
Livro essencial atual - editado pela Filosofia Espiritualista Racionalista Cristã na 45ª. edição. Livro impresso a disposição de todos no site do Racionalismo Cristão.
Ou no endereço Casa-Chefe - Telefone (21) 2117-2100
43ª. edição
Centro Redentor
Rio de Janeiro
2004
A partir da 15ª edição (1942), é impressa com o título atual , Racionalismo Cristão .
O texto da orelha foi escrito em 1958, ano da 21ª edição .
Texto da primeira orelha:
Texto da primeira orelha:
A obra básica do RACIONALISMO CRISTÃO, dentro da
sua natural simplicidade, é bem profunda e deve ser vista como o alicerce
basilar de conhecimentos, cujo vigamento é forçoso erguer pelo esforço de cada
um.
Nos seus princípios fundamentais estão
consubstanciadas uma concepção nova do Universo e da vida e uma conduta sã para
os seres que a queiram seguir. Tal conduta, mercê dos conhecimentos que
propicia, impele a criatura para o conhecimento de si própria, como Força e
Matéria, mostrando que em toda manifestação de vida há um despertar de
inteligência que, como em nós próprios, faz parte da vida total.
Aprendemos, assim, a saber, que somos pequenos
fachos de luz, ainda muito embotados, de um imenso clarão que impulsiona o
Cosmos-que é Vida Inteligente Universal.
Força e Matéria são, no sentido filosófico espiritualista, a
síntese do Universo. Força é vida, é inteligência, é o princípio que tudo cria
e anima. Só poderemos entender a vida, no que ela possui de universal, de
grandioso e profundo, conhecendo-nos a nós próprios, portanto, entendendo-nos
como inteligência, e só é possível compreendermos o que somos como Matéria,
devassando, com o auxílio da Física, esse microscópico sistema planetário, como
assim pode ser considerado o átomo. Com o seu estudo moderno, fragmentando-o em
elétrons, mostrou-nos o homem de ciência que a Matéria, outrora julgada inerte,
é um grande reservatório de energias, as quais, no dia em que puderem ser
utilizadas, mudarão o aspecto da face da Terra.
São esses pacientes trabalhos, desenvolvidos por
pesquisadores do saber, que nos permitem afirmar que "da estrela mais
distante ao barro que pisamos, somos todos feitos do mesmo material".
Essas duas palavras – Força e Matéria, que
sintetizam o homem e o Universo – representam, para as futuras gerações, um
programa de estudos e realizações que continuará sempre, sem jamais parar.
* * *
O RACIONALISMO CRISTÃO faz um apelo eloquente e
constante ao estudo e ao raciocínio, no sentido de que todos compreendam a
necessidade imperiosa de se entregar a perseverante esforço, para se tornarem
cada vez melhores.
O conhecimento da vida real, que é um processo
contínuo de estudo, jamais será compreendido por aqueles que se limitam a
repetir, sem raciocinar, conceitos ligados a dogmatismos religiosos ou
concepções obsoletas.
Texto da segunda orelha:
Por tudo isso, a divulgação dos princípios
racionalistas cristãos é, nos tempos que correm, medida imperiosa e de grande
alcance.
Luiz de Mattos codificou o RACIONALISMO CRISTÃO
depois de sentir bem o estado deplorável a que chegara o caráter humano, e
assim o fez, sem poupar esforços, certo de poder oferecer ao mundo o grande e
único recurso para dirimir os graves males morais que o estavam, e ainda estão,
assolando.
A sua vida de homem honrado, digno, empreendedor,
prudente, perseverante e destemido foi um exemplo de ação vivificante, que
perdurará como incentivo de forte percussão na consciência vigilante das
gerações presentes e vindouras.
Ele não quis impor a ninguém uma disciplina que não
pudesse executar, e não condensou uma norma de conduta que não fosse a sua; daí
a principal razão de haver sempre falado com a autoridade que lhe era peculiar,
definidora da convicção que possuem os que sabem que podem dar o exemplo.
Procedeu Luiz de Mattos com o especial cuidado de
apresentar os princípios racionalistas cristãos de um modo prático e simples,
ao alcance de todas as mentalidades, e o resultado aí o temos, vendo-os
compreendidos e acatados por todas as classes sociais.
E tão simples são eles, que em uma só palavra
poderiam ser sintetizados: essa palavra é CONDUTA. De fato, o seu desdobramento
visa esse grande objetivo de dar à criatura uma norma de conduta. E quando
dizemos norma de conduta, referimo-nos ao procedimento do indivíduo na
coletividade, em obediência à filosofia cristã. Por isso mesmo, o Racionalismo
se chama também Cristão.
O que constitui uma realidade incontestável é que
Luiz de Mattos, com este código de disciplina cristã, criou uma mentalidade
nova, que dia a dia mais se expande, à medida que dele vão tomando conhecimento
aqueles que, nesta encarnação, já conseguiram partiras algemas das crendices e
das concepções místicas.
É, pois, sob uma norma de conduta bem definida,
modelarmente conduzida, que o racionalista cristão há de impor-se, na luta pela
vida, à consideração e ao respeito de todos. Não são as palavras, mas os atos e
as atitudes, que assinalam o valor dos princípios que a criatura adota.
A vida ordenada de cada pessoa é o reflexo do seu
sentir espiritual, e de nenhuma forma pode a conduta humana aproximar-se mais
da Filosofia de Jesus, codificada por Luiz de Mattos, do que estabelecer uma
norma de viver calcada, rigorosamente, nos ensinamentos racionalistas cristãos.
SUMÁRIO
Introdução
1. Traços Gerais
2. Força e Matéria
Deuses e Religiões
Deus – Criação Humana
Conhecimentos Secretos
Fanatismo Condenável
Livros sagrados
Obsessão Religiosa
Por que Negar a
Reencarnação?
Despertar para a
Realidade
4. O Espaço
Universo de Galáxias
Espaço e Tempo
Nem Pais nem Filhos
Dezessete Classes
Mundos de Escolaridade
5. O Espírito
Força de Vontade e
Consciência de si Mesmo
Capacidade de Percepção
e Inteligência
Poder do Raciocínio e
Faculdade de Concepção
O Equilíbrio Mental e a
Lógica
Domínio de Si Mesmo e
Sensibilidade
Firmeza de Caráter
6. A Encarnação do
Espírito
Deveres do Espírito
após a Encarnação
Infância, Mocidade e
Madureza
Velhice
Moral Social e
Auto-Educação
Exemplos e Honradez e
Dedicação ao Trabalho
Ações Meritórias e
Erros Voluntários e Involuntários
O Aperfeiçoamento e o
Mal da Ignorância
Princípio de Autoridade
Economia
O Medo, a Eficiência e
o Respeito
O Zelo e o Trabalho
Integridade
O Raciocínio
Atrair o Bem, Repelir o
Mal e Cumprir o Dever
7. A Desencarnação do
Espírito
Desencarnação, Fenômeno
Natural
Crença Infundada
Permanência na
Atmosfera da Terra
Astral Inferior
Expansão aos Vícios e
Contato Perigoso
Perversidade sem
Limites
Formação de Falanges
Espíritos
Bem-Intencionados
Ascenção aos Mundos a
que Pertencem
Vida é Ação
Visão do Passado
Pólos de Atração
Espaço e Tempo
8. O Pensamento
Reveses
Saber Pensar
Força do Pensamento
9. O Livre-arbítrio
Construir o Próprio
Futuro
10. A Aura
11. A Evolução
Falsas Ideias
Trajetória Evolutiva
Revelação Simples e Desartificiosa
12. O Valor
Atos de Justiça
Cavar o Próprio Abismo
13. O Caráter
Meio Termo
14. A Família
Livro Aberto
Entendimento e
Compreensão
Bom Humor
15. A Educação dos
Filhos
Compreensão e
Entendimento
Procedimento Criminoso
Confiança nos Pais
16. Os Fenômenos
Físicos e Psíquicos
Ligação dos Dois Planos
Força do Pensamento
17. A Mediunidade
Modalidades Mediúnicas
O Mal da Ignorância
Disciplina do
Pensamento
Necessidade de
Esclarecimento
18. A Obsessão
Inexistência da Morte
Irritação, Descontrole
e Ambição Desmedida
Temperamento Voluntarioso
Abalos Morais e Roteiro
Seguro
19. A Desobsessão
20. Síntese dos
Princípios Racionalistas Cristãos
Conclusão
Esta obra – base do RACIONALISMO CRISTÃO – não é
para ser lida como uma historieta qualquer e abandonada, senão esquecida, após
a leitura.
Trata-se de trabalho sério de pesquisa e elucidação
para estudo e consulta constantes, capaz de abrir novos horizontes ao ser
humano com a amplitude da visão panorâmica que coloca diante dos seus olhos
perspectivas até agora não imaginadas por ele, que poderão contribuir para
imprimir nova orientação, novos rumos à sua vida, e fazer com que ela se
modifique, a cada passo, para melhor, alcançando um sentido mais prático, mais
amplo, mais profundo, mais objetivo, mais seguro e autêntico.
Todas as pessoas – não há quem não o reconheça –
têm necessidade de pautar os seus atos por um regime educacional estruturado em
princípios de elevada moral.
Entende-se por moral a conduta subordinada a normas
que representem a mais alta expressão da espiritualidade ambiente, capaz de
servir de padrão e exemplo no meio em que vivem.
Urge que cada um cumpra o seu dever, fazendo a
parte que lhe compete – com a atenção, os olhos, a alma voltados para o fim principal
da encarnação, que é o aprimoramento, a evolução espiritual – sem querer saber
se os outros também o estão cumprindo ou não.
* * *
Viver para a matéria é a tendência geral do
espírito, depois que encarna. Isto, evidentemente, enquanto não adquirir – à
custa de duras provas e penosas experiências em inúmeras encarnações – um certo
estado de consciência da vida, a que todos chegarão, mais cedo ou mais tarde,
pelo crescimento da espiritualidade.
No estado atual, a humanidade pode ser classificada
em dois grandes grupos: o dos espíritos adoradores e o dos independentes, com
divisões que correspondem à escala do progresso adquirido no curso de
sucessivas encarnações.
O grau de espiritualidade média encontra-se na
faixa de transição intermediária que separa o campo dominado pela mentalidade
adorativa daquele em que a personalidade se destaca pela firmeza do caráter,
independência de atitudes e insubordinação a tudo quanto a sua consciência
esclarecida reprove.
Assim encarado o aspecto fundamental da evolução do
ser humano, fácil é divisar a linha média da espiritualidade que separa,
simbolicamente, as duas camadas ou os dois campos aferidos por uma escala de
graduação ascendente, onde se registram e tornam claras as diferenças
existentes entre os valores espirituais inferiores e os superiores.
Classificados na camada inferior estão os
silvícolas – uma das primeiras fases da evolução em forma humana – seguindo-se
lhes os que se entregam a práticas esdrúxulas de adoração, dominados por cego
fanatismo.
Na faixa de transição, confundem-se os espíritos
encarnados ainda presos à ideia subalterna de um deus protetor e paternal, mas
já libertos das cadeias mais fortes do fanatismo primário e embrutecedor, com
os que, rejeitando as genuflexões contemplativas e as atitudes bajulatórias e
subservientes, procuram conduzir-se com retidão e valor.
Nos espíritos integrantes da camada superior
refulgem as vocações idealistas, destacando-se não só o alto interesse que
nutrem por toda a humanidade, como o domínio das vibrações produzidas pelos
conflitos humanos, principalmente na etapa final da evolução terrena, em que a
sua espiritualidade se revela acima da mentalidade comum existente no Planeta.
Encarnado ou desencarnado, o ser é sempre um
espírito – partícula da Inteligência Universal – estando, quando encarnado,
sujeito às contingências da vida terrena, algumas das quais escapam
inteiramente à sua vontade.
Daí a necessidade de ser encarado com simpatia e
elevação de sentimentos o semelhante que se ache em situação desfavorável em
qualquer região do Planeta, pois toda a humanidade constitui uma única família
a habitar, passageiramente, este mundo, para realizar o seu progresso
espiritual.
Humanização deve ser o lema comum, e cooperação,
colaboração e confraternização representam os elementos capazes de destruir a
animosidade entre os homens.
O espírito é um operário que participa com esforço,
inteligência e operosidade da evolução geral. Ele trabalha diretamente para o
conjunto, e indiretamente para si mesmo. Esta asserção é verdadeira, quer se
refira ao encarnado quer ao desencarnado. No trabalho em corpo astral, o
conjunto é o Universo; no labor em corpo carnal, esse conjunto é,
principalmente, a humanidade.
Por mais agitadas que sejam as conturbações
terrenas, cumpre ao espírito encarnado pensar com elevação e proceder com
humanidade. Num mundo-escola como é este planeta, não se pode recriminar o
aluno do primeiro ano por não saber tanto quanto o do quinto.
Os que aqui estagiam, por pertencerem à mais
variada graduação espiritual, agem sob um estado correspondente ao seu grau de
evolução e não vão além das suas possibilidades.
Estão errados, pois, os que se julgam perfeitos em
matéria de espiritualidade, como acontece com muitos religiosos.
Aos que vivem realmente impregnados de ideias de
santidade, é difícil fazer conciliar essas ideias com a classificação das
diversas categorias espirituais apontadas nesta obra.
De nada lhes valerá, porém, fecharem os olhos à
verdade, porque à custa de novas encarnações, de prolongadas meditações, de
estudo, de sofrimento, de trabalho e experiência, terão de conquistar os graus
de espiritualidade que lhes faltarem para alcançar o conhecimento da realidade,
com a força de convicção resultante da evidência dos fatos.
Espiritualidade e intelectualidade são atributos
diferentes que o ser humano aprimora independentemente, podendo avançar mais no
desenvolvimento de um ou do outro, no curso de cada encarnação. Indispensáveis,
ambas, à evolução do espírito, terão de ser alcançadas com esforço e determinação.
O desenvolvimento espiritual obedece, como o
intelectual, a uma complexidade de aptidões, de conhecimentos, de experiências
que o espírito só pode obter encarnando, muitas e muitas vezes, em vários
lugares.
Todos sabem que os povos diferem uns dos outros,
até mesmo de região para região. Essa diferença é mais acentuada, ainda, de
país para país, onde se verificam hábitos, costumes, tendências, gostos,
inclinações e temperamentos muito desiguais.
Em cada um desses aglomerados humanos, o espírito conta
com determinadas condições para desenvolver faculdades que sente estarem
atrasadas, se colocadas em confronto com o desenvolvimento já adquirido de
outras.
Todos os fatos que parecem incompreensíveis, quando
ocorridos numa região do globo onde as tendências não são as mesmas, têm
explicação natural, por obedecerem ao plano geral da evolução e estarem
enquadrados nas leis da relatividade.
Nenhum indivíduo possui somente defeitos ou
qualidades. Ambos os atributos fazem parte da sua personalidade moral. A luta
que empreende tem por fim reduzir os defeitos e aumentar as qualidades, desde
quando começa a despertar para o lado evolutivo da vida.
Assim como uma soma de indivíduos representa um
povo, a sua formação moral indica o resultado parcelado das qualidades e dos
defeitos desse mesmo agrupamento social. Por assim ser é que cada um dá a sua
maior ou menor contribuição para a variação do nível moral do povo, em cujo
meio deliberou encarnar.
A evolução do espírito é o resultado do seu
esforço, da sua vontade, das suas aspirações de progredir. Nela ocorrem, porém,
frequentes pausas, devidas à intolerância e ao comodismo do espírito encarnado,
principalmente se ele não se vê muito assediado pelas dificuldades.
Mas quando as atribulações vêm – e não deixam de vir,
para sacudir, para despertar – aí, sim, sente-se o indolente perplexo,
atordoado pela insegurança que constata no vácuo por ele próprio criado no
interior da sua existência.
Chegando a este ponto, deve estar o leitor
interessado em saber o que aconselha o RACIONALISMO CRISTÃO.
Seu interesse vai ser amplamente atendido nas
páginas que se seguem, em que verá, pormenorizadamente equacionados, os
problemas da vida, numa linguagem franca, simples, objetiva e sem artifícios,
como convém à verdade, e sentirá, através de cada capítulo, de cada página, de
cada linha, de cada palavra, o calor da mensagem que o RACIONALISMO CRISTÃO
dirige a toda a humanidade, com o que espera contribuir para que a paz entre os
homens se estabeleça e o mundo se torne fraterno, cristão e espiritualizado.
1. Traços Gerais
Antes da divulgação da matéria tratada nesta obra,
julgamos oportuno registrar alguns conceitos espiritualistas de autores que se
impuseram à admiração do mundo pelos extraordinários recursos de inteligência e
sabedoria de que eram dotados.
A tais conceitos, como se verá, não tem faltado o
apoio, desde as mais remotas eras, de grandes valores humanos, seriamente
preocupados com o estado geral retardatário da humanidade.
Alguns, de avançada evolução, reencarnaram para
lançar a semente da filosofia espiritualista que o RACIONALISMO CRISTÃO hoje explana, destinada
ao esclarecimento e consequente espiritualização dos habitantes deste planeta.
Campeia por toda parte, ainda agora, uma deplorável
ignorância a respeito das coisas espirituais, sendo fora de dúvida que a
humanidade tem sido, consciente ou inconscientemente, a grande vítima dessa
ignorância.
Não são poucos os espertalhões que têm, em todos os
tempos, dela tirado proveito. O ser humano precisa, por isso, ser despertado
para a Luz, para o conhecimento de si mesmo, para a compreensão racional da
vida, a fim de poder desempenhar, com mais eficiência, a sua tarefa terrena.
Conhecidos espiritualistas vêm clamando, há muito,
contra o erro multissecular de ocultar à humanidade a Verdade, e de conservá-la
na mais completa ignorância a respeito dos princípios que explicam a sua
própria existência.
Afirmou Platão: “A ignorância da Verdade é um
dos maiores males que afligem o mundo.”
Jesus secundou-o quando disse: “Só a Verdade
poderá libertar a humanidade das garras da ignorância e prepará-la para o
cumprimento do dever.”
Observe-se a magnífica lição que Descartes dava
mais tarde sobre a Verdade:
“Distinguir o falso do verdadeiro é o único meio
de ver claras as ações e de caminhar, com segurança, nesta vida. Um perfeito
conhecimento de todas as coisas que o homem pode ter é tão necessário para
regular os nossos costumes como o uso dos olhos para guiar-nos os passos.
Trabalhar para bem pensar, eis o princípio da moral.”
O princípio da moral, a que se referira Descartes,
está resumido nestas belas e judiciosas palavras de Cícero, com relação ao
homem de bem:
“Observar, pontualmente, todas as regras que
podem constituir o homem honrado, é o mesmo que satisfazer todas as obrigações
e cumprir todos os documentos que respeitam a todas as partes e a todas as
ações da vida, somente podendo ser o homem honrado à medida que as observa.
“Tudo o que se pode chamar de honrado reduz-se a
quatro princípios: consiste o primeiro na perspicácia do espírito, que nos
obriga a buscar e a descobrir a Verdade. A esse, chamamos Ponderação.
“O segundo é aquele que se encaminha a guardar
as leis da sociedade humana. É a fé dos contratos, dando a cada um o que é seu.
A esse, chamamos Justiça.
“O terceiro sintetiza-se na grandeza de ânimo
que, não nos deixando abater, faz-nos capazes das maiores empresas e nos
assegura a firmeza contra os mais terríveis acidentes. A esse, chamamos Valor.
“O quarto resume-se na ordem e nas medidas
justas e exatas que devemos guardar em todas as nossas ações e palavras. A
esse, chamamos Moderação.”
Para Horácio, homem honrado “é o que se vence a
si mesmo, aquele a quem a morte, a pobreza e os trabalhos não atemorizam e que,
sabendo reprimir os seus desejos descomedidos, despreza as honrarias”.
Hoje, como no passado, os que estudam os problemas
e os conflitos humanos – e entre esses estudiosos se encontram, destacadamente,
os praticantes do RACIONALISMO CRISTÃO – sabem que somente pela educação
espiritual poderá fazer-se de cada criatura um ser pacífico e verdadeiramente
honrado.
Para isso, entretanto, há necessidade de varrer do
senso comum o mundo de falsidades com que a vida tem sido pintada.
É indispensável o desfazimento das ideias e dos
ensinamentos inverídicos sobre a existência humana, que tanta confusão têm
produzido no espírito daqueles que buscam a Verdade.
Somente estarão em condições de alcançar o ideal da
plena honradez os seres que são rigorosamente verdadeiros.
Poderão ser porventura verdadeiros os que ignoram,
os que desconhecem, os que nada sabem a respeito da Verdade, do que somos
espiritualmente e do que estamos fazendo neste mundo? Claro que não.
Nenhuma ilustração é completa, quando não transmite
ao ser humano o conhecimento de si mesmo. Esse conhecimento deveria constituir o
abc da vida.
Ora, o abc – para a aprendizagem de ler e de
escrever – é ministrado às crianças tão logo ingressam nas escolas.
E o abc para o conhecimento do que é ainda mais
importante e fundamental, o próprio eu – remoto, presente e futuro – de que
dependem a saúde, o bem-estar e a felicidade, e com isso um mundo menos
agressivo, menos intolerante e mais justo e compreensivo, esse abc jamais foi
dado explicitamente a conhecer à humanidade.
É triste, é lamentável que tal coisa tenha
acontecido, uma vez que de posse de tão úteis, tão necessários, tão valiosos e
imprescindíveis conhecimentos, não andaria o ser humano, há muito tempo, a
mendigar a proteção e o amparo de supostos deuses paternais, porque teria
aprendido a confiar em si próprio e a buscar amparo e proteção no poder imenso
da sua vontade e na força invencível dos pensamentos.
A lei da reencarnação – que as organizações
religiosas tanto fazem para ocultar aos seus adeptos, num deplorável atentado
contra uma verdade tão elementar, que é a evolução – é aqui ampla e
minuciosamente explicada.
Mas não se pense que o RACIONALISMO CRISTÃO está
fazendo, com esta divulgação, uma revelação inédita.
Três mil anos antes de Cristo, Krishna já
proclamava, na Índia, a existência da Inteligência Universal, sustentando a
imortalidade da alma e a sua evolução, através de múltiplas reencarnações.
E esclarecia o grande pensador:
“O corpo é finito, porém a alma que o habita é
invisível, imponderável e eterna.”
Tratando da reencarnação, observava:
“Quando o corpo morre, se o ser foi esclarecido,
a alma ascende às regiões dos entes puros que possuem o conhecimento da vida.
Mas se a alma, quando encarnada, se deixou dominar pelas paixões, pelos desejos
imoderados, é então de novo obrigada a voltar à Terra, para recuperar o tempo
perdido.”
Nessa ordem de ideias, prosseguia:
“Eu e vós outros temos tido múltiplas
reencarnações. As minhas só de mim são conhecidas, enquanto que vós não
conheceis nem as vossas. Os males com que atormentamos o próximo perseguem-nos
como a sombra ao corpo. As obras, cujo móvel é o amor ao semelhante, devem ser
ambicionadas pelo justo, porque são as que concorrem para a evolução
espiritual. O homem virtuoso é parecido com as árvores de nossas florestas,
cuja sombra benéfica dá às plantas que as rodeiam a frescura da vida.”
Hermes asseverava no Alto Egito, alguns milênios
antes da era cristã:
“A Inteligência Universal é a única Força
Criadora de tudo quanto existe no Universo e seus atributos são a imensidade, a
eternidade, a independência, a vontade todo-poderosa e a bondade sem limites.”
A respeito da alma, da sua imortalidade e
reencarnação, ponderava:
“O espírito do homem tem duas fases: cativeiro
na matéria, e ascensão à luz. Durante a encarnação, perde a recordação de sua
origem. Cativo da matéria, embriagado pelos prazeres malsãos da vida,
precipita-se, como chuva de fogo, com sensações voluptuosas, através das
regiões do sofrimento, do amor e da morte, até a prisão terrena, onde a vida
real parece um sonho.
“As almas pouco evoluídas permanecem amarradas à
Terra por múltiplos renascimentos. As almas virtuosas, porém, elevam-se às
esferas superiores onde recobram a vista das coisas reais, nas quais se
impregnam da luz da consciência, iluminada pela dor, com a energia da vontade
adquirida na luta. Elas se fazem luminosas, pois que possuem a luz em si
mesmas, e irradiam essa luz com seus atos.”
Essas verdades, posto que conhecidas dos sacerdotes
dos templos egípcios, foram por eles cuidadosamente ocultadas aos seus fiéis.
Mais tarde, os gregos Pitágoras, Sócrates e Platão
também fizeram interessantes dissertações a respeito da imortalidade da alma e
da sua reencarnação.
O espiritismo científico vem, em todos os tempos,
sendo objeto de preocupação de grandes intelectuais, que encontram no seu estudo
importantes e indispensáveis subsídios para aumentar a sua cultura.
Em A evolução anímica (1897), o pesquisador
francês Gabriel Delanne afirma baseado em pacientes investigações:
“Com a certeza das vidas sucessivas e da
responsabilidade dos atos de cada um, muitas questões se apresentarão sob
outros aspectos. As lutas sociais que tomam, em nossa época, um caráter
terrível, poderão ser amortecidas pela convicção de que a duração de uma
existência é apenas um momento, na eterna evolução. Com menos orgulho na classe
alta e menos inveja nas baixas camadas sociais, uma solidariedade efetiva
nascerá.”
Para que o leitor possa avaliar o esforço
desenvolvido por alguns homens da ciência desejosos de colocar a humanidade ao
corrente da verdade a respeito da vida espiritual – quando ainda não estava
codificado o RACIONALISMO CRISTÃO – incluímos, a seguir, alguns trechos de um
ensaio filosófico de autoria do médico brasileiro Antônio Pinheiro Guedes, em
que, criticando o materialismo dominante, apresenta convincentes argumentos
sobre a existência da alma.
Veja-se, inicialmente, o que dizia o Dr. Pinheiro
Guedes sobre o sono em sua obra Ciência espírita, escrita no final do
século dezenove:
O sono quer o natural quer o provocado pela
hipnose ou pelos anestésicos, assim como os sonhos e as alucinações, não pode
ser explicado de modo compreensível, racional e satisfatoriamente, pelos
processos fisiológicos comuns e ordinários da escola organicista ou
materialista.
O sono é a supressão das funções de relação; é a
suspensão da atividade psíquica, a quase cessação da vida animal.
Durante o sono, o corpo repousa e a alma se
retempera.
O sono, como a vigília, é um modo de ser do
vivente, ambos afirmando a existência em antítese, pois que a vida é dupla:
vegetativa ou orgânica, animal ou de relação.
As escolas materialistas procuram explicar o
sono, quer o natural, quer o artificial (provocado ou mórbido), por uma espécie
de paralisia do cérebro devida a sua compressão, ora por falta, ora por excesso
de sangue.
Incontestavelmente, tanto a anemia como a
congestão o acompanham ou se apresentam no sono. Dado o sono natural, o
provocado ou o mórbido, o aparelho cefálico se encontra num desses estados; mas
indicar o estado ou a condição de um órgão ou aparelho na realização de um fenômeno
ou de uma função, explicar o seu mecanismo ou a maneira de se efetuar, não é
determinar a sua causa. São fatos diferentes, que não devem ser confundidos.
A observação registra que a perda de sangue em
quantidade excessiva e, às vezes, até de uma pequena porção, traz, como
consequência, o sono, o delíquio, a síncope ou vertigem e, mesmo, a morte, que
é um sono do qual não se desperta.
Ainda outras manobras provocam o sono: a
inalação de anestésicos, os passes magnéticos, a sugestão, o repouso e até o
movimento, quando cadenciado, um canto monótono, a ausência de luz, o repouso e
até o movimento, quando cadenciado. Tudo isso, todas essas manobras são,
apenas, condições para o sono; são, quando muito, causas predisponentes.
A causa do sono, a única real, verdadeira,
aquela que o determina e impõe, é a necessidade da suspensão da atividade
psíquica, a supressão das funções de relação, a paralisação temporária da vida
animal.
O sono é para a vida animal o que a fome e a
sede são para a vida orgânica: pela fome e sede, o corpo reclama alimentos;
pelo sono, a alma pede alento.
Os sonhos e as alucinações são fenômenos
puramente psíquicos que não podem ser explicados fisiologicamente; por isso, as
teorias que a ciência materialista criou para explicá-los são falsas e até
irrisórias.
Por essas teorias, os sonhos são produzidos por
perturbações do aparelho digestivo!
É o produto de uma atividade inconsciente!
É o fruto da supraexcitação de certos grupos de
células cerebrais, quando outros centros estão em repouso, daí a sua
incoerência!
Não se lembram os criadores de tais teorias
esdrúxulas de que há sonhos autênticos registrados, que foram verdadeiras
profecias.
Passa-se no sonho o mesmo fato que ocorre no
sonambulismo lúcido: a alma do magnetizado vê e ouve aquilo que se dá a
centenas de léguas; lê no passado e no futuro. Fatos que o corroborem, não
faltam: encontram-se nos livros religiosos e nos profanos, nos romances e nas
páginas da História.
Não se pode aceitar, seriamente, como perversão
dos sentidos – alucinação – a audição de palavras, frases e dissertações em
língua que o ouvinte não conhece e que ele repete com dificuldade, ou, ainda, a
audição de uma peça de música. Assim, também, a descrição exata da figura de um
indivíduo falecido ou ausente que o vidente nunca vira antes, descrição
minuciosa do seu porte, feições, atitudes e gestos habituais, o que revela a
realidade e prova a identidade da pessoa, embora só a ele visível.
São numerosos os fatos dessa natureza
registrados na literatura médica, na dramática e em outras.
Portanto, as teorias inventadas pelos
materialistas, para explicar o como e o porquê dos sonhos e alucinações, são
falsas, não passam de meras hipóteses sem fundamento, sem as condições das
científicas.
Fenômenos puramente psíquicos e fatos de ordem
espiritual, como certas alucinações, verdadeiros casos de mediunidade, não
obedecem às leis orgânicas.
As nevroses e, entre elas, principalmente, o
sonambulismo, a catalepsia e a loucura, não têm explicação satisfatória e
racional fora das teorias, princípios e leis provenientes do estudo dos
fenômenos de ordem espiritual.
Os fenômenos hoje estudados e vulgarizados sob o
nome de hipnotismo e de há muito conhecidos por Mesmer, Puysegur, Dupotet e
muitos outros; a chamada transposição dos sentidos, a penetração ou leitura do
pensamento e sua transmissão, assim como a exteriorização da sensibilidade e
outros, não podem ter explicação plausível, racional, científica, senão na
existência do corpo astral, corpo anímico ou períspirito, que é constituído
pelo fluido etéreo ou fluido universal cuja existência foi, há pouco,
demonstrada experimentalmente.
Esse mesmo estudioso médico espiritualista,
antevendo o desenvolvimento dos conhecimentos psíquicos da época, predisse que
a sua marcha seria feita no campo da ciência, assim se externando:
A ciência é o conhecimento das coisas, dos fatos
e dos fenômenos em si mesmos, em sua natureza e nas suas relações entre si e
com tudo o que os cerca: o meio, o ambiente.
Esse conhecimento só se obtém pelo estudo metódico,
observação atenta e análise minuciosa.
É, portanto, a ciência fruto da nossa
inteligência, resultado do nosso trabalho; ela visa um fim, satisfaz uma
necessidade do nosso espírito.
O espírito sente, incessantemente, necessidade
de investigar; é ávido de conhecimentos, quer luz, mais luz, sempre luz!
O Universo é infinito; a avidez de luz,
insaciável; a matéria de estudo inesgotável.
O espiritismo tem por fim: esclarecer-nos sobre
os outros mundos, sobre a vida de além-túmulo, provar a existência da alma, sua
preexistência e sobrevivência ao corpo, satisfazendo assim uma necessidade
iniludível da nossa alma, a aspiração incessante do nosso eu.
Ele estuda os fatos extraordinários, mas
numerosos, numerosíssimos, que constituem uma ordem de fenômenos, até há pouco
reputados sobrenaturais, e relegados, por isso, como inobserváveis, indignos de
estudo, os quais, entretanto, convenientemente pesquisados, provam a existência
do espírito, esclarecem-nos sobre a vida, pondo sob os nossos olhos
maravilhados, estupefatos, um outro mundo.
Os fatos que constituem o objeto do espiritismo
não são sobrenaturais, nem mesmo extraordinários, senão porque escapam à
observação dos que não os sabem ver; eles são naturais, como tudo quanto existe
no Universo; são comuns, ordinários e até frequentes.
Mas, para vê-los, observá-los, aprender a
notá-los e os reconhecer, quando e onde quer que se apresentem, era preciso
descobrir o instrumento capaz de registrá-los, tornando-os evidentes e
palpáveis.
Esse instrumento é o médium.
Achado o instrumento, estudado em suas aptidões,
começaram os fatos a ser observados, a princípio os espontâneos, mais tarde os
provocados, no intuito de reconhecer a natureza da causa produtora de tais
fenômenos.
Como resultado dos estudos de ordem espiritual,
a imortalidade da alma é estatuída em princípio perfeitamente determinado por
provas irrefutáveis.
A sucessão das existências ou multiplicidade de
vidas corpóreas de uma individualidade consciente, o espírito, denominada
reencarnação, constitui uma lei a que estão sujeitos todos os espíritos, e é
condição essencial ao seu progresso.
Assim, pois, o espiritismo visa um fim, estuda
uma ordem de fatos, emprega métodos, processos e instrumentos exclusivamente
seus; cria teorias, estatui princípios, demonstra a existência de leis;
satisfaz, assim, e preenche todos os requisitos exigidos pelos foros
científicos.
O espiritismo é, portanto, sem a mínima dúvida,
uma ciência. Ciência vasta, profunda, eclética, ele constrói a síntese da vida
humana, abrange o ciclo das evoluções do espírito, do início ao infinito.
Seus princípios, suas leis têm aplicação
universal; são um guia no meio das trevas que nos cercam, são um farol no mar
tempestuoso da vida.
São um farol no mar tempestuoso da vida porque
fazem ver um porto de abrigo na calma, na resignação, na paciência; refúgios
seguros contra as tempestades morais, consequências de nossos vícios e erros;
frutos do nosso atraso, do nosso orgulho.
São um guia no meio das trevas que nos cercam,
porque, desvendando o mistério de como se opera o nosso progresso moral e
intelectual pelo processo da reencarnação ou sucessão das vidas corpóreas,
demonstrando a preexistência e sobrevivência da alma, rarefaz, adelgaça o véu
que oculta à nossa vista uma série de vidas, cada qual menos luminosa, menos
limpa de erros, faltas, vícios e crimes, o que nos faz compreender porque o
mundo é uma escola onde devemos aprender a amar ao próximo como a nós mesmos, e
como a reencarnação é uma necessidade, pois que a vida corpórea é um meio de
reparação, aproximando um do outro, o ofendido e o ofensor, ou reunindo, em uma
mesma família, sob o véu da matéria e graças ao esquecimento do passado, a
vítima e o seu algoz!
Provamos, pois, e o fizemos por demonstração
analítica, que o espiritismo é ciência, ciência de observação, na qual também
se recorre ao método experimental.
Prosseguindo nas suas demonstrações científicas da
vida espiritual, Antônio Pinheiro Guedes aprofunda-se no exame da ciência
psíquica, estabelece associações com a ciência médica, conclui que esta precisa
ser estudada em correlação com aquela, expressando-se da seguinte forma:
Provada a existência da alma, ninguém, de certo,
porá em dúvida que é ela quem dirige o corpo, quem o anima e domina: ela vai
ser o transmissor, o veículo dos vezos e cacoetes, e também das moléstias.
O corpo é para a alma o que a roupa é para o
corpo: um agasalho, um abrigo contra as intempéries, um véu sobre a nudez.
Nem só o rosto, que se diz ser o espelho da
alma, com sua feição particular, a fisionomia, mas o corpo todo, no seu
conjunto, pela proporcionalidade das suas formas e por sua atitude, nos
impressiona; não há quem o não tenha experimentado, e essa impressão é
agradável, simpática ou antipática, mas só a temos em presença de um vivente
humano ou animal. A emoção que sentimos ante o morto, é mui diversa; é antes um
abalo, um choque, um sentimento de repulsa instintiva.
Assim, pois, a alma domina o corpo, envolve-o
todo e até se revela nas mais simples formas físicas.
É, porém, sem dúvida, a cabeça que mais e melhor
mostra a influência da alma sobre o corpo, com suas bossas e protuberâncias; a
face, sede dos músculos da expressão de nossas emoções, tão bem estudada por
Darwin e Duchenne de Boulogne; a boca, larga ou estreita, de lábios grossos ou
finos, de comissuras levantadas ou abatidas, cuja forma, finalmente, traduz,
exprime uma variedade quase infinita de sentimentos e ideias; a boca forma e
emite a palavra, estereotipando esses frementes estados de alma – o pranto e o
riso!
E os olhos que são, por seu brilho e
transparência, como uns globos cristalinos, onde se refletem, em cambiantes
infinitas, as emoções da alma! E até o nariz e as orelhas. Finalmente, todas as
partes componentes do rosto são delatoras das disposições e tendências do
espírito.
Lavater, com os seus belíssimos e mui
interessantes estudos das fisionomias, em que colaborou o grande Moreau de La
Sarthe e, antes deles, Adamantius, médico do século quarto; Giambattista Porta,
célebre físico, inventor da câmara escura, que publicou um tratado sobre a
fisionomia humana, em Sorrento, no ano 1586; Lachambre, médico de Luís XIV; o
célebre pintor Lebrun, e ainda outros; Gall e Spurzheim, médicos, criando a
Frenologia, depois cultivada por Broussais, F. Combe, Vimont e outros mais.
Todos eles são intérpretes da ação, da influência e do domínio da alma sobre o
corpo e precursores no estudo das relações do espírito com o corpo.
Esse estudo só o espiritismo pode tornar
completo, fazendo conhecer o modo por que se estabelecem essas relações e como
se formam ou se criam as ligações entre o espírito e seu corpo, conhecimento
impossível sem o concurso, sem o auxílio do instrumento – o médium.
Sabe-se, hoje, que o espírito não só assiste,
como preside a formação do seu corpo, transfundindo-se, consubstanciando-se
nele pelo períspirito, corpo anímico, molécula a molécula, órgão por órgão
durante a gestação, até completar a evolução fetal, e dele toma posse inteira,
absoluta, à natalidade, assenhoreando-se então totalmente do barco que
aparelhou para navegar no mar tempestuoso da vida material.
Sabe-se, ainda, e isso é racional, cala na
consciência, sente-se que deve ser assim, que é o próprio espírito quem
escolhe, após demorado estudo na vida espiritual, e busca, segundo as suas
necessidades de ordem moral e intelectual, o país, a sociedade, a família, os
seus genitores, tudo enfim, quanto deva e possa concorrer para o seu progresso.
Assim é ele o principal, senão o único
responsável pelas contingências, pelas vicissitudes e dificuldades que o
assoberbam durante a vida corpórea.
Por esse modo, admite-se que o espírito possa
transmitir, aceita-se, porque é compreensível, que ele imprima em seu corpo,
igualmente com o tipo e a forma, a sua feição característica, suas tendências
morais e intelectuais, dando mais desenvolvimento ora aos centros afetivos, ora
àqueles que servem à inteligência.
Os espíritos, ao encarnarem, trazem consigo as
suas vocações, a maior ou menor habilidade para as belas artes ou para as artes
mecânicas, e por isso se diz, e é exato, que a criatura nasce poeta, artista,
comerciante, soldado, músico ou médico.
São sumamente importantes o papel da família na
sociedade e a responsabilidade social dos pais a quem incumbe educar a prole,
constituindo o fim principal da educação reprimir ou ao menos modificar as
tendências perniciosas dos filhos, que cedo se revelam, e encorajar e
desenvolver as benéficas.
O espiritismo é um poderoso foco de luz cujos
raios atingem as fronteiras da esfera intelectual e iluminam todo o ciclo da
vida.
Ele esclarece e justifica as chamadas ciências
ocultas, explicando racionalmente suas deduções e os porquês da vida astral e
física.
A História Universal, a vida dos povos, sua
natureza, seu caráter, recebem dele a mais viva luz, e a que se esparge sobre
as ciências médicas, ilumina todo o seu vasto território, devassando os mais
profundos recônditos dos seus domínios.
Na Antropologia, distinguem-se: a Anatomia,
ciência da estrutura e conformação dos órgãos; a Embriologia, ciência da
formação e desenvolvimento do feto; a Teratologia, ciência das anomalias dos
indivíduos (os monstros) e dos órgãos (as deformidades). O espiritismo revela,
desvenda e põe patente, sob os nossos olhos, o porquê desses fenômenos sempre
desagradáveis, ora estupendos, muitas vezes repulsivos.
Ele nos faz ver e compreender como uma emoção
perturba as funções do aparelho digestivo que, até certo ponto, isto é, no seu
mecanismo íntimo, nos seus processos físico-químicos são independentes da
vontade; as do aparelho circulatório que também se efetuam fora dessa alçada, e
cujo centro, o coração, tem, entretanto, o ritmo perturbado e pode
imobilizar-se, determinando a extinção da vida, ao embate de uma emoção
violenta e brusca.
Essas funções, como todas as que têm por fim
nutrir, reparar, conservar os órgãos e são, por isso, denominadas de vida
vegetativa, exercem-se e operam sob o influxo direto e imediato de uma
inervação que lhes é peculiar – o sistema ganglionar, também chamado o grande
simpático – constituído por uma série de gânglios nervosos (reunião, grupo de
células nervosas) ligados, entre si, por cordões igualmente nervosos, compostos
de dezenove a vinte e cinco gânglios para cada lado, que se encontram nas
cavidades esplâncnicas (região cervical, caixa torácica e ventre), junto à
coluna vertebral, desde o atlas até o cóccix, circundando-a como um colar ou
cadeia sem fim.
Posto que autônomo na sua função peculiar, o
nervo trisplâncnico, ou grande simpático, não só não se acha separado do
sistema cérebro-espinhal, mas vive sob a sua influência, é seu subalterno, está
ligado a ele pelos nervos aferentes, cordões nervosos que, partindo dos nervos
cranianos e dos raquidianos ou espinhais, penetram um por um todos os gânglios
do grande simpático, onde se originam os numerosíssimos filetes nervosos que,
acompanhando os canais circulatórios sanguíneos e linfáticos, envolvendo-os,
como a hera envolve o muro e penetrando suas paredes, dirigem-se com eles a
todos os órgãos e tecidos do corpo humano.
Nessas condições, só indiretamente os órgãos e
aparelhos da vida de nutrição recebem influxo do sistema nervoso
cérebro-espinhal adstrito à vida de relação, pelo que, para explicar a
perturbação das funções digestivas e circulatórias por traumatismo moral,
sente-se, reconhece-se a necessidade de um outro agente além dos nervos, capaz
de fazer compreender os efeitos de uma ação indireta remota e, posto que
impalpável, tão enérgica, tão terrível, que pode fulminar como o raio.
Esse outro agente é o períspirito, corpo
anímico, por cujo intermédio o espírito se liga, se consubstancia, órgão por
órgão, molécula a molécula com o seu corpo, a cuja organização, a cuja
constituição e feitura ele assiste, preside, semelhante ao pedreiro que amassa
o barro, prepara a argamassa, escolhe e afeiçoa o material com que faz o muro e
constrói o edifício.
Ao embate de uma paixão violenta, o espírito se
conturba, se comove, se confrange, fazendo com que o períspirito se contraia,
de acordo com a intensidade do choque, e diminua o seu influxo sobre a molécula
material, sobre a célula orgânica, sobre o órgão que, por isso mesmo, perde o
calor, a energia, a atividade e até a vida.
Assim, desse modo, compreende-se como uma emoção
brusca e violenta pode não só perturbar funções, que não se exercem sob o
influxo dos nervos da vida de relação, mas até aniquilar o vivente.
Eis aí como, com um pequeno raio de luz, o
espiritismo ilumina, esclarece pontos obscuros da Anatomia, da Fisiologia, da
Patogênese e da Embriogenia, até hoje não investigados e, sem essa luz,
investigáveis.
Acaba de ver o leitor como a luz que se irradia
dos estudos de ordem espiritual penetra nos mais fundos recessos das ciências
positivas, como são as antropológicas, fazendo achar a solução racional para os
intrincados problemas de fisiologia patológica e embriogênica.
Supõe-se, talvez, que para aí a força
iluminativa do farol que é o espiritismo?
Se assim pensa, engana-se, como vai ver, e para
convencer-se do seu engano, basta uma digressão pelo campo da Nosologia, onde
se encontram – principalmente no terreno da Etiologia, um dos mais escabrosos –
os mais difíceis problemas das ciências médicas.
Aqui o auxílio da ciência espírita é
inestimável, pelos recursos com que arma o médico para vencer as maiores
dificuldades do diagnóstico, e os esclarecimentos que lhe fornece para explicar
a origem de certas moléstias e também a resistência admirável do organismo às
causas morbígenas.
Em geral, o indivíduo que é metódico, paciente e
calmo, que segue uma norma de vida regular e não é atropelado pelo revolutear
da sociedade nem solicitada a sua atividade simultaneamente por uma
multiplicidade de coisas, as mais disparatadas, esse ser é sadio, tem vida
longa.
As estatísticas da mortalidade pelas profissões
são disso a melhor prova.
Para eles singra em mar sereno o batel da vida.
Aqueles, porém, cuja atividade é despertada e
instigada, quase incessantemente, por mil objetos diferentes, que vivem
contrariados sob a pressão de sentimentos deprimentes, esses são doentios, sua
vida é raramente longa, e concorrem com a maior cifra para o obituário.
Esses são os pilotos cujas naves, acossadas
pelas tormentas da vida, muitas vezes soçobram em meio da viagem, porque as
ondas enfurecidas, que são as paixões, gastaram, exauriram as forças, e com
elas a coragem, o ânimo do timoneiro, que tomba vencido.
A maioria das enfermidades tem suas causas
predisponentes no enfraquecimento do espírito que, por seu abatimento, por seu
desânimo, não comunica, não transmite ao corpo a vitalidade que nasce da
energia.
A alegria é expansiva. Ela avigora a circulação,
dá calor ao corpo, anima e robustece o organismo, mantém a saúde, prolonga a
vida.
A tristeza, ao contrário, é reconcentrada. Ela
retarda a circulação, arrefece, tira calor ao corpo, desanima e enfraquece o
organismo, arruína a saúde, encurta a vida.
Mas, como os extremos se tocam e todo o excesso
é mau, se a deprimente tristeza é funesta à existência, a alegria, quando
excessiva, não é menos, podendo até fulminar.
Tendo mostrado e, assim, feito ver que as
conturbações da alma, seu abatimento e desânimo, pelas inúmeras e perenes
dificuldades que a assoberbam cotidianamente, são causas que predispõem às
moléstias somáticas pelo estado de languidez e falta de energia do organismo
para reagir sobre o circunfuso, e nesta designação estão incluídos todos os
agentes capazes de modificar o organismo ou alterar a saúde e aniquilar o
vivente, quer os de ordem material, quer os de ordem moral – os físicos e os
sociais ou sociológicos – passo a mostrar, a tornar visível, palpável, aquilo
que, entretanto, já de si é evidente, menos, porém, para os organicistas ou
materialistas, isto é, que as nevroses são moléstias ocasionadas por
sofrimentos do espírito ou pura e simplesmente provocadas por espíritos.
Dá-se o nome de nevroses, em Medicina, a estados
mórbidos que consistem em perturbações funcionais sem lesões materiais nem
causas apreciáveis, que se observam não só na vida de relação, mas também na
vegetativa.
As nevroses, com sede no aparelho digestivo, no
circulatório e no respiratório, raramente são impulsivas, isto é, são capazes
de dominar a vontade: a dispepsia, a asma e a angor-pectoris; aquelas, porém,
que afetam a vida de relação e são constituídas por alteração da motilidade, da
sensibilidade ou da inteligência, perturbam, suspendem, alienam a vontade,
subjugam a consciência, quase reduzem a criatura humana às condições do bruto,
da fera.
As primeiras têm por causa uma alteração da
função dependente, ordinariamente, de vício diatésico: o herpetismo, a sífilis,
a escrofulose, etc.
As segundas, que afetam a vida animal, não se
filiam a causa alguma orgânica apreciável.
Destas, umas, como a nostalgia e a hipocondria,
são mera exteriorização de estado de alma; outras traduzem uma desordem nas
relações da alma com o seu corpo, como a catalepsia; outras, ainda, como a
histeria, representam estados complexos, mistos de desordens psíquicas e
intervenção de uma vontade ou atividade estranha, invisível – um espírito;
outras, finalmente, como a loucura, na maioria dos casos são fenômenos de ordem
espiritual, são fatos da vida psíquica. O doente, neste caso, é simplesmente um
médium obsedado.
O fenômeno de possessão, que significa a tomada
do espírito encarnado pelo desencarnado, o qual se apossa do organismo
bruscamente e com violência, ou lenta e sub-repticiamente e, de um ou de outro
modo, na histeria, é o que constitui o chamado desdobramento da personalidade,
que é, antes, uma duplicação do indivíduo, porque não podendo a alma separar-se
completamente do seu corpo, pois seria a morte, o que de fato se dá é a
subjugação do encarnado pelo desencarnado, o predomínio deste sobre aquele que,
não obstante, continua ligado ao seu corpo, na posse dele, posto que
contrariado, subjugado.
Isso é admissível, compreende-se, ao passo que o
desdobramento da personalidade, como diz o organicista, materialista
disfarçado, é inaceitável, por absurdo. A unidade é indivisível: o homem é uno,
a criatura é indivisa.
A loucura é, na maioria dos casos, uma obsessão;
às vezes, simples alucinação dos sentidos, outras vezes, desordem da
inteligência ou perversão do senso moral; outras, ainda, depressão, quase
aniquilamento das faculdades psíquicas, verdadeiro embrutecimento.
São estados de alma devidos à ação mais ou menos
direta de espíritos desencarnados ou mesmo de encarnados, influindo sobre
criaturas de diversos modos: desde a simples sugestão insistente, perene,
tenaz, à ação direta, enérgica, violenta, provocando os chamados ataques.
O espírito age movido pelo amor ou pelo ódio, e
sob o influxo de um desses sentimentos mas, dominando sua paixão, ele procura
captar a confiança da sua vítima; sua ação é intencionalmente demorada, mas
branda, incessante, mas delicada; se, porém, a paixão o domina, a agressão é
violenta e brutal.
Assim se compreende e explica o porquê das
formas tão variadas, quase infinitas da histeria, desde a simples tristeza ou
alegria sem causa que as justifique, desde a abstração, o enlevo, o
embevecimento e o êxtase, até à loucura; desde o estado em que a vítima canta
ou dança, grita e chora sem saber porque, até aquele em que rasga furiosamente
as vestes, debate-se e cai por terra, convulsa, em contorções medonhas,
horrorosas ou lúbricas, as quais, para serem explicadas racional e
satisfatoriamente, só podem ser atribuídas à natureza do sentimento que anima,
agita e impulsiona o espírito agressor ou obsessor.
Assim, também, se explicam as formas diversas da
loucura, que não podem ser atribuídas a enfermidades do órgão da mentalidade,
porque a necropsia, praticada em indivíduos falecidos de moléstias
intercorrentes, logo em começo da loucura, nunca revelou a mínima lesão
material do cérebro, sendo certo, entretanto, que se encontram profundas
alterações nos cérebros daqueles que sucumbem após longo tempo de sofrimento
pela loucura, o que torna bem patente que tais lesões são efeito e não causa
das perturbações psíquicas.
Estes fatos podem ser observados e analisados
por quem quer que seja.
E aqueles que o fizerem sem ideias
preconcebidas, sem sujeição a escolas ou seitas, livres de quaisquer peias, hão
de reconhecer a sua veracidade.
No processo de formação, individualização e
aperfeiçoamento do espírito, está a razão de ser dos reinos da natureza; eles
são os laboratórios, as oficinas onde se realiza o trabalho ingente e
maravilhoso da criação humana.
Cada um dos reinos da natureza consta de regiões
diferentes, ocupadas por espécies mais ou menos distintas, ligadas,
hierarquicamente, das mais simples às mais complexas.
A hierarquia depende do número de oficinas: a
mais ínfima contém uma única e a mais elevada encerra todas, ocupando-se cada
qual com um trabalho peculiar e cada uma executando o seu. Criadas todas as
oficinas e constituído o laboratório, passam a funcionar simultânea e
sinergicamente, concorrendo, cada qual, com o seu trabalho e convergindo os
seus esforços para o mesmo fim – a criação.
Constituído o laboratório (o vivente) com as
oficinas necessárias (as partes componentes do corpo), e estas, com os seus
mecanismos (os órgãos), ele entra em atividade e funciona sempre,
incessantemente, enquanto a máquina funciona regularmente, até que não possa
mais ser reparada, a menos que um acidente venha a interromper o trabalho de
transmissão do movimento, porque então o laboratório emudece, temporária ou
definitivamente.
A reprodução, arremedo ou simulacro da estática
(formas, atitudes, feição), é uma espécie de memória, memória física,
retentividade de formas, a qual se pode, ou antes, se deve considerar como
transformação, ou melhor, vitalização da força de coesão que é aquela que
conserva e torna permanente a configuração dos corpos: é o atavismo orgânico,
corpóreo.
O mesmo fenômeno de ordem dinâmica (reprodução
do caráter, aptidões e tendências afetivas e intelectuais) é do domínio
psíquico, o qual se deve reputar como uma espécie de memória não material, mas
mecânica e, portanto, ainda retentividade, que chamarei memória perispiritual,
pois que é o corpo anímico quem conserva as modalidades de existências
passadas.
O Dr. Pinheiro Guedes refutou, como se vê, as
teorias sustentadas pelas correntes materialistas, inclusive da Medicina, contrapondo-lhes
os seus conhecimentos espiritualistas, hauridos em fontes da mais cristalina
essência.
Assim o fez com o sincero desejo de servir à classe
médica, a que pertencia, por não ignorar que ela poderia prestar ainda maiores
benefícios à humanidade, se acrescentasse aos seus valiosos estudos de
fisiologia o resultado das pesquisas, não menos importantes, no campo do
espiritismo científico.
O médico que puder ministrar tratamento físico com
o conhecimento das causas ou influências psíquicas que incidem sobre a maioria
das enfermidades terá condições de alcançar maior êxito.
Será necessário assinalar ser a presente
divulgação, sinceramente, inspirada no desejo de ver a humanidade reerguer-se
para empreender, por caminhos seguros, a marcha da sua evolução, sabendo o que
faz e por que o faz?
Muitas tentativas têm sido feitas no setor das
ciências filosóficas para explicar o que são Força e Matéria, na sua concepção
genérica.
Destituídas, porém, de base, essas explicações – de
um modo geral não convincentes e insatisfatórias – contribuíram, em muitos
casos, para aumentar a confusão e a dúvida existentes no espírito não
esclarecido a respeito da vida fora da matéria.
Hoje, entretanto, Força e Matéria constituem tema
de simples análise, desde que desdobrado, sem grandes reflexões teóricas, na
sequência dos princípios racionalistas cristãos expostos nesta obra,
ajustando-se aos moldes de uma invulgar simplicidade, acessível ao raciocínio
comum.
Fora do campo da espiritualidade – que é imenso e
inesgotável – jamais poderá alguém encontrar solução para os problemas
espirituais.
A definição de Força e Matéria situa-se, pois,
dentro da lógica dos fenômenos psíquicos amplamente divulgados pelo
RACIONALISMO CRISTÃO.
Enquanto o ser humano não adquirir pleno
conhecimento de si mesmo como Força e Matéria, nenhuma indagação filosófica
poderá exercer influência decisiva no apuramento da sua conduta individual.
Quanto mais segura, mais nítida e realística for a
compreensão da ação do espírito sobre o corpo físico, vale dizer, da Força
sobre a Matéria, mais depressa a clarividência do sentido espiritual revelará
ao estudioso as funções vitais da natureza universal.
Em Força e Matéria se resume, se sintetiza, se
define, se explica toda a Verdade.
Os princípios reunidos nesta obra apenas encerram a
parcela de ensinamentos daquela verdade que está ao alcance da compreensão
humana, desde que a criatura se interesse realmente pelo seu estudo, sem se
deixar influenciar pelos ultrapassados compêndios sectaristas.
A apuração dos conhecimentos relacionados com a
vida reduz os erros em que tantos incidem.
E o que é a vida, senão a ação permanente da Força
sobre a Matéria?
A Matéria não possui atributos. Estes são
exclusivos da Força, e como tal se exteriorizam e manifestam na
consubstanciação dos três reinos da natureza.
Os atributos que os seres encarnados manifestam
constituem, apenas, reduzido número daqueles que podem revelar espíritos mais
esclarecidos que, em virtude do seu maior grau de evolução, já não estagiam neste
planeta.
A Força mantém o Universo regido por leis comuns,
naturais e imutáveis. Comuns, porque são inerentes a todos, sem a mínima
exceção; naturais, por decorrerem de uma sequência lógica no processo da
evolução; imutáveis, por serem absolutas, e neste sentido não há lugar para o
imprevisto, para o acaso ou a dúvida, imperando – só e sempre – a exatidão, a
certeza, a perfeição.
As responsabilidades e os deveres do ser humano –
que ele precisa compreender bem para convencer-se de que toda vez que infringir
as leis naturais retarda, inapelavelmente, a marcha da sua evolução – estão
dentro destes princípios.
Assim, sem conhecer o processo do seu próprio
desenvolvimento espiritual, sem se conhecer a si mesma na sua composição astral
e física, não pode a criatura conduzir-se com o necessário aproveitamento, daí
resultando ter de submeter-se, em obediência àquelas leis, ainda que por livre
vontade e em duras experiências, a uma multiplicidade de reencarnações cujo
número seria, de outro modo, grandemente reduzido.
O Universo é composto de Força e Matéria. A Força é
o agente ativo, inteligente e transformador. A Matéria, o elemento passivo e
amoldável. Ambos, na sua forma original, indivisível, fundamental e
imponderável, penetram todos os corpos, estendendo-se pelo espaço infinito.
A Força, agindo em obediência às leis evolutivas,
utiliza-se da Matéria, no estado primário desta, e com ela forma corpos e
realiza fenômenos incontáveis e indescritíveis que escapam à apreciação comum,
considerados os limitados recursos deste planeta.
No Universo não há nada de novo e também nada se
perde. Tudo nele está criado. Há, somente, transformações da Matéria e evolução
da Força.
Os inumeráveis corpos compostos em combinações
múltiplas de partículas da matéria organizada, nada mais exprimem do que essas
transformações.
Composição e decomposição, agregação e desagregação
de corpos, são o resultado da ação mecânica da vida.
A ciência química, em suas constantes
investigações, classificou mais de uma centena de elementos básicos da matéria
organizada, dando à partícula fundamental e infinitésima desses elementos o
nome de átomo.
Os átomos são cientificamente combinados para
formar as moléculas que se classificam, por sua vez, como partículas
infinitésimas dos corpos compostos.
Tanto os átomos como as moléculas se mantêm
agregados uns aos outros enquanto sobre eles exerce a Força a sua ação coesiva,
e se desagregam, quando essa mesma Força deixa de atuar.
A matéria organizada, ainda que representada por um
simples átomo, contém uma soma de energia de extraordinário poder, mantendo-se
cada núcleo de alta condensação de Força perfeitamente equilibrado com os
demais na composição do Todo, em completa uniformidade, cada qual dentro da
respectiva classe, sem nenhuma alteração na sua constituição específica. Isto
porque o que as leis estabeleceram não pode sofrer modificações, já que não
existem imprevistos para a Sabedoria Excelsa que é una, integral, total.
A Força, utilizando-se da Matéria, começa a sua
evolução na estrutura do átomo, passando, depois, a uma nova ordem de ação
construtiva, na composição das moléculas.
Em todo o constante agregar e desagregar dos
corpos, a intensidade da Força vai aumentando nesses núcleos infinitésimos com
maior acentuação das vibrações da vida, fazendo progredir o seu grau de
inteligência.
Completado o ciclo iniciado no primeiro dos três
grandes reinos da natureza – o mineral – de onde ascenderam para o vegetal e o
animal, passam esses núcleos a constituir-se em microrganismos de ínfima
espécie.
Desses microrganismos, partindo da espécie ínfima,
empreende a partícula de Força a sua evolução através de outras espécies e de
outros organismos de maior desenvolvimento, atingindo sempre formas mais
elevadas.
Na molécula e suas subdivisões, a Força apenas se torna
perceptível por sua expressão vibratória ou de movimento intermolecular. Já nos
microrganismos, além daquela vibração, revela ação de movimento exterior – a
locomoção.
Assim, de mudança em mudança de um corpo para outro
imediatamente superior, vai evoluindo a partícula da Força, até atingir
condições que lhe permitam, já como espírito, encarnar em corpo humano, em
situação de exercer a faculdade do livre-arbítrio e assumir as
responsabilidades inerentes a essa faculdade.
Como espírito, encarna inumeráveis vezes,
adquirindo sempre mais inteligência, mais luz, mais experiência, mais
conhecimentos, mais clara concepção da vida e maior capacidade de raciocínio.
O espírito faz a sua trajetória neste planeta em
condições apropriadas ao seu estado de adiantamento, passando em cada
reencarnação a viver em meio adequado ao progresso já alcançado, até terminar a
parte da evolução que corresponde a este mundo.
O globo terrestre é uma esfera de matéria
organizada impregnada de forças que atuam diretamente sobre os átomos,
constituindo-os, unindo-os e mantendo-os em equilíbrio, na sistemática de uma
complexidade de movimentos.
O átomo está em constante vibração, produzida pela
energia existente no seu interior, e liga-se a outro átomo pela força de coesão
para compor a molécula. É também essa mesma força de coesão que une as
moléculas entre si.
De um polo ao outro da Terra, passam linhas de
força que as próprias bússolas denunciam.
A força de gravidade exerce poderosa ação sobre
cada átomo, atraindo-o para um centro no interior do globo.
Em todos os movimentos que executa, a esfera
terrestre é impulsionada pela Força que atua no interior dos seus átomos.
O diagrama seguinte dá uma ideia, ainda que
elementar, da ação da Força (universal) sobre a Matéria (universal) na animação
de todos os corpos, e da associação da Força com a Matéria no Planeta para a
composição de todos os reinos da natureza, destacando-se, em cada caso, os
atributos fundamentais predominantes.
Vê-se, pois, que é a Força o atributo fundamental
predominante no reino mineral. No vegetal, a Força e a vida, e finalmente no
reino animal – além destes dois últimos atributos – predomina também a
inteligência.
Não se deve inferir, daí, a inexistência de vida no
reino mineral nem a de inteligência no vegetal. Apenas se menciona a
predominância dos atributos fundamentais apontados, para facilitar a
compreensão do leitor, dada a transcendentalidade do assunto.
O ser humano que quiser demorar-se na investigação
deste importante tema encontrará campo aberto para desdobrar o raciocínio,
fortalecer as suas convicções e concluir que essas duas fontes substanciais –
Força e Matéria – são o princípio e o fim, são unidades que se tocam nos seus
extremos, que correm paralelas e que, na sua incomensurabilidade, abrangem o infinito
e penetram e envolvem o Universo.
As expressões aqui empregadas são relativas, à
falta de outras que melhor possam exprimir uma concepção de ordem absoluta.
3. Grande Foco
Este capítulo é destinado especialmente àqueles que
estiverem dispostos a quebrar as algemas sectárias para, pela libertação
espiritual, se tornarem capazes de ascender a regiões que o materialismo
religioso jamais poderá alcançar.
Compreende-se, perfeitamente, que o índio das
selvas não tenha uma concepção da espiritualidade que vá além da mística de
adoração ao fogo, ao raio, ao Sol ou aos animais inferiores, por lhe faltarem
bases de raciocínio para demovê-lo da perplexidade adoratória a que se entrega.
A primeira ideia de deus, repelida pelos mais civilizados
e aceita por esses seres primitivos, surge, precisamente, nas condições acima
apontadas.
Nenhuma lei natural falha, inclusive a da evolução.
No tocante ao espírito, a evolução se processa, como foi explicado, através de
incontáveis encarnações, e só por meio delas o raciocínio se vai desenvolvendo
no amplo caminho da espiritualidade, sob cuja luz o misticismo perde a forma, o
sentido, a significação, para dar lugar somente ao que o bom senso e a lógica
admitem como verdadeiro, com fundamento nas lições aprendidas no volumoso Livro
da Vida.
Tão logo principia a raciocinar, na primeira fase
de encarnação em forma humana, o espírito sente, ainda que de maneira vaga e
confusa, a existência de uma Inteligência Superior que não é capaz de definir.
Nasce, daí, a sua inclinação adorativa, que as condições da ignorância em que
vive plenamente justificam.
Ao observador atento não é difícil avaliar o grau
de espiritualidade dos seres pela tendência que manifestam para a adoração,
assim como a maior ou menor intensidade dessa tendência.
O modo de adorar e o objeto adorado variam, na
medida em que a consciência da vida vai despertando, até chegar ao ponto de
poder a criatura repelir o sentimento de adoração.
Adora-se, de um modo geral, para mendigar favores e
proteção. A adoração, pois, acusa uma condição de ignorância e inferioridade
espiritual.
É no estado primitivo, na condição de selvagem, que
o indivíduo sente o primeiro impulso, o primeiro gesto, o primeiro movimento
adorativo.
De encarnação em encarnação ascende ele às classes
ditas civilizadas conservando esse mesmo sentimento, porém modificado na forma,
já que mais polido, mais requintado para satisfazer as condições sociais do
meio, mas mantendo, no fundo, o mesmo pensamento e a mesma ideia que o geraram
no passado.
As religiões usam sempre aparatos para impressionar
os seus adeptos. A maioria deles é destinada a incentivar a adoração.
Deus – Criação Humana
Grupos afins se reúnem para adorar, de um certo
modo, um certo deus. Cada povo, cada raça, criou a imagem desse deus à sua
própria semelhança. Um oriental, por exemplo, jamais admitiria um deus com
feições ocidentais, assim como um ocidental acharia absurda e até ridícula, a ideia
da divindade de rosto asiático.
Os deuses possuem, invariavelmente, os caracteres
físicos e mentais dos seres que os conceberam.
Não importa que estes, invertendo a realidade dos
fatos, afirmem que foi deus quem criou o homem à sua imagem. A verdade é bem
outra, e não é preciso ter grande imaginação para descobrir o logro multissecular
de que tem sido vítima a humanidade.
Foi o homem quem imaginou, quem concebeu, quem
criou os deuses. Criou-os, mentalmente, com a forma humana e as mesmas
qualidades e defeitos que possui.
Nessa criação, estão claramente refletidos os
sentimentos dos criadores. O deus corpóreo figura em todas as religiões. No
credo – que é a oração principal de uma delas – aparece com o filho sentado ao
seu lado direito, compondo um quadro da vida material comum.
O conceito da divindade, embora variando de raça
para raça, não modifica a tendência geral relativamente à concepção do deus-rei
todo poderoso, distribuindo prêmios e castigos.
Na Bíblia, no Velho Testamento – livro sagrado e
intocável para tantos adoradores – existem várias referências ao deus de
temperamento iracundo e vingativo da época.
Esse vergonhoso sentimento, especialmente em um
deus, nada mais é do que o reflexo do sentimento do próprio povo que o
imaginou.
A indigência de conhecimentos impõe certa condição
de dependência. Esta verdade, que se constata na vida terrena, ainda é mais
evidente quando envolve questões espirituais.
O que interessa ressaltar, para que fique bem
claro, é o modo pelo qual o ser processa a sua marcha evolutiva, em que
conquista, passo a passo, a independência espiritual.
Quando a criatura, de evolução em evolução, chegar
a compreender que é, como espírito, Força, Inteligência e Poder; quando se
convencer de que possui atributos morais para vencer, racionalmente, quaisquer
dificuldades; quando adquirir a consciência da sua condição de partícula de um
Todo harmônico – dele inseparável –, que é o próprio Universo Espiritual, caem
por terra, como inautênticas e ridículas, as ideias primitivas do deus protetor
ao qual vivia jungida.
As religiões perdurarão enquanto puderem contar com
adoradores para protegê-las e sustentá-las. Não importa que os objetos da
adoração sejam os astros, as manifestações da natureza, os animais inferiores
ou as imagens alegóricas de barro, de madeira ou mesmo de ouro.
A verdade é que os adoradores pertencem todos a uma
classe idêntica, embora de diferentes categorias. São candidatos a
reencarnações sucessivas neste laboratório psíquico que é o mundo Terra, até
que o amadurecimento espiritual os faça compreender a realidade das coisas.
No conhecimento da vida fora da matéria estão os
lúcidos elementos de convicção, por meio dos quais o ser humano adquire
suficiente valor para libertar-se das falsas concepções que o trazem preso às
douradas fantasias dos mistérios, do milagre e do sobrenatural.
Já é tempo de a humanidade entender que não existem
conhecimentos secretos. Existem, isso sim, interesses secretos, inconfessáveis,
e por causa deles a Verdade tem sido duramente sacrificada.
É lamentável que, numa época de tamanho avanço
tecnológico, ainda prevaleça arraigada em tantos espíritos, a concepção deísta,
divinal, de sentido adorativo.
O espírito é Força, é Inteligência, é Poder, com
iniciais maiúsculas. Todos, sem exceção, estão sujeitos aos mesmos princípios,
às mesmas regras, ao mesmo processo evolutivo. Não há espíritos privilegiados,
como seriam os deuses e seus supostos filhos.
A sistemática da evolução enquadra-se no regime das
leis naturais e imutáveis que são absolutamente iguais para todos.
Invariavelmente, todos fazem o mesmo curso e percorrem o mesmo ciclo, no que
está um alto e meritório princípio de justiça.
Os que hoje rendem culto a um deus abstrato
acharão, ao cabo de tantas encarnações quantas precisarem para atingir o
necessário esclarecimento, tão tolo esse culto quanto ridícula os civilizados
agora entendem ser a ideia, que também já alimentaram, de adorar deuses
representados por elementos da natureza ou animais inferiores.
Para a maioria, deus é uma entidade que se presta a
promover castigos, a distribuir graças e a lavrar, em caráter eterno ou
temporário, condenações ou absolvições.
Grandes espíritos movidos por ideais reformadores
baixaram à Terra, encarnando, com enorme sacrifício, para ver se conseguiam
tornar menos bruta a mente humana que se deixara empolgar pelo sentimento do
gozo e dos prazeres apenas materiais.
Esses valorosos espíritos, porém, além de não
haverem sido compreendidos, acabaram divinizados pela massa ignara, como
aconteceu com Jesus, Buda, Confúcio e Maomé.
Concretizada a ideia da divinização, foram criadas
as religiões respectivas que correspondem a várias formas especuladoras de
adoração, somando-se, em seguida, os adeptos de cada uma.
Num mundo como este, em que se confundem almas
encarnadas de várias classes, e no qual a maioria ainda vive mais para a
matéria do que para os valores espirituais, não foi difícil agrupar, sob a
flâmula de cada religião, incontáveis legiões de adoradores.
No Brasil e em muitos outros países, adora-se
Jesus. Não há, entretanto, qualquer diferença entre tais adoradores e os outros
que se voltam para Buda, Confúcio e Maomé.
Por trás das aparências de todos eles, esconde-se a
ação subserviente e bajulatória, com a qual esperam receber maiores recompensas
presentes ou futuras ou o perdão para as suas faltas.
Essas atitudes constituem uma prática destrutiva de
enfraquecimento do próprio caráter.
Se aos seres encarnados esclarecidos repugnam as
bajulações, os atos de subserviência e os incensos, não é difícil imaginar-se o
que isso produziria em espíritos desencarnados altamente evoluídos, se tais
sentimentos pudessem chegar a eles.
Os fiéis podem adorar um pedaço de pau talhado com
feições humanas, porque o livre-arbítrio não lhes nega o direito de satisfazer
a sua irracional vontade adorativa.
Nenhum adorador é capaz de dissociar a ideia de
adorar da de pedir. A razão é óbvia: adorar e pedir são duas muletas iguais
para uma só invalidez mental.
E, note-se: o deus, a quem são dirigidos os
pedidos, é de tal maneira desavisado e vive tão alheio, tão arredio, tão
indiferente aos problemas humanos, que a sua atenção para esses problemas
somente é despertada pelos apelos que recebe.
É preciso que se lhe peça piedade, para que se
apiede; que se lhe suplique misericórdia, para tornar-se misericordioso; que se
lhe implore a paz, para que pacifique; que se lhe rogue justiça, para que seja
justo.
Se todo fanatismo é condenável pelo poder que tem
de obliterar a razão e impedir que o raciocínio seja exercitado, o religioso é
mais nocivo ainda porque, gerando ódios e paixões, é capaz de levar as
criaturas a cometerem os atos mais desalmados e os crimes mais abomináveis.
Na história da humanidade, não existem guerras tão
bárbaras, tão implacáveis, tão cruentas, tão ferozes, tão brutais, tão
espantosamente perversas e desumanas quanto as religiosas.
Jamais o mundo assistiu a ações de tamanha
crueldade e vandalismo como as que praticaram os cruzados, cujo ódio os levou a
despedaçar indefesos e aterrorizados velhos, mulheres e crianças.
A pavorosa Noite de São Bartolomeu e as fogueiras
acesas pela Inquisição para queimar vivas, depois de horrivelmente martirizadas
e mutiladas, as vítimas do ódio gerado pelo fanatismo religioso no espírito dos
próprios sacerdotes inquisidores, são um exemplo bem ilustrativo dos extremos a
que esse fanatismo pode levar o homem.
Na melhor das hipóteses, o fanatismo religioso – e
ninguém, por mais que demonstre estar por ele dominado, se considera fanático –
enfraquece, aliena e reduz à impotência a vontade humana.
O homem que é, por excelência, um espírito criador,
quando influenciado pela falsa ideia do milagre e da ajuda divina, à espera dos
quais se detém, inerte, em lugar de esforçar-se para ajudar-se a si mesmo,
chega, muitas e muitas vezes, ao fracasso, por não saber utilizar-se de duas forças
poderosas que possui e que, se devidamente exercitadas, o teriam conduzido ao
triunfo.
Essas forças, que na maioria dos seres jazem
ignoradas e adormecidas, se chamam vontade e pensamento.
Os deuses mitológicos também fizeram milagres, na
imaginação fantasista dos adoradores, e daí a autoridade e o prestígio que
desfrutaram junto aos seus fiéis.
Não há diferença sensível, por isso, entre os
deuses milagreiros da mitologia e os não menos milagreiros das variadas
religiões atuais. Estas apenas progrediram e aperfeiçoaram os métodos de
adorar, que se tornaram, como já foi dito, mais finos, mais distintos, mais
requintados.
As religiões possuem, em geral, livros considerados
sagrados pelos seus adeptos. Entende-se por sagrado o que é puro, o que não tem
mácula, o que é perfeito e intocável. Dentro desses livros, porém, podem
existir os maiores absurdos, a mais clara ofensa ao decoro e ao bom senso, pode
a verdade ser transformada em mentira, o justo em injusto, o honrado em
desonrado, pode a lógica sofrer todas as agressões e violências, que nenhuma
crítica é admitida.
Lendo tais coisas e observando tantos disparates, o
leitor pode-se estarrecer, mas não tem o direito de falar e, muito menos, de
analisar. Na Bíblia, todos o sabem, foram alterados diversos textos originais,
com o fim de favorecer a um vantajoso sistema capaz de propiciar fundos
suficientes para sustento das legiões que o mantêm.
Somente a palavra perdão, habilmente introduzida
naquele livro, tem proporcionado imensa, incalculável renda.
Durante muitos séculos, as religiões propugnaram
pela ignorância dos seres. Essa ignorância convinha aos interesses dos
orientadores religiosos. Isto porque ricos e ignorantes sempre viveram às mil
maravilhas com as seitas religiosas que introduziram na Bíblia este versículo
repleto de malícia: “Bem-aventurados os pobres de espírito, porque deles é o
reino dos céus”.
A obsessão religiosa tem as suas fontes, suas
origens na infância dos seres, quando eles começam a sentir-se deslumbrados
diante dos quadros que lhes pintam do céu, do inferno, do pai celestial e da
corte dos anjos, arcanjos e querubins.
O que mais os impressiona, sobretudo, são as
narrativas dos milagres, das recompensas e dos castigos divinos.
Não é preciso possuir muita imaginação para
compreender o que essas fantasias representam no delicado período da formação
da personalidade e do caráter do ser humano, e de como elas contribuem para
embotar-lhe o raciocínio e dificultar ou tornar impossível a sua expansão no
amplo terreno da espiritualidade.
Dentre os mais graves erros das religiões, ocupa
lugar de destacado relevo o perdão para as faltas e, até mesmo, para os crimes
cometidos por seus adeptos.
A absolvição dos pecados satisfaz ao rebanho,
produzindo grande alívio na consciência deste. A alma fica supostamente livre
da culpa. Com essa impunidade que a absolvição lhe assegura, não hesita em
cometer novas faltas, novos erros, novos crimes, dos quais sabe que receberá a
absolvição quando lhe for dada a extrema-unção, no momento final.
Resgatam-se as dívidas morais com as confissões,
como as mercantis com o dinheiro. E o bom pagador tem sempre aberto o crédito
para novas operações.
É comum atribuir-se a deus, cujos desígnios afirmam
ser impenetráveis, a responsabilidade de grande parte das coisas que acontecem
na Terra.
Dessa maneira, se desencarna uma pessoa da família,
foi deus quem a levou. Se acontece um desastre, deus assim o quis. Se alguém
escapa de ficar sob as rodas de um automóvel, a deus passa a ser creditado o
salvamento da quase vítima.
A individualidade fica sempre subordinada à ação de
uma terceira entidade, e essa subordinação exerce esmagadora influência
negativa sobre o espírito.
Por aí se vê quanto as religiões são incapazes de
transmitir aos seus adeptos a verdadeira noção da vida espiritual, pela
completa ignorância em que se mantêm com relação à existência da vida fora da
matéria.
Por que as religiões ocidentais tanto se empenham,
tanto se esforçam, tanto se obstinam em negar a reencarnação? Por que tão
intransigentemente a combatem, a despeito das gritantes e insuspeitas provas da
sua existência real? Por que persistem no desconhecimento de tantos e tantos
fatos que exaustivamente a comprovam, de que está cheia a história da
humanidade?
A resposta é fácil: reencarnação e salvação são ideias
que se atritam, que se agridem, que se chocam, porque antagônicas e
irredutivelmente inconciliáveis.
Ora, no conceito de salvação – intimamente ligado
aos favores do perdão – está precisamente a base em que se apoiam essas
religiões.
Se as organizações religiosas revelassem a Verdade
aos seus adeptos no tocante à fantasia dos perdões, da salvação eterna, da
mansão celestial, do divino pai, do inferno, do demônio, do purgatório e de
tantas outras invencionices, nenhuma delas se manteria de pé.
Desapareceriam as fontes de renda representadas
pela indústria dos santos de madeira e de barro, das relíquias, dos dízimos do
senhor, das esmolas para os santos, das rezas e de muitas outras práticas
artificiosas.
Quando o indivíduo se convencer de que, se praticar
o mal, terá, inapelavelmente, de resgatá-lo, sem possibilidade de perdão; que
numa encarnação se prepara para a encarnação seguinte; que esta será mais ou
menos penosa consoante o uso que tenha feito do seu livre-arbítrio, na prática
do bem ou do mal; que as ações boas revertem em seu benefício e as más em seu
prejuízo; que não pode contar com o auxílio de ninguém para libertá-lo das
consequências das faltas que cometer e que terá de resgatar com ações elevadas
– qualquer que seja o número de encarnações para isso necessárias –, por certo
pensará mais detidamente, antes de praticar um ato indigno.
Os que sabem avaliar o peso da responsabilidade que
arrastam com os próprios atos fazem todo o possível para firmar-se nos
ensinamentos reais que transmitem o conhecimento da Verdade, rompendo com as
entorpecentes mentiras religiosas.
O RACIONALISMO CRISTÃO – sem outra ideia, outro
intuito, outro interesse que não seja o de fazer a humanidade despertar para a
realidade da vida – propõe-se a lhe revelar os esclarecimentos de que ela
necessita para sair da obscuridade espiritual em que ainda se encontra, tão
danosa, tão prejudicial à sua evolução.
Por não ser religião, mas escola espiritualizadora,
não possui esta filosofia deuses nem adoradores.
Almas libertas da escravidão sectária, os
estudiosos do RACIONALISMO CRISTÃO aprenderam a confiar em si mesmos, na sua
capacidade espiritual e no poder da vontade para lutar e vencer.
Não são, por isso, adoradores, nem pedinchões, nem
lamuriosos, nem farrapos mentais. Todos sabem que são grandes os obstáculos que
surgem, a cada passo, no caminho da vida, mas que os poderão vencer com os
próprios recursos morais de que dispõem.
Em toda esta obra se ensina que o espírito é uma
minúscula fração da Inteligência Universal, evoluindo. Nela também se demonstra
ser o Universo constituído de Força e Matéria, enchendo a Força, que incita e
movimenta todos os corpos, o Espaço Infinito.
É ela apresentada, nesta obra, sob uma denominação
comum: Força, Inteligência Universal ou, ainda, Grande Foco.
Força é a expressão empregada quando da sua
associação com a Matéria, e Grande Foco quando se quer exprimir o Agente
Universal, na sua concepção infinita. São, porém, termos sinônimos, de igual
sentido.
Ninguém, por mais sofista que seja, poderá apontar
em qualquer dessas duas expressões a mais ligeira afinidade com o vocábulo
deus, já tão desmoralizado pelo sentido mesquinho e materialista que lhe
emprestam os adoradores de todas as religiões.
Não se pode expressar a grandeza infinita de um
valor absoluto com palavras de sentido relativo, como são as da linguagem
comum.
As palavras Grande Foco ou Força, ainda quando não
exprimam toda a realidade do seu sentido, são adotadas por falta de termos mais
expressivos.
Grande Foco dá a ideia de luz e também de
intensidade de brilho.
Esse Grande, com g maiúsculo, quer dizer Total. É,
sem dúvida, uma expressão bastante acessível àqueles que ainda não podem penetrar
mais profundamente nas questões demasiadamente abstratas.
Os que se interessarem, realmente, por este estudo
de transcendental relevância, encontrarão no Capítulo 2 – Força e Matéria
os elementos de que necessitam para um julgamento perfeito.
Por mais que o ser humano dê expansão aos seus
conhecimentos, por mais que os analise e neles se aprofunde, não poderá penetrar
partindo da limitada posição que ocupa neste planeta, toda a extensão infinita
do Espaço.
A mente, embora possa avançar até certo ponto, fica
sempre sem atingir a meta extrema, que se encontra sob o domínio de valores
absolutos.
Perdem tempo os que se preocupam, em demasia, com a
definição integral do problema do Espaço para abranger a sua concepção total,
porque somente a Inteligência Universal é detentora de tão completo saber.
Antes de chegar aos problemas máximos do Universo,
a criatura apenas precisa adquirir os conhecimentos necessários à sua evolução,
esforçando-se por aprender as inumeráveis lições que ainda não absorveu e que
precedem, de muito, aquelas que envolvem as transcendentais concepções do
espírito.
O que a respeito do Espaço a inteligência humana já
pode compreender vem sendo revelado pela ciência que enfeixa tais
conhecimentos.
Este planeta – que serve, a um só tempo, de escola
e cadinho depurador a bilhões de espíritos encarnados – é, como miríades de
outros planetas, semelhante a uma partícula de pó, em relação ao Espaço
Infinito.
Ele pertence a modesto sistema solar de uma grande
família estelar que se chama galáxia.
O sistema solar do qual faz parte a Terra compõe-se
de reduzido número de planetas girando em torno do Sol.
Os planetas não têm luz própria. Esta provém dos
raios solares que neles resplandecem, como acontece com a Lua cujo brilho
resulta da luz solar refletida em sua metade iluminada.
Excluídos os planetas, as estrelas que brilham no
firmamento são sóis e, portanto, centros de sistemas solares. Há sistemas
solares menores do que o que contém o nosso planeta como também os há muito
maiores.
Existem ainda outros bastante complexos, com vários
sóis, e estes, de cores diferentes, produzem cambiantes de luz de diversas
tonalidades, em combinações que se revezam com o pôr e o nascer de cada sol.
A luz emitida pelos corpos solares – idêntica à de
qualquer corpo material – não pode ser confundida com a Luz Astral que
representa a Força Inteligente e enche o Espaço Infinito, por ser ela de
constituição inteiramente diversa.
As trevas da noite nada significam para o espírito,
pois este vê através da Luz Astral que penetra todos os corpos, até ao mais
ínfimo lugar no Espaço. Dia e noite expressam períodos apenas relacionados com
a vida material.
Vários são os movimentos da Terra no Espaço,
salientando-se o de rotação em volta do seu próprio eixo, o de translação em
redor do Sol, o que é feito, com todo o sistema solar, em torno do eixo da
galáxia, e o que resulta do movimento da própria galáxia.
Todos estes movimentos são perfeitamente conjugados
em velocidades uniformes e rigorosamente ajustadas.
A medida usada para avaliar as distâncias
astronômicas – ano-luz – é a extensão que a luz percorre no Espaço em um ano,
tomando-se por base a sua velocidade, que é de cerca de trezentos mil
quilômetros por segundo.
Com essa altíssima velocidade, ela vai de um polo
ao outro da Terra numa insignificante fração de segundo.
A distância do Sol à Terra é atravessada em oito
minutos, aproximadamente. Para atravessar, porém, a galáxia do nosso sistema
solar de um extremo a outro mais afastado, leva milhares de anos.
É bom não perder de vista que existem galáxias
incomparavelmente maiores, como também há sóis na galáxia a que pertence o
pequeno planeta em que vivemos muitas vezes maiores do que o nosso, apesar de
ser este tão grande em relação à Terra, que chega a conter bem mais de um
milhão de vezes o seu volume.
Uma galáxia é uma imensa família de sistemas
solares que se contam aos bilhões. A de que o nosso planeta faz parte,
denominada Via-Láctea, tem a forma aproximada de uma lente biconvexa de tamanho
estimado em cem mil anos-luz de diâmetro, situando-se o nosso sistema solar a
vinte e sete mil anos-luz do centro, mais ou menos no meio da distância que vai
do eixo à periferia.
Tudo quanto os olhos desarmados do corpo humano
podem ver no firmamento é parte integrante desta galáxia.
A distância de uma galáxia a outra mais próxima é
de tal magnitude que ultrapassa a capacidade de apreciação do espírito
encarnado, de percepção normal.
Apesar disso, uma galáxia, com seus bilhões de
sistemas solares, não representa mais – em comparação com a extensão infinita
do Espaço – do que uma insignificante ilha no oceano ou, menos ainda, do que um
ponto no Universo.
Essa relação de grandezas convida a meditar na
magnificência do Universo e na modestíssima participação do nosso planeta na
composição do Todo.
E se o Planeta é de composição modesta, de igual
modo são os seus habitantes, modestos no saber, na inteligência, na
espiritualidade e na evolução.
Se todos vivessem compenetrados dessa realidade,
não haveria lugar para vaidades e tolas presunções que apenas refletem um
estado próprio da Terra, pondo em evidência a ignorância e a inferioridade
espiritual dos seus habitantes.
Para fazer-se ideia, ainda que imprecisa, de
quantos bilhões vezes bilhões de espíritos estão em evolução em cada galáxia,
basta levar em conta os bilhões de sistemas solares de cada uma e considerar
que em torno de cada sistema solar gira incontável número de planetas.
Se neste mundo, que é dos menores, evoluem bilhões
de espíritos, logicamente em outros planetas, em média proporcional, esse
número não pode ser inferior.
A Inteligência Universal, de que o pensamento
emana, na sua expressão máxima, tem poder ilimitado. Nada existe no Universo
sem razão de ser. Nenhuma criação foi obra do acaso, já que tudo obedeceu a uma
determinação rigorosamente preestabelecida, mesmo nos mais insignificantes
pormenores.
O sentido da criação, aqui empregado, indica
transformação da Matéria pela ação da Força Inteligente. A idealização dos
mundos corresponde às exigências da evolução.
Assim, de encarnação em encarnação, promove o
espírito a sua evolução neste planeta até determinado limite. Daí por diante
prossegue noutro meio, em que as condições psíquicas e físicas obedecem a
sistematização diferente.
Desenvolvendo uma velocidade no Espaço de cerca de
trinta quilômetros por segundo, descreve a Terra a sua órbita em torno do Sol,
com precisão matemática, num período de tempo absolutamente certo.
Arrastando, por sua vez, os componentes de seu
próprio sistema, numa órbita que tem por foco um ponto no eixo da galáxia, com
velocidade semelhantemente elevada, o Sol completa, de igual modo, a trajetória
em tempo rigorosamente exato.
Também a galáxia, transportando, com perfeita
uniformidade, todos os sistemas solares de que é composta, numa velocidade do
mesmo modo grande, fecha a sua órbita em um período não menos regular.
Toda essa revoluteante disposição de movimentos
precisos e inalteráveis é obra da Inteligência Universal, com um só fim:
proporcionar meios às partículas do Todo para poderem progredir e galgar, um a
um, os extensos degraus da evolução.
Não há qualquer exagero em afirmar que uma única
dessas partículas é tão importante quanto o próprio Todo, porque este não
poderia existir sem ela, nem ela sem ele.
A obra da natureza não contém erros nem
imperfeições. Suas leis são imutáveis, os movimentos matematicamente exatos e
os acontecimentos mais surpreendentes que possam ocorrer em incursões variantes
não passam de consequência lógica do desdobramento da própria vida cheia de
ações e reações, de causas e efeitos, mas sempre em busca do equilíbrio final.
Assim como os satélites têm os seus movimentos
combinados com os dos planetas, estes com os dos sóis de cada sistema e os dos
sistemas solares com todos os movimentos dos outros sistemas de cada galáxia,
também os espíritos agem e evoluem coordenados uns com os outros, em fiel
observância a um regime regulador de todas as funções.
O Espaço está repleto de Força e Matéria. Nada
perde nem ganha. Do que tem não sobra nada nem possui de menos. O equilíbrio
das leis se revela tanto no macro como no microcosmo, tanto no
incomensuravelmente grande como no incomensuravelmente pequeno.
Fora do alcance visual do corpo humano, no infinito
como no infinitesimal, a vida se estende ininterrupta, integral, harmonizante,
com a manifestação das mais variadas vibrações.
Para o espírito todas as grandezas se confundem,
porque ele está em toda parte e em qualquer tempo.
Espaço e tempo, aliás, com iniciais minúsculas, são
duas relatividades que só interessam aos meios físicos. Com letras maiúsculas,
no entanto, representam concepções absolutas que a linguagem humana é demasiado
pobre para definir, diante da grandeza do infinito.
Para a Inteligência Universal há – com respeito a
Espaço e Tempo – somente uma espécie de presente eterno, ideia que não pode ser
bem compreendida neste mundo de tamanhas limitações.
Assim, por mais altas que sejam, as velocidades não
passam de expressões relativas igualmente subordinadas ao meio físico, pois no
campo espiritual outros princípios, outras leis regem a vida.
Em sua essência primordial, apenas como Força, o
espírito poderá fazer-se presente, instantaneamente, tanto num mundo como
noutro, dentro do seu raio de ação, utilizando-se, tão-somente, do campo
imantado afim da Força, componente do Todo.
Essa Força, penetrando e envolvendo todos os corpos
do Universo, enche literalmente o Espaço.
Quedando-se o homem na contemplação do Universo, em
meditação sobre as incomensuráveis grandezas do infinito, a perscrutar o
sentido criador da vida e o poder ilimitado da Inteligência Universal, há de
perceber – se não estiver demasiadamente dominado pelas emoções terrenas – que
não passa de um ser de reduzidíssimas dimensões diante da grandiosidade do
Universo, e se compenetrará, então, da grande, da imensa caminhada que terá de
fazer na longa, na interminável estrada da evolução.
Os grandes espíritos que encarnaram neste mundo,
para auxiliar o progresso da humanidade, fizeram-no movidos pela ação
consciente do dever. Nunca para atender a vontade de quem quer que seja, e
muito menos de um suposto pai celestial.
Na esfera espiritual não há pais nem filhos. O que
há, o que existe, em verdade, é uma enorme comunhão de espíritos numa infinita
graduação evolutiva, em que todos – sem
exceção – têm uma origem comum: a Força Criadora ou Inteligência Universal.
Nos mundos dispersos pelo Espaço, encontram-se –
usando de reduzidos números para facilitar a compreensão humana – milhões e
milhões de espíritos em cada plano de evolução.
Aqui mesmo na Terra têm encarnado, embora
raramente, espíritos de evolução superior ao meio, para auxiliarem a humanidade
a progredir, sendo que inúmeros outros, do mesmo grau de evolução, estão
desenvolvendo atividades espirituais em outras regiões do Universo.
Quanto mais adiantado o espírito, tanto maior o
desejo que sente de auxiliar o semelhante a evoluir.
Daí a razão de submeter-se, voluntariamente, ao
sacrifício de encarnar em mundos da espécie deste, quando a vida, nos planos
correspondentes ao seu adiantamento, embora sempre trabalhosa, decorre num
ambiente de incomparável bem-estar comum.
Negarem a Jesus o valor, o mérito de haver
conquistado a sua evolução espiritual à custa de grandes lutas, de trabalhos, de
sofrimentos, de desencarnações e reencarnações, atribuírem as qualidades, a
nobreza, os altos atributos que possui esse grande espírito ao privilégio de
uma suposta filiação divina é erro grave que cometem, além de demonstração de
lamentável ignorância relativamente à vida espiritual.
Quem demonstra maior valor, o líder que ascendeu ao
posto com esforço e merecimento próprios, depois de haver vencido todas as
etapas que o levaram à plenitude da experiência e do saber, ou o que foi
singularmente colocado nessa posição, com fundamento na hierarquia de
antepassados?
Os adoradores de Jesus classificam-no,
obcecadamente, nesta segunda posição, influenciados pela concepção deísta. Para
esses, o valor de tão admirável e evoluído espírito está mais na filiação ao
hipotético deus-pai, do que nos seus próprios méritos, quando, na verdade, deve
exclusivamente a si mesmo tudo quanto adquiriu e continua a adquirir para
aumentar, mais ainda, os seus valiosos atributos espirituais.
Os espíritos que fazem a sua evolução neste planeta
pertencem às primeiras dezessete classes, de uma série de trinta e três.
Essas classes são aqui mencionadas apenas – tal a
importância da matéria – para facilitar a compreensão do leitor.
Acima da décima sétima classe, só eventualmente um
ou outro espírito encarna neste mundo, não por exigência da sua evolução, mas
para auxiliar a humanidade a levantar-se espiritualmente, numa bela e
espontânea manifestação de abnegação e desprendimento.
Milhões de outros, de igual categoria, embora não
encarnando, se dedicam (principalmente por intermédio das Casas Racionalistas
Cristãs) a auxiliar de forma astral o progresso dos seus semelhantes menos
evoluídos, encarnados neste planeta.
Distribuídos na série de trinta e três classes, de
acordo com o grau de desenvolvimento de cada um, os espíritos fazem a sua
evolução partindo da seguinte ordem de mundos:
mundos materializados — espíritos da 1ª à 5ª
classe
mundos opacos —
espíritos da 6ª à 11ª classe
mundos intermédios —
espíritos da 12ª à 17ª classe
mundos diáfanos —
espíritos da 18ª à 25ª classe
mundos de luz puríssima — espíritos da 26ª à 33ª classe
Os mundos dividem-se, ainda, em duas grandes
categorias: mundos de estágio e mundos de escolaridade.
Para os primeiros, vão os espíritos que desencarnam
e deixam a atmosfera da Terra, cada um ascendendo ao mundo correspondente à sua
própria classe, pois neles não estagiam espíritos de classes diferentes.
Os mundos de escolaridade são de natureza idêntica
a do nosso planeta. A eles chegam, por tal razão, espíritos de várias classes
para promover, entre si, o intercâmbio de conhecimentos intelectuais, morais e
espirituais.
A Terra é um mundo de escolaridade em que espíritos
das dezessete primeiras classes, da série de trinta e três, promovem a sua
evolução, partindo da primeira e chegando à décima sétima, em períodos que
variam muito de espírito para espírito, mas que se elevam, sempre, a milhares e
milhares de anos.
Para a ascensão de uma classe a outra imediatamente
superior não existem privilégios nem proteções. O princípio de justiça funda-se
na lei da igualdade. Todos têm de enfrentar idênticas dificuldades e chegar ao
triunfo pelo próprio esforço.
O mau aproveitamento de uma encarnação resulta,
inapelavelmente, na necessidade de repeti-la, tendo o espírito de passar pelas
mesmas atribulações até conseguir dominar os vícios e as fraquezas, e recuperar
o tempo perdido.
Conforme está explicado no Capítulo 6 – A
Encarnação do Espírito, quando no mundo que lhe é próprio tem o espírito
conhecimento do que se passa nos mundos das classes inferiores à sua, mas
ignora o que ocorre nas superiores.
Constatando, porém, as enormes vantagens da
ascensão a classes mais elevadas, vive sob o incontido desejo de passar para
frente, a fim de alcançar novos conhecimentos e conquistar mais amplos
atributos espirituais.
No mundo correspondente à sua classe, o espírito
traça os planos para a nova encarnação que deseja, ardentemente, aproveitar ao
máximo. Sua maior esperança é não perder tempo na Terra, não fracassar, não
tornar inútil o sacrifício de encarnar.
Os espíritos das classes inferiores, especialmente
os da primeira, encarnam sob a orientação de outros mais evoluídos. Esses
espíritos são como as crianças que precisam de quem as acompanhe à escola.
Nos mundos de escolaridade, as emoções fazem parte
da vida cotidiana. Essas emoções são experimentadas, indistintamente, por todos
os seus habitantes. Quando o homem se torna superior às sensações da pobreza e
da fortuna que completam o quadro das referidas emoções, aí, sim, o sentido da
vida espiritual começa nele a despertar.
À medida que evolui, vai o espírito se tornando
conhecedor das coisas do Espaço. Se na Terra tanto há que aprender, muito mais,
ainda, no Universo. A este, oferece campo o Espaço. O Universo, porém,
representa a evolução em marcha.
Prendem-se umas às outras – como elos de uma só
corrente – estas três expressões: Espaço, Universo e Evolução. Pesquisar o
Espaço, por isso, é estudar o Universo e reconhecer a Evolução.
Há um dever que a todos atinge por igual: trabalhar
para evoluir. Cada qual precisa ocupar o seu lugar e esforçar-se por dar conta
das suas atribuições, certo de que tem no Espaço uma posição definida e
insubstituível.
Milhões de espíritos encarnados no Planeta
sentem-se apreensivos por falta de uma bússola norteadora.
Se a que Jesus trouxe, há vinte séculos, não
tivesse sido parcialmente desimantada pela ganância especuladora, muitos e
muitos milhões de seres ainda encarnados teriam, há muito, concluído o curso na
Terra, e estariam a exercer as suas atividades noutras regiões do Espaço.
Ao RACIONALISMO CRISTÃO cabe uma grande e sublime
missão, ainda que bem árdua e por muitos não compreendida: restabelecer a
Verdade e reimplantar os magníficos ensinamentos de Jesus na Terra.
O espírito é luz, é inteligência, é vida, é poder
criador e realizador. Nele não há matéria em nenhum dos seus estados. É,
portanto, imaterial. Partícula individualizada, assim se conserva em toda a
trajetória que faz no processo da sua evolução.
Ele é indivisível, eterno, e evolui para o
aperfeiçoamento cada vez maior. Como partícula do Todo, é inseparável dele e
subsiste a qualquer transformação, nada havendo que o possa destruir.
No Capítulo 2 – Força e Matéria, ficou evidenciada
a evolução das partículas da Força, desde o seu estado primário, inicial, até
quando adquirem suficiente desenvolvimento para incitar e movimentar um corpo
humano.
Dá-se à partícula da Força, desde que inicia o
processo evolutivo em corpo humano, a denominação de espírito, denominação que
mantém, daí para diante, em sua longa caminhada evolucionária.
No espaço indimensionável do Universo, em que a
Inteligência vibra, sem interrupção, acusando permanente ação consciente e
constantes demonstrações de vida, agita o espírito a sua força intranuclear que
se exprime, em todas as atividades, por movimentos vibratórios.
Esses movimentos são irradiados de um núcleo de
Força, que é o espírito, no oceano de uma essência idêntica, que é o Todo,
assinalando o poder atrativo que faz com que atributos desse Todo convirjam
para o núcleo, desenvolvendo-o e dando-lhe maior potencialidade.
São atributos do espírito, inerentes ao Todo:
1) a força
de vontade;
2) a
consciência de si mesmo;
3) a
capacidade de percepção;
4) a
inteligência;
5) o poder
do raciocínio;
6) a
faculdade de concepção;
7) o
equilíbrio mental;
8) a
lógica;
9) o
domínio de si próprio;
10) a sensibilidade; e
11) a firmeza de caráter
A força de vontade é a mais poderosa alavanca de
que dispõe o espírito para chegar ao triunfo, não existindo dificuldade ou
obstáculo – dentro, naturalmente, das limitações humanas – que não seja capaz
de superar.
Ela não conhece a timidez nem permite o desânimo ou
o enfraquecimento, e tem o poder de subjugar todas as fraquezas, todas as
paixões, todos os vícios, todos os desejos intemperados, quando o ser humano
sabe utilizar-se, conscientemente, desse superior atributo.
É comum os seres confundirem a vontade com o
desejo, apesar de serem, na verdade, coisas completamente antagônicas.
Quando o espírito encarnado é assaltado por um
desejo inferior e possui a vontade suficientemente exercitada, esta intervém,
dominadoramente, vencendo esse desejo.
Chama interior que conduz à vitória os que a sabem
alimentar, mesmo nas pelejas mais árduas e difíceis da vida, a força de vontade
é o resultado de uma série de sucessos alcançados, com esforço e decisão, nas
encarnações anteriores e, como expressão de valor, uma fortaleza inexpugnável
para o espírito.
A consciência de si mesmo faz com que o espírito
não ultrapasse as suas possibilidades, dispersando, em pura perda, as energias
que possui.
Ela significa, pois, a auto apreciação no seu real,
no seu verdadeiro sentido, não dando lugar à exaltação da vaidade nem à falsa
modéstia, já que a magnitude e o valor espiritual são encarados sempre dentro
de uma rigorosa visualização normal.
De posse da consciência de si mesmo, procede o
espírito com simplicidade, equanimidade e respeito ao seu semelhante, por saber
que todos têm uma origem comum e fazem, sem distinção, o mesmo curso evolutivo.
Na capacidade de percepção pesam determinados
fatores psicológicos que a linguagem comum não pode definir, embora representem
valores reais e facilmente reconhecíveis. Dela são fortes componentes os
recursos da intuição e da inspiração, que possuem importância destacada entre
os demais atributos espirituais e as próprias ações humanas.
A capacidade de percepção, que está intimamente
ligada ao poder de penetração do espírito, à sua agudez, perspicácia e
sensibilidade, exerce, além disso, notável influência no terreno da observação,
revelando-lhe aquilo que as conveniências tantas vezes escondem.
Quando a prudência intervém, cautelosa, nas
disposições do ser humano, é ainda a capacidade de percepção que lhe fornece os
elementos de decisão.
A inteligência, como faculdade mestra do espírito,
interfere nas demais, apurando-as e contribuindo para torná-las melhores e mais
eficientes.
Da inteligência dependem os outros atributos
espirituais que se criam, expandem, crescem, ampliam e aprimoram, de acordo com
a evolução do espírito.
Grande aliada da perfeição, faz a inteligência com
que o espírito reconheça as suas falhas e procure corrigi-las.
Ela está atrás do raciocínio, provendo-o dos meios
necessários ao seu desdobramento.
Faculdade iluminativa, por excelência, a
inteligência dá alcance ao horizonte do espírito e é o instrumento capaz de
dissipar as trevas e destruir a ignorância, onde quer que elas se encontrem.
O poder do raciocínio constitui valioso atributo de
que dispõe o espírito para analisar os fatos da vida e tirar dos acontecimentos
as lições que lhe puderem ser úteis.
O raciocínio é como que uma luz projetada sobre os
problemas difíceis da existência para torná-los claros e compreensíveis.
Além de nortear o espírito no curso da sua
evolução, ele representa, ainda, uma poderosa arma de defesa contra o
fanatismo, contra o convencionalismo mundano, contra as crenças místicas que
produzem a cegueira da fé e outras subordinações indicativas de formas agudas
ou amenas de avassalamento.
Na faculdade de concepção estão o gênio inventivo,
as criações do pensamento e a engenhosa força realizadora de todas as
transformações e melhoramentos.
Essencialmente construtiva, a ela se deve, como
elemento propulsor, o desenvolvimento progressivo da evolução universal.
Tanto nas artes como nas ciências e letras, ocupa
posição de inconfundível relevo.
A formação das riquezas lhe é devida, assim como as
abnegações, os desprendimentos e as renúncias, por ser ela cultivada, via de
regra, em benefício da coletividade.
O equilíbrio mental provém da apuração dos
sentidos, do temperamento bem ajustado às realidades da vida, da serenidade, da
compreensão exata das possibilidades e da justa apreciação dos fatos.
A calma, a serenidade, a moderação, as atitudes
ponderadas, a reflexão, o critério e o bom senso são qualidades reveladoras de
equilíbrio mental, por meio do qual o espírito, no torvelinho da existência
terrena, procede com maior segurança e se abstém da prática dos erros comuns.
Deve a lapidação dessa faculdade, pois, ser objeto
de constantes cuidados e interesse do espírito encarnado, por desempenhar ela
um papel da mais alta significação no processo da sua evolução.
A lógica é um atributo que dá a cada um coerência
em suas atitudes, congruência na condensação das ideias e ordenação nos
pensamentos.
Sem educação, sem aprimoramento espiritual, a
lógica é de todo impossível.
Ela é, por excelência, um atributo resultante da
educação e do aprimoramento do espírito, possibilitando a este a formulação das
suas conjecturas em bases firmes, certas, objetivas e reais.
Assim, nenhuma afirmação poderá ter bases sólidas
se não for firmemente apoiada nesse importante atributo.
O domínio de si mesmo assegura ao espírito o
controle íntimo, evitando os atos impulsivos e as atitudes impensadas que o
possam levar a cometer desatinos, muitos dos quais irreparáveis, de que se vem
a arrepender, mais tarde, como acontece na maioria das vezes.
O ser humano precisa estar sempre alerta e
vigilante, consciente de que é uma Força que trabalha incessantemente,
vibrando, atraindo e repelindo. Correntes favoráveis e desfavoráveis ao seu
progresso e bem-estar enchem o espaço, cruzando-se em todas as direções.
Daí a necessidade do domínio próprio para não se
deixar influenciar pelas irradiações adversas, procedendo, unicamente, de
acordo com a sua vontade.
A sensibilidade é a faculdade de que dispõe o
espírito para sentir as correntes vibratórias do meio ambiente e, por trás do
invólucro das aparências, a verdade.
É pela sensibilidade que se percebe o sentimento
afim que congrega, que une, que irmana os seres de idênticos ideais e de iguais
aspirações.
É a sensibilidade, ainda, o instrumento da alegria
e da dor – dor que faz, não poucas vezes, o espírito desatento, indiferente e
transviado, concentrar-se em si mesmo, despertar e voltar-se para a realidade
da vida.
A firmeza de caráter, como tantos outros atributos,
patenteia, inequivocamente, a evolução espiritual do ser humano.
Os que a possuem dão sempre os melhores, os mais
nobres, os mais admiráveis exemplos de retidão em todos os atos da vida.
Como resultado da sua combinação harmônica com os
demais atributos já mencionados, revela suficiente amadurecimento espiritual e
efetivas condições para a ascensão a classe evolutiva mais elevada.
São inumeráveis os atributos do espírito que
aumentam e se desdobram na razão direta do seu crescimento como ser
evolucionário.
O planeta Terra não é habitação permanente de
nenhum espírito. É um mundo-escola, um laboratório depurador, uma oficina de
aprendizagem, de trabalho, onde ele se instrui, se aperfeiçoa, se desenvolve em
tempo mais ou menos longo e em ambiente adequado a produzir a sua evolução.
Conforme esclarece o Capítulo 4 – O Espaço,
os espíritos estão distribuídos em mundos próprios, por classes, de acordo com
a evolução de cada um.
Os espíritos que evoluem neste planeta pertencem às
primeiras dezessete classes, separadas umas das outras, no Espaço, na ordem da
sua importância.
Ao encarnarem, porém, eles se misturam,
intensamente, para a formação de povos de estrutura heterogênea, como convém a
um mundo-escola. Os que sabem mais, os que dispõem de maior tirocínio, de maior
lastro de experiência, ensinam aos que sabem menos aquilo que, por seu turno,
aprenderam de outros. Exatamente por esse fato é que se veem, com frequência,
seres de espiritualidade bastante diferente em uma mesma família.
Para bem aprenderem as lições da vida, precisam as
criaturas encontrar no seu semelhante qualidades e conhecimentos que ainda não
possuem.
O espírito é imaterial. Material é o seu corpo
astral, também conhecido como períspirito ou corpo anímico, composto de fluido
quintessenciado – mas matéria – da mesma natureza da substância fluídica do
mundo em que estagia no intervalo das encarnações.
Semelhantemente, o seu corpo carnal corresponde à
matéria componente deste planeta. Quanto mais adiantados forem os mundos de
estágio, mais diáfana é a matéria quintessenciada de que são compostos os
corpos astrais.
Isso explica a razão de serem os corpos astrais –
embora de substância idêntica – uns mais diáfanos do que outros.
Nenhum fato, nenhum acontecimento da vida humana
pode ser ocultado aos planos espirituais. É que tudo o que pensamos ou fazemos
produz movimentos vibratórios que se cruzam em todas as direções.
Por isso é que tão logo se opera uma fecundação,
ela é imediatamente constatada nesses planos, e um espírito acorre a cumprir
uma das mais importantes determinações das leis naturais – a reencarnação –
dentre os que aguardam, sem temor ou relutância, a sua vez, compenetrados dos
deveres que lhes cumprem.
Determinado a reencarnar, e identificada aquela que
lhe vai servir de mãe, o espírito assiste e acompanha a formação do seu corpo
físico durante a gestação, até completar a evolução fetal, quando dele toma
posse inteira, absoluta, à natalidade, ficando unido, ligado ao mesmo por
cordões fluídicos.
O corpo carnal em formação vai sendo envolvido,
molécula a molécula, pelo corpo fluídico do espírito que sobre ele irradia,
postado do lado de fora do corpo da gestante, até o momento de vir à luz,
quando então dele se apossa, inteiramente.
Consumada a encarnação, fica o espírito apoiado no
seu corpo astral justaposto ao corpo da criança, do lado esquerdo.
Logo que o espírito encarna, passa a criatura a ser
constituída de três corpos:
– corpo mental (espírito)
– corpo astral (matéria fluídica)
– corpo carnal (matéria organizada composta)
Com essa constituição terá de exercer as suas
funções terrenas e viver, distintamente, as duas vidas: a material e a
espiritual.
O corpo mental, para o qual estão voltadas as
atenções dos estudiosos, é o agente vivo e inteligente que governa os outros
dois corpos – o astral e o material – sendo, portanto, responsável por todas as
manifestações da vida.
A lei de transformação da matéria, a que estão
sujeitos os dois últimos corpos, jamais o atinge. Eterno e imutável na sua
essência, ele oferece, à medida que evolui, admiráveis demonstrações de
potencialidade e valor.
O corpo astral é o liame, a ligadura entre os
corpos mental e carnal. Ele está preso, partícula por partícula, ao corpo
mental, em virtude da vibração permanente deste, e envolve todo o corpo carnal,
ao qual está unido por cordões fluídicos.
Durante o sono, o espírito se afasta com o corpo
astral (do qual não se aparta nunca), sem interromper, contudo, a união com o
corpo carnal, ao qual continua a transmitir o calor e a vida através dos
cordões fluídicos já mencionados.
Por maiores, mais extensas que sejam as distâncias
que separem o espírito do seu instrumento corpóreo, jamais a ligação entre eles
se interrompe, não só porque tal interrupção significaria a desencarnação, como
pela natureza dos cordões fluídicos que se distendem sem limites.
Deste modo, somente após a desencarnação os corpos
mental e astral deixam definitivamente o carnal.
O corpo carnal é uma admirável máquina concebida
pela Inteligência Universal para proporcionar ao maquinista – o espírito – os
recursos, os elementos, os meios com os quais leva a efeito no planeta Terra um
curso de aperfeiçoamento em múltiplas, em inumeráveis encarnações,
indispensáveis à sua ascensão a ambiente de maior espiritualidade, num plano
mais alto de evolução.
Toda ciência médica dele se ocupa, estudando-o em
seus mínimos detalhes. E não é pequeno o número de cientistas que já admite
serem as desordens do espírito – nas quais se incluem, com destaque, as
perturbações emocionais – a causa de grande parte dos desarranjos físicos,
formando todo um quadro de anormalidades e doenças cuja etiologia não constitui
mais segredo para eles.
Definido por traços normais, o corpo carnal pode
ser apresentado como uma perfeita e acabada peça escultural.
O espírito, quando encarna, isola-se do seu
passado, esquecendo-se por completo das anteriores encarnações, apenas retendo em
seu subconsciente a experiência das provas pelas quais passou e as tendências
resultantes do uso que fez do livre-arbítrio.
Isso representa um grande bem para ele. Primeiro,
porque a cortina da matéria, impedindo que se reconheçam desafetos de outras encarnações,
possibilita a reconciliação destes, aproximando-os sem ressentimentos ou
malquerenças. Segundo, sem a visão temporária dos erros do passado que tantas
vezes humilham, envergonham e até subjugam, alienando a vontade, o espírito
encarnado como que se inicia em uma nova existência, em cada passagem terrena.
Assim têm feito e continuam a fazer bilhões deles
em sua trajetória por este mundo, numa longa série de encarnações.
Tudo quanto de bom adquiriu com esforço e trabalho
conserva para sempre, e essa conquista, esses bens, esse patrimônio lhe prestam
valiosa colaboração em cada encarnação, facilitando a aquisição de novos
conhecimentos, de novas qualidades e de melhor apuração de seus atributos.
O espírito, quando encarnado, passa por fases
distintas, em cada uma das quais poderá colher valiosos ensinamentos.
Essas fases são: a infância, a mocidade, a madureza
e a velhice. Em todas elas tem deveres a cumprir, trabalhos a realizar,
obrigações a satisfazer.
A dinâmica da vida exige ação permanente. Mas ação
dignificante, proveitosa e construtiva, em benefício próprio e do semelhante.
As quatro fases mencionadas só possuem sentido no
plano físico. Elas se relacionam, unicamente, com o desenvolvimento e duração
da máquina humana, servindo para estabelecer a diversidade de experiências e
ensinamentos no curso de uma encarnação.
Dá-se o nome de infância ao período que se estende
do nascimento à puberdade. Nela se constrói, por assim dizer, toda a base, todo
o suporte que terá de sustentar o edifício da encarnação.
São de importância fundamental, por isso, os
ensinamentos que forem ministrados ao ser humano nessa delicadíssima fase da
vida, através de lições do mais alto sentido moral e, sobretudo, de exemplos
repletos de valor, para que sejam bem assimilados e contribuam para a formação
de uma valorosa e nobre personalidade.
Seguem-se à infância os anos da mocidade, que se
situam entre o que geralmente se concebe por menor e por adulto.
A mocidade começa na puberdade, alongando-se até a
madureza. É a idade da razão, em que estão presentes, de um modo geral, as mais
altas aspirações e os grandes ideais da vida. E a essas aspirações, a esses
ideais, não é estranho o sentimento de espiritualização, desde que na infância
tenha tido o ser humano a felicidade de receber princípios educativos elevados.
Uma nação será sempre grande na medida em que puder
confiar na sua juventude, para a qual se voltam, permanentemente, as esperanças
dos mais velhos.
À mocidade sucede a madureza, em que o ser humano
tem, a seu favor, a experiência alcançada nos períodos anteriores da vida. Ele
poderá ser, nessa fase, um timoneiro seguro e competente, muito lhe valendo a
soma de conhecimentos adquiridos.
Na madureza, atinge a criatura o apogeu. Suas
células orgânicas – notadamente as cerebrais – alcançaram a vitalidade máxima,
permitindo ao espírito transmitir a plenitude da sua capacidade construtiva.
Já a velhice representa, em cada encarnação, a
última fase da vida. E isto é compreensível: o corpo físico não é mais do que a
máquina a serviço da Força, também denominada espírito, de quem recebe o calor,
a ação, o movimento e a vida. Essa máquina – como todas as máquinas – está
sujeita à ação do tempo, aos desarranjos e desgastes que são maiores ou
menores, de acordo com o trato que lhe dispensar o maquinista – o espírito.
E, convenhamos, não faltam os desatentos, os
indiferentes e os desleixados. Não são poucos os que se atolam nos vícios, com
que produzem no corpo carnal danos não raro irreparáveis, acarretando a sua
ruína.
A vida bem vivida conduz a uma velhice sadia e
feliz. Nessa fase, porém, ainda que plenamente lúcido, não pode o espírito,
como é compreensível, manifestar a mesma fortaleza da juventude e o vigor e o
dinamismo revelados nos períodos anteriores. E isto pela natural decadência do
seu instrumento corpóreo.
Felizes os espíritos que sabem dar ao mundo, em
cada passagem pela Terra, inequívocos exemplos de valor e honradez.
O interesse pelo bem-estar geral, o comportamento
familiar, a preocupação constantemente voltada para a educação da prole, a
disciplina e o amor ao trabalho são alguns desses exemplos.
As atividades neste mundo são diversas e muitos os
meios pelos quais se processa a evolução.
Nem todos os seres humanos, no entanto, contam com
iguais possibilidades, mas o que importa, acima de tudo, é enobrecer o sentido
da vida, ainda que nos trabalhos mais rudes e humildes.
A moral social se define pela formação espiritualista,
pela intransigente defesa dos bons costumes e a prática efetiva de hábitos
salutares.
Cada povo possui uma concepção própria da vida. Mas
quanto mais se caminha, quanto mais se avança no terreno da civilização, mais
patentes, mais seguros, mais fortes se evidenciam os preceitos da moral e da
honra, principalmente no que diz respeito ao lar, cuja formação constitui, como
se esclarece no Capítulo 14 – A Família, um indeclinável dever de todo
cidadão.
A educação dos seres humanos não se limita, não se
restringe, não se circunscreve ao período da infância, em que mais atuam os
pais.
Preparados para dirigir-se por si mesmos, já
adultos, devem ir recolhendo o maior lastro de experiência que lhes for
possível alcançar, através da observação e do testemunho das coisas que ocorrem
à sua volta ou de que tiverem tomado conhecimento.
O êxito ou o fracasso dos outros, as causas, as
razões, os motivos das alegrias ou dos sofrimentos destes, constituem valiosos
ensinamentos dos quais se devem aproveitar todas as pessoas para não incidirem
nos erros que causaram a dor e o prejuízo alheios e para tomarem os mesmos
caminhos que levaram o semelhante ao triunfo e ao bem-estar.
Se a criatura se inferioriza diante do próximo
quando pratica ações condenáveis, reveladoras de indigência de princípios
morais e educativos, mais se sentiria inferiorizada e com vergonha de si mesma,
se tivesse a consciência espiritual vigilante e desperta para apreciá-las e
analisá-las.
Os vários níveis sociais que existem na Terra
justificam-se, em parte, não só por tratar-se de mundo-escola, como também
pelas falhas que se observam na educação dos seres humanos que a habitam.
O indivíduo mal-educado restringe o seu campo de
ação ao próprio nível em que vive, tornando-se indesejável nos planos
superiores de educação, e daí a necessidade que tem o espírito encarnado de não
poupar esforços no sentido de melhorar as suas condições sociais, contribuindo
para a elevação dos índices de moralização no Planeta.
Os exemplos de honradez constituem a mais alta
contribuição que os seres humanos podem dar à sociedade.
A honradez não se limita à pontualidade nos
pagamentos, à exatidão nas transações e à fidelidade nos ajustes. Ela exige,
acima de tudo, firmeza de caráter, intransigente lealdade e indesviável retidão
no cumprimento do dever.
Os que não possuem elevação de sentimentos,
desprendimento e valor, não podem ter a pretensão de se considerar honrados,
por serem esses importantes atributos inseparáveis da honradez.
Os exemplos de dedicação ao trabalho são dos mais
úteis à causa da humanidade.
O Universo, considerado em si mesmo, é todo
movimento e ação. Os grandes artífices do progresso do mundo foram
trabalhadores incansáveis.
Os que vivem na ociosidade não passam de parasitas
sociais e aproveitadores do trabalho alheio, ainda mesmo quando disponham de
fortuna e se julguem grandes personagens.
Tanto se enobrece e dignifica o ser humano no
trabalho braçal quanto no intelectual, artístico ou científico.
O que dá proveito ao espírito não é a natureza do
trabalho, mas o seu valor moral e a satisfação com que é realizado.
Devem, pois, todos procurar o trabalho que
corresponda à sua vocação para executá-lo com alegria e entusiasmo,
considerando-o não um castigo, mas um prêmio, uma vez que sem ele jamais dariam
um passo no caminho da evolução.
As obras culturais que se escrevem, as escolas que
se instalam, as bibliotecas que se fundam, as organizações científicas que se
estabelecem e os trabalhos que se realizam com a finalidade de instituir e
incrementar, em todas as latitudes, o intercâmbio intelectual, espiritual e
material entre os seres são ações meritórias do mais alto interesse humano.
Sob este aspecto, incluem-se também as iniciativas
destinadas a fomentar a produção industrial, mineral e agrícola para elevar o
padrão de vida da coletividade.
Todos os habitantes deste mundo-escola são
imperfeitos. Uns evidentemente, mais do que os outros. Não há, pois, quem não
esteja sujeito a erros. Muitos desses erros são involuntários. Outros resultam
do mau uso do livre-arbítrio.
Diz-se que errar é humano. Nada mais certo. Uma
vez, porém, advertida e convencida do erro, cumpre à criatura honestamente
reconhecê-lo e esforçar-se para não voltar a errar.
Esconder os erros em lugar de combatê-los é prática
comum, mas altamente prejudicial ao aperfeiçoamento do espírito.
A maioria dos indivíduos raramente procede com
isenção e justiça no julgamento íntimo dos seus atos. Mesmo os que encaram com
severidade as más ações alheias, para as quais têm sempre palavras de censura e
condenação, não fogem à tendência geral com relação às próprias faltas, que é a
da justificativa ampla, indulgente e absolutória.
Com esse procedimento acabam os erros por
incorporar-se aos hábitos e costumes humanos, perdendo a criatura o respeito
que deve a si mesma e corrompendo o caráter e a dignidade.
O que todos devem e precisam fazer é encarar,
corajosamente, as faltas cometidas e dispor-se a eliminá-las com o poder da sua
vontade.
O aperfeiçoamento deve constituir a principal
preocupação do ser humano em todos os ramos da sua atividade.
Todo indivíduo tem necessidade de esmerar-se no
desempenho das suas obrigações, procurando executar o trabalho com o
devotamento de que for capaz.
Sem atenção, interesse, conhecimento, esforço,
dedicação, alegria, bom humor e inabalável disposição de alcançar resultados
positivos, não se caminha para o aperfeiçoamento, e este, indissoluvelmente
ligado à evolução, é a razão principal da vinda do espírito à Terra. Não há
possibilidade de progresso espiritual fora do campo do aperfeiçoamento.
Ninguém se deve poupar no combate à ignorância, por
ser ela a causa da maioria dos males que assoberbam a humanidade. A ignorância
é uma força inteiramente negativa. Faz sempre mal e, se não puxa para trás,
dificulta, no terreno da evolução, a dar um passo à frente. Evolução significa
Luz, Luz que, quanto mais clareia, quanto mais esplende, quanto mais refulge
mais afugenta as trevas da ignorância.
É a ignorância, por isso mesmo, a grande, a
poderosa, a irreconciliável inimiga do espírito encarnado. Combatê-la, em todas
as oportunidades e por todos os meios, é dever que se impõe aos que desejam realmente
progredir, aproveitando bem a encarnação.
Estes, como não têm tempo a perder, procuram
aprender hoje o que ainda ontem não sabiam, conscientes de que cada
conhecimento novo representa mais um bem, mais um valor que se incorpora ao
patrimônio espiritual.
Aos que não tiveram a felicidade de frequentar
escolas, devemos lembrar que o próprio mundo Terra é uma Escola onde poderão
aprender as mais variadas lições, pois ensinamentos bons não faltam.
Muitas são as matérias de que se compõe o curso que
compete ao espírito fazer neste mundo, nas inumeráveis reencarnações. Os alunos
desleixados, desatentos e relapsos estão sempre a repetir as lições.
Se a humanidade se compenetrasse do que representa
na vida do espírito uma encarnação bem aproveitada, não se constatariam tantas
falências e tamanho descaso na Terra pelos valores espirituais.
Quanto mais adiantado o ser humano, mais reconhece
a longa, a interminável distância que o separa do saber absoluto que exige uma
eternidade de estudos. Os verdadeiros sábios não perdem a consciência das suas
limitações, porque se esforçam por aprender sempre mais e mais. São, de um modo
geral, modestos e despretensiosos, ao contrário dos medíocres, que andam sempre
preocupados em exibir-se e em se fazerem passar por criaturas de grande talento
e importância.
Muitos não se apercebem do ridículo a que se expõem
quando fazem de si mesmos – da sua inteligência, da sua bondade, do seu valor –
o objeto da conversa.
Esse alarde de atributos hipotéticos ou reais não
fica bem a ninguém. Por isso há necessidade de comedimento, de moderação em
todos os gestos e atitudes que deverão constituir um sadio hábito na vida do
ser humano, para poder conduzir-se sempre com exemplar dignidade.
Indissociável da fidelidade aos ditames da moral,
da moderação e da justiça, o princípio de autoridade jamais deverá ser exercido
com despotismo e intolerância.
Embora muitas pessoas se imponham pelo temor que os
seus atos infundem, a verdadeira autoridade, a mais autêntica, a mais legítima
é magnânima e justa, e por isso se torna querida e respeitada.
Isto não quer dizer que abdique ela do direito – e
até do dever – de usar de energia e severidade quando se tornarem necessárias.
O que não deve, nunca, é exceder-se o indivíduo que a detenha e tornar-se
prepotente e arbitrário.
A autoridade precisa refletir bastante antes de
tomar qualquer medida, para reduzir ao mínimo a possibilidade de incorrer em
erro e praticar injustiças.
Sempre que os recursos o permitirem, a economia não
deve afetar a boa apresentação nem a plena suficiência na vida material, moral
e intelectual do ser humano.
Tão condenável é a dissipação quanto a mesquinhez e
a miserabilidade. Todos se devem abster do supérfluo, repelir os vícios,
opor-se ao desperdício e ao esbanjamento, mas sem se privarem do necessário.
É preciso que se compreenda que os bens materiais
pertencem à Terra e nela ficarão, não sendo os seres humanos mais que
administradores ou depositários temporários desses bens.
Proceder egoisticamente, escravizar-se aos valores
puramente materiais, na falsa suposição de que deles depende a felicidade, é
erro, e dos mais graves, em que incorre um grande número de seres.
O patrimônio que o espírito acumula, ao longo de
cada jornada terrena, é representado, exclusivamente, pelas ações meritórias
que pratica.
Esses são, na verdade, os únicos bens que leva
consigo ao desencarnar – bens que o vão encher de alegria e felicidade no plano
espiritual.
O medo é um dos perniciosos males que mais
inquietam, angustiam e martirizam a humanidade. As suas raízes profundas
começam a crescer na primeira infância, quando tantas coisas erradas são
incutidas no espírito das crianças.
Certas historietas ridículas que lhes são contadas,
em que entram bichos-papões, fantasmas, lobisomens e tantas invencionices,
respondem pelo complexo de temor que se vai apoderando das crianças e pela
nefasta influência que tal complexo passa a exercer durante toda a sua vida.
Combater, no processo de educação das crianças,
tudo quanto possa contribuir para torná-las tímidas e medrosas evitando,
necessariamente, os caminhos extremos que conduzam à imprevidência e à
temeridade, é dever que se impõe a todos os que tiverem uma parcela de
responsabilidade para com elas.
Viver com eficiência quer dizer viver plenamente,
no bom sentido, isto é, cuidar da saúde moral e física, participar ativamente
do esforço comum da humanidade para melhorar as condições do mundo e proceder
sempre com disciplina, método e ordem.
Os seres devem respeitar-se a si mesmos e ao
próximo, já que não é concebível uma existência terrena digna e bem ajustada ao
interesse comum, sem respeito.
O respeito deve existir entre pais e filhos, entre
marido e mulher, entre irmãos e, de um modo geral, de indivíduo para indivíduo.
Não há germe mais pernicioso, mais contaminador, mais destruidor do sentimento
de amizade, do que a falta de respeito. A intimidade não dispensa, de maneira
nenhuma, o tratamento respeitoso.
Tratar sem respeito o semelhante é revelar carência
de princípios educativos e cometer uma indignidade passível de toda a
condenação. Mas, para que seja respeitado e tratado com consideração, precisa o
ser humano proceder corretamente em todos os atos da vida.
O desempenho de qualquer função exige zelo,
dedicação e interesse por alcançar o melhor resultado possível. Os exemplos,
porém, devem partir de cima, uma vez que só tem autoridade para exigir aquele
que sabe cumprir os seus deveres.
A falta de zelo no desempenho de qualquer função
fere o caráter, deslustra o indivíduo e inferioriza a conduta, errando contra
si mesma a criatura cuja atividade se caracterize pelo descuido, pelo desleixo
e pelo relaxamento.
O trabalho humano, ainda quando pareça isolado, é
de coordenação, nele estando diretamente interessados todos os seres
encarnados. Os que executam mal a sua parte por falta de zelo e dedicação,
revelam qualidades negativas e indigência do senso de responsabilidade.
Para ser bem aproveitado o tempo, deve cada um
organizar um plano inteligente de trabalho de maneira que cada compromisso seja
executado na sua hora própria. Trabalhar, recrear e descansar são três
necessidades igualmente imperiosas para produzir um mesmo resultado, que é o
bem-estar físico e espiritual.
Cada qual deve escolher o horário que melhor atenda
às suas conveniências e às exigências do trabalho, mas sem negligenciar o
repouso e o recreio.
Somente assim encontrará prazer no trabalho,
proveito no descanso e alegria no divertimento – fatores que contribuirão para
a sua saúde e bem-estar.
Integridade
A integridade deverá constituir permanente
preocupação do espírito encarnado, que muito lucrará se em cada existência
neste mundo conseguir aprimorar, pelo menos, uma das muitas facetas desse
precioso tesouro moral.
Ninguém pode chegar ao fim das encarnações terrenas
enquanto não tiver alcançado o mais alto nível de integridade.
Neste mundo não faltam expedientes astuciosamente
criados para proporcionar situações vantajosas, mas desonestas.
Os fracos, diante deles, sempre capitulam. Os
fortes resistem, os que resistem vencem, e as vitórias fortalecem. Pois é da
soma dessas vitórias que se forma a criatura verdadeiramente íntegra. Mas,
entenda-se: não se apura a conduta moral apenas porque não se vende a consciência.
É preciso mais, é necessário sentir a vida em toda a sua grandeza e plenitude,
para reconhecer que só é perfeitamente íntegro quem – além da honra – está
sempre disposto a contribuir para o bem geral, e é justo, digno, leal e
valoroso.
Se tantas coisas erradas se fazem na Terra é porque
os seres humanos não se dão ao trabalho de raciocinar demoradamente antes de
praticar qualquer ato, para poderem prever as suas consequências. O raciocínio,
quanto mais exercitado, mais se desenvolve.
Por comodismo, por indolência, por preguiça mental
muitos atribuem aos outros a tarefa de pensar por eles e passam a aceitar, como
próprias, as ideias alheias.
Nascem daí os movimentos sectários com numerosos
rebanhos, estes sempre propensos a acreditar no que os outros acreditam ou
fingem acreditar, por mais absurdo que seja o objeto da crença, principalmente
no terreno amplo e escorregadio do misticismo, em que a investigação
espiritualista para a apuração da verdade não é admitida.
Com o poder penetrante de pesquisa que o raciocínio
possui, não é difícil distinguir o racional do absurdo, o lógico do ilógico, o
certo do errado, e divisar o caminho que levará a criatura convictamente à
Verdade.
Todos os seres humanos são dotados, dentre outras,
da faculdade de intuição – faculdade mais receptiva e mais sensível em uns do
que em outros.
Por meio dela, espíritos desencarnados que
perambulam na atmosfera da Terra, em estado de perturbação – nesta obra
genericamente mencionados pela designação de astral inferior – interferem na
vida e nos pensamentos dos seres encarnados, levando-os – quando estes não
reagem por meio do pensamento acionado pela vontade consciente – a cometer as
piores ações, fazendo-os chegar, frequentemente, à obsessão.
Contra essas influências são perfeitamente inúteis
os apelos a hipotéticos deuses e santos, geralmente formulados pelos que
desconhecem estes princípios básicos e fundamentais da vida universal: atração
e repulsão, ação e reação, causa e efeito.
Precisam os seres, por isso mesmo, conhecer a ação
do pensamento, o poder da vontade, a força psíquica de atração que tanto poderá
ser exercitada para o bem como para o mal, conforme a natureza dos pensamentos
que a dinamizarem e, consequentemente, os recursos, os meios, os elementos que
todos indistintamente possuem para atrair o bem e repelir o mal.
Só os ignorantes poderão preferir, em lugar da
Verdade espiritualizadora, tão claramente consubstanciada nos princípios
racionalistas cristãos desta obra, o materialismo, religioso ou não, que a
tantos e tantos fracassos e falências tem conduzido os seres humanos.
Os deveres materiais e morais precisam estar sempre
presentes na consciência de cada um.
A vida reclama de todo indivíduo, a cada passo, uma
atitude, um movimento, um gesto, uma palavra que traduza o cumprimento do
dever.
Cumprir o dever significa ser honrado, respeitar-se
a si próprio e agir com dignidade, elevação e consciência esclarecida.
Cada dever cumprido representa um resgate de obrigação,
um impulso adiante, a marcação de mais um ponto no quadro da evolução.
Cabe ao espírito encarnado manter-se sempre
vigilante, sempre alerta, sempre atento aos seus deveres, convencido de que se
deixar de cumpri-los numa encarnação os estará infalivelmente acumulando para
as encarnações subsequentes.
A vida humana está de tal maneira organizada que os
acontecimentos ocorrem em época própria, assim considerada quando não são
contrariadas, no decorrer da existência, as leis naturais.
É a violação dessas leis a causa frequente de
perturbações e desequilíbrios que, alterando o ritmo natural da vida, acarretam
para o espírito profundos sofrimentos.
A evolução requer tempo, trabalho e sacrifício.
Normalmente, a desencarnação deverá ocorrer na velhice. Mas, para que isto
aconteça, é preciso cuidar da saúde física e mental.
Muitos fatores na Terra, tais como as mudanças
bruscas de temperatura, os abalos sísmicos, a poluição do ar, a insalubridade
de certas regiões, os surtos epidêmicos, os abundantes meios de contaminação,
os vícios e ainda a influência perniciosa dos espíritos do astral inferior,
contribuem para a desencarnação prematura das criaturas.
Há a considerar, ainda, determinados fenômenos
sociais geradores de conflitos e guerras de extermínio.
De qualquer modo, a desencarnação, antes da época
própria, representa sempre um lapso na evolução, e só encontra um meio de ser
reparada: a reencarnação.
Mas esta reencarnação não é problema fácil. Os
candidatos a reencarnar são numerosíssimos, ultrapassando as possibilidades
existentes. Daí, a necessidade de espera.
Para não perderem tempo, muitos espíritos decidem
encarnar em meios desfavoráveis, dispostos a enfrentar quaisquer dificuldades.
A constatação de que outros, da mesma classe,
porque se esforçaram mais e souberam melhor aproveitar o tempo na vida terrena,
ascenderam a classe superior, não deixa de causar-lhes sofrimento, não
propriamente por essa ascensão, mas pelo fato de não os poderem acompanhar e
deles terem de distanciar-se na jornada evolutiva.
O espírito de uma determinada classe pode observar
o que se passa com outros espíritos da sua e das classes inferiores. Não o pode
fazer, entretanto, no que se relacione com as classes superiores.
Os que ficam, os que estacionam perdem o contato
com velhos e queridos amigos, companheiros de longas jornadas em muitas e
muitas encarnações e sofrem, por isso, a dor igual à que sentem os que veem na
Terra desencarnar os entes queridos.
Esse contato, entretanto – sabem-no os espíritos
nos seus planos – poderá ser restabelecido. Mas, de que maneira? A resposta é
óbvia. Se uma pessoa anda mais devagar que outra que caminha mais depressa,
logo se distanciam ambas. E se a que vai à frente não está disposta a reduzir
os passos, a que lhe leva desvantagem terá que aumentá-los, se quiser
alcançá-la.
Pois é precisamente isso que fazem muitos espíritos
quando tomam a decisão de encarnar, decididos a enfrentar todos os sofrimentos
da vida terrena, que sabem ser passageiros, para se enriquecerem de
conhecimentos e valores morais que os habilitem a ascender à classe imediata.
Com ânimo forte e redobrado esforço, conseguem
recuperar o tempo que perderam e reaproximar-se, fraternalmente, dos que lhes
haviam passado à frente.
A desencarnação deverá ocorrer, normalmente, na
velhice. O corpo humano é como a flor ou o fruto: nasce, cresce, viça e fenece.
Quanto fenece, deixa de ter qualquer utilidade para o espírito. Impõe-se, pois,
uma solução natural, espontânea e sábia, que é a desencarnação.
Só em casos excepcionais a desencarnação poderá ter
lugar antes de o ser encarnado haver completado as quatro fases da existência
terrena, sem prejuízo para ele. É quando, por exemplo, o espírito pertence a
classe superior à décima sétima e baixa à Terra em missão especial de fazer
despertar a humanidade ou contribuir para transformações morais que possam
acelerar o ritmo da evolução no Planeta.
O que é, afinal, a desencarnação? Em que consiste?
Como se processa?
A desencarnação é um fenômeno natural na vida dos
seres humanos. Ela significa o oposto à encarnação. O espírito encarna na
ocasião em que se apossa do corpo, à natalidade, e desencarna no exato momento
em que abandona definitivamente esse corpo.
Quando isso acontece, o espírito faz com que se
desprendam os laços fluídicos que transmitiam a vida ao corpo físico, e dele se
afasta com o seu corpo astral.
Não percamos de vista, no entanto, que a
denominação de espírito só é dada à partícula da Força que haja adquirido
condições evolutivas para encarnar em corpo humano.
Uma vez abandonado pelo espírito, o corpo físico
nada mais é que um composto de matéria. A sua fonte de vida já não existe.
Cessada esta, pelo afastamento do espírito, cai no domínio das leis químicas,
desintegra-se e suas moléculas passam a compor outras formas de vida e a
constituir outros organismos.
É natural o sentimento dos que ficam, diante da
ausência dos que partem. O sentimento, sim, o desespero, não. A saudade é
compreensível e se admite. A mortificação, jamais.
O esclarecimento a respeito de como se processa a
evolução é um grande bem, por ser o único meio capaz de levar a criatura a
encarar, com naturalidade, a desencarnação, pelo reconhecimento de tratar-se de
acontecimento tão normal quanto a encarnação, no desdobramento da vida.
Por não perder de vista os seus amigos encarnados,
o espírito desencarnado não sente, como estes, a separação. Ele não pode, é
verdade, conversar, como o fazia antes. Dispõe, entretanto, do sentido
telepático, por meio do qual é capaz de transmitir pensamentos aos espíritos
dos seres encarnados que os recebem como se fossem os seus próprios
pensamentos.
E, o que é pior: não transmite, enquanto preso a
influências terrenas, apenas pensamentos. Também sentimentos, muitos doentios,
perniciosos, obcecantes.
Precisam, pois, os seres encarnados auxiliar com
pensamentos elevados os entes queridos a ascenderem aos seus mundos, onde a
vida é sentida realisticamente, sem as influências perturbadoras do plano
terrestre.
Já é tempo de abandonar a crença de que os
espíritos desencarnados necessitam de rezas, de preces ou orações. Isso não é
verdade. No campo espiritual, onde as influências perturbadoras não existem, a
vida é sentida com inteira realidade. A lucidez do espírito é completa. Este
tem plena consciência da eternidade da vida e do processo da sua evolução.
Céus beatíficos e paradisíacos, purgatórios
estagiários e infernos ou demônios e caldeiras incandescentes são imaginosas
criações humanas que o próprio bom senso repele. O mesmo acontece com relação a
um suposto julgamento divino. É pura invencionice. Não existem deuses para
julgar os que desencarnam.
Deixada a atmosfera terrestre – e com ela todos os
fatores de confusão e perturbação – os espíritos veem, com alegria, o que
fizeram de bem, e com profundo pesar as ações condenáveis.
Os cemitérios e as igrejas, onde se fazem
mentalmente evocações de seres desencarnados, constituem pontos de atração de
espíritos do astral inferior, pelas correntes fluídicas afins que os
pensamentos de encarnados e desencarnados formam nesses locais. Por isso,
sempre que o ser humano tiver de penetrar em tais meios, deve fazê-lo com a
consciência esclarecida, para não tomar parte na vibração dessas correntes.
Quando estiver, por exemplo, na obrigação moral de
acompanhar os restos materiais de uma existência humana, deve desviar o
pensamento da comunhão enfraquecida e erguê-lo sereno, claro, límpido,
consciencioso ao Astral Superior, que é a meta para onde se dirigem todos os
espíritos libertos de suas ligações com a matéria e das influências fluídicas
originárias das emoções inferiores de que este planeta está saturado.
Já sabemos como se opera a desencarnação do
espírito. Ao abandonar, definitivamente, o corpo carnal, retira-se com o corpo
astral que é formado de matéria fluídica, imponderável aos sentidos comuns.
Quando o ser desencarna, se não possui, como
acontece com a maioria, esclarecimento a respeito da vida espiritual, são as
coisas intimamente relacionadas com a matéria que mais o influenciam nos
momentos que antecedem e sucedem à desencarnação, da qual comumente não se
apercebe.
Essa influência é mais forte, mais dominadora ainda
quando o espírito viveu enchafurdado nos vícios, com o pensamento voltado para
os prazeres materiais.
Em tal estado – e porque o corpo astral lhe dá a
impressão do carnal – vagueia pela superfície da Terra, andando como qualquer
transeunte, aborrecido com a falta de atenção dos encarnados que não se
apercebem, é claro, da sua presença. Não lhe faltam, porém, oportunidades para
fazer relações com outros espíritos desencarnados, em situação idêntica.
Os movimentos na superfície terrestre dos espíritos
desencarnados obedecem às condições dos seus corpos astrais. Se estes estão
impregnados de elementos grosseiros pela conduta viciosa que tiveram aqueles,
locomovem-se, a passo, como o fazem os seres encarnados.
Os que levaram, no entanto, uma existência terrena
menos materializada, deslizam na atmosfera, de acordo com a densidade de seus
corpos astrais, impelidos pela ação do pensamento.
Apesar de esses espíritos compreenderem, com
relativa facilidade, o fenômeno da desencarnação, seus pensamentos se fixam em
demasia nos acontecimentos da vida terrena com o desejo de continuarem a sentir
as emoções e os prazeres dessa mesma vida, passando então a atuar sobre as
criaturas encarnadas, e essa atuação, quando persistente, acaba por tornar-se
obsessiva. É esse o desejo que os leva a permanecer na atmosfera da Terra, numa
atividade semelhante à que tiveram como encarnados.
Os que foram médicos, por exemplo, procuram exercer
as suas atividades onde encontram mediunidade desenvolvida e desprotegida da
disciplina racionalista cristã.
Acontece, porém, que não dispondo os espíritos na
atmosfera da Terra de meios para ampliar os seus conhecimentos, não podem
evitar as mistificações nem se livrar das influências deletérias do ambiente em
que vivem.
São, por isso, sempre prejudiciais as suas
atuações, enquanto se mantiverem na atmosfera da Terra, qualquer que seja o
grau de evolução que tenham alcançado.
A camada atmosférica que envolve o planeta Terra
denomina-se astral inferior. Nessa camada estão espíritos que pertenceram a
todas as classes sociais e que na sua vida de encarnados se deixaram empolgar
pelas emoções materiais.
Essas emoções não faltam no astral inferior, que é
também ambiente impregnado de misticismo religioso.
Inúmeros daqueles que iludiram o semelhante com
promessas do céu e ameaças do inferno, ali também se acham presentes. É o
paraíso de todos os materialões e gozadores.
Nenhum espírito encarna tendo como ponto de partida
o astral inferior. Ele passa do astral inferior para o mundo correspondente à
sua classe, e somente desse mundo poderá vir a encarnar.
No astral inferior os conhecimentos do espírito são
limitados aos que teve na Terra. Os que foram materialistas, mais ainda se
apegam a essa ideia, já que o meio não é favorável à mudança de opinião.
Ali constatam que não há deus, nem demônio, nem
santos, nem céu, nem inferno, e riem-se dos adoradores que estão ainda
entorpecidos pela influência das suas crenças.
Os religiosos educados no regime do temor
acovardam-se, inicialmente, ao penetrar no astral inferior, pensando no
purgatório e no inferno.
Observando, a seguir, que foram enganados,
perturbam-se, perdem a noção do seu estado, numa situação de completa
perplexidade e acorrem, desorientados, às igrejas, como que em busca de um
roteiro, de um guia, de uma tábua de salvação.
Com o correr do tempo vão-se familiarizando com o
ambiente e travando conhecimento com outros espíritos desencarnados, em
situação idêntica.
Não é sem decepção e sofrimento que muitos veem
ruir e desfazer-se o castelo de fantasias que construíram na mente com o
abundante material sugestivo da mística religiosa.
Mesmo assim, é tal o apego a santos e aos deuses e
tão grande, tão profundamente enraizado o temor de serem castigados, que nem
mesmo nesse estado de semiconsciência espiritual são capazes de fazer funcionar
o atrofiado raciocínio, para a libertação que tantos benefícios lhes
proporcionaria.
É relativamente pequena a transformação que o
desencarnado observa, ao penetrar no astral inferior: vê que possui um corpo
igual ao carnal e enxerga o quadro da vida material terrena como sempre o
conheceu.
Expressando-se, como os demais desencarnados, pela
ação do pensamento, como se estivesse falando, pode mesmo ouvir o timbre do som
que lhe dá a ideia de ser da sua própria voz.
Esse fenômeno é perfeitamente compreensível: os
pensamentos possuem diferente densidade e, em decorrência, um som especial,
característico e individual.
Todos esses fatos contribuem para que o
desencarnado se acomode no astral inferior, na ignorância dos males que lhe
advêm dessa permanência num meio em que a evolução é paralisada, com o
agravante de armazenar, para resgate futuro, ônus mais ou menos pesados,
conforme a atividade a que se entregou nesse setor de baixa espiritualidade.
Os espíritos desencarnados dão, no astral inferior,
expansão aos vícios que alimentaram em corpo humano. Assim, se têm vontade de
fumar, encostam-se ao encarnado que está fumando e experimentam, por indução, o
mesmo prazer que este sente.
De igual modo procedem com relação aos demais
desejos, daí se podendo concluir que todos os espíritos encarnados possuidores
de vícios se entregam, como instrumentos inconscientes, à satisfação dos que
alimentam os espíritos do astral inferior.
Há, ainda, um ponto a esclarecer: nem sempre os
desejos viciosos partem das criaturas encarnadas. Muitas vezes são os
obsessores viciados que as acompanham que os despertam e as intuem para
saciá-los.
O perigo do contato com os espíritos do astral
inferior não está somente em sujeitar-se o ser humano às más influências intuitivas
que resultam em desatinos, em obsessões, em conflitos domésticos, em
ressentimentos infundados, em desentendimento com a família, em prevaricações e
infidelidades. Há também o risco de acidentes e desastres motivados pelo estado
de perturbação a que eles podem fazer chegar os seres humanos. A esses males,
acrescentam-se as moléstias infecciosas que os espíritos do astral inferior
geralmente ocasionam ou agravam, levando a criatura à desencarnação.
O processo é relativamente simples para eles: colhem
nos focos de matéria pútrida os miasmas contaminadores e os depositam no corpo
da vítima, aproveitando-se das lesões ou ferimentos expostos, da debilidade do
paciente e de todos os elementos favoráveis à propagação ou desenvolvimento do
mal.
A perversidade com que podem agir os espíritos do
astral inferior é quase ilimitada. À ação deletéria desses espíritos são
devidas muitas e muitas desgraças.
Maiores seriam elas, no entanto, se os espíritos do
Astral Superior não dispusessem de correntes mais fortes formadas pelas
vibrações do pensamento de seres encarnados e esclarecidos a respeito dos seus
deveres espirituais, que podem conservar a mente limpa e manter-se em condições
de reagir contra qualquer influência maléfica.
Como os espíritos do astral inferior não ignoram
que todos os seres possuem mediunidade intuitiva, dela se aproveitam para
incutir no mental dos mesmos ideias absurdas e disparatadas.
Daí a razão de andarem certos indivíduos com mania
de perseguição, de verem outros as coisas sempre pelo lado negro e de muitos se
suporem vítimas de doenças diversas.
Cumpre acentuar – e este detalhe é da maior
importância – que nem todos os males de que é vítima a humanidade são
produzidos pela ação dos espíritos do astral inferior. Cada indivíduo possui
tendências, temperamento, modo particular de sentir e ver as coisas,
livre-arbítrio para tomar decisões e individualidade própria. A ele cabe, por
conseguinte, a responsabilidade direta pelos sucessos ou fracassos que tiver na
vida.
Se é verdade que as forças do astral inferior são
atraídas por pensamentos afins e intervêm na vida dos seres humanos causando
diversos males ou agravando os já existentes, não é menos verdade que eles se
podem defender perfeitamente dessas forças inferiores, com as poderosas armas
do pensamento e da vontade.
Existem na Terra indivíduos que governam e outros
que são governados. Se esses indivíduos não forem capazes de imprimir às
atividades terrenas a que se entregam um sentido espiritualista, ingressam,
quando desencarnam, no astral inferior, conservando as mesmas inclinações de
mando e de obediência.
Formam-se, assim, as falanges sempre dirigidas por
um chefe. Se o seu comandante é perverso, também o são os comandados, pois o
que os une é, precisamente, a afinidade de sentimentos.
Essas falanges coordenam as suas atividades
perniciosas com as dos encarnados que se entregam à prática da magia negra e de
suas numerosas derivações.
O grau de perversidade de cada falange depende da
inferioridade espiritual dos seus membros. As que se dispõem a colaborar-nos
mais requintados atos de selvageria assistem aos indivíduos encarnados mais
violentos e perversos, do mesmo modo que outras, de instintos menos agressivos,
intuem os médiuns de sentimentos idênticos: os macumbeiros, os adivinhadores,
os trapaceiros, os oráculos, os arrumadores de negócios, as cartomantes e todos
os indivíduos que mercadejam com a credulidade e a ignorância alheia.
A grande maioria dos suicídios, dos casos de
loucura, das desavenças, das arruaças, dos conflitos, das agressões, das
discussões, das desordens, das intrigas e das convulsões por paixão política, é
provocada pela interferência das forças do astral inferior.
Os espíritos que ali estagiam estão todos
envolvidos em fluidos densos e grosseiros impregnados de correntes vibratórias
malsãs como a inveja, o ciúme, a corrupção, o ódio, a mentira, a ingratidão, a
hipocrisia, a traição, a falsidade e outros sentimentos equivalentes.
Esses espíritos agem, frequentemente, com manha e
brandura, exteriorizando nos centros em que atuam (que não devem ser
confundidos com as Casas Racionalistas Cristãs) os mais puros e nobres
sentimentos e as mais doces e melodiosas expressões de amor ao próximo.
Não se pense que no astral inferior impera somente
a maldade. No mesmo ambiente de almas pervertidas estagiam outras que tiveram a
intenção de serem boas, quando encarnadas, mas que falharam nesse propósito,
por haverem conservado adormecido o raciocínio, na lamentável inconsciência do
que representa, no curso da vida, o sentimento de justiça e a prática efetiva –
e não somente em pensamentos – do bem.
É bom insistir em que nada podem fazer as forças do
astral inferior de útil à humanidade, apesar de se encontrarem nesse meio
espíritos bem-intencionados.
A razão facilmente se compreende: as melhores
intenções desses espíritos são neutralizadas pela ação fluídica do ambiente,
acabando por produzir males cuja intensidade varia de acordo com o seu grau de
espiritualidade.
Somente no mundo relativo à classe a que pertencem,
para onde terão de seguir antes de voltarem a encarnar, é que os espíritos –
livres de toda perturbação e em plena lucidez – reconhecem o grande atraso que
traz à evolução do ser humano a desencarnação prematura.
Na atmosfera da Terra, de um modo geral, consideram
melhor a vida que levam, sob certos aspectos, do que a dos encarnados. Por isso
desejam, muitas vezes, que os amigos que deixaram na Terra também desencarnem,
para fazer-lhes companhia, e passam a trabalhar de forma astral para isso, sem
que estejam movidos por qualquer sentimento de animosidade.
É erro supor que todos os espíritos que desencarnam
estagiam no astral inferior. Muitos ascendem imediatamente aos mundos de sua
classe, sem um só instante se deterem na atmosfera da Terra.
Esses são os que sabem viver espiritual e
materialmente, os que veem no trabalho honrado uma das sérias razões da vida,
os que mantêm puros, limpos e incontaminados os pensamentos.
Os que assim vivem e pensam atraem, frequentemente,
as Forças Superiores que os assistem, principalmente no momento da
desencarnação, auxiliando-os a trasladar-se para os seus mundos.
Já vimos que o Astral Superior conta, para a sua
obra de saneamento do Planeta, com vários pontos de apoio na Terra, pois sem
tal apoio o seu trabalho seria mais difícil ou mesmo impossível.
Onde quer que se encontre uma criatura a irradiar
pensamentos de alto valor, aí está um polo de atração, um instrumento de apoio
à ação das Forças Superiores. A Limpeza Psíquica, que as Casas Racionalistas
Cristãs realizam, não tem outra finalidade.
Com o auxílio das correntes fluídicas nelas
formadas, penetram os espíritos do Astral Superior na atmosfera da Terra,
arrebatando obsessores de toda espécie, dos mais pacatos aos mais agressivos.
Contam-se entre os espíritos arrebatados pela
corrente fluídica organizada por essas Forças do Bem – cuja luz esplendente
ilumina e desperta as consciências, mesmo as mais empedernidas – inumeráveis
perturbadores do equilíbrio da vida terrena, uns de grande inteligência, outros
de enorme obtusão, outros, ainda, de intelectualidade incipiente, mas todos
atolados no mais fundo materialismo: escamoteadores contumazes, magistrados
venais, audazes mistificadores, impenitentes charlatães, ministros
envaidecidos, presidentes impatrióticos, reis megalomaníacos, papas adoradores
e de mental obscurecido pelos dogmas, etc.
O primeiro dever do espírito, depois que
desencarna, é ascender ao mundo a que pertence, sem se deter na atmosfera da
Terra.
Como, porém, ninguém pode cumprir o dever sem estar
para isso preparado, os espíritos desencarnam em sua maioria envoltos na névoa
embriagadora das sensações materiais, agravada pelas fantasias criadas pelas
místicas religiosas, e passam, assistidos por obsessores, a engrossar as hostes
dos que estagiam na atmosfera da Terra.
Somente os que não se esquecem, quando encarnados,
dos deveres espirituais, e a eles condicionam toda a grandeza da vida, estão
preparados para a ascensão aos mundos a que pertencem, sem resvalar pelas
correntes impuras do astral inferior.
Se a humanidade pudesse compreender que todos os
acontecimentos ocorrem dentro de condições naturais, de acordo com o estado de
alma ou sujeitos ao desenvolvimento espiritual de cada indivíduo, não se
mortificaria nem se deixaria abater pelo desespero e as amarguras a que
constantemente se entrega.
Todos os espíritos do Astral Superior têm essa
nítida consciência. E porque a possuem, observam, com o entendimento esclarecido,
as desgraças que se lamentam no Planeta, sem que elas produzam qualquer
alteração nos seus sentimentos e atividades.
Vida é ação. Onde há ação está o cumprimento do
dever. Como a vida é dinâmica e sem interrupções, os deveres que recaem sobre o
espírito estão sempre presentes, e o seu cumprimento representa uma imposição
inadiável que no Astral Superior é cumprida rigorosamente.
Ali não se conhecem o cansaço, a preguiça, a
indolência ou a displicência, nem se deixa para depois o que deve ser feito no
momento exato. A fadiga resulta de trabalhos materiais que não atingem o
espírito.
No Espaço Superior inexistem o dia e a noite. A luz
que o ilumina e satura permanentemente é a Força Inteligente em ação no oceano
infinito do Universo.
Os espíritos estagiados no astral inferior
encontram-se fora da lei, impedidos de cumprir os deveres que lhes são afetos,
por ser aquele um meio criado pelo erro, pelo abandono das obrigações, pela
submissão aos vícios, pela atrofia e embrutecimento do sentido espiritualista e
pela expansão das tendências inferiores vindas de encarnações passadas, que não
se interessaram por extinguir.
Em tal ambiente, os espíritos estão completamente
iludidos a respeito da vida, na dependência de serem despertados para ela. E
esse despertar não é fácil, se levarmos em conta a influência dos fluidos
perturbadores que os envolvem.
Sem a lucidez indispensável ao clareamento do
embotado senso do dever, vegetam numa situação inferior à que mantinham quando
encarnados, por não disporem no astral inferior de nenhuma possibilidade de
melhorar o seu estado espiritual.
Enganosos aspectos da vida material podem enlear o
espírito, mas apenas enquanto encarnado ou na atmosfera terrestre. No seu
mundo, livre de todas as influências terrenas, a vida real se apresenta com a
limpidez da Verdade. Nele os deveres têm uma só interpretação, não havendo, por
isso, sofismas, modos de ver, alternativas, situações dúbias, vacilações,
dúvidas ou incertezas. Dever firmado e dever cumprido são princípios que se
confundem numa só consumação.
No mundo correspondente à sua classe não pode –
como esta obra esclarece – o espírito evoluir. Essa impossibilidade resulta de
todos ali possuírem o mesmo nível intelectual e, pois, idêntico grau de
desenvolvimento. Nada têm, assim, para ensinar uns aos outros.
Mas este planeta está – como já foi dito –
preparado para receber espíritos de dezessete classes diferentes que aqui se
misturam, se auxiliam, se confraternizam, trocando conhecimentos.
Não é necessário salientar, mais uma vez, o papel
que essa desigualdade de valores representa no processo evolutivo da
humanidade. Ela é tão importante, tão valiosa, tão necessária, que até os
membros de uma mesma família são, em regra, de espiritualidade diferente.
Às faculdades dos espíritos não escapa nenhum
detalhe, nenhum movimento, nenhum fato referente à sua vida pregressa. Têm eles
gravadas em matéria fluídica, pela ação vibratória do pensamento – e com a mais
absoluta fidelidade – toda a vida pretérita, desde a sua origem, e continuam
gravando-a eternamente.
É difícil fazer ideia do que significa o registro
nessa imensa, nessa interminável esteira fluídica de todos os atos da vida de
cada ser humano, estando nela perfeitamente focalizados como se fossem filmes
cinematográficos cujas cenas podem ser vistas em qualquer época e a qualquer
momento.
Tão logo alcança o mundo a que pertence, o espírito
revê toda a sua vida passada. Examina-a, detida e minuciosamente, faz
confrontos, observa as encarnações perdidas, calcula o tempo que desperdiçou
nas parcialmente aproveitadas, raciocina, analisa, estuda a posição em que se
encontra, com o fim de estabelecer um novo plano para a encarnação seguinte.
Se verifica que estacionou no astral inferior,
deplora, intimamente, não haver utilizado melhor os seus próprios recursos
espirituais, com os quais teria adicionado outros valores ao seu patrimônio
moral.
Já sabemos – porque isto foi explicado nas páginas
anteriores – que os espíritos realizam o seu progresso reencarnando neste
mundo, até alcançarem o décimo sétimo grau de evolução.
Daí para cima a evolução é processada no Espaço que
– como também foi dito – é denominado Astral Superior.
Entre outros muitos deveres, têm os espíritos do
Astral Superior o de contribuir para o progresso dos seres encarnados,
respeitando, em regra geral, o livre-arbítrio destes.
Sem o estabelecimento de polos de atração
suficientemente fortes, seria impossível aos espíritos do Astral Superior
alcançarem a Terra. Para isso, além dos seres esclarecidos que neste planeta
lhes servem de instrumentos, contam com o concurso dos espíritos dos mundos
opacos que estão a seu serviço.
Esses espíritos deveriam fazer a sua evolução
reencarnando, como geralmente acontece. Tantas foram, porém, as encarnações
perdidas e tamanhos os sofrimentos por que passaram, sem proveito, que se
decidiram a trabalhar no Espaço, sabendo embora que ali o seu progresso
espiritual é bastante lento.
Entretanto, milita a favor desse processo a
circunstância de não haver perda de tempo, como acontece na Terra, onde milhões
e milhões de encarnados se atolam nas baixas paixões mundanas e se deixam
dominar pelos falsos prazeres da vida material.
Os espíritos classificados nos mundos opacos são da
sexta à décima primeira classe. Seus corpos astrais compõem-se de matéria
fluídica mais ou menos densa, e com eles se podem locomover, facilmente, na
superfície deste planeta. Rigorosamente disciplinados pelas Forças Superiores,
sua atividade é valiosa, já que podem penetrar em quaisquer ambientes, por
piores que sejam.
Oferecem, ainda, os espíritos dos mundos opacos
estreita colaboração aos encarnados, quando em desdobramento no regime filosófico explanado nesta obra, para que as Forças Superiores possam promover
grandes limpezas psíquicas no astral inferior, dele arrebatando terríveis
obsessores. No Astral Superior dispõem os espíritos dos mais amplos recursos
para o cumprimento dos seus deveres.
Espaço e tempo são duas relatividades terrenas
inexistentes no Astral Superior. O campo de vista do ser humano é restrito às
três dimensões.
Quando a ciência terrena registra a velocidade da
luz, nada pode informar a respeito da velocidade com que os Espíritos
Superiores – que de igual modo são Luz – se locomovem no Espaço. E nada pode
informar porque, no presente estado de evolução da humanidade, esse
conhecimento ainda não faz falta.
Espaço e Tempo – abstraídas as condições da
relatividade – são duas expressões que se confundem numa só.
Quando o intelecto humano estiver em condições de
exercitar a sua faculdade dedutiva, imaginativa e analítica, na órbita dessa
compreensão, então o aspecto do Universo mudará por completo, e o problema das
grandezas imensuráveis passará a ter nova significação.
É justamente sob tal modalidade de vida que se
movimentam os espíritos do Astral Superior, que têm por campo de ação extensões
que escapam aos limites de compreensão existentes no horizonte do mental
humano, e por deveres, em decorrência, atribuições que não se assemelham às do viver
terreno.
As minudências da vida do Astral Superior apenas
interessam aos que se encontram naquele plano. Ao espírito encarnado nenhuma
contribuição poderão, por enquanto, oferecer.
O pensamento é vibração do espírito, manifestação da
inteligência, poder espiritual.
Ao atingir determinada fase evolutiva, sente o
espírito necessidade de dar expansão aos seus conhecimentos, alargar os
horizontes da inteligência e, cada vez mais, fortalecer os princípios morais
que for aperfeiçoando de encarnação em encarnação, na rota da existência.
Pensar é raciocinar, é criar imagens, conceber ideias,
construir para o presente e o futuro. É pelo pensamento que a criatura resolve,
soluciona, descobre, esclarece os problemas da vida.
O espírito imprime ao pensamento a própria força de
que é dotado. Como o som e a luz, ele também faz todo o seu percurso em ondas
vibratórias que ficam registradas no oceano infinito da matéria de que é
provido o Universo e, com facilidade, pode tornar-se conhecido de todos os
espíritos, desde o instante em que é emitido. Daí a impossibilidade de ser
alterada a verdade na vida espiritual.
Todo processo da evolução está fielmente impresso
no Livro da Vida. As boas e as más ações, os pensamentos inferiores, como os
elevados, ali se encontram gravados indelevelmente. Os pensamentos antecedem as
ações. Assim, tudo o que é feito, todos os atos dignos ou indignos são o
resultado de pensamentos também dignos ou indignos. “Quem mal faz para si o
faz”, dizem as leis espirituais – e com que razão o dizem!
Os pensamentos ficam ligados à sua fonte de origem
enquanto permanecer o sentimento que os gerou. Eles estabelecem verdadeiros
climas ambientais proporcionadores de saúde ou de enfermidades, de alegria ou
de tristeza, de triunfo ou de fracasso, de bem ou mal-estar.
Formando correntes que se cruzam em todas as
direções, têm como fonte alimentadora os próprios seres encarnados e
desencarnados que os emitem.
Muitas dessas correntes são, além de doentias,
terrivelmente avassaladoras. Elas chegam mesmo a exercer acentuada
predominância sobre as benéficas, pela grande inferioridade espiritual de que
está saturada a atmosfera deste planeta.
Pensando mal o ser humano não só transmite, mas
também capta na mesma intensidade, queira ou não, pensamentos afins e os
efeitos desses pensamentos maléficos. Essas correntes produzem os mais sérios
danos em distúrbios físicos e psíquicos.
A educação e o fortalecimento da vontade têm
importância fundamental na ação de governar os pensamentos. Aprendendo a fortalecer-se
com sentimentos repletos de valor, o ser humano criará em torno de si uma
barreira fluídica de tamanha rigidez que os pensamentos maléficos dos espíritos
obsessores não terão força para quebrar.
Ânimo resoluto para pensar e deliberar é condição
que se impõe. Temores e indecisões conduzem ao fracasso. O pensamento
racionalmente otimista deve prevalecer, sempre e sempre, porque – quando aliado
à ação – se constitui numa força capaz de demolir os mais sérios obstáculos.
Pensamentos de valor e de coragem, de firmeza e
decisão, atraem vibrações de outros pensamentos de formação idêntica,
produzindo um ambiente de confiança capaz de conduzir ao sucesso.
Jamais o espírito se deverá deixar abater. Um revés
não significa mais que um incidente passageiro. Ele deve servir para chamar a
atenção para algo que foi negligenciado ou que era desconhecido. Muitas vezes
chega até a ser útil.
De qualquer modo, sempre haverá uma experiência a
colher e uma lição a guardar de cada insucesso que ocorre.
Na vida nada acontece por acaso. Tudo tem a sua
explicação, o seu motivo, a sua causa, a sua razão de ser. Ninguém pode
aprender somente com o êxito, pois também se aprende, e muito, com o insucesso.
A felicidade, a saúde e o bem-estar não seriam tão desejados, se fossem
desconhecidas a desgraça, a doença e a miséria.
Diante disso, ninguém deve esmorecer. O lema é
sentir o mal para evitá-lo, para combatê-lo, para destruí-lo, e conceber o bem
para conquistá-lo, para atraí-lo, para integrá-lo nos hábitos e costumes de todos
os dias.
Nossa conduta reflete a ação soberana do pensamento
que sobressai, por representar uma força motriz de prodigiosa capacidade para
derrotar os obstáculos.
Essa força do pensamento varia com a educação da
vontade. A vontade fraca anima o pensamento débil; a vontade forte, o
pensamento vigoroso.
Não é, pois, dando acolhimento às vibrações
enfermiças do pessimismo, do desânimo, da malquerença, da inveja, da
ingratidão, do ódio, da vingança, da perversidade e da indolência que o
indivíduo se fortalece e resolve os seus problemas. Antes entorpece a mente e
se arruína com essas vibrações.
O pensamento se cultiva, se aperfeiçoa, se aprimora
e fortalece pelo poder consciente da vontade. Pensamentos fortes são claros,
refletidos e bem definidos.
Com maior facilidade se concretiza um ideal quando
se sabe pensar firmemente e se põe em ação uma vontade repleta de energia.
Saber concentrar-se em determinado assunto dando
asas à imaginação com o propósito e o empenho de estudá-lo bem, de descobrir
todas as suas nuanças, toda a multiplicidade de aspectos, todas as diferentes
formas de interpretação e até mesmo as suas modalidades sofísticas, constitui
exercício de excepcional importância para se chegar ao domínio absoluto do
objeto desse estudo.
Em todos os casos, porém, precisa o estudioso
exercer severo controle sobre si mesmo, para não colocar na apreciação dos
fatos em exame as suas simpatias, interesses egoísticos ou mesmo a influência
da presunção e do convencimento de que se ache possuído, pois estes oferecem,
invariavelmente, uma visão deformada das coisas e acabam por levá-lo a
conclusões falsas.
Para ser construtivo, progressista, realizador e
útil ao Todo, o pensamento precisa ser límpido, cristalino e escoimado das
deformidades espirituais ocasionadas pelo viver sem método, pela egolatria e
pela pressuposta infalibilidade das opiniões que conduzem ao fanatismo das ideias
fixas.
É comum ouvir-se dizer que a união faz a força.
Nada mais exato, tanto no sentido material como no espiritual. A influência do
meio é da maior importância para o bem-estar do espírito. Vários indivíduos de
má índole e inferior educação, ligados uns aos outros e a terceiros por
pensamentos afins, produzem vibrações muito mais perniciosas do que as emitidas
apenas por um deles.
Por esse exemplo se vê que todo indivíduo deve
saber preparar-se mentalmente, sempre que tiver de penetrar em qualquer mau
ambiente. Esse preparo consiste no pensamento vibrado com sabedoria, elevação,
consciência e confiança em si mesmo.
O vigor do pensamento emitido por criatura
mentalmente sã e esclarecida cresce na medida das necessidades do momento,
amplia-se, expande-se e supera qualquer corrente de pensamentos inferiores,
pela atração que exerce da Força afim universal, cujo poder é infinito.
A força do pensamento tem como medida o grau de
evolução do ser humano, e como limite a capacidade que este possui de
utilizar-se dos seus atributos espirituais.
Ela deverá ser sempre desenvolvida com o objetivo
de favorecer o bem comum. Desde que o ser humano cresça na consciência de si
mesmo e se identifique com as suas poderosas faculdades latentes, encontrará na
força do pensamento o instrumento seguro e eficaz para a realização de todos os
seus anseios e aspirações e a proteção da sua saúde física e mental.
A história da Medicina registra inumeráveis casos
de doenças graves cujas curas, por muitos consideradas milagrosas, apenas se
deveram à ação espiritual dos próprios enfermos e à atração que souberam
exercer das Forças Superiores.
A sublimação do pensamento traduz um estado de
consciência sensível à evolução do espírito e propício à conquista da
felicidade interior e do bem-estar proporcionado por essa felicidade.
O espírito cria a imagem pelo pensamento e só
depois a materializa para determinado fim. Vejam-se as maravilhas da pintura
universal. Observe-se a riqueza, a magnificência da obra que consagrou e
imortalizou tantos e tantos artistas, através dos tempos. Pois nenhuma delas
foi lançada na tela sem que o pintor a tivesse mentalmente concebido em todos
os seus detalhes.
O mesmo acontece com o engenheiro. Antes de
desenhar o edifício, a máquina, o aparelho, o instrumento, a peça, ele os
estuda e examina nos seus mínimos pormenores.
Com o pensamento em ação, engendra primeiro o
esboço, corrige depois as prováveis falhas até que a imagem do que vai
exteriorizar e materializar no papel esteja mais ou menos perfeita.
De toda a obra humana – toda, sem exceção – criou o
espírito a imagem pela ação do pensamento, e só depois a materializou. E se
assim ocorre na Terra, muito mais no Espaço, onde o poder do pensamento criador
é incomparavelmente maior.
Evolução significa, acima de tudo, poder criador.
Quanto mais evoluído o espírito, mais poderoso se torna o seu pensamento e a
sua capacidade de criar.
Um homem atrasado, por mais nefasta que seja a sua
atividade, não pode ultrapassar certos limites impostos pela indigência do
raciocínio e pela pobreza mental de que é dotado. Um espírito evoluído, um
cientista, por exemplo, se fosse utilizar os recursos de sua inteligência para
o mal, poderia causar uma obra verdadeiramente devastadora.
E se isto é possível num mundo tão modesto, de tão
reduzida evolução espiritual, imagine-se a imensa força criadora, o
extraordinário poder de realização dos espíritos altamente evoluídos cujas
atividades são exercidas em planos mais elevados.
O pensamento vigoroso emana do espírito forte,
adestrado, experiente. Em cada encarnação bem aproveitada, trabalha ele,
conscientemente, para melhorar, ainda mais, a sua personalidade psíquica.
É na ordem deste progresso que crescem o poder do
pensamento e a capacidade de conceber, de criar, de realizar obras, cada qual
mais importante.
O grande repositório da sabedoria não está na
Terra, mas no Espaço Superior. Os progressos da moderna tecnologia não seriam
ainda conhecidos, se muitas das suas parcelas não tivessem sido transmitidas
aos seres humanos pela via da intuição, vale dizer pela força do pensamento,
diante da qual todas as distâncias se anulam.
Das riquezas espirituais que a criatura tem
forçosamente de conquistar neste planeta, assume papel de excepcional relevo a
faculdade do pensamento, de cujo poder concentrado e abrangente depende a
racional solução de todos os problemas da vida.
O livre-arbítrio é uma faculdade espiritual
controlada pela vontade e, quando bem usada, orientada pelo raciocínio.
Quanto maior for o poder de raciocinar, tanto mais
fácil se torna o governo do livre-arbítrio. Livre-arbítrio quer dizer liberdade
plena de ação, tanto para o bem, quanto para o mal.
Praticam o bem os que trabalham para o
aperfeiçoamento de hábitos e costumes, promovendo a sua evolução. Os que, por
ações ou pensamentos, fazem retardar essa evolução, incidem no mal que acabará,
cedo ou tarde, por atingi-los, com maior ou menor dureza.
A faculdade do livre-arbítrio começa a despontar
quando a partícula inteligente ascende à fase evolutiva que lhe dá condições de
encarnar em corpo humano. Nessa fase, como é compreensível, o desconhecimento
da verdade a respeito do processo da evolução é completo. A criatura, porém, já
possui a consciência do bem e do mal.
O mau uso do livre-arbítrio resulta da curta
capacidade de raciocinar, da aquisição de vícios e maus costumes e do cultivo
de sentimentos inferiores, entre os quais tem papel de destacado relevo a
perversidade.
Sob a influência dessas perniciosas aquisições,
inimigas da saúde e da evolução espiritual, a pessoa fica saturada de vibrações
animalizadas que a fazem perder o respeito por si mesma, levando-a a cometer
desatinos reprováveis. Todo mal cresce de vulto quando praticado
conscientemente, e os que assim procedem terão, sem nenhuma dúvida, um triste e
doloroso despertar.
Usar o livre-arbítrio como arma contra o
semelhante, utilizar-se dele para injuriar, intrigar, escarnecer, caluniar e
desmoralizar o próximo constitui crime da mais alta condenação.
Fujam os seres, o quanto possam, da justiça
terrena, tantas e tantas vezes falha na apreciação dos feitos humanos, mas
jamais escaparão às sanções espirituais que os farão colher, no devido tempo, o
fruto das sementes que houverem lançado sobre a Terra.
Não é um tribunal astral, como se poderá supor, que
vai impor ao delinquente a justiça espiritual. É o próprio espírito que a ela
voluntariamente se submete, no momento em que – livre de todas as influências
deste mundo – procede a detido exame de seus atos, quando nem um só escapa à
sua apreciação e ao seu julgamento.
O remorso, nessa ocasião, lhe queima a consciência,
como se sobre ela tivesse sido posto um ferro em brasa. Dominado pelo
arrependimento, anseia por nova encarnação, disposto a dar o máximo de si para
recuperar, o mais rápido possível, o tempo que perdeu na Terra.
É a queimadura de alto grau produzida pelo atrito
da luta íntima entre a constatação do mal praticado e a consciência do dever
deixado de cumprir que faz trabalhar o raciocínio, exercitando-o e
desenvolvendo-o.
A perversidade é uma demonstração inequívoca de
inferioridade espiritual. Ela significa não estar o espírito ainda convenientemente
lapidado, e torna claro que as suas vibrações são idênticas às das camadas
espirituais de baixo desenvolvimento da espécie humana.
O livre-arbítrio, em tais circunstâncias, reflete,
no desacerto da orientação, o estado de ignorância do próprio espírito.
O espírito é luz e, como tal, brilha com a
intensidade correspondente ao seu grau de progresso. Intensidade de luz quer
dizer intensidade de vibração. Quanto maior for essa intensidade, mais
acentuado é o conhecimento da vida, mais evidente a ação dinâmica espiritual,
mais seguro o controle dos atos humanos e mais apurado o uso do livre-arbítrio.
À medida que cresce a intensidade da vibração do
espírito, vai diminuindo a possibilidade de deixar-se ele empolgar pelas
correntes vibratórias de inferior espécie e de praticar ações que a sua
consciência reprove.
A evolução – nunca é demais repetir – é regida por
leis naturais que jamais se alteram no Tempo e no Espaço. Às suas normas
imperativas ninguém se pode subtrair.
Essas leis colocam todos no mesmo rigoroso pé de
igualdade no tocante aos meios que cada qual dispõe para fazer uso, com toda a
liberdade, do patrimônio espiritual que for conquistando, de maneira mais
rápida ou mais lenta, conforme a direção que tenha dado ao livre-arbítrio.
A evolução não só pode ser retardada, como até
paralisada pela indolência, displicência ou negligência do ser humano. Essa
situação de indiferença, de relaxamento e abandono dos deveres que a vida
impõe, é muitas vezes atribuída a uma suposta predestinação ou ao jugo de um
destino inexorável e cruel, contra os quais muitos pensam que seria inútil
lutar.
Esse modo falso de encarar coisas tão sérias é de consequências
desastrosas. O espírito encarnado tem suficiente poder para mudar, em qualquer tempo,
os rumos da vida, manejando, corretamente, o livre-arbítrio. Do seu futuro bom
ou mau, do triunfo ou do insucesso, é ele o artífice.
O homem esclarecido prepara hoje o dia de amanhã.
Isso significa que o futuro será o que estiver sendo projetado e trabalhado no
presente.
Como há muito que fazer, cumpre-lhe estar sempre
atento aos seus deveres, procurando utilizar o livre-arbítrio em lances que
protejam o seu futuro e lhe facilitem a jornada.
A dor moral – se acompanhada de desorientação –
produz vibrações suscetíveis de atrair e reter influências e fluidos
deletérios.
No entanto, desde que a criatura possua algum
conhecimento da vida e perceba as associações existentes entre o corpo e o
espírito – sem perder de vista a precariedade e transitoriedade dos valores
terrenos – compreenderá a necessidade de opor reação imediata ao sofrimento,
para não se deixar dominar por ele, assim como aos pensamentos de fraqueza que
a poderão conduzir à depressão espiritual e física, causa de tantos
avassalamentos.
A ninguém é solicitado mais do que pode dar. O bom
uso do livre-arbítrio está dentro da capacidade de cada um. Por que, então,
cometer erros que fazem da vida um tormento? Por que se deixarem tantos
absorver pelas esfuziantes emoções dos sentidos materiais, tão precárias quanto
enganadoras?
É, pois, do máximo interesse humano o conhecimento
da responsabilidade que cada um tem no governo da sua faculdade arbitral. Essa
responsabilidade faz parte integrante da vida sendo, por isso, irrecusável e
intransferível. É inútil negá-la, como é inútil a tentativa de escapar às suas consequências.
A mística do perdão para os crimes, falcatruas e
prevaricações não tem qualquer sentido na vida espiritual.
O que se impõe, acima de tudo, é a necessidade
imperiosa e inadiável de cada criatura enfrentar com coragem, determinação e
valor os problemas e as responsabilidades da vida.
O perigo precisa ser conhecido para poder ser
evitado. São incalculáveis os males resultantes da ignorância do que representa
o livre-arbítrio na existência humana, pois com essa faculdade bem conduzida,
não teríamos tantas encarnações perdidas.
É longo, sem dúvida, o jornadear do espírito pela
Terra, em sucessivas etapas. Todas elas, porém, poderão ser galgadas sem
inúteis repetições, se os princípios racionalistas cristãos forem rigorosamente
observados, e deles faz parte destacada o importante tema deste capítulo.
Grande parte da humanidade pouco sabe a respeito do
livre-arbítrio. Muitos desconhecem, até mesmo, a sua existência. Para essa
ignorância tem contribuído, decisivamente, o erro multissecular de limitar-se a
vida a uma única encarnação – erro pelo qual os seres humanos têm pago um
altíssimo preço.
Quando se decidirá a humanidade a despertar para a
realidade da vida? Quando se sentirá com forças para romper as cadeias que a
prendem, como escrava, a concepções falsas?
Isto terá que acontecer um
dia. Quando, não importa.
A aura, que envolve todos os corpos vivos dos três
reinos da natureza, é uma emanação da Força, podendo ser observada pelas
pessoas que tiverem desenvolvida a faculdade mediúnica da vidência.
Mais densa junto à periferia do corpo humano, ela
se torna diáfana, gradativamente, daí para a sua parte externa.
A visão astral, quando principia a desenvolver-se,
apenas distingue a porção de maior densidade da aura. A sua observação mais
profunda, porém, é somente possível aos que possuem a vidência suficientemente
apurada.
A coloração da aura dos corpos minerais
apresenta-se, de certo modo, constante. Nos corpos vegetais a vida já demonstra
ação evolutiva mais avançada e variável. As plantas no viço da existência e as
madeiras, na sua utilização industrial, apresentam auras diferentes, que
correspondem à transformação operada nestas.
Nos animais inferiores aumenta a variação das cores
das auras, que se alteram de acordo com as suas condições de saúde, o estado de
calma ou de irritabilidade, de coragem ou de temor, de boa ou má nutrição e,
ainda, com a idade viril ou de senilidade.
É a aura humana que, pela grande variação de cores,
apresenta maior complexidade de análise, pois, além de revelar o estado de
evolução de cada indivíduo, retrata as suas tendências, a índole, o grau de
inteligência, a capacidade de raciocínio, a sensibilidade de consciência e,
finalmente, a natureza dos seus pensamentos.
Ainda que pareça uma única, são três, na realidade,
as auras humanas: a do espírito, a do corpo fluídico e a do corpo físico, cada
uma das quais correspondendo à natureza do corpo de que emana.
A aura do corpo físico, que é a emanação de todas
as partículas da matéria organizada nele contidas, pode ser observada durante o
sono sem a interferência das outras duas, quando o espírito e o corpo fluídico
dele se afastam.
Verifica-se, então, ser ela esbranquiçada e
transparente, como se constituída de fios de cabelos esticados, se o corpo
estiver são, e curvos e caídos, se enfermo.
A aura do corpo fluídico, de tenuidade inferior à
dos outros corpos, é quase invariável. Nenhuma, porém, se compara com a do
espírito que, por sua intensidade e variedade de cores, define, com fidelidade,
a natureza das suas vibrações.
Os dois extremos opostos, na gama dos sentimentos
alimentados pelo espírito, são identificados na aura pelas cores preta e
branca.
A branca, límpida, cristalina, sem manchas,
exterioriza a forma mais alta do desenvolvimento espiritual. A preta, os mais
baixos e animalizados sentimentos.
Entre as auras preta e branca existe, de um extremo
ao outro, imensa variedade de cores, cada qual definindo um estado, uma emoção,
um sentimento, imperfeitos, já se vê, porque a meta a ser alcançada é a
perfeição, traduzida pela branca.
A visão física apenas pode distinguir as cores do
espectro solar e suas associações. Existem, no entanto, inumeráveis outras que,
embora escapando aos olhos físicos, fazem parte da seriação das cores da aura
do espírito.
A aura humana varia de cor, de acordo com o
pensamento das criaturas. Em estado de calma e tranquilidade, ela se manifesta
por uma coloração própria, reveladora do grau de evolução do espírito.
Como, entretanto, essa evolução se processa com a
eliminação progressiva dos sentimentos inferiores, a cor, representativa do
estado de evolução, é composta de numerosas outras cores combinadas, cada uma
significando a presença de determinado sentimento, emoção ou paixão.
Na ordem evolutiva, cada indivíduo bem intencionado
procura despojar-se dos defeitos que vai notando em sua própria personalidade,
mas conserva os que lhe escapam. Esse procedimento assim mesmo varia de pessoa
para pessoa.
Uns, enquanto procuram dar combate à vaidade,
esquecem-se da avareza; outros, esforçando-se por dominar a inveja, deixam-se
levar pela luxúria, e assim por diante.
Disso resulta modificar-se de indivíduo para
indivíduo a cor habitual ou própria da aura. E essa cor habitual ou própria vai
mudando, paulatinamente, à medida que o caráter vai melhorando.
Ela está sujeita, ainda, a mutações repentinas e
passageiras. Basta deixar-se o ser assaltar por uma emoção qualquer, para que a
sua aura tome, imediatamente, a cor que essa emoção traduz. É que a emoção
produz uma vibração correspondente, e esta, dominando o campo da aura, se impõe
com a sua cor própria, característica e latente.
As cores habituais da aura definem, de um modo
geral, o caráter do indivíduo, ao passo que as cores passageiras expressam as
paixões ainda não sopitadas e destruídas.
A leitura da aura só poderá ser feita com exatidão
por espíritos evoluídos conhecedores de toda a sutileza da alternação e
combinação de cores, já que numa mesma cor cada tonalidade possui uma expressão
ou significado particular, e cada combinação de duas ou mais cores ou
tonalidades exige novas definições.
Os componentes do Astral Superior têm a aura
invariavelmente branca porque, depois de atingir aquele estado, sua natureza
passa a ser inviolável.
Muito embora esteja a aura oculta, em parte, à
visão humana, precisa a criatura habituar-se a ser honesta, leal, verdadeira,
não por medo de que os outros descubram a inferioridade da sua personalidade
interior, mas por dever de consciência, por dignidade própria, pelo respeito
que deve a si mesma e pelo esclarecimento relacionado com a vida.
Só assim o caráter do ser humano se lapida, se
aprimora, se aperfeiçoa, se solidifica, sob condições estruturais
indestrutíveis, de maneira que, em qualquer situação, as atitudes que pratica
revelem sempre a alta qualidade dos seus atributos morais.
O princípio fundamental da vida no Universo é a
evolução. Nela reside a base do entendimento de tudo quanto se passa dentro e
fora do alcance visual humano.
Não há explicação lógica nem racional para a
existência, quando a evolução não é devidamente considerada.
Neguem-na por ignorância uns, por pirronismo
outros, por interesse sectarista tantos, empreguem, para reforçar essa
negativa, todos os sofismas, todos os floreios, todos os artifícios de
linguagem de que forem capazes, e ela estará sempre presente, sempre viva,
sempre atuante em todas as manifestações da vida, desde quando esta começa a
despontar.
Por que tanto se interessam determinadas seitas em
negar a evolução? Por que tão intransigentemente se opõem a ela? Por que não se
curvam diante dela e a admitem e aceitam? O motivo não é difícil encontrar se
considerarmos que o reconhecimento da evolução reduz a frangalhos a mística da
salvação.
A aceitação, pois, de tal verdade implicaria na
destruição de um sistema de que participam, direta ou indiretamente, milhões de
indivíduos cujas conveniências pessoais são colocadas acima dos superiores
interesses da humanidade.
Nem todos os adversários da evolução estão convencidos
da sua inexistência. Não é pequeno o número dos que, mesmo combatendo-a,
intimamente a admitem. Alguns a negam por não lhes ser profissionalmente
conveniente a Verdade. Outros por subordinação a dogmas que os tornaram
fanáticos e obscurantistas.
Martelando a ideia da salvação na mente da criança,
essa fantasia vai-se impregnando no seu períspirito, até criar raízes
profundas. Mais tarde, quando adulta, repete maquinalmente, o que se habituara
a ouvir, sem querer submeter o caso ao raciocínio, por sentir um desagradável
choque entre o falso, por tanto tempo armazenado no subconsciente, e o
verdadeiro, latente no sentido consciente.
Além de absurdo, é o dogma da salvação um estímulo
ao comodismo. O trabalho, a luta que o ser humano precisa travar, o esforço a
que não se pode deixar de entregar para conseguir a evolução espiritual e o
progresso material não são entendidos pelos sectaristas que melhor confiam na
graça, nos favores, na proteção da suposta divindade, do que em tudo mais.
Ainda mesmo que se trate de vadios, parasitas e
malandros, isso não modifica a sua imunidade celestial se vieram ao mundo como
eleitos de deus e a salvo, portanto, das consequências dos pecados terrenos. De
qualquer maneira, não estão aí os representantes da divindade para conceder aos
delinquentes as absolvições e, com elas, o passaporte para o céu?
Os mais fundos desentendimentos humanos que tantas
tragédias, tantos males, tantas desgraças geraram no mundo – sem excluir o
ódio, as guerras e mesmo a miséria e a fome – têm suas origens, próximas ou
remotas, na soma das falsas ideias que as inumeráveis seitas incutem nas
criaturas.
Vítima inconsciente desses males, a humanidade vem
sendo impelida para a dor, numa sequência, quase interminável, de encarnações perdidas.
Uma coisa, porém, é certa: a evolução tem que ser
operada, a qualquer custo. Assim impõem as leis naturais e imutáveis que regem
o Universo. E estas são indiferentes à tola pretensão dos que pensam poder
iludi-las ou anulá-las.
Deve, por isso, todo indivíduo imprimir uma
superior orientação à vida, para encurtar o processo de sua evolução,
esforçando-se por ser operoso e progressista, e ter a atenção voltada para o
aprimoramento da própria personalidade.
A evolução faz-se sentir em tudo: na semente que
brota para transformar-se numa flor; na árvore que se agiganta e frutifica na
trajetória de um ciclo; no ser humano que penetra na escola analfabeto e dela
sai cientista; no desenvolvimento das artes, das letras, das ciências, da
música, dos laboratórios, das indústrias, das invenções e das utilidades
sociais.
Os átomos existem desde os primórdios da vida. E
por que só há pouco os cientistas foram capazes de identificá-los e
desintegrá-los? Por que não o fizeram antes? Mesmo no terreno biológico, por que,
sendo o homem, na escala animal, o ser mais evoluído, seu aparecimento na Terra
não precedeu ao dos demais animais?
A resposta é óbvia: o homem surgiu neste mundo como
resultado da evolução dos animais que o precederam. E, apesar do adiantamento
atual do Planeta, a marcha evolutiva nos três reinos da natureza prossegue sem
qualquer interrupção ou alteração. Apenas os que agora iniciam o seu progresso
em corpo humano, encontram, na época presente, condições mais favoráveis ao seu
desenvolvimento mental.
Embora possam essas criaturas primitivas ser
consideradas bastante evoluídas em relação aos animais de categoria inferior
pelos quais já passaram, são tão pobres, tão indigentes de inteligência, que
mais se deixam orientar pelo instinto do que pela razão.
A história da humanidade está assinalada por
inumeráveis marcos indicativos da sua longa, da sua imensa trajetória
evolutiva. E porque é impossível percorrer todo esse extenso caminho numa só
existência física, os que se apegam ao tradicionalismo religioso negam-se a
admitir a evolução, para não serem forçados a reconhecer o elemento pelo qual
ela se processa, na fase animal ou humana – a reencarnação.
Basta raciocinar para compreender-se que nenhuma
oposição séria pode ser feita à lei da evolução. Sem ela todos os seres
possuiriam o mesmo grau de inteligência, adiantamento e espiritualidade.
Não é admissível que o deus, que as seitas ensinam
a adorar, fosse criar um espírito mais atrasado do que o outro e fizesse,
conscientemente, o imbecil e o sábio, numa arbitrária, defeituosa e injusta
maneira de proceder.
Quando os sectaristas puderem divisar esse absurdo
na consumação das práticas divinas, não mais repelirão o que é racional, lógico
e intuitivo, pois encontrarão na evolução do espírito – que parte de uma origem
comum, muito remota – a explicação de todos os fenômenos da vida.
Essa origem – convém insistir – é uma só. Ao
iniciar-se o processo evolutivo, cada partícula da Inteligência Universal conta
com as mesmas possibilidades, os mesmos recursos, encontra-se em idênticas
condições e possui iguais valores latentes.
Por isso se desenvolve na mesma proporção até
alcançar a denominação de espírito, quando passa a dispor do livre-arbítrio
para conduzir-se por sua conta e risco. Já vimos, no Capítulo 9 – O
Livre-arbítrio, como o seu mau uso retarda a evolução espiritual.
O observador, que quiser enxergar, tem diante dos
olhos o quadro da evolução do espírito na vida terrena. Não existem dois
indivíduos iguais, embora os haja semelhantes. Cada um está promovendo o seu
progresso a seu modo e à sua custa, de acordo com o procedimento que tem
adotado no transcurso das encarnações passadas, num período de milhares de
anos.
Os que usaram melhor o livre-arbítrio – é evidente
– conseguiram evoluir mais do que outros menos cuidadosos, no mesmo número de
encarnações.
Aí está uma das razões que explicam a grande
heterogeneidade de mentalidades, disparidade de sentimentos e divergências de
conceitos que se observam no meio do povo.
É que o número de encarnações realizadas varia de
indivíduo para indivíduo, como varia também o aproveitamento que cada qual
adquiriu, bem como o esforço despendido.
Pode haver quem tenha perdido duzentas encarnações
em consequência de uma vida desregrada, e quem, em igual período, tenha
perdido, apenas, vinte. Este, sem dúvida, está muito mais evoluído do que
aquele.
Veja-se como esta revelação da vida, transmitida ao
conhecimento humano, é diferente da que os sectaristas apresentam, cheia de
incoerências, absurdos e contradições, porque baseada nas sandices bíblicas em
parte inspiradas por espíritos galhofeiros do astral inferior, conhecidos como
profetas, que se serviram, não raro, de médiuns confabuladores, iguais aos
muitos que por aí andam a explorar o imenso filão da crendice, do qual auferem
grandes lucros em pretensas ciências.
Quando foram escritos, há milhares de anos, os
livros que ainda hoje embevecem e atrofiam o raciocínio de milhões de
adoradores, estava este mundo em condições bem inferiores às atuais.
Quem faz evoluir o Planeta são os elementos que
nele vivem. Os seus habitantes, naquela época, possuíam um grau de evolução
muito abaixo do atual, e nada sabiam a respeito da mediunidade e de seus
efeitos e consequências. O fenômeno mediúnico, corriqueiro nos dias de hoje,
era tido como dom divinal e sobrenatural.
A compreensão e o conhecimento das coisas são
frutos da evolução do espírito, e muitos dos que hoje estão encarnados já
consideram a vida sob um aspecto que se aproxima, cada vez mais, da Verdade.
Não se pense que os fanáticos vão admitir, como
reais, as verdades aqui proclamadas. O fanatismo tolda a inteligência e não
deixa raciocinar. Para o fanático, há livros sagrados ditados por deus, dos
quais ele não pode nem deve duvidar, sob pena de cometer grande pecado e pôr em
risco a sua salvação.
Eis, na realidade, o que se passa. Mas nem tudo
está perdido. O crente tem o direito de reencarnar tantas vezes quantas forem
necessárias à aquisição na vida terrena dos conhecimentos e da experiência que
o levem a aceitar, de plena consciência, a Verdade antes recusada.
Ninguém pode passar a um mundo mais evoluído
enquanto neste se mantiver saturado de enganosas ideias sobre a vida, e
proceda, erroneamente, de acordo com elas.
É lamentável que o ser humano transforme, por
ignorância, a larga estrada da evolução num estreito, áspero e sinuoso caminho
repleto de obstáculos difíceis de transpor.
Todos terão de compreender, cedo ou tarde, que a
humanidade caminha numa mesma direção e para alcançar um idêntico fim – que é o
aperfeiçoamento – só atingível pelo esforço próprio bem orientado, pelo
trabalho individual disciplinado e pela conquista do saber à custa de atividade
intensa e permanente.
Deve o indivíduo procurar-se a si mesmo, e em si
mesmo aprender a confiar, consciente de serem imensos e não avaliáveis os
recursos que possui para levar a bom termo cada existência física.
Com este pensamento ficará sincronizado com a
corrente da evolução, por onde fará a sua ascensão espiritual, sem grandes
tropeços e sem maiores sacrifícios.
O valor, que todos os espíritos possuem em maior ou
menor dimensão, é um dos ângulos marcantes da personalidade humana.
Quanto mais o caráter se consolida nas rudes
asperezas do trabalho cotidiano e na luta pela conquista do bem, mais sente o
espírito a necessidade de pôr à prova esse grande atributo, a fim de que os
resultados correspondam aos esforços empregados.
Sempre que o ser humano, ao definir-se por uma
conduta, tiver de apelar para o próprio valor e dele se socorrer para traçar a
diretriz a seguir, ganha o seu acervo espiritual mais um reforço, mais um
estímulo, mais uma parcela de enriquecimento.
E não há quem não tenha a oportunidade de
externá-lo, a cada passo, por algum feito, por repousar nele o verdadeiro
bem-estar íntimo que satisfaz a consciência, alegra o semblante e, como
recompensa maior, transmite à criatura o agradável sentimento do dever
cumprido.
Todas as faculdades tendem a debilitar-se, quando
não são regularmente exercitadas. O exercício fortalece e revigora. Ele é tão
necessário à mente, quanto ao corpo. O exercício da mente consiste na prática
habitual de atos e pensamentos de valor, que precisam ser estimulados desde a
infância.
Esses atos e esses pensamentos podem ser revelados
no lar, quando o adolescente assume a responsabilidade das suas faltas, quando
se solidariza com as dificuldades e os sofrimentos dos seus pais e irmãos e
quando é capaz de um gesto de desprendimento e renúncia em favor do próximo.
Revelam-se também na escola, quando o estudante
sabe ganhar e perder nas pelejas esportivas, quando procede com dignidade no
estudo e nos exames, quando reconhece os esforços dos pais e tudo faz para
tornar-se merecedor do sacrifício deles.
Exercitados pelo adolescente esses altos atributos
espirituais, entrará ele na segunda fase da juventude com um preparo moral em
que se refletirão, nitidamente, os traços de valor de que é dotado.
Isso o habilitará a resistir às tentações mundanas
próprias da idade, a viver com método e disciplina, a encarar o trabalho como
um prêmio e a exigir para si o mesmo respeito que dispensa ao semelhante.
Na idade madura, em que, como esclarece o Capítulo
6 – A Encarnação do Espírito, as células do organismo atingem a máxima
vitalidade e o espírito conserva o precioso tesouro representado pelos
ensinamentos colhidos na adolescência e na juventude, precisa o ser humano
contar com esse bom cabedal, para não ser influenciado pelos erros e vícios que
predominam no meio ambiente.
Atitudes de valor acima de tudo desassombradas,
quando preciso arrojadas, se o momento o exigir – mas sempre serenas e tranquilas,
ponderadas e justas, inflexíveis e retas – eis a característica principal desse
notável atributo.
Todo indivíduo que vive sob os ditames da honra e
do dever, que molda os seus hábitos e costumes com a argamassa dos princípios
cristalinos da moral cristã e se mantém sob o dinâmico estímulo das vibrações
do bem, está permanentemente envolto numa couraça impenetrável às arremetidas
do mal.
Essa couraça, ainda que invisível, conserva toda a
sua rigidez enquanto o ser humano se mantiver vigilante. Um descuido pode pôr
tudo a perder. Mas os fortes, apoiados no esclarecimento, fazem por não se
descuidar, e a finalidade do RACIONALISMO CRISTÃO é, precisamente, orientar e
esclarecer os fortes para que não se descuidem, e os fracos para se tornarem
fortes.
O valor do indivíduo principia onde começa o
domínio de si mesmo. A qualidade essencial, necessária ao desenvolvimento do
valor, consiste em saber ele controlar os nervos e os pensamentos, subjugando
os ímpetos e as inclinações condenáveis, para que o raciocínio possa
apontar-lhe as melhores soluções.
A criatura que tiver de exercer cargos de direção
precisa, antes, aprender a dirigir-se a si mesma e a dar exemplos de
serenidade, de coragem, de honra e valor, contendo-se diante dos quadros
emotivos que a vida lhe oferece, para não se descontrolar nem causar prejuízo
aos seus subalternos.
Os atos de justiça são praticados, em regra, quando
o espírito procede com serenidade, imparcialidade e interesse pela verdade. O
mundo carece tanto de justiça quanto de homens de valor e de honra.
Por isso, ser justo, valoroso e honrado deve
constituir a mais séria aspiração do espírito humano. Mas, entenda-se: ninguém
pode ser justo sem ser tolerante e moderado, sem compreender a vida na sua
complexidade, na sua feição espiritual e conteúdo realista.
A compreensão clara e verdadeira da vida habilita o
ser a acelerar o desenvolvimento e a apuração de suas qualidades espirituais,
para diminuir o número de reencarnações neste mundo-escola de ambiência
sofredora, onde a ignorância gerou o materialismo em que a humanidade se afunda
e, com ele, a degradação moral infiltrada em todas as camadas sociais.
Essa compreensão dá ao indivíduo um sentimento
prático de renúncia às coisas terrenas, pela certeza da transitoriedade da sua
permanência neste planeta e de que são de uso provisório as riquezas materiais,
com as quais somente poderá conseguir alguns objetivos de limitado alcance.
As riquezas materiais não pertencem ao indivíduo,
mas ao mundo que as empresta aos seus habitantes para as administrar e delas
fazerem bom uso, como efêmera recompensa pelos seus esforços e realizações.
O espírito de renúncia, de desprendimento, de
abnegação, de sacrifício e de solidariedade humana é, pois, o resultado da
superior compreensão da vida que aproxima fraternalmente os seres uns dos
outros, como partículas irmãs de um único Todo.
Não se confunda, porém, esse elevado sentimento
espiritual com o desinteresse pelas coisas, originado nos desenganos e nas
desilusões que fazem os indivíduos apáticos, céticos, solitários, boêmios,
exóticos ou sectaristas fanáticos.
O espírito esclarecido e, por isso mesmo, forte,
não se deixa abater por desilusões ou desenganos. Compreende as causas das
fraquezas e da maldade das criaturas, não confia em perfeições, que sabe não
existirem, e aceita os acontecimentos com racional entendimento.
Verdadeiro, leal, honesto e equilibrado, não se
esquece, nos momentos de perigo, que a sua integridade moral deve pairar acima
de todas as considerações e interesses, e não teme as consequências da sua
posição inflexível contra a corrupção.
As forças do mal – tenha-se isto sempre em mente –
jamais prevalecerão sobre as do bem. Estas, no final de todas as convulsões,
são as únicas que permanecerão eternamente. Aquelas agem transitoriamente, num
período de tempo que marca a sua própria destruição. Todos os maus atos
danificam gravemente o caráter de quem os pratica, e deixam na personalidade
espiritual marcas difíceis de apagar.
Fortalecer, pois, os atributos de valor, para
resistir aos procedimentos indignos, é uma necessidade imperiosa e inabalável.
Não são poucos os egoístas e inescrupulosos que, com
falsas aparências, vivem a enganar o próximo, procurando tirar proveito de
todas as situações. Indiferentes à desgraça alheia, só se comprazem com a
satisfação dos seus interesses, por mais vis que sejam.
Com esse indigno procedimento, entretanto, cavam,
sem se aperceberem, o próprio abismo, para cujo fundo estão caminhando e do
qual somente poderão sair à custa de indizíveis sofrimentos.
Os gestos de grandeza espiritual, em que reluzem os
índices testificadores do valor, são os que mais enobrecem as criaturas e lhes
proporcionam a almejada felicidade. O valor está para a luz como a fraqueza
para as trevas. Ambos mutuamente se repelem.
Nenhum ser consciente poderá preferir a ação
negativa à positiva, o nada ao todo, o atraso ao progresso, a dúvida à certeza,
o fracasso ao êxito, o medo à coragem, e a escuridão à luz.
Os que fazem a troca do belo pelo horrendo, no
simbolismo dessas comparações, são seres obliterados que puseram de lado o bom
senso e estão ao sabor de uma consciência apática, inteiramente deformada na
apreciação dos valores autênticos.
Em todas as suas obras, o RACIONALISMO CRISTÃO
propugna pela transformação desse infeliz estado de consciência da humanidade,
em parte motivado por seu abandono a um sectarismo obscurantista que desconhece
o processo evolucionário da vida e os deveres espirituais das criaturas.
As ações boas ou más, além de nunca se perderem,
acarretam consequências correspondentes, por força das leis naturais que regem
o Universo.
A consequência da paralisação do coração é a desencarnação;
da explosão de uma bomba, a destruição; da rotação da Terra em torno do seu
próprio eixo, o dia e a noite.
Assim – e irrevogavelmente – as boas ou más ações
determinam para o seu agente, como consequência, um resultado que corresponde,
invariavelmente, à natureza dos pensamentos que as geraram.
Enganam-se, portanto, aqueles que pensam poder
escapar aos efeitos dos seus atos através do perdão ou de outros expedientes.
Não existem perdões no plano espiritual nem deuses para perdoar.
Urge raciocinar para bem viver. Urge proceder com
independência, valendo-se, cada qual, dos próprios recursos morais e
espirituais de que dispuser. Quem fizer o mal terá que resgatá-lo,
inapelavelmente, mais cedo ou mais tarde.
Somente os atos de valor engrandecem a personalidade
e enobrecem o caráter. Os que os praticam tornam-se colaboradores eficazes na
obra de pacificação e espiritualização das massas humanas.
O caráter é representado pela soma de qualidades
morais do indivíduo, em que se destacam as suas virtudes e o conjunto de
valores espirituais conquistados de encarnação em encarnação.
Esse valioso atributo expressa o nível de
espiritualidade do ser humano, que pode ser aferido pela firmeza e retidão com
que procede em seus atos cotidianos.
Mais do que pela honestidade da conduta nas
transações comerciais ou no exercício de qualquer função, o caráter se revela
pela intransigente repulsa à pusilanimidade, à intriga, à inveja, às atitudes
dúbias, à prevaricação, à deslealdade, aos movimentos traiçoeiros, enfim, a
todas as ações indignas.
São poucos, na realidade, os seres possuidores de
caráter verdadeiramente lapidado. Isto porque somente nas últimas encarnações
terrenas essa lapidação poderá ser considerada perfeita.
Nem sempre o indivíduo culto possui o melhor
caráter, pois um grande número deles faz da cultura um instrumento de
esperteza.
Não se pode negar, entretanto, a vantagem, e mais
do que a vantagem, a necessidade da instrução e da cultura, por oferecerem uma
larga contribuição ao desenvolvimento da inteligência e da capacidade de
raciocinar — meio pelo qual o espírito analisa, confronta, deduz e conclui,
para poder chegar ao conhecimento da Verdade.
É o caráter um dos mais ricos e preciosos bens do
espírito. A sua aquisição, porém, não é nada fácil. Ao contrário, exige
prolongados períodos de meditação em numerosas encarnações, ao longo das quais
as conclusões vão amadurecendo sob a dura prova da experiência.
Só depois de incontáveis desenganos e de sofrer
muitos agravos, injustiças e ingratidões é que o indivíduo mede, no íntimo da
sua natureza espiritual, a extensão das misérias humanas contra as quais se
revolta, enojado dessas baixezas – fato que o leva a sentir repugnância por
elas.
Assim, de repugnância em repugnância às mazelas
reconhecidas e experimentadas, o espírito vai-se libertando das ações
inferiores para colocar-se, por convicção haurida do esclarecimento, nas linhas
rígidas de uma conduta modelar.
Em qualquer setor da atividade – e não apenas nas
lides literárias e científicas – pode o ser humano exercitar-se no
desenvolvimento da inteligência: nas fábricas, no comércio, na agricultura, na
escola, na oficina, no lar. Qualquer ambiente de trabalho honrado lhe oferece
constantes oportunidades para o aprimoramento do caráter, sempre obedecendo a
uma progressão normal em que não cabem transformações radicais nem regenerações
sumárias. Jamais, entretanto, se poderá operar sem esforço, boa vontade e,
acima de tudo, sem a consciência esclarecida aliada à noção do dever e ao
interesse em cumpri-lo.
Os pais e professores que estiverem à altura de
transmitir aos filhos e aos discípulos – no tocante à retidão do caráter – a
linguagem viva e altissonante do exemplo, exercerão excepcional influência no
espírito deles, que se traduzirá em acatamento, obediência e respeito.
Não há exagero na afirmação de que o mundo carece,
cada vez mais, de pais e professores competentes e honrados. Porque os que o
são, realmente, possuem em suas mãos prodigiosos instrumentos de lapidação, com
os quais muito contribuem para o aperfeiçoamento do caráter dos adolescentes
que têm aos seus cuidados.
Há pais cujo caráter se revela inferior ao dos
filhos, assim como existem professores que o são, apenas, pelos seus dotes
intelectuais. Os maus exemplos, porém, não são imitados pelos que têm
discernimento espiritual para senti-los e condená-los. Pais e professores de
mau caráter de um lado, e filhos e alunos mais evoluídos do outro, marcham
sempre em rotas diferentes, buscando cada um satisfazer os seus anseios, sejam
estes enfermiços e viciosos, ou benéficos e purificadores.
A tarefa do professor não se deve limitar à
instrução pedagógica dos alunos. A escola, por complementar o lar, impõe aos
mestres o irrecusável dever de levar conceitos remodeladores aos discípulos,
capazes de torná-los bons cidadãos.
Se a ação dos professores é altamente meritória no
aperfeiçoamento do caráter dos discentes, de maior relevo é, ainda, a dos pais,
a quem compete o inescusável dever de observarem as linhas gerais do caráter
dos filhos, quando pequeninos, por ser essa a fase em que a correção oferece
melhores resultados.
Na definição das linhas do caráter, todos deverão
considerar o meio-termo, a posição equidistante dos extremos, em que o
equilíbrio se estabelece.
O critério, a equidade, o bom senso, a
pontualidade, a lealdade, a harmonia, a coragem, a hombridade, o bom humor, a
dignidade, a gratidão, a polidez, a fidelidade, o comedimento, a veracidade, o
respeito próprio e pelo semelhante, e o zelo são atributos que, cultivados
devidamente, constituem virtudes primaciais enobrecedoras do espírito, para as
quais se volta o ser humano desejoso de conquistá-las para a moldagem e o
enriquecimento do seu complexo espiritual, do qual depende o caráter
aprimorado.
O medo e a temeridade são dois extremos, em cujo
ponto médio está a coragem – virtude componente da fisionomia do caráter.
Todos os atributos morais estão equidistantes
desses dois extremos. Ainda em posições extremas situam-se o perdulário e o
avarento, mas o comedido fica no centro, que representa a posição ideal para
todos os seres de caráter bem formado.
Nessas mesmas posições extremas estão as qualidades
negativas que inferiorizam o espírito, enquanto que no centro, ao contrário,
refulgem as positivas, ideais, construtivas que o engrandecem, fazendo-o
crescer na escala ascendente da evolução.
Como o perdulário e o avarento, também a
malquerença e a adoração ocupam pontos extremos, mas a amizade e a virtude têm
lugar destacado no centro.
Homens e mulheres se despencam pelos flancos de
perigosos abismos, por não quererem compreender que entre duas forças iguais e
opostas existe sempre um ponto central de equilíbrio, em que deveriam manter-se
para poderem desfrutar as vantagens que ele oferece.
Tanto a malquerença como a adoração criam situações
condenáveis: enquanto a malquerença desperta o sentimento de aversão, de ódio e
vingança com os mais perniciosos efeitos para o agente, a adoração conduz ao
temor, à humildade subserviente e subalterna, à subjugação das iniciativas, à alienação
da vontade, à falta de confiança do indivíduo em si mesmo, sempre em
desprestígio do espírito e em flagrante anulação do seu próprio valor.
Em ambos os sentimentos, aqui apenas citados como
exemplo, a evolução ou se retarda ou não se produz, o que muito prejudica o
caráter. Trabalhar para aperfeiçoar, cada vez mais, esse grande, esse
incomparável atributo, é acumular riqueza espiritual de inexcedível valor.
Os bens materiais, já se fez ver, ficam na Terra.
Os espirituais, não. Estes nunca se separam de quem os sabe acumular. E a
melhor fortuna que o ser humano pode aspirar é a que se forma através de ações
nobilitantes que refletem sempre a grandeza do caráter.
As sociedades bem constituídas têm como base, como
fundamento, como suporte, a família.
Quando esta se distingue pelo cultivo das
superiores qualidades do espírito, sem se deixar contaminar pelo vírus da
corrupção, a sua contribuição para elevar os índices de aprimoramento das
coletividades é relevantíssima.
Assim como a força de coesão mantém unidas as
células dos corpos na fase utilitária e no meio em que se encontram, também as
famílias necessitam dessa força de coesão, para se ligarem umas às outras como
células de um todo, e compor uma sociedade homogênea, progressista e pacífica,
inclinada ao desenvolvimento das mais significativas virtudes.
Essa força de coesão só poderá resultar da
afinidade de sentimentos elevados, das nobres aspirações alimentadas, da
solidariedade nos atos de aperfeiçoamento e na comunhão dos esforços empregados
em benefício de todos.
Quanto maior for o número desses núcleos familiares
a desenvolver essa força de coesão, tanto mais altos serão os índices de
moralidade e honradez no meio ambiente.
O comportamento da coletividade, refletindo o
estado da maioria dos seus componentes, representa o nível médio do
aperfeiçoamento de um povo, revelando a sua capacidade produtiva e realizadora,
tanto no campo material, como no espiritual.
Nestas condições, cresce de importância, como um
grande problema social, a constituição da família, como tal entendida não a
união dos seres na desunião dos espíritos, mas o verdadeiro entrelaçamento
espiritual e material dos cônjuges para as responsabilidades do lar e a
perpetuação da espécie.
Aos que se casam é indispensável a compreensão dos
deveres e direitos de cada cônjuge, que não são, em regra, iguais, mas
complementares.
É na associação de interesses voltados para o mesmo
fim, sentidos com inteligência e realizados com dedicação, que se formam e
consolidam os laços espirituais que prendem o marido à mulher e esta ao marido,
pondo em segundo lugar o interesse físico que, quando deturpado, tanto
inferioriza a humanidade.
Ao encarnar, traz o espírito, entre outros deveres,
o de constituir família, decidido a honrá-la e a dignificá-la à custa de
quaisquer sacrifícios.
Cometem, pois, grave delito espiritual os que, por
ação ou omissão, contribuem para a ruína do lar e o desmoronamento da família.
As coletividades, de que se formam as nações, serão
grandes e respeitadas sempre que os fundamentos de sua constituição moral,
representados pelos elos espirituais que ligam as famílias umas às outras,
possuírem um liame suficientemente forte para repelir os efeitos das correntes
malignas pelas quais passam as vibrações da corrupção, do sensualismo
desenfreado, da egolatria e da imoralidade.
A família é o núcleo em que devem ser exercitadas
as virtudes do afeto, da tolerância, da lealdade, do desprendimento, da
renúncia, da fidelidade, do sacrifício, do respeito e da comunhão de sentimentos.
Como corolário, o lar é uma escola de
aperfeiçoamento espiritual e um campo de desenvolvimento psíquico.
Como os erros são fáceis de cometer e difíceis de
reparar, impõem-se, para evitá-los, a permanente vigilância do ser humano sobre
si mesmo.
Embora grandes, as responsabilidades no lar que
pesam sobre um casal não são maiores do que a sua capacidade de suportá-las.
Do marido para a mulher e desta para o marido,
precisa haver absoluta confiança. Para isso, é necessário que a alma de um esteja
sempre em condições de poder apresentar-se à do outro como um livro aberto.
Nenhum ato devem praticar de que se possam envergonhar intimamente e que se
preocupem em esconder.
A situação de reserva, o fato de terem de ocultar
faltas, de sentirem necessidade de mentir para sustentar as boas aparências é
altamente prejudicial ao caráter, além de dificultar a evolução espiritual. A
vida no lar será muito mais feliz se cada cônjuge fizer jus à confiança
irrestrita e ao apoio moral do outro.
A infidelidade e a prevaricação são atos que além
de ferirem a decência, mancham, indelevelmente, a conduta traçada no plano
espiritual para uma encarnação.
Pensamentos honestos e força de vontade em ação são
armas poderosas que a criatura deve usar para proteger-se das investidas das
forças inferiores que tentam envolvê-la nos fluidos perniciosos de suas
correntes, tão logo percebam a afinidade de um sentimento inclinado à
prevaricação.
A mulher e o homem se completam no lar como duas
medidas de compensação no equilíbrio de uma situação que deve e precisa ser
permanente.
Assim como o espírito se liga a todo o conjunto
corpóreo por cordões fluídicos, para possibilitar o equilíbrio das funções
humanas, também a ação espiritual se desdobra na constituição do lar, para
delegar ao homem atribuições da mais alta capacidade do pensamento e de apurado
tirocínio, e à mulher funções que mais se prendem à sensibilidade e docilidade
do seu sentimento, sem excluir os dotes do intelecto tantas e tantas vezes por
ela demonstrados.
Dessa maneira, é necessário que cada qual se
esforce por desempenhar bem o seu papel. Unidos, cumprirão a árdua e
dignificante tarefa; distanciados em espírito, semearão a discórdia e o
desentendimento, e a obra ficará por fazer.
Assim como o violino e o arco são dois corpos
diferentes que se unem para produzir sublimes sons musicais nas mãos do
artista, também os dois seres que se unem pelo casamento, embora dotados de
qualidades e atribuições diferentes, têm o dever de auxiliar-se, mutuamente,
sob a influência das vibrações harmônicas do entendimento e da compreensão.
Homens e mulheres nunca se devem preocupar com os
valores da contribuição que oferecem, por serem eles aferidos por medidas
diferentes. Os líquidos são medidos por unidade de volume, enquanto que os
tecidos o são por unidades lineares. Não pode, por isso, haver comparação e
equivalência entre os dois corpos.
É impossível, de igual modo, estabelecer comparação
equitativa entre a produção masculina e a feminina por faltar-lhe a unidade
fundamental, onde se conclui que as atribuições da mulher e do homem, embora de
igual valor, não podem ser invertidas sem contrariar as leis naturais e sem
produzirem o desequilíbrio correspondente a essa inversão.
O espírito não tem sexo, ainda que se verifiquem na
Terra tendências e ações masculinas e femininas. É ele próprio quem delibera a
respeito do sexo que vai adotar, quando se decide a reencarnar.
Em regra geral, se encarna como mulher, é para ser
mãe. E essa tendência é tão acentuada que manifesta, mal começa a dar os
primeiros passos na vida terrena, interesse especial pelas bonecas, cujo corpo
afaga como se fosse a mãe a acarinhar o filho. O mesmo se dá com o menino, que
volta a sua atenção para os cavalinhos, os automóveis ou caixas de ferramentas.
O instinto materno desperta na mulher desde os
primeiros anos da infância, e ser mãe – de corpo e alma devotada a essa missão
– é o mais nobre e elevado dos seus deveres na Terra.
As atenções que forem dispensadas à esposa para
auxiliá-la a cumprir as suas obrigações no lar, e à filha para que se torne boa
mãe, por maiores que sejam, jamais poderão ser consideradas exageradas. A
mulher precisa receber desvelado tratamento para não falhar nos seus altos
ideais sintetizados na grandeza do lar e da prole.
Na obra da regeneração dos costumes da humanidade
desempenha ela um papel da mais alta relevância, para cumprimento do qual
precisa estar em contato permanente com os filhos – que serão os pais e os
dirigentes de amanhã – esforçando-se por educá-los nos moldes de uma conduta
moral impregnada de virtudes.
As crianças possuem um subconsciente amoldável que
as torna sensíveis a receber a influência da orientação que lhes for ministrada
– educação que deve ser pautada nos princípios de honestidade e do amor ao
trabalho e à verdade – para se tornarem, no futuro, bons cidadãos, excelentes
maridos e mulheres e pais exemplares.
Aos componentes de um lar, jamais deverão faltar a
serenidade e o bom humor, cujo cultivo é da maior necessidade. Inconciliável
com o pessimismo, de que é grande inimigo, o bom humor abre o caminho ao
triunfo, já que desarma os pensamentos derrotistas e os receios infundados,
afugentando o nervosismo.
O indivíduo bem-humorado reflete alegria no
semblante, confiança em si mesmo e dispõe do essencial para gozar boa saúde.
O lar exige dos seus integrantes desprendimento e
tolerância, para não faltarem entre eles a harmonia e o entendimento, e não se
enfraquecerem os laços de amizade que os devem unir cada vez mais solidamente.
Tenha-se sempre em vista que sendo todos
imperfeitos, suscetíveis de incorrerem em erros, estes não devem ser encarados
com indignação ou revolta, mas com calma e compreensão, para o que é necessário
dominar o temperamento impulsivo, violento e intempestivo.
O temperamento do casal pode diferir do homem para
a mulher como difere o dos filhos de uns para com os outros, mas essa diferença
é perfeitamente compreensível desde que se levem em conta as diversas
categorias espirituais existentes nos membros de uma mesma família.
Uma das grandes virtudes humanas consiste em saber
respeitar o ponto de vista alheio e jamais perder o hábito da polidez.
O homem precisa contribuir com uma parcela de
esforços tão pesada quanto a da esposa, para manter a união e a unidade da
família. À sombra do seu nome honrado, todos no lar se devem sentir felizes.
A autoridade moral dos pais tem como fundamentos
mais importantes, mais profundos, os atos e os exemplos da sua vida, e essa
autoridade será maior ou menor consoante a lisura, a sensatez e a honestidade
do seu procedimento.
Os bons pais vão buscar os exemplos na indesviável
retidão da sua conduta, quando precisam dar lições aos filhos, nunca admitindo
que estes adquiram vícios, e não poupam esforços para que se espelhem na sua
própria vida e os imitem no comportamento, na dedicação à família, na honradez
e no amor ao trabalho.
Os filhos, por sua vez, precisam ouvir os
ponderados conselhos maternos e paternos, para se premunirem contra os riscos e
perigos a que vão ficar sujeitos no curso da vida.
A remodelação da humanidade começa pela remodelação
dos costumes da família. É princípio firmado que cada indivíduo é o que quer
ser, dentro das possibilidades humanas. Do mesmo modo se confirma o adágio de
que cada povo tem o governo que merece.
Daí a necessidade de serem elevados, sempre e
sempre, os índices de constituição da família, para que as nações possam ter
uma direção à altura do seu desenvolvimento espiritual e da sua consciência
moral.
O bem-estar e a felicidade de um povo facilmente se
aferem pelos sentimentos que o prendem ao lar e à família. Os que se recusam,
sem motivo sério, a constituí-la, faltam aos seus deveres, ofendem a sociedade
e não podem ser considerados bons cidadãos.
Um velho e sábio aforismo ensina que ninguém pode
dar o que não possui.
Na fase que o mundo atravessa, os homens e as
mulheres preparados para ministrar aos filhos uma educação à altura das
exigências da vida espiritual e material estão em lamentável minoria.
Os pais, verdadeiramente dignos desse nome, não são
os que se limitam a procriar, irresponsavelmente, mas os que medem e pesam as
responsabilidades decorrentes do matrimônio e se preparam para cumprir, com
consciência, os pesados deveres que a paternidade impõe.
O ato de reproduzir é meramente instintivo, dada a
natureza dos corpos dos animais em geral, mas, em se tratando de seres humanos,
as consequências que dele resultam são as mais sérias e graves.
Os filhos, por via de regra, são o retrato dos
pais. Com o imenso poder de assimilação que possuem na infância, gravam no
subconsciente, indelevelmente, o que veem os adultos fazer, e procuram
imitá-los.
Por isso, não é possível dissociar o lar da escola
– que ele também é, acima de tudo – escola boa ou má, na qual os pais, que são
os mestres, estão continuamente a ministrar aos alunos – os filhos – lições e
exemplos de disciplina ou indisciplina, de virtude ou de vícios, de trabalho ou
de ociosidade, de honradez ou de desonra, de coragem ou de pusilanimidade, de verdade
ou de impostura, de dignidade ou de envilecimento, de ordem ou de desordem, de
vergonha ou de desfaçatez, de lealdade ou de traição, de sinceridade ou de
hipocrisia.
O trabalho de educar inicia-se no berço. Com poucos
dias de nascida, começa a criança a manifestar inclinações e tendências que
precisam receber estímulos quando boas, e repressão severa e intransigente,
sempre que se revelarem desarrazoadas e inconvenientes.
As responsabilidades do casal, durante a infância
dos filhos, são imensas, exigindo da mulher e do marido, para a educação das
crianças, além de vigilância permanente, todo o valor, sacrifício e espírito de
renúncia de que forem capazes. Essa educação deverá ocupar o primeiro plano no
interesse dos pais, e de ministrá-la não deverão eles nunca prescindir.
Os pais não devem atemorizar os filhos com gritos e
ameaças, mas proceder com calma, compreensão e entendimento para
conquistar-lhes a confiança, a amizade e o respeito. Um bom processo educativo
consiste em manterem o hábito de estabelecer com eles frequentes palestras, das
quais se aproveitem, inteligentemente, para abordar as faltas que tenham
observado e auxiliá-los a corrigir-se, indicando-lhes o que devem e precisam
fazer para isso.
No fundo da alma, os filhos, ainda que não o
demonstrem, são sempre gratos aos pais, quando sentem o interesse destes pelo
seu futuro, segurança, felicidade e bem-estar.
Ao castigo físico, que deve ser aplicado em casos
extremos, e moderadamente, os pais deverão preferir a supressão de regalias,
por determinado espaço de tempo.
Todavia, se a gravidade da falta o exigir, esse
castigo somente deverá ser ministrado se o pai ou a mãe estiverem absolutamente
serenos, pois o nervosismo e a consequente alteração do tom usual da voz, não
só lhes subtrai toda autoridade para fazê-lo, como produz na alma dos filhos,
além do sentimento de revolta, um efeito contrário ao que tinham em vista os
genitores.
Toda ação educativa deve ter como finalidade e
fonte de inspiração o desejo sincero dos pais de fortalecerem a personalidade e
o caráter dos filhos. A censura diante de estranhos é de todo inconveniente,
por humilhar a criança e ferir a sua sensibilidade.
O modo de proceder de muitos pais descarregando
sobre os filhos a raiva de que se achem possuídos e fazendo deles a válvula de
escape do seu nervosismo e mau humor não é, apenas, uma atitude errada, mas
profundamente criminosa, por contribuir para que eles os vejam como uns brutos,
uns desalmados e se tornem falsos e dissimulados, passando a esconder as ações
que antes praticavam na presença dos pais, a fim de fugirem ao castigo.
Os conselhos do pai e da mãe precisam ser
ministrados sempre que se fizerem necessários e oportunos. A vigilância atenta
e permanente, com a finalidade de descobrir as falhas de caráter que forem
sendo reveladas, apontará o momento adequado.
Tendências vaidosas, impontualidade, desmazelo,
mexericos, mentiras, descortesias, falta de respeito, impolidez, maldade,
delação, pusilanimidade, farsa, deslealdade e fingimento são índices
denunciadores de grandes falhas no caráter, exigindo que as crianças delas
tomem conhecimento e ouçam, com a atenção e o respeito devidos, as admoestações
educativas dos seus pais, que deverão ser ministradas com amor e interesse, em
considerações claras, objetivas e incisivas.
Na educação dos filhos precisam imperar sempre – e
acima de tudo – a sinceridade, a lealdade, a justiça e a verdade. A curiosidade
natural dos pequenos seres deve ser satisfeita, nunca por meio de artificiosas
mentiras convencionais, sempre desabonadoras, mas com explicações racionais e
convincentes, ao alcance do intelecto infantil.
Na obra da natureza nada existe de feio ou
vergonhoso, quando os limites das leis naturais são respeitados. Vergonhosos
são os vícios, a licenciosidade, a ofensa aos bons costumes e a falta de
respeito e de senso moral.
Aos que se dispuserem a raciocinar e a fazer bom
uso da inteligência, não faltarão recursos de linguagem para transmitir aos
filhos uma ideia sã, relacionada com as delicadas funções da existência
terrena.
Os filhos precisam ser habituados a confiar nos
pais para que estes possam orientá-los, esclarecê-los e ajudá-los a buscar a
solução para os seus problemas. Essa confiança, porém, deixará de existir, se
os genitores não tiverem moralidade, decência, comedimento, sensatez, brio,
coerência e conduta exemplar, ou seja, se não procederem como desejam que os
filhos procedam.
Controle e vigilância discretos são duas práticas
que se devem fazer sempre presentes na ação educativa ministrada pelos pais.
“Dize-me com quem andas e eu te direi quem és”, eis o que um velho provérbio
previne. As más companhias são sempre prejudiciais e a tendência para o mal é
uma realidade, tanto mais que para ela concorrem a influência sempre nefasta do
astral inferior e os erros acumulados em encarnações passadas.
Não têm conta os desvios que se verificam por
influência das más companhias, das liberdades excessivas, das contemporizações
acima do razoável e das facilidades e concessões aparentemente inofensivas.
Meninos e meninas, moços e moças devem procurar no
lar, e não fora dele, o aconchego conselheiro, o ambiente ameno e confortador e
o refúgio contra as tentações e os perigos.
Embora as transformações radicais não sejam
possíveis, nem mesmo no próprio convívio do lar, nele, entretanto, podem ser
alcançadas grandes conquistas para o aperfeiçoamento da personalidade. Mas,
quando isso não puder ser conseguido, devido à rebeldia temperamental de certos
espíritos encarnados, qualquer melhoramento deverá ser motivo de regozijo,
porque essa conquista, por diminuta que pareça, tem sempre o seu valor.
Por corresponder a uma ação construtiva cujos
resultados se multiplicam, de geração em geração, nunca serão demasiados os
esforços despendidos pelos pais na educação dos filhos, que deverá ser
fundamentada, invariavelmente, nesta importante trilogia: trabalho, honradez e
disciplina.
Os fenômenos físicos, apesar de diferirem, em sua
classificação, dos de natureza psíquica, são ocasionados pelo mesmo poder e
possuem, em essência, uma origem comum.
Como o Universo se compõe de Força e Matéria, tanto
nas manifestações físicas quanto nas psíquicas o agente é sempre um – a Força
Universal – a apresentar-se de múltiplas maneiras.
A exteriorização da Força, quer obedecendo às leis
do plano físico, quer do psíquico, não ultrapassa os limites da fenomenologia
normal enquadrada nas leis naturais, e fornece preciosos elementos, na órbita
da espiritualidade, para estudos transcendentais.
Os sentidos mais comuns que se observam no
organismo humano – como o olfato, a visão, o tato, a audição e o paladar – não
se originam, como muitos erroneamente pensam, no corpo físico, mas no espírito,
que os exterioriza por meio de órgãos adequados, que não funcionam sem as
vibrações espirituais e o impulso que lhes são transmitidos, semelhantemente ao
violino cujas cordas, para produzirem sons, precisam ser feridas pelo
violinista.
Nem todas as suas faculdades podem ser manifestadas
pelo espírito, enquanto encarnado. O sentido telepático, comum no plano astral,
é uma delas. Somente quando alcançar um estado de superior evolução, terá a
humanidade condições para usar essa faculdade na Terra.
Na situação atual do mundo ela seria bastante
perigosa, já que se constituiria numa válvula de retenção das misérias humanas,
que precisam ser conscientemente combatidas e não recalcadas.
Nos mundos que lhes são próprios, os espíritos se
entendem pelos pensamentos. Na Terra, por muito e muito tempo, ainda perdurará,
como forma, como maneira de exteriorizá-los, a linguagem articulada.
Os fenômenos psíquicos se manifestam de acordo com
o grau de evolução e as peculiaridades de cada espírito. A mediunidade, que se
expressa por várias formas, traz ao conhecimento humano inequívocas
demonstrações desses fenômenos. Isto porque a sensibilidade dos médiuns é mais
apurada do que a dos demais seres, o que lhes permite entrar em contato com as
vibrações do plano psíquico.
Vibrações harmônicas ou que se casem e ajustem,
associam-se entre si.
O médium é um elemento de ligação dos dois planos –
o físico e o psíquico – sendo essa a razão de quase sempre se revelarem por seu
intermédio os fenômenos psíquicos.
Quanto mais sensível o indivíduo, maiores
possibilidades têm de captar vibrações. Dessas vibrações, que são diferentes
umas das outras, o espaço está repleto, podendo cada vibração captada produzir
uma revelação ou fenômeno correspondente.
As retinas dos olhos humanos podem captar as
vibrações da luz solar, mas não as da luz astral, a não ser quando intervém o
médium com a sua sensibilidade, através do fenômeno, muito conhecido, da
vidência.
O médium de incorporação pode, em determinadas
condições psíquicas, desdobrar-se, e esse fenômeno, desde que praticado
disciplinarmente, é de grande utilidade.
Entende-se por desdobramento o afastamento do
espírito e do seu corpo astral do corpo físico do médium, por alguns momentos,
ficando a ele ligado por cordões fluídicos.
O que se dá com todos durante o sono ocorre com o
médium de incorporação acordado, em trabalhos de desdobramento.
A segurança dos instrumentos mediúnicos, nesse
caso, é assegurada pelas Forças Superiores que dirigem as operações de Limpeza
Psíquica realizadas nas Casas Racionalistas Cristãs.
O trabalho das Forças Superiores, que de forma
astral supervisionam e dirigem a Limpeza Psíquica, constitui uma das mais
notáveis realizações no campo do espiritismo, pelos seus resultados benéficos
em favor da humanidade.
Os que apenas se restringem a apreciar os fenômenos
físicos, fechando o raciocínio à análise da fenomenologia psíquica, possuem uma
visão bem estreita das coisas espirituais. A dialética desses seres, girando
dentro de um círculo de acanhadas dimensões, desaparece diante do vasto cenário
ocupado pela ciência psíquica.
Dentre os fenômenos de ordem espiritual, são as
materializações, as levitações e os transportes de objetos sem contato os que
mais impressionam a massa humana, alheia aos poderes espirituais.
Alguns desses fenômenos são produzidos por
espíritos galhofeiros do astral inferior que, agindo invisivelmente, arremessam
objetos e produzem ruídos, ou por indivíduos a eles aliados que fazem mau uso
da faculdade mediúnica para obter vantagens, geralmente pecuniárias.
Não são raros também os médiuns que assim procedem
em condenáveis práticas com o intuito de alcançar efeitos sensacionalistas,
principalmente na imprensa, e, ainda, para atrair prosélitos do meio ignorante
em espiritualismo, representados por indivíduos que andam por aí mergulhados em
superstições e atidos a crendices entorpecentes, originárias das místicas
dogmáticas.
É sabido que a matéria organizada, simples, se
reduz ao átomo — uma partícula de ínfima dimensão, imperceptível à visão normal
do ser humano.
Mas como, não obstante essa invisibilidade, a sua
existência é real, ele aí está compondo e formando todos os corpos e passando,
invisivelmente, de um para o outro, sob a ação de uma Força de igual modo
invisível.
É óbvio que a mesma Força que conduz um átomo
transporta incontável número deles, sem alterar o equilíbrio universal. As leis
que imperam nesta ação são do plano astral, independentes das que se conhecem
no mundo físico.
Todos podem sentir neste planeta a atuação das
forças da natureza, que são parcelas da Força Total, agindo, combinada e
equilibradamente, no concerto harmônico do Universo.
Ao ser humano não é difícil constatar a força
atômica, a força Inter atômica, a força intermolecular, a força de gravidade, a
força de atração dos corpos, a força magnética e as diversas outras forças que
mantêm a Terra em perfeito equilíbrio, num movimento conjugado de todos os
corpos opacos e luminosos que giram, incessantemente, no espaço sideral.
Essas e outras forças atuam diretamente sobre o átomo,
com a intensidade dosada pela Inteligência Universal para manter o Universo em
condições de completa estabilidade.
Isto quer dizer que quaisquer outras forças que
atuam no átomo para produzir fenômenos psíquicos são impulsionadas pelo
espírito, por ser este uma partícula da Força Total, da qual possui poderes
congêneres, porém limitados ao estado de evolução já alcançado.
De acordo com o seu desenvolvimento, conta o
espírito com suficiente força para, pela ação do pensamento, modificar ou
alterar determinadas condições físicas. Os fenômenos psíquicos – é bom que isso
fique bem claro – realizam-se pela ação do pensamento de espíritos encarnados
ou desencarnados, agindo isolada ou conjuntamente.
Nesse caso está a levitação, somente possível
quando a força do pensamento for suficientemente intensificada para anular a
força de gravidade que atua sobre os átomos de um corpo.
Quando isso acontece, o corpo, assim levitado,
passa a pairar em qualquer ponto do espaço, em obediência à força que o mantém.
Uma segunda força, também oriunda do poder do
pensamento, pode ser aplicada para dar movimento direcional ao corpo.
De igual modo são operadas as materializações. Para
consumar-se uma materialização, há necessidade de realizar-se, simultaneamente,
uma desmaterialização, verificando-se, no caso, uma remoção de átomos em forma
fluídica, dirigida até mesmo através de obstáculos quase todos relativamente
porosos, como paredes, assoalhos e tetos.
Na levitação e transporte não opera, apenas, a força
que se contrapõe à da gravidade, mas também a que imprime movimento. Nas
materializações, além dessas duas, existe mais a que interfere na força de
coesão, anulando-a no ato da desmaterialização e utilizando-a, em seguida, na
materialização.
Em tais fenômenos, como é evidente, nada há de
sobrenatural. O que ocorre, em verdade, são simples manifestações da Força, em
suas numerosas realizações.
E, note-se: tudo o que aqui está mencionado, com
relação aos poderes espirituais, nada mais representa que uma parcela ínfima
daqueles que o espírito terá quando alcançar um alto grau de evolução e passar
a desenvolver-se nos elevados domínios do Astral Superior.
Por ser Força e Poder o espírito cresce em
potencial à medida que evolui, e na proporção dessa evolução. Seus pensamentos
se traduzem em ideais tanto mais altos, quanto maior for a concentração desses
poderes.
Uma das faculdades do espírito que mais reclamam
atencioso e demorado estudo é a mediúnica, da qual lamentavelmente se têm muito
pouco ocupado as organizações científicas. É esta, sem dúvida, uma lacuna que
terá de ser preenchida com o progressivo desenvolvimento espiritual dos seres.
A mediunidade, que se manifesta de múltiplas
maneiras – de acordo com o grau de evolução de uma ou mais de suas modalidades
–, é faculdade inata no espírito de todos os seres encarnados, que dispõem,
pelo menos, da intuitiva, a qual varia, ainda assim, de indivíduo para
indivíduo, de conformidade com o desenvolvimento que vai obtendo, de encarnação
em encarnação.
A mediunidade é sempre útil, quando bem
aproveitada, mas altamente prejudicial se colocada a serviço do mal. Os bons ou
maus pensamentos se atraem, na razão direta da sua afinidade, e o seu
instrumento de captação é a faculdade mediúnica.
O espaço ocupado pela atmosfera terrestre está
repleto não só de espíritos como de pensamentos, daí resultando as vibrações de
duas correntes distintas, classificadas como do bem e do mal.
Todo indivíduo de caráter bem formado que mantenha
o pensamento voltado para as realizações úteis e alimente o desejo sincero de
progredir espiritualmente, esforçando-se por alcançar esse alto objetivo, terá
a envolvê-lo as correntes do bem, fortalecidas pela irradiação das Forças
Superiores. Com essa benéfica assistência o êxito é mais fácil.
De igual modo, quando se predispõe à prática do
mal, as suas vibrações espirituais estabelecem os polos de atração das
correntes afins do astral inferior, e passam então os obsessores, valendo-se da
mediunidade intuitiva do infeliz, a influenciá-lo, mentalmente, para o levar a
cometer desatinos.
O fato, em si, não tem nada de extraordinário: as
más intenções, refletidas nos pensamentos, encontram, no espaço inferior,
situado na atmosfera que envolve o Planeta, correntes organizadas que a tais intenções
se justapõem, pela identidade formada entre vibrações da mesma natureza.
Os que, grandes ou pequenos, ricos ou pobres,
humildes ou poderosos vivem à margem dos bons preceitos morais; os que
praticam, oculta ou ostensivamente, ações indignas; os que trazem afivelada ao
rosto a máscara da bondade e escondem na alma as mais feias vilanias; os
assassinos, os ladrões, os vigaristas, os salafrários, os traidores, os
desleais, os falsos, os hipócritas, os mentirosos, os valentões, os
desordeiros, os pusilânimes, os vadios e, em geral, todos os patifes, não
passam, sem o saber, de seres escravizados a falanges obsessoras que os tornam
instrumentos dóceis da sua vontade e os levam a praticar as mais abomináveis
ações.
Essas falanges encontram todas as facilidades no
ambiente da vida física, em virtude da mediunidade dos seres e da corrente de
apoio que os maus pensamentos humanos dão aos obsessores.
Quanto mais desenvolvida tiver a mediunidade, tanto
maiores são os perigos a que a criatura está exposta no seu viver cotidiano.
É de máxima importância, por isso, que cada um se
esforce por conhecer o grau de desenvolvimento da sua faculdade ou faculdades
mediúnicas, a fim de poder orientar-se, com acerto, no controle dos
pensamentos.
Muitos loucos são médiuns desenvolvidos que
chegaram à obsessão pelo desconhecimento de suas faculdades. A loucura é, por
via de regra, produto da ignorância da vida fora da matéria.
No dia em que as organizações científicas, despidas
de preconceitos ou influências sectárias, se dispuserem a estudar a
mediunidade, sob os seus vários aspectos e peculiaridades, compreenderão a
necessidade inadiável de ser feita uma campanha de esclarecimento da humanidade
por meio da mais ampla divulgação dos resultados desses estudos, para que as
criaturas se compenetrem de que precisam imprimir uma orientação sadia à sua
vida, a fim de que o número de loucos se reduza aos descuidados, aos
negligentes e aos desatentos.
Não há somente a mediunidade intuitiva, que é a
mais comum. Outras existem, peculiares apenas a certos indivíduos, entre elas a
de incorporação.
Denomina-se mediunidade de incorporação aquela em
que a ação do espírito atuante é facilmente notada sobre o corpo físico do
médium. Se muitas das faculdades mediúnicas podem passar despercebidas, o mesmo
não acontece com a de incorporação, cuja observação a ninguém escapa no momento
da atuação.
Poderão dar-lhe outros nomes, atribuir-lhe outras
causas para justificar o ignorado, mas a verdade é uma única e, mais cedo ou
mais tarde, o reconhecimento da mediunidade de incorporação, como faculdade
espiritual, terá de impor-se, pela sua evidência, como todas as coisas
palpáveis do Planeta.
As modalidades mediúnicas mais comuns, que se
observam neste mundo, são a intuitiva, a olfativa, a vidente, a auditiva, a
psicográfica e a de incorporação, com os correspondentes fenômenos de
desdobramento, de materialização, de levitação e de transporte.
A faculdade mediúnica varia, em suas manifestações,
de indivíduo para indivíduo, de acordo com o seu temperamento, o sistema
nervoso, o sentimento que o anima, a sensibilidade e o grau de evolução.
O médium de incorporação nem mesmo precisa se
concentrar para receber a influência dos espíritos do astral inferior, pois a
sua sensibilidade e o sistema nervoso estão de tal forma predispostos que lhe
basta, para ser brutal ou brandamente atuado – conforme os sentimentos que
animarem o obsessor atuante – a ação do pensamento.
Uma vez, entretanto, concentrado com o propósito de
deixar-se atuar, a justaposição do espírito atuante ao seu corpo se fará com
intensidade, sem que o instrumento mediúnico perca a consciência.
Esse espírito serve-se da mediunidade do
instrumento de incorporação para exteriorizar o seu pensamento, deslocando-se,
ligeiramente, o espírito do médium em concentração da posição normal para
facilitar a captação dos pensamentos transmitidos.
A telepatia, conforme já se esclareceu no Capítulo
16 – Os Fenômenos Físicos e Psíquicos, é faculdade ainda não
sensivelmente desenvolvida na espécie humana. Apesar disso, alguns espíritos
encarnados já a possuem.
A mediunidade intuitiva está intimamente ligada à
estrutura do embrionário órgão telepático, que é um reflexo da sensibilidade
psíquica cujo desenvolvimento se irá, a seu tempo, denunciando.
Consequentemente, a mediunidade intuitiva, a de
incorporação e as funções rudimentares do incipiente órgão telepático perfazem,
em ações coordenadas e complementares, uma soma de três predicados espirituais
cujo desenvolvimento, quando sob rigoroso controle, oferece os mais perfeitos
resultados na captação de pensamentos de espíritos desencarnados ou não.
Nas correntes fluídicas do Astral Superior os
médiuns transmitem voluntariamente, de um modo geral, o que os espíritos lhes
intuem. Como, porém, não perdem o controle de si mesmos, deixam de proferir as
inconveniências acaso intuídas, quando atuados por obsessores.
Em todas as camadas sociais há indivíduos que
possuem, sem o saber, além da intuitiva, da qual todos os seres humanos são
portadores, a mediunidade de incorporação. Por se conservarem nessa ignorância,
uns acabam praticando o suicídio, outros desaparecem em desastres, muitos
superlotam os hospitais, as cadeias e penitenciárias, e grande parte desses
indivíduos, com a faculdade menos desenvolvida, vive a provocar desordens, a
perder-se no jogo, a deprimir-se no álcool e a arruinar-se na sensualidade
desenfreada.
Os espíritos desencarnados que perambulam no astral
inferior rapidamente identificam os encarnados que possuem a mediunidade de
incorporação, ao notarem a facilidade com que eles recebem as suas intuições, o
que não se dá com os demais.
Com isso, a criatura dotada dessa faculdade será
fatalmente vítima de tais espíritos, se não estiver esclarecida e preparada
para repelir o seu contato maléfico.
Contam-se aos milhões, no astral inferior, os
espíritos alcoviteiros, intrigantes, desleais, facciosos e amantes de
discussões que encontram, na mediunidade de incorporação dos encarnados, campo
aberto para satisfazer os desejos malignos que alimentam e saciar as suas más
paixões nos lares onde a disciplina preconizada pelo RACIONALISMO CRISTÃO não é
praticada.
É bom não se perder de vista que os afins se atraem
e cada um se revela de acordo com o seu modo de pensar. Quem gosta da
maledicência, da intrujice, do mexerico produz pensamentos correspondentes e
atrai, para junto de si, obsessores de igual gosto.
Quando, porém, o autor de tais pensamentos é um
médium de incorporação, a situação se torna muito mais grave, por ficar ele sujeito
a receber constantes cargas dos afins desencarnados que o incitam contra os
seus desafetos e os inimigos dos próprios obsessores.
A disciplina do pensamento, que é prática
indispensável a todos, muito mais deve ser, ainda, aos médiuns. Estes, embora
muitas vezes bem-intencionados, podem tornar-se vítimas de ciladas do astral
inferior e cometer desatinos de graves consequências.
O médium precisa saber selecionar as pessoas de
suas relações e evitar conversas impróprias. As preocupações demasiadas e os
trabalhos excessivos não são recomendáveis. Deve cuidar-se física e
espiritualmente, para manter em boa forma a sua capacidade de reação contra o
desânimo e o desalento.
O trabalho, além de constituir um forte estímulo
para o corpo físico, é a mais proveitosa das distrações para o espírito, cuja
atenção deve estar constantemente voltada para coisas úteis e honestas.
Não há dúvida de que todos têm necessidade de
descanso, repouso e recreação nas horas próprias. Nunca, porém, deverá alguém
entregar-se à ociosidade, que é sempre prejudicial, principalmente em se
tratando de médiuns.
A discussão constitui um forte ímã de atração das
forças do astral inferior. Dela nascem o desentendimento, a mágoa e o ressentimento
que tanto contribuem para destruir a harmonia e a afetividade.
Os médiuns, por serem muito sensíveis e vibráteis,
são facilmente empolgáveis com o que os outros dizem ou fazem e com o que se
ajuste ou choque com as emoções do seu temperamento.
Daí a necessidade que têm de esclarecimento, para
saberem defender-se, no ambiente em que vivem, dos golpes desferidos pelas
terríveis forças maléficas que envolvem o mundo e têm, como ponto de apoio, os
milhões de médiuns ignorantes, displicentes e incautos dispersos pelo Planeta.
A mediunidade, como todas as faculdades
espirituais, desenvolve-se, progressivamente, de encarnação em encarnação.
Desde o primeiro grau de evolução nas camadas humanas mais atrasadas, nos ritos
selvagens, na prática da magia, começam certos indivíduos a desenvolvê-la sem
preparo psíquico, sem conhecimento dos riscos a que se expõem pela
inobservância da disciplina que deveria acompanhar tal desenvolvimento.
Isso explica o fato de encontrar-se o mundo repleto
de criaturas anormais, perturbadas, paranoicas, obsedadas.
Quem desenvolve a mediunidade fora da disciplina
aconselhada pelo RACIONALISMO CRISTÃO – é bom repetir – corre todos os riscos,
inclusive o da loucura.
A garantia do médium está precisamente em saber
resguardar-se da ação das forças inferiores, para não se tornar um instrumento
inconsciente a serviço da perversidade e da mistificação dessas forças do mal.
Para viver com aproveitamento, precisa o ser humano
conhecer-se a si mesmo, partindo do princípio básico e fundamental de que é
composto de Força e Matéria. A Força é o espírito. A Matéria é apenas o
veículo, o instrumento, o meio de que ele se serve para promover a sua evolução
na Terra.
A Matéria não tem faculdades. Essas, que são
inumeráveis, pertencem todas ao espírito, convindo assinalar que somente
pequena parte delas é revelada na vida terrena.
A faculdade mediúnica é das mais importantes, pela
influência que exerce na existência de cada um.
Procurar, pois, estudá-la, para conhecê-la através
de sua complexidade e múltiplas manifestações, é dever que se impõe a todos os
seres humanos que querem viver conscientemente e não vegetar.
A obsessão é um dos males de que mais sofre a
humanidade. Seu perigo maior está precisamente em não ser percebida nos seus
aspectos menos chocantes pelos que desconhecem as verdades espiritualistas que
o RACIONALISMO CRISTÃO difunde, principalmente na parte referente à vida fora
da matéria.
A obsessão pode apresentar-se de forma sutil,
amena, periódica, permanente, branda ou violenta.
Nas formas sutis e amenas, manifesta-se por manias,
pavores, esquisitices, fobias, cacoetes, exotismos, paixões, fanatismos,
covardia, indolência e por todos os excessos, como os sexuais, os de comer, os
de rir ou chorar, e muitos outros.
No Capítulo 17 – A Mediunidade, vimos como
agem os espíritos obsessores sobre os indivíduos que os atraem com pensamentos
afins.
Apesar de toda a ação deletéria que as forças do
astral inferior exercem sobre a humanidade, forçoso é reconhecer que a culpa da
obsessão cabe, em grande parte, às próprias vítimas, por haverem, quando sãs,
alimentado os pensamentos com que formaram as correntes de atração em que se
apoiaram os obsessores.
Está exaustivamente demonstrado nesta obra — e os
fatos o vêm, todos os dias, confirmando — que os pensamentos de perversidade,
de vingança, de ódio e outros semelhantes vibram em todas as direções do espaço
inferior, estabelecendo imediato contato entre quem os emite e os espíritos
obsessores.
As baixas camadas do astral inferior estão, pois,
ligadas, por estreita afinidade, às criaturas mal-humoradas, às vingativas,
invejosas, irritadas e desonestas, assim como àquelas que alimentam fraquezas e
vícios.
Essas criaturas, ainda mesmo quando não aparentem
estar obsedadas, criam um clima profundamente danoso a si mesmas e aos membros
das famílias ou pessoas com quem convivem, forçados uns e outros a participar
do mesmo ambiente, sem possuírem os esclarecimentos capazes de minimizar os
efeitos perniciosos da má assistência.
O resultado é, quase sempre, a perturbação ou
obsessão dessas pessoas, em qualquer das formas, benigna ou violenta.
Nem sempre o espírito obsessor tem consciência do
mal que produz. Ele é também vítima dos erros que praticou, quando encarnado,
pelo desconhecimento da vida fora da matéria.
Essa lamentável ignorância o fez prisioneiro do
ambiente atmosférico da Terra, levado pela cegueira de falsas crenças e
persuadido de que nada mais existe para os que desencarnam além do ilusório
meio em que passaram a viver.
Procura, então, desenvolver qualquer atividade
nesse ambiente, passando a intuir os seus ex-parentes, amigos e conhecidos, na
suposição de que pratica uma boa ação ou por sentir prazer nessa atividade.
Essas intuições, se bem aceitas, fornecem estímulo
para outras, estabelecendo intensa coparticipação dos espíritos do astral
inferior com os seres encarnados. Quando isto acontece, o caminho para a
obsessão está aberto.
Os obsessores, sempre que a afinidade for intensa,
não se apartam da vítima, pelo prazer que têm de permanecer onde se sentem bem.
Quando a obsessão é provocada por espíritos que foram inimigos do obsedado na
Terra, a ação perturbadora é exercida com maior violência contra ele,
tornando-se mesmo comuns as crises furiosas.
A concepção da morte resulta de um conceito da vida
completamente errado. Na verdade ela jamais existiu. . O espírito é
imperecível. Por isso, não morre nunca. Será necessário repeti-lo?
Devem, portanto, as criaturas esforçar-se por
refazer-se, o mais depressa possível, do choque causado pela desencarnação de
parentes e amigos, para não se enfraquecerem espiritualmente.
Diz a sabedoria popular, com justa razão, que “o
que não tem remédio remediado está”. É perfeitamente inútil permanecer alguém a
lamentar uma situação passada. A preocupação deve estar voltada para o
presente, do qual depende o futuro.
Pensar – já se tem dito muitas vezes – é atrair.
Todos os que se prendem pelo pensamento a seres desencarnados estacionados no
astral inferior, não só os estão atraindo e perturbando mais, como retardando a
sua marcha para o mundo a que pertencem, estimulando-os a permanecer em contato
com as coisas terrenas, inclusive os problemas da vida familiar, e concorrendo
para torná-los obsessores.
Convém insistir: os espíritos que levaram, quando
encarnados, uma vida irregular, materializada e abundante de falhas, permanecem
no astral inferior, não raro por decênios, agindo perversamente contra os
encarnados. Sua preocupação é a intuição para o mal. Servem-se, para isso, de criaturas
de vontade fraca, que usam como instrumentos passivos para a consumação dos
seus crimes. Daí os homicídios, os suicídios e tantas outras calamidades
sociais.
Esses espíritos atuam isoladamente ou em falanges
obsessoras bem adestradas, para melhor alcançar os seus objetivos. Suas
organizações possuem vigias atentos escalados em vários pontos, prontos para
dar o sinal no instante preciso e promoverem a convocação de outros obsessores
para a ação em conjunto.
Como a união faz a força, obtêm geralmente
resultados satisfatórios sobre os encarnados desprevenidos e alheios às suas
tramas, ora obsedando-os, ora levando-os a cometer tresloucadas ações, com os
sentidos inteiramente perturbados.
Sem este esclarecimento não há quem possa fugir à
influência obsessora, nem impedir que forças externas interfiram nos seus atos
e em seu eu espiritual.
Só os esclarecidos, que têm consciência do valor
dessas poderosas forças que se chamam vontade e pensamento, são capazes de
manter à distância os obsessores.
Em vários capítulos desta obra estão claramente
indicados os caminhos que levam à obsessão – doença psíquica causada pelo mau
uso do livre-arbítrio, a vontade mal educada, os desregramentos sexuais, o
descontrole nos atos cotidianos, o nervosismo irrefreado, os desejos
insuperáveis, a ambição desmedida e o temperamento voluntarioso.
Ao fazer mau uso do livre-arbítrio, contraria o ser
humano as leis naturais que estabelecem normas de vida corretas, seguras e
apropriadas. Essa faculdade assegura a cada um o direito de conduzir-se por si
mesmo, com liberdade e independência de ação, como convém aos seres dotados de
raciocínio, mas torna-o responsável por todos os atos que pratica.
Com o raciocínio bem exercitado na solução dos
problemas que constantemente se apresentam, tendo sempre presente o aspecto
honrado da questão, todos podem manter-se dentro das regras de boa conduta,
fazendo assim uso adequado do livre-arbítrio.
Os que se afastam desse caminho fazem-no porque
querem, porque se deixaram enfraquecer, e o enfraquecimento enseja a atração de
espíritos do astral inferior que, em maior ou menor espaço de tempo, acabam por
produzir a obsessão.
A vontade mal educada provém da indolência, da
indiferença e da negligência para com as coisas sérias da vida. O indolente
está sempre à espera de que os outros façam o que ele próprio deve fazer. Não
gosta de horários e tem horror à disciplina. Inimigo do trabalho e da ordem,
nada faz pelo progresso.
Está, por isso, situado no plano dos parasitas.
Enquanto o mundo exige atividade, dinamismo e ação, o indolente observa o que
se passa sem vontade de participar ativamente do movimento que reclama a sua
presença.
Ninguém se pode eximir do dever de trabalhar e de
procurar no trabalho a verdadeira satisfação da vida. O Universo inteiro é uma
oficina de trabalho permanente, em que todos precisam ser operários ativos e
diligentes.
Os que assim não procedem ficam colocados
espiritualmente num plano inferior da vida, não passando de marginais, como
marginais são os espíritos do astral inferior com os quais, por força da lei de
atração, se associam.
Nos desregramentos sexuais estão os germes do
materialismo obsedante, cujos pilares são a luxúria e outros vícios. Subjugado
a esse estado, dá o ser humano expansão aos seus instintos animalizados,
proporcionando franco acolhimento aos espíritos do astral inferior, seus afins,
que concorrem para obsedá-lo.
Todos os atos cotidianos precisam ser executados
com critério e honestidade. A organização social obedece a um esquema cujos
traços principais definem a posição que os seres devem adotar no intercâmbio
das relações humanas, sem perder de vista o respeito próprio e o devido ao
semelhante.
Para esse fim, precisam ter controle nas suas
atitudes, domínio sobre si mesmos e o raciocínio em ação. O descontrole em atos
e palavras, além de gerar ofensas e, muitas vezes, arrependimentos, dá causa a frequentes
ressentimentos que custam a passar e criam antipatias e inimizades.
Os espíritos do astral inferior gostam de
aproveitar-se dos seres descontrolados e irritadiços que não pensam antes de
falar, para se divertirem com os efeitos de sua atuação.
Seres descontrolados são, pois, instrumentos do
astral inferior e, se não estão obsedados, caminham para a obsessão.
O nervosismo desenfreado traz a irritação, a
intolerância, a irreflexão e a imprudência – males que conduzem a deplorável
estado psíquico – pelo que deve ser severamente controlado, por ser o agente de
perturbação que mais facilita a atuação de espíritos obsessores.
O neurótico, de um modo geral, cuida pouco da saúde
e não se esforça por dominar os seus ímpetos. O resultado é estar sempre caindo
nas malhas insidiosas do astral inferior, seguindo o caminho desastrado da
obsessão.
Desejos insuperáveis são aspirações inatingíveis.
Há indivíduos de desmedida ambição que nunca se contentam com o que possuem.
Sempre queixosos, acham que merecem mais, vivendo em permanente estado de
insatisfação.
É perfeitamente racional – e até elogiável – que cada
um procure melhorar as condições de vida e não poupe esforços para alcançar
essa melhoria. Isso não se consegue, porém, com desânimo e lamúrias que só
servem para agravar as situações difíceis e debilitar as energias espirituais.
A ambição sem limites, associada à revolta íntima,
produz mau humor, do qual se aproveitam espíritos do astral inferior para atuar
sobre os revoltados, incutindo-lhes na mente os mais sombrios pensamentos,
capazes de os levarem à obsessão e, por via dela, a outros males.
A lei da atração não falha. Ao seu império, todos
estão sujeitos. O ser humano precisa compenetrar-se da transitoriedade das
coisas que pertencem à Terra. A escravização aos valores materiais, tão
facilmente perecíveis, além de atrasar a evolução espiritual, tem causado
muitos e muitos sofrimentos.
A ambição comedida é natural. A desenfreada, uma
forma de obsessão em que o egoísmo e a egolatria influem decisivamente. Os
ambiciosos e descomedidos não olham os meios para obter os fins: lesam, usurpam
e açambarcam. Domina-os a ideia obsessiva do ganho rápido, mesmo através de
manobras extorsivas ou escorchantes.
Para esses, não existem contemplações nem
meios-termos. A determinação é avançar. Arquitetam golpes ousados, pouco lhes
importando que eles firam os preceitos da moral e da honradez.
O mundo está cheio desses tipos que são, em grande
parte, a causa do seu desequilíbrio econômico. Eles estão divididos em dois
gigantescos blocos: um na Terra especulando e agindo com enorme desembaraço e
astúcia, e outro, igualmente ativo e astucioso, no astral inferior, composto de
desencarnados que procediam neste mundo como procedem os seus atuais parceiros
encarnados.
Os dois blocos, intimamente associados, gozam da
mesma volúpia que alimenta a obsessão de um e de outro.
O temperamento voluntarioso reflete a personalidade
egocêntrica dos que entendem que a razão está exclusivamente do seu lado, e
querem impor aos outros as próprias ideias.
Esses indivíduos estão frequentemente em choque com
os demais, mesmo que tais choques não sejam exteriorizados, e nada é mais
divertido para os espíritos do astral inferior do que assistirem aos choques
humanos. Isso assanha os obsessores. Como andam sempre à espera do momento
propício que lhes permita a atuação, o indivíduo voluntarioso vive marcado por
eles. A cada passo percebem o ensejo de armar um atrito. Na falta de outra
ocupação, esta, para eles, é absorvente.
O voluntarioso irrita-se facilmente quando o ponto
de vista alheio não coincide com o seu, tornando-se um fomentador de
contrariedades.
Não é preciso salientar o que essa forma de
obsessão – aliás, comuníssima – representa para os seres humanos.
Insidiosamente, vai ela penetrando, com lentidão,
no subconsciente, até tomar conta da criatura. Esta, não se apercebendo do
envolvimento de que está sendo vítima, não reage, não se opõe, não dá
importância ao mal que, por força do hábito, acaba por tornar-se lhe agradável,
facilitando o domínio dos obsessores que passam a ser mais atuantes, mais
violentos e difíceis de afastar.
Todo cuidado é pouco, e só o conhecimento de como
se processa a evolução assegura ao indivíduo as condições, os recursos, os
meios de defender-se da obsessão.
As atrações apaixonantes, pelo prazer e o impulso
convidativo com que impelem as vítimas para as suas cariciosas redes, são as
mais perigosas. Até os esclarecidos primários rolam, às vezes, por esse
despenhadeiro.
Ninguém se deve deixar abater. Há momentos na vida
em que os abalos morais – alguns de grande intensidade – sacodem,
impiedosamente, a alma humana. A esta, porém, não faltam forças para reagir e
dominar a situação, principalmente quando se apoia no conhecimento da vida real
e da Verdade. São esses conhecimentos as suas armas e os seus escudos mais
fortes porque, quando bem manejados, levam sempre ao triunfo.
Quantas e quantas vezes a simples partida de um
ente querido para o além – coisa tão natural na vida – conduz ao inconformismo,
à aflição e ao desespero!
Com isto o espírito desencarnado, não esclarecido,
se aflige, sofre, procura intuir para acalmar e, como não o consegue, acaba por
tornar-se obsessor, perturbando e levando à obsessão o intuído.
O melhor procedimento dos que ficam para com os que
partem é elevar o pensamento às Forças Superiores com firmeza e convicção,
envolvendo-os na ternura e no calor da irradiação amiga, para auxiliá-los a
romper a camada atmosférica terrestre e a seguirem para os mundos a que
pertencem.
Empenha-se o RACIONALISMO CRISTÃO em oferecer aos
seres humanos um roteiro seguro para uma vida sadia e evolutiva. É a finalidade
desta obra.
Grande parte da humanidade é vítima da obsessão,
exatamente por desconhecer os recursos, os elementos, os meios que tem ao seu
alcance para evitá-la ou livrar-se dela.
Alguns sintomas do estado inicial da obsessão podem
ser observados nos seguintes casos:
1) dar
risadas sem motivo ou a pretexto de coisas fúteis;
2) ter
cacoetes;
3) chorar
sem razão;
4) comer
exageradamente;
5) estar
sempre com sono;
6) sentir
prazer na ociosidade;
7)
exteriorizar manias;
8) ter ideias
fixas;
9) fazer
gracinhas tolas;
10) amofinar, persistentemente, o próximo;
11) repetir, mecanicamente, o mesmo dito;
12) deixar-se dominar por paixões;
13) ter prevenções descabidas;
14) ser casmurro;
15) adotar práticas viciosas;
16) gostar de ostentação;
17) ter explosões temperamentais;
18) mistificar;
19) dizer mentiras;
20) expressar-se licenciosamente;
21) revelar covardia;
22) usar palavrões;
23) demonstrar fanatismo;
24) gesticular e falar sozinho;
25) ser sistematicamente importuno;
26) ouvir e ver coisas fantásticas;
27) gastar acima do que pode;
28) ter mania de doença;
29) descuidar-se das obrigações no lar e no
trabalho;
30) abandonar os deveres caseiros, ausentando-se do
seio da família;
31) viver num mundo distante, sonhadoramente; e
32) provocar ou alimentar discussões.
Qualquer dessas atitudes, ainda mesmo quando não
constitua um estado de anormalidade mental adiantada, predispõe à obsessão.
Não é demais insistir neste ponto: a linguagem dos
espíritos desencarnados é o pensamento. Pelo pensamento identificam eles os
sentimentos das criaturas, as suas intenções e tendências, e disso se
prevalecem os obsessores para estimular, pela intuição, os vícios e as
fraquezas humanas.
Por higiene mental, não se deve pensar em
intrigantes, caluniadores, desafetos e, em geral, nas pessoas de maus
sentimentos.
Pensar em tais seres é ligar-se à sua má
assistência espiritual, receber influências malignas e correr o risco de
avassalamento.
A desobsessão é feita, com melhores resultados, nas
correntes fluídicas organizadas pelo Astral Superior nas Casas Racionalistas
Cristãs. Nas sessões públicas de limpeza psíquica que se realizam no Centro
Redentor e nas filiais e correspondentes do Racionalismo Cristão, o obsedado
fica em cadeira adequada sentado à mesa das sessões (um de cada lado do fecho)
rodeado por três esteios. Estes, cautelosamente, o observam, aplicando-lhe a
disciplina do sacudimento. De quando em vez, dão-lhe a beber um pouco de água
fluidificada.
O sacudimento tem por fim facilitar o
arrebatamento, pelos espíritos do Astral Superior, ali presentes, do obsessor
do corpo do obsedado. O obsedado frequentemente estrebucha na cadeira,
revelando a ação do obsessor, que se obstina em não deixar a vítima. Sendo
necessário, atam-se à cadeira os pés, as mãos e a cintura do obsedado, para
evitar que se machuque com as contorções violentas que algumas vezes faz.
Os esteios irradiam, confiantes, para melhor
reforçar a corrente fluídica e facilitar a ação desobsessora. Enquanto isso, a
sessão prossegue com serenidade e segurança, não dando nenhum dos auxiliares, a
partir do presidente, a menor importância a reclamações ou protestos que o
obsedado faça. Depois que o obsessor é arrebatado, o obsedado se acalma,
sentindo profunda prostração, em virtude da perda de vida anímica que lhe foi
sugada pelo obsessor.
O obsedado, porém, ainda não está bom. A
desorganização celular provocada pelo obsessor foi grande, e há necessidade de
retornar o equilíbrio às unidades desajustadas do organismo. Nesse estado, se
não puder contar em sua casa com pessoas que o assistam, aplicando a disciplina
e a correção aconselhadas pela filosofia espiritualista do Racionalismo Cristão, está sujeito a atrair outro obsessor,
entre os milhões que existem na superfície da Terra e em sua atmosfera,
dificultando ou impossibilitando a sua normalização.
No entanto, se as pessoas da casa ajudarem, fazendo
as irradiações em torno do obsedado, duas vezes ao dia, no intervalo de cinco
minutos, sacudindo-o, durante essas irradiações, rapidamente se operará a sua
desobsessão, se o estado de inquietação do enfermo não tornar necessárias
outras disciplinas.
Os obsedados alimentam, em regra, os desejos dos
obsessores, que são de comida forte e excitante, razão pela qual lhes deve ser
ministrado, durante o tratamento, um regime alimentar de convalescente, que os
obsessores detestam.
Não se deve esquecer que os espíritos da camada
mais baixa do astral inferior conservam os mesmos costumes e vícios que tinham,
quando encarnados. Assim, para alimentarem as exigências do seu eu
materializado, que intensamente sentem, apegam-se e unem-se fortemente aos
encarnados afins que os possam saciar, ainda que ilusoriamente. No tratamento
da obsessão, esta particularidade não pode ser esquecida.
Os obsedados devem continuar o tratamento até
ficarem normalizados, comparecendo regularmente às sessões públicas de limpeza
psíquica praticadas nas Casas Racionalistas Cristãs, onde se lhes aplica a
disciplina já descrita.
Ali vão ouvindo as orientações e, não obstante o
seu estado ainda de perturbação ou de desajustamento, alguma coisa do que ouvem
fica gravada no seu períspirito, produzindo efeitos benéficos. Os seus
acompanhantes também vão adquirindo, por esse meio, conhecimentos que os
habilitam a prosseguir no tratamento da desobsessão em casa.
Os milhões de obsessores que povoam o astral
inferior têm, cada qual, as suas preferências e escolhem as vítimas encarnadas
de acordo com a afinidade que por elas sentem ou os sentimentos que os animam
com relação a essas mesmas vítimas. Os pensamentos afins são sempre o ímã de
atração.
Há os que gostam de bebidas alcoólicas, os que
foram gastrônomos e continuam com o mesmo vício, e os fumantes e escravos de
outros hábitos viciosos, todos empenhados em satisfazer os seus intemperados
desejos. As vibrações harmônicas do obsessor e do obsedado conjugam-se,
fundem-se, ajustam-se e se encaixam de tal maneira uma na outra que se torna
difícil a separação.
A desobsessão de um ser rancoroso e vingativo é
sempre problemática porque, alimentando o ódio e malquerença, revela grande
inferioridade espiritual, com cujo sentimento se torna um associado permanente
dos espíritos inferiores. Em tais casos a enfermidade passa a ser incurável,
desde que o livre-arbítrio da criatura continue a ser empregado para o mal.
Depois de desobsedado, limpo psiquicamente, é
preciso fortificar não só o seu espírito, mas também o corpo, danificados ambos
pelos maus fluidos e grande perda de energia anímica, o que se consegue pela
reeducação da vontade e disciplina de pensamento.
O bom êxito desse segundo período de desobsessão é
mais difícil de ser alcançado, por depender da reeducação da vontade do
normalizando e da reação contra novas obsessões. Os vícios provocados pelos
obsessores ficam tão arraigados em seu espírito que só os deixa a muito custo.
Sob a influência desta disciplina, começa o normalizando a raciocinar e a
dominar os vícios próprios e aqueles que foram desenvolvidos pelos obsessores,
e, quando se lhe tornar fácil esse domínio, não mais se deixará obsedar.
A normalização das crianças se fará desobsedando e
esclarecendo os pais e as demais pessoas com quem convivem, levando-as,
assiduamente, às correntes fluídicas das Casas Racionalistas Cristãs.
As crianças também se normalizam com a mudança de
ambiente, quando retiradas do meio onde agem os espíritos do astral inferior,
atraídos pelos vícios e maus pensamentos dos adultos, para outro em que o viver
ameno seja pautado pelos princípios que esta obra explana.
Todo o Universo é regido por leis comuns e
naturais. Tais leis, das quais deriva o conhecido axioma “conforme o ser
pensar, assim será”, são imutáveis, e dentre elas faz-se especial menção à que
regula a ação do pensamento.
Uma vez reconhecida essa verdade, isto é, a
importância do pensamento como poderosa força de atração tanto do bem quanto do
mal, deve a criatura, em seu benefício e no daqueles com quem convive, nortear
a sua vida de modo a pôr em prática os conhecimentos adquiridos.
Para isso precisa adotar, como regras normativas de
conduta, os princípios racionalistas cristãos que melhor se ajustem às
ocasiões, para obter êxito em seus empreendimentos e ter boa assistência
espiritual.
Alguns, dos mais importantes, podem ser assim
resumidos:
1)
fortalecer a vontade para a prática do bem;
2) cultivar
pensamentos elevados em favor do semelhante;
3) estender
o seu auxílio a quem dele necessitar, quando os meios e a oportunidade o
permitirem, mas não contribuir para sustentar a ociosidade e os vícios de quem
quer que seja;
4) manter o
equilíbrio das emoções na análise dos fatos, para não afetar a serenidade
necessária;
5)
conduzir-se respeitosamente na linguagem e nas atitudes;
6) ter
consideração pelo ponto de vista alheio, principalmente quando manifestado com
sinceridade;
7) eliminar
do hábito comum a discussão acalorada;
8) não
desejar para os outros o que não quer para si;
9) combater
a maledicência;
10) não se ligar pelo pensamento a pessoas
maldosas, perturbadas e inconvenientes;
11) exercer o poder da vontade contra a irritação;
12) adotar, como norma disciplinar, o hábito sadio
de somente tomar decisões que se inspirem no firme propósito de fazer justiça,
agindo, para isso, com ponderação, serenidade e valor;
13) repelir os maus pensamentos;
14) usar de comedimento no falar, vestir,
trabalhar, dormir, alimentar e recrear;
15) não se descuidar com a polidez e a
pontualidade, por serem estas reflexos da boa educação;
16) impor às exigências da vida disciplina mental e
física;
17) esquecer-se de quem tenha praticado ofensas,
traições e ingratidões;
18) desviar do seu convívio social aqueles que não
possuam envergadura moral;
19) reduzir ao tempo mínimo possível o contato que
interesses materiais o obriguem a manter com pessoas inidôneas, esquecendo-as
em seguida;
20) cultivar permanentemente o bom humor, por meio
do qual as células orgânicas recebem influências salutares;
21) promover, por todos os meios, inclusive os
espirituais, a longevidade, atenta a criatura ao princípio de que a saúde do
corpo depende do bom estado da alma;
22) dedicar-se integralmente à segurança e à
estabilidade do lar;
23) conservar em plena forma a higiene mental e
física; e
24) apurar ao máximo o sentimento fraternal da
amizade para com as pessoas de bem, com a finalidade de intensificar a corrente
harmônica afim do Planeta, em benefício comum.
Como duas são as correntes que envolvem o Planeta –
uma do bem e outra do mal – o ser humano terá que vibrar em harmonia com uma ou
outra, não podendo ficar neutro. É lógico e sensato que se muna dos preciosos
requisitos que o mantenham ligado à corrente do bem.
Terminada a leitura deste livro, impõem-se ao
leitor algumas perguntas. Como se comportará diante dos esclarecimentos que recebeu?
Estará disposto a recapitular as suas partes mais importantes, pelo menos para
penetrar, para apreender, para sentir melhor ainda a vida e os princípios, as
leis, os fundamentos pelos quais ela é regida? Terá dado a esta obra a
importância, o valor, o apreço que lhe são devidos? Irá mantê-la na mesa de
cabeceira, para consulta diária, ou a relegará, como qualquer romance que tenha
lido para passar o tempo, ao esquecimento, no fundo da estante?
O mal maior do mundo reside, precisamente, na
indiferença com que os problemas sérios da vida são tratados. A mente, que
tanto evolui com o exercício constante do raciocínio, é pouco solicitada pelos
seres humanos, por estarem estes habituados a aceitar, sem maior exame,
explicações que nada explicam a respeito dos porquês da vida, porque o
obscurantismo religioso, impotente para prestar qualquer esclarecimento sério,
diz aos seus adeptos serem misteriosos e impenetráveis os decretos divinos que
a regulam.
Não há no RACIONALISMO CRISTÃO – é bom insistir –
interesses de natureza material a proteger. Dirigentes e auxiliares das Casas
Racionalistas Cristãs vivem do produto do seu trabalho honrado. Nelas aprendem
a disciplinar a atividade material e a espiritual, para que uma não colida com
a outra, e sentem-se felizes por poderem prestar ao semelhante uma contribuição
que também receberam quando tiveram a felicidade de entrar em contato com o
RACIONALISMO CRISTÃO.
Estarão os seres humanos em condições de assimilar
os ensinamentos desta Filosofia Espiritualista, para pô-los em prática no seu viver cotidiano?
Claro que não. A maioria não admite, ainda, a vida sem proteção. Um Universo
regido por leis naturais que a ninguém especialmente distingue, nem concedem
privilégios ou favores a quem quer seja, é difícil ser concebido por aqueles que
trazem gravada na retina a imagem mental dos deuses e santos que povoaram a sua
infância, levados pelas mãos dos pais ou preceptores.
Diz-se que os tempos são chegados para o despertar
da humanidade. Observa-se, porém, uma acentuada prevalência dos valores
materiais sobre os espirituais.
A juventude começa a repelir – e com razão – a ideia
do céu e do inferno num Universo que a pesquisa científica se empenha em
desvendar. E ao observar o logro multissecular de que tem sido vítima, com
facilidade se deixa influenciar pelas perigosas seduções do materialismo ou das
superstições místicas, correndo o risco de substituir um mal menor por outro
maior.
Poderá o leitor imaginar como seria o mundo atual
se os templos de todas as religiões, ao invés de ensinarem a pedir, a rezar e a
adorar, ministrassem aos seres humanos os esclarecedores princípios contidos
nesta obra para uma vida sã e eficiente?
Será capaz de fazer ideia do que significaria para
a humanidade a transformação desses templos em escolas de alto espiritualismo?
Aprender o ser humano a confiar em si mesmo, na
ação da vontade e na força prodigiosa, imensurável do pensamento, eis o
principal problema da vida!
Como se desenvolveria nele a capacidade criadora! E
com que esplêndido material contaria para o aprimoramento dos atributos morais
e de uma personalidade reta, conscienciosa, indobrável e viril!
* * *
Os erros do sectarismo religioso relacionados com a
vida espiritual, por terem raízes muito profundas, não são fáceis de extirpar.
Atente-se para o fato de haverem eles gerado ódios
tão grandes entre os homens que os têm levado a cometer, uns contra os outros,
as mais estarrecedoras violências e atrocidades.
Somente o conhecimento da vida espiritual, e da
origem comum de todos os seres, dará ao homem forças para abrir novos
horizontes na Terra, através dos quais a humanidade poderá encontrar os
caminhos que a levarão às sonhadas paz e fraternidade e à construção de um
mundo só.
É voltado para o mais alto interesse humano que o
RACIONALISMO CRISTÃO trabalha.
Esta obra foi escrita unicamente com esse objetivo.
Esperamos que os leitores estejam em condições de absorver os seus utilíssimos
ensinamentos.