crianças filhas de pais ignorantes, principalmente mães muito ou pouco religiosas, mas obsedadas.
No livro Racionalismo Cristão, obra básica da Doutrina que se pratica no Centro Redentor e seus Filiados, está amplamente explicado que o espírito, ao desencarnar, depois de haver abandonado o seu corpo físico, fica na atmosfera da Terra, em virtude do desconhecimento de si mesmo como alma, partícula do Grande Foco (Deus, como lhe chama o vulgo) – e conserva os mesmos hábitos e vícios filhos da falta de conhecimentos em que viveu quando encarnado, passando a estagiar em corpo astral na atmosfera da Terra, para a qual é atraído pelos similares em ignorância e malfazer, pelos tais médiuns viciados, como ele.
Dessa atração pelos médiuns ignorantes, que são todos os que praticam a mediunidade fora de corrente fluídica, e da evocação para coisas materiais pelos adeptos do tal espiritismo, resulta, além da obsessão, da loucura, a mistificação de caboclos, pretos e outras entidades, ao sabor do médium, do evocador e do que gosta de tais sujeiras astrais.
Aqueles espíritos ignorantes dos porquês da vida real, como os próprios encarnados evocadores, por mais que deles queiram e eles próprios desejem, só obsessão, loucura e sofrimento do corpo e desarranjos da vida obtêm, porque tais espíritos encontram-se como se encarnados estivessem, e nada mais sabem do que sabiam quando encarnados. Por isso, nem mesmo materialmente podem fazer mais do que qualquer pessoa, homem ou mulher.
Se, pois, tal ou tal espírito que estagia na atmosfera da Terra é grandemente perverso, grandemente malfeitor, como quando encarnado, não pode melhorar, absolutamente, enquanto não romper a atmosfera da Terra e partir para o mundo a que pertença, pois aqui ele pratica todos os atos, todas as maldades e transmite todas as intuições, unicamente para perturbar, para danificar a pessoa que o atrai, que o evoca, que não o repele.
Nesse malfazer está incluída a sua transformação em qualquer animal, para atormentar os videntes e auditivos, crianças ou adultos, e para melhor avassalar e arruinar, material e moralmente, os seus adeptos, imita o corpo astral de pessoas amigas e parentes dos seus obsedados, para apresentar-se aos médiuns videntes dos centros e centrelhos em que se manifeste, ficando assim os seus evocadores certos – pela descrição que o vidente lhes faz – de que o espírito atuado é, de fato, o evocado e desejado.
Assim mais facilmente domina ele a criatura que o tomou a sério, que fica obsedada, para todos os efeitos, por tal“protetor”, “guia” ou “irmão do espaço” que em tal centro ou centrelhos lhe ofereceram, mediante a paga de qualquer dinheiro ou coisa que o valha.
O espírito desencarnado só deixa de ser o que acabamos de descrever, depois que parte para o seu mundo, e volta, atraído pelas correntes organizadas pelo Astral Superior, para tratar do Todo, do bem geral, e nunca para satisfazer curiosos ou cuidar de coisas puramente materiais ou individuais.
Basta de mercantilismo com as coisas da alma!
Cada encarnado tem que evoluir por si, e para isso deve esclarecer-se, para não andar, por aqui e ali, à procura da salvação espiritual, da melhoria dos negócios e da família, oferecendo dádivas aos antros espíritas, aos “pais de serviço” “São Jorge”, “Cosme e Damião” e outros que tais.


[1] Vide Racionalismo Cristão, última edição.

[2] Hoje editado sob o título Racionalismo Cristão e já na 36a edição.


Verdadeiros discípulos da Verdade

Antes de desvendarmos todos os segredos da magia negra que, embora com outros nomes, se pratica em toda parte, desde os salões atapetados à choupana do pobre, e os grandes males que ela está produzindo no mundo, principalmente no Brasil e Portugal; antes de desnudarmos todas as torpezas dos seus praticantes e de indicarmos, caro leitor, o contraveneno, o remédio para evitá-las e curar os seus terríveis efeitos, vamos transmitir-vos a opinião de honrados cientistas, representados pelo médico Dr. Antonio Pinheiro Guedes:
“A opinião pública, mal orientada até por cultores do Espiritismo, parece convencida de que ele é mais uma seita religiosa, acrescida às que já existem.
Tem ela sido induzida em erro, ciente ou inconsciente, pela imprensa, pelos padres e outros sectários de todas as seitas religiosas; pelos médicos e até por espíritas que, seduzidos pelas conseqüências ou efeitos morais resultantes do conhecimento da doutrina, consideram-na uma religião.
A imprensa assoalha que o Espiritismo é a mais perniciosa de todas as doutrinas filosóficas.
Os padres católicos e acatólicos proclamam, do púlpito e pela sua imprensa, que ele é obra do demônio e o maior inimigo da igreja.
Os médicos, na sua maioria, propalam que ele povoa os hospitais de alienados e os cemitérios.
São as mil bocas da ignorância pretensiosa, do obscurantismo científico, da intolerância religiosa e do fanatismo estúpido que vociferam contra aquilo que não conhecem.
Essa grita infrene, toda essa celeuma, fez surgir em meu espírito a ideia de oferecer aos espíritas, aos médicos, aos padres, à imprensa e ao povo, estas páginas em que lhes mostro:
Ao povo, que o Espiritismo é como um farol que guia o navegante ao porto.
A imprensa, que ele é a mais racional, a mais consoladora de todas as filosofias, senão a verdadeira filosofia, porque nos eleva e conforta a alma.
Aos padres e aos sectários de todas as seitas religiosas, que ele é o guia seguro nas jornadas infinitas para Deus, e não um inimigo da Religião; não a condena, antes a justifica, quando ela tem por base a Verdade.
Aos médicos, que ele não só não é um túmulo, mas antes um berço, onde primeiro se embalou a divina arte de curar; não é a morte, antes dá vida, que em vez de povoar os hospitais de alienados, abre-lhes as portas, para fazer sair desses ergástulos, casas de torturas, antros de horror, alguns infelizes que para lá foram empurrados pela mão da medicina materialista pelo falso espiritismo e pela magia negra.
Aos espíritas, místicos ou fanáticos, que ele não só não apresenta nenhum dos requisitos das seitas religiosas, uma vez que não tem templos nem sacerdotes, nem culto externo, mas possui o caráter e preenche os requisitos das ciências.”
O que aí fica, caro leitor, foi escrito por um homem de valor, médico notável, brasileiro digno, enaltecedor da sua ciência, o que melhor viu, sentiu e escreveu, dentre os cientistas mundiais, sobre as ciências ocultas – Espiritismo – e tudo que ele afirma tem sido praticado e provado pelo Centro Redentor.
Não é um “presidente de sessão”, um “médium” ou “papa” do espiritismo que vos fala, que vos explica a Doutrina da Verdade, mas um médico erudito, desprendido, bom e humanitário, que soube colocar a verdade e a ciência acima de interesses puramente materiais.
Para felicidade da humanidade, houve sempre, em todos os tempos, verdadeiros apóstolos do bem.
Homens que entendem que a ciência é para esclarecer, e nunca para servir de meio de exploração, consideram criminosos todos aqueles que vivem à custa da ignorância do seu semelhante.
Esses homens são, de fato, os verdadeiros discípulos da Verdade pregada e difundida por Jesus. E embora falem pouco no seu nome, honram-no com as suas valorosas obras.

O Espiritismo é o farol que tudo ilumina

Pelo que vimos escrevendo, através destas colunas, fica o leitor sabendo o que são os tais médiuns evocadores de espíritos africanos e caboclos, e como se tornam perversos, e até criminosos, todos os praticantes do espiritismo sem base racional e científica, que se reúnem em qualquer canto ou centrelhos para receber o “protetor”, a fim de dar “receitinhas” ou ordens, e, em dias e horas determinados, fazerem “despachos”, “muambas”, “serviços”, para atingirem desafetos, para fazerem vítimas, desmoronarem lares e desgraçarem políticos e negociantes desordenados ou fracos.
Eles mercantilizam com os espíritos quedados na atmosfera da Terra, como os feirantes com as suas mercadorias.
A maior parte dos males físicos e morais que assoberbam a humanidade é originada por espíritos obsessores ao serviço dos encarnados malvados, e pela ignorância dos seres que não sabem defender-se dos avassalamentos por desconhecerem a sua composição astral e física.
Todo aquele que tiver boa vontade e desejar esclarecer-se, para não ficar obsedado, avassalado, enfermo do corpo, do espírito, procure ler o livro Racionalismo Cristão e praticar a Limpeza Psíquica, como determinam os Princípios doutrinários explanados e praticados no Centro Redentor. O ser esclarecido dos porquês da vida, metódico, disciplinado e possuidor de boa moral, é sempre valoroso e destemido, e sabe estar ao abrigo das correntes maléficas do astral inferior.
As obras do Centro Redentor são recomendadas, não para a Instituição usufruir proventos, mas por encerrarem ensinamentos de que a humanidade carece para saber vencer na vida. Lendo-as, compreenderá o leitor que possui em si mesmo todos os elementos de defesa contra as doenças do corpo e do espírito.
Assim como Monsenhor Kneipp aconselha andar descalço, pelo menos uma hora por dia, para dar combate aos resfriados e colocar os pés, até 10 minutos, dentro de água fria, à noite, para, logo em seguida, deitar-se e ter sono reparador, assim o Astral Superior aconselha o banho diário do espírito (Limpeza Psíquica), para ter-se a mente sã e forte, a fim de poder resistir a todas as tempestades morais ou de efeito canjerista.
Com o estudo de obras esclarecedoras editadas pelo Centro Redentor, virá a convicção de que o ser humano “conforme pensar assim atrairá”, máxima atribuída a Jesus, e já muito citada por pensadores notáveis de todo o mundo. É pelo pensamento, pois, que se atraem as forças astrais (espíritos) boas ou más, é nele que reside o segredo de todo bem que almejamos ou de todo o mal de que seremos vítima, se o desejarmos a outrem.
Torna-se preciso conhecer as leis naturais que a tudo presidem e regem, às quais todos estamos sujeitos e a elas obedecermos, por meio da vontade e do livre-arbítrio.
Conosco só não estarão os espíritas ou sectaristas que não quiserem pensar e raciocinar, e se sintam bem atolados no lodo moral em que vivem, no qual se atiram todos os demais espíritos fracos que os procuram . . .
Enquanto a humanidade não seguir as duras, mas grandemente beneficiadoras verdades que explanamos, continuará a ser vítima da sua falta de conhecimentos e da ação dos médiuns avassalados existentes na maioria dos lares e congregações religiosas e profanas.
Com os pensamentos repletos de fraqueza e maldade é que engendram os seres humanos um inferno cheio de torturas morais, tornando-os, como encarnados, verdadeiros demônios uns para os outros.
E, quer queiram quer não, é neste degredo a – Terra – que terão de resgatar todo mal que aos outros fizerem, e por isso se justifica a lei da reencarnação do espírito, a qual só os pretensiosos e insensatos hoje poderão negar diante dos fatos presenciados em toda parte, onde crianças rememoram fatos por elas desconhecidos no presente, mas conhecidos pelos seus ascendentes etc.
Nada de melosidade e falsa “caridade”. Faça-se todo bem que se possa, mas como um dever. As palavras melosas e a apregoada “caridade”, só têm servido para enfraquecer almas e criar uma geração de pedintes e vencidos.
É tempo de libertar-se a humanidade do caos em que vive, e para impedi-la de caminhar para o abismo, preciso se torna falar-lhe com austeridade cristã, de modo a fazê-la pensar e raciocinar sobre as coisas sérias da vida e os seus porquês, tanto da matéria como fora da matéria.
Não é com rezas e lamúrias que serão resolvidos os intricados problemas sociais, mas com o raciocínio esclarecido e o pensamento firme no Bem, na Verdade e na Justiça, agindo, portanto, dentro da ordem e do progresso.
Despertai, espíritas e não espíritas, para os verdadeiros ensinamentos de Jesus: ser bom, não cobiçar o que é dos outros, trabalhar sempre e amar a Verdade.

Os espíritas de fancaria enraivecem-se

Depois da explicação completa que o Centro Redentor faz nas Sessões Públicas de Limpeza Psíquica, três vezes por semana, e nas suas obras, do que são a Força e a Matéria em si, das quais tudo deriva, explica ele aos seus milhares de assistentes o que são as leis comuns e naturais que, regem tais elementos, às quais tudo está sujeito, quer neste planeta quer nos outros.
Conhecida a base de tudo quanto existe, observa-se logo o efeito produzido pela lei da atração que o ser humano pratica com o seu pensamento, ao serviço da sua vontade, bem ou mal educada. O efeito dessa lei é a atração das boas ou más forças que o vulgo denomina de ocultas, e dessa atração resulta a boa ou má assistência dos seres humanos, tornando-se assim a sua prática o segredo de todo bem ou de todo mal das criaturas.
Quem for ignorante, embora bom no fundo, está sempre sujeito à má assistência dos espíritos, e o que além de ignorante for viciado, pornográfico, maldizente e perverso, está sobre o domínio das ditas forças astrais inferiores, é um obsedado, porque somente os esclarecidos que se conhecem como Força e Matéria, sabem irradiar pensamentos de valor, desprendimento e altruísmo, e sentir a vibração de sentimentos elevados, pois só com eles é que podem religar-se aos mundos adiantados – habitações dos espíritos esclarecidos e superiores – e de lá atrair, para si e para outrem, fluidos benéficos para o corpo, e luz para fortificar a alma.
Desse esclarecimento resulta que cada um tem o que merece, porque atrai para si aquilo que quer, aquilo em que pensa. Imaginem o que atrairão os devassos, os crápulas, os velhos casquilhos libidinosos e torpes, os presidentes de sessão marca “Tiro-aço” e toda essa malta que se deixa arrastar por desejos animalizados, desordenados, pútridos e indignos de gente civilizada, de pessoas que sabem pensar e raciocinar.
Em vista destes “princípios (que só os ignorantes se atrevem a contestar), como devem ser classificados os centrelhos, as sessões onde se pratica o espiritismo rasteiro povoado de duendes, inventados por uma súcia de malfeitores materiais e morais, da qual a imprensa, não raro, se ocupa?
Esses centrelhos usando de nomes respeitáveis e outros ridículos, inventados por esses crapulosos “pais de mesa” e seus “guias”, lá se podem tomar a sério como sendo úteis a quem quer que seja? Absolutamente não, porque são fábricas de loucos e de todas as misérias materiais e morais.
Da frequência a tais antros, resulta o alastramento desse veneno astral inferior que produz suicídios, assassinatos, paralisias gerais, cegueira, feridas malignas, desonras de lares e outros fatos que os jornais mencionam no seu noticiário.
A esses infelizes médiuns e “presidentes de sessão”, não agrada, pois, a linguagem franca e leal da Verdade, porque esta os desmascara.
A eles só convêm parceiros para o crime, e como o Centro Redentor não os fornece, enraivecem-se e correm de um lado para o outro, fugindo às admoestações dos intérpretes da Verdade.

Os exploradores do Espiritismo

Diante do que vimos explanando nestas colunas, perguntará o leitor, como é que a prática e assistência de tal espiritismo – magia negra – produz tantos males, inclusive a loucura dos seres humanos?
Nesses centrelhos, todos os adeptos, médiuns e não-médiuns, que se dispõem a praticar a magia negra, rotulada de espiritismo, atraem para si as forças inferiores que se acham na atmosfera da Terra, ficando, desde logo, assistidos pelo astral inferior, similar em sentimentos e perversidades de tais criaturas.
Assim, escravizados tais praticantes a sentimentos materializados, animalizados e bestiais, embora com a humilhante forma de “caridade” e de “preces” evangélicas, tornam-se instrumentos dóceis das forças inferiores, que se lhes apresentam com nomes pomposos de santos ou de caboclos, embora nunca o tivessem sido. As criaturas que com eles tiverem relações, se os levarem a sério, ficam envolvidas pela sua assistência astral inferior e, assim, quando menos, mal assistidas e obsedadas por completo, mais tarde ou mais cedo, conforme a ligação dos seus pensamentos com tais refinados tratantes e os antros que dirigem.
Este princípio não falha, porque é originado da vontade, do livre-arbítrio e, portanto, da irradiação do pensamento de cada um, sujeita essa vontade à lei de atração que o ser humano pratica com os seus pensamentos.
Em tais condições, é certa a desgraça de uns e outros, e os que mais sofrem são os assistentes a tais sessões, que mantêm relações íntimas ou de simples interesse material com tais baiuqueiros.
O que aí fica entende-se com os praticantes menos perversos, mas fanáticos e ignorantes dos princípios que estamos explanando e praticando no Centro Redentor.
Todavia, quando os “pais de mesa”, presidentes de sessões, homens ou mulheres, são, como em geral acontece, indivíduos perversos e negocistas, que estão sempre à disposição de quem lhes pague mais para fazerem “o serviço”, “o trabalho”, “o canjerê”, “a feitiçaria”, grandes desgraças, como doenças, perturbações, falências materiais e morais, desmoronamento de lares, suicídios e assassinatos podem acontecer às criaturas visadas, se os pensamentos destas se casarem com os dos desafetos.
Para esse fim, os tais “pais de mesa” fazem sessões particulares com seus “guias”, os “santos”, “pretos” e “caboclos”, e nas evocações do “santo” e de toda a falange astral, indicam o nome das pessoas que devem ser cangadas, vencidas, desonradas e desgraçadas, mencionando o lugar, rua e número onde moram as suas vítimas.
Ao mesmo tempo, colocam sobre a mesa da evocação cabeças de cobra, sapos secos, chifres de carneiro, cristas de galo preto, couros e patas de bodes pretos, moedas de cobre, cascas de ovo de pata e de outras aves, terra de cemitério etc., e a estas e demais trapalhices denominam pontos, que depois colocam nas residências das pessoas alvejadas, suas vítimas, e nos caminhos mais frequentados por elas.
Assim, escolhem esses perigosos “pais de mesa” ou “presidentes de sessão”, o ponto destinado a A ou B, que o guia “protetor” ou “santo” do centrelho observa, para não se enganar e ficar de guarda à tal pessoa que deve ser cangada e roubada nos seus, haveres, na sua saúde e na honra.
Ao freguês que tais trabalhos encomenda, é dado também um ponto de sedução ou de fortuna e umas rezas para, em determinadas, horas, estar atento e ir, pouco a pouco, preparando o ambiente e a patifaria que deseja.
Todos, uns e outros, os que encomendam esses trabalhos e as criaturas visadas ficam, desde logo, sob a ação dos tais caboclos e “santos”, e assim, acompanhados por eles, acabam obsedados, ao menor descuido.
Desde o primeiro dia de trabalho, não há tréguas para a vítima escolhida; e de acordo com o seu viver íntimo, com os seus pensamentos, é ela atacada e, pouco a pouco, dominada pela assistência astral do “presidente de sessão”, até que se entrega o homem ou a mulher que mencionou ao patifão do antro ou se deixa roubar, com o pretexto de empréstimo etc., fazendo, enfim, o que o bandido que encomendou a sua canga deseja.
Vá tomando nota, caro leitor, porque bem precisa saber de todas essas torpezas, para não ser vítima delas.

Os abutres do Espiritismo

Os espíritos quedados na atmosfera da Terra que se acobertam com os nomes de Santo Antônio, São Jorge, Tiro-Aço, Lodoro, Presciliana e magna caterva, essa imundície, essa sujeira astral, atende, servilmente, nojentamente, aos seus evocadores, aos tais instrumentos criminosos mencionados nestas colunas, à disposição dos quais ficam para tudo quanto de perverso, devasso, corrupto, venal, de ruína, de desgraça, lhes for ordenado.
Por assim ser, o solicitante, o “irmão freguês” ou a “irmã freguesa” (assim é denominada a pessoa que tal cáfila procura) fica; desde logo, cangado, como fazendo parte dos instrumentos dessa canalha astral. Cangadas são todas as pessoas a quem se deseja roubar a honra, dinheiro e emprego, ou mesmo matar, como aconteceu com o grande Pinheiro Machado e outros menos considerados na política ou fora dela, como a senhora Índio do Brasil.
Assim, a mulher casada que tem ciúmes do marido e o confessa aos tais espíritas, fica, desde logo, por conta dos “caboclos”, “santas” ou “santos” inventados por eles, e o pobre marido, sem o saber, passa a ser acompanhado pelos patifes astrais, que o induzem à prática de todas as misérias, que só deixará de cometer se for possuidor de uma moral sã, de vontade fortemente educada para o bem e não tiver vícios.
Quando o marido visado é realmente cumpridor dos seus deveres e não pode ser cangado pelos “protetores” do centrelho, estes, que já têm prisioneira a esposa que os foi procurar, pedem-lhe um lenço, uma cueca, meia ou outra qualquer peça de roupa do marido, de uso junto à pele, para eles benzerem.
Essa infeliz esposa principia assim a fazer a sua desgraça conjugal, moral e material, porque passa a receber dos espíritos que assistem ao “presidente da sessão” intuições de vingança contra o marido e a ser por eles conduzida para os galanteios, o libidinosismo de qualquer indivíduo, sujo da alma e do corpo.
Apesar de haver sido honesta e viver somente para o seu lar, o marido e os filhos, passa a lembrar-se do seu tempo de solteira e a ter saudades do namorado com quem teve mais intimidade e que, por qualquer motivo, não se casou. Procura saber dele e, se chega a encontrá-lo, começa a fazer-lhe queixas do marido, dizendo que é uma infeliz no amor, que antes não se tivesse casado com ele, que há incompatibilidade de gênios, os temperamentos não combinam etc.
O homem a quem ela conta estas intimidades, que já está também por conta dos “protetores”, desde esse colóquio adredemente preparado, convida-a para um passeio, a fim de distrair-se, e desde esse dia passam a ser amantes.
Se se tratar de cangar um homem, os objetos preferidos são os acima citados, mas, em se tratando de mulher, tais objetos são uma calça, toalha higiênica, meias ou camisa. Essas peças ficam em poder do “Pai-de-Mesa” até a próxima sessão feita para tal fim, para que os “protetores” caboclos, “santos” e “santas” dessas arapucas tenham conhecimento de quem se trata.
Depois dessa apresentação de objetos aos patifes físicos e astrais, ficam as vítimas, homem ou mulher, no caminho da loucura, branda primeiramente, e depois furiosa, podendo chegar a praticar crimes, influenciados por esses bandidos astrais, os “pais de mesa” e “presidentes de sessão”, médiuns e magna caterva.
Estas “belezas morais” dão-se, em sua maioria, com pessoas da alta aristocracia, do comércio, da indústria e classes médias; e quando ainda tais mulheres e homens perseguidores, “fregueses” de tais centrelhos, conservam a máscara de honestos, no meio social em que vivem, mandam as suas criadas de mais confiança, quase sempre arrumadeiras ou lavadeiras, ou na falta destas uma colega inteiramente desavergonhada e prostituída, levar os objetos aos antros ou espeluncas, e dizer o que desejam que se faça com a pessoa visada.
Esta maneira de agir, de cangar, escravizar, obsedar, avassalar e prostituir seres humanos é a mais conhecida, a mais vulgar e a que mais freguesia possui na alta e média camadas sociais.
Para a prática de tais torpezas, os “irmãos fregueses” não fazem questão de dinheiro, dão tudo quanto lhes for exigido, contanto que os “caboclos e santos” satisfaçam os seus torpes desejos de vingança, ruína e sensualismo.
A magia negra que se pratica nos salões atapetados, porém, não exige aqueles objetos, contentando-se com o nome e residência das vítimas, para estas serem, desde logo, na primeira sessão, cangadas, dominadas e assim trabalhadas para o fim desejado.
Esse trabalho em tais antros tem o mesmo valor dos já mencionados, e aí a palavra cangar, é substituída por focalizar, e então os tais “presidentes” dizem assim: a mulher de A, a filha de B, a prima de C, ou a esposa de A, B ou C, ou, então, os negociantes tais e tais, estão focalizados. Focalizar, pois, é cangar, dominar, escravizar astralmente, para desonrar, prostituir, roubar ou matar.
Vá, caro leitor, tomando nota, e previna-se contra as “amiguinhas” que frequentam o seu lar na sua ausência, que podem ser as conselheiras indignas da esposa e filha inexperiente e as introdutoras das cartomantes e dos médiuns e presidentes de sessão em sua casa, levando para ela toda série de desgraças, morais e materiais.
Se quer viver em paz espiritual, não desampare o seu lar, zele por ele, dando-lhe todo o prestígio moral, e escorrace toda a peçonha das amiguinhas e comadres, escolhendo, com argúcia, as pessoas que o devem frequentar e merecer a sua estima, o trato fidalgo, sabendo que a fidalguia deve consistir nos dotes morais, e não nas linhagens hierárquicas, genealógicas, nos gestos e curvaturas estudados.

As aves de rapina do Espiritismo

É, caro leitor, como temos dito por estas colunas, uma tremenda miséria moral o que vêm praticando esses infelizes e perversos instrumentos da Magia negra, quase sempre disfarçada. Existem muitas criaturas bem intencionadas que não se entregam a atos menos dignos, mas inúmeras praticam o espiritismo mercenário, e estas, que são a maioria, envergonham e degradam a mais bela das doutrinas – o Espiritismo.
Essa magia negra, rotulada de espiritismo, para tratar de conquistas amorosas, descoberta de criminosos, cangamento de políticos e outras coisas que tais, é praticada no Brasil, onde conta com milhões de adeptos, na América do Norte, na França, em Portugal, na Espanha, na América Espanhola e aqui mesmo no Brasil. Na China, Japão e noutros países, é ela também praticada.
São suas vítimas todos os seres, mesmo os indiferentes à sua prática; e, por assim ser, é que a loucura está aumentando assustadoramente, por toda parte, a ela não escapando, religiosos e profanos. De todas as obsessões, as mais perigosas são a política, a sensual e a gozadora, que estão avassalando todos os meios sociais.
Conhecedores do perigo dessa torpe magia negra, garantimos ser ela a causa principal de todos os males de que sofre a humanidade ignorante da sua composição astral e física, e do que é como alma e corpo (Força e Matéria).
A prática da magia negra vem desde os primitivos tempos e foi se infiltrando nas numerosas seitas existentes. Neste ou naquele rito, estão resquícios da magia, da qual os mais velhacos têm tirado proventos morais ou materiais.
Mas serão sempre de nulo efeito os trabalhos da magia negra, quaisquer que sejam, ainda que os feiticeiros, canjeristas estejam de posse dos objetos íntimos já mencionados, quando a pessoa visada possui moral, sentimentos bons, tem a vida disciplinada, horas para tudo e vive como ensina o livro Racionalismo Cristão, obra básica da Doutrina que se pratica no Centro Redentor e suas filiais.
Vivendo como ali se ensina, podem todos os praticantes dessa torpeza e toda a súcia astral, lodoros, caboclos, “santos” e “santas” atirar-se contra a honra, haveres, empregos e a vida de quem quer que seja, podem lançar mão de todos os expedientes e trapalhices já mencionadas, porque nada conseguirão contra a pessoa visada, desde que esta não saia dos Princípios Racionais e Científicos explanados na obra acima referida.
Os efeitos da prática da perigosa e nojenta magia negra só atingem aos seres fracos, corruptos, venais, viciados no álcool, fumo e outros entorpecentes da alma e do corpo. Os próprios praticantes da magia negra são os que colhem todo mal que aos outros enviam com os seus pensamentos imorais ligados à caterva astral, pois vão, em virtude da lei de atração, atraindo toda a doença e desgraça moral ou física desejada a outrem, e é por isso que os “pais de mesa”, “presidentes de sessão”, médiuns de arapucas por ignorância chamadas espíritas, terminam na cegueira, na paralisia geral ou parcial, na obsessão, na pobreza monetária, e até leprosos.
Esclareça-se, caro leitor, e ficará sabendo que só será vítima de tal miséria moral o fraco, aquele que tem medo da corja astral e física, o supersticioso, o fanático das diversas seitas, os que se irritam ou arreliam por qualquer coisa, em casa ou fora dela, os que maldizem de tudo e de todos e intervêm na vida alheia, os gozadores que, como os suínos, vivem para a engorda, para a satisfação, uso e abuso de todos os prazeres da carne, não possuindo moral verdadeira, nem dela querendo ter a menor noção.
As mulheres ciumentas descambam para praticar o que condenam nos maridos, e acabam por prostituir-se, porque o ciúme é o maior sinal de fraqueza espiritual que pode dar qualquer criatura humana e dessa fraqueza derivam todos os vícios e males.
Da alta e média camadas sociais, provêm os recursos para o sustento de todos os patifões homens e mulheres – que praticam o espiritismo-negócio. São essas senhoras “piedosas” quem mais dão a ganhar a essa gente, dizendo-se, entretanto, muito religiosas...
Sem perceberem o perigo que as cerca, são exploradas, de todos os modos, e uma grande maioria acaba por entregar-se a essa prática nojenta, ou a acamaradar-se com seres que lhes passem a fazer a corte, empolgados pelos tais “protetores” das arapucas espíritas, a quem, em má hora, desceram a fazer qualquer pedido.
Ora, se tais mulheres, que querem passar por senhoras virtuosas, como muitas existem por toda parte, tivessem um pouco de senso, não desceriam a tais chiqueiros astrais e físicos, que pouco diferem dos das meretrizes ou das casas de encontros fortuitos, onde se vão nivelar com os boçalíssimos “pais de mesa” e médiuns torpíssimos, tornando-se desses antros fregueses habituais.
– Poderão os sociólogos, que se dizem psicólogos, resolver os magnos problemas sociais, se desconhecem a influência real que tais elementos exercem sobre o gênero humano?
Ninguém pode indicar o remédio para os males que avassalam a humanidade, sem estar em condições de esclarecê-la, devendo os estudiosos dispensar mais atenção às coisas do espírito, para não continuarem a viver na ignorância do que seja a composição do Universo e a de si mesmo.
Enquanto isso não fizerem, não teremos psiquiatras nem verdadeiros sociólogos, mas, apenas, homens possuidores de ilustração dada pelos compêndios, mas que enfermarão e deixarão enfermar toda a humanidade, por não saberem desintoxicá-la da profunda materialidade criada pela ciência e religiões materialistas, do que resulta a vida de gozos e prazeres desenfreados, aos que se entregam, e que Jesus veio combater, na sua época, e continua a ser combatida, hoje, onde quer que existam consciências bem formadas.

Pratiquemos o bem

Júlio Ribeiro, o grande filólogo brasileiro, romancista e polemista que tanto honrou as letras marejando o aço de sua pena com elegância e ironia, na sua admirável obra Cartas sertanejas, dizia: “. . . não seguimos a vereda, não temos o péssimo hábito dos ignorantes da Verdade, dos sábios, a título negativo”.
Como Júlio Ribeiro, que sempre nos considerou o seu melhor amigo, senão o único, hão de pensar todos os homens de bem, de amor ao trabalho e ao Brasil, que querem ser livres de vícios, preconceitos religiosos e sociais, para servirem de patrimônio moral da família e do país.
A vereda que seguem os ignorantes da Verdade, os sábios a título negativo e os pretensiosos espíritas, é falsa, por só verem os males, os defeitos nos outros, homens públicos ou não, sem indicarem um único remédio, sem nada esclarecerem de bom, de eficaz contra o triste estado de coisas que por toda parte se observa.
Os instrumentos da Doutrina Racionalista Cristã, que colocam a verdade acima de tudo, estando senhores dos porquês das coisas, ao mesmo tempo que apontam os males, quaisquer que eles sejam, mesmo os mais terríveis, como os produzidos pela prática do espiritismo sem base racional, método e disciplina, indicam a eficaz terapêutica psíquica e fisiológica, preventiva e curadora para todos eles.
Dando-vos, caro leitor, o conhecimento claro e completo da ação maléfica que sobre todos os seres humanos exercem as forças ocultas inferiores, provando-vos ser tal prática e tal gente o pior mal que no mundo existe, havemos indicado também remédio eficaz contra esse veneno moral e material que tantos danos tem causado e está causando a todos os ignorantes da Verdade, a todos os fracos de vontade mal educada, a todos os gozadores, e, portanto, a todos os seres animalizados com aparência de racionais e civilizados.
Em nossa publicação anterior, ficaram sabendo todos os nossos leitores como evitar os ditos grandes males e como curar os que por ignorância estão torturando a grande maioria dos seres humanos.
Além dessa terapêutica preventiva e curadora indicada, pode o leitor achar mais ampla explicação nos livros Pela Verdade e Ciência espírita, sendo que na obra Racionalismo Cristão, que prepara o homem para a luta, encontrará desvendado o segredo do êxito na vida dos seres, como se vence nas vidas física e moral, como se vencem os homens prepotentes, corruptos e escravocratas e como se afastam e vencem os espíritos obsessores – os tais “protetores”, caboclos e “santos” inventados e atraídos por essa súcia de malfeitores da alma e corpo para as torpezas.
Só o esclarecido pelas verdades contidas nas obras do Centro Redentor, e que pratica a Limpeza Psíquica disciplinadamente, estará ao abrigo dos botes desses malandros “pais-de-mesa” ou “presidentes de sessão” e de seus nojentos “protetores”.
Fora disso, por mais dinheiro ou posição social que a criatura possua, e até por isso mesmo, não está livre da focalização, do cangamento, bastando, para isso, que caia na antipatia de algum desses infelizes ou alguém os vá procurar para qualquer serviço de feitiçaria ou cangamento, trabalho que é sempre feito pelo astral inferior (espíritos quedados na atmosfera da Terra), donde provêm esses “protetores”, que muitas vezes são procurados e tomados para “guias” na vida dos seres, mas que, em vez disso, mais perturbações buscam, chegando mesmo a terríveis desgraças morais e materiais.

A magia negra e os “pais de serviço”

Denunciando, por estas colunas, os males, os perigos da magia negra, por muitos praticantes rotulada falsamente de espiritismo, ainda não fizemos referência a uma das suas modalidades, chamada serviço, que se pratica ao ar livre, em lugares diversos, hoje no campo A, amanhã no campo B, depois no C, tudo conforme a conveniência que houver e for reconhecida pelo “pai de serviço” que, em geral, é sempre um negro boçalíssimo, um velhaco nascido por cá, mas falando, por imitação grosseira e idiota, como os africanos.
Descrevendo hoje o serviço, diremos que a essa torpe maneira de atrair as forças ocultas obsessoras, concorre gente de todos os sexos, raças e posições sociais.
É uma promiscuidade que chega a causar engulhos nos seres humanos bem intencionados que lá vão por curiosidade, estudo ou coisa que o valha.
Esses desgraçados, patifes uns e infelizes outros, sabem que a polícia, quando quer cumprir os seus deveres, não os deixa trabalhar tranquilamente, e é por esse motivo que eles, os “pais de serviço”, não têm lugar certo para reunir a sua gente, os seus “filhos” e “filhas”, como denominados são os adeptos, os “fregueses” que os sustentam material e moralmente.
Assim mesmo, mudando de sítio para as suas reuniões, têm eles um pessoal destinado e adestrado para avisar o “pai”, quando parece que há mouro na costa, que a polícia os espreita.
Os fiscais ou vigias são denominados pelo “pai de serviço” de “filhos tranca-ruas”, e todos eles se acham armados para defender o serviço e especialmente o “pai” até à morte. As facas, punhais ou facões de que se servem esses vigias, denominam-se pontenas, e quando está tudo pronto para funcionar, pergunta o “pai de serviço”
– “Filhos tranca-ruas(!) conheceis o vosso dever e tendes as pontenas para a vossa defesa?
Ao que respondem os tais vigias:
– “Estamos pronto, Pai, e as pontenas bem afiadas. Podeis por isso trabaiá à vontade, porque nóis cá estemo no nosso posto”.
Após esta tranquilizadora resposta dos filhos tranca-ruas, entra o “pai-de-serviço” no meio de todos os fiéis (filhos), que formam uma grande roda, com às vezes mais de cem pessoas, e tira a prece, cujo estribilho é acompanhado por todos os presente. Finda a prece, o “pai de serviço” se concentra (porque é sempre um médium desenvolvido), e, segurando na palma de cada mão uma figa e uma figura de um manipanso qualquer, dá uns passos ou salto de sua invenção, pronuncia outra cantiga, cujo final os assistentes acompanham em coro. Com essa cantiga, esses saltos, esse bambolear de quadris, da barriga, do corpo continua a evocação dos seus guias que, em geral, em São Paulo, do norte ao sul, têm por chefe o Pai Jacó ou Pai Reviramundo; no Estado de Minas e Estado do Rio, além desses “pais”, têm também a Mãe-de-Ouro o Tiro-Aço e a Mãe Joana, esta já, segundo dizem, de grande força astral.
O “pai de serviço”, atuado pelo “pai santo” ou “astral”, chefe do serviço, começa então a atender a todos os pedidos ali feitos pelos filhos e filhas do seu “serviço”, os quais já pagaram, antecipadamente, as quantias exigidas por ele, conforme as posses materiais de cada pretendente na importância de cada pedido etc. Em tal posição e estado mediúnico, principia o “guia”, por intermédio do seu instrumento, a dizer o que deve agradar a cada filho, e assim prende os seus fregueses e a assistência, à tal patifaria.
Não há um dos filhos que não saia satisfeito, porque o “pai astral” tudo faz para que o “pai de serviço”, seu instrumento, cada vez mais se acredite e ganhe fama de forte, o mais valente dos “pais de serviço”, como explicaremos a seguir.

“Cangam”, furtam e matam

Em conformidade com o que explicamos linhas antes, dir-vos-emos, caro leitor, que o serviço tem por fim especial “cangar” a criatura A em benefício da B, cangamento este que vai até matar a pessoa visada, se tanto for preciso, no caso dela se recusar a dar dinheiro ou coisa que o valha à pessoa B que mandou “cangar”, dominar e perseguir astralmente. Em geral, são os amantes ou parentes seus que contratam com o “pai de serviço” o trabalho para matar, se a criatura visada não quiser ceder por bem e ficar “dura no cobre” como eles dizem.
Para tal fim, o “pai de serviço” prolonga as horas do “trabalho” até depois de meia-noite, se for necessário, para atrair o espírito da vítima que, ao dormir, é arrebatado para aquele covil de malfeitores físicos e astrais pelos guias protetores de tal monstro – o “pai de serviço”.
Os espíritos, durante o sono e a inércia do seu corpo, são facilmente atraídos a qualquer parte onde as forças ocultas inferiores, os seus terríveis obsessores, os tais “pais de serviço” e “pais astrais”, os queiram levar, desde que tais criaturas sejam ignorantes, fanáticas, religiosas, fracas de vontade e não saibam ou não possam resistir à influência de tais salteadores físicos e astrais.
A atração faz-se, do seguinte modo: no meio da roda de serviço, já descrito anteriormente, o “pai de serviço” risca umas figuras, uns desenhos grotescos, à sua maneira, que dizem ser o “mundo”, mas que denominam marimbá.
Conforme os arabescos riscados no solo, no centro da roda feita pelas criaturas ao serviço do “pai”, e como para essa gente cada “marimbá” tem o seu valor e é mais forte, mais fraco ou de mais pronto efeito um do que outro, desenham, rabiscam o que mais lhes deve calhar.
Têm eles:
1o) “O marimbá de cruz”, que é uma cruz com uma porção de arabescos cabalísticos em volta. Este favorece mais os “filhos” que pleiteiam casamentos ricos ou dinheiro.
2o) “O marimbá de boi”, que é uma figura de boi, com grandes cornos, rodeada de arabescos diversos, fingindo cobras, jiboias, onças ou outros animais grotescamente rabiscados. Este é o “marimbá” que deve facilitar a conquista de mulheres casadas ou homens para estas, ou solteiras que queiram casar.
3o) O “marimbá”, figura de homem “morto”, rodeado de sapos. Este serve para matar as pessoas que, já fortemente cangadas, não cederam à vontade do guia do “serviço”. Esses “marimbás” são ornamentados nas curvas dos seus arabescos por montes de pólvora, que os “pais de serviço” denominam fundanga, e por velas acesas.
Depois de assim estar bem carregado (preparado) o “marimbá”, é que o “pai de serviço”, dá começo ao seu “trabalho”, tendo à sua disposição um médium subalterno seu, dentro do “marimbá”, para receber os espíritos encarnados que ao “serviço” do “marimbá” foram atraídos a qualquer hora da noite em que o seu corpo esteja repousando.
Atuado o “pai de serviço”, começam as atrações dos espíritos encarnados que devem ser cangados e têm que atuar no médium auxiliar.
Após a atração e atuação do espírito da vítima no referido médium auxiliar, principia o guia-chefe do serviço atuando no seu médium, o “pai” do dito “serviço”, a dominar a vítima, a impor-lhe aquilo que dela quer a pessoa que a mandou cangar; e, para mais fazer valer o seu poder sobre a assistência em geral e seus serviçais, manda chegar fogo aos montes de pólvora e faz o médium auxiliar, atuado pelo espírito da vítima, passar e pular diversas vezes por cima do “marimbá”, em todas as direções, na ocasião em que se queima a pólvora.
Após esse queimar de pólvora, como castigo à vítima atraída, se essa ainda se mostra rebelde, é aplicado no estúpido médium uma sova de vara de Guiné, como se se estivesse a castigar o próprio espírito atuado nele.
E assim se explica a causa de muitas pessoas, pela manhã, que, em vez de se levantarem bem dispostas, alegres e bem-humoradas, o fazem denunciando na fisionomia mau-humor e irritação, e queixando-se de estar fatigadas, com o corpo doendo, como se tivessem levado uma surra. Em verdade, levaram essa surra, não diretamente no físico, mas no perispírito, corpo astral, e desde que a surra foi fluídica, não podia deixar de repercutir no físico.
É, pois, por esses meios que tais monstros cangam, dominam as criaturas ignorantes da verdade, desconhecedoras da sua composição astral e física, para delas obterem o que as filhas ou filhos, fregueses do antro, desejam, levando, por vezes, esse trabalho macumbeiro, cargueiro, meses e anos, embora o façam três ou quatro vezes por semana.
Durante o “serviço”, o “pai” e todos os “filhos” bebem aguardente com pólvora que tenha estado em infusão de raízes de Guiné, arruda e outras plantas, e cuja beberagem é por eles denominada “guia” e serve para fortificá-los para o trabalho.
Não há necessidade de muita meditação para perceber-se a razão de certas criaturas se deitarem com saúde e aparecerem de manhã mortas ou curtindo dores cruciantes, outras ficarem loucas, e umas tantas se entregarem à bebida, ao jogo e à prostituição, quando antes eram pessoas de relativo equilíbrio moral e material.

Ainda os exploradores do Espiritismo

Como deve ter observado, caro leitor, o fim destas publicações consiste em fazer luz na alma dos ignorantes, prevenindo-os dos perigos ocasionados pelos praticantes da magia negra, para os quais seria inútil escrever, por não pretenderem regenerar-se; ao contrário, ficam indignados com a nossa atitude, pois sentem-se bem na prática do mal e têm prazer em arruinar lares, ocasionar doenças graves e até mortes.
Por toda parte existem grupos denominados “Serviço do Pai Artur”, “Pai Reviramundo”, “Pai Mio”, “Pai Zerômo” (Jerônimo), “Mãe d’Água”, “Mãe Quitéria”, “Mãe do Ouro” e outros “pais” e “mães” de “Serviço”, havendo, porém, entre os “chefes de serviço”, tremendas rivalidades e lutas de se matarem os homens uns aos outros.
Cada “chefe de serviço” pretende ter mais força (assistência do astral inferior), do que o colega, seu rival, para assim mais fregueses obter e maior renda conseguir no seu negócio, como eles denominam a patifaria que fazem.
Entre os praticantes da magia negra, há conhecimento certo e seguro da existência de espíritos sagazes, cognominados de Pai fulano, sicrano ou beltrano, e da rivalidade que existe também entre eles, como chefes de falanges, conhecimento esse que lhes serve para evocarem este ou aquele “pai”, e pedir-lhe sua proteção para atacar A ou B, sem ser vencido pelo “serviço” dele. A luta, em tais casos, é titânica, feroz, entre esses “pais de serviço” e seus protetores astrais e físicos. Trabalham noites inteiras até à madrugada, e muitos dias durante o mês, para provar o maior valor, a maior força de cada um.
Essa força está na razão direta da vontade de cada “pai de serviço”, o que quer dizer que o que for forte de ânimo, voluntarioso, disposto a vencer, é quem maior assistência astral inferior, maior quantidade de espíritos obsessores atrai, e com ela triunfa sobre qualquer dos outros serviços dos colegas, por mais valentes e fanfarrões que se apresentem aos seus “fregueses” ou “filhos”.
Deste segredo, que decorre das leis naturais em que os similares se atraem, não tem conhecimento real essa malta infecta e vil, e as suas vitórias são por ela atribuídas ao “pai astral” A ou B, ao “santo” tal ou qual, porque esses desgraçados também têm a mania daqueles que se dizem espíritas, chamando-os de “santos guias”, quando, em verdade, no mal ou no bem, o resultado depende sempre do instrumento humano, que neste caso é o “pai de serviço”, o chefe dessas espeluncas.
Se o serviço A demora a cangar a sua vítima, é porque a criatura visada, na maioria dos casos, recorre ao serviço B para libertar-se do cangamento do serviço A; e o serviço B começa, então, quando procurado pelo visado, a lutar com o seu rival e a procurar proteger e amparar o novo freguês.
Essa proteção, que principia e acaba por obsessão, por escravização às forças inferiores, e é sempre uma desgraça, embora com feitio de defesa, de bem-fazer, mas sempre bem paga pelo freguês, é prestada como um favor especial a tais incautos, a tais ignorantes, e pratica-se assim:
Cada grupo ou “serviço” tem falanges diversas de espíritos perversos, chefiados pelo “pai astral”, que comanda os trabalhos do serviço, cada serviço põe em ação as suas forças para vencer as do adversário, e entre tais forças, como se fossem exércitos, colocam os seus protegidos e os seus cangados, para que o adversário não consiga o que deseja. Com isto constituem uma espécie de fortaleza em volta de sua vítima ou protegido, e por toda parte acompanham a criatura que os procurou para receber a sua proteção.
Nessa fortaleza em que colocam o freguês e as suas vítimas, escolhem sempre os espíritos mais fortes; e estes, quer na rua por onde passe o seu protegido ou perseguido, quer nos próprios “serviços”, travam combates astrais, como se encarnados estivessem.
Dessas lutas titânicas entre os do grupo A e os do grupo B, resulta a vitória de uma das falanges; e então o vencido retira-se, deixando a presa em poder do rival, e também quem protegia ou “cangava”, que passam a sofrer coisas horríveis e maldades tremendas.
O “pai de serviço” do grupo vencido lança mão de novos elementos que vão dar novos combates ao grupo vencedor, e se os instrumentos destes se descuidam, o vencedor será, por sua vez, vencido.
Se quiser, caro leitor, convencer-se destas verdades, assista às Sessões Públicas de Limpeza Psíquica do Centro Redentor e suas Filiais, e poderá julgar do que são capazes os espíritos obsessores, não só pelos reflexos desvendados pelos médiuns concentrados em correntes fluídicas, como pelo triste estado em que ali chegam as criaturas que tenham frequentado tais centrelhos.
Neste nosso convite a frequentar as Casas Racionalistas, não há segunda intenção, não só por ser-nos indiferente a quantidade ou posição social dos assistentes, como nessas Casas não há sacolas à porta, bandejas sobre a mesa ou passando pelos que a elas comparecem.
No Centro Redentor e suas Filiais há independência absoluta, há método e disciplina racionais que merecem ser observados, para cada um saber tratar de si, ter saúde do corpo e do espírito, para então poder tratar do Todo, que é a humanidade.
Há de haver sempre cretinos a quererem confundir a ação do Centro Redentor, do Astral Superior (porque cada um julga os outros por si), entretanto, e os que tentam infeccionar o ambiente criado pelo Racionalismo Cristão, acabarão por tornar-se vítimas das suas próprias maldades.
Ao cristão custa ter que dizer verdades tão duras, mas conhecedor que é das leis de causa e efeito, sabe perfeitamente que só a dor fará o criminoso voltar-se para dentro de si mesmo, e passar a enxergar os crimes que comete.

Evitem o convívio com macumbeiros

É tremendo o trabalho de tais “serviços”, e o vencedor é aquele que mais freguesia adquire entre as camadas sociais; mas tanto os protegidos como os perseguidos desses perigosíssimos antros ficam sempre colocados na mesma posição de vítimas das forças ocultas inferiores, que só pela brutalidade ou a animalidade que os domina, satisfazem os terríveis desejos de A ou as covardias de B, perseguidos do outro “pai-de-serviço”; e os resultados materiais que, por vezes, obtém do “pai-do-serviço” C, acabam não valendo nada, porque mais dia, menos dia, o vencedor será cangado por outro, que tudo lhe tirará, inclusive a própria vida física.
Quer isto dizer que tanto o que procura a defesa em tais antros, como o desgraçado que é perseguido, ficam escravos dos espíritos do astral inferior e até do torpissimo especulador “pai-do-serviço”, e acabam sempre na miséria moral e material, dentro de mais ou menos tempo.
Os coronéis politiqueiros, e certos políticos, também usam e abusam do “serviço” para a conquista de posições, ou consolidação das que já possuem.
Alguns, que são fazendeiros, chegam a instalar nas suas propriedades rurais os “pais-de-serviço”, para neles praticar, à vontade, as suas torpezas, pois sabendo que se trata da fazenda do Coronel Fulano ou do Doutor Cicrano, a polícia não os vai lá incomodar, tornando-se tais fazendeiros protetores incondicionais daqueles patifões.
Há políticos que também se fazem clientes de espertalhões que se intitulam professores de ocultismo, instalados no Rio, São Paulo e noutras grandes cidades, e pagam-lhes bem na esperança de que tais refinados malandros tornem realidade os seus desejos de vencer eleições, de conseguir a derrota ou a morte do rival A ou B, para eles, políticos, ficarem em destaque na zona, perante as comissões diretoras do partido.
Em certa ocasião, conseguimos obter uma relação de políticos clientes de “serviço” e dos “ocultistas”, que excedeu a nossa expectativa, pois encontramos, entre os relacionados, pessoas que tinham sido Governadores de Estado!
Além dessas formas de “serviço”, todas da prática da maldita magia negra, rotulada de espiritismo, fundangascangamentos, pontenas e molambos, há um detalhe ainda não mencionado, que se denomina fechar o corpo.
O pretendente ao “fecho do corpo” entra no aposento do “pai-de-serviço”, no campo ou nas cidades, e fica completamente nu, e nesse estado de porco pelado ou a pelar, é colocado num banco ou esteira; aí o “pai-de-serviço” lança mão de uma tinta qualquer, com que faz uma porção de arabescos no corpo do paciente, desde o pescoço até à ponta dos pés, de costas e de barriga para o ar. Assim preparado e rezado esse suíno humano, lança mão o “pai” de uma navalha de barba, e com ela vai cortando, embora levemente, todo o corpo do bruto, pelos arabescos que traçou a tinta.
Depois de bem consagrado o pobre coitado, passa-lhe uma untura de banha de lagarto ou de bode preto, e por cima um cozimento de arruda ou de Guiné, terminando com mais uma reza ao “santo Onofre”, “santa presciliana” ou “pai Jacó”, “lodoro” ou “reviramundo”, para guardarem o filho iniciado, cujo corpo fica assim fechado para todas as influências astrais, inclusive para a faca (pontena), bala, ou qualquer outro malefício, “coisa feita”, afazer etc.
For este “fecho”, paga o freguês o preço combinado pelo ponto fortuna, que na ocasião lhe é vendido pelo “pai-de-serviço”. Este “fecho de corpo” é mais um logro para o desgraçado que a tal patifaria se submete, visto que não há fecho possível de corpo que evite a influência dos espíritos inferiores ou facadas, tiros, venenos e outros malefícios a que o ser humano está sujeito, quando não se conhece a si próprio como Força e Matéria nem possui ânimo forte para vencer os males físicos e astrais.
A essas misérias se prestam mulheres de todas as classes, homens pergaminhados, capitalistas e pobres, que além de se sujeitarem a tal “sacrifício”, a trabalho tão nojento, ajoelham-se sobre grãos ele milho ou pedrinhas, para serem iniciados e merecerem o nome de filhos, e a proteção dos serviços.
De norte a sul do país, há canjeristas, catimbozistas, mandingueiros e feiticeiros a levar a desgraça às criaturas. De uma feita, o major Aurélio Nogueira, como delegado de polícia de São Luís, no Maranhão, teve que dar uma batida nesses antros, e qual não foi a sua surpresa ao encontrar num deles senhoras da mais alta sociedade de São Luís, e dentre elas uma deitada, completamente nua, para submeter-se ao sacrifício do “fecho do corpo”.
Ficou o delegado tão penalizado com a baixeza a que haviam descido aquela e outras esposas de homens respeitáveis, e elas tanto lhe imploraram que ocultasse os seus nomes, que resolveu relaxar a prisão de todos, macumbeiros e assistentes, naquele momento, para dar nova batida noutra ocasião, prendendo os exploradores da credulidade pública e processando-os, como consta do noticiário dos jornais de São Luís.
Ficamos, porém, possuindo os nomes das senhoras encontradas nesse antro. Existissem muitas autoridades da envergadura moral desse major Nogueira, e essa corja de malfeitores seria obrigada a ter uma profissão, e estaria, pelo trabalho honesto, depurando os seus espíritos.
Como vê, caro leitor, homens e senhoras de todos os estados sociais, até mesmo aristocratas, descem às macumbas, e cá fora fazem questão de passar por criaturas muito boazinhas, que vão às missas de luxo aos domingos, rezadas para a elite. E se a elas alguém tiver o atrevimento de falar no Espiritismo Racional e Científico, benzem-se três vezes, dizem credo em cruz, e com ênfase:
– Sou muito católica... não me meto em espiritismo . . .
Sim, o Espiritismo que se pratica no Centro Redentor e suas filiais, não pode satisfazer a tais criaturas que preferem viver enganadas, já que nas Casas Racionalistas teriam de ouvir duras verdades, mas verdades que curam a alma e reforçam os atributos morais, além de retemperar o caráter.
Só a Verdade fará livre o homem”, disse Jesus.
Concorramos, todos, para tornar livres os nossos semelhantes, pois isso fazendo, temos a certeza de estar construindo o sólido edifício da concórdia humana.

Ainda os perigos da magia negra

Motivos imperiosos, caro leitor, levaram-nos a interromper, por alguns dias, as nossas publicações, que sabemos estar a agradar a muitos e a desagradar a muitos mais, mas uns e outros podem ficar certos de que não ocupamos esta coluna para agradar ou desagradar, mas porque o dever a cumprir nos ordena dizer a verdade, e esta havemos de dizê-la sempre, enquanto neste degredo – o mundo Terra – formos presidiários da matéria (corpo, que incitamos e movimentamos, na ânsia de, dia a dia, mais conhecimentos adquirirmos e, de algum modo, podermos aliviar-nos da carga de faltas do passado, quer dizer, miséria e crimes cometidos noutras encarnações.
Todo ser humano tem faltas a resgatar; portanto, leitor amigo, se fazes parte daqueles a quem não agradam as nossas publicações, não te revoltes, porque mais te desgraças, espiritualmente falando; contém-te e lê-as com atenção, desapaixonadamente, e no foro íntimo da tua alma hás de dar-nos razão, principalmente quando chegares a reconhecer o fim das nossas duras verdades, que visam, apenas, dar ferroadas no teu subconsciente, para que o espírito desperte da letargia a que o atiraste e possa, ainda nesta encarnação, conhecer a grandeza da Força a influenciar sobre ti mesmo.
Então saberás que sendo, como és, uma partícula dessa Força, tens por dever libertar-te de crendices e buginganguices, para te tornares uma criatura esclarecida a pugnar pela prática somente de boas ações, e elevando a tua moral e purificando os teus sentimentos e pensamentos.
Se assim procederes, passarás a condenar a moral convencional e, livre de quaisquer peias, seguirás as pegadas de Jesus, amando o próximo e não querendo mal a quem quer que seja.
Se, porém, fores dos leitores que apreciam o nosso leal e franco modo de dizer as coisas, também não te deves limitar a, airosamente, comentar o que dizemos, mas procurar ver se algo aproveitaste, a fim de que amanhã sejas melhor operário do que ontem, na grandiosa obra da Inteligência Universal.
Todos precisamos melhorar os nossos sentimentos. Sem moral não pode haver saúde nem paz, e porque a moral vem faltando, é que religião, política, negócios e famílias se confundem, aumentando a crise de caráter que campeia atualmente.
Ponhamos entraves à derrocada, começando por zelar pela família dentro de princípios de sã e elevada moral, moral exemplificada e não convencional de aparência e utilitária.
É dela, dessa elevada moral que tratamos, pois, sem querer honras e glórias, mas sim servir à Causa do Bem. Assim fez Jesus, assim poderão fazer todos, desde que imponham a si mesmos ser bons, e não malvados.
Não guerreamos os homens de quaisquer seitas, mas a mentira; esta a atacaremos, sem dó nem piedade, por ser ela a arma traiçoeira que matou Jesus e continua fazendo vítimas em toda parte.
Do que temos dito, – ficou bem claro, – resultam sofrimentos horríveis para os perseguidores e os vencidos pelo “trabalho” ou “serviço”.
A cegueira, a paralisia parcial ou geral, a magreza extrema, as torturantes dores renais, do fígado, da cabeça e outras, são o menos que acontece a tais desgraçados que, por fraqueza e falta de moral, se deixam cangar.
A falência de comerciantes, a perda de empregos, a ruína de lares e da vida material, em geral, são os resultados mais terríveis visados pelos “serviços cangadores” e os seus fregueses. E tudo isso se realiza sem as vítimas saberem donde provêm tantas desgraças.
Uma ou outra pessoa, vitimada por esses infelizes obsessores astrais e físicos, sabe, realmente, a fonte de tantas torpezas, mas não conhece outro remédio para elas se não o de procurar outros rivais em “serviço”, na vã tentativa de desfazerem estes a ação dos seus “cangadores”.
Daí o grande mal, como ficou esclarecido na última publicação, quando bastaria, para impedir toda ação malévola dos perversos, que as pessoas visadas pelo “serviço” possuíssem moral relativa, vontade educada para o bem, firme e desenvolta para repelir o mal, para não o temer, sobretudo, e assim afastá-lo para bem longe, sem que os seus perseguidores, por maior que fosse o número, pudessem vencê-los em coisa alguma.
Mas os infelizes que outra defesa procuram não melhoram de situação nem podem melhorar, porque ficam colocados na mesma corrente da magia negra, tornam-se escravos do “pai-de-serviço”, a quem incumbiram de defendê-los do “trabalho” feito pelo outro “colega seu”. Se chegam a conjurar o mal produzido pelo serviço A, é por pouco tempo, já que o seu protetor, exercendo sobre eles domínio absoluto, principia a explorá-los materialmente; e ai dos protegidos que deixarem de satisfazer um pedido ou ordem do seu protetor, porque, desse dia em diante, ficam sendo perseguidos ferozmente, e acabam falindo, desgraçando-se material e moralmente.
A mesma situação, tem o freguês que tais cangas pede ao serviço; esse cangado fica sob o domínio absoluto do “pai-de-serviço”, o seu“protetor”, tornando-se uma presa de tais exploradores que dela fazem tudo quanto lhes apraz.
Há ainda outro sistema de praticar a magia negra, não menos perigoso, que no tempo da escravidão era a arma vingadora dos escravos contra os seus senhores ou quem lhes pertencia, quer como família, escravos ou empregados.
Esse sistema, que se pode, acertadamente, denominar de verdadeira feitiçaria, foi inventado e fortemente praticado pelos escravos africanos, práticos em todos os malefícios para prejudicarem os seus senhores e os parceiros ou amigos destes.
Esses, sim, são perigosíssimos, porque, além de “trabalhar” com forças astrais similares, grandemente inferiores e perversas, aplicam “mezinhas”, beberagens, pós e outros venenos na comida, nos líquidos e nos ingredientes para a cura de feridas.
Os africanos velhos tinham grande prática do efeito maléfico, mortífero e envenenador de certas ervas que aplicavam com certeza absoluta de cegar, aleijar e matar.
Eles ensinavam aos seus iniciados (adeptos), nunca em número superior a vinte, o efeito terrível de:
a) Semente de mamoninho bravo, socada e macerada em aguardente;
b) osso de defunto, cuja carne tenha caído de podre, que raspado e posto numa comida qualquer, produz moléstia incurável;
c) sapo verde do mato virgem, sufocado em fogo lento, dentro de uma panela nova, coberta por testo novo, que morre largando uma espuma branca, a qual, diluída em água, produz a hidropisia mortal;
d) folhas de jaborandaí, passadas e reduzidas a massa, que aplicadas aos sovacos, produzem suores e salivação;
e) raiz de Guiné, anhandívora, são contra-poderosíssimos para “coisa feita”.
Além disso, os “megangas” (feiticeiros) ensinavam uma infinidade de superstições medonhas umas e outras muito ridículas, que a seguir mencionaremos.
Essa maneira terrível de praticara magia negra está a cargo de descendentes de tais africanos caboclos e outros tipos repelentes, ultra-animalizados.
Convém, todavia, que o leitor medite um pouco sobre o que vimos escrevendo nesta coluna e, se isso fizer, chegará à conclusão do perigo que correm as famílias que tenham ao seu serviço doméstico criadas ou criados que descendam de tais feiticeiros ou frequentem o catimbó, canjerê, serviço, macumba, terreiro etc.
A cozinheira, copeira e arrumadeira que dali provenham são elementos perigosíssimos numa casa de família não esclarecida, e hoje o caro leitor fica sabendo a razão por que certos entes queridos que sempre gozaram saúde, de um momento para o outro passam a curtir dores cruciantes que não têm mais cura pela ciência oficial, desencarnando alguns da noite para o dia.
Conhece-te a ti mesmo, leitor amigo, desenvolve a tua força odica, disciplina a tua vida moral e material, como ensina o livro Racionalismo Cristão, pratica a Limpeza Psíquica todos os dias, e os elementos maus não te avassalarão nem te enfermarão.

A magia negra descrita pelo filólogo Júlio Ribeiro

Da magia negra praticada pelos africanos no tempo da escravidão, e hoje pelos seus descendentes e sórdidos traficantes do espiritismo, existe uma descrição completa, magistralmente feita pelo grande filólogo, romancista e polemista brasileiro, Júlio Ribeiro, na sua obra A carne.
Durante e após uma das costumeiras danças dos escravos numa das fazendas paulistas de então, feita a carpa geral como folgança dada aos escravos pelo seu senhor, o Coronel R, assim descreve o grande Júlio Ribeiro uma iniciação feita pelo feiticeiro-mor Joaquim Cabinda, escravo, octogenário, inútil ao trabalho da dita fazenda:

Enquanto se dançava no terreiro, Joaquim Cabinda estava sozinho sentado em um cepo ao pé de um fogo de lenha de peroba, no paiol velho abandonado que, a rogo seu, lhe fora concedido para morada.
Era horroroso este preto: calvo, beiçudo, maxilares enormes, com as escleróticas amarelas raiadas de laivos sanguíneos a destacarem-se na pele muito preta.
Curvado pela idade, tardo, trôpega, quando se erguia envolto na sua coberta de lã parda, dava alguns passos, semelhava uma hiena fusca vagarosa, covarde, feroz, repelente. Tinha as mãos secas aduncas; os dedos dos pés reviravam-se-lhe para dentro, desunhados, medonhos.
O paiol velho formava uma vasta quadra de telha vã, de chão de terra, esburacado. A um canto, um chalo paus roliços, com uma esteira, um travesseiro negro e lustroso, uma traparia imunda: era a cama do africano.
Par baixo do chalo, no desbão escuro, punha uma nota branca, um urinol velho de louça ordinária, desbeiçado, com um arquipélago de incrustações úricas no fundo, muito fétido, nauseabundo.
Junto do chato, uma caixa de pinho, cuja fechadura nova, envernizada, destacava-se, muito lustrosa, na madeira carunchada, enegrecida pela fumaça.
Em outro canto fronteiro ao chato, sobre uma mesa coxa, um oratório vetusto de gonzos enferrujados, gastos, roído dos ratos em vários lugares, muito ensebado.
Pelas paredes, saquinhos de boca amarrada, samburás, porungas de pescoço, guampas de boi, cartolas antiquissimas, sobrecasacas arcaicas de três pontas na lapela, do tempo do rei. Por todo o chão, abóboras, pepinos maduros, espigas de milho com casca, cabos e instrumentos de lavoura, cepos de madeira, cascas de ovos, talos de couve, montes de cisco.
A porta estava cerrada: abriu-se e entrou uma negra, ainda moça, magra, baixinha, de olhos fundos, olhar febril (era médium), vestida de cores multa espantadas, saia amarela, casaco vermelho.
Tomou a bênção a Joaquim Cabinda, e foi sentar-se, em silêncio, junto ao fogo, por ser inverno. Um a um, vieram vindo outros pretos e pretas. Entravam, davam louvado ao velho e, silenciosas, acomodavam-se sobre os cepos ao pé do fogo, ao todo dez. Quando completo esse número, Joaquim Cabinda disse:
– “Fêssa pote” (fecha a porta).
A negra, que primeiro chegara, levantou-se, cumpriu a ordem e voltou a sentar-se em seu lugar.
Reinou silêncio por largo espaço. Fora, ouvia-se a coro retumbando na noite: “Eh! pomba, eh! – estribilho de cantiga dos que dançavam no terreiro, a qual era assim:
Serena pomba, serena;
Não cansa de serená;
O sereno desta pomba,
Lumeia que nem metá!
.......................
Eh! pomba! eh!
......................
Joaquim Cabinda acendia um cachimbo de longo canudo e fumava, tranqüilo, sem parecer dar fé das circunstantes; cerca de meia hora levou absorto, com os olhos cerrados, meditando, cochilando, a puxar fumaças, morosamente, preguiçosamente.
Quando se consumiu o carrego do cachimbo, sacudiu as cinzas, bateu-o bem, cuidadosamente, soprou o canudo e encostou-o à parede.
Ergueu-se lento, titubeante, monstruoso, caminhou para o oratório; chegou, abriu-lhe as folhas das portas, de par em par, tirou fora duas velas de cera que estavam dentro em castiçais de latão, riscou fósforos, acendeu-as, iluminando o interior do nicho revestido de papel de prata, moreado.
Dois eram os divos desse mesquinho e sórdido larário: um São Miguel, de gesso, cambuto, retaco, muito feio, muito pintado de escretos de moscas; e um manipanso tecido inteirinho de cordas finíssimas de embira, pavoroso mas admirável pelos detalhes anatômicos, estupendo como obra de paciência.
Os negros erguem-se todos, reverentes.
– Zeromo - disse Joaquim Cabinda -, ussê pensô bê nu quê ussê vá fazê, lapássi?
– Pensó, rneganda. (Pensei, Mestre).
– In tonsi, ussê qué mêmo si rissani rimanari ri San Miqué rizáma? (Então, você quer mesmo alistar-se na irmandade de São Miguel das Almas? ).
– Qué, meganga, (Quero, Mestre).
Que era muito bom, explicou Cabinda, na sua meia, língua, pertencer um preto à irmandade de São Miguel das Almas, mas que também era perigoso; que quem não tinha peito não tomava mandinga; que branco queria, por força, saber o segredo dos irmãos de São Miguel, e que para isso surrava o preto, mas que o preto que revelava o segredo de São Miguel, morria sem se saber de quê. Fez o neófito beijar os pés de São Miguel, fê-lo beijar os cornos de satanás a eles sotopostos, fê-lo beijar as partes genitais do manipanso; ditou-lhe juramentos solenes; cominou-lhe penas terríveis, no caso de infração.
Recebeu dele dinheiro, trinta mil réis, seis notas de cinco mil réis, que estavam no bolso da calça, muito enleadas em um lento de chita, muito sujo. Passou à parte doutrinária, entrou a iniciá-lo na arte terrível dos feitiços e dos contras, a dar-lhe meios de matar e curar.
Ensinou-lhe muitos efeitos terríveis de diversas raízes, folhas, cabeças de cobras, sapo seco, pós, raspagens, líquidos preparados etc.
Ensinou mais uma infinidade de superstições, medonhas umas, outras muito ridículas; que a mão ressequida de uma criancinha morta sem batismo é um talismã precioso para conciliar o amor; que uma lasca de pedra de ara, furtada a uma igreja, fecha o corpo, tornando-o invulnerável a tiros de arma de fogo, a pontaços de arma branca; que café coado com água de banho por fralda de camisa de mulher ou por fundilho de ceroula do homem, sem lavar, capta simpatia, amansa gênio bravo; que a corda do enforcado faz ganhar dinheiro no jogo, que uma figa da raiz de arruda, arrancada em sexta-feira maior, é remédio soberano de quebranto, de mau olhado; que para inutilizar um mestre feiticeiro, para tirar-lhe o poder, é preciso surrá-lo com uma vara de fumo e quebrar-lhe na cabeça três ovos chocos.
Passou a curar o neófito, a fechar-lhe o corpo, a anestesiá-lo para não sentir castigos físicos; mandou que se despisse, que se pusesse de quatro pés, como uma besta. Murmurando palavras inconexas, frases de engrimanço, untou-o com uma pomada rançosa que tirou de uma latinha muito oxidada, borrifou-o com água de uma porunga que desprendeu da parede. Disse-lhe que era preciso repetir a operação em mais sextas-feiras, para que o encanto ficasse completo e o corpo insensível de uma vez.”

Pelo que estamos transcrevendo de A carne, pode o leitor avaliar o perigo da prática da magia negra, hoje difundida por toda parte e zelosamente cultivada não só nas fazendas, como também nos palácios das grandes e pequenas cidades.

Ainda a magia negra descrita por Júlio Ribeiro

Em continuação ao que dissemos através destas colunas, transcrevemos da obra de Júlio Ribeiro, A carne, o que se vai ler:
Para provar, com fatos, o seu poder, para demonstrar a eficácia dos seus sortilégios, chamou a preta magra, a primeira que viera (médium).
Acudiu ela, aproximando-se, ligeira, muito contente.
Passou-se uma cena estranha.
Joaquim Cabinda tirou do oratório uma agulha de coser sacos, comprida, acerada, e tomando o braço esquerdo da preta, atravessou-o de parte a parte, em vários lugares, por várias vezes, sem que ressumasse um pingo de sangue; a paciente olhava, curiosa, para o braço, sem dar a mínima mostra de dor.
Joaquim Cabinda, largou a agulha, afastou-se um pouco, baixou-se, fitou-a de modo particular por sob a pálpebra com a pupila brilhante, fixa como a de um réptil.
A rapariga soltou um grande grito e levou as mãos ao peito.
- A bola! A bola! Sufoco! - exclamou.
E caiu desamparada, com os olhos esbugalhados, com a boca torta, com os membros contorcidos por convulsões tetânicas.
Estenderam-se-lhe os braços; os punhos viraram-se para fora; os dedos fecharam-se, penetrando quase as unhas nas palmas das mãos; a língua estava negra e pendente, betada, aqui e ali, por fios de baba escumosa.
E revolvia no solo, aos saltos, como uma cobra cortada aos pedaços.
De súbito, largou um berro entrecortado, gutural, rouco, que nada tinha de humano. Deu um estremeção, curvou-se para trás, assumiu a forma de um bodoque retesado, quedou-se imóvel, dura, firme, em uma posição impossível; por uma parte tinha o alto da cabeça apoiado ao solo, e, por outra, os dois pés que assentavam em cheio, um pouco separados; ao todo, três pontos de apoio.
Os punhos continuavam cerrados e os braços tesos, ao longo do corpo. A rigidez era cadavérica, mais ainda, marmórea, metálica.
Joaquim Cabinda sorria-lhe, medonhamente.
Com uma agilidade que desmentia o seu vagar, o seu tolhimento costumeiro e de que ninguém o teria julgado capaz, trepou, deu um salto sobre essa esquisita ponte humana.
Com os olhos reluzentes, com o clarão do fogo a refletir-se-lhe na calva negra polida, mostrando os dentes amarelos em esgares diabólicos, ele pulava, tripudiava sobre o estômago, sobre o ventre, sobre o púbis da convulsionada.
Ela não se abalava, não se mexia sob o impulso dos pés, sob a ação do peso do monstro; semelhava uma ponte de arco, feita de cantaria.
Joaquim Cabinda desceu, foi a um canto buscar um cabo de picareta e com ele entrou a bater-lhe duro no peito, no ventre.
Os golpes sucediam-se, crebros, com um som baço, abafado, como se fossem dados em um saco de trapos.
De súbito a vítima desinteiriçou-se, recobrou a moleza vital, recaiu no solo pesadamente, em atitude humana.
Inundavam-lhe o rosto grossas camarinhas de suor.
Os assistentes estavam aterrados!
O tétrico hierofante desses horrendos mistérios tinha apagado, rapidamente, as velas, tinha fechado o oratório, estava de novo silencioso, sentado em um cepo, atiçando o fogo.
A rapariga dormia, profundamente, respirando alto em estertores.
Fora, o samba continuava; ouvia-se o cutucar dos atabaques, e o estrupido surdo dos pés; sonoro, melancólico, plangente repercutia o estribilho.
Eh! pomba! eh!

Assim termina Júlio Ribeiro a real e magistral descrição do feiticeiro, da sua casa, do interior, da sua maneira de iniciar adeptos, de os tornar seus auxiliares, seus escravos e cúmplices em todos os envenenamentos, em todas as torpezas astrais e materiais.

Sejamos esclarecidos

Foi a prática da magia negra presenciada por mim, quer em companhia de Júlio Ribeiro ou sozinho quando, como comissário e exportador de café, percorria as principais fazendas de São Paulo e quando caçava no sertão paulista ou goiano até às divisas de Mato Grosso, inclusive no Triângulo Mineiro, desde as margens do Tietê, Mogi-Guaçu, Rio Pardo, Rio Grande (Alto Paraná) até o Araguaia.
Por toda parte encontrei hediondos feiticeiros, e se terríveis eram os seus trabalhos, inúmeras eram as suas vítimas, como o são hoje, sem que dos efeitos horríveis, desesperadores, de tais venenos, aplicados por eles, diretamente, e por intermédio dos adeptos, “membros da irmandade”, fosse conhecida a sua origem, visto que o adepto, o iniciado, o “filho”, deixava-se matar pelos seus senhores ou os parentes das suas vítimas, mas absolutamente não denunciava o chefe, o “pai Meganga”, nem o nome dos venenos aplicados por ele, como tive, muitas vezes, oportunidade de presenciar.
Depois das torpes práticas da magia negra já descritas nestas colunas, entram na mesma linha as tais cartomantes e “videntes” do Brasil, Portugal e França, sendo que na tão apregoada “cidade da luz” – Paris – todas as patifarias se praticam com a mesma desenvoltura das grandes e pequenas cidades do Brasil e da América Espanhola.
Essas cartomantes, ditas volantes, são, em geral, médiuns videntes e auditivos completamente avassalados, e quem as procura e com elas trata, fica entregue às forças inferiores (astral inferior), sujeito à mesma quantidade de força maléfica, como se tratasse com os antros da magia negra.
Têm essas criaturas grande clientela para arranjar vidas e tratar de desordens domésticas, provindas de avassalamentos dos lares e da obsessão das pessoas que os constituem.
Cegos propositais ou não, são os tais fregueses dessas repugnantes criaturas, que nem observam que, se tal gente e os espíritos que os assistem pudessem dar fortuna e paz aos lares, não viveriam elas próprias na pobreza, a exercer a profissão criminosa de atrair espíritos para desgraçar criaturas e lares.
Com os conhecimentos que vem proporcionando o Centro Redentor, só podem permanecer na prática dessas misérias, dessas verdadeiras patifarias, os seres despidos de honra e vergonha, sem caráter, por aprazer-lhes rastejar no lodaçal nauseabundo da imoralidade, da corrupção, e se sentirem bem com o bafejo fluídico dos espíritos quedados na atmosfera da Terra, com idênticos desejos e vícios dos seres humanos que os atraem.
Quem desce a um antro da magia negra, seja em casa rica ou espelunca, passa a ficar corrompido do corpo e da alma, e mais dia, menos dia, será uma criatura avassalada.
Leis são leis. Elas são naturais e imutáveis, e na sua prática o que regula é a vontade e o pensamento. Ora, desde que a criatura, por ignorância ou não, delinque, tem ela, e só ela, de reparar o mal feito a si ou aos outros. Tudo o que se faz grava-se na aura dos seres como débitos espirituais que eles terão de resgatar nas sucessivas encarnações.
Vemos criaturas que nos parecem não merecer passar pelo que estão passando, mas se as submetermos à apreciação da razão esclarecida, perante a lei da reencarnação, facilmente concluiremos que elas estão apenas se purgando de males praticados noutras existências.
Convém, caro leitor, ter muita cautela com a melosidade dos espíritas evangelistas, que tudo levam à conta de provação e não fazem o menor esforço para uma melhoria material e moral.
Estes, como os canjeristas, são criaturas perigosas em qualquer lar.
O Espiritismo Racional e Científico Cristão explanando princípios doutrinários, visa não ferir sentimentos religiosos de crentes de qualquer seita, mas sim fazer luz na alma de todos para que cada um chegue à convicção de que em si mesmo residem o bem e o mal, e que é dever do ser humano desenvolver só as virtudes, deixando ofuscado o mal.
A desenvoltura deste é que nos leva a todas as ruínas morais e materiais.
Compreenda-se a Vida criadora de tudo tal qual é, e teremos a felicidade de senti-la em nós mesmos, sempre que estivermos movidos pelo desejo de aperfeiçoamento moral, criando um lar honrado, zelando pela família, fundando uma sociedade dotada de bons sentimentos e melhores costumes.

É impossível dar o que não se tem

Todos os espíritas, médiuns ou não, têm por dever instruir-se, dia a dia, sobre os porquês do Espiritismo, para chegarem à conclusão de que praticar a Doutrina Espírita não é desenvolver a mediunidade a torto e a direito, para dar receitinhas em qualquer lugar, nem invocar espíritos para tratar de coisas materiais e chegarem até à prática de monstruosidades.
Por esse caminho, se não tivesse aparecido o Centro Redentor para pôr termo à desenfreada desenvoltura de médiuns, verdadeiros loucos alguns e obsedados todos, seria o mundo, dentro de pouco tempo, um verdadeiro pandemônio, ninguém mais se entenderia, e todos os seres acabariam anormais.
Felizmente, pude despertar a tempo de cumprir a minha missão na Terra, auxiliado pelo meu querido companheiro Luiz Alves Thomaz, e desde o momento em que constatei a existência da vida fora da matéria, passei ao trabalho da pesquisa, estudando, a fundo, a Força Criadora de tudo, que sentia em mim mesmo e me intuía para a prática do verdadeiro espiritismo (que é científico e não religioso), pregado por Jesus na sua época e que os homens deturparam deliberadamente.
Jamais abandonarei o campo da luta enquanto permanecer neste alambique depurador de almas, e bem sei que muitos se sentem feridos com as duras verdades que não posso calar e afastam-se do Centro Redentor para juntar-se a outros infelizes que nos centrelhos e baiucas dirigidos pelo astral inferior se supõem grandes senhores e conhecedores do espiritismo, e invocam seus pretos Lodoros, Urubatãs e magna caterva astral para ver se me conseguem cangar, avassalar e aparceirar com eles para a prática de todos os crimes, em nome de Jesus, e da tal “caridade” humilhante, a maior das perversidades para com os infelizes ignorantes do que são a alma e o corpo.
Pela imprensa tenho procurado esclarecer a todos os papas do espiritismo, chamando até a contas os tidos como chefes, sendo-lhes demonstrados todos os seus erros que redundam em crimes, por estarem fabricando loucos por toda parte e, em conseqüência, originando desgraças morais e materiais, mas nenhum quis abandonar o seu pedestal de intrujice.
Estão obsedados de todo uns e têm desencarnado desastrosamente outros, ficando cegos e paralíticos muitos.
Alguns têm a certeza do mal que praticam, mas cultivam a sua árvore de modo a que ela continue a proliferar em frutos que nada mais são do que grandes venenos e males para eles próprios e para os desgraçados que os procuram, pensando aliviar os seus sofrimentos ou endireitar as suas vidas tortas pelo mau uso do livre-arbítrio de cada um, e só remediáveis pelo bom uso que de tal livre-arbítrio fizerem.
Um bom conselho valerá muito, mas cada ser tem que responder pelo que fizer e não poderá deixar de por si organizar a sua vida; os de fora poderão ajudá-lo a vencer, se possuírem valor moral e material. Não se pode dar o que se não possui. Logo, quem procura tais “espíritas” para arranjar a vida, mais se arruína.
A vaidade dos papas caricatos do espiritismo cega-os, e não os deixa ver com clareza: apregoam-se “missionários  , que o são de fancaria, e não pensam por si nem dão trato ao raciocínio, limitando-se a receber supostas ordens do “espaço”, “mensagens do além”, e os seus “guias protetores” dizem-lhes, vaidosamente, que têm tido conferências com Sócrates, São Paulo, São Pedro etc., nos templos, razão por que às vezes não os podem atender de pronto e dão-lhes a conhecer o teor das conferências, passam-no como coisa “sagrada”, o supra-sumo vindo do “espaço” para os órgãos espíritas e os crentes, todos basbaques, doentes da mente e do físico, recebem a lição como manjar vindo do céu . . . e que não passa, na realidade, de brincadeira de espíritos zombeteiros quedados na atmosfera da Terra, que foram boêmios quando encarnados.
Pobres infelizes! Não vêem o ridículo em que caem, mas tudo lhes há de custar caro, quer aqui quer no espaço, onde serão juízes de si mesmos e terão tremenda vergonha dos ridículos papéis que representaram.
Para os observadores imparciais já não passa desapercebido o estado físico e mental desses espíritas, pois não se encontra um médium bíblico que possua verdadeira saúde de corpo e da alma. São todos enfermos, e é claro que enfermos não podem dar saúde aos outros e, muito menos, explanarem a Verdade.
Para falar-se em nome de Jesus, é preciso ter saúde do corpo e da alma. Teimar no erro é ser criminoso proposital.
Jesus que, como homem, estava sujeito às leis do mundo físico, às naturais intempéries, algumas vezes enfermou e, em uma delas, foi hóspede de Nicodemos, ficando numa das suas fazendas cerca de sessenta dias, para restabelecer-se, só voltando a prelecionar ao povo quando forte do corpo e desanuviada a alma dos dissabores e infâmias assacadas contra a sua pessoa pelos sacerdotes fariseus.
Deu-nos, pois, o exemplo de que com o espírito torturado pela maldade humana e abalado o físico, não se podem produzir obras boas, dizer a Verdade, de modo a que ela cale fundo na alma dos ouvintes.
Sejamos verdadeiros discípulos de Jesus, e jamais mintamos em seu nome!
Honremo-lo praticando sempre o Bem, para termos saúde e paz de espírito, a fim de podermos reparti-las com os que sofrem moral e fisicamente.

A Força Astral

Conhecido o mal, os terríveis efeitos produzidos pela prática do baixo espiritismo e suas variantes, desde o serviço em campo aberto, do Canjerê, Candomblé, Feitiçaria dos Africanos, até às cartomantes profissionais do ocultismo, e ao “serviço” praticado por altos políticos, claro ficou nos escritos anteriores que essa prática (a atuação dos espíritos inferiores e a confabulação com eles), é a causa dos grandes males de que sofre a maioria dos seres humanos, desde a ruína dos lares à paralisia, cegueira, loucura e falências comerciais, é nosso dever indicar o remédio preventivo e curador para esses males terríveis.
Fomos claríssimos na explanação das misérias produzidas pelas forças ocultas que imperam e guiam esses antros que se denominam Centros ou Grupos espíritas, serviços, feitiçarias etc., para assim todos ficarem sabendo que nada de novo existe na Terra e quais os “porquês”, a causa dos males e dos grandes sofrimentos morais e físicos por que passa o gênero humano, desde os eruditos aos analfabetos.
Assim procedendo, cumprimos os Princípios Racionalistas Cristãos, que afirmam e provam “que não se podem prevenir nem curar os males da humanidade, sem lhe falar ou escrever claramente”.
Concluída, pois, a primeira parte da explanação da Verdade sobre os males que tais práticas, tais evocações de espíritos, tais procuras de arranjos de vida produzem, vamos agora tratar dos remédios para esses males.
Tudo quanto existe no mundo, que se vê, se apalpa, se olfatiza (e também se sente, sem se ver, se sonha e se vê com os olhos da alma), tem uma origem, uma causa inteligente, que é a Força, primeiro elemento componente do Universo.
Essa Força, denominada pelo vulgo Deus e pelos esclarecidos Grande Foco, é a Vida Inteligente Universal, de que o ser humano é uma partícula em depuração neste planeta em evolução, e assim em ascensão para essa fonte, para essa única origem de tudo.
Ela se faz sentir em todos os corpos e em toda parte, neste e nos outros planetas, pelos raios fluídicos que envolvem o Universo, agindo sobre as plantas e seres dos reinos da natureza, os quais muitos não vêem nem conhecem, mas cujos efeitos sentem nos seus corpos físico, astral e mental em todo o seu “eu”. De acordo com esses raios sonoros e harmônicos, que são naturais e imutáveis, é que todos os seres vibram, pensam e vivem moral e materialmente.
Nesse viver reside o segredo do bem e do mal que beneficia ou tortura todos os seres, por nele imperar a lei de atração que a criatura pratica com os seus pensamentos, vibrações do seu próprio espírito, ao serviço da sua vontade.
De acordo, pois, com a educação da vontade dos seres, assim eles irradiam os pensamentos que (pondo em prática a lei de atração) atraem para si e para o seu meio as Forças, que são espíritos inferiores ou superiores.

Espíritos bons e maus

É, como já dissemos, na vontade de cada ser humano que reside a causa de todo bem ou de todo mal de que ele é acometido; portanto, é a vontade irradiadora de pensamentos (estes ao serviço daquela), a causa única e o segredo de todo êxito ou fracasso na vida.
E é no espírito ou alma que possuímos o remédio para todos os males físicos ou morais, e não em A ou B. Carecendo os males do corpo de medicamentos e alimentos racionais adequados à reconstrução celular deste ou daquele órgão, podem eles ser prescritos por médicos competentes, mas nenhum efeito surtirão se o enfermo não estiver em boas condições psíquicas.
Se se achar obsedado, avassalado, se seu espírito não reage, não dá calor, não dá vida ao próprio corpo, apesar de ser este obra sua, pois, foi ele quem o modelou com matéria ambiente dos pais, e cósmica, trazida do mundo que lhe é próprio.
Os espíritos da atmosfera da Terra que assistem a “curandeiros” etc., nada curam, porque nada possuem de bom para poder curar. Seu trabalho consiste em dominar a falange astral assistente do doente, passando um espírito sagaz, que foi médico, quando encarnado, a espargir fluidos sobre o enfermo. Em seguida, ele receita qualquer droga, por intermédio do médium que o recebe, e devido à confiança com que o enfermo ingere a tisana, dão-se as melhoras, mas apenas aparentemente, pois dentro de pouco tempo tal enfermo fica pior, até sujeito a desencarnar bruscamente, ou a ficar louco furioso.
A razão disso é simples: os espíritos que assistiam antes ao enfermo, e os pertencentes à nova falange que os dominou, travam combates dentro ou na porta da casa do doente, como fazem os encarnados arruaceiros da pior espécie, e desse conflito astral resulta ser criado um ambiente, uma atmosfera pesada para o doente, e não só para ele, como para todos da família.
Esses espíritos, vivendo na atmosfera da Terra envolvidos no fluido que lhes é próprio e no deste planeta, que é pesado, denso, enfermiço, devido às exalações de todos os corpos e, principalmente, dos já em decomposição, que podem dar a quem assistirem, senão doenças e perturbações?
Para que se possam fazer curas no Espiritismo, é necessário que os dirigentes dos Centros possuam saúde física e mental e façam jus a assistência dos espíritos já livres deste mundo, que só podem a ele descerem correntes fluídicas devidamente organizadas, constituídas por criaturas de relativa moral, pelo menos, e então, pela ação irradiativa desses seres, é que se produz a lei de atração, descendo o Astral Superior à corrente, onde fica apoiado, para espargir seus fluidos beneficiadores trazidos dos seus mundos de luz, e com esta luz desbravar as trevas da ignorância e arrebatar os espíritos avassaladores dos encarnados enfermos.
Afastados esses espíritos malfeitores, e fortificados os dos encarnados, passam estes a poder raciocinar com mais acerto, dado o clarividenciamento deixado pelos Espíritos de Luz, e assim, senhores da situação real, dispõem-se, como espíritos encarnados, a dar melhor orientação espiritual e material ao seu viver terreno, irradiando todos os dias, a horas certas, ás Esferas Superiores, fazendo a Limpeza Psíquica (da alma) com a mesma regularidade com que fazem a do corpo, para poderem estar em qualquer parte sem incomodar a ninguém com o cheiro exalado por falta de higiene. Assim, procedendo disciplinar e metodicamente, dificilmente enfermará.
O ser humano é um instrumento irradiador de força astral inteligente, a qual, se é acionada só para o bem, atrai para si forças idênticas que o fortificam e auxiliam a caminhar com segurança e a bem cumprir o seu dever durante a sua estada neste planeta depurador.
Quem for forte de alma e não quiser para os outros o que não deseja para si, tiver a vontade educada para enfrentar a luta pela vida, para suportar, com valor racional e resignadamente, os sofrimentos derivados dessa luta, que é destinada a todos os seres racionais, não pode, se tal disciplina praticar, ser atingido pelas forças astrais inferiores, nem pelas desgraçadas e malvadas criaturas que a estas servem de instrumentos.
Os seres esclarecidos, possuidores de vontade forte, não sofrerão os efeitos terríveis dos depravados cangadores, feiticeiros e magna caterva.
De acordo com a lei de atração, os similares, os que pensam com elevação moral e são ponderados, moderados, justos e honrados, atraem outros seres de idênticos sentimentos e repelem, afastam para longe de si os patifes astrais e físicos, que voltarão aos seus antros para a prática das suas misérias. Estas, entretanto, jamais atingirão uma criatura de valor e honradez que viva para o trabalho e a família.
É preciso, pois, educar a vontade, não ter medo de coisa alguma e estar absolutamente certo de que é nela, na vontade e no pensamento que reside todo êxito, por constituírem eles a força vencedora de todas as misérias astrais e humanas. de todas as perversidades, de todos os males irradiados por tais desgraçados, que tantos danos produzem aos fracos, fanáticos ou acovardados.
A vontade reside no próprio espírito, e não deve ser confundida com o desejo, que é puramente material, é a satisfação dos impulsos da carne, funções naturais do corpo, mas que precisam ser reguladas pelo espírito, pela vontade espiritual, para que haja comedimento em todos os atos da vida física, pois dar expansão desabrida aos instintos bestiais, é chegar à obesidade, à paralisia, à tuberculose, à loucura. É preciso saber comer, saber o que se come, e saber beber, vestir, recrear e, sobretudo, ser moderado na vida sexual.
Trabalhe-se para educar o pensamento e a vontade só para o bem, e desaparecerão as meretrizes, os lupanares, as casas de jogo, os centrelhos espíritas, os macumbeiros e todas as fábricas de delinquentes, para surgir, então, a verdadeira família cristã, o homem e a mulher a buscarem cedo, (dos 20 aos 25 anos) a união pelo amor, orgulhando-se de dar frutos dessa união para a formação de uma sociedade melhor, esteio de uma nação.
Não se confundam, nunca, desejos de comer, beber e praticar animalidades com a vontade que, quando educada para o bem, vence todos os ímpetos, todos os desejes desordenados e regulariza a vida física e a astral, tudo colocando nos seus lugares, para assim a criatura bem pensar e ter a segurança moral necessária para bem cumprir os seus deveres, que só se cumprem quando não se é egoísta, invejoso, maldizente, vaidoso e trate cada um da sua vida, não intervindo na vida dos outros e esquecendo os seres maus para não atrair a sua maléfica assistência, sempre obsessora, sempre danosa.
Fora do pensamento não há remédio nem salvação para quem quer que seja!
Que o mau reconheça depressa o quanto se lucra em ser bom, em seu próprio benefício.

Viver é pensar, raciocinar e trabalhar

Pelas nossas duas últimas publicações, deve ter verificado o leitor que é no próprio ser humano que existe o remédio para vencer na vida, para não ser cangado pelos vários ramos da magia negra, nem ser furtado nos haveres materiais e morais, e para ter sempre saúde e tranqüilidade de espírito.
É na vontade e no pensamento, ao serviço dela, que está o lenitivo para todos os males, para a neutralização das irradiações perversas dos encarnados e da ação maléfica, terrível, ultra danificadora das forças ocultas inferiores colocadas ao serviço de tais criaturas, verdadeiras feras humanas, criminosas conscientes, as quais só desaparecerão vencidas pelo progresso moral (espiritual) que a humanidade for alcançando, lenta, mas infalivelmente, por meio da reencarnação.
As gerações futuras, portanto, não mais aceitarão crendices absurdas, buginganguices nojentas, pois seu grau toe espiritualidade fará com que delas se distanciem os malvados, que acabarão por reconhecer que devem tornar-se seres melhores.
Não há quem possa fugir às consequências da lei espiritual da evolução que se opera através das reencarnações dos espíritos das esferas inferiores ou mesmo das Superiores, desde que tenha passado pelo mundo sem deixar rastro de aperfeiçoamento moral.
Tudo evolui, portanto, mundo e seres que o habitam, mas o viver na Terra só se tornará mais ameno, quando for de categoria espiritual elevada. Por enquanto, ainda impera no mundo a inferioridade espiritual, aliás, bem visível, através do proceder moral e material das criaturas.
Uma criatura de elevação espiritual está sempre propensa a desculpar as faltas alheias, nunca irradia maldade nem deseja vingança. Sofre, afasta-se, não quer mais saber de quem lhe ocasionou sofrimentos e não profere uma palavra de revolta, ódio, malquerença ou vingança, ao passo que a criatura de categoria espiritual inferior, nada desculpa, é rancorosa, rumina noite e dia a maneira de vingar-se de quem lhe fez alguma coisa que a contrariou, ainda que se trate de fatos de somenos importância.
O espírito inferior é traidor, hipócrita, desleal em tudo, e para saciar os seus desejos, não respeita a honra alheia nem mede consequências.
Enquanto a criatura que teve a infelicidade de cair em seu desagrado não for enlameada moralmente ou curta dores físicas, não fica saciada a sua alma perversa.
Agir neste mundo só pelo instinto é viver animalizadamente, é nivelar-se ou inferiorizar-se aos irracionais. Os que assim procedem andarão sempre perturbados e acabarão vencidos na luta pela vida destinada a todas as criaturas.
É bem lamentável que seja esse o viver da maioria da humanidade, pois poucos são os que dão importância às coisas do Espírito – que são as principais, visto ser ele partícula da Força Criadora, do que vemos e não vemos, mas sentimos. A essa Força o vulgo chama Deus, sem compreender, porque a materializa, e serve-se do seu nome para negociar, intimidar incautos, explorar ignorantes e praticar atos que aberram dos princípios de uma sã e equilibrada moral.
Leia com atenção estes escritos, prezado leitor, para que não continue a alimentar dúvidas no seu espírito e não tenha mais ilusões nem teimosias materialistas, com formas sectárias e religiosas, que no fundo dogmático são o mesmo materialismo, apenas enfeitado com ideia de falsa espiritualidade.
Esforce-se para praticar somente o bem, como ensinam as obras editadas pelo Centro Redentor, que tudo explanam claramente, pelas quais aprendemos a conhecer-nos como Força e Matéria, para podermos vencer tudo o que de mal existe dentro ou fora de nós, irradiado ou captado, em conformidade com o nosso estado psíquico, e mais:
1) Educar a vontade para só irradiar pensamentos de valor e praticar boas ações, sem pensar em espíritas de fancaria ou outros seres quaisquer que não possuam as qualidades que nobilitam o homem: trabalho, valor, honra e dignidade.
2) Afastar da mente toda imagem que representar o mal e não ter medo das feitiçarias, despachos ou de excomunhões.
3) Estar sempre ocupado com coisas úteis, não falando em espiritismo nem em espíritos quando tiver de tratar de qualquer assunto material com presidentes e médiuns de centros espíritas.
4) Procurar ter verdadeira noção do dever e assim, a obrigação de defender o seu direito, a sua propriedade, a sua família, enfim, os seus legítimos haveres morais e materiais.
5) Ser forte e saber lutar física e mentalmente na defesa dos seus direitos e de si próprio, como é o dever de todo ser que pensar e raciocinar.

O covarde não vive; passa pela vida, como o tempo passa por ele.

Só tem valor o fundo, não a forma

Como temos explicado nestas colunas, o Racionalismo Cristão, desde 1910, vem clareando tudo para que a humanidade possa libertar-se das garras dos abutres físicos e astrais, ensinando-lhe os remédios para os seus males. Tais remédios, porém, dependem muito do livre-arbítrio do próprio ser, e quando este, pela corrupção de seus hábitos, má educação da vontade e inferior categoria espiritual, prefere dar expansão à carne, à torpeza, à pura animalidade, não praticando a Limpeza Psíquica e o que ensina o livro Racionalismo Cristão, é claro que o resultado não se faz esperar e o indivíduo torna-se fatalmente vítima do livre-arbítrio, dominado por seus instintos animalizados.
Não basta ler essa obra ou outras do Centro Redentor; é preciso praticar o que elas ensinam modificar todo o viver material e moral, pois dessa prática resultará então todo o bem, todo o progresso espiritual e até material, seja qual for a profissão ou categoria social da criatura.
Para combater males da alma e do corpo, precisa o ser humano:
a) Não assistir às sessões espíritas (vulgo magia negra), ainda que com caráter religioso;
b) não querer saber de espíritos nem de médiuns de tais centros, para coisa alguma;
c) não manter relações sociais com tais médiuns ou “pais-de-serviço “de mesa” ou “de sessão”;
d) considerar perniciosos ao convívio familiar os praticantes da magia negra e todos aqueles que da honra e dignidade não possuem noção;
e) seguir, disciplinarmente, o que preceitua o livro Racionalismo Cristão, praticar a Limpeza Psíquica, diariamente, fazendo irradiações para afastar os maus espíritos e não temer coisa alguma nem ter medo de espíritos ou de criaturas, evitando, porém, por princípio de higiene mental, que seus pensamentos e até olhares se cruzem com os dos seres tidos como maus.

Quem praticar o que acabamos de aconselhar, ficará com o espírito livre da assistência dos espíritos obsessores, tornar-se-à forte para a luta, apto para melhor raciocinar e assim não se deixar envolver nas malhas das forças astrais inferiores que venham a ser atiradas por seres malvados, praticantes da magia negra.
Qualquer pessoa, seja qual for a sua ideia sectarista, praticando o que o folheto Limpeza Psíquica ensina, será beneficiada, porque o que tem valor é o fundo e não a forma, como o são as diversas seitas ou religiões, e quando a alma pensa, vibra com força e vigor, com o desejo de ser boa, de praticar a sã moral ainda que relativa, está evoluindo.
O indivíduo pode dizer-se cristão, católico, protestante ou mesmo racionalista cristão, e não passar de um intrujão e comediante hipócrita; sua alma não vibra, não sente, está apenas repleta de preconceitos religiosos ou sociais, de maus hábitos, de vícios, enfim, é idêntico a qualquer malfeitor, mas como lhe é facultado ocultar o pensamento pelas palavras, infiltra-se, diplomaticamente, em todos os meios convenientes e deles tira partido.
Pensar bem, desejar bem a todos, ainda que tenham formas religiosas diversas, é estar o ser apto a ligar-se às esferas superiores, às almas puras, não do céu, porque este, como o inferno, não existe, mas dos mundos astrais, das casas do Pai, como disse Jesus.
Eis o que o Racionalismo Cristão visa ao aconselhar a fazerem a Limpeza Psíquica: limpar astralmente e ligar espiritualmente os encarnados às Forças Astrais Superiores, que com a sua luz e fluidos benéficos transmitem força, vigor e raciocínio aos seres humanos que a eles se sabem ligar pela prática de boas ações e pela vontade e pensamentos exercitados para o bem.
Nada de ódios! Façamos por ser bons, amando-nos uns aos outros.

O Espiritismo Científico e os exploradores do povo

Além dos hediondos crimes já descritos, praticados por todos os ramos da.magia negra, inclusive a chamada magia dos bruxos, além desse infecto e vil baixo espiritismo, há o ridículo das manifestações espíritas, das comédias grotescas dos tais médiuns e “divinos protetores”, das maneiras e modos cabalísticos dos “pais-de-mesa” e celebérrimos “presidentes de sessão”.
Antes de conhecermos bem a humanidade e a categoria espiritual de cada membro seu, surpreendia-nos ver pessoas de certa cultura descerem aos antros da magia negra, centros e baiucas espíritas dirigidas por criaturas sujíssimas do corpo e da alma, e a elas se nivelarem.
A próxima civilização, porém, chamará a prestar contas toda essa gente. Homens e mulheres de destaque social, criaturas cultas e não cultas que não têm feito outra coisa senão praticar o mal, que descem a confabular com médiuns e “presidentes” nos centrelhos ou arapucas que se intitulam espíritas, que alimentam o vício, propagando o jogo, o luxo e o meretrício, hão de responder, e não demorará muito, por essa tremenda crise moral que se observa.
As pessoas de destaque social que alimentam, material ou moralmente, as cartomantes e feiticeiros nos seus antros de miséria, confundem-se com eles, e mal sabem que estão cavando, por suas próprias mãos, a sua ruína moral e material.
Tais seres, desde os de destaque social aos desprovidos de fortuna, procuram o tal espiritismo para ver se conseguem empregos rendosos, sorte no jogo do “bicho” ou na loteria e outras coisas, sem observarem, nesses infernos de torpezas, o ridículo e a intrujice dos médiuns e dos espíritos inferiores que neles atuam, exploradores de superstições e crendices, fazendo de todos os assistentes verdadeiros bocós.
Se tais criaturas estivessem em bom estado de raciocínio, não lhes seria difícil concluir que um espírito superior, uma pureza astral, não podia ali descer, por faltar-lhe ambiente moral e espiritual e, além disso, nenhum espírito pode alterar as leis que regem o livre-arbítrio dos seres.
Muito menos podem os espíritos dar fortuna material a quem quer que seja, porque se tal pudessem fazer, tinham por dever melhorar primeiro a situação dos seus instrumentos, médiuns e presidentes, dando-lhes haveres materiais que os habilitassem a não viver infringindo disposições do Código Penal com a exploração dos incautos e desamor ao trabalho. Como pode um ser sem requisitos morais e materiais, arranjar colocação e meios de fortuna para os outros?
Passemos, agora, às receitinhas. É hábito na Capital do país e dos Estados, nos grandes meios sociais, convocarem-se “reuniões espíritas”, ultra-ignorantes, hoje na casa do capitalista F, ou do Dr. A, B e C, e amanhã na de Fulano ou Beltrano.
Um dos tidos por grande experiente na presidência das “sessões” toma a cabeceira da mesa, ocupando os demais os outros lugares, também à mesa, ou nesta ficam somente o presidente e o médium, e os assistentes espalhados pela sala.
O presidente faz as preces, o médium fica atuado e o espírito apresenta-se com o clássico: “que a paz de Deus esteja convosco, meu irmão” ao que o presidente responde “que assim seja, meu querido irmão, sede bem-vindo”.
– Quereis algumas receitinhas, não é?
– Sim, irmão.
– Lede então os nomes dos irmãos necessitados.
O presidente começa a leitura, e o médium vai receitando: Briônia, 5.a, uma colher de hora em hora, e assim por diante.
Ao médium que assim pratica a “divina caridade”, passam todos a render as suas homenagens, tornando-se ele uma espécie de “semideus” entre os obsedados da sua grei.
Saberá, porém, o leitor que esse médium por vezes é uma criatura paralítica, tuberculosa, ou uma mulher que tem dois ou três amantes, trocando-os como qualquer outra meretriz que agrada ao que mais luxo lhe der? E se é homem, torna-se, não raro, o sedutor da esposa ou filhas dos donos das casas onde é chamado a receitar?
Vê que monstruosidade! Se duvidas disto, caro leitor, procura as varas criminais e examina nos seus arquivos os processos que por elas passam, bem como, tomando as precauções precisas de ordem física e mental, dispõe-te a frequentar esses meios espíritas, dando-te como muito “crente”, e depois, se não chegares a ser dominado pelo meio, se a tua moral for firme e o teu caráter impoluto, conta-nos o que presenciaste e diz-nos se não ficamos neste relato muito aquém do que nesses meios se passa.
Há, não há dúvida, criaturas dignas de compaixão, porque tendo ainda requisitos morais entregam-se, fanaticamente, à prática da mediunidade, certas de que estão sendo missionárias do bem, fazendo a “caridade”, que consiste em dar receitas, não se apercebendo de que o seu estado físico e mental está perigando dia a dia.
Entristece-nos isso, porque tais seres acabam indo parar no hospital e outros nas chamadas casas de saúde de enfermidades mentais, onde se registra, como causa do mal, o delírio do espírito, em virtude da prática do espiritismo de fancaria.
Todos os dias, no Centro Redentor e suas Filiais, chegam enfermos da alma tirados dessas casas pelos seus parentes para serem normalizados nas suas correntes fluídicas, nas Sessões Públicas de Limpeza Psíquica.
Diariamente, pois, temos ciência dessas desgraças e, como dissemos, ficamos tristes, não só porque são seres em essência espiritual nossos irmãos, como porque sendo o Espiritismo a ciência das ciências, a única e verdadeira Doutrina da Verdade praticada por Jesus, que normaliza loucos e outros males, é ele tomado por muitos, por maldade ou ignorância, como sendo causador da loucura, quando é certo que esta é de origem psíquica, tem por causa única a falta de moral, a nenhuma educação da vontade, a ignorância crassa da composição do Universo e, assim, a astral e física do ser humano.

Espiritismo e mistificações

As ridículas práticas da magia negra, baixo psiquismo a que se entregam as criaturas menos esclarecidas, malvadas algumas e incautas ou ignorantes muitas, só têm servido para mais perturbar a humanidade.
Essa “evocação de espíritos” para deles se saberem coisas e receberem “instruções” dos célebres “protetores” do Espaço ou “camaradões” – como muitos os chamam – só serve para mais avassalados ficarem os invocadores e mais obsedados fazerem estes, porque todos, praticantes e consulentes, passam a ficar dominados pelo astral inferior, que são espíritos zombeteiros e malfeitores que perambulam na atmosfera da Terra.
Nessas sessões de baixo espiritismo, após as chamadas “mensagens do além”, ou “receitinhas”, há sempre um ou dois consulentes a pedir notícias de pessoas falecidas em tal dia, mês e ano, e a resposta quase sempre é esta:
“Meu irmão, a situação dessa pessoa não lhe permite aparecer nesta sessão; ela carece de preces diárias, porque assim o exige o seu estado”.
Diante dessa resposta, o consulente – quase sempre é uma senhora – cai em pranto, chora, soluça e todos os demais movem os lábios fazendo as preces.
Mas, devemos esclarecer que tal evocação e resposta são falhas de verdade:
1) porque um espírito, nesse estado de perturbação, está sempre junto à pessoa que nele pensa;
2) por estar sempre pronto a tomar qualquer médium, em qualquer lugar em que este lhe dê entrada, que o deixe atuar e dizer o que lhe aprouver;
3) porque o ambiente nessas sessões é próprio para essas atuações, pois os espíritos ali se encontram como se ainda estivessem encarnados, sentindo tudo quanto sentiam quando de posse do corpo e conhecendo as pessoas com quem conviviam, podem fazer referências a coisas ou fatos delas só conhecidos;
4) porque o pranto e soluços do consulente são sempre a prova provada da atuação feita pelo espírito nele próprio.
Há casos em que esses espíritos chegam a dizer às criaturas com quem conviveram que não deviam ter ido ali e que, invocando-os, só males lhes fazem.
Isso é uma grande verdade. Males a eles espíritos, e males bem grandes aos encarnados, que passam a ser fácil presa das falanges do astral inferior.
Se houvesse verdadeira noção da vida espiritual, pessoa alguma se atreveria a invocar espíritos, a não ser aqueles que já se sabe estarem livres da atmosfera da Terra, e assim mesmo só em sessões dirigidas pelo Astral Superior, onde há corrente fluídica e instrumentos de reconhecida honestidade e boa moral a obedecerem à disciplina constante do livro Racionalismo Cristão. Essas invocações são para benefício geral, e nunca para satisfazer curiosidades ou tratar de seres ou coisas de natureza material ou pessoal.
Acresce a circunstância, ainda, de que os espíritos que desencarnam em estado de obsessão – situação a que chegaram pela ação do astral inferior sobre eles – ficam a este escravizados, sem liberdade para atuar e se manifestarem, para, mais à vontade, continuar ele, astral inferior, a dominar os que eram seus parentes e amigos e todos os que neles pensarem. Por esta razão, pode-se afirmar que a maior parte das atuações que se dão por aí, tomadas como sendo do espírito A, B ou C, não passa de mistificações, sendo obra do próprio médium ou de um dos seus obsessores.
E tanto essa gente vive em dúvida, tanto vive na ignorância dos porquês de todas as coisas, que um velho espírita, com algumas qualidades humanitárias, mas de alma por demais impregnada de evangelismo, supondo-se até ser encarnação de Paulo, o apóstolo, abalou-se a ir à capital do Pará para falar com o espírito da filha, o que não conseguia nos centros que frequentava aqui, do que se poderá concluir que tendo o espírito da filha já partido para o Espaço Superior, e não havendo corrente fluídica organizada pelo Astral Superior nos centros por ele frequentados, tal espírito não se podia manifestarem corpo astral.
Mas, ainda que isso fosse possível, seria o caso de perguntar: então, onde está a convicção da continuidade da vida?
Porventura, desde que se chega à certeza da vida fora da matéria, poderão ainda pairar dúvidas sobre a ascensão do espírito aos mundos de luz? Nosso egoísmo irá a tal ponto de só ficarmos satisfeitos quando ouvimos falar o espírito que nos pertenceu por afinidade carnal ou laços de sã amizade? E a sensibilidade de tais seres?
Que não os ouçamos porque não se possam manifestar, em virtude de não haver sempre mediunidade desenvolvida e espiritualidade afim, admite-se; mas qual a criatura que ao fazer uma irradiação devidamente sentida, não percebe o sistema nervoso denunciar-lhe, numa sensibilidade suave, a aproximação de outra alma a espargir fluidos sobre a sua e entrelaçarem-se os seus duplo-etéreos?
Não podemos deixar de concluir que tais espíritas são iguais aos materialistas que tudo querem palpável, e de ciência abstrata não têm nenhuma noção.
O espiritualista, antes de o ser, estuda, investiga os porquês da vida, dilata o raciocínio, observa que não há efeito sem causa e, de grau em grau, conclui que dos astros é que vem a eletricidade, que tudo é força magnética a cercar-nos, que nada mais há além de matéria – fluida ou concreta – para, em laboratórios humanos ou outros, a Força Criadora com ela fazer, dentro das leis de atração e evolução, tudo quanto lhe apraz.
Abstrata é a eletricidade, como o é o som, o pensamento, entretanto, por aquela podemos ser fulminados, pelo som podemos chegar à loucura e o pensamento transmite-se, deixando-nos sentiras vibrações de ódio ou de amizade.
Deixou, pois, mal colocados os médiuns dos seus centros, quem se abalou a ir a Belém para falar com o espírito da filha... Poderíamos dizer-lhe que, apesar de Tomé, nada o autoriza a afirmar que falou com a filha. Foi, sim, muito bem ludibriado, porque o espírito que o médium recebeu e que lhe traçou a biografia e os traços característicos da que foi sua filha, nada mais fez do que, orientado pela imagem gravada na aura do consulente, transformar-se no corpo astral da filha e transmitir-lhe palavras que o pensamento dele, pai, revelavam.
Vendo o corpo astral, apalpando-o e falando-lhe, tudo se deu através da materialização do espírito atuante, que para isso se serviu do fluido do médium e do consulente e este, em grande estado de emoção avassaladora, prestou-se a dizer ter visto o que não viu, apalpado o que não apalpou, e falado o que a sua retina mental em delírio concebeu.
Espíritas que se dizem ser, mais chegados, por essa via, ao espiritismo, podem, amanhã, afirmar, como Flamarion, que não sabem o que de fato é o espírito, apesar deste sábio ter convivido, por longos anos, com Kardec, de quem, dizem, foi secretário.
Compreenda-se melhor a vida fora da matéria, definida, como poucos, racional e cientificamente, pelo grande sábio-médico Visconde de Saboia, na sua importantíssima obra A vida psíquica do homem, editada há muitos anos passados, que deveria ser conhecida dos que se dizem estudiosos do espiritismo.

Espiritismo é coisa séria

Continuando a tratar da suposta manifestação do espírito da filha daquelas criaturas que se abalaram à capital do Pará, para ouvi-la, transcrevemos o que naquela ocasião publicou A NOITE:

. . . De repente, o médium desprendeu a mão direita, alongou o braço, como se fizesse muita força, bateu sobre a mesa, ajeitou o tronco valentemente, e mostrava a face contraída, como se sofresse. Depois, sacudindo o corpo e encetando uma conversa que havia de ser cheia de gestos enérgicos, bradou:
–Vocês insistem! Pois eu insisto também.
Entabulou, raivoso, conversa com F, sustentando o direito de perseguir uma mulher já decrépita, quase velha, um “calhambeque”.
– Por que te preocupas com ela, se é calhambeque? perguntou F.
– Porque é meu direito!
Depois de uma discussão entre o médium e o presidente, levantou-se este, e com a mão sobre a cabeça do médium, enquanto os circunstantes oravam, mudamente, proferiu uma longa “prece” invocando Jesus e pedindo-lhe a misericórdia de esclarecer sobre o seu próprio destino o espírito que ali dizia achar-se. Quando o invocador tornou a sentar-se, recomeçou o silêncio, que se prolongou por quase uma hora.
Depois o rosto do médium exprimiu um grande espanto e ele entrou a bradar, a breves intervalos:
– É impossível! . . . Não, senhor! É falso, deixem-me fugir! Deixem-me ir embora! Deixem-me, ou eu arrebento o médium! . . .
Observou o médium (agora é o próprio médium quem fala):
– Peço o mais ardente amor em benefício deste espírito que está sofrendo angústias inenarráveis etc.

Transcrevemos este trecho porque, de fato, como fita espírita, é das melhores para empolgar os incautos ou bocós da assistência, muitos já fanáticos e que gostosamente aceitam tais comédias bem ridículas e perigosas, porque avassalam e enlouquecem os seres de pouca espiritualidade ou de espírito impressionável. Nessas sessões, quer feitas em residências particulares ou centros, servem-se do nome de Jesus ou de um espírito qualquer para melhor impressionar o auditório, fazendo-lhes invocações todas cheias de doçura.
As manifestações que se derem em tais sessões, se analisadas por observadores sensatos, servem para demonstrar o ridículo de tudo o que nelas se passou e certificar-se o ser, livre de ideias preconcebidas, que tudo é provocado pelos próprios médiuns e seus “protetores” astrais, obsessores perigosos, quando encontram instrumentos aptos a recebê-los, e instrumentos são todas as criaturas desordenadas na vida moral e material, cheias de vícios de educação que, sem o saberem, vão se prestando ao desenvolvimento mediúnico e terminam, mais tarde, procurando o espiritismo, onde se alistam como médiuns desenvolvidos, recebendo espíritos por toda parte, no lar, nos centros sem corrente fluídica, nas igrejas, nos veículos e até na rua ou estabelecimentos comerciais.
Ora, quem assistisse à sessão acima descrita, não estando de todo em mau estado psíquico, terminaria por concluir que o médium era um mestre em manifestações mistificadoras e suas próprias:
1) Pelos movimentos das mãos, dos pés, do tronco, da fungadeira e dos grunhidos entremeados de urros;
2) Pelo bater fortemente na mesa;
3) Pela maneira de contrair o rosto e de agitar o tronco, violentamente;
4) Pelos gestos e brados raivosos;
5) Pela demora de quase uma hora para repetir a manifestação e movimentos do corpo;
6) E, finalmente, por pedir, como ele próprio (o médium) declara, o mais “ardente amor” em benefício do espírito que dizia nele estar atuando etc.
O “pai-de-mesa” é de uma audácia própria dos grandes e propositais ignorantes, por prestar atenção a tal atuação, e assim ao espírito, qualquer que ele fosse, que atuou no médium mistificador e viciado nesses trabalhos de fazer fanáticos, crentes, obsedados.
Aliás, tais presidentes de sessão, que pontificam como papas, são, como todos os chamados importantes médiuns, viciados em lérias, que denominam “preces” a Jesus, para evocá-lo a vir montar guarda a suínos astrais e físicos, como se as leis que regem o Universo – que são comuns e naturais – fossem passíveis de alteração, e purezas astrais, espíritos de luz, habitando os mundos luminosos que se movimentam no Espaço, livres, portanto, da atmosfera da Terra, pudessem descer a centros da magia negra, a terreiros e outros lugares onde faltam a ordem, a moral, a verdade, e impera o fluido com o qual é criado um ambiente impurissimo, uma atmosfera pesadíssima, perturbadora, danificadora de almas e corpos.
É natural e compreensível, pela sua ignorância, que o presidente de tal sessão julgue puro um espírito como o que se manifestou, pelo que ele próprio é ou na sua casa se passa, tomando como “provação” tudo que nela e consigo próprio se observa, e assim acreditando que Jesus tem o mesmo “estômago” e o mesmo raciocínio. . .
Era bastante observar a evocação feita a Jesus, para avaliar-se a ignorância crassa de tal presidente e ver-se, desde logo, que tudo aquilo, além de tolo, era demasiado ridículo.
Por tudo isso se verifica que esses presidentes de sessão e médiuns chegam à prática do espiritismo com a alma eivada de misticismo, e transportam para ele todas as manias, vícios e superstições adquiridos na seita que antes professavam.
Essas criaturas, que nunca foram esclarecidas sobre os porquês da vida, têm sempre um mau fim, ao contrário daquelas que vivem dentro dos Princípios Racionais e Científicos pregados por Jesus e ampliados no livro Racionalismo Cristão que cultivam a saúde e a alegria.

Espiritismo não é magia negra

Já fizemos referência, por estas colunas, aos grandes males que resultam da prática do baixo espiritismo ou magia negra. Quem leu o que temos escrito e vai ler o que continuaremos a escrever, deve convencer-se de que não nos move nenhum despeito ou interesse, mas, sim, o desejo ardente de esclarecer o nosso semelhante, a fim de que ele conheça o grande risco que correm todos os seres humanos que praticam a magia negra ou frequentam antros de miséria, onde se concorre para a ruína moral e física de tantas criaturas, correndo assim perigo de ruína material negociantes, industriais, lavradores em geral, e não é necessário frequentar terreiros, serviços, macumbas, catimbós e sessões; é bastante as criaturas terem convívio com tais praticantes, ou cair-lhes em desagrado, para passar a ser alvejadas pelas falanges que os assistem, e estas tudo passam a fazer para dar ganho de causa aos seus protegidos.
Essas falanges, sabendo o que os seus protegidos desejam de mal aos desafetos, perseguem-nos, até torná-los paralíticos, cegos, leprosos e prostitutas.
Ao leitor não deve restar a menor dúvida sobre a existência do espírito, alma, vida fora da matéria organizada a fazer-se sentir por toda parte, quer para o bem, quer para o mal. São os espíritos quedados na atmosfera da Terra (astral inferior) que, prevalecendo-se da ignorância ou maldade humana, provocam enfermidades do espírito e do corpo, suicídios, assassinatos, ruínas de lares etc.
São os espíritos do Astral Superior e, portanto, já livres desta atmosfera, que auxiliam os médicos bem intencionados, embora disso eles não saibam, a curar os seus enfermos, bem como a normalizar obsedados no Centro Redentor e suas Filiais.
Todos recebem intuições neste mundo e de acordo com a sua moral, irradiação de pensamentos e educação da vontade, terão saúde ou enfermidades, serão felizes ou infelizes, merecerão a assistência astral inferior ou Superior.
Se, porém, o indivíduo duvida da existência da Força, do Espírito que organiza o corpo e o incita e movimenta, se não quer ter conhecimento certo e seguro e teima no grande mal de conservar-se na ignorância, negando, por prazer, a Verdade, que devia sentir em si, próprio, a todos os instantes; se tem orgulho de dizer-se materialista e não quer saber da Alma, triste nota dá de si mesmo e ridículo se tornará perante os homens que raciocinam e que agora pensam como pensavam os ilustres médicos e professores Visconde de Saboia, Pinheiro Guedes, Alberto Seabra e Bezerra de Menezes, filhos deste grandioso país que, quer queiram quer não, há de levar a luz de uma nova civilização a todos os continentes.
Não escrevemos para os que desejam viver, apenas, instintivamente, pois estes quem poderá demover da materialidade?
Escrevemos para todos aqueles que em obras e atos já se distanciam da vida instintiva, vivendo a vida racional num anseio natural de aperfeiçoamento moral e até físico.
Prestígio, dinheiro, posição social ou religiosa, nada significam, desde que o ser queira apenas viver para o estômago, para o corpo, com prejuízo absoluto do espírito que o incita e movimenta. Satisfazer desejos não é viver, é escravizar-se a apetites que se tornam depravadores do caráter e terminam sempre por levar as criaturas à decadência moral e à ruína material.
É, pois, para os de boa vontade, para os fortes de espírito, que são todos aqueles que querem raciocinar, e não para os indiferentes, para os pernósticos ou sabichões, que desde o primeiro número de A RAZÃO foram destinadas estas colunas para, sob a epígrafe “Nota”, ser explanada a Verdade que caminhará sempre, como bem o disse Emílio Zola:
“Aos homens podem opor embargos, mas à majestade da Verdade quem é que poderá atrever-se a.criá-los?”
Assim sendo, é dever nosso pugnar por uma humanidade livre, forte de espírito e do físico, obediente à lei, conhecendo-se na sua composição astral e física e educando-se nos sãos e belos Princípios doutrinários que levaram Jesus ao infamante madeiro, mas que o tornaram imortal pelos séculos além.
Aquele que for esclarecido nos porquês da vida e da desencarnação e guiar-se pelo que o Nazareno deixou firmado como Doutrina, jamais será covarde, servil, suicida, assassino, praticante da magia negra ou insuflador de revoluções e guerras.
São os Princípios Racionais e Científicos da Doutrina cristã que hão de remodelar usos e costumes no mundo, influindo assim para melhorar o indivíduo como cidadão, político, cientista ou portador de qualquer outra profissão.
São eles que hão de dar combate aos materialões e obsedados, para fazer realçar a vida simples, vivida com arte, naturalidade e aperfeiçoamento.
Não se iludam aqueles que duvidam de tudo e de todos, porque acima dos vícios e vontades, filhos da vaidade que os domina, estão as leis naturais que tudo impulsionam para o progresso dos seres e coisas.
Quanto mais teimarem no erro e se conservarem ignorantes propositais ou praticantes do mal, mais perdem, mais terão que sofrer para atingir a perfeição espiritual de que todos precisam.
Dessa teimosia nada racional, filha da ignorância sobre o porquê da vida real dos seres é que resulta o estado de loucura, egoísmo, ciúme, vaidade, guerras e misérias várias em que se acha envolto o mundo.
Menos religiosidade, pois, e com a verdadeira noção do dever a cumprir e respeito ao direito alheio, se demonstrará ser cristão, preparado para sentir a ação espiritual da Inteligência Universal.

O baixo espiritismo

Não basta afirmar-se que a prática dos diferentes ramos da magia negra é, além de perigosa, geradora de loucos e outras desgraças; é preciso, provar-se, e esta prova já a fizemos mais de uma vez, apontando o ridículo a que se prestam todos aqueles que a ela se entregam.
O Racionalismo Cristão, explanado no Centro Redentor e suas filiais, tem por base a composição do Universo – Força e Matéria – e não pode afirmar coisa alguma que não seja verdadeira, racional e científica.
A sua única finalidade, afirmada inúmeras vezes, é esclarecer a humanidade, a fim de libertá-la dos perigos que está correndo ao tomar a sério baiuqueiros transmissores dos males de que são capazes as forças astrais inferiores, que assistem e atendem a tais criaturas.
Para o homem já esclarecido nos porquês da vida, é indiferente a sua posição social ou material; ele trata com urbanidade a todos que tenham compostura moral, e zurze, se preciso for, com o látego da Verdade, os que tentarem confundi-lo com as práticas de indivíduos desonestos ou imorais, e imoral é quem se entrega aos vários ramos da feitiçaria ou a ela recorre para infelicitar criaturas suas desafetas.
Neste mundo cada um é o que quer ser, de acordo, está visto, com o seu livre-arbítrio, pensamento e vontade, e Jesus já afirmava que cada um é aquilo em que pensar, portanto, cada ser humano receberá o que merecer pelos seus pensamentos e obras.
Ao espírito, o que é do espírito; ao corpo, o que é do corpo!
Dada esta explicação, voltamos à “sessão espírita” presidida pela personagem que foi ao Pará para falar com o espírito da filha, cujo relato estamos transcrevendo do jornal A NOITE, do Rio de Janeiro:

“Quando o invocado tornou a sentar-se, recomeçou o silêncio, que se prolongou por quase uma hora.
O rosto do médium exprimiu um grande espanto e entrou a bradar, a breves intervalos:
      E impossível!... Eu não fiz isso. Não, senhor! É falso!

Observem que fita ridícula o médium, mistificador profissional, desdobrou nesse pedacinho! “Levar uma hora em absoluto silêncio”, para depois voltar a manifestar-se o mesmo espírito com esse espanto e esse fraseado, negando um ato seu que só depois de uma hora reconheceu, quando é certo que durante esse tempo se podem esclarecer milhares de espíritos, os quais, uma vez vendo o quadro fluídico de seus maus atos, se tornam dóceis e prontos a tudo fazer para saírem da atmosfera da Terra e ascender aos seus mundos de luz.
Nunca o espírito, por mais perverso que seja, nega as suas faltas, desde que, envolvido pela luz Astral Superior, é esclarecido sobre o seu estado e as suas obras. Isso feito, ele imediatamente pede, roga, suplica que lhe indiquem o caminho da sua regeneração, para segui-lo.
Com a luz irradiada pelo Astral Superior, o entendimento do espírito perturbado se torna lúcido em um minuto, se tanto.
Como, pois, esses mistificadores se manifestam assim, após “uma hora” passada?
Porque são médiuns obsedados, e os espíritos obsessores fazem tais espetáculos para conseguir adeptos.
A expressão de espanto do espírito manifestado, e a de angústia do médium, com a face de quem está a chorar, sem verter lágrimas, proferindo palavras de desespero, pedindo misericórdia, indagando como poderia resgatar as suas faltas e, de repente, gritando:
– Deixem-me fugir! Deixem-me ir embora! Deixem-me, ou eu arrebento o médium!, dá bem a ideia da mistificação a que se entregava o mistificador.
Só depois de uma hora, e de negar obstinadamente, as suas faltas, é que o tal espírito manifesta expressões de espanto e angústia, implorando perdão.
Observemos bem. Primeiro, ele chorava, sem verter lágrimas, pedindo misericórdia e perdão, e, logo a seguir, brada “que o deixassem fugir”, se não “arrebentaria o médium”.
Chorar, sem verter lágrimas, é coisa grotesca do próprio médium, porque o espírito, qualquer que seja, atuando nesse estado, produz na vida anímica e, assim, no sistema nervoso do médium, a mesma sensação de sofrimento, e o obriga a chorar de verdade.
É impossível a qualquer ser humano, e muito especialmente a um espírito, chorar de arrependimento das faltas, implorar misericórdia para elas e ao mesmo tempo dizer que o deixassem fugir e que “arrebentaria o médium”, se isso não lhe concedessem.
Vê-se, nessa ridícula comédia, retratar-se o feitio moral do médium.
Um espírito, após seu esclarecimento, não pede perdão, porque sabe que o perdão é invenção das muitas seitas, principalmente dos “espíritas”, que enxovalham a belíssima Doutrina de Jesus, e, portanto, não existe.
Após essa mistificação ridícula, que o desprevenido fanático presidente dos trabalhos da sessão deixou passar, diz, ainda, o médium, dando-se como atuado:

“Vejo (exclamou o suposto espírito) a meu lado um velho venerável, que aqui me oferece apoio.
– Quem é? - perguntou o presidente.
– É o senhor Richard! - respondeu o médium.”

Tal afirmativa do médium impostor demonstra, mais uma vez, a força astral inferior, porque o velho venerável Richard, que o espírito disse ver a seu lado, foi um dos chefes e médiuns na Federação Espírita Brasileira, e era um dos que diziam: “Em nome de Nosso Senhor Jesus Cristo, o Divino Mestre, está aberta a sessão”.
Ora, se ele, Richard, hoje espírito, não teve força para imediatamente dominar e esclarecer todos os espíritos perturbados e perturbadores, é porque se conserva na atmosfera da Terra, e é tão obsessor quanto os outros, continuando a ignorar que Jesus não é Deus, nem divino, porque Deus (Grande Foco) é Inteligência Universal, Força Mater de tudo o que tem vida, e Jesus apenas uma partícula sua, já grandemente evoluída, mas irmã de todas aquelas que vivem encarnadas e desencarnadas.
É um grande espírito em evolução contínua para o Grande Foco, vulgarmente chamado Deus, denominação que preferimos, por melhor expressar a verdade.
E o que acabamos de referir, o próprio Jesus repetia constantemente, quando os fanáticos e aduladores o chamavam de Deus ou Divino.
Admitindo como verdadeira a manifestação do espírito de Richard neste triste estado em que ele é apresentado pelo médium, provada fica a ignorância em que viveu como encarnado e depois como desencarnado, ignorância que também domina o médium ou médiuns e presidentes que supõem que, para se praticar o Espiritismo, basta invocar espíritos, esquecendo-se de que na atmosfera deste planeta se quedam milhões deles com as mesmas manias e vícios que possuíram quando encarnados, e que assistindo a criaturas de educação defeituosa, as vão avassalando dia a dia, até as levarem à obsessão (loucura) e à prática de atos que em bom estado psíquico condenariam.

Sobre os passes

Continuando, demonstraremos a mistificação, o precário estado espiritual de Richard, e o ridículo papel a que se presta uma mulher médium.
Continua a reportagem de A NOITE:

A moça morena, ao lado da senhorita Elisabeth, agitando-se, nervosamente, começou a chorar. O Sr. Figner levantou-se, passando a dar passes com as mãos espalhadas pelos cabelos, ombros e braços.”

Se Figner dá passes, é porque possui mediunidade desenvolvida; logo, por princípio algum, poderia presidir uma sessão espírita. Só isso dá uma demonstração clara da falta de conhecimentos sobre a prática do Espiritismo, e do que são as faculdades mediúnicas.
Essa comédia de passes é comum em todos os centros espíritas e até nas casas de família onde existem os chamados crentes. Uns, aplicam-nos, sem terem noção do que fazem; outros dão-nos, possuindo alguns conhecimentos sobre a vida odica ou anímica, e alguns, verdadeiros anormais, agem por velhacaria. Sensualistas inveterados, acobertam-se no manto evangélico da mediunidade, para ter o gosto de passar as mãos sobre os corpos de senhoras ou jovens, com que dão prazer aos seus sentidos bestiais, pois doutra forma jamais chegariam a tocar em tais criaturas, que os repeliriam, por serem no fundo honestas e terem pudor; mas, a continuarem a ser bafejadas pelo fluido animal desses médiuns e não médiuns, assistidos pelo astral inferior, podem ser levadas à perdição.
O astral inferior, ao serviço dessa gente, trabalha os espíritos das vítimas, avassalando-os e fazendo-os chegar a prestar-se a papéis degradantes.
As varas criminais, através dos processos que por elas correm, isso provam, deixando muitos casos de ser levados às barras dos Tribunais por neles estarem envolvidas criaturas de destaque social.
Antros de mistificação, casa de macumba ou feitiçaria, ainda que rotuladas de espíritas, são lugares perigosíssimos para o ser humano.
Numa diligência que o Major Aurélio Nogueira, como Delegado Regional da Polícia em S. Luís, deu em certa ocasião, num antro espírita, encontrou senhoras da alta sociedade maranhense completamente despidas, indo cada uma, por sua vez, a determinado lugar, a sós, com o “pai santo” ou de “serviço” para, deitando-se sobre riscos de giz, ser fechado o corpo, para as rivais em conquista ou feitiçaria não a poderem atingir.
Quanta baixeza! Quanta miséria!
Da prática dos passes e de tudo quanto diz respeito à magia negra, resulta, quase sempre, efeito contrário àquele que tais miseráveis exploradores da credulidade humana desejam para as desgraçadas pessoas que caem na tolice de aceitar tais coisas como terapêutica astral ou física, pois, sem exceção de uma só, ficam impregnadas de maus fluidos, e, como dissemos sujeitas aos avassalamentos provocados pelos espíritos obsessores que assistem, com verdadeiro gosto, a presidentes e médiuns viciados na prática do baixo espiritismo, vulgo magia negra.
De acordo com as leis naturais que regem o Universo, os seres humanos e tudo o que tem vida só podem dar o que possuem aquilo que, pelo seu livre-arbítrio e sentimentos, atraem para si e para os outros.
E para quem raciocinar queira ou possa, fácil é verificar que em geral os seres humanos, que dão passes e praticam o baixo espiritismo, são deformados físicos e morais, e se não se curam a si próprios, como poderão curar os outros?
A pessoa de olfato apurado, estando perto de uma dessas criaturas, ainda que bem vestidas, há de sentir certo cheiro desagradável e vontade de afastar-se do lugar.
É que essas criaturas, assistidas por falanges obsessoras, ficam com o perispírito impregnado de fluidos vários, que exalam odores desagradáveis, sendo o mais comum o que se assemelha ao do gás sulfídrico ou do alho esmagado.
Para ter-se um corpo físico são, preciso se torna trazer limpo o corpo astral.
Para que a vida anímica (fluido nervoso) de qualquer criatura possa estar limpa e apta a aliviar os sofrimentos alheios, é preciso ser ela esclarecida nos porquês da vida, saber, com absoluta certeza, que a composição do Universo é Força e Matéria (e não só a do Universo, como de todos os seres animados), praticar somente a verdade e ser valorosa, ponderada, moderada e justiceira.
Uma criatura assim, sem dúvida, não se presta a dar passes. Se é médium, desenvolve e pratica a mediunidade somente dentro de correntes fluídicas, como determina o Racionalismo Cristão.
O médium esclarecido é uma criatura que se impõe pelas suas virtudes, e nunca por excentricidades.
Não negamos que existam criaturas bem intencionadas em todas as seitas e no espiritismo religioso, mas a boa intenção não basta; é preciso luz espiritual, raciocínio clarividenciado, para o ser humano poder habilitar-se à correção de todas as suas fraquezas, dominação dos seus maus instintos, controle dos pensamentos, despojando-se de todos os que a consciência lhe apontar como inferiores, e desenvolvendo os puros, de amor à verdade e ao próximo.

Lodoros e “magna caterva

Continua, assim, a reportagem que estamos transcrevendo de A NOITE:

Asserenada a dama, voltaram todos a concentrar-se, e logo a senhorita E , dando ao rosto uma expressão que o deformava (não são poucas as senhoritas também fiteiras), curvou a fronte, abaulou as costas e, movendo os dedos no gesto de quem está fechando um cigarro, rompeu o silêncio numa linguagem de caipira ou preta-mina.
“Era, disseram-me depois, o espírito Lodoro (que é tido como guia protetor de toda essa gente baiuqueira), negro que, tendo sido escravo e havendo levado a comida a escravos fugidos, apanhara uma surra, a mando de seu senhor, que fora tamanha, que ficara caído no mato e morrer devorado pelos vermes.”

Como fingimento, para embasbacar bocós, essa manifestação é uma das de mais efeito que possui a magia negra, praticada em toda parte com rótulo de espiritismo.
Fingimento, sim:
1) Pela expressão deformadora do rosto da tal senhorita;
2) Pelo curvar da fronte e o abaular das costas;
3) Pelo romper o silêncio, numa linguagem de caipira ou preto-mina, que não deveria ser preto-mina mas preto vulgar, de origem africana, ignorante e subserviente, pois o preto da Costa da Mina é inteligente, trabalhador e até escravizador de outros pretos, chegando a ser patrão, sogro ou sogra de branco.
4) Pela denominação de tal espírito Lodoro, sua condição de escravo e pela sua morte mentirosa, porque nunca se matou escravo algum por haver levado comida aos “canhamboras” (corruptela de quilombos), pretos fugidos dos Quilombos (refúgio, guarida dos negros fugidos na mata virgem multissecular das fazendas), visto que o escravo era ouro e, por isso, não se atirava assim pela porta fora, como tivemos ocasião de ver em todas as fazendas paulistas e sul-mineiras, no tempo da escravatura, quando fomos abolicionista como os que mais o foram.
Esses médiuns e pais-de-mesa, sabendo quanto cala no espírito dos assistentes esse linguajar imitando o preto africano, ajeitam o rosto, o corpo e os movimentos desses africanos, mas tudo isso que significa?
Que provas, que exemplos de bem-estar e de moral trazem à humanidade? Ouvir um médium obsedado, espírito atrasadíssimo, inferior ou velhaco, que se diz atuado por espírito de preto, branco, caboclo ou santo, articular asnices num dialeto estúpido, grosseiro, resultará isso em algo de útil para quem quer que seja, salvo os especuladores baiuqueiros?
Absolutamente, não! Porque a ignorância dos espíritos atuantes, médiuns e magna caterva, só males produz.
Só o esclarecimento da Verdade, bem claramente explanada, beneficia moral e materialmente a humanidade.
Como tomar a sério tal gente e tais espíritos?
O estado psíquico desses seres humanos está de tal forma deformado, que não os deixa ver o ridículo dessas práticas de fetichismo.
Sentem prazer nessa vergonheira, nessa miséria de “arranjos de vida” e “cangamentos”, onde criaturas desprevenidas, desorientadas, vão para ver se arranjam casamentos, empregos rendosos, sorte, bons negócios, êxito nas conquistas amorosas etc., quando o que deviam fazer seria viver racionalmente, de fronte erguida, trabalhando, lutando contra os seus vícios e misérias, educando a vontade fortemente para o bem, a fim de conseguirem triunfar na vida, aperfeiçoando-se espiritual e fisicamente.
Todos os adeptos da lei do menor esforço, caminham para a decadência moral e material que se observa, para a triste vida que levam, para a tremenda loucura que por toda parte se faz sentir.

Mais absurdos

A senhorita Elisabeth dizia que a natureza está dividida em três reinos, e que ninguém os estuda ao mesmo tempo. Assim, não era aconselhável a mistura de pensamentos, que não combinavam em torno das mesmas ideias de pureza, mas que por essa mistura eram responsáveis os promotores daquela reunião.
Depois pediu que rezassem um padre-nosso para um remédio. Puseram água em um copo, colocado entre as mãos do médium, rezaram o padre-nosso pedido e envolveram o copo num papel, para ser-lhe dado o destino indicado pelo médium”.

Perguntamos: qual o proveito para quem tais lérias ouviu ou proferiu?
Absolutamente nenhum, nem mesmo a afirmativa de que a natureza está dividida em três reinos, o que toda gente sabe, mas ninguém estuda ao mesmo tempo, como disse o médium.
Por esse motivo, “que ninguém os estuda as mesmo tempo'“, disse não ser aconselhável “a mistura de pensamentos que não combinassem em torno das mesmas ideias de pureza”.
Ignorância crassa a do médium e dos espíritos que nele atuaram sobre o que sejam o pensamento e as leis que o regem.
Médiuns e presidentes desprevenidas aceitando tudo o que dos espíritos vem, sem dar trato ao raciocínio, tornam-se criaturas perigosas e fanáticas, do que resulta só atraírem males para si mesmos e para os outros que, incautos, os tomam a sério.
Não sabem o que são como Força e Matéria, vivem no mundo da Lua, querem passar por missionários, por criaturas fora do comum e, como resultado, caminham para a obsessão e a loucura.
Se conhecessem as leis naturais da vida, se sentissem a grandeza do Grande Foco, todos seriam equilibrados, trabalhadores, independentes e não se prestariam a representar papéis que indignificarn a espécie humana.
Sendo os pensamentos vibrações do próprio espírito e, como tudo o mais, sujeitos à lei de atração, impossível se torna dar-se a “mistura dos pensamentos bons com os pensamentos maus”, porque em virtude dessa lei, sabe-se, com certeza, que os similares se atraem e os contrários se repelem.
A “mistura de pensamentos contrários”, que esse médium ignorante afirmou ser possível e certo, não tem nenhuma possibilidade, por estar condenada pela lei de atração. Leis naturais são imutáveis, inalteráveis portanto, o que é contrário não é similar, e desde que o não seja, repelido está por natureza.
Num recinto em que estejam pessoas com pensamentos diversos, que jamais poderão ser misturados quando não são uniformes, vence a corrente de pensamentos emitidos por vontades fortes para o bem os pensamentos maus das demais pessoas, ainda que estas estejam em superioridade numérica.
E por essa razão ou princípio é que seis ou mais pessoas esclarecidas, em forte concentração numa Limpeza Psíquica, fornecem elemento atrativo ao Astral Superior, e este desavassala uma assistência até de mil pessoas. Nessa limpeza astral são dominados todos os pensamentos maléficos, provando-se assim não poderem influenciar os pensamentos maus sobre os bons e sim estes sobre aqueles, não havendo, por não ser possível, a mistura de pensamentos bons com os maus, e vice-versa.
A verdade só tem um caminho e uma explicação.
Todos devem esclarecer-se sobre os porquês da vida, para não darem lugar à ação dos embusteiros e exploradores.
Espiritismo é ciência, e por isso exige estudo, meditação e clarividência.

Fingimentos e mais fingimentos...

Provado temos que há grande ignorância por parte dos presidentes das sessões e dos médiuns, e muitos não são só ignorantes, mas também malfeitores inveterados, espalhando por toda parte, no Brasil e fora dele, os efeitos da magia negra, cuja sementeira de loucura é impressionante, dado o fato de quase todas as criaturas terem propensão para a crendice.
O misticismo tem enfraquecido demais o espírito humano que, desprevenido das coisas sérias da vida, não sabendo, não tendo base racional para a educação da vontade e controle dos pensamentos, deixa-se levar pelas correntes deletérias para uma vida de sobressaltos. Esses médiuns que pedem copos ou outras vasilhas com água para fazê-la rezada, como eles a chamam, só veneno podem espargir nessa água, isto porque venenoso é o fluido em que têm envolvido o seu perispírito, e além desse fluido os das demais pessoas presentes, porque ligadas pelo pensamento a tais médiuns, sabido é que todos estão compartilhando da sua assistência astral inferior.
Existe fluido neutralizador que suaviza males físicos e espirituais, mas que só pode vir até nós – os seres humanos – por intermédio de médiuns esclarecidos e de comprovada honradez, quando colocados dentro de correntes organizadas pelo Astral Superior, e então, sim, irradiando sobre a água, a tornam poderoso calmante e eficaz medicamento, por meio de compressas para dores agudas etc.
Sem a intervenção de médiuns também se faz a Água Fluídica, colocando-se vasilhas com água ao sereno durante a noite, e junto delas fazendo-se as irradiações ao Astral Superior e Grande Foco (vide folheto Limpeza Psíquica).
Com referência à sessão que vimos descrevendo, através do jornal que fez a reportagem, diz ele:

O Sr. Viana pediu ao médium que, por intermédio de Lodoro (cá está novamente o bichão-guia, de destaque nas “sessões espíritas”) consultasse o Dr. Lobão, ouvida a resposta, acrescentou a senhorita Elisabeth, ainda em nome de Lodoro, que o espírito da genitora do Sr. Vianinha estava presente para pedir-lhe que, no Natal deste ano, não se esquecesse da criança a quem vestiu no ano passado. Por fim, o médium anunciou que Lodoro ia retirar-se, para que se manifestasse o espírito de Antonio de Sousa.”

Leitor amigo, se vives calmo, equilibrado e possuis algumas noções da vida, tens que, como nós, dizer: “Cá está nova encenação, nova intrujice, conversa fiada, tudo para embasbacar o maior dos mistificadores, o tal Vianinha (já falecido), que mui naturalmente, como é de uso e costume nesses centrelhos espíritas, tendas, grupos ou outros nomes que tenham, “agradecer ao irmão-guia o haver-lhe dito algo em nome da pobre mãe.”
Então, um espírito já livre desta atmosfera, embora de categoria inferior, desce a dar recados dessa natureza a quem quer que seja?
Como são ignorantes!
Um espírito, depois de romper a atmosfera da Terra, só trata do que possa interessar ao progresso espiritual da humanidade em geral.
O espírito, já depois de ascender ao seu mundo de luz, não pode tratar de pessoas e sim de Princípios, que são leis comuns, naturais e imutáveis, não trata, em absoluto, de coisas materiais, de caridades, não aconselha a dar roupas e comidas a pessoa alguma, por ser isto função da vida terrena e não astral, e se pudesse admitir-se tal interferência espiritual, que valor teriam os seres humanos se, para praticarem um ato generoso, fosse preciso primeiro receber ordens do Além?
Embusteiros ridículos, ultra-ignorantes propositais, grandemente vaidosos, acobertam-se com o manto da humildade e da falsa caridade, pelo que caríssimo vão ter de pagar pelo mal que fazem aos espíritos, quer encarnados, quer desencarnados.
Trabalhar para acabar com os famintos maltrapilhos, organizando uma melhor sociedade que leve ao governo homens com noções claras do dever a cumprir para com o povo, sim, é o que deveriam fazer, para darem exemplos dos ensinamentos de Jesus que, praticados, não admitem indigentes, malandros, devassos, corruptos, nem famintos da alma e do corpo, pais o espírito vem ao mundo para lutar, trabalhar e vencer, e não para receber caridades. Espírito esclarecido basta-se a si mesmo, e se por quaisquer circunstâncias chega à invalidez, é a Nação quem tem o dever de acolhê-lo em estabelecimentos apropriados ou de superintender as suas necessidades físicas e espirituais no seio da sua própria família.
E tanto é esta a verdade que, levantando-se a questão social pelo mundo, foram criadas as Caixas de Aposentadorias e Pensões, as Institutos de Previdência, de Socorro Profissional etc.
No Brasil, foi A RAZÃO que, desde 1916, levantou eficaz campanha em prol das classes trabalhadoras. Mas sem mentiras nem demagogia.
Diz, ainda, o noticiarista:

“. . . a senhorita Elisabeth saiu docemente do seu transe . . .” (Tem muita graça, chegando a ser duplamente pilhérico esse transe do qual trataremos oportunamente).
“Concentram-se todos de novo, e passados quinze minutos, outro médium, depois de alguns movimentos bruscos, contraindo a face, protestou contra a violência que lhe faziam, trazendo-o àquela reunião”.

O presidente disse umas lérias, bancando o valentão da lenda sertaneja. Outro médium mistificador agitou-se, “raivoso”, e com a fisionomia de alucinado (é assim a de todos esses médiuns), rindo, asseverou:

“Hei de vê-la de rastros, miserável! Ah, infame! Então, estarei satisfeita!”

O presidente retrucou com outras lérias muito melosas, como é de praxe nos centros de magia negra, rotulados de espíritas, repletos de “pai celestial”, “de divino mestre”; mas o espírito e o médium não fizeram caso algum do sermão.
Aplicaram-lhe, diz o jornal, passes, e o médium sacudiu-se, de repente, e suspirou, voltando ao seu estado calmo anterior ao transe.
“Contaram-nos, diz o noticiarista, no fim da sessão, que no corpo desse médium estivera encarnado o espírito de uma sua amiga, com cujo viúvo ela, médium, casara, inspirando à outra sentimentos de vingança.”
Aí tem o leitor nova farsa, nova intrujice, uma das malandrices mais atrevidas que se conhecem em tais baiucas.
O médium, casada com o viúvo, para bancar a vítima junto ao marido e valer-se da profissão de jangadeira, fingiu atrair e receber um espírito ciumento, animalizado, inimigo seu, quando a verdade é esta:
Nenhum espírito de médium, por mais ignorante que, seja, recebe um espírito declaradamente seu inimigo.
As leis naturais opõem-se a isso, salvo quando o médium é pobre de alma e do corpo, covarde, louco portanto, completamente dominado pelo astral inferior.
Esse médium, porém, não estava em estado completo de loucura, isto porque, após os passes aplicados pelo presidente (tem graça o presidente a dar passes . . .) voltou logo a si, causando espanto aos basbaques esse fato.
Mas, admitindo que tudo isso fosse verdade, que lucraria a humanidade com essas coisas? Revelados foram ensinamentos que lhe trouxessem algum proveito? Deu-lhes certeza da vida bem vivida? Algum fenômeno científico foi observado?
Absolutamente, não. Logo, essas sessõezinhas só podem servir para obsedar as criaturas humanas, e obsedados terminam todos, realmente, quer praticantes, quer assistentes.

Explanamos a Verdade

Através do que vimos escrevendo sobre a organização e prática da magia negra, sob a capa de “sessões espíritas” nos centrelhos, em família e nos terreiros psiquicamente imundos, não pode o leitor supor que assim procedemos por despeito, porque se tal juízo vier a fazer de nós, demonstra estar lendo estes escritos com ideias preconcebidas, que toldam sempre o raciocínio, não o deixando ver com clareza, o alvo da verdade.
Criaturas esclarecidas, como somos, temos por dever de falar e escrever só o que sabemos ser verdadeiro, e, além disso, querer bem a toda gente, embora não nos misturando com aqueles que gostosamente persistem em andar no erro.
O que quer o Racionalismo Cristão das criaturas, que não seja arrancá-las da ignorância? Porventura haverá, ainda, quem o suponha uma seita a querer fazer crentes ou adeptos? Diante de tanta clareza naquilo que o Centro Redentor vai explanando e publicando, é de supor que as criaturas estejam convencidas de que ele não é uma seita, e muito menos mercenária como infelizmente fazem todas as que existem, com a ressalva de que se encontram nelas almas boas e bem intencionadas.
Com verdadeira independência, sem monetariamente precisarmos de quem chega ao Racionalismo Cristão, continuaremos o assunto da NOTA anterior, afirmando que essas práticas vulgares e perniciosas do espiritismo são obras de ignorantes das coisas sérias da alma, da vida na Terra e no Espaço, que levam, com ela, a ignorância, o descrédito e a desmoralizarão a tão bela Doutrina, desde que se veja nela a chave de todas as ciências, como bem dizia, no princípio deste século, o médico Pinheiro Guedes, em sua admirável obra Ciência espírita.
Nessa miséria rotulada de espiritismo, há criaturas aperfeiçoadas em prevaricações, em intrujar os incautos ou basbaques que os procuram, principalmente se forem criaturas que se mantenham em certo equilíbrio moral.
O noticiarista, tornando público aquilo que presenciou, possibilitou-nos estes esclarecimentos sobre as patifarias e sobretudo a ignorância crassa desses “pais e mães de mesa”.
A ignorância dos porquês da vida representa a seiva de que todos os exploradores da humanidade se alimentam. Não caminha com segurança quem andar com os olhos vendados.
Os que estudam o que o Racionalismo Cristão ensina têm muito em conta as coisas.sérias da vida e sabem preparar-se para enfrentar todas as lutas morais e materiais, das quais saem vitoriosos.
Quando toda gente for esclarecida sobre o valor do pensamento e da vontade, raciocinará com acerto, baseando tudo em causa e efeito – Força e Matéria – não se deixando mais iludir.
No dia venturoso em que estiver esclarecida uma grande parte da humanidade, incluindo aqueles que legislam e governam, as questões sociais e políticas serão resolvidas racional e cientificamente, tornando bem mais ameno o viver reste mundo.
Sem os conhecimentos racionais da vida, sem o acesso à instrução e educação racionais e científicas a todos os viventes humanos, nada conseguirão os governos, as autoridades e o povo em geral, que continuarão a construir hoje para destruírem amanhã, porque o elemento perturbador de tudo é a ignorância da verdade, com o que é atraído o astral inferior, que tem instrumentos aos milhões por toda parte para a prática de animalidades, de torpezas e desordens, quer nos lares, quer fora deles, atuando em todas as atividades humanas: política, lavoura, indústria e comércio, classes civis e militares, universidades etc.

Cartas a Gustavo Macedo (I a XLV)

I

Meu caro Gustavo Macedo, meu adorável Frei Solanus e frade de todos os tempos.
A NOITE, de 15 de janeiro, na sua reportagem sobre o que se passa ''No Mundo dos Espíritos”, tratou de ti, meu caro Gustavo, da tua Cruzada Espírita, do que se passou e, naturalmente, continua a passar-se no Abrigo Teresa de Jesus.
E onde se propagam os tais caboclos que fazem ressuscitar cadáveres, assim classificados pela ciência oficial, da qual tratarei em ocasião oportuna; e de ti, meu Gustavo, diz o referido jornal o que se segue:
“O Sr. Gustavo Macedo, depois de felicitar a Senhora Ivete pelos êxitos de sua missão a Pernambuco, falou sobre o resultado das preces realizadas naquele Centro, e anunciando a sua viagem a São Paulo, narrou, a propósito, casos que emocionaram o auditório, e, entre eles, um de transfiguração ocorrido em uma das casas mais ilustres dessa capital.”
“Perante essa família de nome glorioso – contou o Sr. Gustavo Macedo – vira o Sr. Lameira de Andrade, vencido pela angústia de uma mãe sofredora, cair em transe (cá está o tal transe dos baiuqueiros) e, fisicamente, transfigurar-se num jovem falecido há pouco mais de um ano, sendo tão completa a transformação, que a aflita mãe, abrindo os braços, exclamou:”
      “É meu filho!”
“Rematando o seu discurso, o Sr. Macedo anunciou que após a música devocional que prepara as almas para a ‘unção da prece final’, esta seria feita pelo doutor Florentino.”
“A harmonia de um violino tocado pela senhorita Iara, encheu o espaço de inefáveis vibrações sonoras; e quando, ao suspirar a última nota, se abriram os olhos que se haviam quase todos cerrado, o Dr. Florentino, erguendo-se, assinalou os pontos da prece que deveriam merecer maior atenção e mais esforços de concentração, para mais eficaz irradiação de pensamentos.”
“Foi longa, ardente e mesmo eloquente a prece, ouvida com atenção religiosa.”
“Abraçou, em seu desenvolvimento, as pessoas presentes e os seus amigos ausentes ou mortos, os nomes inscritos num livro especial de preces, os que sofrem na Terra e os que disse padecerem no espaço, e, demoradamente, o Sr. Viana de Carvalho e o Vigário de Pernambuco, de quem falara a senhora Ivete.”
“Finda, com a prece, a sessão, onde supomos não haverem manifestações de espíritos desencarnados, como também não os houve, supomos nós, no Abrigo Teresa de Jesus, instalado à rua Visconde de 1bituruna etc.”
Essa transcrição que aí fica, meu prezado Gustavo, leva água no bico, como vulgarmente se diz, especialmente as palavras grifadas por nós. Ao mesmo tempo é essa transcrição feita para provar ao leitor destas cartas que tu não deves ser confundido com a magna caterva de mistificadores, saco de gatos praticantes da Magia negra, com denominação de Espiritismo.
Desejo ardentemente que os amáveis leitores te não tornem conivente com tal gente da magia negra disfarçada, na fábrica de loucos e de outros males que atingem a todos aqueles que os tomam a sério.
Que te tomem como místico, como Frei Solanus, no fundo, embora na forma o não pareças, é também o que eu desejo, porque é mil vezes preferível esse “fradejar”, do que parecer, embora ligeiramente, espírita em provação, da primeira ou última hora.
Quero-te assim mesmo, para melhor e mais à vontade poder palestrar contigo sobre toda essa “família espírita”.

II

Confirmo-te, meu caro Gustavo, a minha carta de ontem, e antes de tratar das palavras grifadas:
a) ressuscitar cadáveres pelos caboclos do Abrigo Teresa de Jesus;
b) “missão” a Pernambuco da mui respeitável senhora D. Ivete;
c) as preces realizadas na tua Cruzada;
d) um caso de transfiguração em uma das casas “mais ilustres” de São Paulo;
e) o cair em transe do médium Lameira de Andrade, “vencido pela angústia de uma mãe sofredora”;
f) o sofrimento de uma mãe por perder um filho;
g) a música “devocional” que prepara as almas “para a união da prece final” na tua Cruzada;
h) o esforço de concentração para mais “fecunda” evolução de fluidos e reais eficaz irradiação de pensamentos;
i) a atenção religiosa;
j) as preces pelos que sofrem na Terra e os que padecem no espaço, demoradamente, proferidas pelo Sr. Viana de Carvalho e pelo Sr. Vigário de Pernambuco, que tanto atrapalhou aquele na sua arenga sobre o “espiritismo” que adota, do qual é ele o sabiá coleira de mais cotação, antes disso preciso se me torna explicar o porquê destas minhas cartas a ti dirigidas.
Resolvi palestrar contigo, meu caro Gustavo, porque se tens prazer em “fradejar” as tuas atitudes, ditas por ti espiritualistas, e assim dar às tuas “pregações” um fundo e uma forma mont’alvernianas, bem fradescas, portanto, bem tuas, meu Gustavo, também eu tenho prazer em conservar o meu velhíssimo hábito, que hoje os novos denominam de velharias, de correspondência epistolar que a vida moderna, transformando tudo para o almofadismo e para o nu também põe de parte, para dar lugar aos telegramas, aos postais ilustrados, ao telefone, pelas simples declarações nos jornais e agora o sistema perigoso do “sem fio”, que tudo está devassando.
Assim, por este velhíssimo sistema epistolar tão usado e amado pelo nosso incomparável mestre, Padre Antonio Vieira, pelo Cavalheiro de Oliveira, no século XVII (vide suas Cartas da Holanda), Padre Gusmão e muitos outros do século XVIII, pode minh'alma, muito amiga da tua, mostrar aquilo que de fato é, e não o que parece ultra feia, atrevida e má, como a consideram todos os feiticeiros, todos os ridículos praticantes dessa torpeza que eles denominam “Espiritismo.”
Apraz-me, agora, meu caro Gustavo, como explanador dos Princípios Racionalistas Cristãos que têm por base a Verdade, palestrar contigo, assim epistolarmente, porque desejo que os papas do tal “espiritismo” fiquem sabendo que cada um tem, neste mundo, aquilo que merece e a que faz jus pelos seus pensamentos e obras, conforme o uso que faz de seu livre-arbítrio.
Não quero que te confundam com os espíritas em provação, porque esses, além de sujos, quase todos, nas vestes, têm a alma em petição de miséria, também sujíssima pelos Ismaéis, Urubatãs e magna caterva que os dominam.
Quero que saibam que tu és, de fato, um alto funcionário da Prefeitura do Distrito Federal, pagador da mesma, há muitos anos, sem que os milhares de contos que têm passado pelas tuas mãos tenham tentado a tua alma; és um publicista de valor, um cronista admirável, autor de um livro que denominaste Profissão de Fé.
Possuis, pois, qualidades dignas da minha estima e da consideração e respeito de todas as pessoas que amam a honradez, embora só material.
Além disso, és um marido exemplar, tens um lar digno de ser imitado, no qual impera e domina uma rainha cristã que é a tua virtuosa esposa, bem digna da estima e respeito que lhe tributas e que, sempre ao teu lado, te dá a rara felicidade de possuíres duas almas boas, uma que te deve acompanhar em corpo astral, e outra em corpo carnal, que é ela, essa adorável esposa e mãe.
O resto, meu Gustavo, fica para as outras cartas.

III

Expliquei bem claramente, meu caro Gustavo, na minha carta anterior, os motivos que tenho para destacar-te dos outros homens que se dizem “espíritas” e que não passam de intrujões, ultra-ridículos, indignos da consideração e respeito que somente se devem a quem tem uma folha corrida limpa e é capaz de algo de bom fazerem benefício da humanidade.
Compreendes bem que o homem não pode separar a sua pessoa do cargo que exerce, seja qual for, e por isso torna-se homem público, para todos os efeitos, e como tal está sujeito a ter os seus atos comentados por quem quer que seja que possua raciocínio para isso, e tudo o mais que possa beneficiar a todos com quem houver de tratar.
Cada ser humano deve ter um encargo, um ideal nobre que o possa valorizar na Terra e no além, sem o qual, tu bem o sabes, não pode haver progresso moral (espiritual), que é o único que interessa verdadeiramente a todas as almas e portanto, às partículas do Grande Foco.
Por assim ser, meu caro Gustavo, é que se afirma, com certeza absoluta, que cada ser humano é um instrumento incitado por uma partícula da Força, também denominada Inteligência Universal, e por essa partícula movimentado na Terra para o bem ou para o mal, conforme a educação da sua vontade e o uso que fizer do livre-arbítrio.
Assim tomado o ser, ninguém lhe deve querer mal por explanar princípios errados, por praticar atos animalizados reprovados por toda gente, até pelos mais prevaricadores. Antes, deve-se doutriná-lo, para que acorde pelo esclarecimento que lhe é ministrado, e se torne um instrumento do bem e não um desgraçado do mal.
Quer isto dizer, Gustavo, que as criaturas esclarecidas, como instrumentos inconfundíveis da Verdade, não individualizam as questões e não combatem os homens, mas o que estes fazem de errado em seu próprio prejuízo e do semelhante.
No caso do Racionalismo Cristão, as pessoas contrárias aos Princípios que explano colocam-se em oposição à Verdade, consciente ou inconscientemente, e tornam-se, sem o querer ou saberem, instrumentos das mentiras e crimes que se vêm praticando em toda parte.
É assim que devem ser encaradas estas cartas, visto conterem os Princípios Racionalistas Cristãos que devem remodelar o mundo no tempo próprio, e dos quais sou instrumento, como o podem ser outros incontáveis que, de boa vontade, se dispuserem a explaná-los e praticá-los.
Para nós, racionalistas cristãos, tem a criatura uma importância mui relativa, que não vai além do valor de um instrumento variável que, para ser de fato bom, útil a si e aos outros, precisa ser:

1) valoroso e capaz de todas as lutas a bem do todo;
2) moderado em todos os seus atos;
3) ponderado no dizer, e que nada afirma sem prévio exame e certeza absoluta da verdade;
4) justiceiro, e ninguém o pode ser sem conhecer e praticar os três outros princípios que, com este, constituem, de fato, o homem verdadeiramente honrado.

Concluindo esta, meu caro Gustavo, quer o seu conteúdo dizer que não é de ti somente nem de mim, e muito menos desses praticantes ridículos da magia negra que o Centro Redentor está tratando, e sim de Princípios que devem tornar a humanidade melhor e o mundo mais suportável.
Terminando, pois, faço votos para que a tua querida alma possa aceitar as irradiações de muito carinho e verdadeira estima que te tributa o sempre, muito teu.

IV

Postas assim as coisas nos seus devidos lugares, conforme o exarado nas minhas cartas anteriores, vamos, caro Gustavo, às palavras grifadas na penúltima.
Quando o noticiarista de A NOITE tratou da tua Cruzada Espírita, também tratou do “pregador” que no “Abrigo Teresa de Jesus” afirmou que os “caboclos” que imperam, que dominam o Centro Espírita “Nossa Senhora da Piedade” ressuscitaram uma jovem morta, um cadáver, portanto, já assim atestado por um médico de fama, em Niterói etc.
Nessa ocasião, dito “pregador” de ontem, de hoje e de sempre, como todos os outros dominados pelo misticismo, tratou do “feitiço” e da “magia” para, então, bem desenvolver essa sua especialidade e tratar do valor curador e “ressuscitador” dos tais “caboclos”, filhos das selvas.
Foi pena que dito “pregador” não concluísse essa história de “ressuscitar cadáveres” com “caboclos”, dando-se ares de Jesus que, apesar da sua grande pureza, nunca ressuscitou cadáveres, por ser tal coisa contrária às leis naturais que tudo regulam.
Devia concluir a encenação do tal Centro Espírita “Nossa Senhora da Piedade”, que pela denominação não se perca, dizendo:
– “Respeitável assistência! Esse fenômeno de ressuscitar uma donzela em Niterói, é uma das muitas intrujices astrais sempre feitas de acordo com os médiuns. A moça, respeitáveis basbaques que me ouvis, não morreu atuada pelos espíritos inferiores que a maltrataram e dominaram o seu espírito, para assim lhe lançarem no corpo fluidos danificadores que produziram a morte aparente, para embasbacar os basbaques; e depois de o haverem feito, voltou o espírito da jovem a incitar o seu corpo, após liberto da ação danificadora dos tais caboclos, produzindo-se então “o espantoso milagre” da ressurreição do seu cadáver.”
Depois, devia o dito pregador afirmar: “Amáveis basbaques, serve isto unicamente para provar-vos que tudo nos vem de fora e vive fora de nós, e que as forças ocultas acionam e dominam as criaturas, conforme a sua vontade e educação; por esse motivo, a moça de Niterói, fraca de vontade e já “trabalhada” na feitiçaria da caboclada, tornou-se um magnífico instrumento de ditos caboclos, que agora não só são senhores absolutos dela, como do pai e de todos que tomarem a sério tal intrujice.”
E concluindo: “Também serviu esse fenômeno de franca obsessão, de pleno domínio de uma jovem pelo astral inferior para provar a inexperiência do médico que passou o atestado de morte sem maior pesquisa, sem ao menos colocar a mão em qualquer parte do corpo da jovem atuada, para convencer-se de que o mesmo estava repleto de vida anímica (fluido nervoso), e que enquanto esta existir, ligada às moléculas, ao corpo em geral, não se pode dar a morte. O fenômeno pertence ao número daqueles, portanto, que os médicos denominam “morte aparente”.
A morte do corpo só é real, ilustres intrujões e mistificadores, quando a vida anímica (fluido nervoso) se desagrega de todas as células, o sangue coagula e o corpo (a matéria organizada) fica totalmente frio e inerte.
Mas o dito “pregador” preferiu quedar-se no sobrenatural, no milagre, a explicar o que já se conhece a respeito e se acha exarado nas obras do Centro Redentor.

V

É oportuno, meu caro Gustavo, visto estarmos com a mão na massa da caboclada, desenvolver o assunto sobre os tais “guias” que por toda a parte do Brasil, e mais especialmente nesta capital, chegaram a ganhar foros de coisa séria, de verdade em força astral, em proteção a basbaques.
Preciso se torna, pois, que leias, com a devida atenção, o que se segue, para bem poderes ajuizar as torpezas, as especulações que se fazem em nome dos pobres selvagens, que ao meio civilizado nunca chegaram, porque não podem vir, como verás.
Quando um “pai-de-serviço”, de mesa ou de sessão quer valorizar a sua sessão, a sua baiuca, espalha aos quatro ventos que os seus “guias” são caboclos, silvícolas brasileiros, chefiados por Urubatã, Pariparoba, Junco Verde e outros nomes estapafúrdios.
É esse o melhor anúncio para arranjar freguesia de incautos.
Atrás de tais “protetores astrais” correm logo as melindrosas que querem casar ou arranjar um amante rico; as mulheres casadas que, “fartas” dos maridos, preferem ser meretrizes ocultas; os empregados públicos, com pretensões a acesso ou gratificações; os comerciantes quase falidos, para endireitarem as suas finanças; o advogado, para vencer as suas demandas; o político, para cangar e vencer o rival, ou ainda o dirigente local, que deseja as graças do mando central, o domínio político absoluto na sua jurisdição, e demais pretendentes a coisas privadas desonestas.
Por assim ser é que o ex-pregador do respeitável Abrigo Tereza de Jesus fez na sua arenga, o elogio dos tais caboclos, como guias de tais “centros”, como ressuscitadores do cadáver de uma filha querida de um comerciante abastado, como é preciso que sejam todos os pais, para garantirem aos tais “centros” uma renda maior.
No entanto, meu caro Gustavo, é preciso que te diga, e que todos saibam, que os tais caboclos-guias são pura mistificação, uma torpe intrujice do astral inferior, dos médiuns deste e dos tais “pais-de-mesa”, presidentes dessa magna caterva que os aplaude.
Assim é, porque as leis naturais e imutáveis não permitem, em absoluto, que as forças astrais contrárias em sentimentos se aproximem, se unam umas às outras, que um espírito selvagem, animalizado, fraco, sem o menor conhecimento das coisas civilizadas, venha trabalhar nos meios civilizados, seja no que for e para o que for.
Se o pobre diabo em vida carnal não pôde sair das selvas, e nelas se quedou até desencarnar, vivendo, apenas, a vida instintiva e, assim, das coisas que interessavam somente ao corpo, à satisfação da matéria organizada, como é que depois vem, garboso, com conhecimentos humanos que nunca possuiu e força física que nunca teve, superior à do branco ou do mestiço, combater os outros espíritos de jesuítas, doutores e soldados?

VI

Antes de continuar a provar que os selvagens das Américas, os tais “espíritas em provação” denominados caboclos, e da África etc., não se podem manifestar em parte alguma do que se denomina mundo ou sociedade civilizada, preciso se torna tratar da psicologia, do seu real significado, para assim bem claro se tornar o estado espiritual desses que de racionais somente têm a forma.
Por isso, toma boa nota do que te vou dizer como instrumento racionalista cristão, repito, e assim, das forças ocultas superiores, sobre o “porquê” de coisas que elas explanam, com certeza absoluta, para esclarecimento da humanidade.
Dentre as suas inúmeras invenções, filhas da vaidade e do egoísmo do homem, estão a palavra “psicologia” e outras, suas derivadas, que correm mundo como sinal, como marca de sabedoria e de erudição por parte dos que as empregam no seu rabiscar de ignorância e de maldades.
Essa palavra “psicologia” foi inventada para tratar da alma pelos tais sábios que nós, honrando o nosso grande Júlio Ribeiro, denominamos sábios, a titulo negativo...
Assim, também nós, os racionalistas cristãos, usamos a dita palavra. Entretanto, do que ela absolutamente não trata é da alma, isto porque da alma não têm eles – os eruditos, os que tal palavra têm empregado – noção, visto que a base dos seus conhecimentos é o átomo, que é matéria, embora jamais visto nem cheirado por eles. E a alma não é matéria.
Todos, inclusive tu, meu Gustavo, os frades de todas as ordens e os sectários das diversas seitas em geral, ignoram o que seja a composição do Universo e desconhecem a sua própria composição, como ignoram o que é a Força em si, primacial princípio componente do Universo e do ser humano, que é o universo em miniatura, por ser composto de Força, ou Inteligência, e Matéria – os dois únicos elementos que no Universo existem a organizar, incitar e movimentar corpos, quaisquer que eles sejam.
Desconhecendo, assim, o que seja a Força ou Inteligência Universal, nada podem eles dizer com acerto, e muito menos de psicologia, da qual pouco entendem, até que se disponham a estudar, bom afinco o desprendimento, o que seja a Força em si e, assim, a alma de todos os seres.
Tratando, pois, da partícula da Força que incita e movimenta os corpos, que denominamos alma, tratamos da completa, da verdadeira psicologia humana para, desse tratar, poder o leitor tirar conclusões certas e seguras do estado espiritual de cada vivente humano, e assim poder concluir, com verdade, que de fato a alma existe e que as leis naturais, às quais está sujeita, são as mesmas que governam o Universo.

VII

Em continuação, dir-te-ei, querido Gustavo, que as partículas da Inteligência Universal, que o vulgo denomina “almas”, são a vida que se acha em todos os reinos da natureza, como o Centro Redentor demonstra e prova na sua obra denominada A vida fora da matéria.
Essas partículas da Inteligência Universal que, em obediência a leis naturais e imutáveis, incitam e movimentam os diversos reinos da natureza, estabelecendo a vida em todos os mundos, em todos os corpos, em todos os seres orgânicos e inorgânicos, desde a pedra aos metais, aos vegetais, aos animais e ao gênero humano, estão em constante ascensão para a luz, para a sua fonte de origem, que é o Grande Foco incitador de tudo quanto existe.
Assim, vão elas, essas partículas, passando por todos os corpos dos reinos da natureza, em evolução, em constante purificação, e assim, cada vez mais aumentando a sua luz, a sua Força, para o final cumprimento do dever, que é confundir-se com a luz de onde partiram para este e outros planetas.
É, pois, claro e certíssimo que quando ditas partículas chegarem a organizar, incitar e movimentar corpos humanos, já têm grande progresso feito, já fazem parte das Forças de categoria verdadeiramente racional, e, como tais, com inteira responsabilidade dos seus atos e pensamentos, que as fazem caminhar neste mundo sem que para os seus atos reprováveis possa haver desculpa, contemplação e muito menos perdão, por serem racionais, responsáveis por tudo quanto fazem de bem ou de mal.
Pelos diversos povos da Terra e suas raças, verifica-se a variação das categorias espirituais de cada povo, de cada nação, de cada agrupamento humano.
Por esse estado do gênero humano fácil se torna a demonstração do que dito fica e que os povos ditos selvagens, apesar de humanos nos corpos, são ainda espiritualmente mui jovens, e assim, mui atrasados em raciocínio, vivendo mais pelo instinto, do que racionalmente.
Sendo certo que todas as partículas da Inteligência Universal, seja qual for o seu estado, estão, como tudo, sujeitas às leis comuns e naturais, às leis do progresso, que se fazem facilmente sentir desde o reino vegetal ao animal, não se podem elas confundir umas com as outras, especialmente quando fora da matéria, porque, em virtude das ditas leis, os similares se atraem e os contrários se repelem.
Quer isto dizer que a alma de categoria A nunca está bem com a de categoria B, nem esta com a categoria C, e assim por diante, e que só pode haver, e há, de fato, tolerância, – não mistura – nas categorias superiores para com as outras, porque elas são as verdadeiramente desprendidas das coisas e glórias da Terra, praticantes de uma democracia verdadeiramente racional e científica, e não dessa coisa infecta e vil no fundo, a que o grande parlamentar baiano, que se chamou Cesar Zama, denominou de “canalhocracia” (vide suas cartas a Latino Coelho).
Essas categorias de espíritos agem, pois, na Terra e na atmosfera desta, de acordo com o seu adiantamento, e assim, como a sua categoria espiritual, e não como querem os ignorantes “civilizados”, os sectários de todas as seitas e os “eruditos” vários.

VIII

De acordo, pois, com os princípios exarados nas minhas cartas, e especialmente nas últimas, fácil se torna, meu caro Gustavo, compreender e concluir que os espíritos dos selvagens, conhecidos pela denominação de caboclos, que lhes dão os tais “pais-de-serviço”, ou da “magia negra”, enfim, não podem vir aos centros civilizados, nem prestar-se, portanto, a trabalhos ditos espíritas, porque:
1) A sua categoria espiritual é inferiorissima, o seu viver é todo instintivo e animalizado e, assim, sujeito às mesmas leis que regem a evolução dos irracionais;
2) não possuindo o raciocínio desenvolvido, não conservam, após a desencarnação, os mesmos hábitos e vícios da maioria dos espíritos civilizados, nem os mesmos desejos intemperados destes;
3) não possuindo tal raciocínio para o mal, tais desejos intemperados de vingança, fácil se torna ao Astral Superior afastá-los das selvas, da atmosfera da Terra, e encaminhá-los para os mundos a que pertencem;
4) para conseguir a partida para fora da atmosfera da Terra, afeitos como todos estão à obediência cega aos seus superiores, é bastante para que um espírito esclarecido, ao serviço do Astral Superior, encarregado desse trabalho, se lhes apresente em corpo astral com a figura de seu chefe, do seu superior e que eles o reconheçam como tal, para que, com raras exceções, após a desencarnação o acompanhem para fora desta atmosfera, e assim para o mundo a que cada um pertence.
É claro que a projeção da figura astral de chefe selvagem só podem engendrar os espíritos superiores e esclarecidos, capazes, portanto, de irradiar os dialetos de diferentes tribos, o que não pode fazer um espírito da atmosfera da Terra, um obsessor, mistificador de corpos astrais, que ignora tais dialetos e como reproduzir o corpo astral do chefe selvagem, ao qual todos obedecem cegamente.
Por assim ser, raros são os espíritos selvagens que se quedam na atmosfera da Terra, e os poucos que assim não procedem, que não se deixam facilmente conduzir, nunca podendo vir assistir ou trabalhar em meios civilizados, pois os contrários se repelem como os similares se atraem, e eles se achariam deslocados em tais meios.
O mesmo se tem dado com espíritos de pretos verdadeiramente africanos que desencarnaram fora das suas selvas, nos lugares onde foram escravos nos países civilizados, e ficaram ao serviço das Forças Superiores (Astral Superior) para a produção dos fenômenos denominados de efeitos físicos, dirigidos por um preto feiticeiro denominado Meganga (Mestre) ao qual, já quando encarnados, respeitavam e obedeciam cegamente.
Por sua vez, este Meganga, quase sempre preto e de idade avançada, quando encarnado é subordinado a um mentor da sua confiança, ao qual é obrigado a obedecer a sua falange, a turma que lhe está subordinada.
São estes os espíritos que se prestam para a produção dos fenômenos denominados de efeitos físicos, sendo que para tais trabalhos é preciso que o mentor, por intermédio do preto velho, o Meganga, os conduza aos meios civilizados e os obrigue a atuar nos médiuns afins à sua espiritualidade ou a estar entre eles, para, com o auxílio do fluido e da assistência destes, poderem produzir o que lhes for ordenado pelo Astral Superior.

IX

Em continuação à minha carta sob o número VIII, dir-te-ei, meu caro Gustavo, que é grande o medo e a repulsa que os espíritos dos africanos sentem pelos meios civilizados onde devem produzir ditos fenômenos, e por assim ser é que, por vezes, tais trabalhos falham, não se realizando completamente.
O primeiro trabalho, pois, a fazer, é acostumar ditos espíritos com os médiuns e a assistência civilizada, para que eles não fujam e não preguem partidas aos médiuns e à assistência.
Somente estes espíritos africanos menos atrasados que os silvícolas da América, podem servir para os trabalhos de efeitos físicos, porque com o seu fluido materializado como o de qualquer encarnado de espiritualidade inferior, não sofrem com a materialização necessária à produção desses efeitos; ao passo que um espírito de outra categoria, embora da zona opaca, não poderia suportar tal materialização e produzir tais fenômenos.
Já é grande o sofrimento por que passa um espírito habitante de um mundo superior para vir até nós em corpo astral, branco, diáfano, que vem engendrando com o fluido dos mundos que lhe são inferiores, até chegar às correntes fluídicas do Centro Redentor e suas Filiais, quanto mais materializar-se, para produzir ditos efeitos físicos.
Desta parte nunca tiveram conhecimento os cientistas oficiais experimentadores; e daí o acreditarem como de espíritos superiores os fenômenos que verificaram. A mesma coisa aconteceu ao Figner, no Pará, com a tal materialização da filha.
Tudo o que aí fica, meu caro Gustavo, o Astral Superior explicou claramente na obra Racionalismo Cristão, e só se enganará quem quiser. Mas demos de barato que assim não seja, somente para argumentar e mais fácil se compreender a categoria de ditos espíritos; admitamos que de fato eles pudessem estar entre nós e agir como civilizados. Ainda nesta hipótese, qual o benefício para a humanidade e até para os praticantes de tais trabalhos?
Qual o valor espiritual desses infelizes, em nome dos quais tanta miséria e torpeza se vem praticando e continua a praticar?
Absolutamente nenhum, porque:
a) o valor psíquico do ser humano, a força e o vigor que o animam para as lutas individuais ou coletivas, são filhos do próprio espírito que organiza, incita e movimenta o corpo carnal;
b) tal força e coragem individual não podem ter o selvagem e o africano de inferior espiritualidade, bem como a Força incitadora de seu corpo;
c) a prova está claramente demonstrada na história dos povos atrasados, especialmente na história da colonização da África e das Américas, em que as lutas dos nativos, dos selvagens só eram, como continuam a ser, à traição, agindo eles como quem caça feras ou animais das florestas.
Os selvagens, em geral, só se apresentam em campo raso para enfrentar os civilizados, quando estes são em muito menor número.
É o que por hoje me é dado dizer-te, pedindo-te que continues a acreditar na real estima do teu amigo.

X

Além do exarado em nossas últimas cartas, dir-te-ei mais, meu caro Gustavo, que o corpo físico do selvagem, mesmo musculoso, é, em geral, inferior ao do homem civilizado; e quando mesmo essa parte da matéria organizada fosse mais bem conformada e nutrida do que a do civilizado, o que é impossível, em virtude das leis naturais, não poderia ele vencer, porque lhe faltaria, como falta, a força motora, o vigor psíquico em quantidade e pureza precisas para tanto; porque:
a) a máquina humana (corpo carnal), age qual couraçado ou locomotiva, que só são possantes e vencedores quando o vapor gerado nas caldeiras é forte e na quantidade precisa;
b) no ser humano dá-se ainda que, além da força espiritual, do adiantamento da alma, é indispensável uma forte e constante educação da vontade para vencer os instintos, os maus hábitos e a indolência, a fim de que a Força (alma) cada vez mais se fortifique pela luta e o estímulo que a obriga a raciocinar, com acerto, para vencer, elementos que faltam, em absoluto aos selvagens.
Como, pois, meu caro Gustavo, dar aos africanos e aos caboclos (selvagens) qualidades, embora materiais, para a luta, se eles, de acordo com as leis naturais que tudo regem, tal força, tais qualidades de lutadores não podem ter?
Como ainda atribuir a ditos espíritos qualidades de vencer, doutrinar e proteger, que só cabem a espíritos adiantados e já fora da atmosfera da Terra?
Não se observa, raciocinando um pouco sobre o que aí fica, ser impossível tal coisa, por estar fora das leis naturais, e assim não ser racional?
A tudo que aí fica, responderão os tais médiuns videntes que funcionam em sessões de feitiçaria ou assemelhadas:
“Não é verdade o que afirmais, racionalistas cristãos, porque nós, médiuns videntes, vemos os ditos espíritos de caboclos em seus corpos astrais, enfeitados à sua maneira e com os mesmos gestos, fala e esgares que usam nas tribos, quer em tempo de paz ou de guerra, e como assim o vemos, assim os descrevemos aos nossos pais-de-mesa, pai-de-serviço e assistência.”
Ninguém que saiba raciocinar e estude, com critério, a vida fora da matéria organizada, e assim a Força, pode negar esse fato de médiuns videntes verem caboclos (selvagens) nas suas sessões, mas os vêem somente no seu corpo astral, e não na sua categoria de espíritos adiantados, movimentadores de corpos de civilizados, que são esses mistificadores.
É real essa visão dos médiuns videntes, por mais imperfeitos e viciados que sejam, visto que a vidência, como já dissemos, têm-na o cavalo e o próprio cão, e é, em geral, no ser humano prova de fraqueza espiritual; mas sendo real a forma (corpo astral) do selvagem, não é o seu fundo, por tratar-se de uma mistificação que explicaremos na próxima carta.
Até lá, meu Gustavo, faço votos para que te aproveite o exarado nas cartas anteriores, e nesta.

XI

Em continuação à minha carta sob o número X: É sabido, meu Gustavo, e nas obras do Centro Redentor está amplamente explicado, que o espírito desencarnado, e mesmo o encarnado em desdobramento (o espírito desdobra-se quando o corpo dorme ou quando, mesmo acordado, o ser se concentra), faz da matéria cósmica (fluido) em que está envolvido e se acha à sua disposição em outros corpos, tudo quanto lhe apraz, tudo quanto julga preciso para satisfação dos seus desejos ou do que lhe for determinado pelo Astral Superior, quando ao serviço deste.
É certo também que na aura dos encarnados se refletem as imagens do que eles pensam, sendo, portanto, a aura o espelho da alma, através do qual tudo é observado por qualquer espírito da atmosfera da Terra, por mais inferior que seja.
Em virtude destes princípios inalteráveis como as próprias leis naturais que os regem, os espíritos, especialmente os obsessores, velhacos, conscientes do mal que fazem e para que o fazem, transformam-se no que lhes apraz, desde o animal mais repelente, ao corpo astral belo ou disforme de qualquer criatura.
Assim sendo, os espíritos obsessores velhacos que imperam nas tais baiucas, transformam-se em caboclos, negros africanos etc., quando lhes apraz ou convém ao seu Centro; ao crédito do seu presidente ou correspondente ao desejo do médium em quem vai atuar etc.
Desde que a freguesia do seu antro gosta de caboclos, por ter mais confiança neles, é claro que esse desejo se manifesta na aura de cada um desses basbaques, e o espírito velhaco, o chefe astral do antro, ordena que toda a falange ao serviço do dito antro, engendre o corpo astral de selvagem, de caboclo, e dance e faça esgares como esses, para que o médium vidente assim os veja e ateste as suas presenças.
Quase sempre, quem assim se transforma em caboclos e negros são espíritos de relativa espiritualidade; e tanto esses como os seus parceiros tudo fazem para que o seu antro se torne o primeiro entre os primeiros em feitiçaria e perversidades.
Aí têm os tais médiuns videntes e os apreciadores de caboclos, a explicação racional dos corpos astrais desses caboclos que eles, médiuns, vêem, mas que não são caboclos em espírito, porque o não podem ser, conforme acima já explicamos.
O que aí fica por todos pode ser sabido, desde que queiram ler as obras do Centro Redentor e raciocinar sobre tudo o que lerem. Todavia, esses infelizes praticantes da magia negra e os seus médiuns materialistas, mesmo videntes, preferem ser ignorantes propositais e seres animalizados, a aproveitarem o tempo, estudando os “porquês” das coisas e raciocinando sobre os fenômenos que se lhes apresentam.
Procedem como irresponsáveis, enlouquecendo-se uns e outros, e por isso o Racionalismo Cristão afirma que “cada um tem o que quer e merece”.
Aí tens, meu caro Gustavo, a verdade sobre os tais caboclos. Que ela te aproveite e aos meus leitores, são os votos que faço.

XII

Onze são as cartas que te tenho dirigido, meu caro Gustavo, desde o dia 27 de março até o dia 24 de abril [1].
Nessas onze cartas se acham exaradas verdades não sabidas por ti e, muito menos, pelos tais médiuns e presidentes dos terreiros e centrelhos, quase todos analfabetos e, por isso, incapazes de raciocinar, por ser-lhes mais agradável viver instintivamente, como os animais inferiores, a fazerem o menor esforço de raciocínio sobre qualquer coisa séria da vida que interesse à alma, que eles não sabem o que é, como o não entenderam Kardec nem Flammarion, seu médium e secretário.
Entre essas verdades, figura a psicologia dos selvagens e africanos, e assim o estado verdadeiro dessas pobres almas, cuja denominação serve de torpe especulação aos feiticeiros que fazem profissão desses feitiços.
Por esse estado de alma de selvagens, que bem claro ficou em ditas cartas, fácil deve ter sido a ti, meu caro Gustavo, e aos demais leitores de boa vontade, concluir que os evocadores de tais espíritos de caboclos não passam de criaturas completamente inexperientes em assuntos de tal natureza.
Assim, pois, certíssimo, como deves estar agora dessa tremenda intrujice do velhaco astral inferior, que obseda e dirige toda casta de praticantes do baixo, do inferior, da perigosa coisa que os seus infelizes praticantes teimam em fazer passar por Espiritismo, vamos, agora, à tua Cruzada, para que bem claro fique que não se pode servir bem a dois senhores, como em geral fazem os sectários das diversas seitas, inclusive o meu frei Solanus, que agora se assina Gustavo Macedo, presidente da Cruzada Espírita, e cidadão bem nascido e bem criado, para todos os efeitos.
Assim, pois, ouve:
As preces rezadas na tua Cruzada pelos que sofrem na Terra, pelos que padecem no espaço, e as que fizeste e continuas a fazer demoradamente pelo Sr. Viana de Carvalho e pelo Sr. Vigário de Pernambuco (que tanto atrapalhou as arengas do dito sabiá coleira do teu espiritismo), todas essas palavras melosas não têm valor algum, meu Gustavo, são completamente perdidas e não chegam mesmo a vibrar, a irradiar além da atmosfera (aura) que envolve quem as faz, por mais instruído ou pergaminhado que seja.
Se, pois, nem feita por ti, que não és praticante, tais “preces” têm valor, por não irem além da tua aura, imagina o que serão as feitas por esses pernósticos!
Feitas por tal gente, elas nem chegam à aura de cada um, quedando-se nas vísceras de quem de tal se lembra, porque filhas das vísceras são e nelas ficam.

XIII

– Por que razão assim classificas tu as preces que eu faço e que fazem os espíritas bíblicos e outros? - estás a perguntar-me, mentalmente, caro Gustavo.
Porque a prece para os sectaristas das diversas seitas é uma forma de sentir “puramente material”, por material ser o seu “Deus” que se habituaram a adorar subservientemente.
Essas preces, que não são mais que rezinhas, mexer de lábios, inteiramente materiais, estão condenadas pelo Racionalismo Cristão, no qual não há preces, mas, sim, irradiações, verdadeiras vibrações do espírito aos Mundos Superiores, habitações das partículas esclarecidas da Inteligência Universal.
Essas irradiações figuram na obra “Racionalismo Cristão”, e são:
1) Irradiação ao Grande Foco, que é curta e clara.
2) Irradiação ao Astral Superior, que por si só constitui o esclarecimento completo do que são o Grande Foco, gerador de tudo quanto existe, e a alma de que se constitui o ser humano, e quais os seus deveres neste e nos outros planetas.
É maravilhoso ver, meu Gustavo, como se desprendem das partículas do Grande Foco as centelhas de luz esplendorosa, que vão ascendendo, em cintilações vibrantissimas, até se ligarem no Espaço Infinito, onde se encontram as Forças Astrais Superiores.
É certo que todas as intenções de humanos esclarecidos e raciocinadores se refletem nos pensamentos em cintilações de variadíssimas cores e intensidade, consoante o grau de pureza e força impulsionadora da vontade ou ação refletida, da concentração espiritual de cada ser, em particular, ou da comunhão em geral.
Assim sendo, a prece, meu Gustavo, vês bem que consiste, para os ignorantes, em mover lábios, articular palavras, revirar olhos, falar muito do pai celestial e divino mestre e implorar proteção, como todos fazem, em bem de quem se faz e do próprio indivíduo que acredita fazê-la.
Só é real a irradiação e, assim, os seus efeitos, quando quem a faz se conhece como Força e Matéria, como alma e corpo carnal, e sabe raciocinar com acerto.
Porque produzindo a Irradiação o cordão de luz que nos liga aos mundos e seres superiores, não pode quem quer que seja irradiar pensamentos ao Astral Superior, se desconhece a Força em si e a Matéria em si, e assim as Forças, Almas Superiores, onde elas residem, e como são atraídas.
Até breve, meu Gustavo.

XIV

Sendo a Irradiação, caro Gustavo, o que exarado ficou na minha carta número XIII, isto é, um cordão de luz partindo da alma humana para ligá-la aos mundos e almas superiores, cordão de luz constituído por pensamentos que são vibrações do espírito de cada ser, vibrações que a sua vontade desloca do Todo, que é Luz e não matéria, e que, por assim ser, produz o dito cordão de luz; sendo assim, meu caro Gustavo, é claro que ela não pode ser luminosa e bela, se não quando feita por seres racionais na forma e no fundo.
O ignorante e, além disso, viciado em mexer de lábios e revirar de olhos, prático em gestos e maneiras para armar efeito e iludir aos outros e a si próprio, não pode irradiar a dita Luz, que é Força, Inteligência, por conservar-se em estado animalizado, idêntico, portanto, ao dos irracionais.
Não sabe sentir elevadamente, com o vigor preciso, de maneira a produzir irradiações de Luz e, de acordo com a lei de atração, ligar-se às entidades astrais superiores.
Por assim ser é que se afirma, como verdade absoluta, que todos pronunciam palavras, mas que mui poucos sabem irradiar.
E esta afirmativa, meu Gustavo, está de inteiro acordo com aquela verdade existente entre as mentiras do romanismo, atribuídas a qualquer Paulo, Sancho ou Martinho de antanho, que diz: “Glória a Deus nas Alturas e paz aos homens de boa vontade na Terra!”
Ora, se só aos seres humanos de real vontade, e assim, raciocinadores e vibradores de sentimentos altruístas, elevados, puros, é que cabe a paz de espírito, e sendo esta paz do espírito filha do estado psíquico, do estado da alma, da convicção da sua própria existência, é claro que o egoísta, o supersticioso e mau, como é a imensa maioria dos sectaristas de todas as seitas, não podem ter paz, porque a não sabem atrair pelos seus pensamentos valorosos, ao serviço da sua vontade.
Se, pois, a Irradiação se expressa nesse cordão de luz, base e fonte do amor, não pode ser feita por quem não tenha a vontade fortemente educada para o bem real, que é o espiritual e não o material; e não tendo assim a vontade educada, é fatalmente um fraco; e sendo-o, não pode saber o que é a Força em si, o que é o Grande Foco; e sendo certo que não se pode respeitar, profunda e realmente, o que se não sente, o que se não estuda e conhece, é claro, meu Gustavo, que não pode o ignorante compreender e respeitar o Grande Foco nem irradiar e constituir o dito cordão de luz pela elevação do pensamento.
Como, pois, queres tu, Gustavo, que as tais “preces” sejam benéficas, se elas não passam de um articular de palavras sem o menor sentimento verdadeiramente racional e cristão?
Como queres tomar a sério essas palavras proferidas por pessoas que, além de ignorantes da sua própria existência, como Força e Matéria, nutrem somente desejos intemperados, animalizados, perturbadores da alma?
Ignoras que a pessoa que sabe elevar o pensamento às Esferas Superiores, e assim formar o dito cordão de luz vibrante de amor, torna-se invencível na luta pela vida porque, sabendo irradiar, sabe sentir, vibrar, ligar-se às entidades e esferas superiores, sustentando-se do que vós denominais fé, que é a espada da vitória?
O que aí fica é afirmado por todos os sectaristas, quando dizem, sem saber por que o dizem, que a fé remove montanhas. Ora, se todos soubessem irradiar, não existiriam no mundo as montanhas de sofrimentos, oriundas dos vícios, maus hábitos e outras misérias que os seres humanos têm mantido e desenvolvido desde milhares de existências de ignorância sobre as coisas sérias da vida, a sua composição, deveres etc.

XV

Como deves ter observado pelo que escrevi na minha carta número XIV, é inteiramente nulo o valor das preces, porque:
1) quem as faz, sendo ignorante da sua própria composição, não sabe irradiar pensamentos com o vigor preciso para ligar-se às Forças Superiores, de maneira a fortificar com elas a corrente branca que existe nesta atmosfera física, que se denomina corrente magnética, formada por pensamentos bons, ao serviço de vontades fortemente educadas para o bem geral da humanidade;
2) a maioria dos articuladores de tais palavras mais ou menos melosas, monásticas, e que tu denominas devocionárias, é mal assistida, é obsedada, repleta de sentimentos egoístas e de moral utilitária, moral de gozo, e quem possui essa noção errada da moral, e só desejos materiais, animalizados, intemperados nutre, não pode, é claro, ligar-se às Forças Superiores, e com estas fazer causa comum, beneficiadora de corpos e de almas;
3) sendo assim interesseira, egoísta, invejosa, animalizada e, portanto, má, vive instintivamente e não racional e cristãmente a maioria da humanidade, e nesse viver só pode ligar a sua aura a entidades idênticas, porque é isso que determinam as leis naturais, as quais ordenam que os similares se atraiam e os contrários se afastem;
4) em tal estado psíquico, quem reza o faz somente com os lábios e, portanto, ilude-se, mente a si próprio, enquanto não aprende a vibrar, a sentir e a irradiar com raciocínio, com a razão esclarecida, com o conhecimento certo e seguro de si próprio e da sua fonte de origem, que é o Grande Foco.
É claro, meu Gustavo, que tais preces não beneficiam nem a quem as faz nem a quem são dedicadas, visto que não há vibração da alma ao fazê-las, e se algo sente quem as faz, é puramente material. A irradiação é vibração astral e não material.
Mesmo que a irradiação seja feita por um racionalista cristão de boa vontade, que saiba sentir, que saiba vibrar, que saiba como e onde irradiar o seu pensamento, ela não pode beneficiar, fortificar, alegrar, dar prazer se não a um similar, pessoa que também saiba colocar-se em boas condições psíquicas.
Isto é racional e está de acordo com as leis naturais, que tu denominas divinas; elas determinam que os similares se atraiam e se irmanem, e os contrários se repilam, se afastem, procurando os que pensam e sentem da mesma maneira.
Quer isto dizer que a irradiação, embora feita por quem a sabe fazer e sentir, não pode beneficiar o desgraçado, o obsedado, o viciado, o especulador, enfim, porque esses se acham envoltos em densas trevas, metidos numa couraça que absolutamente não deixa a luz, a irradiação repleta de amor, aproximar-se deles.

XVI

Pelo que tens lido, deves haver concluído lá no teu íntimo, nos momentos consoladores da tua querida alma, que de fato está tudo errado, desde a tal devoção, a religiosidade, de que trataremos depois, até às preces que, assim feitas, nada valem, a ninguém beneficiam, são a mentira mais mentirosa que se conhece e que se está desvendando agora, graças ao Racionalismo Cristão, que tudo vem esclarecendo e colocando nos seus verdadeiros lugares.
Sei, meu caro Gustavo, que os sectários, os viciados em coisas que eles denominam religiosas, os fanáticos, os beatos, os rezadores, em geral, de baiucas ditas espíritas, muito sofrem com essas verdades.
Eles nada compreendem que não seja aquilo que, como obsedados, gravaram no seu mental, nesta como nas milhares de encarnações por que têm passado, sempre envoltos pela mentira e dominados pelo astral inferior. Esses retardados não usam o raciocínio, não podem ler e fixar o que o Racionalismo Cristão explana, porque são escravos das forças inferiores, às quais se acham ligados pela sua indolência, pela sua fraqueza mental, pela própria inferioridade espiritual que os torna ridículos e nulos para as coisas sérias da vida, para a luta que escolheram ao encarnar.
Eles, pois, não aproveitam a verdade pelo Racionalismo Cristão explanada pela imprensa, pelos livros e pela palavra dos seus militantes, porque já se sabe que tais criaturas nem em centenas de encarnações podem atingir a categoria espiritual de bem compreender e praticar a Verdade; é para o aproveitamento das gerações vindouras que estas verdades são escritas e ditas claramente nas Sessões Públicas de Limpeza Psíquica (de normalização de obsedados), no Centro Redentor, na rua Jorge Rudge n119, Rio de Janeiro, e em seus Filiados e Correspondentes.
Farto está o Astral Superior, como nós também, de saber que há pouca gente, atualmente, capaz de compreender e praticar a Verdade que se está explanando.
Mui poucos dos seres humanos se podem dizer de boa vontade, de vontade forte para o bem; não fiquemos, pois, na bela ilusão do aproveitamento pelos adultos da Verdade trazida à Terra pelos Espíritos Superiores ou da Verdade a que dizem haver-se referido Jesus.
O que consegue o Racionalismo Cristão, por nosso intermédio, meu Gustavo, é avivar os incautos, os ignorantes ou indolentes espirituais, com a explanação da Verdade. “É o medo que guarda a vinha”, diz o ditado popular português, e assim é também nesta parte: O encarnado tem medo de morrer antes do tempo, ou de ficar louco, e sabendo que esses males são produzidos pelos seus maus hábitos e os maus pensamentos, procura conter-se um pouco, modificar o seu proceder, fazer o menos mal possível e nada mais, como, a seguir, verificarás.

XVII

Se te foi possível, meu Gustavo, raciocinar sobre as minhas cartas quanto à “prece”, deves estar convencidissimo de que poucos na Terra sabem o que ela é, seu real significado, e como a irradiação se faz.
Esta afirmativa, meu Amigo, é confirmada pelos tais Evangelhos, repletos de contradições, que todos vós sabeis na ponta da língua e que dizem: “Muitos serão os chamados, e mui poucos os escolhidos”.
Ora, se dos muitos chamados para a obra remodeladora da humanidade poucos são os escolhidos, conforme afirmou Jesus, é porque poucos têm força para resistir ao vício que os domina, e poucos sabem, por meio da irradiação verdadeira, estabelecer esse cordão de luz e de amor espiritual.
Se todos os que rezam soubessem irradiar e ligar-se ao Astral Superior, é claro que todos seriam escolhidos, e então se poderia afirmar que dos muitos chamados, mui poucos seriam os repudiados, por animalizados.
Mas, se os sectaristas das diversas seitas, que se dizem religiosos, espíritas ou espiritualistas, soubessem irradiar, tivessem certeza do valor da irradiação, meu Gustavo, os hospícios e o mundo não estariam repletos de doidos feitos por essas seitas e pelo baixo espiritismo, porque a irradiação, sendo força luminosa, inteligente, pura, afasta as trevas, os maus elementos, e liga quem a sabe fazer às almas puras, formando estas em volta do seu similar, que sabe irradiar, uma fortaleza tão luminosa e bela que as trevas constituídas pelo astral inferior, pelos Lodoros, Urubatãs e outros, que de tão sujos chegam a não poder encará-la, fogem dela, a saltos de veado galheiro, em plena e bela campina.
Vês, pois, meu Gustavo, que se os que articulam palavras mais ou menos melosas soubessem, realmente, fazer as irradiações, não estaria a pobre humanidade no triste estado mental e físico em que se encontra, devido à ignorância em que as seitas religiosas a têm conservado sobre o “porquê” de todas as coisas, e assim, sobre a composição de cada ser humano como Força e Matéria.
Continuar, pois, meu Gustavo, a fazer tais rezas, sem que em primeiro lugar se instrua a humanidade sobre o que ela é, o que são a Força e Matéria, o Grande Foco, a vontade e o pensamento de cada ser, para então, e somente então, saber irradiar e aproveitar o seu tempo em bem do Todo e da própria alma de cada um, é perder tempo.
De boas intenções está o mundo repleto, mas as boas intenções não salvam as partículas do Grande Foco; são os pensamentos e as obras, reflexos desses pensamentos, que as beneficiam.
Quer isto dizer, meu Gustavo, que sem instrução racional e científica, sem o conhecimento certo e seguro das forças da natureza e do próprio “eu” humano, não há evolução, por mais que todos articulem palavras melosas, revirem os olhos e os fixem no teto das casas ou na aura da Terra, por mais que falem no pai celestial e em Jesus, por mais que se digam religiosos.
Acima de tudo estão as leis naturais, que é preciso conhecer para se não ser racional apenas na forma.
Certo, como deves estar, do nenhum valor das preces que os religiosos, em geral, proferem; certo de que tal articular de palavras e revirar de olhos não passa de uma comédia muito grotesca, muito ridícula, como a transfiguração do tal médium Lameira numa das casas mais ilustres de São Paulo.
A transfiguração, meu Gustavo, é palavra velha empregada para encobrir a ignorância, não exprimindo, realmente, o que vós todos quereis que exprima, porque é impossível, por ser contrária às leis naturais.
O ser humano não se transforma em seu corpo físico, e erra quem tal afirme. O corpo físico, porque é físico, matéria organizada, só de 7 em 7 anos se altera, e no correr dos anos é que se vai modificando.
O caso é outro. Todos vós ouvis cantar o galo, mas não sabeis onde. Atentai, pois, agora, para a explicação real dessa irreal transfiguração:
É certo que tudo nos vem de fora e vive fora de nós. É certo também que os seres humanos são médiuns intuitivos, e podem tornar-se, se quiserem, médiuns desenvolvidos, portanto máquinas ao serviço das forças inferiores invisíveis, (espíritos) que neles atuam quando querem, e deles, médiuns, fazem o que lhes apraz, quando são da força do Sr. Lameira, completamente obsedados.
Nesse estado de mediunidade animalizada, o médium presta-se, facilmente, para qualquer espírito atuar nele, e com o auxílio da vida anímica (fluido nervoso) do dito médium, forma o seu corpo astral, o corpo do espírito evocado, de maneira que a pessoa ou pessoas conhecidas o vejam.
Quer isto dizer que qualquer espírito da atmosfera da Terra se materializa envolvendo o corpo físico do médium, a ponto deste deixar de ser observado, e ele, espírito, tornar-se claramente visto. É, pois, o médium envolvido pelo fluido astral seu e do espírito que dele se serve, e não transfigurado, visto que tal transfiguração, na realidade, não se pode operar, por ser contra as leis naturais.
O médium Lameira, obsedado como todos os médiuns desenvolvidos sem orientação, nada mais fez do que concentrar-se e deixar-se atuar e cobrir do fluido formado do corpo astral de qualquer espírito que, tomando-o, materializando-se, se transformou no corpo astral do filho da referida mãe aristocrática.
Fenômeno corriqueiro, como vês, meu Gustavo!
O que tu também não tens querido saber, mas vais ser informado, agora, é que o dito espírito que atuou no médium Lameira não era o filho da pobre mãe sofredora, e sim um dos obsessores do médium que, querendo valorizar o seu instrumento, e vendo na aura da pobre mãe a figura de seu filho, procurou imitar o corpo astral deste (o que é facílimo, porque o espírito faz o que lhe apraz do fluido em que esta envolvido) para que a pobre senhora ficasse certa de que de fato era ele, o seu filho, quem ali estava.
Com esta explicação racional e científica, lá se foi por água abaixo:
1)A notabilidade de tal médium.
2)A sua transfiguração de mentira.
3)O filho da tal senhora aristocrática já não está na atmosfera da Terra e, sim, no mundo que lhe é próprio, e do qual não pode vir à Terra para manifestar-se por médiuns obsedados, sem corrente fluídica superior.
O que fizeram, pois, meu Gustavo, foi iludir a pobre senhora, sem nada lhe explicar sobre a vida real.
É assim o tal espiritismo. E por assim ser é que o Racionalismo Cristão ou Doutrina da Verdade o está malhando, sem contemplação.

XVIII

Certo, como deves estar, após a leitura da minha última carta, de que tal transfiguração do médium Lameira ou outro qualquer não passa de uma invenção grotesca de tal gente, que vive a inventar termos para iludir-se e enganar os incautos, vamos à outra parte da tua referência, publicada no vespertino referido. Lá, dizes tu:
“Ao cair em transe, o médium Lameira de Andrade, vencido pela angústia de uma mãe sofredora etc.”
O médium, qualquer que seja, meu Gustavo, não cai em transe nem é vencido pelo sofrimento de ninguém, visto ser senhor absoluto do seu “eu”, não havendo espírito nem influência humana que possa dominá-lo, salvo quando está viciado, como o Sr. Lameira de Andrade, a concentrar-se em qualquer parte, sem corrente fluídica organizada pelo Astral Superior.
Os médiuns inteiramente obsedados, em pleno domínio dos espíritos obsessores perversos ou brincalhões, se deixam atuar em qualquer lugar, sem garantia para si e para os que o rodeiam; só em tal caso é que ele, médium, pode ser “vencido” e deixar-se atuar por qualquer espírito obsessor, especialmente para manter a sua vaidade de grande médium; médium superior, que não há um só no mundo, e muito menos entre os que têm horror à disciplina e, assim, aos Regulamentos do Centro Redentor e suas Filiais.
Quanto ao tal transe, é outra frase inventada pelos pernósticos e repetida pelos bocós e basbaques experimentadores dos fenômenos denominados de efeitos físicos, como se de efeitos físicos não fossem todos os fenômenos observados neste planeta. Isso não significa coisa que jeito tenha, que se possa aproveitar para esclarecer a humanidade. E sabes por que, meu Gustavo?
a) porque todos os médiuns são conscientes, e só são atuados, se quiserem;
b) porque antes de ser atuado, sente o médium o princípio da irradiação do espírito que nele procura atuar;
c) porque esse sentir é o aviso que recebe para concentrar-se e transmitir as intuições do dito espírito;
d) porque, mesmo consentindo na atuação do espírito, esta se faz sem que o médium perca a consciência do seu “eu”, e assim, do seu livre-arbítrio, da noção do seu estado e da certeza de que a sua força ou vontade está acima de todas as forças ocultas que tentem dominá-lo, desde que ele, espírito encarnado, não seja um velho e fraco escravo dos obsessores que, em tal estado, não passará de uma criatura perigosa e até evitável pela sua fraqueza e vícios de convivência com “Lodoros”, “caboclos” e magna caterva;
e) porque, mesmo nesse triste estado de obsedado covarde, ele não perde a noção do seu “eu”, e apenas se sente bem com o fluido dos obsessores, atirado por estes até nas partes mais sensíveis do corpo humano, especialmente na mulher que com tais fluidos se casa e com eles se sente bem, à sua maneira;
f) o que o médium faz ao receber o tal guia é rebolar-se, fazer-se de gata ou de cobra, se é mulher, e de galo ou bode, se é homem; e é isto que o fluido dos obsessores produz nas partes íntimas de tais médiuns, que os pais-de-mesa denominam transe.
Todo médium, pois, qualquer que ele seja, sabe o que faz, o que diz e porque se rebola, imitando os felinos, os caprinos, ao cair-lhes no corpo o tal fluido gozador, que oportunamente detalharemos, quando tivermos de tratar de certos médiuns femininos, de certos loucos crônicos, que só o são na forma, para mais à vontade darem expansão aos seus vícios com os corpos astrais dos espíritos obsessores, os quais chegam a materializar-se para satisfazer os médiuns nos seus desejos intemperados.

XIX
  Agora que já sabes, meu Gustavo, que o transe dos médiuns é uma invenção pernóstica, senão idiota, dos sábios, a título negativo, e dos espíritos bíblicos e em provação, como tu; agora que já estás ciente e consciente de que ninguém fica fora de si e que pessoa alguma perde a noção de seu eu, da sua personalidade, e que tudo o que se escreve em contrário a isso é burla, é toleima, é completa bestice, vamos tratar da tua música devocional.
  Afirmaste ao reporte do jornal A NOITE que a música devocional prepara as almas para a ?unção da prece final? na tua Cruzada Espírita. Não é bem assim, meu Gustavo, estás errado:
a) porque devoção é outra palavra inventada pelos sectários das diversas seitas, para melhor e mais facilmente explorarem a crendice, a toleima dos que caem nas malhas da sua rede ultra-especulativa;
b) porque, quando essa palavra significasse algo de superior, portanto de útil para as partículas do Grande Foco, ela só podia ser pronunciada por quem se conhecesse a si próprio e soubesse o que significam a Inteligência Universal e a superioridade de suas leis;
c) mas, sendo essa palavra uma mentira, querendo significar o que não pode existir, só serve para iludir os pobres diabos, basbaques que a tomam a sério;
d) se tal palavra quer significar um sentimento superior, ainda não está certa, porque sentimento superior um só existe: o racional cumprimento do dever;
e) se, pois, do dever não têm as partículas do Grande Foco noção exata, como é possível que o ser humano possa dar-lhe um sentimento qualquer derivado deste?
f) que do dever só pode ter real noção o ser humano de alma evoluída, portanto superior e, além disso, disciplinado, bem educado, e que se conheça a si próprio, na sua composição como Força (alma) e Matéria. E se esclarecidos só são, até agora, os que estudam o Racionalismo Cristão, como quereis vós então, sectaristas, que a música seja devocional, se tal devoção não pode existir, como acima ficou dito?
Como queres tu, pois, meu Gustavo, que almas humanas, ignorantes do que aí fica, e sem a noção do seu dever, despertem ao som da música, por mais melodiosa que seja?
  O que acontece às almas humanas, às dos macacos, muares, cães e de outros animais, é sentir na sua aura as vibrações dos sons harmoniosos, não vulgares ao seu ambiente, à sua vida psíquica, desprendendo-as da vida triste, árida, repleta de animalidade e fluidos grosseiros, em que são obrigadas a permanecer.
  Todavia, meu Gustavo, essa mudança de ambiente, de vibração fluídica, o vibrar sonoroso em tais almas é, além de incompreendido por essas partículas da Inteligência Universal, de pouca duração.
  Essa vibração irradiada sobre tudo o que tem vida neste planeta, paralisa, por momentos, o viver simplesmente instintivo, e assim o vibrar animalizadamente, mas não faz ligar as ditas almas às partículas evoluídas do Grande Foco, por ignorarem elas a sua origem e não saberem como irradiar os seus pensamentos, como ligar as suas auras ao Todo, ficando como que narcotizadas e sentindo um certo bem-estar que o narcótico produz em toda vida animalizada; mas tudo puramente material, inteiramente anímico, e nada mais.
  Ao acordar desse estado empolgante, por pouco tempo conserva o ser humano a noção desse bem-estar fluídico, diferente do acostumado, do comum, e torna-se, após, um animal inferior, por vezes feroz, matador, como fácil se torna constatar na vida de todas as seitas, ditas religiosas.
  Quantas vezes, meu Gustavo, nas encarnações anteriores, tu, clérigo, tu, frade, saías do coro, após aqueles maviosos cantares, ditos sacros, e que agora denominas devocionais, e ias torturar, por diversas maneiras, os cristãos novos, como Antônio José (o Judeu), e milhares de outros que, após as músicas devocionais, e até durante estas, eram queimados?
  Se tal música devocional pudesse preparar as almas para a unção da prece, e esta pudesse realmente ser o cordão de luz e amor que liga as almas terrenas às superiores, é claro que as atrocidades romanas, anglicanas e das outras seitas não seriam praticadas.
  Não há devoção, porque não é ela precisa quando existe noção do dever e se o cumpre, e se deste não existe conhecimento, não valem preces nem devoção, nem revirar de olhos, porque não passam de palavras e gestos sem valor.

XX

  Após a música devocional de que tratei na minha última carta, referiste-te ao esforço de concentração para mais fecunda evolução de fluidos e mais eficaz irradiação de pensamentos.
  A exemplo das demais explicações tuas ao repórter do jornal A NOITE, meu Gustavo, não passam estas de palavras e mais palavras, porque, para se chegar a esse resultado, é preciso saber:

a) o que seja o espírito (alma);
b) o que seja a concentração;
c) o que seja o pensamento;
d) o que sejam a vontade e sua eficaz irradiação.

Nada disso foi explicado por Kardec. Havendo ele perguntado a um obsessor que atendia pelo nome de um padre célebre o que eram o espírito e o fluido, esse sabichão do espaço lhe respondeu: ?o que são o espírito e o fluido nós não sabemos; por esse motivo vamos estudar o que é o espírito, e estudai vós o que é o fluido?.
  Escusado é dizer que tal estudo nunca foi feito pelos protetores de Kardec, e muito menos por este e seus adeptos.
  Sendo, pois, certo que os seus adeptos não conhecem o porquê das coisas, o que são a Matéria em si e a Força em si; sendo eles dos mais ignorantes da vida real, os mais crassos, por terem prazer em ser analfabetos propositais nesse campo do saber humano, não podem preparar-se para a concentração, para a irradiação dos pensamentos aos planos dos mundos superiores, habitações dos espíritos esclarecidos.
  Por assim ser, meu Gustavo, deves observar, melancolicamente, que é mais uma afirmativa tua perdida, por estar fora de vila e termo, por não poder pessoa alguma praticar aquilo que ignora, e muito especialmente ligar-se, pelo pensamento, às Entidades Superiores que no além tratam, afincadamente, do progresso moral e espiritual dos povos, e não de coisas materiais, como querem e praticam todos os espíritas religiosos.
  Se a palavra devoção, como já observaste, é uma invenção grotesca para enganar crianças grandes (ignorantes), melhor lhes tirar o dinheiro, assim é a tal ?prece? e tudo mais que tu e os teus adeptos pregam. Palavras leva-as o vento, como bem diz o povo, e só se pode saber se ela, a prece, é um cordão de luz e de amor que liga os encarnados esclarecidos aos Espíritos Superiores, quando quem a faz sabe sentir, sabe vibrar às esferas superiores, e só consegue fazer essa vibração quem sabe o que são o Grande Foco, a vontade e o pensamento, o que todos os espíritas místicos ignoram, por falta de espiritualidade e educação racional e científica.
  Se ainda tens dúvida sobre o que te tenho tão claramente explicado, fala com o respeitabilíssimo teosofista, nosso leal amigo General Raimundo Seidl; ele te dirá que assim é, e que não se deve tomar verdadeiramente a sério a ignorância proposital, visto que é do esclarecimento da verdade, do conhecimento real de todas as forças da natureza que resultam a reforma do ambiente e diafanização das correntes fluídicas, a harmonia das vibrações anímicas, o bem-estar racional consciente das almas, partículas da Força, que é a Inteligência Universal que denominam ?Deus?.
  Jesus afirmou que o maior mal da humanidade era a ignorância da Verdade. Assim sendo, como queres tu que pessoas sem instrução, sem conhecimento real dos porquês de todas as coisas, possam praticar Espiritismo, se elas ignoram o que são a alma e o pensamento, e como este se irradia?
  Que os tais espíritas em provação, instrumentos dos lodoros, urubatãs, pariparobas, percilianas, ismaéis e parceirada obsessora, não se queiram instruir para saber raciocinar e separar o joio do trigo, a mentira da verdade, vá, porque os pobres diabos, mesmo encarnados em vianinhas, em lameiras e outros corpos de destaque, não têm espiritualidade para mais; preferem deleitar-se nas coisas terrenas, a tratar das coisas superiores que beneficiam a alma.
  Tal gente, meu Gustavo, nem em centenas de encarnações chegará a saber o que são a Força e a Matéria, a alma e a carne, portanto, a vida do espírito e do corpo, e como as devem viver.
  Não queiras, pois, à última hora, confundir-te com tal gente ignorante e viciada.
Com o meu saudoso abraço, os melhores votos pela tua saúde e pelo acordar de tua alma.

XXI

A seguir ao esforço de concentração ?para mais fecunda evolução de fluidos e mais eficaz irradiação do pensamento?, palavras estas sem sentido, sem valor, de que tratei na minha última carta, referiste-te à atenção religiosa que, pelas razões já explanadas, também não tem valor.
  Muito se fala, meu Gustavo, em religião, palavra empregada por todos os sectaristas e até pelos eruditos que tudo julgam saber, quando é certo que nem a si mesmos se conhecem.
  No entanto, seita alguma, inclusive o Kardecismo, soube, até agora, definir esse termo, dar-lhe o verdadeiro significado, e isso já expliquei fartamente em diversos artigos sob o título NOTAS, pelo vespertino desta capital O COMBATE.
  É mais um termo explorado pela ignorância dos seres, pela pernosticidade dos que algo julgam saber de coisas da alma, para se intrujar e iludir a pobre humanidade, há tantos séculos ludibriada pela mentira.
Religião, que poderia significar ?ligação?, mas de que e a quem ? é o que, até agora, seita ou erudito algum do mundo disse com certeza absoluta do que diz e para que o diz?
  Essa explanação coube ao Racionalismo Cristão, desde 1910, ano em que apareceu, e cuja primeira casa foi inaugurada em Santos, em cerimônia a que assististe.
  É, pois, mais uma palavra deturpada pelos intrujões, sempre ávidos em enganar os de boa-fé, que afinal se tornam papalvos, basbaques.
  Assim sendo, ouve, toma boa nota e transmite aos de boa vontade que te acompanham, para não te confundires com os exploradores de crendices.
  Religião, meu Gustavo, só poderá ser administrada como ligação dos pensamentos humanos às partículas evoluídas do Grande Foco, incitador de tudo quanto existe neste e noutros mundos adiantados.
  Para essa ligação é preciso que exista no ser humano inteiro conhecimento do seu ?eu?, e assim da Força em si e da Matéria em si, e tenha ele uma vontade fortemente educada para o bem. Assim, e somente assim, poderá essa vontade forte irradiar pensamentos afins às Esferas Superiores, pensamentos que são vibrações do espírito humano, com os quais se atraem as entidades astrais beneficiadoras dos corpos, esclarecedoras e fortificadoras das almas.
  Sendo estas verdades inteiramente ignoradas por todos os sectaristas, é claro que não sabem eles ligar-se às Esferas Superiores e sim, e somente, os esclarecidos, educados e disciplinados.
  Mesmo os de boa vontade ? mas ignorantes do que sejam a força astral e, portanto, a alma, a vontade e como se a educa, e do que são os pensamentos por essa vontade irradiados ? apenas conseguem tornar a sua aura mais diáfana, e assim, o ambiente menos pesado.
  Esses diafanizam a matéria ambiente, engendram formas diversas, mas não vão além disso, visto que a falta de conhecimentos não deixa o espírito encarnado romper a atmosfera da Terra, galgar aos mundos adiantados e a eles ligar-se, para atrair os fluidos e as partículas (espíritos) da Inteligência Universal que os habitam.
  Compreendes bem, meu Gustavo, que se assim não fosse, não haveria tanto sofrimento e tanta desgraça neste mundo que, apesar de ser físico, e, portanto, depurador de almas, muitíssimo melhor, de relativa felicidade seria nele a vida, se os seus habitantes, ditos racionais, tivessem conhecimento da vida real dos seres e dos seus deveres, e os cumprissem.
  É que as leis do Grande Foco são imutáveis e não podem, por isso, auxiliar, por intermédio das suas partículas, os que não raciocinam nem se colocam dentro dessas leis. É por isso que os ignorantes, sectaristas ou não, se revoltam contra o tal ?deus?, quando as coisas não correm à maneira dos seus desejos puramente materiais, pois ignoram o que sejam o Grande Foco e o papel das suas partículas, já repetidamente descritos nestas cartas.
  Só é esclarecido, pois, meu Gustavo, o que se conhecer como Força e Matéria e souber praticar a verdade que aí fica; fora disso, é o indivíduo enganar-se a si próprio e tornar muito lento o progresso espiritual, que é o único progresso aproveitável.
  Por assim ser é que o Racionalismo Cristão afirma que sem instrução racional e científica, sem o conhecimento do que aí fica, não há evolução espiritual; e fora desse conceito a religião não passa de mais uma palavra que o vento leva e que a alma não pode sentir, por ser ignorante de si mesma.

XXII

  É chegada a ocasião, meu Gustavo, de reconhecer a supremacia intelectual dos mentores religiosos sobre os espíritas de fancaria.
  Vê o ridículo papelão da tua Cruzada Espírita que um vigário de Pernambuco atrapalhou, arrasando as arengas que o Viana de Carvalho, vulgarmente conhecido por Vianinha e ?sabiá coleira? do espiritismo místico, muito atrevidamente foi fazer em Recife, capital daquele lendário Leão do Norte.
  Achou a dita senhora, em sua boa-fé de representante da tua Cruzada, que tal atitude por parte do Senhor Vigário foi uma falta de respeito e, assim, da alta consideração que se deve ao ?ilustre barítono? Vianinha, o melhor cantador e violeiro que possui o espiritismo confabulador no Brasil, desde o norte ao sul, nessas mil e quinhentas léguas de linda costa marítima, do Amazonas ao Prata, como se dizia nos bons tempos de antanho.
  Não se lembrou que, por direito de conquista e de nascimento sectarista, o ilustre Vigário de Pernambuco estava em seu papel de defensor do seu redil e das nobres e queridas ovelhas.
  Essa mui respeitável enviada tua, olvidou-se de que o galo, qualquer que seja a sua raça, quando no seu terreiro comandando as suas galinhas, vale por dez e tem força para impedir o intrometimento de outros galos, obrigando-os a dar carreirinhas e a cantar de galinha.
  Falta de respeito, prova de má educação deu o Vianinha indo ao terreiro do outro galo impingir lérias das maiores e mais conhecidas, o falso Espiritismo, aos paroquianos do dito vigário que, rebatendo o veneno mental que o dito Vianinha tentava espalhar na arena dos católicos apostólicos romanos, não fez mais do que cumprir o seu dever.
  Muito feliz ainda foi ele, o dito ?sabiá coleira?, o barítono e violeiro de mais valor que possui a feitiçaria dos chefes Lodoros, Urubatãs e magna caterva astral, por não haver levado uma desanca de piúva aplicada pelas bentas mãos do dito vigário da paróquia de Jaú, na então Província de São Paulo.
  Tu, meu Gustavo, se fosses o Vigário em Pernambuco, apesar da tua tolerância, imitarias o legendário vigário Barbosa: passavas o laço no cantador referido e davas-lhe um almoço de pau de goiabeira, até que este ficasse direito como um fuso.
  Outra coisa não merecia um semeador de venenos, perturbador de almas, obsedado que não sabe o que diz, ou que diz o que não deve, tornado, quando menos, um pobretão do espiritismo, a fazer de rico, sem crença e sem fé, e a querer chasquear de uma seita, a que mais se tem salientado em riquezas materiais.
  Procura raciocinar sobre o que tenho dito em minhas cartas, para agires com segurança e não te confundires com os kardecistas, teus inimigos figadais.

XXIII

O que exarei na minha última carta sobre o “sabiá coleira” do espiritismo místico e os seus parceiros, meu Gustavo, pode ter-te parecido duro demais, por dura ser a terapêutica aconselhada para conter tal gente sem classificação.
Pode parecer-te menos cristão, dada a ideia falsa que tu fazes de Jesus, que andou na Terra a pregar a Verdade tão clara, altiva e nobremente, a ponto de ter empunhado o vergalho para conter a canalha mercadejadora da consciência e da honra humanas.
É claro que estás errado assim pensando, porque só se pode ser cristão quando se sabe raciocinar como ele raciocinou, e ser valoroso (forte para a luta), ponderado, moderado e justiceiro como foi Jesus (nada carnívoro nem gozador de viandas várias, desde as cruas às cozidas e guisadas). Esse Jesus que pregais, que desenhais nas vossas pregações é falso, retrata o covarde, por ele próprio condenado, quando disse: “quem quiser seguir após mim, negue-se a si próprio e siga-me.” E mais: “Só a Verdade – dizendo-a e praticando-a – vos fará livres.”
Tais coisas só as pode praticar quem tiver uma alma valorosa, e só possui essa consciente noção quem tiver certeza de que a luta é a vida destinada a todo ser humano na Terra, e a convicção da verdade, a espada da vitória, e assim souber lutar, arrostando as dificuldades que se apresentarem durante a vida física, num planeta depurador, como é este.
Quer isto dizer que quem não tiver noção do seu direito e o não souber defender em todos os terrenos, não é digno de viver; é um ser desprezível, péssimo exemplo para os fracos da sua geração e os vindouros. Somente os comodistas, os covardes, os tais “bonzinhos” na forma e perversos no fundo, é que apresentam Jesus à sua maneira, para mais comodamente continuarem nulos, imprestáveis, gozadores de viandas etc.
Por isso, meu Gustavo, raciocina sobre a dureza da minha última carta, e verás que muito mais dura ela devia ser, porque outro tratamento não merece quem tem o atrevimento de – em nome de Jesus, o mais valoroso, sensato e justiceiro dos homens do seu tempo e das almas de todas as épocas – menosprezar os homens por serem padres, chasquear, ridicularizar os clérigos porque se acham ao serviço de Roma, quando é certo que os espíritas em provação nivelam-se a eles, sendo certo que na classe clerical têm existido e existem homens de valor intelectual, embora repletos de fanatismo sectário.

XXIV

Dentre as invenções marotas do falso Espiritismo, destaca-se esta: “O espírita não julga, não condena, nem castiga”.
Inventaram os velhacos esta máxima, para melhor e mais à vontade poderem dar expansão à sua animalidade.
Com a capa dessa tolerância, indigna de seres humanos que do seu dever tenham noção exata, envoltos nela, praticam eles as maiores misérias que se possam imaginar.
Envoltos nesse rótulo ultra covarde e venenoso, os tais “espíritas”, com os seus guias astrais, com seus protetores, com os miseráveis Lodoros, Percilianas, Gertrudes, Genaros, Urubatãs e magna canalha astral, arruínam lares, seduzem mulheres casadas, filhas de família, e praticam torpezas incontáveis.
É por esse motivo, e somente por ele, que inventaram essa tirada de que “o espírita não julga, não condena e não castiga”, para mais à vontade, mais humildemente e com todas as aparências de gente honesta, de criaturas habitando um dos muitos mundos que se movimentam no espaço, poderem dar expansão ao seus maus hábitos e vícios.
Acastelados nessa forma de santidade e de tolerância indigna de seres honrados, esses cretinos vivem, por aí, como se não fossem já fartamente conhecidos pelos homens que os vêem por fora e por dentro e procuram raciocinar sobre o aviltamento da besta humana, nesse estado de completa decadência.
Com essa capa, os tais “médiuns” e não médiuns ficaram à vontade para dizer à mulher casada com o “irmão” A, frequentadora das tais sessões lodóricas e urubatânicas:
– “Minha irmãzinha, os nosso guia, teus e meus protetó, já disseru, pela nossa “média” Bolozinha, que nós semo casado no espaço, e que foi uma tentação do capeta, dos brincalhão, dos zombeteiro, fazê tu casá cum esse home cum que tu véve. Por assim ser, é perciso nóis cumprí as leis do espaço, que são as verdadeira, e por isso convém regulá a nossa vida, marcando os dia em que nóis se devemo juntá pra cumpri os nossos devê materiá e praticá a caridade para cum os espiríto que percisam encarná e o desejam fazê in nóis.”'
O médium Bolozinha, cujos escrúpulos nunca foram o seu forte, facilmente se faz de atuada para arranjar parceiro para desgraçar mães, filhas e esposas, e assim fomentar a mais nojenta prostituição do mundo.
É para esse e outros fins que essa gente inventou essa tirada e outras, das quais trataremos a seguir, e não para dar exemplos de tolerância raciocinada e de moral verdadeira, virtude que tal gente desconhece em absoluto, por serem almas corrompidas desde milhares de encarnações e assim afeitas a tomar o vício por virtude e os crimes como qualidades superiores da alma.
Além disso, todo covarde, todo criminoso consciente, não julga para não ser julgado, não condena, porque não pode condenar, e não castiga, por não ter coragem nem moral para isso. Tem uma alma racional, mas age como irracional.
Pois, ao contrário disso, o racionalista cristão julga, condena e castiga, como o fez o grande Jesus, e têm obrigação de fazer os seus verdadeiros discípulos, por ser esse o procedimento que a todos impõem as leis naturais que, porque o são, se tornam imutáveis, e assim fazem os homens de valor que nada devem, e por isso nada temem.

XXV

Quando me dispus a estudar a vida fora da matéria (a Força inteligente fora do corpo humano), e se tornou pública esta minha tarda resolução tomada aos 50 anos de idade, após um grave insulto cardíaco, meu Gustavo, fui assediado por bandos enormes de espíritas místicos que me induziam a estudar, aceitar e pregar as suas místicas.
Tudo fizeram para, à viva força, os incutirem na minha alma de materialista, que não acreditava nem no Homem-Jesus, quanto mais no tal deus à sua imagem, o deus de todas as seitas, o mais bárbaro e maior escravocrata, o mais injusto e vingativo de que há notícia.
Entre o muito que o meu espírito repugnava, desde logo, lá estava, como “verdade sagrada”, a capa de grandes corruptores de lares e da sociedade em geral, a tal afirmativa de que, “o espírita não julga, não condena, nem castiga” e, depois desta, a provação e o tal corpo fluídico de Jesus para dar mais consistência à repugnância que eu sentia.
 Entre esses salteadores de almas para a confraria da corrupção, do sem-vergonhismo, denominado irmandade espírita, encontravam-se criaturas que até então me pareciam normais e de moral relativa, mas que, por indolência espiritual, como tu, meu caro Gustavo, não demoravam o seu raciocínio sobre tais afirmativas.
Logo, porém, que observaram a minha atitude desassombrada contra essa e outras mentiras mistificadoras convencionais, “sectaristas” e “científicas”, e após a Limpeza Psíquica feita na corrente do Racionalismo Cristão, então com sede em Santos, Estado de São Paulo, essas pessoas puderam raciocinar sobre a minha atitude e afastaram-se mentalmente de tal bando e das suas práticas.
Todavia, esses valentes mui poucos foram e, afastando-se de tal veneno, de tal malta de salteadores de almas, também não ficaram na ativa do Racionalismo Cristão, que somente lhes servia para se limparem psiquicamente e tratarem do corpo e da amenização das suas enfermidades.
Disto, porém, meu Gustavo, fui eu prevenido pelos meus Mestres Astrais, logo ao iniciar-me nos estudos dos “porquês” das coisas, o que se constituiu no maior e mais ardente desejo de minha pobre alma de materialista de então, homem que nada temia porque nada devia, mas insatisfeito com a vida terrena e com as filosofias várias e teorias religiosas até então de mim conhecidas.
Por isso fui me habituando a não ligar a menor importância a indivíduos cuja alma me não era dado ver, e muito menos os hábitos, imperfeições, vícios e velhacadas tornados em segunda natureza, para só tratar dos Princípios que devem remodelar a humanidade, tão implacavelmente explorada por toda essa onda de mistificadores.
É claro, meu Gustavo, como tu estás farto de saber, que não aceitando as teorias desse “espiritismo”, tinha de ser, como tenho sido (e desejo continuar a ser), guerreado de morte por aqueles queridos irmãos trabalhadores da vinha do Senhor, apóstolos, missionários, “discípulos” de Jesus, desde os da primeira hora, chefiados pelo meloso Cirne, compadre e irmão querido do seu Inácio e “Jasmins” do sabiá coleira Vianinha e outros que tu bem conheces.
Assim, guerreando a Verdade explanada pelo Redentor, provam esses “discípulos” do divino mestre e cavadores da vinha do Senhor, ser, de fato, ignorantes da verdade, aos quais os homens honrados não devem dar tréguas, como eu absolutamente não darei enquanto estiver neste mangueirão, entre tal gente, para castigo meu.
Recebe o abraço saudoso do muito teu,

XXVI

Das grotescas invenções dos falsos espíritas, uns ignorantes, outros cretinos, e todos perigosos, ganhou foros de veracidade a asserção de que o corpo do forte, belo e destemido Jesus, era fluídico.
Esta invenção, meu Gustavo, tu bem o sabes e sentes, veio fortalecer a “máxima” já mencionada nas duas cartas anteriores, que têm como dogma, que o espírita não julga, não condena e não castiga.
Ambas as afirmações são contra as leis comuns e naturais, que o vulgo denomina divinas, mas inventadas para o mesmo fim de corrupção de lares e de caracteres de incautos, como a grande maioria indolente intelectual.
Não julga, não condena e não castiga”, serve de capa para as velhacadas e para obrigar os lesados na sua honra e nos seus haveres a não reclamarem, em voz alta, suportando todos as poucas vergonhas dos “irmãos” corruptores de suas mulheres e filhas.
Quando qualquer ludibriado gritar, reclamar, ameaçar chamar a polícia ou recorrer à justiça da pistola, do rabo de tatu, da piúva ou da peroba, vem logo o protetor do espaço, lá do antro a que pertence, por intermédio do “médium” de alma prostituída, repreendê-lo e avisá-lo de que tal desejo, tal noção da honra e do dever não são próprios de espíritas, de discípulos de “Jesus, de seguidores do Divino Mestre”.
Se porventura o “irmão” lesado se conserva firme na intenção da desforra, vem então o mesmo guia, com outro nome e por outro médium, também farsante, e lhe diz:
Meu irmão, não podes insistir nesse desejo, fruto da má inspiração, da má intuição e atuação dos zombeteiros que querem aumentar a tua desgraça para a outra encarnação. O que se está passando em tua casa, é uma das provações que escolheste ao encarnar, e se resignada e calmamente não cumprires essa provação, a tua vida material se arruinará, se tornará pior, e a vida astral será infernal. É com esses casos domésticos, meu irmão, que o pai celestial, o divino mestre experimenta os seus filhos e discípulos. Agüenta-os, pois, e dá graças a Deus por te haver concedido essa provação que deve remir todas as faltas e fazer a tua felicidade astral”.
Com tiradas destas, não há basbaque, não há desgraçado que não se resigne e se torne até manso e pacífico, ao sabor dos prevaricadores, e que não ceda a sua casa, a sua cama, a sua mesa ao malandro épico que, com a torpe capa de irmão e de discípulo de Jesus, lhe desonra o lar e o torna ridículo e cretino.
Mas, quando o tal irmão prevaricador carnal é chamado a contas pela sua vítima e vê que a madeira vai entrar em serviço no seu lombo, ou bala de pistola no seu crânio de bode no cio, sai-se, então, com esta tirada:
Imperfeito e atrasado que eu sou, meu irmão, eu vos peço perdão, porque se eu tivesse um corpo fluídico, como o do divino mestre, não seria tentado pela carne e pelos zombeteiros a prejudicar-vos.
Além de não ter corpo fluídico, como o mestre, e de não ser possível imitá-lo na sua vida material, é provação minha, como atrasado que sou, praticar atos que irritam os meus irmãos para obter deles o preciso perdão, e assim auxiliá-los no seu progresso espiritual, na sua provação, porque quem sofre se depura e o irmão que perdoa ao outro irmão, depura-se, cada vez mais. E como perdoar e purificar-se o meu irmão, se eu o não fizesse sofrer para ter o que perdoar? Já vê o meu querido irmão que a sua atitude contra mim, triste irmão seu em provação terrível, deve ser a do nosso Divino Mestre: perdoar, como ele perdoou a todos que o fizeram sofrer, desde a rua da amargura, até à cruz”.


[1] Ano de 1924

XXVII

Esse tal corpo fluídico de Jesus foi invenção de um francês, combatido por Kardec, apesar dos seus partidários o adotarem.
Com efeito, essa invenção, que desmoralizava toda a arenga mistificadora do mestre Kardec, foi aceita, desde logo, pela maioria mais sábia, mais erudita, mais missionária, mais apostólica do espiritismo, que a foi impingindo aos basbaques, como sendo ouro de lei, como sendo coisa de alta sabedoria do Além.
Ela serviu para facilitar a prevaricação e a desonra dos lares e servir de desculpa para as maiores patifarias, praticadas e a praticar por tantos indivíduos sem escrúpulo, capazes das maiores misérias para satisfazerem os seus animalizados instintos.
Por assim ser, o Kardecismo no Brasil ficou tão desorientado, que nem observou que o seu Kardec, o seu segundo divino mestre, combatia o tal corpo fluídico de Jesus.
Mas nem essa opinião do seu mestre eles puderam observar, nem tiveram, até hoje, um momento de juízo para ver que o tal corpo fluídico, além de ser contra as leis naturais, só serve para fazer de Jesus um mistificador, um intrujão, um tipo desprezível, pois que com esse corpo fluídico (que é o corpo astral ou duplo etéreo dos investigadores), não podia ele sofrer, ser pregado na cruz, nem ter necessidades fisiológicas, e não podia ser vítima de torturas próprias do mundo físico, onde veio encarnar, como todas as almas, estudar, pregar e vencer.
O fanatismo e a cegueira em que vivem com relação às leis espirituais, não os deixa ver que no mundo físico só um corpo físico gerado e nascido de mulher, e sujeito às leis físicas, pode estar e agir.
Esta tremenda léria de corpo fluídico de Jesus ganhou foros de coisas sérias e espalhou-se pelo Brasil, mais intensamente depois que, como espírito, antes espírita de primeira hora, Bitencourt Sampaio, aproveitando-se de um médium inepto, lhe intuiu um livro denominado “Jesus Perante a Cristandade”, dado à luz em 1898.
Nesse livreto de um espírito atrasado, transmitido por um médium desorientado, diz o tal Primeira Hora, tratando do corpo de Jesus: “Nós não conhecemos, em todas as suas evoluções, as leis dos fluidos, mas parece-nos que os espíritos prepostos designados para acompanhar o nosso divino mestre, na sua missão sobre a Terra, foram buscar na flor da vida e nos floridos trigais os elementos que deviam compor o corpo de “nosso Senhor Jesus Cristo”. Esta tirada acha-se exarada a folhas 26 do dito livreto do tal espírita da primeira hora.
Aí se verifica a ignorância desse espírita, que tem servido de apoio à afirmativa da criatura que tal bobagem inventou. Por esse pouco se vê bem o estado mental dos infelizes deturpadores, não somente de coisas espirituais, como das leis e coisas materiais.
Vê bem, meu Gustavo, para o que essa gente prevaricadora quer o corpo fluídico de Jesus, a maior das intrujices, e do qual continuarei a tratar: é para tornar o bandido meloso e humilde para com a sua vítima e para que esta, embora armada, se deixe vencer por essa lógica de cavadores da vinha do Senhor.
E propunham-se esses ignorantes dos porquês da vida a ensinar a Verdade à humanidade e a regenerá-la, quando somente da mentira e para a mentira vivem.
Até breve, meu Gustavo, e que a coragem te não falte para que a tua alma possa suportar as irradiações maléficas dessa gente que não te aprecia, porque não praticas más ações como eles.

XXVIII

Tenho-te dito, meu Gustavo, que os praticantes da magia negra, rotulada de espiritismo, são a maior praga que na Terra existe, porque, além dos seus maus instintos, são dominados pela indolência mental e não gravam se não aquilo que agrada à sua animalidade.
A prova dessa afirmação tens tu, meu amigo, bem clara, na aceitação que eles deram ao corpo fluídico de Jesus.
Se tal bando soubesse ler, digerir o que lê e raciocinar, facilmente veria nos Evangelhos, que eles dizem aceitar e seguir, que o corpo fluídico é uma tremenda intrujice dos obsessores.
Em São Mateus, por exemplo, no capítulo 1, que trata da geração de Jesus, diz, na parte 16: “E Jacó gerou a José, esposo de Maria, da qual nasceu Jesus – que se chamou o Cristo”.
A parte 2 desse mesmo capítulo diz: “ela, Maria, parirá um filho e o chamará por nome Jesus”.
No capítulo II, diz: “Tendo, pois, nascido Jesus em Belém de Judá” etc. Na parte 13, deste mesmo capítulo: “O Anjo lhe disse: - Levanta-te e toma o menino e sua mãe, e foge para o Egito”. Na parte 14, diz: '”José levantou-se, tomou de noite o menino e sua mãe, e retirou-se para o Egito”.
No capítulo IV, diz: “Então foi levado Jesus pelo Espírito ao deserto, para ser tentado pelo diabo; e tendo jejuado quarenta dias e quarenta noites, depois teve fome”.
Bem claramente se vê, pois, que Jesus foi gerado em útero de mulher (Maria), esposa de José, o carpinteiro. 
Vê-se, ainda, que esse nascimento de Jesus teve lugar em Belém, onde foi parido por Maria, e nesse lugar do nascimento de Jesus, José, seu pai, teve ordem do anjo para levantar-se, “tomar o menino e sua mãe, e fugir para o Egito”.
Levado, depois de crescido, para o deserto, ali se quedou 40 dias e 40 noites, jejuando, e tendo fome depois.
Ora, é claro, meu Gustavo, que os corpos fluídicos não nascem do útero de mulher, são formados pelo próprio espírito, quando precisam mostrar-se aos encarnados para dar-lhes a prova da vida fora da matéria, e assim, da existência da alma; e esses corpos fluídicos astrais “'não têm vísceras, não precisam de sangue e não têm fome, portanto”. Desde, pois, que Jesus nasceu de Maria e José, teve de fugir, quando menino, com sua mãe, e depois sentiu fome, é porque o seu corpo era carnal, como o de toda gente, repleto de vida anímica e necessidades inerentes à matéria organizada.
Os kardecistas, vendo tudo isso nos tais Evangelhos, que dizem seguir, aceitam outro corpo de Jesus, corpo contrário às leis naturais e a todos os sofrimentos pelos quais ele passou.
É sabido que foi a beleza física de Jesus que inspirou a paixão das mulheres aristocráticas que o viam, e foi mais por ele ser forte, belo e tentador dessas mulheres, que só para a carne e da carne viviam então, que Jesus foi morto. O seu maior perseguidor foi Hanan, ex-sumo-sacerdote dos judeus, amante de Maria Madalena, a qual abandonou o dito velho amante e acompanhou o heroico Jesus, o maior revolucionário da sua época.
É sabido que Cláudia, mulher de Pilatos, uma das mais belas damas da alta aristocracia, ficou, como vulgarmente se diz, doida por ele; e se Jesus a quisesse satisfazer nos seus desejos, é claro que Pilatos não lavaria as mãos mas imporia a sua libertação ao velho crápula Hanan, ex-chefe dos judeus que, louco de ciúmes por haver sido abandonado por Maria Madalena, fez questão, para vingar-se do abandono, de que se pregasse Jesus na cruz, como se fosse um bandido vulgar.
Vê tu, meu Gustavo, a que ponto chegam esses fiéis discípulos que nem os tais Evangelhos e o seu segundo divino mestre Kardec respeitam.
Como sempre, muito teu.

XXIX

A terceira tremenda patifaria inventada, meu Gustavo, é a tal provação que, junta às já descritas: “o espírita não julga, não condena e não castiga”, e à do corpo fluídico de Jesus, constituem a base de todas as poucas vergonhas praticadas.
Esse amontoado de baboseiras, enfeitado com as rendas “sem caridade não há salvaçãoe outras frioleiras, perdoa, para seres perdoado, de que trataremos a seguir, é o arsenal operatório desses lambanceiros.
Ignoram, propositalmente, que o que de bem ou de mal acontece ao ser humano, é, de um modo geral, originado pelo seu livre-arbítrio.
É pelo bom uso que se faz dessa faculdade, o livre-arbítrio, que ele se depura, alijando da sua alma, que é luz, as manchas provindas de erros praticados nesta e em encarnações anteriores.
Ignorantes propositais, não adquirem o hábito de raciocinar e, por isso, não sabem que desde que o espírito ascende à categoria dos racionais, passa a ter amplo livre-arbítrio para, com o seu uso, assumir a responsabilidade de todos os atos que pratica, e assim tornar-se bom ou mau, forte ou fraco, conforme o uso que de tal faculdade fizer.
Quem, pois, não quer raciocinar e pôr em ação para o bem essa faculdade superior, inerente à sua categoria racional e psíquica, vive, instintivamente, como os animais inferiores, e o seu livre-arbítrio torna-se uma arma terrível contra o ser humano, por somente dela fazer uso para o mal.
As muitas seitas ditas religiosas, principal causa da triste ignorância em que se encontra a humanidade, baseadas no sobrenatural e no milagre, inventaram a palavra provação, para mais facilmente reduzir os seus adeptos à tristíssima condição de escravos das próprias fraquezas, e assim não os deixarem raciocinar sobre a sua composição psíquica e as leis naturais que tudo regulam neste e noutros planetas, portanto no Universo.
Dessa invenção resultou levarem tudo à conta de provação, sem mesmo conhecer o significado desta palavra, e esperarem de Deus e dos espíritos remédios para todos os males, resultantes da sua ignorância e da vontade mal educada.
Entre esses infelizes logrados, roubados na sua boa-fé e haveres, destacam-se os tais espíritas de fancaria, para os quais tudo quanto lhes não dá amplo prazer é levado à conta de provação.
Se tal malandro “espírita” tem falta de dinheiro, porque não trabalha para o obter honradamente, desculpa a penúria com a provação, e não dá um passo para vencer a crise.
Se tomou uma bebedeira de cachaça ou outra bebida, e daí lhe resulta um embaraço hepático, leva-o à conta de provação.
Se a própria mulher o desanca porque, além de malandro, de nada produzir, ainda refila com ela, o patife está cumprindo a sua provação.
Se se apresenta em desalinho, sujo, cotroso, chapéu esbotenado, rilhado nas abas pelas baratas ou camundongos, e botas cambaias, corre por conta de provação.
Se a esposa, cansada de aturar tal porco, tal malandrão viciado, procura um homem de posses para ter a casa farta e limpa, os filhos bem tratados, e mete em casa tal pagante, o sem-vergonha a tolera, e tudo leva à conta de provação.
Como vês, uns pândegos, intrujões e pretensiosos.
Sempre teu,

XXX

Como deves ter observado na minha última carta, meu Gustavo, serve a tal provação de capa de tremendas misérias morais, praticadas, também constantemente, por tal casta de falsos espíritas. Essa “provação” serve, ainda, para conservar em desalinho mental e físico os seus adeptos, e lançar sobre eles e a doutrina que dizem representar o mais tremendo dos ridículos.
É por esse motivo que as pessoas limpas do corpo e da alma, principalmente da alma, com hábitos bons, embora puramente materiais, têm horror ao espiritismo bíblico que, explanado por tal casta, se torna perigoso e até nojento. E damos razão de sobra às pessoas que, fazendo questão de ser honradas e humanas nos atos e nas maneiras, repelem tal doutrina e seus adeptos.
Mesmo intuitivamente, sabe a gente limpa, a gente forte de ânimo, que a luta é a vida destinada a todo ser encarnado na Terra, porque é somente pela luta contínua contra os seus maus hábitos, as suas imperfeições e a ignorância e perversidade dos outros, que o espírito se depura e ascende, mais rapidamente, aos mundos de relativa pureza.
– Como, pois, o espiritismo bíblico pretende contribuir para o progresso da humanidade, se implanta a desordem, o desalinho e a miséria moral com a tal provação?
A provação, meu Gustavo, não existe, e sim o dever a cumprir, do qual resulta o sofrimento moral que cada ser tem de passar na Terra ou fora dela, mesmo em corpo astral, sofrimento que nem mesmo o livre-arbítrio bem conduzido pode evitar, porque esse sofrimento muitas vezes não depende dele, da sua vontade, e sim de terceiros – filhos, amigos, parentes – e até da humanidade.
Mas esse dever não o conhece o falso espírita por não saber o que são a moral verdadeira e a alma, com as belezas que em si contêm, e ela, a alma, demonstra quando bem educada, disciplinada e raciocinadora.
Criaturas sem a noção dessa moral, não podem deixar de ser zurzidas com o látego da Verdade que parte do Centro Redentor, para assim ficarem sabendo o risco que correm os incautos ao se aproximarem de tal gente e ao dar-lhe importância ou prestar-lhe mesmo passageira atenção, como continuarei a explicar e provar, para bem de todos os de boa-vontade. Até breve, pois, meu Gustavo,

XXXI

Pelo exarado na minha última carta, deves ter bem compreendido, meu Gustavo, que tudo está errado no espiritismo bíblico, cuja explanação e cuja prática, por isso, se tornam o maior dos males sociais.
Com a explanação feita por tal gente de princípios inteiramente errados, a maioria do gênero humano, que não sabe raciocinar, conserva a triste mania de atribuir os seus males a uma entidade qualquer, visível ou invisível, ou à tal provação escolhida pelo espírito ao encarnar, quando esses males nada mais são do que as conseqüências do mau uso que faz do livre-arbítrio.
A depuração do espírito só pode ser conhecida do sofredor humano, quando:
a) ele é instruído, racionalmente, e assim, esclarecido sobre o seu eu, a sua composição astral e física, e, portanto, conhecedor dos dois elementos componentes do Universo, Força e Matéria.
b) quando a criatura for esclarecida, observará os quatro princípios que constituem o homem verdadeiramente honrado, que são:
1. Valor para a luta pela vida, destinada a todos os seres;
2. Ponderação em todos os seus atos;
3. Moderação em palavras e ações;
4. Justiça para consigo próprio e terceiros.
Quer isto dizer, meu Gustavo, que somente sendo esclarecido e praticante desses princípios, também exarados no livro Racionalismo Cristão, o ser humano poderá chegar à compreensão dos seus deveres neste planeta, e fazendo bom uso do livre-arbítrio só produzirá bens, força e vigor, confirmando o axioma de que quem bem faz, para si o faz.
É, porém, certo que a maioria dos sofrimentos, quer morais, quer materiais, são filhos do livre-arbítrio de cada ser encarnado; e é para evitar esse sofrimento que o Racionalismo Cristão, que se explana e pratica no Centro Redentor, prepara as almas para a luta e para vencerem na vida; e só falirão, depois de assim esclarecidos, os covardes ou viciados.
O dever, pois, do ser humano é esclarecer-se racionalmente, disciplinar-se, educando a vontade para o bem, para as boas obras, e emitir melhores pensamentos, lutando para vencer o seu “eu” físico e psíquico, o seu maior inimigo nesta triste vida terrena. Palavras mais ou menos melosas e seráficas, leva-as o vento; e somente palavras, nada mais que palavras reboam na tal casta de praticantes da magia negra, rotulada de espiritismo, ignorantes propositais do que aí fica, apesar de ser a base do progresso dos seres.
Sem esclarecimento e prática da Verdade, meu Gustavo, não há evolução para pessoa alguma, faça as “preces” que fizer; desde que a alma não sinta e não vibre pensamentos de valor, nada, absolutamente nada consegue para a sua felicidade, para o seu proveito no Além.
É na remodelação dos hábitos, na correção dos vícios e das imperfeições, que reside o segredo da felicidade material e moral de todos os seres.
Atira, pois, às urtigas a tal provação, caro Gustavo, que somente desprezíveis, indolentes cotrosos, desalinhados, pedintes e malandros produz, e nada mais.
Abraça-te o sempre muito teu,

XXXII

Depois da terceira afirmativa – a tal provação – vem a outra máxima, não menos insidiosa: “sem caridade não há salvação”.
A Caridade é a prática do bem.
Que bem podem prestar a quem quer que seja, com a prática do baixo espiritismo?
Que bem poderá prestar quem é ignorante proposital da vida real dos seres, e de como deve ser vivida neste mundo de sofrimentos?
Se o bem serve para auxiliar a normalização das vidas moral e física dos seres, que normalidade poderá produzir um instrumento das forças inferiores, dos maus espíritos, produtores de inúmeros males de que sofre a humanidade em geral?
Que benefício espiritual e material poderá fazer a outrem uma coletividade obsedada por forças inferiores, por espíritos que se conservam na atmosfera da Terra?
Que bem poderá fazer um médium receitista do espiritismo bíblico, ignorante e supersticioso, se não existe um único que não esteja enfermo da alma e completamente dominado pelo astral inferior, que é composto de espíritos maldosos, mistificadores, ultraperversos, que usam de nomes ao sabor dos papalvos, para mais facilmente dominarem os que os ouvem e tomam a sério?
Que bem a quem quer que seja poderá fazer essa casta praticante e mantenedora da magia negra, a mais tremenda miséria que se pratica na Terra? Que “salvação” poderá produzir tal casta, se só males do corpo e da alma possui, só venenos mentais e físicos espalha por onde passa?
Que limpeza psíquica, e assim, que bem da alma e do corpo poderá produzir um ser se só lama, só sujeira, só misérias em si contém?
Pelo que aí fica, a prática da caridade tornou-se sem significado real, sem o efeito que se lhe quis atribuir.
Só pode salvar qualquer náufrago da vida física, quem na alma tiver força e vigor, e assim, limpeza para irradiar pensamentos puros, elevados, envoltos em fluidos benéficos.
Salvar corpos e almas combalidos pela ignorância e pelo mau uso que cada um faz do seu livre-arbítrio, só o pode conseguir:
1) Quem for esclarecido sobre os “porquês” das coisas;
2) Quem, depois disso, tiver uma vontade fortemente educada para a prática de boas obras;
3) Quem dessa vontade souber fazer bom uso, tornando-se forte para a luta e, sobretudo, justiceiro;
4) Quem, portanto, souber ligar-se às Forças Superiores, afastando as inferiores, e assim formando uma atmosfera de luz, emanada dessas mesmas Forças Superiores, que são as que beneficiam, as que tudo impulsionam para o bem.
Fora disso, nada de bom, antes de mau, de deletério pode produzir o ser humano, que acima de tudo e de todos não coloque o seu dever, e o cumpra à risca.
Como, pois, essa gente que nada de bom possui no corpo e na alma, afirma praticar o bem e diz que sem a tal caridade não há salvação?
Toma nota, meu Gustavo, porque sobre este ponto ainda algo mais tenho a dizer-te, por ser, como sempre, muito teu,

XXXIII

A palavra caridade, segundo os dicionaristas, quer dizer:
1) Amor ao próximo.
2) Uma das três denominadas virtudes teologais, que representa a benevolência, a bondade e a esmola.
Como vês, a caridade é uma palavra cujo significado só mui tardiamente será conhecido, sentido e aplicado pela humanidade, tal é o triste estado de atraso espiritual em que ela se encontra. Se a caridade, como diz o dicionarista, significa o amor ao próximo, torna-se impraticável, por ser o amor a maior, a mais perfeita das virtudes, que só pode, portanto, sentir e irradiar quem for completamente virtuoso; é claro que se essa virtude existisse na maioria das almas humanas, de maneira a vibrar, a irradiar consciente e racionalmente, não estaria o mundo no triste estado egoísta, invejoso, impuro e, portanto, mau, em que se encontra.
O que se observa sob a capa de caridade e amor, é comércio reles, anti-humano, que por toda parte animalizadamente se pratica.
Assim é, e será ainda por muito tempo, porque tal virtude, tal sentimento, tal vibração e irradiação, é um predicado da alma, da partícula de Força, Inteligência Universal que o vulgo chama Deus, e não do corpo carnal ou cérebro, como explica o psiquiatra professor Austregésilo.
Sendo, pois, uma virtude da alma verdadeiramente evoluída, senhora do seu corpo carnal, dominadora dos seus desejos intemperados e vencedora das dores e sofrimentos do corpo, tal qualidade não pode possuir e irradiar quem da Força, da Inteligência Universal não tiver noção, como a não têm os praticantes do baixo espiritismo.
Como queres tu, Gustavo, que quem quer que seja, sinta, vibre e irradie virtudes que absolutamente não conhece, por não as conter na alma?
– Que caridade, pois, é essa, que serve de divisa aos falsos espíritas?
A caridade é também empregada no sentido de dar de comer a quem tem fome, de beber a quem tem sede, vestir os nus e, assim, praticar atos puramente materiais, como um favor que o indivíduo faz.
Assim considerada a tal caridade kardecista, é ela um dever de solidariedade humana, não favor nem esmola.
É nesse sentido simples e erradamente material, que eles entendem a caridade e dizem que a praticam.
Também empregam esse termo, tornado anticristão e humilhante, quando o indivíduo se tem por médium receitista, passista e tudo quanto a intrujice imagina. Receita então uma água qualquer, com álcool mal cheiroso, para ser usada aos pingos ou gotas – “água suja pingada” – sem a menor ação curadora e, antes, danificadora.
Ignoram que para curar corpos físicos é preciso higiene mental e física e força atrativa de fluidos das esferas luminosas. Ora, tais fluidos curadores não os conhecem esses médiuns; nem pela sua fraqueza, imoralidade e obsessão os podem atrair, visto que o ser conforme pensa assim atrai, e quem pensa animalizada e perversamente, a ponto de ficar obsedado, como todo médium não esclarecido, só males pode produzir e, de fato, produz, como a seguir explicarei.
Até breve, meu Gustavo.

XXXIV

Claramente explicada a significação da palavra caridade, na minha carta anterior, fácil será, meu Gustavo, compreenderes agora que a sua prática se torna impossível por quem de si próprio, da sua composição espiritual e material não tem a menor noção e desconhece a virtude máxima da alma que se denomina amor.
Ora, tu bem sabes que o pior cego é o que não quer ver, e dessa cegueira vem padecendo, cada vez mais, o “espírita” praticante e caminhando para a mesma atitude, o teórico ou puramente evangelista, como eles se denominam.
Dizem esses pândegos que praticar a caridade é receitar e fornecer as tais águas pingadas aos incautos que os procuram, depois de desenganados ou explorados e empobrecidos pelos charlatões, quando a verdade é esta: Os médiuns que por ignorância e teimosia se colocam ao serviço das forças astrais inferiores, receitando, aconselhando ou dando passes, nada curam nem aliviam, antes danificam o corpo e a alma dos que os procuram, porque obsedados são todos, sem exceção de um único, e não possuem força mental para atrair espíritos já livres da atmosfera da Terra, e, portanto, limpos e em estado superior – os únicos capazes de aliviar os encarnados.
Quem recorrer a esses intrujões sai perdendo sempre, além de ficar escravo das forças inferiores que obsedam tais médiuns.
Quando acontece alguém ficar aliviado dos seus males do corpo e da alma, após “receitado por esses médiuns”, foi porque a sua vontade, posta em ação, atraiu o Astral Superior, e este, com suas cargas fluídicas e intuições, o aliviou, como já fartamente demonstrei nas minhas cartas anteriores.
São, pois, as próprias “forças curadoras da natureza humana”, vontade e pensamento atraindo os similares, que produzem as curas atribuídas a tal gente, e não esses indivíduos sujos de corpo e da alma que por onde passam só levam veneno e miséria consigo. Não se salvando a si próprios, não podem salvar outras almas das garras dos obsessores.
– Como, então, adotaram eles a divisa “sem caridade não há salvação”, se nem daqui a centenares de encarnações podem conhecer e praticar o amor, a virtude das virtudes, que só existe desenvolvida nos seres evoluidissimos, e, portanto, verdadeiramente virtuosos?
Além disso, a prática do amor e das virtudes não constitui favor; ela é obrigação dos espíritos em marcha para a evolução, e enquanto não chegarem a essa perfeição, não podem ser úteis a si ou a outrem.
Sendo a prática do bem o dever de cada alma, é esta quem lucra praticando-a, e não deve ser tomada como um favor, como esmola humilhantissima.
Quem tal bem recebe, lucra um pouco, materialmente falando, mas não absolutamente a sua alma, a qual tem que fazer por si, pelo seu esforço, o seu progresso espiritual, que é o único proveitoso, e é por isso que o Racionalismo Cristão afirma que quem bem faz para si o faz, por ser o bem que se pratica o real impulsionador do progresso que cada alma é obrigada a fazer, embora para chegar à perfeição, leve milhares de encarnações.
Ora, falar em amor quem só possui rancor e animalidade, fazer o bem, desprendidamente, quem desse dever não tem a menor noção, vê bem, meu Gustavo, que não pode ser, por contrariar as leis naturais, que afirmam que cada partícula da Inteligência Universal só pode dar aquilo que possui e que os similares se atraem e os contrários se repelem.
Quer isto dizer que quem só atrai maus fluidos, veneno astral e físico, não pode irradiar virtudes fortificantes dos corpos e das almas.
Aí tens tu, meu Gustavo, toda a verdade sobre a tal “sem caridade não há salvação”, quando é certo que sem instrução nem conhecimento racional é que não há evolução, por não poder pessoa alguma progredir e chegar ao termo da viagem espiritual.
Sempre muito teu,

XXXV

Depois de publicada a minha última carta, recebi alguns avulsos, meu Gustavo, referentes à alteração da denominação da tua Cruzada, que deixou de ser espírita, para denominar-se Cruzada Espiritualista.
Razão de sobra tiveste para essa mudança, pois a tal denominação de Espírita é uma carga demasiado pesada para ti que, frade velho e, portanto, com feitio e hábitos monásticos, verdadeiramente franciscano, não te sentes disposto a carregar trouxas de roupa suja, como é essa rotulada de espírita.
Dou-te, pois, os parabéns por essa mudança e por poderes fazê-la tão facilmente, de um dia para outro. Não me cabe tal bem, por haver-me obrigado a carregar tal trouxa mal cheirosa até que os incautos bem a conheçam e dela não se aproveitem, para não serem contaminados pelo veneno.
És mais feliz do que eu; preferes fradear o caso, a violentar os teus hábitos externos e internos, como eu estou fazendo, em nome do Racionalismo Cristão, que tem por dever tocar em todos os venenos sem se envenenar, em todas as estruturas sociais e sectaristas, sem se enodoar.
Tendo, pois, daqui em diante, de dar preferência à tua Espiritualista, nova denominação da tua Cruzada, pois que nessa denominação mais à vontade se acha o meu pobre espírito, que, como sabes, do teu é amigo certo, para tratar da verdade verdadeira, à qual se dedicou desde 1910, e já agora irá até à inércia do corpo, até à desligação completa da vida superior e intermédia, que é o estado de perispírito ou vida anímica dos que se proclamam cientistas.
Para isso, preciso se torna que os nossos leitores tenham conhecimento da tua pastoral curadora, bem borrifada pela água benta de igreja nova, servida por frade velho, de grande atilamento no savoir vivre, no lidar com quem se lhe apresenta e receber as graças mentais de que é possuidor, e para isso aqui vai ela transcrita:

“CRUZADA ESPIRITUALISTA – Sessões às sextas-feiras, às 10 horas. Rua do Rosário, 133, 2o andar.

A Diretora da Cruzada Espírita, atendendo a que uma sessão espírita é ordinariamente uma reunião onde se fazem evocações de espíritos, ou se produzem fenômenos psíquicos de várias naturezas: como nenhuma dessas coisas se faz em sessões senão estudos, preces e uso de música devocional, pareceu-lhe mais acertado denominar a Cruzada Espiritualista, por ser mais lata a sua acepção.
Além da colaboração dos espíritas, conta à Cruzada com a coadjuvação dos teosofistas, esoteristas, ocultistas e quantos estejam convencidos que a base de toda evolução espiritual reside no espírito de mais larga tolerância, e conseqüentemente da mais ampla fraternidade.
Desde que todas as escolas espiritualistas aceitem a verdade da reencarnação, a eficácia da prece e a comunicação dos espíritos não têm nenhuma divergência essencial e cabem perfeitamente dentro dos moldes da Cruzada Espiritualista.
Esperamos que a Cruzada Espiritualista seja mais um ótimo fator de união fraternal entre espíritas, teosofistas, esoteristas e ocultistas. – Gustavo Macedo.”

É o que aí fica, o que se contém em dita pastoral espiritualista, mais uma invenção dos homens físicos, vivendo para os seus antigos hábitos, para as suas imperfeições, como partículas da Inteligência Universal, portanto, da Força Inteligente. Desse espiritualismo tratarei daqui em diante, para que te certifiques, meu caro Gustavo, de que não se podem “pescar trutas a bragas enxutas”.

XXXVI

Entre as incontáveis mentiras ditas evangélicas, algumas palavras existem que se podem citar como exprimindo pensamentos sérios de qualquer espírito evoluído.
Dessas pouquíssimas palavras, aproveitáveis são estas, atribuídas a Jesus: “Só a Verdade vos fará livres”, que eu terei de citar muitas vezes, nestas cartas, para te provar a contradição nas palavras que constituem o teu sistema de “fradear” a vida, que tu denominas de “espiritualidade”, e que tem tanto de espiritualista, quanto eu tenho atualmente de frade, de Apolo ou mesmo de Petrônio.
Se, pois, é a Verdade a única força libertadora da crassa ignorância em que vive a pobre humanidade, meu caro Gustavo, obrigação é de quem, como eu, a conhece, explaná-la, embora tenha de torturar a alma, por saber que ela, a Verdade, dita e praticada à maneira racionalista, tortura e queima as almas amigas.
A tua teima em irritar as inferiores, que nada têm para dar por nada de bom ainda possuírem ou terem trazido da feira de Deus – como dizia a minha inolvidável genitora, que daqui para o seu mundo partiu sem saudades, deixando apenas muitíssimas a este filho, o mais novo dos sete.
É meu dever esclarecer-te, meu Gustavo, porque muito te quer a minha alma, velha companheira da tua, sempre superiormente fradesca nas encarnações passadas. Vai lendo e raciocinando sobre tudo o que leres, porque tudo, por menos importante ou aproveitável que te pareça ou ao leitor amigo, tem por base a Verdade.
Dir-te-ei, pois, meu Gustavo, que a denominação de Espiritualista que acabas de dar à tua Cruzada, é menos prejudicial do que a de “Espírita”, que lhe havias dado anteriormente, mas que, ainda que leve e maneirosa, é tal denominação uma mentira, porque não existe na Terra espiritualismo; salvo o Racionalismo Cristão, é puro materialismo tudo quanto existe sob a denominação de “espiritualismo”.
Das milhares de seitas que uma estatística, há anos publicada num jornal de Barcelona assevera existirem, não há uma única que seja verdadeiramente espiritual, porque não existe nenhuma que conheça a alma ou espírito, tal qual é.
Não conhecendo a essência da vida, e assim, do espírito, como é que esses sectários, inclusive os espíritas, se dizem espiritualistas, e como os aceitas no teu meio que, embora material, é limpo e cheira a lavado?
Não observas que todos os que se dizem espiritualistas, atribuem ao coração sentimentos e qualidades que só podem residir no espírito? É esta a prova mais certa e segura de que todos ignoram, inclusive tu, o que é a alma, bem como as qualidades que nela existem e como ela as manifesta.
Ora, sendo o coração um músculo, não pode sentir, vibrar, poetizar, cantar etc., visto que só contém em si matéria.
Torná-lo senhor e depositário de sentimentos, quaisquer que sejam, muito especialmente sentimentos de amor, o primacial nos seres humanos, é a maior das inverdades e prova da ignorância do que seja o espírito (alma) e assim o que é espiritualidade.
Raciocina, meu Gustavo, e até breve.

XXXVII

A vida humana, meu Gustavo, desde séculos incontáveis, desde a sua primeira encarnação neste planeta, tem sido uma comédia até certa idade dos seres, passando à tragédia, à medida que cada um se vai desenvolvendo psíquica e fisiologicamente. Essa comédia tem diversas denominações, desde a burlesca até à de relativa compostura.
A denominação que mais rapidamente foi aceita, e cuja representação é constante, é conhecida por espiritualista, conjunto de espiritismo à maneira e sabor do intelecto de cada ser.
Diversas são as outras comédias que pregam em nome de Deus, Pai Celestial, Nosso Senhor Jesus Cristo, Divino Mestre dos Kardecistas, santos e santas da corte celestial e outras, das quais tratarei nas cartas que se seguirem.
Dessa comédia, denominada espiritualista, têm resultado as muitas seitas religiosas, à maneira, sabor e educação de cada raça, de cada povo, de cada nação, e que são as mais requintadas mentiras convencionais que essa pobre humanidade tem inventado ou aceitado como coisas boas neste planeta, por ela e por todos os “sábios” desconhecidos na parte que mais interessa a todos os seres.
Dessas muitas seitas, filhas do falso espiritualismo e neste envolvidas para mais fácil ação deletéria que nas almas produzem, tem resultado, para a humanidade, o tristíssimo estado em que ela ainda se encontra em pleno século XX.
Todos se dizem espiritualistas e assim crentes numa entidade que não conhecem, invenção das mais pernósticas dos que mais julgavam saber e que denominam Deus que, considerado como tem sido, é um pratudo, idêntico a um cozimento de raízes, assim denominado em Minas, e que tanto serve para disenteria, como para prisão de ventre, para gerar filhos, como para desmanchá-los ou matá-los, para engorda de bezerros ou para curar-lhes a bicheira, para casar criaturas ou para as descasar e atirá-las à prostituição, para fazer o bem ou o mal, do qual trataremos, largamente, no momento azado para o estabelecimento da verdade, e assim da verdadeira Força Inteligente, origem de tudo quanto no Universo existe.
Sendo, pois, um grande mal para a humanidade a representação constante dessa comédia denominada Espiritualista, concorres tu, meu Gustavo, para esse mal com a tua Cruzada, outro termo de invenção grotesca dos tais escrevinhadores de coisas e loisas bem inferiores à sua própria imagem.
Por assim ser é que te disse aquelas verdades que deves ter considerado exageradas, nas minhas duas últimas cartas, para que ponhas em ação o teu raciocínio e procures penitenciar-te, como eu o tenho feito e farei até à última hora da vida física, desses graves erros praticados, em todas as encarnações, com a capa de espiritualismo.
Dar a mão à palmatória, como vulgarmente se diz, quando se praticam faltas, como a de denominar espiritualismo ao que não passa de puro materialismo, é erro grave que muito prejudica o progresso humano e a realização dos magnos problemas da vida física e moral, confessar o erro é nobre, é honrado, é o cumprimento do dever de todos nós.
Deves saber, como eu sei:
a) Que a ignorância é a origem de todos os males e de todas essas comédias mencionadas e doutras que irei mencionando;
b) que, portanto, a ignorância impede e desvia todo progresso, expondo as massas às resoluções leigas e sectaristas e conduzindo os povos à superstição e ao fanatismo, ao sobrenatural e ao embrutecimento;
c) que a ignorância é contrária às leis naturais, que vós denominais “divinas”.
Quer isto dizer, meu Gustavo, que todo homem que se instrui e abre o caminho da verdade aos outros, produz obra útil, benéfica, patriótica, humanitária, e que os que se quedam nas mentiras convencionais, leigas ou religiosas, praticam um crime, pois que a mentira “é o maior de todos os crimes”.
De crimes tem sido a prática dos homens que sabem ler e não põem em ação o seu raciocínio para o bem próprio e do Todo – a humanidade – que tanto está sofrendo, por manter-se escrava da ignorância em que a têm conservado os chefes das seitas, da falsa ciência e da reles política.
Vê, pois, meu Gustavo, que ser espiritualista sem conhecer o que seja o espírito, a Inteligência Universal, não é possível, e é erro grave.
Pensa no que aí fica para teu governo, meu Gustavo, de quem sou muito amigo.

XXXVIII

Deves ter observado nas minhas últimas cartas, meu Gustavo, que todo ser humano que se apresenta como espiritualista, concorre para a continuação da comédia, que, com esse nome, se representa em todo o mundo, e erro grave, portanto, pratica.
Assim, erro grave praticas tu, meu Gustavo, porque apresentando-te como homem de bem, de honestidade material comprovada, como digno marido e bom cidadão, atrais criaturas que vão à tua Cruzada em busca do que necessitam, sem bem saberem definir o que seja; e, lá chegadas, continuam a quedar-se na mesma triste ignorância, porque, não seguindo tu os Princípios Racionalistas Cristãos – únicos que tudo explicam – não podes satisfazer nem a tua alma nem a daqueles que te procuram, por não poderes esclarecê-los sobre a sua origem, deveres durante a estada neste planeta e o fim a que devem chegar.
Não ignoras que quem mal faz para si o faz e, por assim ser em todos os tempos, grande mal, imenso mal para a tua querida alma, meu Gustavo, estás fazendo, dizendo-te espiritualista e atraindo almas ávidas de luz e, portanto, de conhecimentos de tudo o que no Universo existe. Cada um de nós é o Universo em miniatura, como farto está o Racionalismo Cristão de o dizer e provar no Centro Redentor e nas suas Filiais.
Tu não te queres confundir com os outros, com os cretinos, os falsos espíritas, e tanto assim é, tão nojenta te pareceu a denominação de “Cruzada Espírita”, que a mudaste para “Cruzada Espiritualista”.
Provaste que não desejas descer, nivelar-te a essa gente supersticiosa, fanática, cretinizada; queres manter-te acima das misérias que os tais “espíritas em provação” praticam, com prazer; e por isso, com mais um empurrão, meu querido frade velho, e como tal marinheiro de muitas derrotas, atiras a caixa ao porão.
– Sabes, meu Gustavo, qual é a maior crise do mundo? É de coragem, moral, para o ser libertar-se da prisão provinda de muitas mentiras convencionais e de todos os graves erros sociais.
Ora, tu, meu Gustavo, não és um ignorante vulgar nem possuis a cobardia dos nulos que acreditam precisar de todos os argentários para levarem a vida folgada.
Tu tens uma vida material garantida pelo teu honrado trabalho, pela tua grande responsabilidade, pela tua profunda honestidade material de esposo e pai.
És, portanto, um homem independente, de ninguém dependes, e não ignoras que o homem mais rico do mundo é aquele que vive alegre e satisfeito com o pouco que ganha ou que conseguiu juntar para o inverno da vida, e que não tem um único vício que o obrigue a perturbar-se e tornar-se um sabujo, um instrumento vil da canalha dourada, lupanaresca, dissoluta, que vive e se mantém dos assaltos aos interesses do povo e de altos expedientes inconfessáveis.
É, pois, no alijamento de vícios, de maus hábitos e, assim, a inteira independência para poder caminhar com segurança na terrível estrada da vida física e astral que o ser humano encontra a felicidade.
Somente, pois, os covardes, os viciados nos fandangos dourados, no “chá-tanguice”, nos requebros, gestos e maneiras sensuais, libidinosas, caprino-bodéficas, não se podem alar para a luz, explanando e praticando a Verdade, única que “vos fará livres”, como disse alguém de juízo e de valor.
Ora, não estando tu nesse ajuntamento desprimoroso, e sim bem distante dele, como prova a tua exemplar vida material e de família, praticas um crime pelo qual o maior lesado és tu próprio, não raciocinando sobre o que te tenho dito e que estás farto de saber pelas obras do Centro Redentor, cuja assistência a cada Sessão Pública de Limpeza Psíquica monta a cerca de três mil pessoas, verificadas nas três Sessões Públicas de normalização de corpos e de almas, que nele se realizam semanalmente.
Tu já declaraste que não praticas a absurda confabulação com o astral inferior, com os espíritos lodóricos, urubatãs, ismaéis e magna caterva astral; não fazes as tais sessõezinhas em família ou em grupos. Para que, pois, conservar-te no outro erro, embora mais suave e limpo – o do “espiritualismo”, que só é aquele explanado e praticado pelos racionalistas de verdade, pelo Centro Redentor e suas Filiais?
Vá, meu caro Gustavo, atira o hábito, os Evangelhos e todas as maneiras monásticas às urtigas, e torna-te de fato o que a tua alma, nas horas de paz, quer que tu sigas como homem físico, valoroso e justiceiro, para teu próprio bem e dos que te procuram na tua Cruzada e fora dela, como homem limpo, cheirando a lavado em toda a linha.

XXXIX

No teu avulso, explicando a mudança da tua Cruzada Espírita para Espiritualista, defines mal o Espiritismo verdadeiro, que é a ciência das ciências, e não a torpe evocação de espíritos para a prática de patifarias, como geralmente fazem, e dizes que não se praticam na tua Cruzada tais misérias, porque não te apraz fabricar loucos e desgraçar lares, nela só se tratando de “estudo, preces e uso da música devocional”.
No entanto, não dizes que estudos são esses, nem o que seja a prece, e muito menos a música devocional de que tratas na tua Cruzada. Não dizes, porque não sabes, porque realmente são palavras que nada exprimem, inventadas pelos mesmos homens que inventaram as outras, que tu bem conheces: Espiritualista, Deus, Divindade, Santos e Santas cá deste alambique depurador de Forças várias, dentre as quais se salienta a humana, por mais evoluída e apta a raciocinar e resolver os problemas da vida com acerto.
O estudo, pois, a que te referes, não passa de uma fantasia ou de frases inventadas para encobrires a ignorância que domina toda ou quase toda a pobre humanidade, a qual, desde séculos incontáveis, desde a sua primeira encarnação neste planeta, afirma que anda a estudar os problemas da vida, tem mesmo inventado códigos do bom-tom, compêndios vários sobre a maneira de bem viver, sem até agora saber o que é a vida real e como ela se deve viver realmente, verdadeiramente, proveitosamente.
Desde que o tal espiritismo, que quer dizer estudo da alma para conhecimento certo e seguro da mesma e do seu papel em todo o Universo, não te agrada, como dizes, outro estudo qualquer, meu Gustavo, não tem o menor valor, constituindo erro grave, porque é conservar a humanidade na desgraçada ignorância em que se acha, na qual tem vivido sempre até o aparecimento do Racionalismo Cristão que se pratica no Centro Redentor e nas Filiais deste.
– Como pode o ser humano estudar qualquer coisa a sério que aproveite a si e ao tudo quanto existe no Universo, e, assim, ao seu próprio “eu”?
O que se fez até 1910, foi estudar e explanar efeitos, ignorando, por completo, a sua causa inteligente.
Sim, meu Gustavo, porque o estudo da matéria organizada, e mesmo inorgânica, é o estudo do efeito, único que preocupa toda gente, e não da causa.
O que é, porém, essa matéria em si, não o sabem os tais sábios, e da força em si e do seu papel na vida real de todos os seres nenhum deles ao menos suspeita nem procura saber, e quando o Racionalismo Cristão lhes prova, teórica e praticamente, o grave erro que todos praticam, em vez de correrem a ampliar, a desdobrar os conhecimentos que têm por base a Força e a Inteligência fora da matéria e mesmo ligada a esta, revoltam-se contra quem se presta a ensinar-lhes a Verdade verdadeira, sem o conhecimento da qual nada se aproveita realmente do que eles, “sábios,” dizem saber.
Estando, pois, tudo errado, por faltar-lhe a base, que é a Força Inteligente parcelada no Universo, meu Gustavo, que estudo é esse teu sobre erros e mentiras convencionais que andam por aí berradas, buzinadas em todos os tons e até em todos os tamanhos, cores e feitios?
Pensa bem no que aí fica, e no muito mais que te disse em muitas cartas, e verificarás que nada lucraste mudando o rótulo da tua Cruzada, na qual nada se estuda, porque o que lá se prega não é o verdadeiro Espiritualismo, que tem por base a Verdade, o conhecimento do Grande Foco, gerador de tudo quanto existe, e assim o conhecimento da alma humana.
Não te iludas por mais tempo, meu Gustavo, com tais estudos de mentiras convencionais, porque, repito, somente a Verdade te fará livre e te libertará das garras da ignorância que até hoje tem dominado a humanidade inteira, ignorância de que tem resultado esse sofrimento horrível por toda parte, essa anarquia tremenda que reina entre todos os povos da Terra.
Nas mesmas condições de “estudo” estão as tais “preces” e “uso de música devocional” a que te referes, e das quais tratarei a seguir, por ser, como sabes, muito teu,

XL

No mesmo caso dos tais estudos, estão as '”preces” e a “música devocional” na tua Cruzada, sobre as quais creio que já disse algo nas minhas cartas anteriores. Todavia, nunca é demais, quando se trata de bem claramente colocar as coisas nos seus verdadeiros lugares e insistir no assunto.
Se, pois, os estudos a que te referes não têm base séria que aproveite aos que te procuram para saber o que é a vida real de todos os seres, e como eles a devem bem viver, melhor base não podem ter as tais preces e a música devocional.
Não se sabe, até agora, no Racionalismo Cristão, como tratar de qualquer coisa sem base sólida, sem alicerces bem fundados e argamassados. Também está fartamente sabido que não se pode amar verdadeiramente o que verdadeiramente se não estuda e, portanto, não se conhece.
Assim sendo, meu Gustavo, como queres tu torcer o bico ao prego, que é como quem diz deturpar as leis comuns e naturais que tu e todos os sectários de todas as seitas denominam divinas, se elas só movimentam, dirigem e governam elementos de real existência, desde o granito ao ferro, aos vegetais, aos animais, às vidas diversas, enfim, que formam o Universo, e que a humanidade ignora, em absoluto?
A prece, inventada pelos fanáticos, indolentes e preguiçosos mentais, quer dizer irradiação de pensamentos a elementos conhecidos, que possam beneficiar os que os irradiam.
– Mas, como irradiar, e assim, vibrar, verdadeiramente, se vós, e quando digo vós, digo todos os sectários que se dizem espiritualistas, não sabeis o que é a força em si, partícula da Inteligência Universal, fonte, origem dos pensamentos humanos?
Não possuindo esse conhecimento certo e seguro, filho de constantes estudos bem raciocinados, de experiências feitas nos laboratórios psíquicos do Racionalismo Cristão, ignorando o que seja o pensamento e como ele se irradia a qualquer dos elementos da vida, que residem fora de nós e a nós vêm, conforme a nossa vontade, que preces são essas, que força irradiativa podem elas possuir, se a alma, da qual são vibrações os pensamentos, tudo ignora, inclusive o que ela própria seja?
Como podes tu, meu Gustavo, ou quem quer que seja, montar o cabo tormentório da vida física e entrar no mar do entendimento, da sabedoria constituída pela Inteligência Universal, e assim, religar-te às Esferas Superiores, donde emanam a Verdade e o bem para todas as almas, se teu barco é frágil, os marinheiros são pastores serranos e, portanto, bisonhos, sem roteiro certo e instrumentos próprios de marear nesse mar revolto da vida?
Ignoras que para Afonso IV, o Bravo, de Portugal, poder descobrir o Brasil em 1343, teve de instruir marinheiros nas pequenas Escolas criadas por D. Dinis, servidas por mestres, como os Adornos, os Peçanhas, os Perestrelos e outros, mandados vir das Escolas do Mediterrâneo, de Veneza, rainha do Adriático, de Pisa e de Gênova?
Ignoras, também que, para montar o Cabo Tormentório, hoje denominado de “Boa Esperança”, e passar à Índia (terra do Prestes João), como era tão conhecido esse antigo e riquíssimo país, fundou o Infante D. Henrique a importante Escola de Sagres, bem no promontório desse nome, da qual saíram os grandes da Guiné, dos Açores, de Cabo Verde, da lindíssima Madeira, das terras, enfim, da Ásia, da África e Oceania?
Como, pois, queres tu, meu Gustavo, caminhar, cruzar esse mar tormentoso da vida real, sem estudá-lo primeiro, profundamente, para fazer nele navegação certa e segura?
Como queres tu entrar no mundo moral e ancorar em porto seguro da vida real, que só é aquela que se vive fora do mundo físico, se desconheces o caminho para ele e a irradiação e o seu valor?
Não te iludas, meu Gustavo, com o mexer dos lábios e revirar de olhos. Isso pertence ao homem físico, pura matéria, e não prova sentimentos e conhecimentos elevados, mas simplesmente maneiras de estar na Terra e de praticar as mentiras convencionais para se iludirem uns aos outros e a si próprios.
Assim, a tal música devocional, que absolutamente e pelo mesmo motivo acima exarado, nada significa, não tem valor algum, nada aproveita a quem a faz e a quem a ouve, porque não prepara o ser para a luta, visto ser esta a única que purifica as almas e as faz ascender mais rapidamente à luz, ao Grande Foco, do qual fazemos parte.
É claro que a música é agradável a todos os viventes, mas não os auxilia a progredir nem lhes dá esclarecimentos sobre a vida real de cada ser. Forma a música, qualquer que ela seja, um ambiente ameno, algo branco, e assim, diáfano, mas nada mais, e é de pouca duração. Após esse estado de vibrações musicais, fica o ser na mesma ignorância e capaz de trucidar ou matar mesmo qualquer ser humano que contrarie os seus sentimentos caprino-bodéficos, e assim, de ciúme, egoísmo, inveja e vaidade, sentimentos inferiores que a música não remodela nem alija dos seres.
Para que serve, pois, tal tocar e cantarolar, tal musicar devocionalmente, como tu dizes? Para iludir as pobres almas que te procuram para conhecer a Verdade, e assim, a maneira de lutar e vencer na vida?

XLI

Depois do que ficou exarado nas minhas duas últimas cartas, dizes tu ainda, meu Gustavo, no teu avulso:

Além da colaboração dos espíritas, conta a Cruzada com a coadjuvação dos teosofistas, esoteristas, ocultistas e quantos estejam convencidos de que a base de toda a evolução espiritual reside no espírito da mais larga tolerância e conseqüentemente da mais ampla fraternidade”.

Não dizes, porém, meu Gustavo, em que consiste essa coadjuvação, se a dos espíritas ou dos teosofistas, esoteristas etc. etc. E não o dizes porque nada de verdade, de real sobre a alma e seus deveres sabem esses sectários e muitos outros que se rotulam de espiritualistas.
Que sabem os tais “espíritas” a que te referes, que nada mais são do que instrumentos conscientes ou inconscientes, teóricos ou práticos da magia negra?
Absolutamente nada. Disso, meu Gustavo, és tu bem ciente, bem convicto, porque, como frade velho, és perfeito conhecedor das imensas manhas da humanidade, especialmente da requintada velhacaria da maioria dos que se dizem, espíritas e espiritualistas.
Tens horror ao isolamento e procuras, por isso, acender uma vela ao tal pai celestial e outra ao capeta, que, fora da Bahia, se denomina diabo, com guampas, rabo e pés-de-cabra, conforme o inventamos nos tempos idos, nas encarnações anteriores, em que fradeando essas vidas passadas, era nosso desejo ardente fabricar cretinos, para mais facilmente dominarmos em toda linha e levarmos vida folgada entre almas nossas, mui prestimosas, mui quituteiras, abadessas e freirinhas, “esposas de Cristo”, e por vezes, não poucas, dos pregadores dos tais Evangelhos atribuídos a esse valoroso e grande espírito.
Farto estou de observar que hábitos velhos, especialmente os que dão prazer à vida inferior e na carne produzem sensações agradáveis, embora momentâneas, hábitos de escravizar mulheres bonitas aos desejos intemperados, as coisas que denomino de garanhices, farto de saber que tais hábitos que o ser humano vem praticando, desde a sua primeira encarnação, constituem uma segunda natureza, como vulgarmente se diz, ou uma vida inferior dominante, que somente com grande trabalho se pode, pouco a pouco, corrigir.
E daí é que resulta a tal afirmativa de que a natureza não dá saltos, porque a partícula da Força que organiza, incita e movimenta o corpo humano que lhe serve para estar no mundo físico, indolente e quase querendo imitar as forças graníticas, tendo o seu livre-arbítrio, sente-se melhor assim animalizada do que lutadora, para tudo vencer na vida real.
Desse mal, meu Gustavo, sofri eu até aos cinqüenta anos desta encarnação; sofres tu, ainda, velho companheiro, e sofre a humanidade em geral, porque os espíritos, até certas categorias, tendem todos para o menor esforço e mais fácil viver.
A tal ponto vão os adeptos do “menor esforço”, meu Gustavo, que o Dr. Martim Francisco mencionou, num dos seus profundos e alegres escritos, o fato de um vulto político do seu conhecimento ser tão republicano da época e tão épico do “menor esforço”, que conseguiu casar com uma viúva que já trazia consigo “doze filhos” feitos.
Adeptos, pois, tu, meu Gustavo, da lei do menor esforço, desde a primeira encarnação, não queres, nesta, mudar de ideias nem de rumo, e assim continuas a fradear o caso da vida atual que devia ser toda repleta de lutas bem raciocinadas, e assim, da explanação da Verdade, que nós sempre conservamos escondida, como luz que é.
Assim sendo, que coadjuvação é essa dos sectários que nada sabem da vida real e provam ser adeptos da lei do menor esforço, a tal ponto, que nem para procriarem, real e naturalmente, têm coragem, tanto que procuram casar com viúvas que já tenham filhos, segundo narrou esse Andrade, da minha mais alta consideração e real estima, a quem acima me referi?
A seguir, meu Gustavo, serei mais claro sobre esta parte da reforma da tua Cruzada, e assim, mais amplamente explanarei o grave erro que estás praticando com a tua tolerância de falso espiritualismo e dos vícios do mesmo, e assim, tolerante de crimes que a verdade manda lembrar, castigar e não tolerar.
Muito teu,

XLI I

Dizes tu, Gustavo, que a base de toda a evolução espiritual reside no espírito da mais larga tolerância, quando é justamente o contrário.
Assim pensando e agindo, imitas os praticantes da magia negra que se fazem passar por espíritas, para mais à vontade praticarem toda sorte de patifarias, e afirmam e espalham por toda parte “que não se deve julgar, condenar, nem castigar ninguém”.
Confirmando tu essa tremenda miséria e tornando-a como base do “progresso espiritual”, tornas-te um criminoso contra os desejos do teu espírito, principalmente quando o teu proceder na vida que vives em nada se parece com o dessa gente,.
A mais larga tolerância, quer dizer confundir-se o tolerante com todos os prevaricadores, com todos os patifes, com todos os elementos deletérios da Sociedade que, propositalmente, nela vivem praticando crimes, dissolvendo os bons costumes e a tudo e a todos procurando corromper.
Será isso que manda a Verdade que na Terra foi explanada por um grande espírito que na Índia se chamou Krishna; no Egito, Hermes; na Grécia, Platão; na China, Confúcio; e na Judeia, Jesus? Não, absolutamente não! Mentem todos que tal torpeza lhe atribuem.
Se Jesus tivesse sido um ser tolerante, não pregaria a Verdade tão denodadamente como o fez, e seria querido ou tolerado pelos escribas, pelos eruditos, pelos nobres e pela seita judaica, como o era pelo povo; que o ouvia e dele recebia a amenização para as obsessões que adultos e crianças sofriam.
Como, pois, afirmais vós, espiritualistas, a maior das inverdades e dos crimes atribuídos a Jesus, quando todos os espíritos da sua categoria e, portanto, honrados, sempre afirmaram que o maior mal da humanidade é a ignorância, e que somente a explanação e prática da Verdade poderia libertá-la desse grande mal, e torná-la relativamente feliz neste mundo de torturas?
Se Jesus e todos os espíritos evoluídos tinham a certeza que a Verdade verdadeira queima, tortura, esmaga a alma do convencionalista, do intrujão, qualquer que seja a sua categoria, e se afirmam que só é honrado, só é útil, só é benéfico a si e ao seu semelhante o que a explana e pratica, doa a quem doer, como é que tu, que te dizes seu discípulo, afirmas o contrário e te irmanas com a intrujice, com as mentiras convencionais, quando é certo que de fato a mentira é o maior de todos os crimes e é ela que tem retardado o progresso da humanidade?
Para que, pois, os tais missionários, os tais apostólicos, os tais que se dizem cristãos, se a mentira tem adoradores e em vez de elevarem templos à virtude, os elevam ao vício, e deles fazem a sua vida deliciosa e única?
Para que, pois, procuras tu, meu Gustavo, fazer do teu lar um santuário, dando à tua prole exemplos dignificadores, se achas defensáveis a prostituição, a prevaricação, a vilania, a ponto de as tolerares, incondicionalmente, e com elas te irmanares, como dizes?
Por hoje é só isto, meu Gustavo, visto que esta parte do teu programa dá pano para mangas.
Sempre muito teu,

XLIII

Como é que a mais larga tolerância a que te referes pode concorrer para o adiantamento do espírito e mais ampla fraternidade, se só a Verdade explanada e praticada é que liberta o espírito das garras da ignorância em que vive e o impede de ser sedutor de lares e, portanto, ladrão do que, na vida terrena, há de mais precioso, como seja um lar-abrigo das almas que precisam depurar-se e que, pela prática das suas virtudes; devem concorrer para melhorá-las, uma vez que estão em depuração neste planeta?
Se é certo que todo ser humano, embora somente materialmente honrado, e que tem em seu espírito gravada a noção de higiene mental, procura afastar-se dos prevaricadores, dos corruptos, dos venais, porque a sua alma se sente mal junto de tal gente, como é que tu persistes nesse erro, atribuído a Jesus, o mais valoroso, ponderado e justiceiro dos espíritos que vieram encarnar neste planeta torturante?
Se os homens organizam códigos e leis pai reprimir os abusos e a animalidade dos seres obrigando-os a uma compostura cristã e racional, tanto quanto lhes seja possível, como é que tu, que és o que já tenho dito, mais de uma vez, um homem que cheira a lavado, e assim, digno de viver entre gente civilizada, aceitas a tal tolerância de torpezas e vilanias contrárias às leis naturais, às leis do progresso dos seres, contrárias, inclusive, às leis dos homens, feitas para o relativo bem-estar social?
Como isto é triste para minha alma, principalmente por ser dito por ti, assim como quem diz o que sente e sente o que diz, quando tudo é contrário ao desejo da tua alma, que já sabe que a mentira é o maior de todos os crimes, e que dizê-la ou praticá-la torna todo ser humano o mais inferior dos viventes e até indigno de viver, porque de tal só é digno quem sabe lutar por causas justas que tenham por base a Verdade, e, assim, o bem geral da humanidade.
Tens, bem sei, o teu livre-arbítrio, e pela sua prática te tornas o único responsável pelos atos que praticas; mas quando se é esclarecido, não se pode ver o estacionamento de uma alma, o aumento de manchas, em virtude desse livre-arbítrio, sem que a nossa tenha tristeza profunda e chegue mesmo a chorar pela grande desgraça dessa a quem amamos verdadeiramente.
Por assim ser, meu Gustavo, é que me tens aqui a explanar a Verdade, em todos os tons que os seres de boa-vontade aceitam. E, como eles, deves também aceitá-la tu. Liberta-te, pois, dessa indolência mental que tanto te fará sofrer nesse além grandioso e belo onde, como tribunal e juiz de ti próprio, te vais condenar ao sacrifício de nova encarnação em condições tristíssimas, como acontece com todos os que abusam da felicidade atual, olvidando-se da Verdade e, assim, da felicidade espiritual.
Até breve, meu Gustavo, e aceita o meu abraço saudoso, por ser, como sempre, o muito teu,

XLIV

          Deves ter notado a falta das minhas cartas e até pensado que elas não continuariam. Natural essa falha, meu Gustavo. Uma perturbação cardíaca obrigou-me a partir, no dia 28 de novembro, para as portas da eternidade, que me não foram abertas por determinação de São Pedro, nosso camarada e amigo velho. De lá voltei, há dias, muito contrariado, pois me parecia que já era tempo de deixar este alambique depurador de almas. Fui de aeroplano, mas tive de voltar em carro de bois, por ser essa a condução que São Pedro fornece aos apressados em bater-lhe à porta, que guarda com muito carinho.
          Aqui me tens, ainda, por mais um tempinho, para dar “prazer” a todos os que tu denominas espiritualistas, entre os quais reina a “mais ampla fraternidade”, como tu afirmas na tua Cruzada, e que gostam tanto de mim e dos meus produtos psíquicos, como gostam das próprias tripas, quando fora da barriga.
          Perguntando a São Pedro (o legítimo, o autêntico, calvo e barbudo, que antes de o ser se chamou Cícero, na sua bela Roma tribunícia, e não o que está encarnado no “nosso compadre” Leopoldo Cirne, como ele e o esbelto compadre seu Inácio afirmam por toda parte), por quanto tempo ainda teria de quedar-me neste terrível ambiente de animalizados, que tu denominas espiritualistas de todas as cores e feitios; respondeu-me o boníssimo mordomo do céu, o maioral daquela célebre corte que nós inventamos, no correr de encarnações diversas, para mais facilmente dominarmos os papalvos e o belo sexo, fregueses dos nossos confessionários, que quando eu houvesse fechado, com lucro, o balanço da casa verdadeiramente espiritualista, que é o Centro Redentor, me daria licença para entrar lá no céu e assentar-me ao lado direito de Deus, fazendo parte do grupo dos que bem cumprem o seu dever.
          Esse grupo, que aqui se denominaria Ameno Resedá, Mimosas Cravinas ou ainda Flor do Abacate, ou mesmo Chuveiro de Prata, não aceita, em seu seio espiritualista, algum cá desta taverna infecta, que denominam Terra, por serem todos de má catadura e terem o perdão, o amor e a fraternidade nos lábios, e a mentira, a animalidade e todas as perversidades na alma, que eles desconhecem em absoluto.
          Já vês, pois, que é um Grupo limpo, “supimpa”, como cá dizem; e ninguém entre os que o compõem, usa bigode pontudo (assim como o dos antigos guitas, soldados de polícia da Líbia amada), como os do nosso inolvidável Inácio, de Botafogo, que revira os olhos para o alto à procura do tal pai celestial, como o compadre Cirne, para mais facilmente passar por apóstolo, por missionário, enviado do dito pai celestial.
Lá, porque tudo fia mais fino, a gente dessa espiritualidade é mandada por São Pedro, para as “Pedras Negras” dos praticantes da magia negra.
Toma, pois, cuidado, meu Gustavo, porque quem assim te fala é porque deseja a tua desligação mental desse pessoal da lira, que tu denominas espiritualista, e que não passa de inferior materialista, desses que da moral, e assim, da Verdade, não têm a menor noção.
Na carta a seguir tratarei do que tu chamas “escolas espiritualistas” e “sobre a aceitação da verdade da reencarnação, a eficácia da prece, a comunicação dos espíritos”, preparo exigido por ti para ser tomada a sério qualquer criatura que labialmente afirme “crer” nessas lérias.
Por hoje, basta. Muito teu,

XLV

“Desde que todas as escolas espiritualistas aceitem a verdade da reencarnação, a eficácia da prece e a comunicação dos espíritos não têm nenhuma divergência essencial e cabem perfeitamente dentro dos moldes da Cruzada Espiritualista”, dizes tu, no teu manifesto último, quando tratas da mudança do nome da tua Cruzada.
Tudo o que aí fica, meu Gustavo, está errado:
1) Porque, não podendo haver efeito sem causa, não podem existir escolas espiritualistas, porque nenhuma das seitas existentes sabe o que são a “Força em si e a Matéria em si”, os dois únicos elementos de que se compõe o Universo.
Assim ignorantes, os sectários de todas as seitas não sabem o que é o espírito ligado ao corpo e fora deste, e quais os seus deveres.
Aí tens tu o primeiro erro teu, do qual derivam os outros.
2) Como podem tais espiritualistas de fancaria aceitar a verdade da reencarnação, se são uns perfeitos ignorantes do que seja o espírito e, assim, eles próprios como Força inteligente, o Universo em miniatura, portanto?
Nas mesmas condições estão as tais “preces” e as comunicações dos espíritos.
A prece (irradiação) só tem valor quando é sentida e vibrada verdadeiramente, atingindo a partícula de Força Superior, à qual se liga, em virtude desse sentir, dessa vibração da alma. Logo, tais “preces” são simplesmente labiais, porque a ignorância não permite que quem as faz irradie aos planos superiores e, assim, se ligue às forças benéficas da natureza, cuja existência ignoram e nelas falam por ouvir dizer e para acompanhar o “terço”, como vulgarmente se diz.
A comunicação dos espíritos é o maior dos crimes que tais espiritualistas de fancaria praticam, levando a obsessão, a loucura, a ruína, aos lares, a todos os que a tais práticas se entregam, sem o conhecimento certo e seguro do que seja o espírito humano – o elemento mais perigoso que existe quando, desencarnado, se queda na atmosfera da Terra.
É esse o maior dos males da humanidade, dos que aceitam os tais espíritos ou com eles confabulam nas tais sessões, ditas espíritas.
Como vês, meu Gustavo, fica assim destruída essa tua maneira de julgar e aceitar espiritualistas que não existem, para o teu grêmio.
Palavras, e muitas, têm inventado todos os que mais julgam saber para intrujar a humanidade e conservá-la na ignorância em que vive, para melhor e mais facilmente a explorar.
Tu, meu Gustavo, não tens coragem para romper com as mentiras convencionais e vais mesmo, contra a vontade da tua alma, aceitando essas palavras sem significação, que só males produzem aos que de boa-fé nelas acreditam (ou as tomam a sério) e julgam praticá-las.
Que Inácio, Cirne, Vianinha, Figner e outros assim procedam, vá, porque tais criaturas não podem ir mais além no saber e sentir; mas tu, que, socialmente falando, tens outro porte, que és frade velho e conhecedor, portanto, de todo o beatério feminino e masculino e de todas as tratantadas dos que, em nome de Deus, de santos e santas e da corte celestial diariamente praticam, tu, meu Gustavo, está cavando a tua ruína espiritual, porque muito te foi dado em inteligência para poderes raciocinar, bem pensar, portanto, bem agires.
Vê, pois, se alijas de ti essa tremenda bagagem fradesca da máxima tolerância e da mentira, que é o maior de todos os crimes; procura arranjar ânimo forte para mandares todas esses escolas de mentiras, esse espiritualismo para o inferno, que, no teu caso, são as pedras negras dos feiticeiros que se dizem “espíritas” e outros. Procura conhecer-te de verdade como Força, partícula da Inteligência Universal, para assim aproveitares esta encarnação e mais progredires, portanto.
Pensa bem no que aí fica, procura raciocinar com acerto para tua felicidade, que é o que te deseja o sempre muito teu.