ASSIM SURGIU O RACIONALISMO CRISTÃO
Por Antônio do Nascimento Cottas
Luiz de Mattos desencarnou no dia 15
de janeiro de 1926, quando completava, exatamente, 66 anos e 12 dias de vida
física.
Seu nome todo era Luiz José de
Mattos Chaves Lavrador, mas assinava simplesmente, despretensiosamente, Luiz de
Mattos.
Nascido na Vila de Chaves, Província de Trás-os-Montes, Portugal, a 5 de janeiro de 1860, era filho de José Lavrador, natural de Orence, Província da Galiza, Espanha, descendente, em linha reta, dos fidalgos Lavrador, e de D. Casemira Julia de Mattos Chaves, que descendia, por sua vez, dos grandes lutadores e fidalgos Mattos Chaves – fundadores da linda, hospitaleira e salubérrima Vila de Chaves (hoje cidade).
Aos 13 anos, em 1873, veio para o
Brasil, desembarcando no Rio de Janeiro, onde o esperava o seu irmão Victorino
de Mattos Lavrador, negociante em Santos, que o internou no Colégio São Luiz,
em Botafogo, para seguir os estudos.
O desejo, porém, de Luiz de Mattos
era ir para Santos, no Estado de São Paulo, para ficar em companhia de seus
tios Victorino e João de Mattos Chaves.
Partiu, assim, autorizado por seus
tios, para essa cidade, tempos depois, onde se empregou em importante casa de
estivas – secos e molhados no atacado – e da qual se passou, mais tarde, para o
comércio de café, desenvolvendo aí grande atividade.
Dotado de uma inteligência
invulgaríssima, tudo assimilou com incrível facilidade, neste novo rumo de
comércio, nada havendo que Ele não soubesse fazer com perfeição, inclusive
ensacar, empilhar, separar e qualificar o café.
Seus chefes, que muito o estimavam e
admiravam, despacharam-no para o interior de São Paulo e Minas, com a
incumbência de comprar e obter consignações de café.
Entregue a essa nova atividade, fez
Ele as mais elevadas relações com políticos, fazendeiros, negociantes,
industriais, literatos, etc., chegando a alcançar as maiores simpatias entre
compradores e vendedores de café, sendo, em breve, o mais considerado dentre os
seus colegas.
Despedindo-se da casa em que
trabalhava, para se estabelecer, iniciou-se, aos 25 anos, em 1885, como comissário de
café; seu capital era pequeno, mas as excelentes relações que tinha no interior
e a sua grande simpatia concorreram para que, ao saberem-no estabelecido, os
fazendeiros lhe mandassem a maior parte das suas colheitas, e assim foi ele
fazendo uma casa importante, a ponto de tornar-se a maior casa portuguesa em
Santos, naquela época, exportadora de café.
Conhecedor profundo da matéria,
prestimoso e pontualíssimo na prestação de contas aos seus comitentes,
alastrou-se a propaganda da sua casa de tal forma que os fazendeiros, mesmo os
que não o conheciam, lhe faziam grandes consignações.
Sempre ativo e trabalhador, Luiz de
Mattos chegou aos 26 anos já possuindo valiosa fortuna. Foi fundador de diversas
empresas nesta capital (Rio de Janeiro) e em Santos, e dentre elas a Companhia
Industrial, a Companhia Carris de Ferro, etc.
Convém observar que esta última foi
organizada em época de grandes dificuldades financeiras. Só mesmo seu
irresistível prestígio poderia conseguir traduzir em realidade uma ideia que
demandava de pronto avultado capital. Além destas e outras empresas, Luiz de
Mattos foi igualmente o fundador da Sociedade Humanitária dos Empregados do
Comércio, do Real Centro da Colônia Portuguesa, etc.
Entre outros serviços humanitários,
destacam-se os que desveladamente fez à Sociedade Portuguesa de Beneficência de
Santos. Achava-se em completa decadência essa instituição benemérita, quando
Luiz de Mattos, em 1888, ainda materialista, mas impulsionado pela grande generosidade
de sua alma, que até então desconhecia como partícula da Inteligência
Universal, pôs ombros à espinhosa e árdua tarefa de levantá-la da prostração em
que se achava, e que a aniquilaria por completo, se à sua frente não se pusesse
esse homem admirável, cujo semblante de mata-mouros, se contradizia com a
brandura da grande alma de que era dotado.
Foi tanta a sua dedicação, tão
desvelado, tão intenso o ardor com que se atirou a esse trabalho, que em pouco
tempo conseguia ver coroados do melhor êxito os seus nobilíssimos esforços. A
Sociedade Beneficente de Santos ficou em ótimas condições, no mesmo pé de
igualdade das mais importantes agremiações congêneres existentes no Brasil.
O que Luiz de Mattos, como
presidente dessa associação despendeu do seu bolso em auxílio a portugueses
enfermos e indigentes, eleva-se a avultada cifra. Nessa sociedade teve ele o título de
Benemérito.
Eleito Diretor da Associação
Comercial de Santos, por diversas vezes, a ininterrupta recondução ao cargo era
a melhor prova da estima que os brasileiros e portugueses lhe tributavam.
Benemérito, por índole, de tudo que
dava não admitia alarde; os beneficiados, porém, não se podiam conter e de boca
em boca tornavam conhecido o bem que ele fazia.
No Asilo da Infância Desvalida de
Santos, desde jovem, foi ele incluído no número de seus grandes Benfeitores.
A todas as instituições humanitárias
ele comparecia, com prazer, auxiliando-as tanto quanto lhe era possível.
Grande abolicionista, amigo dedicado
de José do Patrocínio, Júlio Ribeiro, Chico Glicério, Campos Sales, Bernardino
de Campos, Santos Pereira, Luiz Gama e outros, bateu-se sempre pela abolição. Quando promulgada a lei
de 13 de maio, ele, o Dr. Manoel Homem de Bittencourt e outros brasileiros e
portugueses, realizaram em Santos esplêndidas festas em comemoração do grande
acontecimento, que fazia entrar definitivamente o Brasil no convívio das nações
civilizadas.
Em 1890, foi incluído seu nome no
Boletim Republicano dirigido ao Eleitorado Paulista, por ocasião do golpe de
estado de Deodoro. (1 - Ler sobre este
assunto no final deste livro). Trata-se sem dúvida, de um belo documento
para provar a alta estima em que o povo paulista e renomados políticos tinham
por Luiz de Mattos, que, embora havendo nascido em Portugal, era para eles tão
brasileiro como os aqui nascidos, visto ter, desde criança, acompanhado, com
vivo interesse, o progresso e trabalhado pela felicidade do povo brasileiro,
com ele e por ele se batendo ao lado dos nacionais honrados daquele tempo, que
acima dos interesses do bolso sabiam colocar os da Pátria.
Esquivou-se, embora descontentando
muito os amigos, de aceitar o lugar de representante do povo paulista, como
Deputado, por não querer deixar o cargo de Vice-Cônsul de Portugal, que vinha
exercendo, nobremente, desde 1887, e mesmo por entender que não devia
naturalizar-se, pois um ato desse praticado por ele, naquele tempo, reputava
indigno. Dizemos naquele tempo
porque depois que descobriu a Verdade e passou a explanar a Doutrina de Cristo,
compreendeu e se convenceu de que Pátria apenas uma existia – O UNIVERSO – e
que a seleção de povos e raças era, como continua a ser, uma conseqüência da
ignorância em que viviam, e vivem ainda, todos os povos do planeta Terra.
Tempo chegará em que as guarnições
defensoras das fronteiras de cada nação desaparecerão, já que, à medida que os
povos se forem conhecendo como Força e Matéria, irão desaparecendo os egoísmos,
as rivalidades e uma só Constituição existirá, dentro da qual tudo se regerá,
imperando, nessa altura, leis adequadas, de acordo com as Leis sábias, Naturais
e Imutáveis que regem o Universo.
Como autoridade consular em Santos,
deve-se a Luiz de Mattos o fim das cenas desagradáveis havidas naquela cidade,
entre trabalhadores e praças de polícia ali destacadas. Com o entendimento havido
entre ele e o Dr. Bernardino de Campos, então
Chefe da Polícia, em São Paulo, viram-se serenar os ânimos,
restabelecer-se a ordem e voltar à calma e ao trabalho a cidade de Santos,
sendo Luiz de Mattos alvo de grande manifestação popular.
Na Capital Federal, tinha ele também
casa filial à de Santos para negócios de café, cuja direção estava confiada a
um seu irmão.
Em café, por mais de uma vez, perdeu
e ganhou fortunas.
Era um empreendedor, um criador, um
reformador. No comércio de café, foi
criador do hoje desenvolvido sistema denominado café “a termo”, que, executado
dentro dos seus moldes, é um negócio lícito, inteligente, moderno e de grande
vantagem para o lavrador, o intermediário e o comprador.
Entre comerciantes e corretores da
praça de Santos, nada era resolvido sem que primeiro fosse ouvido o Luiz, como
na intimidade comercial de café o tratavam. Qualquer negócio de vulto em café, não
era resolvido sem o seu conselho. Era voz geral: “Vai consultar primeiro o
Luiz”.
Deixou os negócios de café, mais
tarde, para recolher-se à vida privada, comprando então grandes áreas de terras
em Santos e no Rio de Janeiro. Homem de vistas largas, previdente com relação ao futuro,
tinha a certeza do grande valor que iam adquirir os terrenos, quer urbanos ou
rurais.
Mas, estando ainda cheio de
vitalidade, sentiu-se mal fora da atividade comercial, e daí o ter deixado
Santos para organizar e criar, na Capital Federal, a Empresa de Lixo e o
Monopólio das Carnes Verdes, empresas estas entre as mais importantes daquela
época, que produziam rendas colossais. Tinha, porém, esse grande empreendedor
o grave defeito de confiar em demasia nos outros, e daí o ser por vezes furtado
nos seus haveres e no seu sossego.
Luiz de Mattos era escravo dos seus
deveres, quer para com os seus negócios, quer para com a sua família, e mesmo
para com os amigos.
Quando fora dos seus negócios, vivia
exclusivamente para a família. Nessas horas de repouso, entregava-se à leitura de obras de
autores recomendáveis, e pessoa alguma era capaz de o encontrar sem uma
ocupação útil.
Sua biblioteca era rica; e já quando
rapaz era mais fácil vê-lo agarrado a um livro, a devorar-lhe os ensinamentos,
do que a palestrar.
Amigo da caça e da pesca foi, por
excelência, um admirador da Natureza.
Fugia da sociedade, para entregar-se
ao campo.
A educação dos filhos foi esmerada;
não consentia que lhes pousasse uma mosca. E não era só aos filhos, mas também aos
sobrinhos que lhe eram entregues para, como homem de princípios, velar pela sua
educação e instrução.
Acompanhando o desenvolvimento de
todos, ia fazendo um estudo psíquico de cada um. O seu enlevo, a sua preocupação era um
filho varão, a quem ele queria preparar para o substituir nas suas grandes
empresas.
Somente permitia a freqüência à sua
casa de pessoas portadoras de qualidades e virtudes comprovadas.
Era austero, mas de uma bondade sem
limites, metódico e disciplinado. Tinha horas para tudo. Com os filhos brincava, fazia
ginástica, ensinava-lhes tudo quanto era preciso fazer, quer para estar em
sociedade, como para se defender dela e assim dos perversos, ensinando-lhes a
manejar desde a arma branca até às armas de fogo.
Às filhas vestiam todas por igual. Mandava ensinar-lhes tudo
quanto quisessem aprender, e esses ensinos eram ministrados em casa por
professores ou professoras, na presença de uma pessoa de respeito, da família.
A sós, com professores ou professoras, pessoa alguma era capaz de vê-las.
Tinha a noção exata da moral cristã.
Não admitia misturas.
Suas filhas ou sobrinhas à rua não saíam
sozinhas, nem tão pouco passavam dias em casa de família alguma, por
mais íntima que fosse.
Desde o calçado ao penteado, tudo
ele observava, e quando alguma coisa estava fora dos seus princípios,
imediatamente mandava modificar. A uma das filhas, cujo casamento estava próximo, mandou
modificar o penteado, com que certa vez se apresentara, por outro mais de
acordo com seus princípios austeros, mas artísticos.
À sua mesa de refeições, todos
tinham que se sentar com compostura e ordem.
Cada filha servia à mesa uma semana.
Suas filhas sabiam tudo, desde a
cozinha à pintura, à música e aos trabalhos de labor; sabiam manejar
instrumentos, não só na cozinha, como na sala de visitas.
Em sua casa, nunca se podia estar
sem uma ocupação: lendo, bordando, pintando, costurando, etc.
Não tinha religião alguma. Materialista
que foi até aos 50 anos, analisou as diversas religiões, através da história, e
concluiu que as que não eram filhas da mitologia eram animalizadas.
Dentre as oito mil que uma
estatística de Barcelona relatava, destacava ele a Católica, tendo como seu
chefe o Papa, residente no pomposo Vaticano, dizendo-se representante de Cristo
e apresentando-o como um poltrão, que, havendo apanhado uma bofetada numa face,
ofereceu a outra ao ofensor para provar a sua humildade. Ora, ele, Luiz de Mattos,
sendo um homem de ação, um lutador incondicional, não podia aceitar tamanha
monstruosidade, e daí o quedar-se livre pensador, materialista honrado, criando
para si a religião da família e do dever, para qual vivia.
Acometido de um colapso cardíaco,
esteve às portas da sepultura alguns dias e noites, não vendo na sua frente
mais que sete palmos de terra gélida, onde iria terminar o corpo.
Teve nojo da vida e do viver,
raciocinou e analisou que não era possível, na sepultura, extinguir-se a vida
do homem; algo mais importante devia existir, que era a alma: o que ela era
porém, não sabia.
Melhorou ele, mas adoeceram seus
filhos; o médico assistente, seu velho amigo Dr. Oliveira Botelho, aconselha-o
a não lhes dar remédios e sim uma alimentação escolhida, pois era caso perdido,
estavam tuberculosos mas, se houvesse cuidado na alimentação, ainda poderiam
prolongar a existência, mas por pouco tempo.
Entristecendo-se com que o seu velho
camarada lhe disse, retrucou-lhe Oliveira Botelho:
— Luiz, a Medicina nada sabe, vive
ainda às apalpadelas e suposições; eu, se não fosse diabético e ignorasse que
estou para morrer dentro de meses, ia estudar o ESPIRITISMO, pois lá algo de
científico existe.
Luiz de Mattos, que abominava o
Espiritismo ao ponto de fazer suas filhas copiar obras contra o mesmo, censurou
o médico, e disse-lhe que parecia ter perdido o juízo, pretendendo ser
espírita. Botelho confirmou o que
dissera, e aconselhou Luiz de Mattos a estudar o Espiritismo. Este, que já não
suportava sectaristas e muito menos ainda espíritas, pois nessa gente via
muitos bêbados, amonstrengados, doidos varridos, julgou um absurdo o conselho
de Botelho.
Andam os tempos, Luiz de Mattos
estuda Medicina para curar os seus, e chega à conclusão de que o Botelho lhe
dissera a verdade com respeito à Medicina, pois, analisando o corpo humano pelo
estudo anatômico concluiu não passar este de uma série de engrenagens, tão
artisticamente ligadas que à mais pequena molécula afetada, todo o organismo
tinha de ressentir-se, e, assim sendo, o ser humano era anormal, em maior ou
menor grau.
O dentista Fonseca, de quem a
família de Luiz de Mattos era cliente, frequentava assiduamente o Espiritismo
Racional e Científico, e aconselhou-o a que tirasse lá receitas e que havia de
colher resultado satisfatório, pois curas extraordinárias já se tinham
constatado. Acedendo aos seus
conselhos, foram as receitas tiradas sem que disso soubesse Luiz de Mattos, à
medida que os enfermos iam usando os remédios melhoras sensíveis obtinham.
Certo dia, o seu amigo M.,
negociante laborioso, proprietário de uma torrefação de café, o estava
esperando para pedir-lhe que fosse com ele ao Espiritismo praticado por certa
gente honesta, adiantando que curas importantes estavam sendo feitas. Disse mais, que tendo
gasto uma fortuna com o tratamento de sua esposa, sem obter melhoras, estava
esperançado de lá encontrar o remédio para curar o mal que avassalava a sua
companheira.
Ouvindo-o, atentamente, Luiz de
Mattos diz-lhe:
— Mas então tu M., queres perder toda a
tua fortuna? Não sabes que os praticantes do Espiritismo são uma corja de
patifes ? Toma juízo M., e deixa-te disso; eu não te posso acompanhar a tais
antros, onde só se encontram bugigangas, bêbados, exploradores e patifes da
pior espécie. Não te metas com semelhante gente, que acabas mal.
O amigo ficou muito entristecido,
mas não perdeu a esperança de conseguir a sua companhia.
Todos os dias Luiz de Mattos por ali
passava, e sempre entrava para cumprimentar o amigo M. E assim é que no outro
dia este volta a pedir-lhe, com insistência, que fosse com ele, não acedendo
ainda desta vez Luiz de Mattos, que sustentou o que anteriormente dissera.
Ao terceiro dia, como de costume,
entra Luiz de Mattos no estabelecimento do amigo M.; sentado a ler o jornal
encontrava-se Luiz Alves Thomaz, que a esse tempo não mantinha relações íntimas
com Luiz de Mattos, mas, assistindo à reiteração insistente do pedido que M.
fazia a Luiz de Mattos, disse-lhe Thomaz:
— Se o Sr. Comendador Mattos for com o
M., eu vou também. Mattos, à vista do exposto e da insistência, disse:
— Pois bem, eu vou. Às tantas horas
passem lá por casa, para seguirmos.
Felizes pela resposta,
despediram-se, e à hora marcada partiram para a casa de Luiz de Mattos; este já
preparado, não se tendo esquecido do seu artístico punhal e do seu verdadeiro
“Smith and Weston”, saíram a caminho do Espiritismo, ainda desconhecido por eles,
movidos mais por curiosidade do que pela vontade de praticá-lo.
Ao chegar à porta dum
“casebrezinho”, já o estava esperando um homem que lhe diz:
— Sr. Comendador, o nosso Presidente
Astral, Padre Antônio Vieira, ordenou-nos que, quando o senhor chegasse, lhe
déssemos a Presidência dos Trabalhos.
— Está maluco, homem, eu não entendo
disso, eu fico mesmo aqui da porta a presenciar.
Mas, diante da insistência, quer do
homem que o esperava à porta, quer dos seus dois amigos, lá foi ele para a
cabeceira da mesa.
Aberta a sessão, feitas as preces
(irradiações), atua o Guia Médico no médium sentado à direita, e lidos diversos
nomes, a cada um eram prescritas instruções. Curioso e investigador, Luiz de Mattos
que, atentamente, presenciara tudo, pede, após a terminação dos Trabalhos, os
originais das receitas levando-os para a sua casa, em cujo escritório se fecha
e, dirigindo-se à sua mesa de trabalho, senta-se e procura concentrar-se,
fechando os olhos para fazer o mesmo que havia visto; mal sabia ele que estava
correndo um grande risco, podendo até desencarnar nesse momento, avassalado
pelo astral inferior.
Examinando o que havia escrito,
verificou que o que o médium deixara no papel estava escrito em ordem, os tt
traçados, os ii ponteados. Procurou fazer o mesmo, e não o conseguiu.
Principiou aí o início do seu
raciocínio sobre a Força fora da Matéria. ele conhecia medicina, era
inteligente e nada pudera fazer, ao passo que o médium, quase analfabeto, tinha
produzido trabalho admirável.
No dia seguinte, já não eram os
amigos M. e Luiz Thomaz que precisavam pedir o seu comparecimento; era ele que,
desejoso de estudar, os avisava para, às horas certas, não faltarem.
Chegada a hora, de novo partiram
para o Espiritismo e, como anteriormente, havia ordem, no Centro, dada pelo
Presidente Astral, para que assumisse a presidência Luiz de Mattos, logo que
chegasse.
Assumida por ele a presidência, na
hora dos Trabalhos, após o receituário e algumas instruções, o Presidente
Astral pede que se concentrem e é dada, por escrito, uma comunicação em
francês, legível, livre de erros, causando sério espanto a Luiz de Mattos, e
tanto, que este chegou a perguntar, após a Sessão, se o médium tinha
ilustração, e mandando-o escrever, após os trabalhos, a fim de se certificar se
era verdade ou não. Não
fosse estar sendo vítima de alguma mistificação…
Informado das condições morais,
materiais e intelectuais do médium, certo ficou de que fenômeno importante se
passava.
Conversando com Luiz Thomaz e outro
amigo, disse-lhes que o que vinha observando causava-lhe grande espanto,
forçando-o a meditar sobre a causa dos efeitos que observava. Novamente, no dia
seguinte, para lá foram.
Iniciados os trabalhos, pede ele
receita para os seus, e, após receitar, o Guia Médico, Dr. Custódio Duarte,
diz-lhe: “Já são meus enfermos, estão melhorando e hão-de ficar bons”. Admirou-se, e só nesse
dia ficou sabendo que, de fato, já os seus se estavam tratando lá. Dada também
uma comunicação em inglês, ele a analisou e verificou estar claramente legível.
No fim da sessão que Luiz de Mattos,
sem interrupção vinha presidindo, atua um espírito num dos médiuns ao lado dele
e insulta-o barbaramente. Desconhecendo esse fenômeno e supondo fosse o médium o
insultador, leva a mão ao bolso para sacar o revólver, quando rapidamente fica
atuado o outro médium, e falando-lhe Padre Antônio Vieira:
— Acalma-te ! Quando para cá vieres,
deixa lá isso em casa. Pois então não vês que o médium é um simples porta-voz
dos espíritos? Como querias
agir por essa forma, se no espírito não podias atirar, nem matar?
— Tem paciência, estuda, eu te
ajudarei; porém, é a ti que compete doutrinar, não só esse, como tantos
milhares de outros que te irão aparecer, e assim precisa ajudar-me a limpar a
atmosfera da Terra dos jesuítas que nela se tem quedado para a prática, ainda
mais desenvolvida de crimes, que também já praticavam quando encarnados.
Acordaste tarde; era para aos 26
anos teres iniciado comigo estes trabalhos, mas já que despertaste agora, e foi
preciso que te sacudisse o ataque cardíaco para te lembrares que a vida não
desce à sepultura e sim ascende ao Espaço, a ligar-se a outras vidas, não podes
mais perder tempo.
Ajuda-me, pois, meu filho, estuda, e
outros a ti se juntarão para levar por diante a bela doutrina de Cristo.
— Esse espírito que acabou de
manifestar-se é Ignácio de Loyola, teu e meu companheiro em diversas
encarnações. Há 400 anos que ele se
queda na atmosfera da Terra, como terrível obsessor e chefe de grandes
falanges. Cabe a ti doutriná-lo e mostrar-lhe o erro em que vive.
Acalmado tudo e encerrada a Sessão,
não mais faltou Luiz de Mattos aos trabalhos, nesse Centro, pobre materialmente
falando, mas riquíssimo de luz, de inteligência, de saber, enfim.
Nas sessões seguintes, novamente se
manifesta Loyola e, prevenido que estava Luiz de Mattos pelo Guia Padre Antônio
Vieira, deixou Loyola falar à vontade. De súbito, Luiz de Mattos entra numa
longa dissertação da Natureza, referindo-se a Deus, não à semelhança do homem,
mas como Inteligência Universal, a irradiar por toda a parte onde existe vida.
Loyola espanta-se do que ouve do seu
ex-companheiro jesuíta, quando Frei Bernardo ou São Bernardo, e pergunta-lhe:
— Mas tu que, como eu, não
acreditavas em Deus, tu que até há pouco eras ateu, eras materialista, como e
onde foste aprender coisas tão belas, como as que me explicaste?
— Amigo, o grande Padre Antônio
Vieira, de nós muito conhecido, disse-me ser preciso acordar, que no Universo
apenas existem Força e Matéria e que na Terra os encarnados são instrumentos
simplesmente do bem ou do mal. Portanto, se o que eu te disse te espantou, eu nada mais fui
que porta-voz das Forças Superiores, que a seu encargo têm a remodelação do
planeta e tu a elas precisas pertencer.
Grande foi o diálogo havido, porém,
o resumimos e damos apenas uma ideia de como se iniciou o Chefe do Racionalismo
nesta bela doutrina:
Enquanto Luiz de Mattos dissertava,
com a sua voz de trovão, de orador, de impulsionador, Loyola cada vez mais
iluminava a sua alma e, rompendo o véu de negrura em que estava envolvido, ia
vendo, luminoso, radiante, o espírito de Luiz de Mattos, assistido por Antônio
Vieira, Camões, São Pedro, Custódio Duarte e tantas outras almas suas
conhecidas.
Reconhecendo-se vencido pelas
verdades que havia proferido Luiz de Mattos, pede-lhe que irradie sobre a sua
alma, reconhecendo que foi o maior dos desgraçados, que se sentia sem coragem
para olhar para o quadro das suas obras, já agora tão nitidamente gravadas na
sua aura e que, ao rememorar o passado, não via outra coisa senão barbaridades;
que o ajudasse, com sua irradiação de valor, pois queria, desejava, precisava,
entrar em lutas para o bem geral, onde mais depressa pudesse descontar as suas
faltas.
Retirando-se Loyola, esclarecido,
havia dado Luiz de Mattos o primeiro passo para a explanação da Verdade, tão
desejada por Cristo.
Os companheiros e amigos de Luiz de
Mattos, presentes àquela Sessão, disseram-lhe que estavam impressionados com o
que dele ouviram, ao que ele respondeu não mais se recordar do que dissera, e
que tudo aquilo lhe viera de momento, não sabendo mesmo explicar como se
prestara a definir a Inteligência Universal, quando nem em Cristo ele acreditava,
visto lho terem apresentado como um poltrão.
Agora, porém, analisando a sua Obra,
concluía ter sido ele um homem lutador, valoroso e apto a reagir a todos os
insultos no terreno da luta.
Além destes fenômenos, muitos outros
foram precisos para que a alma investigadora de Luiz de Mattos não vacilasse. E assim levou ele ano e
meio em consecutivos estudos, até que um dia o Guia, Pinheiro Chagas, lhe
disse:
— Meu filho, é necessário que te
disponhas a iniciar a Obra, pois estás demorando muito.
Nessa altura já o Centro não era no
casebre, mas sim numa boa casa, de propriedade de Luiz Thomaz.
Luiz de Mattos, entretanto,
ressentia-se ainda da prevenção que tinha com o baixo Espiritismo e, como via
todos que nele se metiam acabar na miséria, pensava na Família, pensava no que
era preciso despender com a criação de um Centro à altura de tão bela Doutrina,
e receava não poder arcar com tamanha responsabilidade.
O Astral Superior, vendo-lhe na aura
a preocupação, insiste, por intermédio do Guia, Custódio Duarte, em que era
preciso caminhar.
Assim assediado, responde Luiz de
Mattos.
— Sim… estou pronto para a luta,
contando que aos meus nada venha a faltar.
— Satisfaz-nos a tua resposta, disse
Custódio Duarte, e certo podes estar, que nada te faltará a ti nem aos teus,
tudo há de aumentar e àqueles que junto de ti viverem nada faltará.
A ti, a parte espiritual, a Luiz
Thomaz, a parte material. Sois os dois responsáveis por esta Doutrina. Caminhai
unidos, e por vós velaremos, uma vez que em pensamentos procureis religar-nos a
nós.
Assim foi iniciada a Doutrina da
Verdade, em 1910, na cidade de Santos, construindo-se um edifício para a sua
explanação na Avenida Ana Costa, 67, e em 1912, outro no Rio, na Rua Jorge
Rudge, 121, para onde, por ordem Superior, passou a Chefia da Doutrina, visto
ser a Capital do país.
Compreendida a Doutrina por Luiz de
Mattos, a ela se entregou, de corpo e alma, como lutador incansável, sem a
menor dúvida ou vacilação.
Iniciou em Santos uma larga campanha
de difusão dos Princípios escrevendo uma série de artigos na “Tribuna”, em que
explicava que a loucura, assim como outras enfermidades julgadas incuráveis
pela classe médica, tinha cura, com o tratamento racional e científico.
Os médicos de Santos ficaram
perplexos, e com ele se foram entender a fim de não continuar a escrever contra
a classe médica.
Eles reconheciam que o que dizia
Luiz de Mattos era verdade, mas não o podiam acompanhar, por faltar-lhes
coragem para vencer os preconceitos; todavia, estavam prontos a assinar toda
receita fornecida pelo Centro presidido por ele, e mais: um dos médicos
imediatamente foi ao seu farmacêutico dizer-lhe que aviasse todas as receitas
enviadas por Mattos, que ele assumia inteira responsabilidade.
Inaugurado, no Rio de Janeiro, o Centro
Espírita Redentor iniciou a explanação da Doutrina no Jornal “Tribuna Espírita”
e, algumas vezes, pela imprensa em geral.
Quatro anos depois, por ordem de um
dos Guias, Padre Fonseca, fundado foi o jornal “A Razão”, a 19 de Dezembro de
1916.
Nesse jornal, o mais liberal que já
houve, independente e orientador, eram doutrinados Governos, ciência, clero,
sectaristas, classes armadas e civis, desde o industrial ao operário, desde o
lavrador ao vendedor, consumidor, etc.
Nesse órgão oficial do Racionalismo
Cristão, gastou ele a sua energia, a sua vida. Sustentou as campanhas mais sérias de
que até hoje temos notícia. A que travou com o Clero, da qual resultou a
criação da Obra: “Cartas ao Cardeal Arcoverde”, causou espanto ao Mundo.
As verdades eram duras, o Cardeal,
de tão revoltado, ficou maluco, ordenando o Papa providências para a vinda da
Bahia de D. Sebastião Leme para coadjutor, devido ao estado psíquico do
Cardeal.
Por mais de uma vez tramaram o
assassinato de Luiz de Mattos, mas não o conseguindo nas emboscadas traiçoeiras
que lhe armavam ao passar o seu carro, incumbiram dessa criminosa tarefa um
bandido, que se dizia seu companheiro da Doutrina. Esse hipócrita e infeliz, todos os dias
à noite lhe beijava a face e se despedia, como se tocado pelo sentimento de
verdadeiro amigo ou de um filho que o sabe ser.
Mas, no entanto, a ruminar-lhe a
alma trazia o crime e o premeditou com uma covardia vilíssima.
Certo dia, alegando precisar
falar-lhe com toda a urgência, às 5:30 horas da manhã, desce Luiz de Mattos dos
seus aposentos, em pijama, na sua simplicidade de homem puro, às pressas para
atender ao suposto amigo, que trazia o sorriso nos lábios mas a alma cheia de
fel, e supondo que alguma enfermidade, ou coisa grave houvesse em sua casa, pronto
para ouvi-lo, ao descer a escada, vê-se inopinadamente alvejado à queima roupa,
por quatro balas de revólver, tendo a última ainda lhe chamuscado a manga do
pijama.
Vendo-se frustrado em sua tentativa
de eliminar o benfeitor, fugiu, covardemente, supondo que Luiz de Mattos o
processaria ou lhe mandava fazer o mesmo.
Enganou-se, porém, visto Luiz de
Mattos ser homem para homem, sempre temido e respeitado pelas suas nobres
ações.
Aos bandidos ele respondia no
terreno e na oportunidade da ofensa. Passando daí, vê-los, era o mesmo que ver caninos, e mais:
se lhe mandassem pedir alguma coisa, não era capaz de negar.
O quanto tinha de enérgico,
guerreiro ou lutador, na defesa da Família, dos Amigos e da Pátria, tinha
também de bondoso, superior e altruísta.
Na sua alma não havia lugar para o
rancor. Para ele, a palavra
“não”, devia desaparecer. O que mais lhe custava era negar, era deixar de
servir a quem o procurava.
A sua bondade era excessiva e por
vezes até prejudicial. Era um homem que ia com dinheiro na algibeira e se
alguém o não acompanhasse para impedir a aproximação de certa gente, que vivia
de expediente, de exploração, ele dava tudo que levava, a ponto de algumas
vezes regressar a casa sem um centavo.
Eram palavras suas: “Tomem conta de
mim, não deixem aproximar-se certa gente; já sabem que não posso ouvir
lamúrias; guardem-me o dinheiro”.
Lutador igual ainda não houve. Sua indômita coragem, seu
grande valor se tornaram evidentes quando, à frente da “A Razão”, no seu artigo
a “NOTA”, diariamente doutrinava, esclarecia, orientava governos, ciência,
clero e povo.
Foi com sua pena manejada à vontade
do Astral Superior que o Brasil entrou na guerra (1914-1918), e se os seus
governantes tivessem sabido seguir o que ele ensinava, hoje o País estaria
cheio de ouro, como ficou a América do Norte.
Foi com a sua “NOTA” que Ruy Barbosa
ficou ciente de que nunca seria Presidente da República por ter sido ingrato
filho. Tendo levantado a sua
candidatura civilista para combater e derrotar a militar, de Hermes da Fonseca,
abalou-se para os Estados em propaganda política, recusando-se a representar o
País na Liga das Nações.
Durante a existência da “A Razão”,
coisas assombrosas se passaram, mas nem assim quiseram despertar.
Os galfarros foram muitos, aves de
rapina, sem asas, voavam no patrimônio da “A Razão”, e daí alguns terem se
enchido à custa do Jornal, porém, é ditado velho: “o alheio chora o seu dono”. E dessas aves rapineiras,
as que ainda andam por este mundo sofrem, vivem como corvos, a alma talvez mais
enegrecida do que as penas do próprio corvo.
Foi, pois, Luiz de Mattos, um
lutador incansável.
Sua desencarnação deu-se antes do
tempo. Concorreram para a
antecipar: a falência de médiuns, a quem ele
estimava como filhos, a quem ele esclarecia carinhosamente, e
amparava espiritualmente, sempre
desejoso de vê-los progredir.
Vivia para a Doutrina, e, consigo,
queria ver caminhando os que se diziam ser seus amigos. Na “A Razão”, quantas
noites de tremendas lutas ele passou!
A luta foi grande, porém, a maior
que se viu forçado a travar foi para varrer do seu espírito as dores produzidas
pelas ingratidões, pelas perversidades dos que se diziam seus amigos e se
tornavam traidores, vilões.
Desencarnou essa nobre alma para
entre nós continuar a lutar, e hoje mais ainda do que quando possuindo corpo
físico. Agora ela é livre e está
onde é preciso para intuir os que demonstrem querer lutar por causas justas.
A sua Obra ainda vagamente é
definida, mesmo pelos que se julgam esclarecidos e conhecedores da Doutrina.
Com o tempo, porém, os homens a
compreenderão, e terão então a medida exata do trabalho de autêntico gigante
que Luiz de Mattos realizou, à custa de todos os sacrifícios, para
confraternizar e espiritualizar a Humanidade.
(1) Estava
assim redigido o Boletim Republicano, assinado pelos políticos paulistas de
maior prestígio na época.
BOLETIM REPUBLICANO
Ao Eleitorado Brasileiro:
“São Paulo, Novembro de 1890
Apresentamos à consideração e aos
sufrágios do eleitorado a lista dos candidatos ao Congresso de São Paulo, de
acordo com as eleições prévias realizadas em todo o Estado.
Os nomes indicados exprimem a mais
sólida garantia de efetividade para as aspirações autonômicas e democráticas do
Povo Paulista, e de resistência às Invasões da ação Constitucional do Governo.
É o momento oportuno para
instalar-se verdadeiramente o regime republicano federal pelo voto
independente, nesta região consagrada pela tradição gloriosa de tanta abnegação
e civismo, como os que deram a São Paulo um posto assinalado em todas as lutas
para conquistarem a nossa atual civilização.
Os atos criminosos do Governo
Federal, claramente violadores dos preceitos fundamentais da recente
Constituição do Brasil, cuja execução tem sido propositalmente postergada; a
política uniformemente posta em prática em todos os Estados, até por meio da
força contra os mais refratários no sentido de assegurar aos atuais
depositários do poder, no centro, decisiva influência, ainda nos mínimos
negócios locais; o cauteloso plano de excluir sistematicamente do pleno
exercício dos direitos políticos os elementos republicanos que por amor aos
seus princípios repudiaram, desde o Congresso Nacional, os manejos do atual
Governo, destinados a cercear a Constituição de teses essenciais do Programa sustentado
durante os árduos labores da propaganda;
o frio desplante com que, por meio de avisos, os dominadores revogam as
disposições constitucionais, em bem das suas vaidades, ódios ou interesses;
descobrem a velada intenção dos inimigos da instituição republicana de a
desacreditarem, servindo-se das posições eminentes que deslealmente ocupam.
Quanto ao atual governador de São
Paulo, a sua conduta incorreta para consigo e para com o seus
ex-correligionários, aceitando uma nomeação criminosamente ilegal e que
significava os intuitos perversos e condenáveis do centro para com os
representantes paulistas que souberam cumprir o seu dever; a execução que tem
dado à sua comissão, restaurando as odiosas praxes eleitorais, com o fim de
subjugar ou violar o voto popular, não hesitando em substituir o pessoal idôneo
que encontrou nas posições, sem a mínima razão, por outro expressamente
arranjado para a conquista das urnas; o empenho que manifesta de arredar de qualquer função pública os
ex-companheiros, cujo mérito e patriotismo conheceu nos tempos da luta, antes
de entregar-se à sua descrença republicana; todo o seu procedimento demonstra a
perfeita solidariedade com as vistas do centro.
Em tais condições é dever imperioso
de todos quantos se interessam pela realidade das ideias e pelos sentimentos
que sempre distinguiram a terra paulista, congregarem-se no sentido de os fazer
prevalecer no meio do Congresso.
A vitória dos nomes apresentados
será, a um tempo, a expressão genuína das aspirações gerais e a prova irrefragável
de que não é fácil submeter São Paulo ou impedir-lhe a realização do seu
legítimo ideal de independência e liberdade, nos limites da federação.
Eis os nomes que a consulta prévia
indicou para a representação do Estado, tendo, porém a Comissão julgado dever
excluir os cidadãos que já ocupam lugar no Congresso Nacional, visto
coincidirem as Sessões deste com as Assembleias deste Estado.
Para deputados:
Dr. Adolpho Botelho de Abreu Sampaio,
Advogado, residente em São Paulo
Dr. Alfredo Casemiro da Rocha, Médico,
residente em Cunha
Dr. Antônio Alves da Costa Carvalho,
Advogado, residente em Campinas
Dr. Antônio Francisco de Araújo Cintra,
Lavrador, residente em Mogi-Mirim
Dr. Antônio Mercado, Advogado,
residente em Casa Branca
Dr. Carlos Paes de Barros, Lavrador,
residente em São Paulo
Dr. Cesário Gabriel de Freitas, Médico,
residente em Itu
Domingos Lacreta, Negociante, residente
em Itatiba
Eduardo Carlos Pereira, Ministro
Evangélico, residente em São Paulo
Emiliano Baptista Soares, Lavrador,
residente em São José dos Barreiros
Dr. Francisco de Assis Peixoto Gomide,
Capitalista, residente em São Paulo
Dr. Francisco de Assis Oliveira Braga
Filho, Advogado, residente em Guaratinguetá
Dr. Francisco de Barros Júnior,
Engenheiro, residente em Salto
Dr. Francisco Xavier Paes de Barros,
Capitalista, residente em São Paulo
Horácio de Carvalho, Jornalista,
residente em Santos
Dr. Heitor Peixoto, Jornalista,
residente em Santos
Dr. João Alberto Salles, Lavrador,
residente em Rio Claro
Dr. João Faria, Advogado, residente em
Franca
Dr. João Galeão Carvalhal, Advogado,
residente em Santos
Joaquim Floreano de Toledo, Lavrador,
residente em São Manoel
Dr. José Alves dos Santos, Advogado,
residente em Mogi-Mirim
Dr. João Francisco Malta Júnior,
Lavrador, residente em Taubaté
Dr. José Ermenegildo Pereira Guimarães,
Médico, residente em Bragança
Dr. José Alves Guimarães Junior,
Lavrador, residente em Ribeirão Preto
Dr. José da Silva Vergueiro, Advogado,
residente em Espírito Santo do Pinhal
Lucas Monteiro de Barros, Fazendeiro,
residente em Jundiaí
Dr. Lucas Nogueira da Silva, Médico,
residente em Queluz
Dr. Luiz de Toledo Piza e Almeida,
Advogado, residente em São Paulo
Luiz José de Mattos, Negociante,
residente em Santos
Dr. Manoel Cardoso, Advogado, residente
em Itapetininga
Coronel Manuel Jacintho Domingues de
Castro, Lavrador, residente em São Luiz de Piratininga
Dr. Manoel Jacintho Vieira de
Moraes, Advogado, residente em Piras-Sinunga (Pirassununga)
Dr. Manoel Pessoa de Siqueira Campos,
Advogado, residente em Rio Claro
Paulo Orozimbo de Azevedo, Negociante,
residente em São Paulo
Dr. Pedro Vieira Teixeira Pinto,
Advogado, residente em Lorena
Dr. Theodoro Dias de Carvalho,
Advogado, residente em Araraquara
Dr. Ladislau Herculano de Freitas,
Jornalista, residente em São Paulo
Victor Nothmann, Negociante,
residente em São Paulo
Cumprindo assim o nosso dever, apelamos
para o espírito de civismo e justiça que tanto nobilita a população Paulista, e
esperamos que os nossos apresentados, que genuinamente exprimem as suas elevadas
aspirações, hão de sair vitoriosos das urnas.
Prudente de Moraes
Campos Salles
Francisco Glycerio
Rodrigues Alves
Jorge Tibiriçá
Paulo Queiroz
Bernardino de Campos
Assim surgiu o Racionalismo Cristão
Por Antônio do Nascimento Cottas