A chave da sabedoria
Fernando
Faria
ÍNDICE
Agradecimentos
Prefácio
Um breve parecer
Comentário
Aos jovens leitores
Introdução
1. O Universo I
2. O Universo II
3. O Universo III
4. A evolução I
5. A evolução II
6. A evolução III
7. Raça I
8. Raça II
9. Raças III
10. O cristianismo I
11. O Cristianismo II
12. As nossas duas vidas
Agradecimentos
Agradeço a todas as criaturas que, direta ou
indiretamente, colaboraram com a edição deste livro. Especialmente à minha
esposa, Sonia Paronetto Faria, que pacientemente revisou este livro, sugerindo
muitas vezes mudanças na redação para simplificar o texto, pois frases muito
científicas poderiam dificultar o entendimento dos jovens estudantes.
Agradeço também ao nosso
Presidente, Sr. Ulisses Claudio Pereira, que me incentivou e apoiou a
elaboração deste livro, bem como ao Dr. Humberto Machado Rodrigues, Presidente
Internacional do Racionalismo Cristão, e seu filho Dr. Humberto Cottas
Rodrigues, os quais, apesar dos seus inúmeros afazeres, prontificaram‑se a ler
os originais e nos brindar, o primeiro, com um lisonjeiro "Prefácio"
e, o segundo, com um simpático "Um Breve Parecer".
Não posso deixar de mencionar e
agradecer o "Comentário" sobre este livro, escrito pelo nosso
Procurador, Dr. Firmino da Silva, e o interesse pela publicação desta obra
demonstrado pelos Companheiros Diretores, Senhores Cid Barroca, Eduardo Antunes
Rodrigues, Arnaldo R. Villar Filho e pelo nosso conceituado Prof. Antonio José
Ferreira.
Também estendemos nossos
agradecimentos a Paolla Mariz da João Scortecci Editora pela revisão, pelas
sugestões e pelo trabalho meticuloso de editora
O Autor
Prefácio
Nesta oportunidade não poderíamos
deixar de manifestar o nosso sensibilizado agradecimento ao Sr. Fernando Faria
pela nímia gentileza em nos convidar para prefaciar o livro de sua ilustrada
autoria, A Chave da Sabedoria.
Assim sendo, aqui estamos perante os prezados
leitores para lhes transmitir com satisfação espiritual conceituações básicas
sobre essa alentada obra.
Inicialmente, dir-se-ia algo sobre o cativante título do
excelente trabalho ora enfocado. O referido título, segundo informações do
próprio autor, foi escolhido pelo Presidente do Centro Redentor, Filial de
Santos, SP, e nosso grande amigo, Sr. Ulisses Claudio Pereira, escolha essa de
rara felicidade. Aliás, convém ressaltar, as obras editadas pelo Centro
Redentor (Racionalismo Cristão), todas, sem exceção, apresentam como grande
característica uma titulagem consideravelmente expressiva, significativa e
sugestiva como, por exemplo, Trajetória
Evolutiva, A Morte Não Interrompe a Vida, A Felicidade Existe, Ao Encontro de
uma Nova Era, Vibrações da Inteligência Universal e muitas outras.
O título de A Chave da Sabedoria não
foge a essa regra geral. Em termos de uma dissecação filosófica, A Chave da .Sabedoria encerra divagações
de profundidade que, envoltas nos postulados espiritualistas do Racionalismo
Cristão, impõem-se num posicionamento totalmente refratário aos simulacros de
filosofias muito próprios das seitas místicas e dogmáticas de fanáticos e
sectários.
Um grande número de pensadores,
filósofos e mentalistas de todas as épocas, desde os primórdios das
civilizações, nos tem apresentado sempre uma chave da Sabedoria. O que dizer
então de um Sócrates ou um Platão, há cerca de 300 anos antes de Cristo!?
Sócrates com uma filosofia embasada no Conhece‑te
a ti mesmo e Platão com a sua famosa República!
Cada um dos grandes mentalistas
autênticos nos apresenta as suas chaves da Sabedoria.
Mas, e o Racionalismo Cristão?! Esta doutrina nos
prodigaliza o esclarecimento espiritual e espirítico em toda a sua
autenticidade, cujos conhecimentos proporcionam aos seres humanos as condições
precípuas que lhes permitem a obtenção da chave da Sabedoria. Sob este enfoque
podemos conceituar:
¾
Sabedoria: o conjunto de conhecimentos que permite à criatura humana a
conquista de uma postura exemplar destinada ao aproveitamento máximo, no
sentido positivo, de uma transitória vida física.
¾ Chave:
o instrumento espiritual conquistado pela Sabedoria, através do qual
conseguimos abrir as portas para penetração nessa mesma sabedoria.
Cumpre ainda enfatizar que, no livro ora prefaciado,
essa chave da Sabedoria é oferecida à Juventude Racionalista com rara maestria.
Numa linguagem acessível à faixa etária dos jovens, em conceituações admiráveis
através de seus capítulos sobre o Universo, a Evolução, as Raças, o Cristianismo
e as Duas Vidas, a obra coloca à disposição da Juventude Racionalista os
conhecimentos basilares da filosofia espiritualista do Racionalismo Cristão.
Eis o grande mérito do ilustrado
autor, Sr. Fernando Faria.
Se o jovem leitor, ao ler esta obra, sentir entusiasmo e
interesse pelo Racionalismo Cristão, ele estará preparando a estrutura de sua
personalidade para se constituir, como homem esclarecido, no racionalista
cristão vindouro. Assim se fazendo, ter-se-á cumprido o nobre e sublime desideratum
de um livro destinado a preparar espiritualmente o jovem racionalista do
presente para se tornar no racionalista amadurecido do futuro.
Humberto Machado Rodrigues
Um breve parecer
Como todos sabemos, o
Racionalismo Cristão existe desde 1910. Passados todos estes anos, inúmeras e
valiosas obras explicaram e dissertaram sobre diversos temas referentes à
filosofia explanada por esta doutrina. No entanto, na Literatura Racionalista
havia uma grande carência de obras destinadas ao público infanto-juvenil
contendo explicações sobre o Racionalismo Cristão ou sobre temas diversos
analisados de acordo com a óptica racionalista, concedendo-se exceção,
obviamente, para o livro Contos Morais,
escrito por nossa querida e estimada Maria Cottas com edições desde outrora
publicadas.
Preenchendo esta lacuna, para
imensa alegria e satisfação de todas as comunidades racionalistas, nosso grande
amigo, Sr. Fernando Faria, presenteou-nos com A Chave da Sabedoria. Trata-se
de uma obra de valor incomensurável, tendo em vista que não somente ensina às
crianças e aos jovens em geral os valores e princípios do Racionalismo Cristão,
como também enriquece o jovem leitor com vastos temas de cultura geral,
abrangendo noções de História, Física, Astronomia, Ciências Biológicas, dentre
outras, de forma a impossibilitar que a leitura se torne enfadonha para o
público alvo. Além disso, tem o mérito de expor os conceitos de religiões
difundidas, como o Cristianismo e diversas correntes do Espiritismo,
incentivando o jovem racionalista a ser racionalista, não apenas por achar sua
doutrina aceitável, mas também por enxergar a sua elevação e grandiosidade
diante de várias outras correntes de pensamento, libertando‑o de uma acidental
formação alienante.
É bem verdade que outras
iniciativas de estímulo ao jovem para conhecer melhor o Racionalismo Cristão
têm sido feitas, conforme é observado nos trabalhos de associações culturais,
salas de crianças e no jornal Juventude
em Ação, brilhantemente conduzido por nossa incansável amiga Ana Maria
Pacheco, além de outros “jornaisinhos” que já vêm sendo realizados em outras
filiais.
Somando-se a tudo isto faltava
uma obra como a que se encontra contida em A
Chave da Sabedoria. Podemos assim
dizer, trata‑se de um livro capaz de ensinar ao jovem os princípios básicos da
Doutrina Racionalista e de incentivá‑lo a se aprofundar nestes ensinamentos,
além de provocar estímulo para o hábito da leitura e aumento dos conhecimentos
gerais através do estudo. Basta começar a ler A Chave da Sabedoria para sentir isso e viver a paz e a alegria da
fazenda do Vô Mário, ouvindo os sábios contos do Tio Marcos. É um livro
destinado aos mais jovens, porém, sem dúvida, também agradável para leitores de
qualquer idade.
Enfim, terminamos agradecendo com
imensa satisfação aos grandiosos Senhores Ulysses Claudio Pereira, pela iniciativa
incentivadora, e Fernando Faria, pela elaboração desta valiosa obra, que passa
a ser de fundamental importância para a Literatura Racionalista Cristã.
Humberto Machado Rodrigues
Comentário
A Chave da Sabedoria leva, de forma afável, conhecimentos aos
jovens que estão cursando o 1° ou o 2° grau do ensino oficial brasileiro,
demonstrando perfeita sintonia entre a história, com todos os fatos que a
compõem, e a ciência espiritualista, com profundeza e ecletismo.
A forma como o autor conduziu o estudioso a ler esta
obra sem sentir deve‑se à clareza admirável, levando o leitor adolescente a uma
ordem de idéias, que se torna irresistivelmente fascinante quando dá as suas
explicações científicas. Aproveita a oportunidade para conduzir o leitor jovem
à luz da ciência espírita, onde analisa e expõe a origem da ciência, a sua
natureza e a evolução da alma, a criação da matéria, o papel dos átomos e
células, a formação dos seres, a força psíquica etc., e uma série de temas interessantes,
proporcionando aos jovens e adultos utilíssimos conhecimentos, numa linguagem
clara, simples e persuasiva, dirigida ao seu raciocínio.
À medida que vamos nos
assenhoreando dos conhecimentos sobre a vida no universo, a evolução, a raça e
o cristianismo, que nos levam ao raciocínio da ciência de forma metódica,
desdobra‑se novo panorama da maneira como explicar, dentro de um ambiente
pitoresco, evocado nas paisagens e fatos da velha fazenda, para onde nos
transportamos nas imagens fornecidas pelo autor, com todos os personagens que
compõem aquele ambiente, numa linguagem conhecida de seus numerosos
admiradores.
Existe aqui a demonstração
eloqüente da capacidade e brilho com que o nosso querido companheiro Fernando
Faria teceu A Chave da Sabedoria, com a sua indiscutível boa vontade de
esclarecer seu semelhante, que abrange, na sua pesquisa, setores científicos
por muitos ignorados.
Firmino da Silva
Advogado Procurador e Diretor do
Centro Redentor
Filial de Santos
Aos jovens leitores
Breves palavras a respeito
desta obra, dedicada a eles.
Este livro não foi programado pelo autor. Foi sim
“encomendado” pelo Sr. Ulisses Claudio Pereira, Presidente do Centro Redentor,
Filial de Santos, SP, e nosso amigo.
Embora faltasse na Biblioteca
Racionalista uma obra para os jovens estudantes, ela ainda não estava nos
planos do meu marido; mas, deduzo eu, já estava nos planos do Astral Superior.
Senão vejamos:
Quando o Sr. Ulisses pediu, ou melhor, comunicou ao
Fernando que havia obtido do Dr. Humberto Machado Rodrigues, nosso Presidente
Universal, a permissão para publicar um livro para jovens, ele ficou atônito.
Posso dizer mesmo que ficou completamente perdido a princípio. Dizia ele que
não tinha a menor idéia do que escrever e de como escrever para jovens, pois nunca
o havia feito antes.
Foi então que, para ajudá-lo a
achar um começo, lembrei-lhe as conversas que ele mantinha nos serões da
fazenda do meu irmão, em Goiás, quando após o jantar, até a hora de dormir,
nossos sobrinhos e demais parentes faziam-lhe perguntas sobre Espiritualismo,
sabedores de que ele era um estudioso do assunto. Sugeri, então, que fizesse
como na fazenda. Contasse histórias para um grupo de jovens estudantes curiosos
e, no meio delas, fosse passando casualmente os ensinamentos racionalistas em
doses homeopáticas. Não falamos mais no assunto por algum tempo.
Eu o via sempre escrevendo a
máquina, em qualquer hora do dia ou da noite. Muitas vezes, eu acordava de
madrugada e ele não estava na cama e escutava lá embaixo, no escritório, o martelar
da máquina de escrever. Quando lhe perguntava como ia indo o livro, ele me
respondia:
¾ Está saindo.
Até que certa manhã encontrei-o
com um ar de deslumbramento no rosto!
¾ O que foi? Viu passarinho
verde? brinquei.
¾ Mais ou menos ‑ respondeu
ele. Você quer saber de uma coisa? Estou boquiaberto! As idéias estão fluindo
com uma facilidade espantosa! Às vezes eu acordo lá pelas 3:30h com tudo
direitinho na minha cabeça. É só escrever. Agora, o que mais me impressiona é
que todos os assuntos se encaixam, uns aos outros, perfeitamente!
¾ Mas é claro que assim é! ‑
respondi. Você se esquece de que está falando sobre uma ciência? Na ciência
tudo se encaixa naturalmente. Além do mais, lembre-se de outra coisa muito
importante: a assistência do Astral Superior! Ou você pensa que está nessa
empreitada sozinho?
Realmente, na minha modesta e
suspeita opinião, esta foi mesmo uma obra inspirada. Fernando conseguiu fazer
dela um pequeno compêndio de grandes conhecimentos científicos, desde os mais
antigos aos mais atuais. E o que é mais importante: conseguiu estabelecer, de
maneira suave e compreensível, a relação desses conhecimentos com os Princípios
Racionalistas Cristãos.
Bem, meus jovens estudantes da
Verdade, a sua obra aí está. Espero que a assimilem e aproveitem. Julguem‑na
por si mesmos.
Sonia Paronetto Faria
Introdução
Daqui de cima, perto da estrada e junto da porteira,
divisa-se lá em baixo a casa-grande, passando antes pelo pasto de capim-gordura
que margeia os dois lados da estrada após a porteira, e depois pelo lago
represado, sempre cheio de patos e marrecos. Cerca a casa-grande um arvoredo
exuberante constituído por muitas mangueiras, jabuticabeiras, cajueiros,
abacateiros, bananeiras, coqueiros, tamarindeiros, jaqueiras, pequizeiros e um
laranjal florido, cujo perfume é trazido pela brisa matinal.
Ah! Não há nada que se compare ao
perfume das laranjeiras floridas, logo de manhãzinha. Só quem já sentiu pode
saber!
Mais lá embaixo, avistam-se as
benfeitorias da fazenda: currais de confinamento, casa da ordenha, galpão dos
tratores e dos implementos, paiol de milho e fábrica de ração. Entre a
casa-grande e as benfeitorias fica a vila dos peões. Ao lado, uma grande
pastagem de capim-colonião, repleta de vacas leiteiras e seus bezerros.
Chama a atenção o céu muito azul,
cheio de nuvens brancas, colossais, espalhadas até o fim do horizonte.
Ao amanhecer, ainda com o brilho
da Estrela-d'alva, começa a lida na cozinha. Então, a atmosfera fica impregnada
de uma deliciosa mistura de cheiros e aromas: de fumaça da lenha queimada nos
fogões, de café coado, de biscoitos assando, de mato e capim molhado pelo
orvalho e do perfume delicioso das flores de um pé de jasmim, esparramado sobre
o caramanchão que há numa varanda junto à cozinha.
O relevo da fazenda é plano, embora
sejam freqüentes os morros isolados e muitos chapadões dominem a paisagem. De
um desses morros, nasce um rego d'água cristalino, represado junto à
casa-grande. Dessa represa sai uma tubulação de água, canalizada para uso geral
da propriedade, abastecendo currais, chiqueiros, galinheiros, horta, pomares e
jardim. Nessa represa, há grande quantidade de peixes, como lambaris, carás e
traíras, que fazem a alegria da meninada. Os pescadores mirins ficam com as
suas varas de pescar, concorrendo com os martins-pescadores, muito abundantes
na região, de plumagem brilhante, os quais vivem mergulhando com rapidez para
apanhar os peixes que se aventuram a subir à tona.
Nesse lago represado, um longo
trecho das margens é formado por lajes naturais de pedra amarelada, entre as
quais se espalham centenas de pés de coqueiro-amargoso, constituindo um
guarirobal abundante, cujos palmitos entram em vários pratos da cozinha goiana.
Em relação à vegetação, o
cerrado, por ser constituído de um solo arenoso e ácido e não ter muitos dos
nutrientes necessários ao crescimento das plantas, faz com que predominem na
região árvores baixas de galhos e troncos retorcidos. Possuem cascas grossas e
folhas duras, carnudas e peludas. As árvores nativas nascem umas distantes das
outras e entre elas crescem arbustos e capim.
Os horizontes da fazenda são
largos, com campos abertos e ventos circulantes, “ventos que virão”, conforme o
poeta Guilherme de Almeida escreveu no brasão do Distrito Federal, Brasília.
Na fazenda passa o Rio Corumbá. É
ainda cortada por vários cursos d'água afluentes. Acompanhando os cursos
d'água, a vegetação, espessa e abundante, forma vários capãos de mato redondo,
pequenas florestas com matas de cocais, onde predominam os coqueiros babaçu e o
buriti, este último abundante nas áreas alagadas.
A atividade econômica da fazenda
é a pecuária de corte. Vô Mário compra garrotes das raças nelore, gir ou
guzerá, todos de sangue zebu, para engorda-los estabulados. A ração para esses
animais é produzida na própria fazenda.
No terreiro da fazenda, andam
soltas muitas galinhas, frangos caipiras, galinhas garnisés, galinhas-d'angola,
perus, patos, marrecos e galos. Os galos, todos músicos, começam a sinfonia ao
amanhecer, acompanhados pela passarada no arvoredo.
Quando o sol desponta, de um
enorme eucalipto, uma árvore velhíssima com mais de oitenta anos, que fica
junto à entrada da casa-grande, exala um agradável perfume de óleo de eucalipto
que, em se inalando, proporciona o refrescar dos brônquios. Em seus galhos a
passarada pousa às dezenas. Bandos de ruidosas maritacas, periquitos e
joões-de-barro, de peito vermelho, todos em coro, num cantar alegre,
assemelham-se ao alarido, à algazarra da criançada brincando na hora do
recreio.
A fazenda possui luz elétrica,
água potável de poço artesiano, telefone, televisão com antena parabólica e
água encanada fria e quente, sendo a água quente obtida através de uma
serpentina embutida no fogão a lenha da cozinha.
Toda a criação de terreiro,
inclusive a criação de leitões para consumo da casa, é cuidada por Severo,
agregado que acompanha vô Mário há muitos anos. Severo é um mulato sorridente,
prestativo e obediente, que se gaba de ter dado banho nas filhas de vô Mário
quando elas eram criancinhas. Ele adora os netos de vô Mário. Faz tudo que pedem
e tem o maior cuidado em escolher e arrear os cavalos para os meninos.
No meio da criação, solto no
terreiro, andando por toda parte, há um peru pouco domesticado. Estranha as
pessoas e sai correndo atrás de quem estiver vestindo camisa colorida. Lá existe
também um cachorro grande, marrom-claro, mestiço de fila brasileiro, que se
chama Brilhante. Amigo de todo mundo, se alguém o manda rir, ele levanta o
lábio superior e mostra os dentes. Tem-se a impressão de que está rindo mesmo.
Quando o peru sai correndo atrás de alguém, é ele quem dá um chega-pra-lá no
peru, fazendo-o desistir das suas perseguições.
Também existe um carneirinho que
anda pelo meio da criação. É Severo quem o está criando na mamadeira, pois a
mãe o rejeitou. O carneirinho acompanha Severo como se fosse um cachorro. Basta
chamá-lo e ele vem correndo e balindo.
Contornando a beirada da varanda
da cozinha, existe um rego d'água canalizado, que corre a céu aberto, mais ou
menos na altura da cintura de uma pessoa, cuja água é utilizada para lavar os
“trens de cozinha”, como diz a Dona Maria, cozinheira fina do trivial goiano,
autoridade em pratos típicos, como arroz com pequi, galinha com arroz, pamonha
de sal, frango com açafrão, feijão frito, arroz com macarrão, pastéis, arroz
com suã, guariroba ensopada, caldo de mocotó, arroz de forno, macarrão com
batata e açafrão, quibebe de mandioca etc. Dona Maria também entende de
quitandas mil: broas, roscas, biscoitos, mamão ralado com coco, doce de laranja
da terra, compota de frutas, pé-de-moleque, doce de leite etc.
As vias de acesso à fazenda, as estradas vicinais
até Goiânia e a BR‑050, que liga Brasília-São Paulo, são todas asfaltadas,
sinalizadas e muito bem conservadas, graças ao Presidente Juscelino Kubitschek
de Oliveira (1902-1976) e ao Governador do Estado de Goiás Íris Rezende.
A entrada da fazenda é murada,
com porteira e mata-burro, destinados a impedir a passagem de animais. Tudo é
pintado de branco. A estrada que liga a entrada à casa da fazenda corre por
baixo de um túnel de flamboyants,
todas árvores com ramagens altas e engalhadas, ladeadas por buganvílias e ipês‑amarelos.
Era o início do mês de julho.
Nesta época do ano, as filhas do vô Mário, com os respectivos maridos, filhos e
filhas, vinham passar as férias na sua fazenda de Goiás, localizada numa região
dominada pelo mesmo cerrado do Planalto Central que se estendia até a cidade de
Catalão. Com que alegria as crianças, quatro rapazes e três meninas, passavam
as férias na fazenda. Viviam em São Paulo e Goiânia, morando em apartamentos.
As idades dos meninos variavam de 10 a 16 anos. Levantavam-se cedo, apesar do
friozinho, e iam tomar leite no curral, tirado na hora, quentinho, cheio de
espuma. Depois voltavam para casa e encontravam a mesa posta e tomavam um café
reforçado. Terminado o café, sumiam pelos pomares, pastos, plantações, várzeas
e pelas beiradas do rio. Somente retornavam na hora do almoço, ao meio-dia,
mortos de fome e queimados de sol. Almoçavam e desapareciam novamente.
As meninas eram duas. Uma com 11
anos e outra com 12. Ficavam brincando de casinha com outras meninas, filhas
dos empregados, numa área de chão batido, junto a uma mangueira, pós de
jabuticaba, tamarindo e araticum, onde vô Mário construiu uma casinha de
verdade, contendo sala mobiliada, cozinha com fogão e alpendre. Neste local
também colocou gangorras, balanços e escorregadores.
Todos sentavam-se à mesa
exatamente às 19 horas. Os horários das refeições eram rigorosamente cumpridos,
por exigência do dono da casa, que não abria mão dessa disciplina, desde quando
vó Marione era viva. Às 18 horas as crianças começavam a tomar banho e se
vestir para o jantar, tomando cada um o seu respectivo lugar à mesa. Somente
após o jantar é que podiam assistir à televisão.
Dois dias depois da chegada dos
netos, durante o jantar, a luz apagou. Foi um descontentamento geral. Vô Mário,
empunhando uma lanterna a pilha, foi à dispensa, juntamente com Marquinho, o
neto mais velho, buscar lampiões a gás, destes que se usam em camping, cuja luz era produzida por uma
camisa que se acendia, irradiando luz intensa, cujos lumens chegavam a ser
equivalentes a duzentas velas de ceras. Com os lampiões acesos, terminaram o
jantar, na esperança de a luz voltar logo. Mas, qual nada! Uma hora depois vô
Mário telefonou para o escritório central da companhia de eletricidade e
recebeu a notícia de que a queda de um raio havia danificado um transformador
de alta tensão da subestação. Não sabiam quando poderiam restabelecer o
circuito, pois a avaria não era coisa simples. Enviariam o transformador para
Goiânia, a fim de ser reparado. Talvez o conserto demorasse uns dez dias.
Em face de não se ter nada para
fazer, pois ler à luz de lampiões, jogar damas ou xadrez não era agradável, tia
Zinha, a filha mais velha de vô Mário, sugeriu, sorrindo:
¾ Atenção todos! O que
vocês acham do tio Marcos falar sobre o Racionalismo Cristão, um assunto que
ele conhece tão bem, durante as noites em que não teremos luz elétrica?
A aprovação foi unânime. Tio
Marcos era muito querido. Era um amigão. Entendia como ninguém de pipas,
aeromodelos, balões e autorama. Nas férias anteriores, havia ensinado código
Morse a todos, e à noite, com uma lanterna a pilha, podiam transmitir mensagens
uns para os outros, como fazem os marinheiros e os escoteiros.
¾ Então vamos para a sala
de estar ‑ disse tia Zinha, já que não teremos tão cedo as telenovelas, nem os
telejornais, nem videogames, nem vídeos para ver os filmes alugados que vocês
trouxeram. Vamos lá, aprender um pouco de filosofia com o tio Marcos.
¾ Esperem um pouco ‑ disse
tio Marcos levantando-se. Vocês vão por os seus pijamas, e todos nós, sentados
à mesa da saleta do quarto das meninas, calmamente desenvolveremos nossas
palestras. Faço isso por uma questão de didática, pois muitos cientistas têm
feito inúmeras experiências com a memória e o esquecimento. Para alguns, ficou
demonstrado que as pessoas indo dormir, logo após terem aprendido alguma coisa,
provavelmente estão menos sujeitas ao esquecimento ou, então, poderão fazer
como os meninos do Oriente Médio. Eles comem fígado torrado de ouriço,
transformado em pó, porque acreditam que esse produto é bom para a memória.
¾ Minhas aulas serão
científicas. Vocês, que já estão concluindo o 1° grau, e alguns que estão
cursando o 2°grau não terão dificuldades em entender o que lhes vou transmitir.
Nossas palestras visarão livrá-los das crendices, das superstições e dos
sofismas, ou melhor, dos argumentos falsos. Espero que tenham disposição para
libertarem-se da adoração, dos mitos e das fantasias ensinadas pelos sacerdotes,
pastores, gurus e mestres de várias seitas. Farei o possível para ser claro.
Quero também que vocês pensem no que irão ouvir. É muito importante que, desde
cedo, aprendam a pensar e a analisar. E se a razão não quiser aceitar,
descartem o que ouviram ou leram. Outra coisa: o que eu falar e vocês não
entenderem, não me deixem prosseguir, interrompam, perguntem.
¾ Vocês sabem que o estudo
desenvolve gradualmente a estrutura do nosso pensamento, do nosso raciocínio.
Por isso, é necessário estudar, ler, pois a leitura expande os nossos
horizontes, aumentando a compreensão das coisas. O método mais seguro para
desenvolvermos a nossa percepção e compreendermos a nós mesmos é ler, ler
sempre e cada vez mais, mergulhando em todos os campos do conhecimento humano.
¾ Às vezes eu falarei o
nome de uma figura ilustre e em seguida mencionarei duas datas. Por exemplo:
Pedro Álvares Cabral (1467-1520). Significa que Pedro Álvares Cabral nasceu em
1467 e faleceu em 1520. Também, quando eu mencionar depois de uma data o termo
a.C., significa antes de Cristo, ou d.C., significa depois de Cristo. Quando eu
falar século XVI, significa que eu estou me referindo aos cem anos com início
em 1500 e término em 1599. Quando eu falar em século XVII, significa 1600 a
1699. Então, daí pode-se inferir uma regrinha: dado o século em algarismo
romano, subtrai-se um para obter-se o século expresso em algarismos arábicos.
Por exemplo: o século XX é igual ao período de 1900 a 1999; o século XXI é
igual ao período de 2000 a 2099.
¾ Também é importante que
vocês gravem bem o seguinte postulado: Não
existe mistério algum no mundo físico que, uma vez entendido, não leve a outro
mistério situado mais adiante.
¾
No meu entender, esse 'mistério situado mais adiante', encontra explicação
no Universo Espiritual, o qual lhes
descreverei em toda oportunidade que surgir, no decorrer das palestras,
conforme o Sr. Racional explicou, e não esqueçam: No Universo tudo é ciência.
Então, as crianças se levantaram
e foram vestir os pijamas. Em seguida todos se reuniram na saleta do quarto das
meninas. Sentados confortavelmente, esperaram tio Marcos, aguardando que ele
trocasse a sua cadeira por uma poltrona de encosto estofado, mais cômoda.
Nessa ocasião, tia Zinha entrou
na sala com um gravador a pilha, colocou-o sobre uma cômoda, atrás da poltrona
de tio Marcos, e ajustou o volume para que a gravação ficasse nítida. Em
seguida encarregou Fernanda de ligar, virar as fitas quando fosse necessário e
desligar o aparelho antes de dormir. Em seguida saiu da sala, dizendo:
¾ Aproveitem bem, meninos!
Já instalado, tio Marcos começou
...
1. O Universo I
O Racionalismo Cristão é um conjunto de princípios
que formam a base de uma filosofia divulgada por Luiz de Mattos, Luiz Alves
Thomaz e Antonio do Nascimento Cottas, a partir de 1910, nas cidades de Santos,
SP, e do Rio de Janeiro, RJ.
Essa doutrina constitui uma
escola que ensina a Verdade Moral, através das lições deixadas por Jesus na
Terra, antes dos Evangelhos, que sucessivas deturpações ocorridas ao longo dos
séculos tornaram-nas irreconhecíveis. O Racionalismo Cristão visa ao
esclarecimento humano, sem se preocupar com as religiões, seitas ou credos,
defendendo a Verdade dentro dos limites do conhecimento. Portanto, para
falarmos sobre o Racionalismo Cristão, precisamos conhecer o que é o Universo,
o que é a Vida, o que é a Evolução e também conhecermos os povos,
principalmente os que colonizaram o Brasil.
A minha finalidade, com essas
palestras, é transmitir a vocês esclarecimentos que, utilizados durante a vida,
possibilitem que sofram menos, pois o ser humano sofre porque desconhece a
Verdade. É necessário que todos se esclareçam sobre a finalidade da Vida e a
maneira correta de conduzir-se na existência terrena, para evitar sofrimentos
desnecessários e perda de encarnações. É necessário que vocês aprendam a
comportar-se na existência terrena, desenvolvendo o domínio sobre si mesmos,
subjugando os ímpetos, as inclinações condenáveis, para que o raciocínio possa
apontar-lhes as melhores
soluções, pois todos nós estamos sujeitos às inclinações más, provenientes dos
maus costumes.
Como antes nos referimos, vamos
começar falando sobre o Universo.
Para os povos antigos, o planeta
Terra era o centro do Universo. Acreditavam que a Terra era fixa em sua
posição, enquanto tudo o mais, a Lua, o Sol, os planetas e as estrelas se
moviam ao seu redor. Conhecemos oito planetas e seus satélites. Todos mudam de
posição em relação às estrelas fixas. Estes astros, na ordem de suas distâncias
em relação à Terra, são os seguintes: Lua, Mercúrio, Vênus, Sol, Marte,
Júpiter, Saturno, Urano, Netuno e Plutão.
Júpiter e Saturno têm a atmosfera
cheia de nuvens. Eles são muito frios. Netuno, Urano e Plutão são ainda mais
frios. Assemelham-se a gigantescas bolas de neve feitas de gelo e gases
congelados, com o centro de rocha endurecida. Mercúrio, ao contrário, é muito
quente. É feito de rochedos e a sua superfície é muito parecida com a da Lua.
Marte é um planeta árido, de superfície rochosa, com capas de gelo cobrindo os
pólos norte e sul. Vênus é coberto por espessas camadas de nuvens.
As geleiras existentes nestes
planetas não são de água. São de dióxido de carbono solidificado, conhecido
também por gelo-seco, que é muito mais frio que aquele feito de água.
A espantosa teoria de que somente
a Lua se movia em volta da Terra, enquanto a Terra e os demais planetas
moviam-se ao redor do Sol, foi pela primeira vez proclamada no século XVI por
Copérnico, astrônomo polonês. O livro que continha essa teoria foi publicado em
1543, quando o autor encontrava-se no leito de morte.
Desde a Antiguidade, têm sido
criadas inúmeras hipóteses para explicar o Universo. Nos últimos séculos, o
desenvolvimento da Ciência permitiu conhecer a Terra, não só como planeta, mas
também como membro de uma família muito maior: o Sistema Solar. Convém
relembrar algumas informações sobre isso.
O espaço cósmico apenas começa a
ser conhecido pelos homens. Sabemos que nele a Terra é um minúsculo planeta, em
meio a bilhões de astros de diferentes naturezas e tamanhos. Mas nesse universo
há organização. Assim, o sistema planetário a que pertencemos tem como centro
uma estrela, o Sol, e é constituído, ainda, por mais oito planetas e 39
satélites, além de cometas, planetóides e meteoritos.
O Sol se desloca no espaço a
grande velocidade, juntamente com os astros que o acompanham. Os planetas do
Sistema Solar são bastante diferentes uns dos outros. Em relação ao Sol, alguns
estão mais próximos, outros mais distantes. Alguns têm grande massa, outros
não. A velocidade com que cada um se desloca em sua órbita também é variável. O
Sol e sua família de planetas movem-se todos tão regularmente como um relógio
de altíssima precisão.
O meu mestre, o Sr. Racional,
afirma que o Universo inteiro obedece a uma severa disciplina, verificada na
pontualidade dos movimentos dos corpos no espaço sideral. Diz também que o
hábito é uma segunda natureza e que devemos introduzir em nossas vidas o hábito
da disciplina, da metodização, da ordem, para que tudo que temos a fazer seja
feito com espontânea naturalidade. Esta é a forma mais fácil de vencermos as
dificuldades da vida. A disciplina é um dos segredos do sucesso.
O Sistema Solar é imenso, mas ele
é apenas parte de uma imensa galáxia, onde circulam 250 milhões de estrelas de
grandezas diversas, muitas das quais maiores e muito mais brilhantes que o Sol.
Essa galáxia à qual pertencemos é constituída por um enorme conjunto de
sistemas solares, formando uma grande família. Ela é, vista de cima, como uma
grande espiral e, vista de frente, como uma lente biconvexa.
A galáxia onde vivemos é
conhecida por Via-Láctea. Podemos vê-la, nítida, nas noites límpidas como uma
nuvem no céu. Se pudéssemos vê-la inteira, de uma só vez, ela pareceria uma
roda, protuberante no centro e afinada nas bordas. Ela é uma nebulosa que se avista
no céu, nas noites serenas, sob a forma de uma larga faixa esbranquiçada,
também conhecida pelos cristãos da Idade Média como Caminho de São Tiago.
A Via-Láctea compreende uma
pequena parte do espaço cósmico. Como tudo no espaço gira, a grande espiral da
galáxia roda ininterruptamente. Imaginem que a galáxia seja um imenso
carrossel. Numa das bordas desse carrossel, distando mais ou menos um terço do
raio, encontra-se o nosso sol, rodeado pelos seus planetas. Sabemos que existem
no Universo inúmeras outras galáxias, muitíssimo distantes umas das outras.
Para os gregos somente existiam
estrelas fixas e estrelas ambulantes. As estrelas ambulantes eram as que nós
chamamos de planetas. Sabiam que existiam duas estrelas fixas no Universo.
Eram, elas, muito brilhantes: Arcturus e Sírius. Em 1718, o astrônomo Halley
verificou que essas duas estrelas fixas haviam se deslocado cerca de um grau e
um grau e meio, respectivamente. Depois de Halley, rigorosas medições das
posições das estrelas mostraram que nenhuma poderia chamar-se fixa. Todas as
estrelas estão em movimento e só por estarem a distâncias incomensuráveis é que
seus movimentos, desde a Antiguidade, passaram despercebidos.
Somente agora começa a ser
desvendado o espaço intergaláctico.
A Nasa, através de pesquisas
feitas por telescópios montados em satélites artificiais, tem feito muito
progresso nesses estudos.
¾ Tio Marcos, os
foguetes interplanetários que colocam os satélites com telescópios em órbita
são iguais aos aviões a jato? - perguntou Silvinho.
O princípio de
funcionamento dos motores do avião a jato e do foguete é o mesmo. Funcionam
baseados na 3ª Lei de Newton, também conhecida como Princípio da Ação e da
Reação. Quando os combustíveis dos foguetes e dos aviões a jato queimam,
produzem grande quantidade de gases, que são expelidos em grande velocidade e
alta temperatura. Os gases são expelidos por uma força exercida pelas paredes
internas da câmara de combustão desses motores. O gás aplica uma força de
reação nas paredes internas e é essa força que impulsiona o foguete ou o avião,
em sentido contrário à abertura de escape dos gases, onde a pressão é bem
menor, em virtude da velocidade de escape desses gases.
0 motor do avião a jato precisa
de oxigênio para queimar o seu combustível, que é retirado do ar atmosférico. O
motor do foguete não utiliza o oxigênio da atmosfera. Ele carrega, juntamente
com o combustível, um oxidante. A mistura de ambos possibilita a combustão,
gerando gases ultraquentes, fazendo grande pressão. Desta forma ele pode viajar
pelo espaço interplanetário onde não existe oxigênio. Logo “Ação” é o escape
dos gases e “Reação” é a força para frente, oposta à saída dos gases.
Certa ocasião, o Sr. Racional
explicou que o Princípio da Ação e da Reação é também verdadeiro na vida moral
dos homens, das sociedades e das nações. Dizia o Sr. Racional: “Não as faças
que as pagas”. É a Lei de Causa e Efeito que tem o seguinte enunciado: Irrevogavelmente as boas ou más ações
determinam, para quem as pratica, como conseqüência, um resultado correspondente
aos pensamentos e atos que o geraram. Portanto, quem mal faz para si está
fazendo. Essa é a lei.
No plano espiritual não há
perdões, nem deuses para perdoar. Numa filosofia oriental chamada Bramanismo,
em textos chamados Vedas, há um conceito denominado carma que afirma: “Todo
conjunto de ações dos homens, boas ou más, gera conseqüências que irão eclodir
num futuro próximo ou remoto”. O Sr. Racional diz que nós poderemos sofrer, no
futuro, em conseqüência de pensamentos errados ou da má aplicação do nosso
livre-arbítrio. Agora, digo eu: esse sofrimento não deve ser interpretado como
castigo. Os sofrimentos que atingem todos nós do planeta Terra têm por
finalidade nos ensinar e não nos punir. Portanto, não existe carma, nem
destino, nem sorte, nem azar. O que existe é o livre-arbítrio, cujo atributo é
uma herança que nos pertence, própria do espírito que já atingiu a condição de
possuir pensamento contínuo e raciocínio, conquistado por nós próprios em nossa
trajetória evolutiva. Se não fosse assim, o homem seria um títere, um fantoche
manipulado por uma força maior. Como conseqüência, suas realizações seriam vãs
e seus erros, sem significação. A vida não teria qualquer finalidade e
poderíamos abandoná-la quando desejássemos.
O carma ou a Lei de Causa e
Efeito, como é chamada pelos espiritualistas do Ocidente, tem também aplicação
coletiva, no sentido de que o progresso, os benefícios ou as desgraças que os
povos sofrem ou desfrutam são os reflexos, as conseqüências do que realizaram
em encarnações passadas. Da mesma forma, os problemas e as situações negativas,
que muitos povos coletivamente têm enfrentado, são o resultado dos maus
pensamentos, muitas vezes gerados pela religiosidade e pelo fanatismo. Mas
voltemos ao nosso assunto, Universo.
Aristóteles, filósofo grego que
viveu entre os anos 384 e 322 a.C., afirmava que os astros giravam em torno de
um centro imóvel, a Terra. Segundo Aristóteles e seus seguidores, acima da Lua,
todos os astros eram eternos e não sofriam qualquer mudança. Abaixo da Lua
estavam as coisas imperfeitas, sujeitas à decadência e ao desaparecimento.
Aristóteles também pensava que os corpos caíam porque o seu lugar natural era a
superfície da Terra. Para Aristóteles a Terra era esférica. Ele chegou a essa
conclusão observando a sombra terrestre projetada na Lua, durante os eclipses
lunares.
Um outro grego, Aristarco,
nascido a 310 a.C., defendia a ideia de que o Sol estava no centro do Mundo,
imóvel, e que a Terra movia-se em torno dele, juntamente com outros planetas.
Essa visão do mundo foi chamada de heliocêntrica (helios significa sol, em
grego). Aristarco dizia também que a Terra girava. Sua visão do mundo era,
portanto, mais parecida com a atual.
No século II a.C., um astrônomo
chamado Ptolomeu afirmava, como Aristóteles, que os planetas estavam presos a
pequenas esferas de cristal, as quais também giravam. A nova descrição do Mundo criada por Ptolomeu ganhou muitos adeptos
porque explicava melhor os movimentos dos astros e possibilitava fazer
previsões sobre a posição que os planetas teriam em tempo futuro.
Os pensamentos de Aristóteles e
de Ptolomeu foram incorporados pela Igreja Católica da Idade Média, como parte
de suas doutrinas, e quem se opusesse aos ensinamentos aristotélicos era
considerado herege, isto é, pessoa que professa doutrina contrária ao que foi
definido pela Igreja como matéria de fé. Conseqüentemente era condenado pelo
Tribunal da Inquisição e queimado vivo para purificar-se pelo fogo a alma desse
herege.
Na Idade Média, entre os anos
1225 e 1275, viveu o teólogo italiano São Thomás de Aquino, o qual propôs
demonstrar que existia união íntima entre a Fé e a Razão, isto é, entre a
Teologia e a Filosofia, criando a Doutrina Escolástica, que procurou uma
síntese entre a filosofia de Aristóteles e a fé católica, a qual se apoiava na
revelação e na autoridade divina, integrantes dos Evangelhos.
Procurando conciliar os
postulados da fé cristã com o pensamento aristotélico, reconhecia São Thomás de
Aquino duas fontes de conhecimento: a fé cristã, transmitida pelas Escrituras,
e as verdades adquiridas pela razão humana, como foram ensinadas por Platão e
Aristóteles.
Agora, vejam vocês! Quanto
disparate quererem justificar os dogmas da fé, uma coletânea de lendas
bíblicas, com o pensamento de Aristóteles, discípulo de Platão, cuja filosofia
ensinou a humanidade a pensar, que aprofundou o estudo da Lógica, ou melhor, da
Ciência do Pensamento.
O Papa Leão XIII, em 1879,
proclamou o padre dominicano São Thomás de Aquino o filósofo oficial da Igreja.
Roger Bacon (1214-1292), padre
franciscano, rejeitou a filosofia escolástica, proclamando simplesmente que a
razão e a autoridade não eram condições suficientes para provar os
conhecimentos. Dizia que o único meio de se chegar à verdade era através da
observação e da experimentação. Criticava os sábios que dissimulavam suas
ignorâncias com argumentos verbosos. Veremos mais adiante que a experimentação
era também a proposta de Galileu para demonstrar a Verdade.
Roger Bacon, um dos pais da
ciência experimental da Idade Média, era protegido do Papa Clemente IV, que o
estimulou a escrever a sua obra e a enviá-la a Roma. Após a morte desse papa,
Bacon foi condenado pela Igreja e encarcerado. Ficou preso durante catorze
anos. Morreu logo depois que saiu da prisão.
Nicolau Copérnico (1473-1543),
astrônomo polonês, considerava que o Sol estava no centro do Universo, com os
planetas girando ao seu redor. Morreu no mesmo ano da publicação das suas
teorias, mas deixou muitos seguidores. Um deles foi Giordano Bruno, sacerdote e
teólogo nascido em 1548 na Itália. Giordano Bruno acreditava nas idéias de
Copérnico, mas foi além. Afirmava que o Universo era infinito, contrariando as
idéias de Aristóteles, de que o Universo era esférico e fechado. Para Giordano
Bruno não havia no céu esferas de cristal segurando os astros, como afirmavam
os astrônomos antigos, e as estrelas, assim como o Sol, podiam ter planetas
girando ao seu redor. Ele acreditava também na existência de inúmeros mundos e
afirmava que, para os habitantes desses mundos, a nossa Terra seria apenas um
astro a mais. A Igreja não aceitou essas idéias. Em 1600 ele foi preso pela
Inquisição, condenado e queimado na fogueira.
Um outro defensor das idéias de
Copérnico foi Kepler, um astrônomo alemão que viveu entre 1571 e 1630. Johannes
Kepler não foi perseguido pela Igreja Católica porque na Alemanha, sua pátria,
a Igreja não tinha o mesmo poder que na Itália. Kepler chegou à conclusão de
que os planetas descreviam elipses, e não órbitas ovais em torno do Sol.
De todos os seguidores de Copérnico,
quem realizou o trabalho mais revolucionário foi o italiano Galileu Galilei
(1564-1642). Físico e astrônomo, ganhou em 1609 um telescópio que havia sido
inventado anos antes na Holanda.
Os primeiros telescópios
permitiam ver um objeto como se estivesse três vezes mais perto. Galileu
aperfeiçoou o invento, construindo outro telescópio que permitia ver um objeto
como se estivesse trinta vezes mais perto e passou a usá-lo para observar o
céu.
Descobriu que Vênus apresentava
fases como a Lua. O estudo dessas fases levou Galileu a concluir que Vênus
girava em torno do Sol. Apontando o telescópio para o Sol, descobriu as manchas
solares. Observou o movimento dessas manchas e concluiu que o Sol fazia
movimentos de rotação, em torno de si mesmo. Portanto, o Sol não era imóvel.
Descobriu também os satélites de Júpiter.
Observando esses fatos, não era
possível continuar afirmando que a Terra era o centro do Universo. Galileu
descobriu também que todos os corpos sobre a Terra, inclusive a atmosfera, e
mesmo uma pedra lançada verticalmente, movem-se junto com a Terra. Por isso,
nós não percebemos o movimento de rotação da Terra, o qual produz o dia e a
noite.
Sempre houve elementos
científicos em qualquer pensamento, até na magia. O primeiro homem, ao perceber
que o fogo queimava, fez uma observação científica, nascida do bom senso. Mas
quando atribuiu ao fogo uma vontade própria e maligna de queimar, deixou de
fazer ciência para criar a Demonologia. A Ciência é herdeira do primeiro
raciocínio e abandonou o segundo porque ele não era comprovável. O conhecimento
científico é, pois, conhecimento comprovável. As provas também têm que ser
científicas. O selvagem pode “provar” a presença de um demônio nas chamas,
alegando que ele foi visto certa vez, ou que sonhou com ele, ou que é assim
porque “todos sabem disso”. Esse tipo de prova não interessa à Ciência.
A Ciência não começou com os
gregos. Ela começou com Galileu e tem apenas quatro séculos. Vamos explicar
isso.
A observação diária nos diz que
uma pluma flutua no ar e uma pedra se precipita velozmente para o chão. O que
leva o bom senso a acreditar que pesos diferentes caem a velocidades
diferentes. Se perguntarmos à maioria das pessoas o que cai mais depressa, um
peso de um quilo ou um de dez, quase todos apontarão o de dez quilos. Alguns
acrescentarão que o de dez quilos cai dez vezes mais depressa que o outro,
assumindo um ar muito científico. Apesar de essa resposta estar baseada no bom
senso, ela é completamente falsa: pesos diferentes caem com velocidade igual. Isso
foi demonstrado por Galileu, quando jogou bolas de metal e pedra com o mesmo
diâmetro, mas com pesos diferentes, de cima da torre inclinada de Pisa.
Galileu estava envolvido numa
disputa a esse respeito com seus colegas professores. Aristóteles afirmara em
seu livro de Física que pesos diferentes caem com velocidades proporcionais ao
seu peso. Até a Renascença, quando começa a revolução científica, Aristóteles
era autoridade indiscutível. Já que ele tinha dito, “devia” ser assim. Galileu
fez a experiência e achou o contrário. Seus colegas teimaram. Se estava escrito
em Aristóteles, então a experiência de Galileu estava errada. E sorriam
condescendentes.
Galileu foi para cima da torre e
jogou os pesos exatamente na hora em que pela praça passavam estudantes e
professores, para que todos pudessem testemunhar os resultados. Os estudantes
aplaudiram-no e os professores tornaram-se seus inimigos. Alguns acrescentaram
que se tratava de um truque, uma ilusão de óptica ou uma trapaça qualquer.
Galileu, em 1632, publicou em
Florença todas as provas que demonstravam o sistema proposto por Copérnico. Por
isso, foi obrigado a renunciar à sua teoria diante do Tribunal da Inquisição,
um ano depois, em 1633. Forçado a retratar-se, por haver proclamado que a Terra
girava sobre si mesma, contrariamente à letra das Escrituras, ainda ajoelhado,
após abjurar. pronunciou em voz baixa, em italiano, a frase histórica: “Eppur,
si muove!”, que quer dizer: “E no entanto, ela se move!”
A fé que Galileu tinha na Ciência
separou-o do mundo universitário do seu tempo e terminou por condená-lo à
prisão domiciliar pela Inquisição. Mas de seus trabalhos nasceu o método
científico em estado puro. Foi o iniciador da escola dos grandes cientistas
modernos que não mantém relação com a magia, ao contrário, por exemplo, do seu
contemporâneo Johannes Kepler, um dos fundadores da moderna Astronomia, que
também era um astrólogo convicto. Dava tanta importância às suas descobertas
planetárias como aos seus horóscopos que, seja dita a verdade, garantiam-lhe o
sustento, possibilitando que estudasse o céu. Kepler foi o homem da transição
entre a época do pensamento mágico e a época do pensamento científico. Foi o
último dos grandes magos-cientistas, como foram Paracelso e os alquimistas.
Galileu, ao contrário, só
acreditava no método científico. Foi o primeiro a denunciar os grandes inimigos
desse método: os argumentos baseados na autoridade e no bom senso.
Tanto a autoridade indiscutível
de Aristóteles como o bom senso da escolástica de São Thomás de Aquino tinham
enganado a todos sobre a queda dos corpos de pesos diferentes e sobre várias
outras coisas, entre elas a afirmação de que a Terra ocupava o centro do
Universo.
Em 1642, quatro anos antes da
desencarnação de Galileu, quando ainda cumpria pena de prisão domiciliar
imposta pela Inquisição, ele mandou a um editor da Holanda o manuscrito do seu
livro Duas Novas Ciências, cuja obra,
mais do que seu apoio às teorias de Copérnico, foi a gênese da Física Moderna.
Nisso, tio Marcos levantou-se e disse:
¾
Já são horas de dormir. Amanhã, continuaremos o mesmo assunto.
2. O Universo II
¾ Tio Marcos, como se explica o aparecimento do
Universo? - perguntou Serginho, muito interessado.
Antes de continuarmos esse
assunto, vou fazer um pequeno preâmbulo.
O homem, apesar das suas
imperfeições, no estágio evolutivo em que presentemente se encontra, apesar de
tudo o que já aprendeu e realizou, ainda se pergunta sobre a sua origem.
Evoluiu ou foi criado? Ou será o resultado de uma combinação dessas duas
possibilidades? O Universo foi criado ou foi o resultado de uma grande
explosão? Nosso planeta estará caminhando para a idade do gelo, que os
cientistas chamam de Era Glacial, ou ficará cada vez mais quente sob o efeito
estufa?
Podem-se ouvir centenas de
teorias sobres esses assuntos, oriundas de filósofos das mais diferentes
escolas e dos mais renomados cientistas, tentando explicá-las como fato em
processo de realização.
A criatura, antes de querer
entender a complexidade do Universo, precisa, para tal fim, adquirir outros
conhecimentos mais simples, porém necessários a esse entendimento. Deve, com
humildade, aprender as inúmeras lições que ainda não conseguiu entender.
Precisa livrar-se das ilusões, das fantasias e da religiosidade. Somente após
várias encarnações, durante as quais os sofrimentos e as grandes dores
depurarão o espírito, ficará ele, quando o sofrimento passar, livre da ilusão
da paixão, livre da ilusão da posse, livre da ilusão da proteção divina, livre
da ilusão dos conceitos corporativistas, dos conceitos de nacionalidade, seita,
classe e família. Somente nessa fase da sua evolução, limpo, depurado, terá
condições de entender a Verdade. Até chegarmos a esse ponto da nossa evolução,
nossa obrigação é trabalhar, estudar e raciocinar.
Feita esta pequena introdução,
vamos agora explicar o que até agora tem sido aceito pela comunidade
científica. Contudo, os acontecimentos que hoje acreditamos serem fatos
provavelmente se transformarão amanhã, à medida que continuarmos a aprender
sobre o mundo. Lembrem-se de que eu já disse, antes de iniciarmos estas aulas,
que: “Não existe mistério algum no mundo físico que, uma vez entendido, não
leve a outro mistério situado mais adiante.” Mesmo que acreditássemos saber
tudo sobre o passado remoto da Terra, estes conhecimentos estão sempre sujeitos
a novas interpretações, à luz de novas descobertas.
Bem, continuemos: a energia
radiante emitida pelas estrelas, pelos sóis de todas as galáxias, que vemos
como luz material, tem origem nas reações atômicas que ocorrem nessas estrelas.
Conseqüentemente não pode ser confundida com a Luz Astral, emitida pelo Grande
Foco, qual Força Inteligente que enche o espaço infinito e ilumina as regiões
espirituais. As trevas da noite nada significam para o espírito, pois este
enxerga por meio da luz astral que atravessa tudo, que penetra todos os corpos
existentes no espaço sideral. O dia e a noite expressam períodos apenas
relacionados com a vida material.
O homem, procurando
o sentido criador da vida e o poder ilimitado da Inteligência Universal, há de
perceber que não passa de um ser de reduzidíssimas dimensões diante da
grandiosidade do Universo. Se o seu estado evolutivo permitisse, compreenderia
então a imensa caminhada que há de fazer na longa estrada da evolução.
Os estudos sobre a possível
origem da evolução do Universo constituem uma ciência chamada Cosmogonia, a
qual acredita que o Universo tenha surgido há 10 bilhões de anos. A Cosmogonia
estuda a origem e a evolução do Universo. A Astronomia estuda a constituição, a
posição relativa e os movimentos dos astros.
Há várias teorias cosmogônicas
muito bem elaboradas para explicar a origem do Universo. Temos a Cosmogonia de
Alfvén-Klein, cujo modelo descreve o Universo inicial como uma gigantesca nuvem
esférica, constituída de matéria e antimatéria. Quando a densidade crítica é
alcançada, a matéria e a antimatéria começam a se aniquilar, provocando a
expansão do Universo.
Temos também o Modelo Cosmogônico
Relativista, desenvolvido com base na Teoria Geral da Relatividade de Einstein.
Sintetizando essa teoria, o Universo poderia ser comparado a uma bolha que se
estaria expandindo no espaço em todas as direções, continuamente, ao longo do
tempo cósmico. Desta forma, o Universo não seria alguma coisa acabada e pronta,
mas estaria em contínua evolução e teria as mesmas propriedades em todas as
direções.
A matéria existente no Universo
estaria distribuída, formando aglomerações de galáxias, quais milhares de ilhas
num oceano infinito, separadas por distâncias incomensuráveis. Isto significa
que, em algum momento, o volume do Universo foi zero. Portanto, os seres vivos,
os seres não vivos, o espaço e o tempo teriam se iniciado a partir de um estado
em que a matéria estaria concentrada. Essa explicação sobre a possível origem
do Universo ficou conhecida como Teoria da Grande Explosão Inicial ou Teoria do
Big-Bang. Ela leva a imaginar que todo o Universo teria se iniciado a partir da
explosão cósmica de um núcleo inicial concentrado de matéria, cuja temperatura
era extremamente elevada. Supõe-se que, ao explodir, o Universo tenha se
esfriado. A matéria então reagrupou-se, dando origem às galáxias.
Uma outra teoria recente sobre a formação do
Universo é muito abstrata e baseia-se em teorias físicas, segundo as quais é
possível haver no Universo grandes vazios, onde não há seres nem energia, mas
apenas oscilações de Tempo e Espaço. No interior desses vazios, a matéria pode
aparecer a qualquer momento e penetrar em nosso tempo-espaço. Essa nova matéria
apareceria como uma intensa explosão, liberando diferentes formas de energia e
sem qualquer causa compreensível. Surgiram então os buracos brancos.
Não confundir esses
buracos brancos com os buracos negros, que são outra coisa. Chama-se buraco
negro um determinado estado que a matéria atinge ao sofrer um colapso
gravitacional, no qual nem a luz, nem a matéria nem qualquer outro tipo de
sinal podem escapar. Portanto, forma-se um buraco negro quando o campo
gravitacional se torna tão intenso que a velocidade de escape de um corpo se
aproxima da velocidade da luz (300 mil km/s no vácuo). De acordo com essa
teoria, falar em idade do Universo perde o significado, pois a matéria estaria
sendo criada a qualquer tempo.
¾ Tio Marcos, qual é a origem do Sol e da Terra? - perguntou Fernanda, a
mais nova das meninas.
Vocês já aprenderam que o Sol é
uma estrela em torno da qual giram a Terra e os outros planetas do Sistema
Solar. O Sol é uma estrela que, comparada às outras existentes no Universo, é
relativamente pequena e de brilho fraco, parecendo ser maior e mais brilhante
por se encontrar bem perto de nós. A sua luz leva oito minutos e meio para
atingir a Terra. A estrela que está mais próxima de nós, logo depois do Sol, é
a Alfa do Centauro. A sua luz leva 4,3 anos-luz para chegar até aqui. Em
seguida vem a estrela Sírius, cuja luz leva 8,8 anos-luz para chegar à Terra.
Segundo hipóteses, as estrelas
formam-se de nuvens de matéria interestelar, constituída de partículas sólidas
e de gases, principalmente o hidrogênio e o hélio, que vagam pelo espaço. Tanto
o Sol como outras estrelas teriam se formado pela condensação gradual de uma
dessas nuvens. À medida que uma nuvem de matéria interestelar fica mais densa,
os átomos e outras partículas vão se concentrando e seu movimento torna-se mais
acelerado. A colisão entre os átomos vai aumentando e liberando grandes
quantidades de energia. A temperatura torna-se tão alta que os núcleos dos
átomos começam a se fundir. Essa fusão de átomos corresponde à mesma fusão
nuclear que produz a energia atômica. A fusão nuclear do hidrogênio continua
ocorrendo em nosso sol, e a energia atômica liberada é a energia solar que
chega até nós.
Quanto à Terra, durante a
formação do Sistema Solar, isto há bilhões de anos, supõe-se que o nosso
planeta tenha sido inicialmente uma imensa massa de material incandescente, de
origem estelar, girando no espaço sideral. Com o tempo, e muito lentamente, a
superfície dessa massa foi sendo resfriada. Ao atingir temperaturas mais baixas
que o seu interior, começou a formação de uma crosta sólida. Esta foi se tornando
cada vez mais espessa com o decorrer do tempo, contado em bilhões de anos. No
interior da Terra encontramos uma temperatura elevadíssima, da ordem de
milhares de graus centígrados. Seu núcleo, constituído por material em estado
de fusão, é chamado magma.
Enquanto se formava a camada
sólida externa, houve a cristalização e a formação dos elementos minerais, tal
como os conhecemos. Houve também o desenvolvimento de gases e vapores que, em
parte, escaparam da força gravitacional e se dispersaram no espaço sideral.
Outra parte, pela ação da gravidade, permaneceu sobre a superfície da crosta,
envolvendo o planeta e formando a atmosfera.
O esfriamento da atmosfera, por
sua vez, acarretou a lenta condensação de alguns elementos, formando líquidos,
principalmente a água, que viriam a dar origem aos oceanos, rios, lagos e
lençóis de águas subterrâneas.
Envolvendo a parte sólida do
planeta, a litosfera, e a parte líquida, a hidrosfera, acha-se a atmosfera, com
aproximadamente 1000 km de altura, formada por gases diversos. A camada
atmosférica mais próxima das superfícies continentais e oceânicas é chamada
troposfera, formada por gases como o oxigênio, nitrogênio, hélio, argônio e
contendo também bióxido de carbono e vapor d'água. Acima da troposfera está a
estratosfera, formada principalmente por nitrogênio, hélio e oxigênio, em
concentrações já bem menos densas. Nas partes superiores da estratosfera
encontramos o ozônio, que age como filtro dos raios ultravioletas provenientes
do Sol.
Em seguida temos a ionosfera, a
mais alta e menos densa das camadas atmosféricas. Nela aparecem o hidrogênio, o
oxigênio e o nitrogênio, em baixas concentrações. Além da ionosfera, também
encontramos cinturões de radiação que envolvem o planeta, descobertos pelo
físico Van Alen, o qual desenvolveu satélites científicos equipados com
instrumentos para medir esses campos. Acima desse limite já estamos no espaço
interplanetário.
Calcula-se que o Sistema Solar,
incluindo-se a Terra, começou a existir há cerca de 5 bilhões de anos. As
rochas da crosta terrestre mais antigas que se conhecem datam aproximadamente
de 4 bilhões de anos, época em que o planeta Terra era árido e sem vida.
A Terra ainda hoje é
muito quente em seu interior. A 50 km de profundidade, abaixo da superfície, as
rochas já não são totalmente sólidas. A lava expelida das erupções vulcânicas é
material rochoso em estado de fusão e incandescente, evidenciando a alta
temperatura do interior do nosso planeta. Em regiões de 3300 km abaixo da
superfície, a temperatura é de aproximadamente 4000°C. A prova dessa alta
temperatura subterrânea, temos aqui mesmo, a nossa cidade vizinha chamada
Caldas Novas, GO. O Rio Quente, que nasce no sopé da Serra Caldas, distante 25
km da cidade, é considerado um dos maiores mananciais de águas termais
conhecidos, pois esse rio tem centenas de fontes, onde a água brota com a
temperatura de 60°C. A cidade encontra-se próxima à borda de um grande vulcão
extinto.
¾ Tio Marcos, por que os astrônomos dizem que o planeta Vênus é irmão
gêmeo da Terra? - perguntou Boris.
Quando se observa o planeta
Vênus, uma das características que mais chama a atenção é o seu brilho, que é
intenso, ao amanhecer e ao entardecer. Vênus também é conhecido pelo nome de
estrela d'alva. Depois do Sol e da Lua, ela é o astro que mais brilha no céu.
Por ocasião da sua maior aproximação com a Terra, pode ser visto durante o dia,
de manhã e ao entardecer. Por isso, os antigos gregos julgavam que se tratava
de duas estrelas distintas, dando-lhes nomes diferentes: Fósforo, quando aparecia
no céu matutino, e Héspero, quando brilhava ao pôr-do-sol. Até há poucos anos,
Vênus ainda era um dos maiores mistérios do céu. Um século de cuidadosas
observações telescópicas revelou pouco dos seus segredos. Em 1950, o radar foi
introduzido na Astronomia, mas também foi de pouco auxílio. Para se saber mais
coisas sobre Vênus, foi preciso esperar pela Era da Astronáutica. Mas a
exploração do planeta com satélites automáticos é cara. Das dezessete sondas
lançadas em direção a Vênus, somente seis chegaram lá funcionando.
Antes do aparecimento dos
satélites artificiais, os astrônomos já sabiam que Vênus descreve uma órbita
quase circular em torno do Sol, uma elipse com raio médio de 108 milhões de
quilômetros. Sabiam também o seu tamanho e achavam Vênus tão parecido com a
Terra que os chamaram planetas gêmeos.
Em maio de 1969, a sonda espacial
Mariner V constatou que as condições reinantes no planeta são bastante hostis.
A pressão atmosférica de Vênus é cem vezes superior à pressão da Terra. Duas
cápsulas russas, apesar de blindadas, foram esmigalhadas, muito antes de tocar
a superfície, submetidas a esta pressão. Este será um dos primeiros problemas a
ser vencido quando para lá for enviada uma expedição exploradora. Sua
temperatura também é muito elevada: 250 a 270°C. No solo, a temperatura pode
chegar a 327°C. O ano de Vênus tem 225 dias.
A única semelhança que há entre a
Terra e Vênus é quanto ao seu tamanho. Vênus tem um diâmetro de 12400 km, e a
Terra tem um diâmetro de 12700 km. Portanto, o diâmetro da Terra é maior em 300
km. A superfície venusiana é inóspita. Tempestades violentíssimas varrem
permanentemente a sua superfície com ventos de até 200 km/h. Vênus é rodeado
por uma atmosfera densa. A composição química dessa atmosfera é conhecida desde
1932, quando foi constatada a presença de muito gás carbônico (CO2).
Recentemente as análises revelaram pequenas quantidades de oxigênio e de vapor
d'água, 1,5 % , além de traços de nitrogênio e outros gases. Na sua atmosfera,
o que predomina mesmo é o carbono, que representa 95 % do total.
Os astrônomos,
sabedores de que Vênus está perto do Sol, imaginaram então que suas nuvens
reteriam parte do calor recebido do Sol, criando na superfície do planeta um
ambiente de estufa. Portanto, Vênus deveria ser um imenso pântano, onde, no
meio do lodo, nadariam animais monstruosos, parecidos com os dinossauros que
habitaram a Terra há 380 milhões de anos. Tudo isso, porém, não passou de
simples conjectura. Os mais sofisticados instrumentos não conseguiram revelar
nada do que existe sob as nuvens venusianas. A única coisa que se sabia com
certeza era a temperatura da camada superior das nuvens que cobrem o planeta:
-50°C.
Vênus é mesmo um forno
escaldante, varrido por furacões e coberto por um teto de nuvens amarelas.
A aproximação mais favorável para
se alcançar Vênus com um foguete, para que se tenha o mínimo gasto de
combustível químico, é quando Vênus está a 42 milhões de quilômetros da Terra, o que ocorre a cada dois anos.
¾ Tio Marcos, é verdade que
existem canais na superfície de Marte? - perguntou Boris, que gostava muito de
Astronomia.
Esses canais já deram muito o que
falar. Entre 1877 e 1890, o astrônomo Schiaparelli descobre em Marte estranhas
linhas escuras que sugeriam canais construídos por obra de uma inteligência
viva. Quase um século depois, em 1965, a sonda Mariner IV, em órbita no planeta
Marte, transmitiu imagens de um mundo inóspito, aparentemente inadequado à
vida, e esclareceu que os canais não existem. Hoje, depois de uma sistemática
exploração científica, por meio das sondas espaciais Mariner IV, VI e VII, os
astrônomos podem afirmar com segurança que não há seres inteligentes em Marte.
Sobre os canais, a melhor
explicação encontrada para eles, e de modo geral aceita pelos astrônomos
modernos, é de que se trata de uma ilusão de óptica, causada por uma tendência
natural do olho humano de dar estrutura geométrica a pontos distintos.
Apesar da exploração feita
através das sondas, Marte, sob muitos aspectos, continua como um grande enigma
a desafiar permanentemente os cientistas. Por exemplo: suas luas Fobos e
Deimos, que possuem características tais que é difícil admiti-las como
satélites naturais. Estes dois satélites foram descobertos em 1877 pelo
astrônomo norte-americano Asaph Hall. Ambos giram em grande velocidade em redor
do planeta e por isso foram denominados Deimos (em grego, terror) e Fobos
(medo). Por apresentar características muito singulares, há quem pense que
Fobos seja um satélite artificial. Deimos gira em torno de Marte em 30 horas e
18 minutos, numa órbita a 23000 km de altura. Seu diâmetro é de cerca de 8 km.
Visto de Marte, apresenta-se como um astro tão brilhante quanto Vênus. Fobos,
bem mais brilhante que Deimos, dista quase 9400 km e tem 16 km de diâmetro.
Enquanto Deimos faz o movimento normal, circulando de leste para oeste, Fobos
circula em sentido contrário, a uma velocidade espantosa, efetuando uma
revolução em 7 horas e 39 minutos, portanto, atravessando o céu marciano três
vezes no mesmo dia. Um dia marciano é praticamente igual ao terrestre. Tem 24
horas e 37 minutos.
Outra hipótese proposta pelos
cientistas é de que Fobos seria um cometa capturado pela atração gravitacional
de Marte, tendo perdido a cauda e a cabeleira, ficando apenas o núcleo.
Marte possui nos pólos duas
calotas. O primeiro pensamento foi encará-las como recobertas por enormes
massas de gelo. Mas não é verdade. Informações enviadas pela sonda espacial
Mariner VII indicam que as calotas são constituídas de bióxido de carbono, isto
é, gelo-seco.
Marte goza de estações
semelhantes às terrestres. Um ano marciano vale 687 dias terrestres.
A menor distância entre a Terra e
Marte, nas ocasiões favoráveis, é de 55 milhões de quilômetros. Somente se
podem fazer observações telescópicas favoráveis de dezesseis em dezesseis anos,
quando o planeta está em situação de distância mínima.
As fotografias obtidas pela sonda
Mariner VI, em 1969, vieram trazer informações muito mais detalhadas que as
obtidas por telescópios. Sua superfície é muito semelhante à da Lua. As
fotografias mostram também que a calota polar sul é cheia de crateras cobertas
de gelo-seco.
O tempo de vôo entre a Terra e
Marte, feito por um foguete com potência igual à do Saturno 5, é de mais de um
ano, para ida e volta. Além dessa grande distância que separa os dois planetas,
as condições hostis de Marte são obstáculos difíceis de superar.
A atmosfera marciana
é semelhante à da Terra; contudo, sua quantidade de oxigênio é várias vezes
menor e a água, centenas de vezes menor. Em 1969, obteve-se a prova de que existe
água na atmosfera de Marte, embora em quantidades mínimas. A temperatura pode
atingir extremos muito elevados: no equador, 30°C ao meio-dia e 0°C ao
entardecer. Nos pólos, -60°C no inverno e -30°C no verão. A pressão atmosférica
de Marte é de apenas 5 a 10% da pressão terrestre, donde se conclui que a sua
atmosfera é muito rarefeita. Ventos intensos agitam a superfície, formando-se
tempestades de areia levantada do solo.
Baseados nessas informações, os cientistas
concluíram que, se existir qualquer tipo de vida em Marte, deverá ser vegetal e
microscópica.
Tio Marcos levantou-se da mesa
e disse:
¾ Por hoje chega. Amanhã
continuaremos com o mesmo assunto. Boa noite.
¾ Tio Marcos, antes de o
senhor sair, me responda uma perguntinha só. Qual é a estrela mais próxima da
Terra? - perguntou Fernanda.
Tio Marcos respondeu:
¾ É claro que a estrela
mais próxima da Terra é o Sol. Mas a segunda mais próxima é a estrela Alfa do
Centauro. Essa estrela é a principal da Constelação do Centauro, no hemisfério
sul. A estrela mais brilhante desta constelação é uma estrela múltipla, e uma
das suas componentes é a estrela chamada Próxima do Centauro. É, de todas, a
mais próxima do Sol. Sua luz leva quatro anos para atingi-lo. Para quem ainda
não sabe, chama-se estrela múltipla o conjunto de estrelas muito próximas,
ligadas gravitacionalmente entre si e que à vista desarmada parecem uma só.
Também existem em Astronomia as estrelas binárias ou duplas. as quais estão
ligadas entre si gravitacionalmente e a olho nu parecem ser uma única estrela.
3. O Universo III
¾ Tio Marcos, existiriam
no Universo sistemas solares iguais ao nosso? - perguntou Silvinho, que estava
concluindo a 8ª série.
Antes de 1838, ainda não se
conhecia nenhuma distância interplanetária. O progresso no conhecimento das
distâncias estelares foi lento até o emprego da fotografia telescópica. A
observação fotográfica apresenta numerosas vantagens sobre as observações
diretas, daí o seu largo emprego na Astronomia. A fotografia pode registrar
definitivamente a imagem de um fenômeno para análise posterior. Além disso, no
caso específico das nebulosas e dos aglomerados globulares, constituídos por
milhares de estrelas, a objetiva fotográfica permite captar imagens que seriam
muito fugazes para a sensibilidade do olho humano.
As variações de abertura das
objetivas fotográficas são muito mais amplas que as da pupila. E a
sensibilidade química dos filmes é muito mais rápida que a da retina. Em
conseqüência das distâncias incomensuráveis, os débeis sinais de luz provenientes
das nebulosas e dos aglomerados podem ser fotografados em frações de segundo,
com uma exposição tão diminuta que, no mesmo tempo, o olho humano não veria
nada.
A questão de saber se a nossa
galáxia era todo o Universo ou se as nebulosas espiraladas eram longínquas
galáxias, isoladas no espaço, foi resolvida pelo grande telescópio de 100
polegadas de Monte Wilson, que foi concluído na época da Primeira Guerra
Mundial, em 1918. Hoje sabemos que a nossa galáxia é apenas uma entre muitos
milhões de outras galáxias existentes.
Atualmente os astrônomos
pesquisam o Universo com um grande telescópio, o do Monte Palomar, com
radiotelescópios, com satélites, com espectroscópios que permitem conhecer os
elementos químicos existentes em estrelas situadas a distâncias inimagináveis,
com raios laser e com telescópios colocados em órbita.
Em 1983, os norte-americanos
puseram em órbita o telescópio orbital Iras e com ele descobriram planetas em
redor da estrela Vega. A estrela Vega é duas vezes maior que o nosso sol e 65
vezes mais luminosa. É a quinta estrela mais brilhante do firmamento. Dista do
nosso sol 25 anos-luz. Pela primeira vez na História, foi confirmada a
existência de outro sistema planetário, porque, até então, somente conhecíamos
o nosso. Isso era previsto ou pressentido, mas somente agora, com a tecnologia
dos satélites, foi possível saber que o Sol não constituía uma exceção. Essa
descoberta trouxe novas luzes à ciência astronômica, pois abriu novas
perspectivas para a compreensão do Universo e da existência de outras
civilizações, tese ensinada pelo Sr. Racional.
Ensina o Racionalismo Cristão
que, disseminados pelo Universo, existem mundos pertencentes a milhões de
sistemas solares, tanto na nossa galáxia, denominada Via Láctea, como nas
demais. Esses mundos dividem-se em cinco ordens, que abrigam espíritos de
diferentes classes evolutivas, a saber:
1. Mundos Densos, que comportam espíritos da 1ª à 5ª
classes.
2. Mundos Opacos, que comportam espíritos da 6ª à 11ª classes.
3. Mundos Intermédios, que comportam espíritos da 12ª à 17ª classes.
4. Mundos Diáfanos, que comportam espíritos da 18ª à 25ª classes.
5. Mundos de Luz Puríssima, que comportam espíritos da 26ª à 33ª
classes.
Essas cinco ordens de mundos estão divididas em duas
categorias: mundos-escolas e mundos de estágio.
Os mundos-escolas são de natureza idêntica à Terra.
Neles encarnam espíritos da 1ª à 17ª classes, pertencentes aos mundos
materializados, mundos opacos e mundos brancos.
Os espíritos que desencarnam e deixam a atmosfera da
Terra, cada qual ascende ao mundo correspondente à sua classe, denominados
também mundos de estágio ou mundos de luz, pois são neles que irão transmutar
em luz espiritual as experiências vivenciadas e muitas vezes dolorosas da
última encarnação. Nestes mundos não estagiam espíritos de graus diferentes. A
Terra é um mundo-escola em que dezessete classes, da série de 33, promovem a
sua evolução, partindo da 1ª e chegando à 17ª, em períodos que variam muito, de
espírito para espírito, demandando no geral milhares de anos.
Para ascensão de uma classe a outra imediatamente
superior, não existem privilégios nem proteção. O Princípio de Justiça
fundamenta-se na Lei da Igualdade. Todos os espíritos têm que enfrentar
idênticas dificuldades e chegar ao triunfo pelo próprio esforço. À medida que o
espírito evolui, vai-se tornando conhecedor das coisas do espaço sideral. Se na
Terra há tanto o que aprender, muito mais ainda há no Universo.
Mas voltemos à Astronomia.
O diretor do radiotelescópio de Jodrel Bank, na
Inglaterra, Sir Bernard Lovell, afirma que 1% das estrelas da nossa galáxia
possui planetas com possibilidade de vida. O Museu do Ar e do Espaço
Smithsoniano de Washington avaliou que, somente na Via-Láctea, existem 500
milhões de mundos habitados. Provavelmente com humanidades iguais à nossa.
Em 1961, diversos cientistas se reuniram nos Estados
Unidos e fizeram várias sugestões acerca dos meios pelos quais poderíamos
tentar comunicações interplanetárias. Optaram por sinais de rádio, que deveriam
ser enviados ao espaço, transmitidos por radiotelescópios ou por raios laser,
codificados em linguagem matemática. Da mesma forma, se tais habitantes
estiverem tentando comunicações com o nosso planeta, é de se esperar que o
façam de maneira também matemática.
Vários outros radioastrônomos, de outros países,
também estão tentando essa comunicação. Foram dirigidas gigantescas antenas
parabólicas para as estrelas Tau Cita e Epsilon Eridani, na esperança de
escutar-se algum sinal organizado.
A partir de 1972, a NASA lança na imensidão do
espaço as sondas Pioneer 10 e 11 e Voyager 1 e 2, destinadas a sair do sistema
solar, levando mensagens. As Pioneers levavam uma placa de alumínio gravada e
as Voyagers, um disco com sinais conversíveis em sons e imagens, contendo
informações sobre a espécie humana e sobre a nossa posição no Universo.
A placa das Pioneers mostra os planetas que compõem
o nosso sistema solar, a trajetória e o formato da nave, as figuras de um homem
e de uma mulher, bem como a representação de uma molécula de carbono, base da
vida biológica existente na Terra. Também foram desenhadas coordenadas que
indicam a posição de catorze fontes especiais de energia de rádio, chamadas
Pulsar, para localização do nosso sistema solar.
Em 1983, a Pioneer 10 saiu dos limites do Sistema Solar,
cruzando a órbita de Netuno, e atualmente ruma para o infinito. Daqui a 100
milhões de anos, a Pioneer 10 poderá manter-se exatamente como foi lançada, até
quando já não houver mais vida na Terra.
Nós já vimos em uma aula anterior que, desde 1975, a
evolução da Astronáutica possibilitou a pesquisa do planeta Marte. Contudo,
ainda não foi constatada a existência ou não de vida orgânica neste planeta.
Com essa finalidade, em 1975, a NASA, através do Projeto Viking, lançou duas
sondas Mariner, rumo ao planeta Marte. O professor Harold Kleim, chefe da
equipe biológica do Projeto Viking, comentou que a hipótese de vida aceita pela
maioria dos cientistas contemporâneos é de que a vida teria surgido na Terra,
há bilhões de anos, quando as condições ambientais foram propícias á criação de
moléculas orgânicas, mediante a combinação de elementos químicos. Até certo
ponto, algo semelhante deveria ter ocorrido em Marte, porque o planeta possui o
mesmo tipo básico de atmosfera, os mesmos elementos químicos e sempre recebeu a
mesma quantidade de energia solar que a Terra. Portanto, segundo o mesmo
cientista, a vida seria um acidente, resultado fortuito de certas condições
químicas, cuja lei, por sua vez, aplica-se à evolução dos seres. Desta forma, a
vida seria um acaso, resultado de combinações químicas, sendo as células
formadas por cadeias moleculares de carbono.
Na Terra, através de evolução química, foram criadas
moléculas orgânicas mediante combinações de elementos químicos existentes, após
bilhões de anos, quando as condições ambientais foram propícias, tais como
elementos químicos, atmosfera e energia solar.
No solo da Terra, existem grandes quantidades de
seres vivos microscópicos. Uma pequena colher de solo contém cerca de 5 bilhões
de bactérias, 20 milhões de fungos filamentosos e 1 milhão de protozoários.
Muitas dessas espécies são anaeróbicas, isto é, vivem sem oxigênio. Portanto,
se as pesquisas das naves Mariner do Projeto Viking demonstrarem que nunca
houve microorganismos vivos em Marte, será necessário reformular as teorias
atuais sobre a origem da vida na Terra e sua evolução.
As naves Mariner pousaram na superfície de Marte,
colheram amostras do solo, analisaram e demonstraram que nunca houve vida
orgânica em Marte, apesar de o planeta apresentar quase as mesmas condições
existentes na Terra. E agora? Como explicar a vida no planeta Terra?
Em 1992, dezessete anos após o lançamento das sondas
Mariner, a NASA voltou a pesquisar o planeta Marte, lançando a sonda Mars, com
a missão de observar e ficar durante dois anos estudando-o. Primeiramente fez
um levantamento cartográfico do planeta. Em seguida pesquisou a composição dos
minerais e outras substâncias do planeta, do seu campo gravitacional e
novamente tentou detectar sinais de vida orgânica.
O Sr. Racional ensina que o Universo, considerado em
si mesmo, é todo movimento e ação. Prega que o Universo é composto de Força e
Matéria, e que a vida é a ação permanente da Força sobre a Matéria. A Força
mantém o Universo regido por leis comuns, naturais e imutáveis. A Força, agindo
em obediência às leis evolutivas, utiliza-se da matéria, no estado primário
desta, e com ela forma corpos e realiza fenômenos incontáveis e indescritíveis,
que escapam à apreciação comum.
A Força, utilizando-se da Matéria, começa a sua evolução
na estrutura do átomo, passando depois à composição das moléculas, e em seguida
a uma nova ordem de ação construtiva. Em todo o constante agregar e desagregar
dos corpos, a intensidade da Força vai aumentando, nesses núcleos
infinitesimais, com maior acentuação das vibrações da vida, fazendo progredir o
seu grau de inteligência.
Completado o ciclo iniciado no primeiro dos três
grandes reinos da natureza ¾ o mineral ¾ de onde ascenderão para o vegetal e depois para o
animal, passam esses núcleos de Força a constituírem-se em micro-organismos, de
ínfima espécie. Desses micro-organismos, partindo da espécie mais simples,
empreende a partícula de Força a sua evolução através de outras espécies e de
outros organismos de maior desenvolvimento, atingindo sempre formas mais
elevadas.
Da explicação acima, deduzimos que as partículas de
Força, já individualizadas e pertencentes ao planeta Marte, estão fazendo a sua
evolução no reino mineral, como nós já o fizemos aqui na Terra. Portanto, lá
não existe, ainda, vida orgânica. Talvez, possa existir alguma condição que
impossibilite a existência de vida em reinos superiores.
¾ Tio Marcos, o que é o Universo de Einstein?
-perguntou Marquinho que estava na 1ª série do 2° grau.
Vou tentar explicar, pois, para bem se entender a
Física do Dr. Einstein, são necessários conhecimentos superiores de Química e
de Matemática, ensinados nos cursos universitários. Para vocês entenderem,
vamos primeiro falar sobre a matéria, depois eu chegarei lá.
O professor e cientista americano E. Russel Hardwick
dá a seguinte explicação sobre a natureza da matéria: “A idéia de que todos os
materiais são constituídos de partículas individuais tão pequenas que não podem
ser vistas com os instrumentos que possuímos até agora é chamada Teoria Atômica.
Esse modelo tem o nome de teoria, porque tecnicamente ninguém jamais viu átomos
ou moléculas; entretanto, a instrumentação moderna tem mostrado a existência de
partículas de matéria de modo tão convincente e de tantas maneiras que os
químicos não hesitam em usar essa teoria como a pedra fundamental de seu
estudo.”
Em 1808 um químico inglês chamado John Dalton propôs
um modelo explicativo a respeito da natureza dos materiais, o qual recebeu o
nome de Teoria Atômica. Três anos depois, essa teoria ganhou uma valiosa
colaboração feita pelo químico italiano Amadeo Avogadro. Ao conjunto das idéias
de Dalton e Avogadro, deu-se o nome de Teoria Atômica Clássica, que apresenta
os seguintes pontos básicos:
1. As substâncias químicas são formadas de pequenas
partículas chamadas moléculas. A molécula é a menor porção de uma substância.
2. As moléculas são constituídas por partículas
ainda menores chamadas átomos. Cada molécula é, portanto, constituída por dois
ou mais átomos que se mantêm unidos por forças de atração.
3. As moléculas podem ser divididas nas
transformações químicas; os átomos são indivisíveis e indestrutíveis pelos
processos químicos conhecidos.
O átomo, revelado pelo inglês Dalton, em 1810, foi
aceito durante quase um século, como unidade indivisível da matéria. Mas, em
fins do século XIX e começo do XX, dois compatriotas de Dalton, Thomson e
Rutherford, conseguem despedaçar o átomo. Derrubam, então, a teoria da
indivisibilidade do átomo.
Rutherford, em 1911, representou o átomo como se
fosse um sistema planetário. Nessa representação, o átomo é formado por um
núcleo central, que contém a quase totalidade da sua massa, bem como uma carga
elétrica positiva. Esse núcleo é envolvido por uma nuvem de elétrons, com uma
carga elétrica total negativa, oposta à carga do núcleo.
O núcleo é formado por dois tipos de partículas: os
prótons e os nêutrons. O número de prótons existentes no núcleo é o que
caracteriza um elemento. Por exemplo: o hidrogênio tem número atômico igual a 1
porque o seu núcleo é constituído por um único próton. Já o urânio tem um
núcleo constituído por 92 prótons, portanto o seu número atômico é 92.
Em torno do núcleo, como já dissemos, gravitam os
elétrons que possuem movimento comparável ao dos planetas em torno do Sol.
Na Antiguidade, 460 a.C., os filósofos Leucipo e
Demócrito postulavam que a matéria era formada de átomos, infinitos em número,
indestrutíveis, indivisíveis e que se agrupavam em combinações causais e por
processos mecânicos. Demócrito dizia que a própria alma, apesar de ser
considerada o Princípio Vital, também era composta de átomos.
¾ Tio Marcos - interrompeu Marquinho, o senhor acabou
de comparar um átomo com um sistema planetário; então, eu gostaria de saber:
quanto às distâncias existentes entre as partículas atômicas, serão elas,
comparativamente, tão grandes quanto as distâncias estelares medidas com a
unidade de comprimento ano-luz?
Para vocês terem uma ideia das grandezas que
envolvem as partículas constituintes de um átomo, imaginem que o núcleo seja do
tamanho de uma laranja. O elétron seria do tamanho da cabeça de um alfinete,
girando em torno desse núcleo, a um quilômetro de distância. Esse espaço
existente entre a laranja e a cabeça de alfinete, isto é, entre o núcleo e o
elétron, é preenchido por alguma coisa?
Há uma hipótese que diz ser esse espaço ocupado pelo
éter. Segundo os sábios antigos, o éter seria um fluido que encheria todos os
espaços, porque esses espaços, mesmo os espaços interplanetários, transmitem a
luz, o calor, as ondas de rádio e outras ondas eletromagnéticas, tais como os
raios gama, os raios X, os raios ultravioletas e todas as ondas radioelétricas,
as quais se propagam no vácuo com a velocidade de 300 mil km/s.
Algumas escolas espiritualistas do Oriente afirmam
que, no espaço ocupado pelo éter, estão contidos vários universos espirituais,
interpenetrados entre si, e todos interpenetrando o nosso universo material.
Explicam isto da seguinte forma: suponhamos um balde cheio de pedras redondas
de rio. Esse balde cheio de pedras de rio representaria o nosso universo
material, onde tudo é constituído por moléculas grandes. Se despejarmos, dentro
desse balde cheio de pedras, areia fina, esta areia penetrará por entre as
pedras, ocupando os espaços existentes entre elas. Esta imagem representaria um
segundo universo astral, o qual, composto por moléculas menores, constituiria
um segundo universo, existindo interpenetrado no nosso universo material. É
nessa região do segundo universo astral, que o Sr. Racional denominou atmosfera
da Terra, que vivem os espíritos imperfeitos do Astral Inferior do planeta
Terra. São espíritos que não sabem que desencarnaram e que desejam ardentemente
satisfazer os seus desejos materiais, o que só é possível com um corpo físico.
Mas, continuando, o balde, que já contém pedras
redondas e areia, pode-se ainda enchê-lo com água. Essa água representaria um
terceiro universo astral, mais diáfano que o segundo. Ainda no balde, contendo
pedras, areia e água, poderíamos, com uma técnica especial, introduzir gás
nessa água, o qual ocuparia os espaços intermoleculares da água. Esse gás
representaria um quarto universo astral, interpenetrando os três primeiros. E
assim sucessivamente.
Portanto, com essa explicação, torna-se
compreensível a hipótese de existirem no planeta Terra duas humanidades, uma
encarnada e outra desencarnada, esta acreditando possuir um corpo material, há
muito desagregado, decomposto. Isto porque tais espíritos desconhecem a sua
composição astral e física. Quando encarnados, perderam tempo acreditando nas
lendas religiosas. Muitos não sabem que morreram. Pensam que ainda são o corpo
físico. Desencarnados, continuam morando nas próprias casas, querendo
satisfazer as suas necessidades materiais e manter os seus costumes, ou
permanecem junto das pessoas encarnadas que amavam, querendo ajudar, ou junto
de desafetos, unidos pelo ódio, ou ainda atraídos por pensamentos afins. Sabem
que algo estranho aconteceu com eles. Procuram conversar, mas ninguém os ouve.
Também não escutam com nitidez o que as pessoas conversam. Outros, fixos num
pensamento de ódio, perdem a capacidade de manter o seu corpo astral com a
forma que possuíam e transformam-se em bolas pretas, do tamanho de uma cabeça
humana, aderindo aos seus desafetos, sugando-lhe as energias anímicas e
contaminando-os com seus fluidos doentios, constituindo quadros obsessivos
constrangedores. Daí a necessidade de aprendermos a pensar com elevação, com
moralidade, pois os pensamentos indisciplinados, materializados, atraem essas
criaturas que infestam a atmosfera da Terra.
Mas voltemos à nossa aula de Química: a Física
constatou ser o éter um meio hipotético. Portanto, não existe, e a estrutura
clássica do átomo proposto por Rutherford, representando o átomo como se fosse
um sistema planetário, mais tarde foi modificada pelos estudos do físico alemão
Max Planck (1858-1947), para poder explicar as leis da radiação corpuscular,
isto é, da energia emitida por uma fonte, sob a forma de partículas subatômicas
como elétrons, nêutrons etc. Max Planck considerou a descontinuidade da energia
e formulou em 1900 a Teoria dos Quanta. Essa teoria modifica a hipótese da
estrutura do átomo e considera as novas partículas constituintes do átomo,
descobertas no início desse século XX, tais como pósitrons, mésotrons,
nêutrons, dêuterons, partículas alfa, beta, lambda, sigma, ômega, os mésons pi
e K, o fóton e as respectivas antipartículas.
Se vocês estivessem mais adiantados nos estudos, nós
poderíamos falar em antimatéria. Só para vocês não desconhecerem o assunto,
podemos dizer que é um átomo ou matéria constituída pelas antipartículas do
próton, do nêutron, do elétron etc. Um átomo de antimatéria, em contato com o
seu análogo material, levaria ao aniquilamento dos dois com as transformações
destes em neutrinos e radiações gama.
Na Teoria dos Quanta, os elétrons passam a ter duplo
aspecto: ora partículas, ora ondas. A matéria, pois, pode ser representada por
equações de ondas, compondo a Mecânica Ondulatória. Desta forma, o elétron
clássico, esférico, foi reduzido a uma carga ondulante de energia elétrica, e o
átomo passou a ser tratado como um sistema de ondas superpostas.
Esses conhecimentos levaram ao surgimento da Física
Nuclear, à desintegração do átomo e ao surgimento da energia atômica e também à
transmutação dos elementos, isto é, a transformação de um elemento químico em
outro, o velho sonho dos alquimistas da Idade Média, que queriam transmutar os
metais vis em ouro e prata. Via processos atômicos, é possível realizar essas
transmutações; contudo é muito caro, é antieconômico fabricar ouro. Da mesma
forma que tirar ouro da água do mar sai muito caro, apesar da existência de
grande quantidade de metal nessas águas, também produzir ouro via transmutação
atômica sai caríssimo. É muito mais barato continuar com a exploração das
minas.
¾ Tio Marcos, o que é buraco negro? - perguntou Boris.
¾ Na aula de ontem eu falei sobre esse
assunto superficialmente. Vou esclarecer melhor.
Em 1669, Newton formulou uma teoria física,
afirmando que a luz era composta por partículas. Em 1900, surgiu a Teoria dos
Quanta de Planck, que dizia que a luz se formava em ondas. Sabemos hoje que
essas duas teorias estão corretas. Pela dualidade onda-partícula da Mecânica
Quântica, a luz tanto pode ser considerada onda como partícula.
A luz, sendo composta por partículas, é afetada pela
gravidade como qualquer corpo, como as pedras, os projéteis de artilharia e os
planetas o são.
Albert Michelson recebeu o Prêmio Nobel de Física,
em 1907, por ter medido a velocidade da luz. Após muitos anos de observação,
provou que a luz se propaga em velocidade constante, a 300 mil km/s.
Numa estrela, quando o seu combustível nuclear se
esgota, sua temperatura diminui. Um processo de esfriamento ocorre, e é seguido
de uma constante contração. Ora, contraindo-se, a estrela experimenta um novo
aquecimento temporário que, sem provocar temperaturas altas o bastante para
reacender a fornalha atômica, é suficiente para fazê-la brilhar. Esse brilho,
contudo, é efêmero; a estrela continua a contrair-se até atingir uma situação
crítica, a partir da qual ocorre uma catástrofe gravitacional inevitável. Se
comparada com as suas dimensões originais, ela torna-se um minúsculo ponto,
porém, com elevadíssima densidade, correspondente à concentração de grande
quantidade de matéria, em uma porção restrita do espaço. Desta forma,
origina-se um campo gravitacional tão intenso que mesmo a luz emitida pela
estrela em questão não consegue abandoná-la.
Repetindo: uma estrela com massa compacta pode
possuir um campo gravitacional tão forte que a luz não lhe pode escapar.
Qualquer luz, emitida pela superfície dessa estrela, seria puxada de volta, por
sua atração gravitacional. Existe um grande número de estrelas nessa situação.
Ainda que não fôssemos capazes de vê-las, porque a sua luz não nos atingiria,
poderíamos sofrer sua atração gravitacional. Estes objetos são o que os
cientistas chamam de buracos negros, porque é exatamente isso que eles são:
vácuos escuros no espaço.
No Universo do Dr. Einstein, o buraco negro é uma
região do espaço-tempo, intensamente curva, consistindo uma singularidade. Pode
ser entendido como um estado que a matéria atinge, ao sofrer um colapso
gravitacional, no qual nem a luz, a matéria ou qualquer outro tipo de sinal
podem escapar. A velocidade mínima necessária para um veículo escapar à ação de
um buraco negro se aproximaria da velocidade da luz.
Nessa oportunidade, Serginho fez a seguinte
pergunta a tio Marcos:
¾ Tio Marcos, eu sei que energia é a propriedade de um
sistema que permite realizar um trabalho. Sei também que a energia pode ter
várias formas: calorífica, cinética, elétrica, eletromagnética, mecânica,
potencial e química. Sei também que a energia não pode ser criada, mas apenas
transformada. O senhor, explicando os buracos negros, falou em combustível
nuclear e em fornalha atômica, e eu não entendi. O senhor poderia explicar o
que é energia atômica?
Lá no fogão a lenha da cozinha, a lenha queima,
produzindo dois tipos de energia: a energia térmica para cozinhar alimentos e
esquentar água e a energia radiante em forma de luz, o clarão do fogo. A
energia atômica também produz calor, isto é, energia térmica e energia radiante
em forma de luz e de radiação, como raios X muito poderosos. A radiação
corpuscular é uma energia emitida por uma fonte sob a forma de partículas subatômicas,
dotadas de elevada energia cinética, tais como elétrons, partículas alfa, beta,
nêutrons etc. Essas partículas atravessam a maioria dos corpos que não deixam
passar a luz.
A unidade de medida de exposição de uma radiação é o
roentgen (r) em homenagem ao físico alemão Wilhelm Konrad Roentgen (1845-1923).
Ele foi o descobridor do raio X, capaz de atravessar os corpos opacos e
sensibilizar as chapas fotográficas. O raio X é muito usado na medicina e na
indústria, nos processos e construções metalúrgicos.
As radiações são muito perigosas e podem produzir
várias doenças de acordo com as doses a que se expôs o indivíduo. As radiações
ou radiatividade são perigosas porque os nossos sentidos não permitem
percebê-las. Os danos podem se manifestar nas pessoas atingidas ou em seus
descendentes.
Quando as radiações são muito intensas, surgem
efeitos imediatos. Doses superiores a 3000 r destroem, em poucas horas, as
células nervosas do sistema nervoso central. As radiações com intensidades além
de 1000 r desintegram em poucos dias as células intestinais. Para doses maiores
que 300 r ocorre, depois de alguns meses, a morte da medula, ocasião em que as
células do sangue perdem a capacidade de se reproduzir. Doses inferiores a 300
r não causam, em geral, a morte do indivíduo. Entretanto, além de eventuais
lesões localizadas na epiderme, há um acentuado aumento de incidência de
tumores malignos, leucemia etc. A manipulação imprudente de materiais
radioativos já causou muitas vítimas. Talvez a perda mais famosa tenha sido a
de Marie Curie (1867-1934), morta em conseqüência da prolongada exposição às
radiações do elemento rádio. Até então, não era bem conhecida a natureza das
radiações, nem o fato de serem nocivas aos organismos vivos.
Para se detectar a radioatividade, usa-se um
aparelho chamado contador geiger, que é um dispositivo capaz de produzir um
impulso elétrico e um som como se fosse de fritura, cada vez que for
atravessado por uma partícula que lhe forneça certa quantidade de energia.
Como eu estava dizendo, lá no fogão, para provocar o
fogo é preciso que haja muito oxigênio para queimar a madeira. Contudo, há
certas substâncias que queimam de maneira diferente. Elas desprendem energia
por si mesmas. Possuem uma radioatividade natural. Elas desprendem energia sem auxílio
exterior. Duas dessas substâncias são o rádio (Ra88) e o urânio (U92). Os
átomos desses materiais não se comportam como os dos outros elementos. Muitas
vezes, deles desprendem-se partículas atômicas, por si só, produzindo
radiações, luminosidade e calor. Muitos relógios têm mostradores cujos números
brilham na obscuridade. Isso também ocorre com certos interruptores de luz e
nos tubos de televisão. Quando vocês estudarem fotoquímica compreenderão por
que isso ocorre.
De um pedaço de urânio, os átomos vão se partindo,
uns após os outros, não muito depressa, sequencialmente, e a energia atômica
vai se libertando, em pequena quantidade, porque essa reação é natural e lenta.
Para aproveitar essa energia, os físicos conseguiram controlar a velocidade com
que ela se produz. Inicialmente utilizaram essa energia para fins bélicos.
Em 1945, nos Estados Unidos, cientistas obtiveram a
fissão do átomo, bombardeando com um feixe de nêutrons núcleos de urânio 235,
produzindo uma espantosa e mortífera explosão. Nascia a bomba atômica. A
explosão atômica produz intensa luminosidade que cega, ondas de calor que tudo
vaporizam, um tufão devastador de 400 km/h e radiações mortais até a uma
distância de 3 km do ponto em que ocorreu a explosão.
Uma bomba atômica com uma potência de um megaton
libera energia suficiente para ferver instantaneamente 10 mil toneladas de
água. Essa é uma bomba modesta. Os arsenais das grandes potências possuem
bombas de 50 a 100 megatons.
A energia atômica está também sendo usada para fins
pacíficos. Os cientistas desenvolveram reatores atômicos para ferver água em
caldeiras e produzir vapor para movimentar navios, submarinos, acionar turbinas
na indústria produzindo energia mecânica (cinética) para movimentar bombas
hidráulicas, geradores elétricos etc.
Também aprenderam a usar a radiação como remédio.
Por exemplo: as bombas de cobalto 60 e de césio são usadas como fontes
radioativas para tratamentos radioterápicos, principalmente de tumores
cancerígenos.
Agora, respondo à pergunta do Marquinho sobre o
Universo do Dr. Einstein. Em 1905, aplicando a Teoria dos Quanta, Albert
Einstein (1879-1955) formulou a Teoria da Relatividade. Einstein propôs que
todas as formas de energia radiante, luz, calor, raios X, também se propagam
através do espaço, em quanta separados e descontínuos. Imaginou que a luz se
compunha de partículas ou grãos individuais de energia: os fótons. Einstein,
com a sua teoria, derrubou a estrutura da física tradicional, e a sua fórmula E
= mc2, onde: E = energia em ergs, m = massa do corpo em gramas e c = velocidade
da luz por segundo, desempenhou papel fundamental no desenvolvimento da bomba
atômica.
A energia liberada na explosão de uma bomba atômica
é determinada pela equação da energia acima mencionada. A bomba atômica deriva
da Teoria da Relatividade e com essa bomba foram destruídas as cidades
japonesas de Hiroshima, no dia 6 de agosto de 1945, e Nagasaki, em 9 de agosto
do mesmo ano.
Einstein também demonstrou que o espaço e o tempo
não são absolutos. São relativos ao observador. Ele procurou demonstrar que não
vivemos num universo de três dimensões: largura, comprimento e altura, como
demonstrava a geometria clássica de Euclides, mas, sim, num universo de quatro
dimensões, constituído pelo Espaço mais a quarta dimensão, o Tempo. O Espaço e
o Tempo, quando tomados separadamente, são abstrações da mente humana; porém,
na realidade exprimem uma só unidade. Aparecem sempre juntos.
Agora vou descrever uma parte do Universo de
Einstein, que a grande maioria das pessoas não entende por falta de
conhecimentos. É a seguinte: o Espaço parece ser nada, mas pode ser um meio de
força. O ímã atrai o ferro e a Terra atrai a Lua, através do espaço vazio; a
luz é certa modificação nesse espaço; as partículas atômicas, elétrons e
prótons parecem nada mais ser do que o espaço em estado de tensão. Toda energia
tem inércia e sofre conseqüentemente a atração de outras energias e de outros
corpos. Segue-se que toda emissão de energia sofre desvios na sua rota, em
conseqüência da inércia quântica que se submete à Lei de Atração Universal.
Assim o próprio raio luminoso fica impossibilitado de seguir em linha reta e é
obrigado a encurvar-se. Daí resulta que o Universo é curvo e, portanto, finito.
Apesar de o Universo de Einstein ser curvo e finito,
ele é bastante grande para conter milhões de galáxias, cada uma das quais
compostas por centenas de milhões de estrelas em fogo, com temperaturas de
milhões de graus centígrados, calor esse originado por reações termonucleares,
cujo combustível atômico é o hidrogênio. Esse universo contém, também,
quantidades incalculáveis de gases rarefeitos, planetas e asteroides de ferro e
pedra e também muita poeira cósmica. Um raio de luz que se lance pelo espaço,
com a velocidade de 300 mil km/s, descreverá nesse universo curvo um grande
círculo cósmico, e retornará à sua fonte de origem, após uns 200 bilhões de
anos terrestres.
No Universo de Einstein, temos duas realidades:
Campo e Matéria. Campo representa a Energia e a Matéria representa a Massa. A
Teoria da Relatividade acentua a importância do conceito de Campo em Física.
Mas ela ainda não conseguiu enunciar uma física de campo pura. Em face dessa
condição, admite ainda a existência de ambos: Campo e Matéria.
O Sr. Racional afirma que, no Universo, somente
existem Força e Matéria. Na Força está contido o Campo, isto é, a Energia de
Einstein e todas as leis que regem o Universo, a Inteligência e a Vida. Tudo
com um único objetivo: evoluir. No livro O Espírito
Este Desconhecido, o pesquisador francês Jean Charon, analisando a estrutura
atômica e as moléculas constituídas por estes átomos, através dos seres vivos e
corpos inanimados, conclui: “Existe um elemento inteligente que não é matéria,
o qual é a causa de as células desses organismos vivos se movimentarem, se
transformarem, atuando algo semelhante ao Espírito ou Alma”.
Desta forma, comprova a tese do Sr. Racional de que
a Vida é a manifestação das Partículas Inteligentes, emanadas da Força, do
Grande Foco em evolução, nos mundos materializados, onde a função da matéria é
somente transformar-se.
Tio Marcos interrompeu porque o sono já estava
batendo em todos.
¾ Amanhã continuaremos com o estudo da Evolução.
Boa noite. Durmam bem.
Os meninos foram para os seus quartos. Tio Marcos
saiu e fechou a porta.
4. A evolução I
Todos já haviam jantado e tomado café. Vô Mário
comentou sobre 150 garrotes de dois anos, das raças gir e guzerá, que havia
comprado em Presidente Prudente, SP, e que chegariam no dia seguinte.
Tio Marcos levantou-se e
disse:
¾ Vamos continuar o nosso
assunto. Hoje falaremos sobre a evolução cósmica.
Marquinho apanhou um
lampião e subiu na frente para o quarto. Todos acomodados, tio Marcos começou
...
Os astrônomos e físicos, através
de seus estudos, reconstituíram a origem e a seqüência das transformações dos
seres que fazem parte do Cosmo. Essas modificações chamam-se evolução cósmica.
No planeta Terra, desde o início
de sua existência, ocorreram lentas, porém contínuas, modificações no clima e
na crosta terrestre. Ao conjunto destas modificações chamamos evolução
geológica.
Até 190 milhões de anos atrás, os
continentes estavam todos unidos, formando um único bloco de crosta terrestre,
emergindo dos oceanos, chamado Pangéia.
Através dos deslocamentos das
camadas internas da crosta terrestre, a Pangéia começou a partir-se,
iniciando-se a separação dos blocos que gradualmente formaram os atuais
continentes. É por isso que a costa leste do Brasil parece encaixar-se
perfeitamente na costa oeste do continente africano.
Há cerca de 600 mil anos, ocorreu
outra profunda alteração geológica na Terra: a Primeira Glaciação. Esse
fenômeno exerceu ação sobre a superfície da Terra pelas geleiras, que eram
grandes massas de gelo que se deslocavam. Durante a glaciação a queda de neve é
maior que o degelo. A Primeira Glaciação durou 60 mil anos. Neste período houve
grandes alterações no clima, pois áreas imensas ficaram totalmente cobertas por
grossas camadas de gelo. A Terra, desde então, já passou por quatro períodos
glaciários.
Os intervalos de tempo entre os
períodos glaciários são chamados períodos interglaciários. Atualmente a Terra
passa por um período interglaciário.
Os seres vivos que conhecemos
hoje derivam de seres unicelulares ancestrais, que surgiram há bilhões de anos.
À medida que esses seres foram se reproduzindo, também foram se transformando,
dando origem aos mais diferentes corpos. Os seres vivos que conhecemos hoje
resultam dessa diversificação de corpos que ocorreu ao longo de bilhões de anos
de reprodução.
Às transformações dos corpos dos
seres vivos através do tempo chamamos evolução biológica.
No estudo da evolução geológica e
biológica, o tempo de existência da Terra foi dividido em eras. Chama-se era
geológica cada uma das quatro grandes divisões da história da Terra, a saber:
1. Pré-cambriana: existente há mais de 600 milhões de anos.
2. Paleozoica: de 600 a 230 milhões de anos atrás.
3. Mesozoica: de 230 a 65 milhões de anos atrás.
4. Cenozoica: de 65
milhões de anos até hoje.
As pesquisas sobre a formação das
rochas terrestres e as suas transformações permitiram encontrar inúmeros
fósseis de plantas e animais. Assim, ao mesmo tempo que se identificaram as
épocas em que as atuais rochas se formaram, foi também possível identificar as
épocas em que viveram os animais e os vegetais que constituem os fósseis nelas
encontrados.
Na Cordilheira dos Alpes foram
encontrados inúmeros fósseis de conchas de animais marinhos. Isso significa que
o material que hoje forma as rochas dos Alpes, em determinada época, fazia
parte do fundo de algum mar. Assim, os cientistas, pesquisando a idade das
rochas e estudando os fósseis nelas encontrados, conseguiram reconstruir a
evolução geológica da Terra e a evolução dos seres vivos.
Silvinho, muito interessado, perguntou:
¾
Tio Marcos, o que são fósseis?
Fósseis são restos de corpos de
seres vivos, animais ou vegetais que habitaram o planeta no passado. Recobertos
por camadas sucessivas de terra, através dos tempos, foram se petrificando e,
assim, se conservaram sem perder certas características essenciais.
Os mais antigos fósseis que se
conhecem são de bactérias e datam de 3,5 bilhões de anos.
Acredita-se que se trata de
bactérias anaeróbicas, isto é, podiam viver sem ar ou sem oxigênio livre, pois
a Terra, nessa época, era desprovida de oxigênio.
Há muitos peixes fossilizados, recobertos
por sedimentos. Com o tempo seus ossos ficaram impregnados de minerais. Esses
ossos, submetidos à pressão de várias camadas de sedimentos do solo, foram
mineralizando-se, e formaram fósseis, muitos dos quais fundidos nas rochas
terrestres.
Para entendermos melhor a
evolução, é necessário ainda que conheçamos o seguinte sobre a constituição do
nosso planeta: a Terra hoje se encontra composta por materiais sólidos,
líquidos e gasosos, dispostos em camadas. Essas camadas, partindo do centro do
planeta, são as seguintes:
1. Núcleo central:
constituído por minerais de níquel e ferro, em estado de fusão, devido às altas
temperaturas internas existentes.
2. Mesosfera: envolvendo o
núcleo central, é constituída predominantemente de silício, ferro e magnésio.
3. Sima: encontra-se logo
acima da mesosfera, constituído por rochas pesadas, compostas em grande parte
por silício e magnésio.
4. Litosfera: sobrepõe-se
ao sima, onde os materiais predominantes são o silício e o alumínio. Sua
espessura média é de 60km. Ela constitui a camada sólida externa do planeta que
envolve as demais e por sua vez é envolvida pela atmosfera. Na litosfera se
dispõem as águas de superfície, que constituem a hidrosfera.
A atmosfera possui
aproximadamente 1000km de altura e é formada por gases diversos. De 40 a 400km
de altura, existe na atmosfera uma região altamente ionizada chamada ionosfera.
A seguir vem a magnetosfera atingindo 130 mil km de altura, região em que a
taxa de ionização é quase nula.
A hidrosfera é formada pelas
águas da natureza, as quais são sempre as mesmas. A água muda constantemente de
lugar. Esse passeio que ela dá pela natureza chama- se ciclo das águas. O ciclo
das águas é movido pela energia solar. As águas dos oceanos, lagos e rios, do
solo e dos corpos vivos evaporam graças à atuação da energia do sol e retornam,
caindo sobre a Terra na forma de chuva espalhada pelo vento.
Cerca de metade da energia do sol
é refletida pelas nuvens e pelo pó da atmosfera, não alcançando a superfície
terrestre.
Parte da energia solar que incide
sobre a superfície terrestre volta à atmosfera na forma de calor. Outra parte é
consumida na evaporação da água. Outra parte ainda é absorvida pelo solo e
aproximadamente de 1 % a 2% são consumidos pelos vegetais no processo da
fotossíntese. Calcula-se que anualmente são formadas cerca de 200 mil toneladas
de proteínas, açúcares, gorduras e vitaminas pelas plantas do planeta Terra,
graças à energia solar.
As plantas são seres
autotróficos, isto é, alimentam-se de seres não vivos: gases do ar, água,
nutrientes e micronutrientes minerais do solo.
A energia solar é transferida aos animais, via
plantas e via algas unicelulares, por meio da fotossíntese. A energia radiante
do sol é transformada pela fotossíntese em energia química acumulada nos seguintes
sistemas das plantas, que vão alimentar os animais herbívoros:
1. Sistema radicular:
parte subterrânea, não verde, formada pelas raízes.
2. Sistema foliar: parte
aérea clorofiliana, verde, formada pelo caule principal, galhos e folhas.
3. Sistema reprodutor: formado pelas flores, frutos e sementes.
Nos vegetais, ressaltamos a
importância da clorofila, ,aquele pigmento verde das folhas. É a clorofila que
absorve a energia luminosa e que assegura a primeira fase da seqüência complexa
de transformações que constituem a fotossíntese, isto é, como já dissemos, a
transformação da energia radiante do sol em energia química.
Também existem alguns espécimes vegetais carnívoros,
que capturam pequenos insetos, por meio de variados dispositivos, e realizam a
digestão mediante a produção de um suco digestivo. Esses vegetais, apesar de
carnívoros, possuem raízes e também absorvem alimentos do solo.
¾ Tio Marcos, o que é célula? O senhor vem se referindo a essa palavra,
mas eu não sei o que seja! - perguntou Fernanda, que estava na sétima série.
¾
Vou explicar-lhes. Prestem atenção! - respondeu tio Marcos.
Células são as unidades que
formam os seres vivos. Ela é uma partícula inteligente, ainda muito rudimentar,
em evolução, formando os corpos dos reinos vegetal e animal. São como os
tijolos que formam uma parede. Os seres vivos podem ser unicelulares, compostos
por uma única célula, ou pluricelulares, compostos por mais de uma célula. As
plantas e os animais são pluricelulares. Os micróbios são unicelulares.
O vírus é um micro-organismo que
se desenvolve unicamente dentro das células vivas. Portanto, é bem menor que a
célula que o hospeda. Os vírus são partículas compostas por ácido nucléico
protegidas por uma capa de material proteico.
Para vocês entenderem o que seja
uma célula, imaginem um ovo de galinha, quebrado e despejado numa frigideira,
antes de ir para o fogo. A clara seria o citoplasma e a gema, o núcleo. O
citoplasma e o núcleo são cobertos por uma membrana chamada membrana do
citoplasma. É no núcleo que encontramos os cromossomos. O cromossomo é a
memória genética. É constituído por um conjunto de moléculas de uma substância
chamada DNA e tem o formato de filamentos enrolados em espiral. É no cromossomo
que encontramos partículas chamadas genes. Os genes são unidades hereditárias.
Encerram os caracteres biológicos do ser e determinam as características de um
indivíduo.
Sabemos que o corpo humano é
formado por ossos, pele, sangue, coração, fígado, músculos e vários outros
órgãos.
Qualquer uma dessas partes do corpo humano é formada por grande
quantidade de pequenas partículas chamadas células, as quais são de
diferentes tipos e tamanhos, de conformidade com os órgãos que constituem.
Acredita-se que o corpo de uma pessoa adulta tenha aproximadamente 60 trilhões
de células.
Uma célula é a menor unidade de
matéria viva que pode existir de maneira independente e ser capaz de
reproduzir-se.
Como todos os seres vivos, as células assimilam,
crescem e se multiplicam. As células do óvulo humano fecundado, após o oitavo
dia multiplicam-se ordenadamente, primeiramente dando origem às células da
mucosa intestinal do feto, depois às células do revestimento cutâneo, em
seguida do sistema nervoso central. No fim da segunda semana, certas células se
modificam, dando origem ao esqueleto, aos músculos, aos órgãos geniturinários e
do sistema cardiovascular, tal qual como se obedecesse a uma matriz,
construindo, células diferentes para cada órgão e para os sistemas do corpo em
formação.
A Ciência Espírita afirma que
essa matriz é o corpo astral do espírito reencarnante, que age presidindo a
formação das células e distribuindo-as, obedecendo às leis naturais e
imutáveis.
A reprodução das células se faz
por divisão. Elas são capazes de se dividir dando origem a duas outras
exatamente iguais. Esse fenômeno, que se chama mitose, é um processo complexo.
É o núcleo que regula o momento
em que a célula se divide, e a primeira modificação acontece quando o núcleo
duplica o número de cromossomos: formam-se 92 cromossomos ou 46 pares. Essa duplicação
é indispensável para que cada nova célula tenha 46 cromossomos iguais aos da
célula-mãe. Após a duplicação, 46 pares de cromossomos dispõem-se no centro da
célula que vai se formar e rompem a membrana do núcleo da célula-mãe,
separam-se, e termina o processo formando-se a membrana da nova célula.
Em nosso corpo existem células
que nunca entram em mitose como, por exemplo, as células chamadas neurônios, do
sistema nervoso.
Existem, também, células que se
dividem rapidamente. Por exemplo: as células que revestem o nosso intestino
renovam-se a cada dois dias. E as células da nossa pele renovam-se a cada vinte
dias, aproximadamente.
Quando cortamos a nossa pele, por
algum ferimento, passado certo tempo, a pele volta ao normal. O que aconteceu?
Na região do corte, as células da pele ficaram sem contato com as outras, então
começaram a se dividir, criando células iguais, e o tecido da pele foi
reconstituído.
Conforme estávamos dizendo, as
células das plantas possuem a capacidade de transformar a energia do sol em
energia celular. As moléculas de clorofila têm a propriedade de guardar a
energia do sol e as células vegetais são capazes de utilizar essa energia para
transformar moléculas de gás carbônico e água em moléculas de glicose.
Esse processo, em outras palavras,
transforma a energia solar em energia química, via clorofila, cuja energia fica
armazenada nas moléculas de glicose.
O oxigênio e a glicose são os
combustíveis da vida. O nosso cérebro não funciona se não existirem no sangue
glicose e oxigênio em quantidade suficiente. O cérebro e os músculos dos
animais só funcionam se no sangue deles existir certa. dosagem de oxigênio,
obtida pela respiração, e de glicose, obtida pela alimentação.
A glicose fornece energia para as
atividades do metabolismo celular e para a reprodução das células. Assim, as
proteínas, gorduras e açúcares armazenam sempre um pouco de energia solar em
suas moléculas.
Quando o animal herbívoro come as
plantas, obtém substâncias nutrientes e ao mesmo tempo armazena energia solar
através das moléculas de glicose. Estas são desmontadas durante a digestão e
remontadas nas células que constituem os seus órgãos e músculos. A energia
retirada da glicose é consumida pelos herbívoros no metabolismo de suas
células, na produção de calor e nas atividades do próprio corpo, em seus
movimentos, por exemplo.
Quando os animais herbívoros são
devorados pelos animais carnívoros, as substâncias que formam o corpo dos
herbívoros são transformadas em células nos carnívoros. Os carnívoros recebem a
energia que os vegetais absorvem do sol, alimentando-se da carne dos animais
herbívoros.
Quando uma planta ou animal
morre, seus constituintes passam a integrar o corpo de outros seres vivos ou
voltam a integrar o solo.
Todos os seres vivos são
constituídos essencialmente de compostos contendo o elemento carbono.
Assim, a nave Terra, com todos os
seus tripulantes vivos, possui corpos onde está presente o elemento químico
carbono, formando moléculas de cadeias carbônicas, as quais constituem as
células.
O carbono, incorporado pelas
plantas e pelos animais, volta continuamente à atmosfera na forma de gás
carbônico, através da respiração. E quando plantas e animais morrem, pela
decomposição dos corpos, também há produção de gás carbônico.
Isto se processa da seguinte forma: os animais, que
se alimentam das decomposições, insetos, microorganismos etc., alimentam-se de
plantas e animais mortos, ocorrendo uma transformação química dos corpos sem
vida, onde os compostos de carbono mudam, virando gás carbônico. Assim, a natureza
forma uma cadeia alimentar em que o solo, a água, o ar e o sol possibilitam a
criação de novos corpos de plantas e estas fornecem matéria e energia para a
formação de novos corpos de animais, também dando continuidade ao ciclo do
carbono.
Neste ponto da palestra, tio
Marcos fez uma pequena interrupção, e nessa oportunidade Fernanda perguntou:
¾
Tio Marcos, quando, momentos atrás, o senhor falou em células, referiu-se aos caracteres biológicos do ser e eu não
entendi.
Em 1809, Jean Baptiste Lamarck (1744-1829),
publicou o livro Filosofa Zoológica, no qual expôs suas idéias sobre o fenômeno
da evolução. Seu principal argumento era o de que uma grande mudança no
ambiente de qualquer espécie animal causaria uma alteração nas suas
necessidades. Essas alterações implicariam a necessidade de a espécie se
modificar e; conseqüentemente, formar novos hábitos. Com base nesse argumento,
Lamarck anunciou duas leis, nas quais afirmava estar contida a essência da
evolução e as alterações dos caracteres biológicos das espécies.
A 1ª Lei de Lamarck, ou a Lei do
Uso e do Desuso, diz que, em qualquer animal que não ultrapassou o limite do
seu desenvolvimento, o uso mais freqüente e contínuo de qualquer órgão
gradualmente fortifica, desenvolve e aumenta esse órgão. Assim, o desuso
permanente de qualquer órgão imperceptivelmente o enfraquece e o deteriora,
diminuindo a sua capacidade funcional, até que ele finalmente desaparece.
A 2ª Lei de Lamarck, ou a Lei da
Herança dos Caracteres Adquiridos, tem o seguinte enunciado: todas as
aquisições ou perdas feitas pela natureza nos indivíduos, por intermédio da
influência do uso predominante ou desuso permanente de qualquer órgão, são
preservadas pela reprodução de novos indivíduos que surgem. Para serem
preservadas, essas modificações devem ser comuns aos dois sexos ou, pelo menos,
estar presentes nos indivíduos que produzem as crias.
Um exemplo citado por Lamarck
para fortalecer sua teoria é o da girafa. Segundo ele, a girafa habitante de
lugares com solo árido e estéril é obrigada a comer folhas das árvores, fazendo
esforços constantes para alcançá-las. Desse hábito resultaria o fato de as
patas dianteiras se tomarem mais longas e o pescoço se alongar. Essas
características foram transmitidas aos descendentes que, por sua vez, também se
esforçaram para alcançar os alimentos. Finalmente, teriam surgido as girafas
atuais, que conseguem elevar a cabeça a uma altura de seis metros.
Lamarck referiu-se a muitos
outros exemplos da natureza para reforçar a sua teoria. Para ele, os ancestrais
das cobras teriam pernas, mas, quando se tornou necessário, esses animais
começaram a rastejar pelo solo e, depois de longo tempo, pelo desuso das pernas
e por atrapalharem o rastejar, elas desapareceram.
A explicação de Lamarck para a
evolução, pelo uso e desuso, tem grande repercussão até hoje. Por ser
intuitiva, existem pessoas que nela acreditam. Esse crédito é reforçado, muitas
vezes, em razão de modificações que ocorrem nos indivíduos por mudanças nos
seus hábitos. Um bom exemplo é o caso do desenvolvimento dos músculos dos
atletas pelo uso. Entretanto, a transmissão dos caracteres adquiridos, o
aspecto mais importante da teoria de Lamarck, não pôde até hoje ser
experimentalmente comprovada, apesar do grande número de experiências
realizadas para testá-la. Uma dessas experiências foi feita cruzando-se um
casal de camundongos cujas caudas foram cortadas. Os descendentes do cruzamento
nasciam com caudas, que por sua vez eram cortadas. Esse procedimento foi
repetido durante vinte gerações, mas os descendentes da vigésima primeira ainda
apresentavam caudas tão longas quanto as dos camundongos originais.
Mais adiante, nas próximas aulas,
veremos que os caracteres biológicos adquiridos numa vida pelas espécies não se
transmitem simplesmente pela sucessão das gerações. Para explicar as
transformações dos seres vivos no decorrer dos milênios, foi necessário
primeiro aparecer a Teoria da Evolução de Darwin, depois a Teoria da
Hereditariedade de August Weismann, para que finalmente o holandês De Vries,
baseado nos estudos de Mendel, lançasse a Teoria das Mutações.
August Weismann, biólogo alemão
(1834-1914), desenvolveu a Teoria da Hereditariedade, estabelecendo que a
continuidade do plasma germinativo de uma geração a outra, independentemente
dos tecidos não reprodutores do corpo de um animal, é o que dá uma base teórica
à recusa da hereditariedade dos caracteres adquiridos.
Hugo De Vries, botânico holandês, redescobriu as
leis de Mendel, contribuindo com numerosos trabalhos de genética e biometria e,
sobretudo, com a introdução em ciência da noção de mutação, que é uma das bases
das teorias modernas sobre a evolução das espécies.
¾ Tio Marcos, o que é então a Teoria das Mutações? - perguntou Maria, com
um ar muito interessado.
¾
A Teoria das Mutações estuda as modificações bruscas e hereditárias que
aparecem nos seres vivos e que dão
origem a uma nova variedade de seres.
Tio Marcos fez um pequeno intervalo para tomar um copo d'água da
moringa que as meninas tinham no quarto e depois prosseguiu.
Para sedimentarmos o que
aprendemos até agora e para bem entendermos as nossas próximas aulas sobre a
evolução, vamos sintetizar os pontos mais importantes, à luz da Doutrina
Racionalista Cristã.
Para a Inteligência Universal,
para a Força, com relação ao Espaço-Tempo, somente existe um presente eterno.
Essa idéia não pode ser bem
compreendida no planeta Terra, em virtude das nossas limitações mentais.
Assim, a velocidade da luz no
vácuo, a qual pela Teoria da Relatividade é a velocidade máxima que um sinal
portador de energia pode se propagar, que é de 300 mil km/s, não passa de uma
expressão relativa, subordinada às condições do meio físico.
No universo espiritual, outros
princípios, outras leis regem a vida. O Espírito, como força que é, poderá
fazer-se presente, instantaneamente, em qualquer ponto do Universo,
utilizando-se tão-somente do pensamento. Pensando-se num lugar, o nosso
espírito estará instantaneamente naquele lugar, numa velocidade muitíssimas
vezes superior à da luz, não tendo nem sentido falar-se em velocidade.
A vida é a ação permanente da
Força sobre a Matéria.
Para explicar melhor esses
postulados do Sr. Racional, vamos falar um pouco das descobertas do
"pai" da Química: Lavoisier.
Antoine Laurent de Lavoisier
(1743-1794) foi o criador da ciência química. Foi Lavoisier quem constatou ser
o ar atmosférico composto por dois gases principais. Deu a um deles o nome de
oxigênio, pois era essencial à respiração dos animais e à combustão. E ao outro
deu o nome de azoto, modernamente chamado nitrogênio. Na composição do ar, a
grosso modo, 1 /6 é de oxigênio e 5/6 de nitrogênio. Lavoisier misturou pela
primeira vez esses gases em laboratório e conseguiu o ar atmosférico.
Foi também Lavoisier quem,
baseado em suas observações, chegou a uma generalização a respeito das transformações
químicas, anunciando a Lei da Conservação da Massa, cujo enunciado é o
seguinte: "Nas transformações químicas, nada se perde, tudo se
transforma".
A Força age obedecendo às leis
evolutivas e utiliza-se da Matéria constituída por 107 substâncias. A Força,
com esses elementos, forma corpos, realiza fenômenos incontáveis e
indescritíveis, que escapam à apreciação comum.
No Universo não há nada de novo.
Pode-se dizer que nele está em vigência uma lei, semelhante à Lei da
Conservação das Massas de Lavoisier. As experiências têm demonstrado que em
nenhuma circunstância se pode alterar a quantidade de matéria existente.
Tudo no Universo está criado e
também nele nada se perde. Há, somente, transformações da Matéria e evolução da
Força.
A Força, utilizando-se da
Matéria, começa a sua evolução na estrutura do átomo, passando depois para a
composição das moléculas, em uma nova ordem de ação constitutiva.
A Força, como Princípio
Inteligente, começa a sua evolução individualizada no reino mineral, onde, durante
todo o constante agregar e desagregar, a sua consciência individualizada vai
aumentando, permitindo combinações químicas e realizando ligações estáveis de
dois ou mais átomos, em proporções definidas, formando substâncias com
propriedades físicas e químicas determinadas.
Atingindo determinada fase
evolutiva, a composição de uma substância é sempre a mesma, qualquer que seja a
sua procedência.
Portanto, deduz-se existir uma
seqüência evolutiva nos minerais, pois existem vários elementos químicos distintos.
Os átomos de substâncias diferentes são diferentes no tamanho, na massa, na
constituição do seu núcleo e no seu comportamento químico.
Acredito que os elementos
químicos eletropositivos, em geral sólidos, brilhantes, bons condutores de
calor e de eletricidade, constituindo famílias de metais, são minerais bastante
evoluídos.
Observemos os objetos metálicos
que estão à nossa volta: parafusos, panelas, talheres, ferramentas, automóveis,
aviões, estruturas, edifícios, pontes, tudo isso feito com metais. Alumínio,
ferro, cobre, chumbo, estanho, zinco, cromo, níquel, ouro, prata, platina e
mercúrio são apenas alguns das dezenas de metais que compõem a natureza e que
pelas suas qualidades físicas possibilitam a sua utilização de acordo com as
nossas necessidades, muitas vezes através de ligas especiais.
Há também os metais alcalinos
terrosos, tais como cálcio, bário, estrôncio e o rádio.
Destacamos ainda os metais
alcalinos: lítio, sódio, potássio, rubídio e césio.
Parece-nos que a evolução da
Partícula Inteligente, passando pelo reino mineral, atinge o seu ápice no
cristal, pois a sua geometria, estrutura e crescimento obedecem a leis
definidas que regem a sua formação.
Durante o constante agregar e
desagregar das moléculas no reino mineral, as Partículas Inteligentes,
provenientes da Força, atingem a condição de manifestar vida, passando, então,
sua evolução a realizar-se no reino vegetal.
Terminando a evolução no reino
vegetal, onde a Partícula Inteligente desenvolve a sensação, passa para o reino
animal, quando, então, incorporará, aos atributos já adquiridos nos dois reinos
anteriores, a inteligência, iniciando a construção do seu corpo astral, através
do pensamento contínuo.
Concluindo, podemos dizer que, no
reino mineral, a Força em estado latente é o atributo fundamental,
predominante. No reino vegetal, a Força e a vida são os atributos fundamentais.
No reino animal, predominam a Força, a vida e a inteligência.
Portanto, a morte resulta de um
entendimento completamente errado da vida. Na verdade a morte jamais existiu,
pois nesse fenômeno natural chamado morte o corpo físico como matéria
decompõe-se, transforma-se em elementos químicos, e o Espírito, terminando mais
uma etapa evolutiva, não morre nunca. É imperecível, simplesmente retorna ao
seu mundo de estágio.
¾ Bom, por hoje é só. Amanhã tem mais. Boa noite - despediu-se tio
Marcos.
5. A evolução II
Todos, sentados nos seus
lugares, tinham acabado de tomar café servido por tia Zinha, quando Boris
perguntou:
¾ Tio Marcos, por que
vivemos?
¾ Você, Boris, foi muito
oportuno com esta pergunta - respondeu tio Marcos -, pois justamente a resposta
a esta sua pergunta constituirá o assunto de hoje. O que vou lhes transmitir
foi-me ensinado pelo Sr. Racional que, sobre esse assunto, escreveu um capítulo
especial no seu livro doutrinário Racionalismo Cristão, capitulo XI.
Também fez várias conferências sobre este tema e escreveu artigos no jornal A
Razão.
Tio Marcos, após pequena
pausa, continuou ...
Nós vivemos para cumprir a Lei da Evolução. A Lei da
Evolução é uma lei natural à qual estão sujeitos todos os seres pertencentes
aos reinos mineral, vegetal e animal.
A evolução tem que ser realizada
a qualquer custo e esta lei é indiferente se o ser quer ou não evoluir, porque
a vida nos obriga a isto, coercitivamente, isto é, à força e não podemos
anulá-la nem iludi-la.
O Sr. Racional ensinava que: “O
princípio fundamental da Vida no Universo é a Evolução. Nela reside a base do
entendimento de tudo quanto se passa dentro e fora do alcance intelectual
humano. A Evolução faz-se sentir em tudo: na semente que brota para
transformar-se em flor; na árvore que se agiganta e frutifica na trajetória de
um ciclo; no ser humano que entra na escola analfabeto e sai de lá cientista;
no desenvolvimento das artes, das letras, das ciências, da música; nas
pesquisas, na indústria, no comércio, no transporte, nas cidades, nas invenções
e nas utilidades sociais”.
Mas voltemos ao nosso assunto: há
2400 anos, na Grécia, o filósofo Aristóteles já refletia sobre como reunir os
diferentes seres vivos em grupos para melhor compreendê-los. Ele os dividiu em
dois grandes conjuntos: os que tinham sangue vermelho e os que não tinham
sangue. E para estudar as plantas, agrupou-as em árvore, arbustos e ervas.
Aristóteles é considerado o
primeiro biólogo da humanidade e o seu sistema de agrupamento de seres vivos
foi usado pelos estudiosos da natureza durante mais de 2000 anos.
No século XVIII, na Europa, já eram conhecidos mais
de 10 mil tipos de seres vivos e, com o tempo, os antigos sistemas de classificação
perderam a utilidade.
Joseph Pitton de Tournefort
(1656-1708), professor de botânica em Paris, grande colecionador de plantas e
classificador, com o seu livro Elementos de Botânica, foi o precursor de Lineu.
Em 1753, o naturalista sueco Carl Von Lineu
(1707-1778) criou um sistema de classificação dos seres vivos, chamado Sistema
da Natureza, o qual divide o reino animal em seis classes: mamíferos, aves,
anfíbios, peixes, insetos e vermes.
Esse sistema de classificação obedece ao seguinte
esquema: o ser vivo é enquadrado em ramo, classe, ordem, gênero ou espécie,
sendo:
1. Ramo: descendente de um mesmo tronco.
2. Classe: grupo ou divisão que apresenta características
semelhantes.
3. Ordem: seres que
possuem a mesma qualidade.
4. Gênero ou Espécie: conjunto de seres vivos que apresentam certo
número de caracteres comuns.
Eis um exemplo da classificação
de Lineu:
Rato doméstico
Ramo Vertebrado
Classe Mamífero
Ordem Roedor
Gênero/Espécie Rattus
rattus
Homem
Ramo Vertebrado
Classe Mamífero
Ordem Primata
Gênero/Espécie Homo sapiens
Chimpanzé
Ramo Vertebrado
Classe Mamífero
Ordem Primata
Gênero/Espécie Anthropopithecus troglodítes
O maior mérito de Lineu foi ter definido, descrito e
designado por um nome duplo em latim várias dezenas de milhares de espécies de
animais e vegetais, cuja maior parte se conserva até hoje.
A partir do século XVII, o
aperfeiçoamento dos microscópios permitiu que uma variedade cada vez maior de
seres vivos fosse estudada. Mas essas novas variedades não tinham características
nítidas de seres considerados como animais, nem de seres considerados como
plantas. A classificação de Lineu era insuficiente para defini-los.
Em 1866, Ernesto Heinrich Haeckel
(1834-1919), naturalista alemão, organizou o estudo dos seres vivos em três grandes
grupos, que chamou de reinos: o dos animais, o das plantas e o dos protistas,
incluindo neste último os seres unicelulares. Este sistema não elimina as
dúvidas quanto à classificação de certos seres vivos, como fungos e bactérias.
O sistema de classificação mais
atual foi criado por Roberto H. Whittaker, em 1969. Ele estuda os seres vivos
divididos em cinco reinos. Por exemplo:
1. Animal: são
considerados animais os seres multicelulares, cujas células possuem núcleo
delimitado por membrana e não apresentam parede celular. Nessas células, a
glicose é armazenada na forma de uma substância chamada glicogênio.
2. Planta: são plantas os
seres multicelulares, cujas células têm núcleo delimitado por membrana e têm
parede celular formada por celulose. A celulose é um açúcar complexo formado
por glicose. As plantas precisam de luz para realizar a fotossíntese e, dentro
das células, armazenam glicose na forma de amido.
3. Fungo: os fungos
apresentam uma característica especial. São seres unicelulares que vivem associados,
formando um corpo semelhante ao dos seres multicelulares. As células dos fungos
têm núcleo delimitado por membrana e têm parede celular formada por um açúcar
complexo, a quitina. Alguns tipos de fungos são microscópicos e outros são
vistos a olho nu. Estes são conhecidos como cogumelos. Alguns cogumelos são
comestíveis, outros são venenosos. Os cogumelos não necessitam de luz para
viver: não fazem fotossíntese. Armazenam glicose no interior das células, na
forma de glicogênio, como os animais. Há fungos que se deslocam pelo ar,
formando o bolor, o mofo, razão pela qual deve-se sempre evitar que os
alimentos tenham contato com o ar livre para não mofarem.
Sir Alexander Fleming
(1891-1955), médico bacteriologista inglês, a partir de um cogumelo microscópico,
o Penicillium notatum, descobriu a penicilina, um poderoso antibiótico.
Foi assim: um mofo contaminava as suas culturas microbianas, impedindo o
desenvolvimento de muitos germes. Partindo
dessa observação, isolou uma substância que matava os germes patogênicos
e não era tóxica ao homem.
A penicilina passou a ser
produzida em grande escala, para uso militar, a partir de 1939, quando começou
a Segunda Guerra Mundial.
4. Protista: são protistas
as algas unicelulares e os protozoários. Os protistas são seres unicelulares
com núcleo delimitado por membrana. As algas, tanto as unicelulares como as
multicelulares, precisam de luz para viver. Os protozoários não precisam de
luz.
5. Monera: são os
seres vivos de corpo mais simples que existe. As bactérias são moneras. São
seres unicelulares, sem núcleo delimitado por membrana. Quase todos os tipos de
bactérias possuem parede celular rígida. Alguns fazem fotossíntese. As
bactérias são tão numerosas na natureza que a soma do peso dos seus corpos,
apesar de extremamente pequenos, excede ao peso de todos os outros seres vivos
juntos.
Como já dissemos, os vírus são
tão pequenos que atravessam os filtros de porcelana. Não foram incluídos em
nenhum grupo de seres vivos, pois desenvolvem-se unicamente no interior das
células vivas. Desta forma, temos vírus de bactéria, vírus de plantas, vírus de
animais. Eles causam no homem inúmeras doenças, tais como varíola,
poliomielite, sarampo, gripe, etc.
O vírus é o limite inferior da
evolução biológica.
¾
Tio Marcos, como o homem surgiu na Terra? -perguntou Solange.
Tio Marcos, sorrindo, respondeu:
¾
Vou lhe responder conforme ensina a Doutrina Racionalista Cristã.
Os espíritos desencarnados não
estão adormecidos nem estáticos. A Lei da Evolução determina que tenham períodos
de aprendizagem e de crescimento espiritual nos mundos materiais e também nos
mundos opacos, nos quais o tempo, tal qual é conhecido e medido pela Física,
não existe. Enquanto eles permanecem nos seus mundos de estágio, esperam pelas
condições ideais para encetarem novas encarnações, quando irão vivenciar outras
experiências.
O homem encarnado surgiu neste
mundo como resultado da evolução dos animais que o precederam.
Vocês se lembram de quando eu, me
referindo ao Racionalismo Cristão, disse que no Universo somente existem Força
e Matéria?
Pois bem, a Força, ou melhor, a Inteligência
Universal pode ser imaginada fazendo-se analogia com um grande clarão, tal qual
enorme foco de luz, onde o Universo está mergulhado, como se esse clarão fosse
um grande oceano de luz. Desse enorme clarão, qual braseiro incomensurável,
saltam pequenos pontos de luz, em busca da própria individualização, como
aquelas fagulhas que saltam pipocando das fogueiras de São João. Essas
fagulhas, ou melhor, esses pontos de luz desprendidos do Grande Foco são
partículas da Inteligência Universal, as quais, simples e ignorantes, possuem
um potencial fantástico, latente. Essas partículas de luz, para conquistar a
consciência, mergulham nos mundos materiais em busca da construção da individualidade.
Cada partícula da Inteligência Universal promoverá o seu progresso, a seu modo,
a sua custa, através de método iterativo, isto é, de ensaios e erros repetidos
incansavelmente, de acordo com os procedimentos que adotar no transcurso da sua
trajetória evolutiva. Trajetória esta que demandará milhares de séculos,
vivenciando as suas experiências, através dos reinos da natureza, inicialmente.
¾ Tio Marcos, podemos
então entender que o nosso espírito nasceu no momento em que a fagulha saltou
da grande fogueira ? - perguntou Boris.
Não devemos entender a Partícula
Inteligente já como sendo um espírito. A Partícula Inteligente somente
conquistará a condição de espírito quando, através de inúmeras reencarnações,
pelos diferentes reinos da natureza, conseguir construir, por si própria, um
corpo mental capaz de gerar pensamentos contínuos como homem, porque, ainda na
condição de animal, não possui raciocínio desenvolvido. Suas ações são
instintivas. Seu pensamento é fragmentado, estimulado pelas necessidades básicas
e pelo instinto de defesa. Somente quando tiver conquistado pensamento contínuo
e conseqüentemente livre-arbítrio, podemos considerá-la espírito.
Diz o Sr. Racional que é lei natural a criatura,
depois de terminar a sua evolução no reino animal, passar para o reino hominal.
Mas somente partirá rumo ao Astral Superior quando conseguir libertar-se das
atrações da vida material, sabendo viver as duas vidas: a material e a
espiritual.
Quanto ao nascimento da Partícula
Inteligente, até o nosso presente estado evolutivo, não temos ainda
discernimento suficiente para responder com precisão se nascemos no momento em
que saltamos da grande fogueira. Contudo, podemos dizer que a Partícula
Inteligente, simples e ignorante, ainda não individualizada, está contida no
âmago da Força e será forçada pela lei natural a saltar do seio materno, quando
estiver preparada, quando estiver madura para iniciar, por conta própria, a sua
autoconstrução, em busca de realizar-se como espírito. Precisa inicialmente do
caminho oferecido pela Matéria para chegar ao objetivo de ser Espírito.
Atingida essa etapa, como nós nos encontramos agora, o objetivo será, então,
nos livrarmos do instinto da adoração, dos atrativos da vida material e
iniciarmos um profundo estudo para aprendermos a viver no mundo espiritual.
O Sr. Racional não se cansava de
repetir: “Ninguém pode passar a um mundo mais evoluído enquanto neste se
mantiver saturado de enganosas idéias sobre a vida e proceder erroneamente, de
acordo com elas”.
Temos duas vidas, a material e a
espiritual. A vida material, nós sabemos viver, mas a vida espiritual temos
ainda que aprender a vivê-la e para isso é necessário nos libertarmos das
necessidades e gozos materiais.
Desta forma, podemos deduzir que
a Partícula da Inteligência Universal sempre existiu no seio do Grande Foco,
sendo, portanto, inascível. Sempre fez parte da essência da Força Criadora.
Conseqüentemente, sempre foi imortal, imperecível. O Espírito não morre nem
perde nunca a consciência de si mesmo. Jamais parará de pensar. Morre quando
encarnado, mas jamais a morte interromperá os seus pensamentos.
A sua consciência é
indestrutível, pois ele mesmo a construiu, através de incontáveis lutas e
sofrimentos atrozes, sozinho, por si mesmo. Nesse processo nunca interferiu a
figura do deus das religiões, nem de anjos, nem de gênios protetores. Temos que
nos livrar das fantasias e lendas que a esse respeito foram criadas pelas
religiões e seus profetas, avatares, apóstolos e demais aleijados mentais.
Pelo visto, todos teremos que
compreender, cedo ou tarde, que a humanidade caminha na mesma direção, para
alcançar o aperfeiçoamento. Esse aperfeiçoamento somente é possível pelo
esforço de cada um bem orientado, isto é, pelo trabalho individual disciplinado
e pela conquista do saber à custa de atividade intensa e permanente.
Estes conceitos são tão
importantes para o nosso esclarecimento que vou repetir o que o Sr. Racional
escreveu a respeito:
“As Partículas da Inteligência
Universal, em obediência às Leis Naturais e Imutáveis, incitam e movimentam os
diversos reinos da natureza, estabelecendo a Vida em todos os seres orgânicos e
inorgânicos, desde a pedra aos metais, aos vegetais, aos animais e ao gênero
humano. Todos estão em constante ascensão para a Luz, para a sua fonte de origem,
que é o Grande Foco, incitador de tudo quanto existe.”
“Assim vão elas, essas partículas
da Força, passando por todos os corpos dos reinos da natureza, em evolução, em
constante purificação, e assim, cada vez mais aumentando a sua Luz, a sua
Força, para cumprimento do Dever e confundir-se com a Luz, de onde partiram
para este e outros planetas.”
“Desta forma, é claro que quando essas partículas
chegam a organizar, incitar e movimentar corpos humanos, já realizaram grande
progresso e fazem parte das Forças de categoria verdadeiramente Racional, e
como tais, com inteira responsabilidade dos seus atos e pensamentos, que as
fazem conduzir neste mundo, sem que para os seus atos reprováveis, possa haver
desculpa, contemplação e muito menos perdão, pelas práticas de atos que
prejudicaram o próximo, por serem racionais, responsáveis por tudo quanto
poderão fazer de bem ou de mal.”
¾ Tio Marcos, o homem é
descendente do macaco? - perguntou Serginho.
O homem atual não é descendente
do macaco. Mas os macacos antropóides como o gibão, o orangotango, o gorila e o
próprio homem descendem de um mesmo ramo de primata, que teria existido há 25
milhões de anos. Os cientistas denominam esse primata ancestral de Drypithecas.
Muitos cientistas e arqueólogos
acreditam que foi na África Oriental que apareceu o primeiro homem, há um
milhão de anos, chamado Homo erectus. Isto porque os ossos mais antigos
e as armas que eles usavam foram encontrados enterrados juntos, na Tanzânia,
país da África Oriental, onde se encontra o Pico Kilimanjaro, o ponto
culminante desse país, com 5963m de altura.
O Homo erectus era uma
espécie muito diferente em relação aos outros animais. Era caçador. Junto aos
fósseis desses ancestrais humanos, foram encontradas ossadas de animais que
viviam na época: elefante, rinocerontes, antílopes, etc.
Fato concreto reconhecido pelos cientistas é que, há
muito tempo, viveu um animal que foi o ancestral tanto do homem como do macaco
e que hoje está extinto.
Embora os homens primitivos e os
macacos fossem parentes, eles eram diferentes em muitos aspectos importantes.
Por exemplo: os homens ficavam de pé, eretos, andavam e corriam com dois pés.
As pernas humanas e as dos macacos eram ligadas ao corpo de maneira diferente,
e os ossos da bacia não eram os mesmos. Os dentes dos homens eram diferentes,
assim também as suas mandíbulas. A maior diferença de todas era a do cérebro:
no homem, a parte do cérebro usada para falar e se lembrar era muito maior do
que a dos cérebros das diferentes raças de macacos. No homem há circunvoluções
na superfície do cérebro. Nos macacos não.
Homens e macacos comportam-se de
modo diferente. Alguns macacos podem fazer instrumentos bem simples que usam no
lugar em que deles precisam. Mas um macaco nunca faz um instrumento hoje com a
intenção de usá-lo amanhã. Só o homem consegue pensar no futuro e planejar
antes. Só o homem consegue pensar no passado.
Continuando o nosso assunto, a
Lei da Evolução submete os homens encarnados a uma pirâmide de necessidades,
que afloram obedecendo a uma espécie de hierarquia, as quais serão tanto mais
complexas, quanto mais evoluídas forem as almas encarnadas, conforme explicarei
a seguir.
A Pirâmide de Necessidades foi
estudada no grupo social humano pelo psicólogo norte-americano Abraham Maslow e
se resume no seguinte: imaginemos uma criatura de evolução média, habitante do
planeta Terra, nem muito boa, nem muito má, com uma noção de honra muito fraca,
pois, de acordo com o que dizia o Sr. Racional, “ser digno e honrado não é
favor que se faz, mas dever que se impõe”. Portanto, suponhamos também que essa
criatura, por ser um homem comum, pertencendo ao grupo de espíritos adoradores,
não conhecia ainda a sua composição astral e física, isto é, como espírito
oriundo da Força e evoluindo na Matéria.
Vamos imaginar que essa criatura
sai de um lugar qualquer do território brasileiro e vai parar numa grande
cidade, sem nenhum recurso financeiro.
A primeira necessidade que aflora
neste homem é a fome. O instinto da fome é dominador. Quando o corpo físico não
consegue alimentar-se via estômago, o organismo começa a autodevorar-se.
Inicialmente alimenta-se das suas próprias gorduras, depois de seus músculos,
carnes, etc. Daí aquelas figuras esqueléticas, em pele e osso, mortas de fome
nos campos de concentração nazistas, ou dos territórios em guerra em Biafra, na
África Ocidental.
Uma pessoa em estado de fome, em
virtude da baixa quantidade de glicose no sangue, perde a condição de pensar,
pois o cérebro precisa, para funcionar, de oxigênio e de glicose. Passa então a
proceder instintivamente, sem capacidade de raciocinar, tornando a satisfação
da fome o único objetivo da sua vida.
Admitamos que esse indivíduo,
nesta cidade, possuísse parentes e conseguisse alimentar-se uma vez por dia,
até arranjar um emprego que lhe pudesse assegurar três refeições diárias.
Consegue, dessa forma, satisfazer a sua necessidade principal: a fome.
Quando a fome estiver satisfeita,
aflora à consciência humana uma segunda necessidade. Essa segunda necessidade é
imperiosa, dominante. É a necessidade afetiva e de reprodução. Então o instinto
sexual surge, dominando os seus pensamentos.
O desejo sexual não satisfeito
pelo corpo físico provoca angústia e transfere-se para o inconsciente. Daí os
sonhos eróticos e o avassalamento dessas criaturas, sem o domínio de si mesmas,
pelos espíritos do Astral Inferior, atraídos por pensamentos lascivos,
materializados.
Parte então, esta criatura, à
procura da sua futura companheira, para constituição de uma família. Casa-se e
tem a segunda necessidade satisfeita.
Então, uma terceira necessidade passa a dominar os
seus pensamentos. É a necessidade de segurança. Ele precisa arranjar um emprego
estável e precisa de uma casa própria, para não ficar sujeito a empregos
temporários e à vontade de um senhorio.
Após alguns anos de trabalho,
conseguiu um emprego estável e uma casa própria. Está satisfeita mais essa
necessidade.
Mas, então, uma quarta
necessidade surge. É a necessidade de associação. Nesta fase, a sua família
sente necessidade de relacionar-se com outras pessoas. Passa a freqüentar um
clube ou entidade beneficente, religiosa ou de prestação de serviço. Uma vez
satisfeita essa necessidade, uma quinta aparece.
A quinta necessidade é a
necessidade de status. O pai ou a mãe quer apresentar-se com o carro do
ano e ter ternos ou vestidos do alfaiate da moda e da alta costura.
Esta família está bem situada e
resolve essa necessidade com facilidade. Surge a sexta necessidade.
Essa sexta necessidade é a
necessidade de realização. Quer que o seu nome apareça nos jornais, com
fotografias e reportagens publicadas nas colunas sociais. O pai, se tiver
vocação, parte para a política; se não, atua na sociedade desejando
reconhecimento e, se possível, um busto em praça pública.
Assim agiria uma criatura
religiosa, ignorante da sua composição astral e física. Se essa criatura
tivesse valor, se tivesse o domínio de si mesma, subjugaria os seus ímpetos e
inclinações, para que o seu raciocínio prevalecesse no seu livre-arbítrio e
quando tivesse a necessidade de segurança satisfeita, iniciaria o estudo da
vida fora da matéria, passando a preocupar-se com o seu aprimoramento moral,
bem como o da sua família, procurando desenvolver os atributos do Espírito:
pensamento, força de vontade, disciplina, raciocínio, livre-arbítrio para o
bem, justiça e honra. Mas não é bem assim que acontece, pois desconhece que a
espiritualidade sem fantasias, sem os conceitos bíblicos errados, constitui um
campo do conhecimento que estuda a vida fora da matéria, tal qual é ensinada
pela Doutrina Racionalista Cristã.
Tudo o mais que se ensina sobre o
assunto, até em forma de doutrina, que não seja oriundo do Pensamento
Racionalista Cristão, pode-se designar como magia negra, porque são
ensinamentos oriundos de espíritos que tiveram uma formação bíblica, pertencentes
ao Astral Inferior, sediados na atmosfera da Terra. Materializados, sem o
conhecimento da Verdade, na sua última encarnação, como espíritos religiosos,
só aprenderam a pedir, rezar, louvar e adorar. Acreditaram nas fábulas bíblicas
escritas pelos quatro evangelistas ou santos e pregadas como ensinamentos
morais pelos católicos, espíritas kardecistas, espíritas do sincretismo
(católico africano e indígena), ensinando disparates tais como perdão, graça,
céu, inferno, purgatório, penas, expiações, espíritos protetores e outras
fantasias mais, oriundas da cultura de espíritos do Astral Inferior,
avassalando e intuindo médiuns fracos, indisciplinados, materializados.
Nos mundos de escolaridade como o
planeta Terra, as emoções fazem parte da vida cotidiana. Essas emoções são
experimentadas, indistintamente, por todos os seus habitantes. Quando o homem
se tornar superior às condições de pobreza e de riqueza, que completam o quadro
das referidas emoções, como as vivenciadas pelo nosso personagem submetido à
Pirâmide das Necessidades, aí sim, o sentido da vida espiritual começa nele a
despertar, querendo entender por que se vive.
Para se começar a entender o que
seja a Espiritualidade Superior, cada criatura deverá ter sempre em mente que a
Força, a Inteligência Universal, denominada pelos diversos povos da Terra como
Deus e pelo Racionalismo Cristão como Grande Foco, não tem forma humana. É a
grande luz universal que compõe o Universo, a qual envolve as galáxias e
respectivos sistemas solares e planetas, regendo-os com as suas leis naturais e
imutáveis, não interferindo no livre-arbítrio das criaturas.
Agora pergunto: onde se encontra
essa grande luz?
Respondo: encontra-se em tudo o
que tem vida. Nas montanhas mais inacessíveis, nas imensas áreas florestais, na
vastidão dos oceanos, nos rios, nos campos, nos pomares, nos jardins e em todas
as formas de animais, dos mais rudimentares ao homem. Em toda a natureza,
somente o homem é adorador. Inventou a adoração por falta de segurança, para
enganar a si mesmo, por não querer usar o raciocínio, por ser imperfeito.
A verdade é que todos os
adoradores pertencem a uma classe idêntica, embora muitos deles, tendo níveis
culturais excelentes, continuam religiosos. Isto porque não se deve confundir
Cultura com Espiritismo.
Cultura é desenvolvimento
intelectual, saber, ilustração, instrução, tudo relacionado à vida material;
porém, a pessoa culta pode desconhecer a vida espiritual.
Já Espiritismo não é religião. É
uma convicção oriunda das pesquisas científicas feitas por cientistas de renome
internacional, desde meados de 1850, coroadas, neste século, pelo Dr. Pinheiro
Guedes com o seu livro Ciência Espírita e
por Luiz José de Mattos com o seu livro Racionalismo
Cristão.
Indistintamente, todos os
religiosos são candidatos a reencarnações em mundos-escolas como o planeta
Terra, até que o amadurecimento espiritual os faça compreender a realidade das
coisas, porque, mais uma vez repetimos, ninguém pode passar a um mundo mais
evoluído, enquanto neste se mantiver saturado de enganosas idéias sobre a vida
e proceder erroneamente, em acordo com elas.
O homem é um espírito ilimitado
que temporariamente habita casas de carne e de sangue, a fim de cursar a escola
do mundo material. Quando uma casa se torna inabitável devido a doenças,
acidente, velhice, ou quando o homem ultrapassa os limites de utilização desta
casa, por excessos, desregramentos ou vícios, ele muda-se para outros domínios,
é despejado do mundo físico, obedecendo à lei natural e imutável, deixando a
casa abandonada para decompor-se.
A morte e o nascimento são na
realidade sinônimos. Quando se morre no mundo físico, ocorre como que um
nascimento no mundo espiritual, correspondente ao nosso grau evolutivo.
¾ Tio Marcos, por que um animal para viver
precisa comer outro? - perguntou Fernanda. E acrescentou:¾ Ontem, lá no
paiol, eu vi um gato aqui da fazenda brincando com um camundongo, já muito
ferido, todo ensanguentado. Quando eu cheguei perto para livrar o ratinho, ele
o abocanhou despedaçando-o e o engoliu de uma só vez.
Pela sua própria natureza a vida
no planeta Terra é de luta. Uma espécie somente sobrevive alimentando-se de
outra, geralmente menos evoluída. Esse modo de vida atinge todos os seres, dos
minerais ao homem. A luta pela sobrevivência é uma lei imposta pela evolução.
Esta lei não foi instituída por maldade do Grande Foco. Isso ocorre porque, na
escala evolutiva dos seres, somos ainda espíritos muito imperfeitos. Não
adquirimos ainda a capacidade de organizar e manter um sistema orgânico mais
aperfeiçoado que o nosso atual, que se alimente diretamente da luz do sol, sem
precisar alimentar-se dos hidratos de carbono, das proteínas, das gorduras
(lipídios) encontradas nas plantas e animais.
A vida do homem na Terra, em
virtude da sua imperfeição, é uma verdadeira guerra e será o vencedor o mais
apto. Essa guerra começa com o nosso sistema imunológico, o qual sustenta,
através do sangue, um verdadeiro exército de glóbulos brancos, os leucócitos, e
de anticorpos constituídos de proteínas, prontos para atacar e destruir bactérias
e vírus invasores do corpo.
Os animais homotérmicos, isto é,
que possuem sempre a mesma temperatura do sangue das espécies herbívoras são
seres de atividade passiva, pois os alimentos de que necessitam para viver são
vegetais encontrados em abundância, fixos no solo. Essas espécies não precisam
perseguir nem lutar com os vegetais para se alimentar. Para estas espécies, a
procura de alimentos não representa um estímulo muito intenso para mudar as
suas condutas.
Para os animais carnívoros a
obtenção de alimento é muito diferente. São obrigados a procurar ativamente o
seu alimento, que não está imóvel à sua espera e é muito mais escasso que os
vegetais. Para obter alimentos, os carnívoros precisam encontrar a presa e
caçá-la. Essa atividade da caça representa uma interação mais intensa com o
meio ambiente, possibilitando o desenvolvimento de novas formas de conduta.
Mas, por falar em gato e rato,
vou lhes contar uma lenda oriental que explica por que o gato caça o rato.
Antigamente existiam, numa casa,
um cão e um gato. Os dois animais fizeram uma combinação. O cão ficava de
guarda da casa, do lado de fora, e o gato ficaria dentro de casa.
Depois de assinado o acordo,
viveram em paz, até que certa ocasião um gênio galhofeiro veio visitá-los.
Então, ele pôs na cabeça do cão que esse acordo assinado com o gato era
injusto, pois quando chovia o cachorro molhava-se todo.
Convencido, o cão foi procurar o
gato para reclamar.
¾ Acordo é acordo. A fé nos
contratos deve ser respeitada - disse o gato.
¾ Deixe-me ver o que
escrevemos - disse o cão.
O gato, então, foi procurar o
contrato, mas descobriu que o rato havia comido quase todo o contrato. Então, o
gato ficou furioso e começou a perseguir o rato.
Vendo que o gato não trazia o
acordo, o cachorro também ficou furioso. Começou a perseguir o gato e, desde
então, os cães não pararam mais de perseguir os gatos e os gatos também não
pararam mais de perseguir os ratos.
Bem, agora completemos a resposta
à pergunta feita pela Fernanda: ao longo da evolução, quando os animais já
desenvolveram um sistema nervoso mais aprimorado, surgiu outro tipo de conduta
nestes animais: a conduta inteligente.
A inteligência é a capacidade de
o animal perceber que determinadas situações exigem soluções novas e encontra
essas soluções. Não são soluções instintivas nem aprendidas. Por exemplo: uma
galinha e um chimpanzé estão dentro de uma gaiola que tem uma abertura lateral.
Se, do lado de fora da gaiola, pusermos alimento de tal forma que, para se
chegar à comida, eles tenham que dar meia-volta na gaiola, observa-se o
seguinte: a galinha ficará num vai-e-vem, cacarejando, sem descobrir a solução
para chegar ao alimento. O chimpanzé resolve o problema imediatamente. Sai pelo
lado aberto da gaiola e obtém o alimento.
A inteligência dos animais é uma
outra forma de adaptação às exigências do ambiente, ampliando as possibilidades
de permanecerem vivos.
Alguns naturalistas afirmam ser
verdadeira a seguinte estória: uma raposa tinha milhares de pulgas em seu pêlo
e, em virtude das suas mordidas, coçava-se exaustivamente. Cansada de tanto se
coçar, foi para as margens de um rio, apanhou um ramo e, segurando-o na boca,
entrou na água. A população de pulgas hospedadas nos pêlos da raposa, em
contato com a água, imediatamente reuniu-se na parte seca, isto é, nas costas
do animal. A raposa afundou mais um pouco e as pulgas saltaram das suas costas
para a cabeça. Então não tiveram outra alternativa, saltaram da cabeça para o
ramo que ela segurava na boca. De repente, a raposa abriu a boca e soltou o ramo
cheio de pulgas correnteza abaixo.
Marquinho, que se interessava muito por Biologia, perguntou:
¾
Tio Marcos, o senhor agora há pouco falou que o nosso sistema imunológico é
constituído de proteínas. O senhor poderia nos esclarecer melhor?
¾
Boa pergunta, Marquinho. Eu ia mesmo estender-me sobre esse assunto, por ser
muito importante nós nos conhecermos também como Matéria. A
Ciência descobriu muita coisa sobre a nutrição humana, a partir da Segunda Guerra Mundial (1939-1945).
Tio Marcos fez uma pequena pausa, como se estivesse pondo em
ordem os pensamentos. Depois continuou.
A Holanda foi um dos países que muito sofreu com a
fome provocada pela guerra. Os fatos se sucederam nesta seqüência: em 1940, ela
foi invadida pelo exército alemão. Mais da metade da sua produção agrícola foi
confiscada pelos invasores.
Em junho de 1944, pouco sobrava
das pastagens holandesas: foram transformadas pelos alemães em plantações de
batatas. Os holandeses só conseguiam criar alguns porcos e galinhas. A maior
parte da população urbana sobrevivia à custa de pequenas cotas desses
alimentos, que só podiam ser compradas com cupons de racionamento.
Em setembro de 1944, o
racionamento de comida foi ainda maior. A fome se instalou. As pessoas
emagreceram a olhos vistos e cansavam-se com facilidade.
Em dezembro de 1944, completam-se
quatro meses de fome. Muitas pessoas tinham o tornozelo e os rostos inchados,
pois retinham muita água. Outros inchavam pelo corpo inteiro e até pareciam
gordos. Já havia casos de perturbação mental, distração, apatia, crises de
choro e obsessão constante por alimentos.
Em fevereiro de 1945, pessoas
caíam pelas ruas, sem forças para se mover. Outros deitavam-se em suas camas e
não se levantavam mais. Verminoses, gripes, disenterias, infecções e tumores na
pele eram comuns. As pessoas apresentavam faces encovadas e olhos fundos. Dos
braços, de ossos salientes, pendia a pele frouxa, caindo em pregas. O cabelo
era ralo e fino. Muita gente estava com hemorragia interna. Outras sangravam
pela pele e gengiva. Muitas pessoas estavam com a temperatura de 27 a 33°C,
abaixo da temperatura normal, de 36 a 37°C. Tremiam sem parar, mesmo
agasalhadas.
Em maio de 1945, as tropas
aliadas chegaram à Holanda. Era o fim da guerra e da fome, mas centenas de
pessoas já não podiam ver nem ouvir, apresentando os sintomas finais da
desnutrição. Muitas morreriam pouco tempo depois.
Vocês já aprenderam, desde as
aulas de Ciências da 8a série do 1 ° grau, que o corpo humano é constituído de
proteínas provenientes de alimentos de origem animal, como leite, ovos, peixes,
aves e carnes vermelhas. Essas proteínas devem ser ingeridas diariamente, em
quantidade suficiente para garantir uma boa saúde.
A proteína é uma necessidade
vital da dieta humana e de todos os animais, pois o corpo humano e o dos
animais são constituídos de proteínas. Ela pode ser de origem animal ou
vegetal.
As proteínas obtidas dos
alimentos de origem animal, além de formar as células do corpo humano, como os
músculos, o sangue, os órgãos vitais, também formam os hormônios, as enzimas e
os anticorpos produzidos, quando necessário, pelo sistema imunológico.
Na realidade, porém, do que se
necessita mesmo não é da proteína em si, mas dos aminoácidos dos quais ela é
formada.
As proteínas não são todas
iguais, embora sejam compostas pelos mesmos 22 aminoácidos. Os aminoácidos têm
funções diferentes e agem constituindo diversas partes do corpo humano.
Todos os aminoácidos são
necessários, só que alguns ¾ os considerados
essenciais ¾ não podem ser sintetizados pelo organismo em
quantidade suficiente. Basicamente existem dois tipos de proteína: a completa e
a incompleta. A completa é de origem animal e a incompleta, vegetal.
A proteína completa fornece, em
quantidade equilibrada, oito aminoácidos essenciais necessários à construção
dos tecidos do corpo humano. Ela é encontrada nos alimentos de origem animal,
como carne, peixes, ovos, leite e queijos.
A proteína incompleta não possui
todos os aminoácidos essenciais. Faltam-lhe alguns. Por isso, só é eficaz
quando ingerida em combinação com pequenas quantidades de proteínas de origem
animal. A proteína incompleta é encontrada nas sementes, nozes, ervilha, grãos,
cereais e feijão-soja.
Nosso sistema imunológico é tal
qual um grande exército conduzido pelo sangue. Os soldados desse exército são
milhares de células sangüíneas brancas, que estão sempre de prontidão, sob o
comando da glândula timo. Desta glândula recebem ordens sobre quando e onde
deverão atacar e quais os anticorpos que suas companheiras, as células B,
deverão produzir. Também no sangue, tanto os glóbulos vermelhos como o plasma
são constituídos por diferentes tipos de proteínas, denominadas A, B e AB.
As infecções causadas por vírus
só podem ser combatidas pelos glóbulos brancos. Ainda não se conhece nenhum
medicamento que tenha ação sobre o vírus. Por exemplo, quando temos uma gripe
ou um resfriado, que são causados por vírus, levamos uma ou duas semanas para
sarar. É o tempo necessário para os glóbulos brancos combaterem a infecção.
Quando a infecção é causada por bactérias, os glóbulos brancos podem ser
ajudados pelos antibióticos.
Não é só incorporando e digerindo
micróbios que os glóbulos brancos defendem nosso organismo. Eles agem também de
outra maneira: sempre que substâncias estranhas ao organismo entram no sangue,
por exemplo, as substâncias tóxicas produzidas pelas bactérias, os glóbulos
brancos passam a produzir outras proteínas chamadas anticorpos.
As moléculas dos anticorpos
unem-se por meio de ligações químicas às moléculas das substâncias tóxicas,
deixando-as sem ação. Da mesma maneira, os anticorpos também deixam sem ação os
micróbios ligando-se a eles. Desta forma, os micróbios ficam sem ação e podem
ser rapidamente incorporados e digeridos pelos glóbulos brancos.
Portanto, quanto mais proteínas
completas uma pessoa ingerir diariamente, mais saúde ela terá, pois é o único
alimento que proporciona resistência orgânica e defesa do organismo contra as
doenças.
Os ricos têm mais saúde porque
ingerem três vezes mais proteínas que os pobres, pois os alimentos que contêm
proteínas custam caro, ficando fora da mesa de quem ganha pouco.
Os médicos especializados em
nutrição, chamados nutrólogos, explicam que alimento é toda substância que,
ingerida pelo ser humano, é digerida e decomposta pelo aparelho digestivo, para
liberar nutrimentos.
O alimento transformado em
nutrimento é transportado pelo sangue e é absorvido pelas células do corpo.
A água é o único alimento que,
para ser absorvido, não precisa ser desdobrado.
A proteína, para ser absorvida,
precisa ser decomposta, liberando os aminoácidos que a compõem. Nesta forma, os
aminoácidos são absorvidos integralmente.
Após a deglutição, tudo é
automático, inconsciente. Uma criatura alimenta-se e as células do seu corpo
nutrem-se.
Os alimentos dividem-se em três
categorias quanto ao valor nutritivo, a saber:
1. Alimentos protetores: ar
atmosférico, água, leite, queijo, ovos, carnes, verduras, legumes, frutas e sal
de cozinha iodado.
2. Alimentos semi-protetores:
estes alimentos fornecem a energia de que as pessoas com atividades físicas
médias precisam. São os seguintes: legumes secos, feijões, soja, lentilha,
castanha, nozes, amendoim, sementes, manteiga e óleos. Não atendem às
necessidades orgânicas de proteínas. Só servem para quem pratica atividade
física média.
3. Alimentos não protetores:
somente precisam desses alimentos as pessoas que praticam grande atividade
física, pois fornecem muita energia. São os seguintes: açúcar, azeites, gordura
vegetal e animal; os feculentos arroz, milho, batata, aveia e mandioca; os cereais
trigo, centeio e cevada. Esses alimentos não atendem às necessidades de
proteína. Quando a pessoa come tudo isso e não executa trabalho braçal, estes
nutrimentos energéticos transformam-se em gordura corporal, ocasionando muitas
doenças a médio e longo prazos; por isso os povos do Primeiro Mundo estão
substituindo na alimentação os feculentos e os cereais pelos laticínios, carnes
e ovos, deixando-os para a alimentação das aves, dos animais de corte e da
pecuária leiteira, que irão produzir em abundância alimentos protetores.
Aqui na fazenda, vô Mário fabrica
ração, em cuja composição entram cereais, feculentos, farelos, vários tipos de
capins e suplementação de sais minerais. Tudo isso bem dosado e balanceado,
visando transformar essa ração em proteínas, via gado estabulado. O mesmo faz
em menor escala, com frangos de corte, galinhas poedeiras e porcos.
Agora, para finalizar, prestem
muita atenção!
A fome é causada pela falta de
calorias, ocasionada pela não-ingestão de carboidratos (cereais, feculentos e
gorduras).
A desnutrição é provocada pela
falta de proteínas completas de origem animal, sais minerais e vitaminas.
O indivíduo pode estar com a fome
saciada, mas desnutrido.
Devemos nos alimentar com
bastante proteína animal, qualquer que seja a nossa ocupação, e comer
moderadamente os carboidratos: cereais e feculentos. Estes alimentos são
indicados para a alimentação de animais de engorda, como porcos, gado, aves e
animais de tração como o cavalo.
Alguns nutrólogos afirmam que o
trigo presta-se mais para a fabricação do pão do que qualquer outro cereal,
porque somente ele contém as proteínas gliadina, glutenina e leucosina, ricas
em aminoácidos essenciais, principalmente o triptofano.
Como vocês acabaram de ouvir,
falamos um pouco sobre a alimentação do nosso corpo material. Agora, pergunto:
qual é o alimento do Espírito?
O Sr. Racional ensina que o
principal alimento do Espírito são os pensamentos de valor e de coragem, de
firmeza e de decisão. Esses pensamentos atraem vibrações de outros pensamentos
de idêntica formação, produzindo um estado de confiança capaz de conduzir ao
sucesso e à saúde psíquica.
A força do pensamento varia com a
educação da vontade. A vontade fraca anima um pensamento débil; a vontade
forte, um pensamento vigoroso. A força de vontade é o maior poder oculto que o
espírito humano possui.
A criatura se arruína, dando
acolhimento às vibrações enfermiças do pessimismo, do desânimo, da
maledicência, da inveja, da ingratidão, do ódio, da vingança, da perversidade e
da indolência.
A noite estava escura e fria. Já passava das 22 horas. As crianças
estavam com sono.
¾
Tio Marcos, para encerrar a aula de hoje, o que é psiquismo? - perguntou
Solange.
¾
Como eu sei que vocês já estão com sono, vou ser breve - começou a responder
tio Marcos.
Psiquismo é uma doutrina
filosófica que admite a existência de um fluido universal que anima todos os
seres vivos.
Vou ser mais claro: cada
partícula de matéria, mesmo as microscópicas, todas possuem um interior e um
exterior.
O interior é constituído de psiquismo,
a Força, conforme explica o Sr. Racional.
O exterior é constituído de
Matéria.
As duas formam o conjunto Força e
Matéria. Quando uma unidade de Matéria somente contém alguns milhares de
átomos, parece estar morta. Contudo, anima-se quando este número corpuscular
adquire vida, como acontece com o vírus. Quanto mais os organismos sobem na
escala evolutiva, maior será a Força em evolução, pois, como já dissemos, a
Matéria não evolui, transforma-se. Quando o cérebro atinge, pela evolução, um
grau de complexidade necessária, com um sistema nervoso adequado, pode então
comportar um espírito, permitindo a encarnação dos homens, separando-os, assim,
definitivamente das outras espécies de animais.
Diz um ditado oriental que a
distância que há entre um homem e “Deus” é a mesma que existe entre o animal e
o “Homem”.
Tio Marcos levantou-se, deu
boa-noite e saiu desejando bom sono a todos.
6. A evolução III
Tio Marcos, em pé meditando bem junto à janela da
saleta do quarto das meninas, contemplava as estrelas quando falou:
¾ Hoje, encerraremos esse
importante capítulo que trata da Evolução.
Depois, sentando-se á mesa,
continuou ...
Vocês já compreenderam que,
durante a evolução dos seres unicelulares até aos diferentes seres
multicelulares, com os quais convivemos em nosso ambiente, passaram-se bilhões
de anos.
As primeiras idéias de como
surgiu a grande variedade de seres vivos existentes no planeta são de
Aristóteles, em 350 a.C., na Grécia, pela hipótese da geração espontânea. Nesta
hipótese, Aristóteles dizia que os seres teriam surgido a partir da matéria
bruta.
Durante quase dezessete séculos,
a hipótese da geração espontânea foi largamente defendida, chegando-se a
acreditar que gansos, carneiros e outros animais pudessem originar-se de certas
árvores que os produziam como frutos.
No final da Idade Média,
Paracelso (1493-1541), tido como o pai da Medicina, e Van Helmont (1577-1644),
médico e químico holandês, escreveram receitas para produzir espontaneamente
ratos, sapos e tartarugas a partir de panos velhos, água, ar e madeira podre.
Os hebreus, povo semita instalado
na Palestina entre 2000 e 1750 a.C., acreditavam que todos os seres tinham sido
criados por um deus onipotente, de uma só vez e para sempre.
Até o século XVIII, quando a Ciência começou a
admitir a possibilidade da evolução dos seres vivos, as espécies eram
consideradas fixas e imutáveis.
A partir de então, foram
publicados vários ensaios a respeito do passado histórico da Terra.
Em 1795, Hutton publicou um
artigo no qual afirmava que os fenômenos na crosta do planeta eram gradativos e
contínuos, e que as rochas e os solos se modificavam através do processo da
erosão.
Mesmo aceitando que a Terra se
modificava através dos tempos, ninguém acreditava que tivesse havido qualquer
transformação nas plantas e animais. Entretanto, Erasmos Darwin (1731-1802),
avô de Charles Darwin, publicou no fim do século XVIII um tratado, no qual
afirmava a crença na evolução das espécies. Não formulou, porém, qualquer
hipótese sobre a natureza dessa evolução.
A partir do século XIX, os
cientistas começaram a reconhecer a utilidade do estudo de animais e plantas
fossilizados, encontrados nas escavações, para se identificar as camadas
geológicas.
Com esses estudos, muitas
informações sobre as características animais e vegetais foram acrescentadas às
já existentes. Porém, a grande maioria das espécies descritas pelos geólogos já
não existia mais, estava extinta há milhares de anos.
Começou então a germinar a idéia
da sucessão dos seres vivos, através dos tempos, mas nenhuma hipótese
evolucionista consistente foi levantada. Eu, respondendo a uma pergunta da
Fernanda, já falei em Lamarck. Repetindo: o primeiro cientista a elaborar uma
teoria para explicar a evolução dos seres vivos foi o francês Jean Baptiste
Lamarck. Esse notável sábio teve o grande mérito de anunciar, claramente e pela
primeira vez, a noção de evolução, criando uma teoria que explicava a evolução
dos seres vivos pela influência das variações do meio sobre o comportamento dos
órgãos.
Coube a Charles Darwin (1809-1882),
naturalista inglês, estabelecer a grande teoria da evolução das espécies, por
seleção natural e pela sobrevivência do mais apto.
Após o término de uma viagem que
fez ao redor do mundo, iniciada em 1831 e terminada em 1837, passou vinte anos
estudando os dados coletados, para confirmar a ocorrência de variações nas
espécies. Afirmou que “as espécies, ao contrário da crença quase universal, não
são estáticas e imutáveis, mas se modificam através de longos períodos de
tempo, pela Seleção Natural, permanecendo vivo o mais apto”.
O biólogo alemão August Weismann
(1834-1914) desenvolveu a Teoria da Hereditariedade, a partir de estudos de
Darwin e chegou a uma visão aproximada da atual Teoria Cromossômica. Por volta
de 1890, estabeleceu a distinção entre as células do corpo (células somáticas)
e as células germinativas. Concluiu que somente as células germinativas
transmitiam as qualidades do ser. Os caracteres adquiridos não se transmitem.
Como eu já disse, fizeram experiências cortando rabos de rato de centenas de
gerações em laboratório e, mesmo assim, sempre continuaram nascendo ratos com
rabo.
O abade austríaco Mendel
(1822-1884) descobriu as Leis da Hereditariedade.
Em 1901, o holandês De Vries,
baseando-se nas pesquisas de Mendel, lançou a Teoria das Mutações. Mutação é
uma modificação brusca e hereditária que aparece nos seres vivos, dando origem
a novas espécies.
O cientista De Vries, divulgando
a noção de mutação, isto é, dizendo que há uma modificação na informação
genética situada nos genes dos cromossomos, os quais se encontram nos núcleos
das células, explicou que a genética elabora, nas células, um registro
estatístico, inexorável, que conduz as espécies a adaptações ao meio, com uma
perfeição estupenda. Por exemplo: os mamíferos desenvolveram mecanismos
orgânicos de termorregulação da temperatura do sangue, mantendo-o a 37,5°C,
qualquer que seja a temperatura externa do ambiente em que eles vivem.
Essa capacidade de
termorregulação dos mamíferos foi o que proporcionou a esses animais a
supremacia sobre as demais espécies, durante os períodos de glaciação da Terra,
muitas das quais desapareceram por não possuir essa capacidade.
¾ Tio Marcos, eu não entendi ainda como surgiu a vida em nosso planeta! -
falou curioso Serginho.
Há aproximadamente 3,5 bilhões de
anos, surgiram os primeiros seres vivos neste planeta. Eram seres simples,
unicelulares, isto é, formados por uma única célula.
A atmosfera primitiva da Terra
continha, nas proporções adequadas, moléculas de carbono, oxigênio, hidrogênio
e nitrogênio. Essas mesmas moléculas constituem hoje 95 % da composição dos
corpos de todos os seres vivos.
No início da Terra, chovia
torrencialmente.
Os intermináveis aguaceiros
escorriam das montanhas e rochas, e muitas substâncias químicas que existiam
nelas foram carregadas para os oceanos de águas mornas. Na água, algumas destas
substâncias combinaram-se com outras. Uma delas era muito abundante, o carbono
(C), que se combinou com diversas outras substâncias, de maneiras diferentes.
Formaram-se, então, pequeninos glóbulos que se comportavam distintamente. Eles
se dividiam em duas partes iguais, e cada parte se combinava com substâncias
diferentes, de maneira a se dividir novamente em outras duas partes idênticas.
Dessas combinações originaram-se muitas outras substâncias químicas e pequenas
plantas verdes que tinham um poder especial: usavam a luz do sol para fabricar
compostos que chamamos de amido e açúcar. Desta forma, surge o alimento no
mundo. Nós chamamos essa substância verde das plantas de clorofila e os
glóbulos unicelulares, que se alimentam de amido e açúcar, de protistas,
divididos em protófitos e protozoários.
Estes pequenos animais e plantas
desenvolveram-se pouco a pouco, até formar todas as espécies de plantas e
animais que existem atualmente. Esta mudança gradativa recebeu o nome de
evolução.
Ninguém sabe se, de fato, foi
isso mesmo que aconteceu. Os cientistas continuam estudando indícios e
elaborando hipóteses para contar como tudo se passou. E todos eles concordam
num ponto: tudo ocorreu muito lentamente e a luz do sol teria sido o fator
preponderante para facilitar todas essas combinações de substâncias químicas.
Já o Sr. Racional ensina que, mal
cessavam os terremotos, maremotos e as intensas erupções vulcânicas, a Terra,
qual imensa fornalha, possuía condições químicas, minerais e energia (luz,
calor e outras radiações vindas do sol) para poder receber o Princípio da
Inteligência Universal, permitindo que ele, manifestando-se na matéria, desse
origem às grandes populações de seres unicelulares, como o vírus, a monera, o
protista e o fungo.
Desde então, pela
reprodução assexuada, isto é, sem o uso de órgãos sexuais, as células
primitivas dariam origem ao reino vegetal.
Portanto, o Princípio
Inteligente, partindo dos vírus e passando por espécies cada vez mais
adiantadas, bactérias, amebas, algas e vegetais, adquiriu condições para
manifestar-se, mais tarde, nas espécies animais, esboçando uma estrutura
esquelética.
Depois, animando outra série de
espécies, desenvolveu, durante milênios, o sistema vascular e o sistema
nervoso.
Segundo nos informa o Sr.
Racional, o Princípio Inteligente, desenvolvendo um corpo físico, nos reinos
vegetal e animal, desenvolveu também, simultaneamente, um corpo astral e um
corpo mental, muito rudimentares, ficando cada partícula, então, materializada,
constituída por três corpos: o mental, o astral e o físico.
O corpo mental é a sede do ser,
de onde derivam seus objetivos e a grande necessidade de existir. É a sede do
instinto e do pensamento.
O corpo astral funciona como um
molde que preside a formação e a ligação do corpo mental com o corpo físico. É
a sede das sensações.
O corpo físico é a sede onde o
ser se manifesta materializado.
Os orientais fazem desse conjunto
de corpos a seguinte analogia: um cavalo puxando uma carruagem, conduzido por
um cocheiro.
O cavalo seria o corpo astral; a
carruagem, o corpo físico, e o cocheiro seria o espírito.
Quando o corpo físico morre, isto
é, a carruagem quebra, o cocheiro (espírito) monta no cavalo (corpo astral) e
parte para o seu mundo, rumo às regiões a que pertence.
Tio Marcos
interrompeu, para que todos tomassem café com bolinhos que tia Zinha havia
preparado, e em seguida continuou a aula.
Todo o desenvolvimento do corpo
físico, compreendendo os órgãos, foi elaborado com lentidão, atendendo às
necessidades dos corpos mental e astral, os quais tiveram que aprender a
adaptar-se ao meio ambiente, desenvolvendo, primeiramente, os sentidos, da
seguinte forma:
1. Tato: foi criado quando
a Partícula Inteligente passou pelas espécies unicelulares, habitantes das
águas e da terra úmida.
2. Visão: principiou nos
organismos unicelulares pela sensibilização do protoplasma, isto é, citoplasma
e núcleo, desses seres expostos ao clarão solar.
3. Olfato: começou nos
animais aquáticos, de expressão mais simples, por estímulo do ambiente em que
evoluíam.
4. Paladar: surgiu nos
vegetais, muitos deles armados de pêlos viscosos destilando sucos digestivos.
5. Sexo: formou-se nas
algas marinhas, providas de células masculinas e femininas, as quais nadam
atraídas umas para as outras.
¾ Tio Marcos, o que são elos perdidos na cadeia evolutiva ? - perguntou
Boris.
Na Geologia e na Antropologia, são alguns fósseis que estão faltando para
completar o estudo da evolução dos seres. À medida que se ampliam os estudos
das cadeias evolutivas dos seres vivos e se aprofundam as investigações dos
fósseis, continuamente os cientistas encontram restos fósseis que estabelecem
elos entre um animal ou planta atuais e seres que existiram há milhões de anos.
O melhor exemplo talvez seja o cavalo. Com os dados geológicos que possuímos,
pudemos acompanhar o desenvolvimento do cavalo moderno, a partir de um
cavalinho do tamanho aproximado de um cão e que tinha três dedos nas patas.
Pudemos estudar o desaparecimento de dois desses dedos, até se formarem os
ossos característicos das patas do cavalo atual. O animal primitivo, do tamanho
do cão, é ou era algo que poderíamos chamar de cavalo, mas como era diferente
do cavalo de hoje! Os fósseis nos deram também os elos perdidos da cadeia
evolutiva entre os répteis e as aves e entre o elefante atual e os seus
antepassados de há 30 milhões de anos.
¾ Tio Marcos, o que é recapitulação dos embriões? - perguntou Serginho.
¾
Gostei da pergunta porque a respectiva resposta completa o assunto que estamos
tratando.
Se acompanharmos o
desenvolvimento dos animais da atualidade, a partir do óvulo fecundado até o
nascimento, veremos que as fases embrionárias de todos eles são muito
semelhantes umas às outras. Os embriões do gato, da galinha e da cobra, em seu
período inicial, são tão semelhantes que dificilmente saberíamos distingui-los.
Além disso, o coração, as artérias principais e as regiões do pescoço obedecem
ao mesmo plano de construção que se vê nos peixes. O coração do embrião de gato
não é dividido em quatro câmaras, mas é igual ao coração de um peixe; e o
pescoço tem fendas branquiais, o que nos conduz à recapitulação. O embrião
recapitula, embora não completamente, a sua história ancestral. Um embrião de
mamífero parece peixe, em certa fase de sua história. Só mais tarde é que se
diferencia em verdadeiro mamífero. Donde se conclui que animais e plantas
derivaram de um tronco comum, no obscuro passado geológico.
¾ Tio Marcos, nisso tudo, como se desenvolveu a consciência? - perguntou
Marquinho que, repetimos, adorava Biologia.
A Partícula da Inteligência
Universal, na ocasião em que estava evoluindo no reino mineral, aprendeu,
quando estava sujeita às leis de formação dos cristais, o que era atração e o
que era afinidade. Passando para o reino vegetal, desenvolveu a sensação.
Terminada esta fase, passou para o reino animal, onde através do instinto
natural começou a desenvolver a sensibilidade e a inteligência, transformando
gradativamente toda a atividade nervosa em vida psíquica.
A Ciência Espírita explica que, durante as fases em que as Partículas da
Inteligência Universal vivenciaram a afinidade no mineral, a sensação no
vegetal e o instinto no animal, ocorreu o crescimento da consciência da
criatura, transformando toda a atividade nervosa em pensamento contínuo, em
vida psíquica, formando um corpo mental.
O Sr. Racional diz que as
Partículas da Inteligência Universal que, em obediência às leis naturais e
imutáveis, animam e movimentam os diversos reinos da natureza, estabelecem a
vida em todos os seres, a qual se inicia na pedra, indo para os metais, depois
para os vegetais, os animais e o homem, seguindo em constante ascensão para a
luz, para a sua fonte de origem, que é o Grande Foco, incitador de tudo que
existe.
Assim, vão essas partículas
passando por todos os corpos dos reinos da natureza em evolução, em constante
purificação, e assim cada vez mais, aumentando sua luz, sua força, para o
cumprimento do dever, que é confundir-se com a Grande Luz, de onde partiram
para este e outros planetas.
Desta forma, é claro que, quando
essas partículas chegarem a organizar, incitar e movimentar corpos humanos, já
realizaram grande progresso e fazem parte das forças de categoria
verdadeiramente racional e, como tais, com inteira responsabilidade de seus
atos e pensamentos que as fazem conduzir-se neste mundo como melhor lhes
pareça, sem que para os seus atos reprováveis possa haver desculpas,
considerações e muito menos perdão pela prática de atos que prejudiquem o
próximo. Eles são, portanto, racionais, conseqüentemente responsáveis por tudo
que possa acontecer de mau.
Vimos que os sentidos físicos
como o tato, a visão, o paladar, o olfato e a audição foram desenvolvidos
quando a Partícula da Inteligência Universal peregrinou pelos diferentes reinos
da natureza. Em seguida, quando a criatura já se encontrava encarnada como
homem, possuindo um corpo mental bem desenvolvido, através de inúmeras
experiências, com ensaios e erros ao longo das vidas sucessivas, outros
atributos foram também sendo desenvolvidos, como a razão de ser, o
entendimento, a lógica, o juízo, o propósito, o objetivo e, por fim, já em
estágio bem adiantado, a concentração e o pensamento. A criatura, tendo
conquistado a capacidade de pensar, inicia o desenvolvimento dos atributos
morais do espírito, os quais, quando vivenciados no dia-a-dia, proporcionam uma
conduta cujo resultado é usufruir de uma felicidade relativa.
Os atributos morais do espírito
são os seguintes: firmeza de caráter, honradez, equilíbrio mental, domínio de
si mesmo, disciplina, percepção, concepção e capacidade de trabalho.
O Espírito, também através da sua
peregrinação evolutiva, já com milhares de reencarnações, desenvolve também uma
faculdade chamada mediunidade intuitiva, que seria uma espécie de sexto
sentido, capaz de perceber o que aos outros escapa. A potência dessa
mediunidade varia de indivíduo para indivíduo. Portanto, em nosso atual estado
evolutivo, somos todos médiuns.
Para encerrar o assunto desta
noite, vou comentar o que o Sr. Racional pensa sobre a evolução. Diz ele o
seguinte: o homem surgiu neste mundo como resultado da evolução dos animais que
o precederam. E, apesar do adiantamento atual do planeta, a marcha evolutiva
nos três reinos da natureza (mineral, vegetal e animal) prossegue sem qualquer
interrupção ou alteração. As condições para evoluir dos que iniciam agora o seu
progresso em corpo humano são mais favoráveis ao seu desenvolvimento mental.
Embora essas criaturas, iniciando
a sua marcha evolutiva, possam ser consideradas muito mais evoluídas que os
animais, de onde se originaram, são ainda desprovidas de razão, sendo suas
vidas muito mais orientadas pelo instinto.
Não é admissível que o “deus” que
as seitas ensinam os povos semiletrados a adorar, sendo onipotente e
soberanamente justo e bom, fosse criar um espírito mais atrasado do que outro e
fizesse conscientemente o imbecil e o sábio, como justa maneira de proceder.
Desde quando foram escritos, há
milhares de anos, até hoje, no Século das Luzes, os livros que compõem a Bíblia
embevecem e atrofiam o raciocínio de milhões de espíritos adoradores. A
revelação da vida, apresentada por este livro, é cheia de incoerências,
absurdos e contradições, porque foram baseadas em sandices, intuídas por
espíritos do Astral Inferior que se diziam profetas, atuando em médiuns
confabuladores, desequilibrados, iguais a muitos que andam por aí, a explorar a
crendice dos adoradores, de onde auferem grandes lucros, explorando a
ingenuidade dos ignorantes.
A compreensão e o conhecimento
das coisas são frutos da evolução do Espírito, e muitos dos que hoje estão
encarnados já consideram a vida sob um aspecto que mais se aproxima da Verdade.
O desconhecimento da Lei da
Evolução provoca na humanidade profundos desentendimentos, os quais geram
muitas tragédias, muitos males, muitas desgraças, inclusive o ódio, as guerras,
a miséria e a fome.
A humanidade, vítima do dogma da
salvação, ensinado pelas religiões adoradoras, induz a criatura encarnada ao
comodismo, que impede o trabalho, o esforço, a luta para evoluir e toma o
progresso material como um mal, acreditando que poderão melhorar de vida com a
proteção das supostas divindades, ou espíritos protetores, confiando na “graça”
e nos “favores do céu” para saírem-se bem na vida.
¾ Tio Marcos, como é pensar certo? - perguntou Marquinho.
Pensar certo é pensar com lógica,
racional e coerentemente. Vou lhes dar um exemplo: numa sala de aula, o
professor de português solicitou aos alunos que fizessem uma redação de vinte
linhas sobre o que estavam vendo. E mostrou-lhes uma folha de papel com um
ponto no centro.
Terminada a aula, o professor
recolheu as composições e leu as mais diferentes colocações.
Um aluno tinha visto uma estrela
brilhando no firmamento. Outro descreveu uma mosca morta no leite. Outro, um
urso num campo de neve. Outro, um barquinho no mar e assim por diante. Somente
um não era sonhador. Era racional e coerente, e escreveu o que estava vendo:
“Uma folha de papel com um ponto negro pintado no centro”. Deu as dimensões
aproximadas da folha, avaliou a espessura do papel e presumiu que o ponto
estava no centro da folha.
Quando as situações da vida forem
negativas, pensar certo é a melhor forma de reagir a esse estado. Nessas
situações devemos modificar nossas ações, buscando um desempenho positivo.
Façam um esforço, se preciso for,
consciente, deliberado para interpretar papéis positivos, criados por vocês
mesmos, em suas mentes. Se preciso for, renunciem a algum objetivo ou vantagem
material.
Também devemos ter paciência no
relacionamento com o nosso próximo, sem sermos covardes nem irresponsáveis.
No início da minha carreira
profissional na Petrobrás em Cubatão-SP, tive um chefe, Eng. San Giovanni,
pessoa íntegra, de grande capacidade de trabalho e muito conciliadora.
Na primeira vez que entrei no seu
gabinete, deparei com a fotografia de um sapo, enquadrado e pendurado na
parede, atrás da sua mesa de trabalho, bem no alto. Era uma fotografia grande,
colorida.
Depois de tratar com ele o
assunto que me levara até lá, perguntei-lhe qual o significado daquele sapo.
Ele sorriu e me respondeu:
¾ É a primeira. coisa que
olho, quando aqui chego de manhã. E logo penso: quantos sapos engolirei hoje?
E. em seguida, justificou essa sua atitude dizendo:
¾ As discussões estéreis
não levam a nada e a troca de farpas e desaforos nos fazem muito mal. Os
insultos nos envenenam a alma. Se tenho que corrigir alguém o faço com energia,
porém respeitosamente, com educação, embora muitas vezes tenha vontade de sair
aos gritos.
Por isso, caros sobrinhos, nas
situações difíceis, somos nós que devemos controlar a evolução dos
acontecimentos e não deixar que situações negativas nos controlem.
O Racionalismo Cristão ensina
que, quando discutimos com alguém, nossa mente sintoniza-se com as mentes
desencarnadas do Astral Inferior, atraindo falanges inteiras de espíritos
galhofeiros, que se divertem com os desentendimentos e com as discussões e
bate-bocas, sugando as energias anímicas dos contendores. Por isso, evitem as
discussões.
Tio Marcos parou de falar, olhou para o seu relógio de pulso e disse:
¾
Por hoje basta. Boa noite, moçada.
7. Raça I
As crianças, sentadas á mesa, tinham um ar
cansado, pois trabalharam a tarde inteira, ajudando tia Zinha a fazer pamonhas.
Foram dois sacos de milho verde
que Marquinho e Serginho descascaram.
Solange e Maria tiraram das
espigas descascadas os estigmas, ou cabelos do milho, que eram guardados numa
vasilha, para serem usados para fazer chá. Era um poderoso diurético. A
Fernanda separava as palhas.
Boris e Silvinho ajudaram
Severo a ralar as espigas descascadas e já sem cabelos, enquanto tia Zinha
preparava as palhas de milho para embrulhar as pamonhas, atando-as depois com
cordão de algodão, para não desmancharem durante o cozimento.
Dona Maria preparava o toucinho
para ser derretido e, com a banha derretida e bem quente, escaldar a massa
ralada e peneirada, para tirar o bagaço. O grande segredo de fazer a pamonha
era adicionar essa gordura fervendo até o ponto certo, quando a massa não a
absorvesse mais. Dona Maria era perita nesta arte. No final, sempre separava um
pouco de massa para fazer pamonha doce, pois a pamonha goiana é salgada.
Dona Maria tinha colocado um
tacho no fogão com água pela metade para ferver e cozinhar as pamonhas. Era a
última operação do processo de fabricação, que terminava com o mutirão da
limpeza.
Fazer pamonha era um ritual. No
meio da lida, quantos “causos” surgiam! Todos tinham estórias para contar.
Tio Marcos, com as mãos
apoiadas na borda da mesa, principiou ...
De hoje em diante, iremos falar
dos povos que colonizaram o Brasil. É comum dizer-se que o brasileiro é o fruto
da mistura de três raças: a branca, a negra e a vermelha. Mas não é bem assim,
porque a palavra raça não dá idéia dos níveis evolutivos destes povos, isto é,
da cultura que possuíam. Por isso perguntamos: que brancos, que negros e que
índios formaram o povo brasileiro? Até 1822, ano da Independência do Brasil, os
brancos que emigraram para o nosso país eram em sua quase totalidade
portugueses. Eram brancos muito diferentes dos que colonizaram os Estados
Unidos (ingleses) ou o Canadá (franceses). Do mesmo modo, os negros que vieram
para cá não são os mesmos que foram para os Estados Unidos ou para a Jamaica ou
para o Peru. E, por fim, os índios brasileiros são muito diferentes dos índios
mexicanos, bolivianos, colombianos e dos Estados Unidos.
Quando se fala do
encontro dessas três raças, é preciso lembrar as condições em que ele se deu:
os brancos eram senhores, os negros eram escravos e os índios, povos
conquistados. Mais do que as diferenças de pele, as condições desse encontro
marcaram fortemente a sociedade brasileira. Hoje, as condições são outras, mas
as raízes do passado ainda estão muito fortes.
¾ Tio Marcos. por que
existem gente branca, preta, amarela, etc? - perguntou Fernanda.
A pele que reveste o corpo humano
é constituída por duas partes: a epiderme, que é a parte externa, a que
enxergamos, e o derma, parte interna, sobre a qual se assenta a epiderme.
A epiderme é revestida por uma
película transparente, incolor, permitindo ver-se as cores por baixo dela.
Logo abaixo dessa parte
transparente, encontra-se uma camada especial de células que produzem uma
substância marrom-escura, chamada melanina.
Agora vocês podem compreender por
que algumas pessoas têm a pele mais escura do que as outras.
As pessoas de cor negra não têm
uma quantidade maior de células produtoras de melanina, em comparação com a das
pessoas de cor branca. A diferença é que as células das pessoas negras produzem
mais melanina. Se as células produzem apenas um pouco de melanina, a pessoa
terá uma pele muito branca, muito clara. Há uma anormalidade congênita chamada
albinismo que se caracteriza pela ausência total ou parcial do pigmento da
pele. São pessoas totalmente brancas, mesmo as de raça negra. Se o conjunto de
células da pele não produzir melanina uniformemente, a pessoa terá uma pele
manchada e será sardenta. Se cada célula produzir uma grande quantidade de
melanina, a pele será marrom-escura, tão escura que realmente parecerá preta.
Os cientistas não sabem por que as
células da pele se comportam desta maneira. Alguns naturalistas acham que a
pele escura ajudou os povos antigos a viver bem na África, onde o sol é
abrasador e há poucas nuvens.
Quando os homens se instalaram nas
regiões situadas bem ao norte do planeta, em terras onde o tempo é
freqüentemente nublado, com pouco sol, aqueles que tinham pele mais clara se
adaptaram melhor. Gradativamente estes povos se tornaram pálidos. Sua pele, na
atualidade, é quase branca, mas parece às vezes rosada, por causa do sangue, cujos
vasos sangüíneos situam-se logo abaixo da epiderme.
Alguns povos do Oriente não são
nem escuros, nem róseos. Sua pele tem coloração dourada. Esta cor vem de uma
fina camada de gordura amarela, situada por baixo da camada que contém os vasos
sangüíneos. A substância amarela que colore esta camada de gordura é chamada
caroteno. É o mesmo corante da gema de ovo, da manteiga de leite, da cenoura,
etc. Por que esses povos têm mais caroteno que os outros? Não sabemos, ainda.
Nós não devemos ter preconceito quanto
à cor da pele dos outros.
Como espíritos que somos, devemos
pensar: “Eu sou eu. Nesta encarnação estou habitando um corpo branco, ou preto,
ou amarelo, ou vermelho, ou mestiço, masculino ou feminino”. Isso significa que
o planeta Terra não é habitado por corpos, mas sim por “eus”, que simplesmente
vivem encarnados em diferentes corpos. A essência do “eu” não é negra, nem
branca, nem vermelha, nem amarela, nem mestiça, nem masculina, nem feminina.
Ela apenas é. Nossa percepção, nosso “eu” não é masculino nem feminino. Não é
branco, nem negro, nem de qualquer outra cor. Simplesmente é, e os corpos que
habitamos são nossos trajes, nossas roupas para bem convivermos com as
condições físicas do planeta Terra e para representarmos nossos papéis, durante
nossas passagens pelo cenário do mundo em que vivemos. E não se esqueçam! Esses
papéis nós mesmos o escolhemos antes de reencarnar, e todo sucesso ou insucesso
que ocorrer no desempenho deles dependerá exclusivamente de nós próprios,
através do uso que fizermos do nosso livre-arbítrio durante a vida.
¾ Tio Marcos, está correto nós usarmos, em nossa conversação, as
expressões “Graças a Deus”, “Se Deus quiser”, “Deus lhe pague”, “Tenho fé em
Deus”, etc? - perguntou Serginho muito sério.
¾
Está muito errado - respondeu tio Marcos. E continuou ...
Este costume de em nossas
conversas estar-se louvando ou usando para tudo a figura de Deus é um
condicionamento que o Catolicismo, usando no ritual da missa velas e incenso,
hipnoticamente introjetou no inconsciente das beatas e das mais diferentes
pessoas, geralmente pobres, ingênuas e semiletradas. Estas expressões são ditas
pelos fanáticos que não sabem pensar. Não sabem usar o livre-arbítrio nem o
raciocínio para resolver os seus problemas existenciais. Tornam-se mendigos da
caridade divina, verdadeiros escravos psíquicos. As religiões transformam
milhares de romeiros, devotos dos santos ou seguidores de seitas espíritas em
verdadeiros aleijados mentais que precisam das muletas da proteção divina para
resolver as suas dificuldades morais e financeiras. Não sabem que é somente com
pensamentos de valor, com força de vontade, com raciocínio, com trabalho e com
o livre-arbítrio que as pessoas resolvem os seus problemas.
Mas voltemos ao assunto que iremos
tratar: os índios.
Quando se fala em índios, muita
gente pensa que são selvagens que vivem em aldeias cercadas. Pensam também que
matam os inimigos e durante as suas danças praticam o canibalismo, isto é,
devoram a carne humana. Essa prática é chamada antropofagia. Mas isso não é
verdade. Trata-se de um preconceito que o colonizador estendeu a todos os povos
indígenas, quando conheceram os índios tupinambás, que praticavam o canibalismo
durante os rituais guerreiros. Os tupinambás pertenciam a diversas tribos
tupi-guaranis que habitavam o litoral do Brasil, no século XVI.
No início da colonização, em 1700,
existiam no Brasil mais de 3 milhões de índios, que doenças e guerras de
conquista reduziram a pouco mais de 200 mil nos tempos atuais. Em 1900, havia
230 grupos tribais, mas muitos deles desapareceram nos últimos oitenta anos.
Mesmo assim, existem ainda no Brasil quase 150 povos indígenas, que falam mais
de cem línguas diferentes. Apesar de haver semelhanças, cada povo possui
características físicas, língua e costumes próprios, que o diferenciam dos
demais. Além das várias línguas diferentes, existe grande diversidade
biológica, como, por exemplo, no grupo tupi, os índios são baixos; entre os
tupinambás, predominam indivíduos de estatura média e magros; já os índios do
Alto Xingu são bem altos e corpulentos, existindo entre eles os da raça
kreen-akore, que têm pele escura e são quase negros.
As aldeias variam de tribo para
tribo. Os antigos tupinambás construíam suas aldeias dispondo as casas em
círculos; os xavantes já dispunham as suas casas em semicírculos, formando uma
ferradura, e os caiovás têm suas aldeias reduzidas a uma enorme casa. Várias
tribos são seminômades, ou seja, parte do ano permanecem na aldeia e na época
da seca vagueiam à procura de alimentos, construindo pequenos abrigos.
A diversidade dos índios
brasileiros também é grande no que diz respeito à produção de alimentos. Existe
uma estreita relação entre os costumes alimentares e os recursos naturais da
região onde cada tribo vive. Por exemplo: os índios do Alto Xingu dedicam-se
muito mais à pesca do que à caça; caçam individualmente e preferem a caça de
aves. Já os timbiras fazem grandes caçadas coletivas, pois a caça tem enorme
importância na sua alimentação.
As técnicas agrícolas são quase as
mesmas nos vários grupos tribais, mas existem muitas diferenças quanto ao
tamanho das roças, a quantidade e o tipo de produtos cultivados. A agricultura
dos xavantes consiste apenas no plantio de três vegetais: o milho, a fava, uma
espécie de vagem, e a abóbora. Já os índios mundurucus, que vivem na bacia do
Rio Tapajós, plantam mandioca, batata-doce, milho, fava, abóbora, cará, ananás
e pimenta.
Ao chegarem à
América, os europeus pensavam ter chegado às índias. Por isso, chamaram de
índios todas as populações aqui existentes, do norte ao sul do continente
americano, embora eles fossem radicalmente diferentes, tanto no aspecto físico
como no cultural, como, por exemplo, os tupinambás do Brasil e os iroqueses da
América do Norte.
¾ Tio Marcos, qual era a religião dos índios? - interrompeu Fernanda, que
gostava muito da história dos índios.
¾
Espere um pouquinho que vamos chegar lá. Mas,antes. quero lhes falar sobre o
governo dos índios.
No Brasil, eles não tinham um
chefe responsável por todos. O chefe era sempre o chefe da aldeia, geralmente
chamado de cacique, morubixaba, tuxaua, etc. A transmissão dessa chefia podia
ser hereditária, isto é, de pai para filho, ou não. Os caciques deviam conduzir
a aldeia nas mudanças de região, na guerra; deviam manter a tradição, determinar
as atividades diárias e responsabilizar-se pelo contato com outras aldeias ou
com os civilizados. Muitas vezes, eles eram assessorados por um conselho de
homens experimentados, que os auxiliavam em suas decisões.
Os primeiros povos a serem
escravizados no Brasil foram os índios.
¾ Tio Marcos, como
surgiram os escravos? - perguntou Maria.
Desde a Antiguidade,
3000 anos a.C., os escravos eram os prisioneiros de guerra. Seus conquistadores
os faziam trabalhar na canga, isto é, quais bois de carro, presos por uma peça
de madeira que se prendia ao pescoço.
Às vezes, assaltantes atacavam
pequenas cidades chamadas burgos simplesmente para capturar escravos. Outras
vezes, prendiam homens, mulheres e crianças de tribos nômades para vendê-los.
Escravos com cangalhas eram postos
a trabalhar, construindo canais e cavando minas. Movimentavam os enormes remos
das galeras, que eram antigas embarcações, compridas e estreitas, com cerca de
quinze a trinta remos de cada lado. Cada remo era manejado por três ou cinco homens.
Algumas galeras envergavam velas náuticas redondas ou retangulares e podiam ter
até três mastros.
Frotas de galeras eram usadas
pelos cartagineses, romanos, fenícios, etc., por volta de 900 a. C.
Em Tiro, uma grande cidade da
Fenícia, havia um grande mercado de escravos de todas as raças que abastecia as
cidades e os palácios do Oriente. Vendiam-se como escravos os prisioneiros de
guerra. Negociava-se com negros da Líbia, da Nigéria, da Etiópia ou com brancos
capturados na Grécia, no Cáucaso ou com crianças que os pais, naquela época,
trocavam por bugigangas.
Mas nem todos os escravos eram
prisioneiros de guerra. Muitos homens livres, que tomaram dinheiro emprestado e
não puderam pagar, vendiam-se como escravos ao agiota, ou então vendiam sua
mulher e seus filhos.
Em 500 a.C., algumas cidades
gregas mandavam expedições assaltarem regularmente, em busca de riquezas e de
cativos que tivessem habilidades profissionais. Esses prisioneiros eram
transformados em escravos nas oficinas das cidades.
Explorando a escravidão, os gregos
tinham todo o conforto que quisessem e desprezavam aqueles que se preocupavam
com coisas corriqueiras do dia-a-dia. Todo artesão, tanto livre quanto escravo,
era olhado com desdém.
Nas idades Moderna e
Contemporânea, os europeus que conquistaram a América não acharam facilidade em
escravizar os índios. Então eles passaram a capturar negros na África. Isso não
foi porque certas raças se prestavam à escravidão mais do que outras. Isso
aconteceu porque os africanos não podiam correr de volta para suas casas, mas
os índios podiam, e fugiam.
Com a chegada dos
portugueses, os índios perderam as suas terras, e foram caçados como animais,
para serem obrigados a trabalhar. Na região de São Paulo, por exemplo, eram
organizadas verdadeiras caçadas aos índios pelos bandeirantes. Os bandeirantes
eram integrantes de expedições armadas que, partindo geralmente da capitania de
São Vicente ou de São Paulo de Piratininga, desbravavam os sertões, no começo
do século XVIII, a fim de aprisionar índios ou descobrir minas de ouro. Eram
expedições organizadas no período colonial pelas autoridades ou por
particulares, para explorar o interior do Brasil com fins comerciais. Essas
expedições fundaram cidades, abriram caminhos e ampliaram nossas fronteiras.
Tio Marcos fez uma pequena
interrupção e, olhando para Fernanda, falou:
¾ Fernanda, agora vamos
falar da religião dos índios.
No Brasil, muitas tribos praticam
os ritos de passagem, que se referem à gestação, ao nascimento, à iniciação à
vida adulta, ao casamento e à morte. As tribos também possuem os seus mitos.
¾ Tio Marcos, a que é
mito? - interrompeu a jovem.
Mitos são estórias que contam
fatos dos tempos heroicos e também traduzem a ideia que fazem do Universo.
Poucos índios acreditam na existência de um ser supremo, senhor de todas as
coisas. A maioria deles acredita em heróis místicos, misteriosos, muitas vezes
nas figuras de dois gêmeos, responsáveis pela criação dos animais, das plantas
e dos costumes. Emile Durkheim (1858-1917) escreveu, no fim do século XIX
vários estudos sobre as sociedades abrangendo os povos primitivos, como os
nossos índios. Ele contribuiu muito para uma ciência chamada Sociologia.
¾ Tio Marcos, o que é
mesmo Sociologia ? - perguntou Boris.
Sociologia é a ciência que estuda
as relações sociais, as leis e as instituições. É a ciência dos fenômenos
sociais. Não confundam Sociologia com Socialismo.
Socialismo é um
sistema dos que querem reformar a sociedade, pregando a comunhão dos meios de
produção e a volta dos bens materiais à coletividade. Mas estamos saindo do
nosso assunto. Estamos falando da religião dos índios. Como eu estava dizendo,
um sociólogo francês do século XIX, chamado Durkheim, estudando as práticas
religiosas dos povos selvagens, considerou a mentalidade desses povos como
pré-lógica, isto é, numa fase anterior ao desenvolvimento da razão,
propriamente lógica. São politeístas, isto é, acreditam em vários deuses e numa
concepção fantasiosa do mundo, cheia de mistérios e superstições. Essa
concepção continua a existir ainda, nas civilizações agrárias e pastoris.
Estes povos primitivos, não
podendo explicar os fenômenos da natureza, achavam que esses fenômenos eram
obras de muitos deuses. Desta forma, eram divinos o vento, os rios, a terra e
principalmente os astros, onde supunham que moravam os deuses.
Na Antigüidade, no Egito e na
Mesopotâmia, estes povos cultuavam deuses protetores e demônios vingativos.
Eram representados com a cabeça de um animal e o corpo de um homem ou com a
face humana sobre um corpo de animal.
No Egito, a esfinge de Gizé
representa um monstro fabuloso, com corpo de leão e a cabeça de gente. Era
originalmente a guardiã do monumental conjunto arquitetônico de Quéfren,
constituído pelas majestosas pirâmides construídas pelos faraós da IV dinastia,
Quéops, Quéfren e Miquerinos, que edificaram aí o seu vasto complexo funerário.
Essa esfinge de Gizé tem os traços fisionômicos do faraó Quéfren. Napoleão
Bonaparte, em 1798, vindo conquistar o Egito, parou em frente das pirâmides e
disse:
¾ Soldados! Do alto destas pirâmides, quarenta
séculos vos contemplam.
Entre esses povos primitivos e a
nossa civilização, temos uma grande distância que vai da selva à nossa
sociedade industrial, e é a mesma que existe entre a imaginação e a realidade.
Os povos ditos selvagens, apesar
de humanos nos corpos, são ainda espiritualmente muito jovens e, assim, muito
atrasados em raciocínio, vivendo mais pelo instinto do que pelo raciocínio ou
pelo pensamento.
Esses silvícolas das Américas
difundiram entre os seus conquistadores costumes primitivos e deletérios, como,
por exemplo, o vício de fumar. Este vício tem trazido à humanidade um grande
malefício, e trouxe também a magia negra, causadora de loucos.
Também surgiram entre eles tensões
sociais e preconceitos, provocando manifestações de agressividade e violência.
Essa situação ocorre em razão de
os seres humanos, habitantes do planeta Terra, possuírem, como eu já disse,
graus evolutivos desiguais, isto é, possuem atitudes, modos de agir, costumes,
conhecimentos e valores de juízo muito diferentes. As reações aos estímulos da
vida também são muito diversos, pois há os que se comprazem no vício, no crime
e os que cultuam a virtude, em razão de possuírem graus de espiritualidade
diferentes.
Uma das principais características
que diferenciam os seres humanos entre si é a sua capacidade para aprender e
acumular conhecimentos.
Desde que nascemos,
começamos a aprender uma série de coisas de nós mesmos e da realidade que nos
cerca, da qual fazemos parte.
Fazemos isso, durante a vida, de diferentes
maneiras, através da experiência individual, usando os nossos sentidos (visão,
tato, audição, olfato e paladar) e os nossos atributos (sensibilidade, firmeza
de caráter, honradez, equilíbrio mental, lógica, domínio de nós mesmos para o
bem, disciplina, raciocínio, inteligência, percepção, concepção, força de
vontade e trabalho). Nesse processo, além das experiências sensoriais, também
memorizamos os resultados dessas experiências. Durante a vida, vivenciamos
diferentes experiências, registrando os resultados. Por isso, somos capazes de
imaginar, reconhecer e enfrentar novos acontecimentos. Toda essa experiência é
transferida do cérebro físico, através do cérebro do corpo espiritual (corpo
astral, perispírito), ao espírito, que vai compondo um grande arquivo
consolidado. Depois da nossa desencarnação, já em nosso mundo de estágio, esses
conhecimentos recém-adquiridos na última encarnação serão incorporados
definitivamente à nossa personalidade espiritual. E nas futuras reencarnações,
manifestaremos esses conhecimentos na forma de aptidões, facilidade de
compreensão, vocação, capacidade de raciocinar e encontrar soluções através da
criatividade.
O ponto que mais se destaca na
sociedade é a desarmonia. Ela começa na família e estende-se à cidade, ao país
e ao mundo. Isto ocorre em virtude dos graus de esclarecimento existentes entre
as diversas classes de espíritos, pois espiritualidade e intelectualidade são
atributos muito diferentes entre si. A compreensão e o conhecimento das coisas
são frutos da evolução do Espírito, e muitos dos que hoje estão encarnados já
consideram a vida sob um aspecto que se aproxima cada vez mais da
espiritualidade.
¾ Tio Marcos, o que é reencarnação? - perguntou Fernanda.
A reencarnação consiste em admitir
que o Espírito evolui através de várias existências sucessivas em mundos
materializados. A reencarnação também é tratada como pluralidade da existência
em vários livros da literatura espiritualista.
Os Vedas, constituídos por quatro
livros sagrados, escritos na mais remota antigüidade pelos hindus, pregam a
imortalidade da alma e a lei da reencarnação. No livro Bagavad-Gita, obra-prima da filosofia bramânica, o “Eu Superior”
Krishna transmite ao “Ego” Arjuna a maneira de se libertar do fluxo dos
renascimentos.
O Hinduísmo admite a reencarnação
e a metempsicose. A metempsicose significa a encarnação da alma do homem no
corpo de animais, como punição temporária, mas o Sr. Racional não admite isso.
Os animais não possuem sistema nervoso desenvolvido para comportar o potencial das
emoções humanas.
O Budismo também prega a
reencarnação. No Tibete, existem muitos mosteiros budistas, principalmente em
Lassa, sua capital, situada a 3500ms de altura, no Himalaia. Nesses mosteiros,
além da reencarnação, também se admite a transmigração da alma, que é uma
doutrina segundo a qual a mesma alma pode animar sucessivamente corpos
diversos, homens, animais e vegetais. Também admitem que, com a desencarnação
de um mestre espiritual, este pode reencarnar e mais tarde ser reconhecido
ainda criança. O chefe supremo dessa religião e do Estado teocrático do Tibete
é chamado Dalai-Lama. Em 1950, tropas comunistas chinesas ocuparam o Tibete,
incorporando o país à China.
O Cristianismo primitivo admitia a
reencarnação. Orígenes (185-254), escritor grego cristão, teólogo e
comentarista da Bíblia, foi padre da Igreja de Alexandria e admitia a
preexistência da alma, como necessidade lógica para a explicação de certas
passagens da Bíblia, chegando à conclusão de que, se a reencarnação não
existisse, Deus seria sumamente injusto. Em 250, Orígenes, por sua celebridade,
foi perseguido pelo imperador romano Décio, que na época perseguia os cristãos.
A tese de Orígenes sobre a reencarnação foi rejeitada pelos concílios da
Igreja, quando foram estabelecidos os dogmas fundamentais da Igreja Católica,
que adotou a tese da unicidade das existências, isto é, a alma teria uma única
existência e após a morte submeter-se-ia ao Juízo Final, indo parar no céu,
purgatório ou inferno. Mas as sandices dos concílios não pararam por aí. Em
787, por ocasião do 2° Concílio de Niceia, foi instituído o culto às imagens
nas igrejas, com a obrigatoriedade de se prestar veneração e adoração
honorífica às imagens de barro ou madeira, sob pena de excomunhão. Este
concílio deu ao Catolicismo todas as características de paganismo,
restabelecendo a adoração dos ídolos. Deixou de ser cristão para ser pagão. A
reencarnação foi ensinada por Jesus antes dos Evangelhos, através da seguinte
lei: “Não as faças que as pagas”.
O Universo Espiritual é o nosso
mundo eterno, preexistente e sobrevivente a tudo, o que quer dizer que sempre
existiu e sempre existirá.
Quando um espírito vai habitar um
mundo materializado, dizemos que ele reencarnou e nessa ocasião perde a
recordação das suas vidas passadas. Existem as reencarnações planejadas em que
o Espírito, encontrando-se no seu mundo de estágio, prepara-se para reencarnar
e, na ocasião propícia, nasce num mundo-escola. Nenhum espírito sai da
atmosfera da Terra diretamente para a reencarnação. Precisa, antes, passar pelo
mundo de estágio a que pertence, para depurar-se das perturbações ocasionadas
pelo Astral Inferior.
Existem também as reencarnações
compulsórias, em que os espíritos reencarnam independentemente da sua vontade.
O livre-arbítrio de cada um é coarctado temporariamente e eles iniciam o
processo reencarnatório.
O Espírito, em reencarnando, traz
consigo a memória anímica, registrada em seu corpo astral, conseqüentemente
conservando uma espécie de atavismo espiritual, responsável pelos seus apetites
grosseiros, por seus instintos rudes, ou melhor, por seu caráter, suas aptidões
e tendências afetivas e intelectuais. Nesse estado, reiniciará a depuração das
suas imperfeições, através da dor e do sofrimento.
¾ Tio Marcos, o que é atavismo? - perguntou Boris.
A ciência biológica diz que
atavismo é a “herança de certos caracteres físicos ou psíquicos, remotos, de
quem se descende”.
O Dr. Pinheiro Guedes (1842-1908)
diz que é “o predomínio da alma sobre o corpo”.
O Sr. Racional diz que é “o modo
de ser que o perispírito conserva da forma e do caráter adquiridos em vidas
passadas, próximas ou remotas”.
Como exemplo de atavismo, podemos
citar: um homem de forma e gostos feminis; uma mulher de aspecto e aptidões
masculinas, ou ainda, o que não é raro, pessoas que herdam o tipo de um animal
e, como ele, seus instintos, embora brandos.
Portanto, o corpo astral conserva
o modo de ser de existências anteriores.
Nós, espíritos encarnados, na
atual fase evolutiva em que nos encontramos, já realizamos milhares de encarnações,
sendo aproximadamente 50% delas como homem e 50% como mulher.
As características físicas e
psíquicas de cada sexo são muito diferentes. O Espírito, como homem, molda-se
para a sobrevivência, para a luta, para a conquista, para a guerra. Como mulher,
molda-se para ser mãe, para procriar, para atender à criança. Portanto, é
delicada, meiga e passiva. Quando um espírito, por necessidade evolutiva, deixa
de reencarnar como homem, para vivenciar a experiência de ser mulher, ele
passa, no seu mundo de estágio, por um processo psíquico de adaptação, para
perder as características masculinas, desenvolver o modo de ser e as formas
femininas.
Desenvolvidos essas
características psíquicas do sexo em que o Espírito vai reencarnar, estaria
pronto para iniciar a sua nova trajetória evolutiva.
Muitas vezes, por razões de
resgates dolorosos, um espírito na condição de homem deverá compulsoriamente
nascer como mulher. Atendendo à lei: “Não as faças que as pagas”, nascerá sem
ter tido tempo de realizar a sua adaptação psíquica à sua nova condição de
existência como mulher. E, por atavismo, apesar de possuir todas as
características físicas femininas, o seu comportamento psíquico será de homem.
Para reencarnar, o Espírito sofre
um processo de materialização de longa duração, via útero, cuja gestação dura
nove meses, gerando um corpo que viverá aproximadamente oitenta anos. O
Espírito, que é luz no seu mundo de estágio, reduz o seu corpo astral à
dimensão do de um bebê e passa a presidir a formação do feto no útero da mãe,
permanecendo do lado de fora do corpo físico desta, mais do lado esquerdo.
Durante a gestação, vai ligando-se fluidicamente, molécula a molécula, ao feto.
À medida que dura a gestação, o corpo astral vai crescendo, acompanhando o
corpo físico do bebê, e o processo de ligação somente se completa imediatamente
após o nascimento da criança. O crescimento do corpo astral continua até a
idade adulta do espírito reencarnante.
Quando um espírito encarnado não
tiver mais erros a resgatar, portanto, não havendo mais necessidade de
depuração, os sofrimentos desse espírito quase desaparecem. Os bons hábitos
tomam o lugar dos maus, as correntes do Astral Superior afastam os espíritos do
Astral Inferior e começa, então, a haver mais saúde e mais tranqüilidade. Os seus
negócios prosperam, a amizade no meio social floresce e a vida se transforma
para melhor. Nessa condição, esses espíritos já atingiram a 18ª classe.
Passam a pertencer aos mundos
diáfanos. Somente reencarnarão novamente em mundos materializados em missão a
serviço do Astral Superior.
Entretanto, há espíritos que não
conseguem progredir nos mundos materializados. Eles estacionam, envolvidos
pelas sensações materiais. Por isso, estes espíritos preferem continuar sua
trajetória evolutiva nos mundos opacos, a serviço dos espíritos dos mundos
superiores. Desta forma, estão sujeitos a uma evolução mais lenta, embora
segura.
Tio Marcos levantou-se e foi até a janela. Olhando para a imensidão
sideral, continuou.
Para bem compreendermos a vida dos
homens encarnados, precisamos entender claramente as diferenças culturais dos
povos. Temos, desta diferença cultural, registrado um exemplo em nossa
história, que é o seguinte: todo o esforço dos padres jesuítas para catequizar
os nossos índios fracassou, em virtude do desnível cultural existente entre os
padres e os indígenas. Pois bem, o Padre Manoel da Nóbrega, vivendo no Brasil
desde 1549, sempre a serviço da catequese, deixou escritos dois livros
notáveis: Informações das Terras do
Brasil, publicado em 1549, e Diálogo sobre a Conversão dos Gentios, em
1557. Neste último livro, o Padre Manoel da Nóbrega confessa o doloroso
fracasso da catequese. Nesta época, o Padre Anchieta e o Padre Manoel da
Nóbrega admitiam que somente com a violência, com a força, poderiam sujeitar os
índios a Cristo, o que negava a própria essência da catequese.
Bem, vamos voltar para o nosso
assunto, os índios, interrompido pela pergunta de Fernanda sobre reencarnação,
e de Boris sobre atavismo.
As tribos de índios possuem um
chefe espiritual chamado pajé. Ele é um misto de sacerdote, profeta e
médico-feiticeiro. Ele conhece a arte de curar, onde entram infusões de plantas
medicinais, benzeduras e cantorias, com as quais tratam as mordeduras e picadas
de animais peçonhentos e de algumas doenças.
O Sr. Racional explica que todos
nós possuímos uma faculdade chamada mediunidade intuitiva. Essa mediunidade
possibilita a comunicação entre as pessoas encarnadas e a alma dos mortos,
principalmente de espíritos do Astral Inferior. A mediunidade intuitiva é
congênita, isto é, nasce com o indivíduo. A potência da mediunidade varia de
pessoa para pessoa, de acordo com o desenvolvimento que a criatura vai
adquirindo, fruto de estudo, raciocínio e sofrimento, das dores e angústias da
vida que a alma encarnada vai enfrentando e vencendo, como cantava o poeta
Gonçalves Dias: “Viver é lutar”.
O Sr. Racional dizia sempre que
“na vida devemos saber esperar, mas lutando sempre”, e diante dos sofrimentos,
a grande escritora racionalista cristã Maria Cottas afirmava: “Tudo passa na
vida”.
Como eu estava dizendo, os pajés,
possuindo a mediunidade intuitiva mais desenvolvida que os demais índios da
tribo, podiam realizar curas, principalmente conhecendo a ação curativa das
plantas, que a ciência denomina Fitoterapia.
Quero chamar atenção de vocês
sobre o seguinte fato, muito bem estudado pelo Sr. Racional: o médium não é um
santo. É um homem comum com a faculdade mediúnica mais desenvolvida que os
demais, como se tivesse uma vista melhor ou um ouvido mais apurado.
Os médiuns desconhecedores da
Doutrina Racionalista Cristã acham que foram contemplados com um “favor
divino”, por “uma graça” do “Pai Celestial”. Essa maneira de pensar é falsa. Os
médiuns são espíritos endurecidos. Muitas vezes, esta faculdade é uma condição
para vivenciarem a vida fora da matéria e é uma última oportunidade para se
depurarem a serviço do Astral Superior.
Se comerciarem com essa faculdade,
como a maioria dos médiuns que se dizem espíritas fazem, geralmente perdem a
mediunidade, passam a mistificar e acabam avassalados por espíritos do Astral
Inferior, normalmente desencarnando por morte violenta em acidentes e, quando
não, por assassinatos. Se falirem, após curta permanência em seus mundos de
estágio, voltarão em condições muito piores que as da sua última encarnação.
Tio Marcos levantou-se e bocejando disse:
¾
Quem está com sono hoje sou eu. Boa noite a todos.
8. Raça II
Tio Marcos, acabando de tomar o cafezinho que
esta noite fora servido por tia 71nha, na saleta das palestras, como ficou
sendo chamada a salinha do quarto das meninas, iniciou o assunto da noite, com
as seguintes palavras:
Assim como os europeus
conquistadores rotularam os nativos americanos de índios, denominaram a todos
os africanos, que viviam ao sul do deserto do Saara, de negros.
A partir de 1500, Portugal
monopolizou o tráfico de escravos, de ouro e de marfim da África e de
especiarias do remoto Oriente.
Portugal, tendo como vice-rei da
índia Afonso de Albuquerque, tornou-se uma das mais poderosas e ricas nações da
Europa. Afonso de Albuquerque (1445-1515) tinha uma personalidade múltipla. Era
profundo conhecedor de ciência, grande navegador, militar talentoso e ótimo
administrador. Hábil diplomata, estendeu o império português, conquistando em
1507 o estreito de Ormuz. Em 1510, conquistou Goa e em 1511, Málaga, destruindo
o poderio mercantil árabe. Obteve no Oriente a submissão de pequenos reinos e
exclusividade do comércio. Auferiu grandes lucros e tornou os portugueses
grandes comerciantes, como o foram os fenícios, os gregos e os cartagineses da
Antigüidade. Lisboa tornou-se entreposto do comércio da Europa com o Oriente,
arruinando os mercadores de Veneza e de Alexandria.
Nessa época, o Brasil ainda não
interessava ao governo nem aos comerciantes portugueses, pois não tinha
importância econômica e só oferecia ao comércio a sua madeira vermelha, o
pau-brasil. Essa madeira foi objeto de intenso comércio nos tempos coloniais,
em virtude do corante vermelho que se extraía dela, utilizado para tingir
tecidos e fazer tinta de escrever.
A partir de 1530 Portugal
percebeu que, para tomar conta do Brasil e ter lucro com isso, era preciso
colocar mais gente na terra. Era preciso colonizar o Brasil para que produzisse
riquezas. Para isso, enviou em 1532 uma expedição comandada por Martim Afonso
de Souza, que marcou o início da colonização do Brasil.
Em 1536, D. João II, rei de
Portugal, dividiu o Brasil em catorze capitanias hereditárias.
Enquanto os portugueses se
interessavam apenas pelo pau-brasil, suas relações com os indígenas eram
amistosas. Todavia, depois de 1530, os índios habitantes do litoral começaram a
ser desalojados de suas terras e convertidos em mão-de-obra barata. Foram
forçados a trabalhar nos canaviais em expansão, pois, nessa época, os
portugueses eram os maiores fornecedores de açúcar para a Europa.
Como os índios escravizados
acabavam fugindo ou morrendo, em 1559 teve início a importação de negros
africanos como escravos, para trabalharem nos canaviais.
D. Sebastião (1554-1578) foi o
décimo sexto rei de Portugal. Subiu ao trono com 14 anos de idade. Desde então,
pensava obsessivamente em conquistas na África. Mais tarde, insistindo nesse
projeto, pediu auxílio a Felipe II de Castela, o qual era herdeiro do trono
português no caso de D. Sebastião desaparecer. Com 24 anos de idade, em 1578,
partiu de Lisboa para o Algarve com uma armada de 500 navios. Na África, teimou
em entrar pessoalmente em combate contra o príncipe mouro Abdal-Malik. Expôs-se
a perigos. Não acreditou quando os seus observadores lhe disseram que os mouros
tinham forças superiores. Em 4 de agosto de 1578, travando a batalha de
Alcácer-Quibir, D. Sebastião foi morto. Em Portugal, a expectativa do seu
retorno gerou o estado de espírito conhecido como sebastianismo.
Após o desaparecimento de D.
Sebastião, Felipe II, rei da Espanha e primo de D. Sebastião, pelo suborno e
pela força, conquistou o trono português.
Sob o domínio espanhol Portugal
decaiu.
No Brasil, nessa época, os
portugueses, para conquistar o Nordeste, tiveram que enfrentar os corsários franceses,
holandeses e ingleses, além das tribos indígenas locais.
A partir de 1600, os franceses,
com auxílio dos índios tupinambás, tentaram estabelecer uma colônia no
Maranhão. Nessa época, o produto básico da economia do Brasil era a
cana-de-açúcar, cultivada em grande escala em Pernambuco. Outra atividade
importante, que também começou no Nordeste, foi a criação de gado bovino, como
atividade paralela aos engenhos de açúcar.
A união de Portugal com a
Espanha, que durou sessenta anos, permitiu aos portugueses aumentar o seu
império brasileiro. Não havendo mais fronteiras com as colônias espanholas, os
bandeirantes avançaram para o interior e conquistaram grande parte do nosso
território: Paraíba, Sergipe, Rio Grande do Norte, Ceará, Maranhão, Pará e Amazonas.
A partir do século XVI, algumas
expedições armadas, denominadas entradas, foram enviadas ao interior do Brasil
para procurar pedras preciosas e ouro. Estas entradas abriram caminho para que
bandeiras, de iniciativa particular, demandassem os sertões brasileiros, em
busca de escravos índios, mão-de-obra mais barata que os negros.
Em 1637, a ideia de separar
Portugal da Espanha começou a tomar vulto. Pensou-se logo em D. João, duque da
Casa de Bragança, uma das mais ricas e nobres de Portugal. A situação interna
da Espanha se apresentava propícia ao movimento de separação de Portugal. Dado
o golpe em 1° de dezembro de 1640, em Lisboa, o duque foi aclamado rei em 15 de
dezembro do mesmo ano, passando a chamar-se D. João IV.
Do Brasil, no dia 27 de fevereiro
de 1641, o Padre Vieira embarcou para Portugal. Deixava Vieira a Bahia, depois
de ali ter passado os 27 anos mais decisivos da sua formação. Em 30 de abril,
foi recebido por D. João IV e desde então passou a assessorar o rei antes de
qualquer decisão importante. O Padre Antônio Vieira nasceu em 1608 e
desencarnou em 1697.
Antônio Vieira é o patrono do
Racionalismo Cristão na Terra, e após 213 anos da sua desencarnação, na Bahia,
passou a ser o mentor espiritual de Luiz José de Mattos e Luiz Alves Thomaz, para
fundarem em Santos, no ano de 1910, o Racionalismo Cristão.
Foi no final do século XVII que
foram descobertas as primeiras minas de ouro no Brasil.
Essas minas deslocaram o eixo
econômico e político do litoral nordestino para o centro-sul, em especial para
Minas Gerais, onde se desenvolveu uma verdadeira civilização do ouro,
acompanhada de notável florescimento cultural.
Nessa época, governava Portugal
D. João V, o Magnânimo, que reinou de 1706 a 1750. Riquezas fabulosas,
provenientes das minas de ouro e diamantes do Brasil, entraram em Portugal. Mas
essa riqueza não foi empregada por D. João V no desenvolvimento da economia
portuguesa. Esbanjou-as com intensa prodigalidade. O luxo da corte era
deslumbrante. Quando D. João V morreu, deixou o Estado endividado e o povo
espoliado pelos altos impostos.
Sucedeu-lhe D. José I, o
Reformador, rei de Portugal de 1750 a 1777. Ao assumir o trono, escolheu para
ministro José de Carvalho e Mello, depois Marquês de Pombal, que se revelou o
mais ilustre estadista da história de Portugal.
A partir do século XV, os brancos
começaram a chegar à África e a tomar conta de tudo. Os africanos começaram a
ser caçados e empilhados em navios e levados para outras terras, como a América
do Norte, América Central e a América do Sul. Portanto, desde 1700, os
portugueses, espanhóis e ingleses iniciaram intenso e muito lucrativo tráfico
de escravos, trazendo milhares de negros da África para o Brasil, onde foram
concentrados unicamente nas áreas de agricultura de exportação, espalhando-se
posteriormente por todo o território brasileiro, trabalhando em plantações de
cana-de-açúcar e de café.
Os povos africanos trazidos para
o Brasil vinham de regiões diferentes, possuindo cada povo cultura e costumes
diferentes entre si.
Os negros eram vendidos para
fazendeiros, em substituição à mão-de-obra escrava dos índios, nas lavouras de
cana-de-açúcar. A substituição dos índios pelos negros aconteceu principalmente
porque trazer africanos para o Brasil e vendê-los acabou virando um grande
negócio para o rei e para os próprios comerciantes portugueses.
Os negros trazidos para o Brasil
pertenciam a três grupos bem diferentes. Foram os seguintes:
1. Sudaneses: constituídos por povos nagôs que habitavam a África
Ocidental.
2. Guineenses: praticavam a religião islâmica ou muçulmana, isto é,
acreditavam no profeta Maomé e seguiam o Alcorão, livro sagrado do Islamismo.
Os negros da Guiné conheciam mais
as técnicas agrícolas do que os próprios colonos brancos. E logo passaram a
tomar as decisões nas fazendas, pois os colonizadores portugueses deixavam tudo
por conta deles. Além dos europeus colonizadores terem muita dificuldade em
trabalhar no calor dos trópicos, eram nobres. Os nobres portugueses
contemplados com as capitanias hereditárias mantinham no Brasil os mesmos
costumes e tradições da corte, isto é, não trabalhavam para ganhar a vida. A
nobreza da época, pertencente a vários países da Europa, considerava o trabalho
indigno. Dedicava-se à guerra, às aventuras violentas, à caça e aos esportes.
Enquanto os negros, adaptados ao clima tropical, trabalhavam nus da cintura
para cima, o branco, ao contrário, continuava usando a roupa que era moda na
Europa, própria para os climas frios.
3. Bantos: pertencentes a diversas tribos das regiões de Angola,
Congo e Moçambique, inicialmente foram introduzidos em Pernambuco, Alagoas,
Maranhão, Minas Gerais, Rio de Janeiro e São Paulo.
Já os sudaneses foram
concentrados inicialmente na Bahia e no Maranhão.
É claro que essa distribuição de
escravos visou somente atender às necessidades de mão-de-obra do ciclo da
cana-de-açúcar. No ciclo da mineração, época em que os portugueses e também
muitos brasileiros exploravam as minas de ouro, diamantes e outras pedras
preciosas, por volta de 1700, os negros sudaneses foram deslocados para as
regiões de mineração em Minas Gerais, Mato Grosso e Goiás.
A casta de negros mais procurada
nos mercados de escravos era de sudaneses, pertencentes ao povo iorubano da
Nigéria, também conhecidos como nagôs. Eles eram inteligentes, altos e fortes.
Assim, começava uma vida
totalmente diferente para os africanos, num país distante e estranho, num lugar
onde se falava uma língua diferente, com costumes e religião também diferentes
e com um tipo de atividade obrigatória, disciplinada e forçada: o trabalho. Não
havia mais a vida de liberdade das tribos. Os parentes, pais, filhos, tios,
avós, netos, primos, que formavam famílias, foram separados uns dos outros. É
claro que os negros não podiam ficar satisfeitos com essa situação. Muitos se
suicidavam, outros se recusavam a trabalhar e conseqüentemente eram castigados
violentamente. Houve casos de revoltas em que matavam fazendeiros ou os
capatazes encarregados de vigiar o trabalho escravo nas fazendas.
¾ Tio Marcos. por que Deus permitiu que se fizesse essa grande maldade
com os escravos? - perguntou Solange.
Tio Marcos respondeu calmamente.
Porque o deus cultuado pelas
religiões dos povos não existe e é claro que, não existindo, não poderia fazer
nada.
O Sr. Racional explica que foi o
homem quem imaginou, concebeu e criou os deuses. Criou-os mentalmente, com a
forma humana e as mesmas qualidades e defeitos que o homem possui.
Para a maioria dos homens, que
não raciocina, que não gosta de pensar, deus é uma entidade que se presta a
promover castigos, distribuir graças e a lavrar, em caráter eterno ou
temporário, condenações e absolvições.
É comum atribuir-se a Deus, cujos
desígnios afirmam ser impenetráveis, a responsabilidade de grande parte das
coisas que acontecem na Terra. Dessa maneira, se desencarna uma pessoa da
família, foi Deus quem a levou. Se acontece um desastre, Deus assim o quis. Se
alguém escapa de ficar sobre as rodas de um automóvel, a Deus passa a ser
creditado o salvamento da quase vítima. A individualidade fica sempre
subordinada à ação de uma terceira entidade, e essa subordinação exerce
esmagadora influência negativa sobre o espírito humano.
Repetindo, o Sr. Racional ensina
que os espíritos encarnados e desencarnados são Partículas Inteligentes
emanadas do Grande Foco. Ele também demonstra ser o Universo constituído de
Força e Matéria. A Força incita e movimenta todos os corpos e enche o espaço
infinito de vida.
Repetindo: a Força existe latente
no reino mineral. É vida no reino vegetal e é Vida e Inteligência no reino
animal.
Força é a expressão empregada
quando ela se associa à Matéria, e Grande Foco significa o agente universal, na
sua concepção infinita. São, porém, termos sinônimos, têm igual sentido.
Ninguém, por mais sofista que
seja, poderá apontar em qualquer destas duas expressões, Grande Foco ou Força,
a mais ligeira afinidade com o vocábulo deus, já tão desmoralizado pelo sentido
mesquinho e materialista que lhe emprestam os adoradores de todas as religiões,
e existem mais de oito mil delas no mundo todo.
O Principio Fundamental da Vida,
inclusive o progresso dos povos, no Universo, é a evolução. Nela reside a base
do entendimento para tudo o que se passa dentro e fora do alcance da visão
humana.
Mas vamos continuar a história
dos negros no Brasil.
A partir do início do século XVII,
os escravos que conseguiam fugir das fazendas e dos engenhos começaram a
reunir-se em lugares seguros, onde ficavam vivendo em liberdade, longe dos seus
senhores. Esses lugares chamavam-se quilombos. Alguns chegaram a durar muitos
anos e os mais importantes foram o de Palmares, no Nordeste, e o do Jabaquara,
em Santos. O primeiro foi fundado em 1694 e o segundo, em 1886.
No início do século XVII, um
grande conjunto de quilombos formou-se na região de Palmares, que ficava
situada ao norte do Brasil, entre o Rio São Francisco e os sertões de
Pernambuco, onde hoje é o estado de Alagoas, 30 léguas dentro do sertão. O nome
Palmares foi dado devido ao grande número de palmeiras nativas na região. O
quilombo mais importante chamava-se Palmares e era situado junto à Serra da
Barriga. Foi o mais importante deles e durou 65 anos. Chegou a contar com uma
população de 20 mil pessoas, o que era uma quantidade respeitável de habitantes
na época. Era um quilombo formado de vários outros, organizado sob a forma de
reino.
Quando houve a segunda invasão
holandesa, em Pernambuco, realizada de 1630 a 1654, os diversos quilombos que
compunham Palmares foram bastante aumentados, isto porque inúmeros escravos
deixaram as fazendas onde viviam e iam refugiar-se neles, aproveitando a
ausência dos seus senhores, que fugiam dos holandeses.
Enquanto os brasileiros e
portugueses lutavam contra os holandeses, os fugitivos trataram de fortificar
os seus quilombos o melhor possível.
Os negros fugitivos,
predominantemente de Angola, instalaram em Palmares um tipo de Estado africano
baseado na pequena propriedade e na policultura.
Depois de expulsos os holandeses,
o governo de Pernambuco entrou em guerra contra esse quilombo, com o objetivo
de reaver as terras ocupadas pelos negros.
Em 1695, um exército composto por
índios e brancos, comandado pelo bandeirante Domingos Jorge Velho,
especializado na captura de índios do Nordeste, após ter sitiado Palmares
durante 22 dias, fez chegar ao fim a resistência do quilombo, que por
aproximadamente cinqüenta anos suportou dezessete tentativas de invasão. Zumbi,
o chefe do quilombo, foi aprisionado juntamente com 500 negros.
Diz a lenda que, para não
retornar ao cativeiro, Zumbi, encurralado pelas tropas de Domingos Jorge Velho,
num gesto teatral, atirou-se de braços abertos num precipício, juntamente com
muitos de seus companheiros.
Tio Marcos, olhando para as
crianças. perguntou:
¾ Vocês conhecem a
história de um negro que ficou conhecido com o nome de Chico Rei?
¾ Não - responderam todos
em coro.
¾ Pois bem, vou contá-la
resumidamente.
Numa aldeia africana, certa noite, quando se
realizava uma das festas que eram comuns ali, os brancos atacaram de surpresa.
Pouco sobrou da alegre aldeia. Alguns negros fugiram, outros foram mortos ou
abandonados por serem velhos ou estarem feridos, e o restante aprisionado. A
família real da aldeia, o rei, a rainha e seus filhos, foi aprisionada e
misturada no porão do navio com os demais escravos.
Durante a viagem, que durou
vários meses, o rei e um de seus filhos conseguiram sobreviver. Os outros,
juntamente com a rainha, não resistiram. Depois de muito tempo de viagem, o
navio chegou ao Brasil. Aquela leva de escravos foi vendida e enviada para
Minas Gerais. Era final do século XVII. Os bandeirantes haviam descoberto muitas
jazidas de ouro. Desde então, desencadeou-se uma verdadeira corrida para o
sertão de Minas Gerais, em busca de ouro. O Brasil iniciava o ciclo da
mineração.
Em Minas Gerais, o rei africano
recebeu o nome de Francisco e ficou sendo conhecido por Chico.
Chico aceitou a sua sorte e
tratou de trabalhar com gosto. O seu filho ficou trabalhando junto com ele,
seguindo o seu exemplo, sem se revoltar.
Pouco tempo depois, ficaram muito
queridos por causa de sua dedicação ao serviço. Chico, então, começou a sonhar
em ter o seu reino de volta aqui no Brasil. Era inteligente. Formulou um plano
e tratou de realizá-lo.
Chico começou a guardar todo o
dinheiro que ganhava. Como era muito esforçado e trabalhava com capricho, seu
senhor sempre lhe dava algumas moedas, que iam imediatamente juntar-se às
anteriores.
Depois de muito sacrifício,
conseguiu acumular o suficiente para comprar a liberdade de um escravo. Mas não
pensem que ele comprou a própria liberdade, não! Ele comprou a liberdade de seu
filho.
O senhor de Chico ficou muito
impressionado com a nobreza de seu escravo. O negócio foi acertado e o filho de
Chico ganhou liberdade. Aí, os dois uniram as suas forças. Um juntava dinheiro
daqui e o outro de lá. Transcorreu algum tempo e novamente Chico apresentou-se ao
seu senhor e comprou a sua liberdade.
Tão logo se viu livre, foi morar
com o filho numa pobre cabana. Trataram de juntar mais dinheiro e libertaram
outro escravo que pertencia à sua tribo.
Outra vez, os três economizaram
dinheiro e libertaram um quarto. Assim continuaram até que todos os escravos
pertencentes à tribo de Chico ficaram livres.
Chico, agora conhecido como Chico
Rei, continuou a ser o rei de sua gente e formou uma comunidade que ele próprio
dirigia com grande capacidade.
Chico, mais tarde, casou-se, e
seu filho também, formando uma nova família real.
Jamais um espírito deverá
deixar-se abater. Um acidente desfavorável, uma vicissitude, um infortúnio, uma
desgraça não significa mais do que um incidente passageiro. Um revés deve
servir para chamar a atenção para algo que foi negligenciado, ou que era
desconhecido. Muitas vezes um insucesso chega até a ser útil, pois, de qualquer
modo, sempre há de haver uma experiência a colher e uma lição a guardar, em
cada sofrimento que nos ocorre.
Na vida, nada acontece por acaso.
Tudo tem a sua explicação, o seu motivo, a sua causa, a sua razão de ser.
Ninguém pode aprender somente com o êxito, pois também se aprende muito com a
dor. A felicidade, a saúde e o bem-estar não seriam tão desejados se fossem
desconhecidas a desgraça, a doença e a miséria. Na luta pela vida, muitas vezes
a melhor estratégia não é a revolta, mas sim a renúncia.
Bem, voltemos ao nosso assunto:
toda a escravidão do negro no Brasil foi descrita e ressaltada pela obra de um
dos maiores poetas brasileiros, chamado Antônio de Castro Alves (1847-1871), o
qual, sempre a serviço da causa abolicionista, fez da sua poesia uma arma para
defender os escravos. A causa abolicionista lhe inspirou uma coletânea de
poemas, publicados postumamente, em 1883, sob o título Os Escravos.
Imortalizou-se com o seu livro Espumas Flutuantes.
No Rio de Janeiro, Castro Alves
foi amigo de Rui Barbosa e recebeu elogios de dois dos maiores escritores
brasileiros da época: José de Alencar e Machado de Assis.
¾ Tio Marcos, qual era a
religião dos escravos? -perguntou Boris. interessado.
Não era somente combatendo nos quilombos que os
negros resistiam à escravidão. Havia outra forma de resistir a essa situação.
Era através da religião, dos cultos, da música, da dança e do artesanato,
predominando a cultura dos povos iorubas. A língua que eles falavam, o nagô, se
converteu por algum tempo na língua geral dos negros da Bahia. Um dos aspectos
mais marcantes dessa cultura é a religião dos orixás, oriunda da Nigéria. Os
nomes dos orixás tornaram-se conhecidos de todos: Oxalá, Xangô, Exu, Ogum,
Yemanjá, Yansã, Oxum e Oxossi.
Para conseguirem a sobrevivência
da sua religião, no período da escravidão, até 1888, quando a escravidão foi
abolida no Brasil, os negros associaram os orixás aos santos do catolicismo
vigente. Por exemplo: Oxalá era o Senhor do Bonfim, Xangô era São Jerônimo e
Ogum, São Jorge.
Embora difundidos por outras
partes do Brasil, os rituais nagôs ou qualquer das grandes festas dos iorubas
eram chamados de candomblé e se concentravam no recôncavo baiano.
A respeito da religião dos negros
e demais povos primitivos, o Positivismo ensina que o espírito humano deve
renunciar a querer conhecer a natureza das coisas e contentar-se com as
verdades tiradas da observação e da experiência dos fenômenos. Mas, para vocês
entenderem em que fase evolutiva encontra-se a religião dos negros, vamos ver o
que a filosofia positivista diz a respeito.
Vocês sabem que filosofia é uma
forma de explicar o conjunto das coisas que constituem a natureza e o Universo.
Na Antiguidade houve vários filósofos famosos, dos quais vou destacar os
seguintes: Hermes no Antigo Egito; Krishna na Índia; Sócrates, Platão,
Aristóteles, Euclides e Arquimedes na Grécia. A contribuição desses filósofos
gregos para a humanidade foi notável. Eles ensinaram que a razão era a maior
faculdade do espírito, apesar de não existir na Antiga Grécia o ambiente
racional dos tempos modernos. Mas, como estamos falando da religião dos negros,
vamos ver o que Augusto Comte escreveu sobre esse assunto.
Augusto Comte (1798-1857),
pensador francês, publicou em 1842 o livro Curso de Filosofia Positiva, onde classificou as ciências,
segundo uma ordem de complexidade crescente. Também formulou a lei que
denominou Lei dos Três Estados, que descreve as etapas sucessivas seguidas pelo
desenvolvimento da humanidade. Essas etapas são as seguintes:
1. Estado teológico: nesta fase do seu desenvolvimento, o homem
explica os fenômenos da natureza recorrendo aos seres sobrenaturais.
Inicialmente cultua objetos, depois passa para o politeísmo, isto é, acredita
na pluralidade de deuses. É o caso dos romanos e dos gregos da Antiguidade, os
quais possuíam uma imensa galeria de deuses. Este também é o caso dos nossos
negros, pois são politeístas acreditando em vários orixás. Passando dessa fase
politeísta, a humanidade atinge o monoteísmo. Por exemplo: o povo hebreu, que
adora Jeová, o deus único.
2. Estado metafísico: neste estado, o homem quer conhecer a
essência dos seres e suas causas. O deus supremo é a natureza. O estado
metafísico confunde-se com a doutrina do filósofo Spinoza (1632-1677) que prega
a identificação de deus com o mundo. “Só o mundo é real, sendo deus a soma de
tudo quanto existe.” Esta filosofia chama-se panteísmo.
Tio Marcos fez uma pequena pausa e acrescentou:
¾
Eu não quero que vocês acreditem que deus seja o mundo. O mundo que nos cerca é
um efeito. A causa é a atuação do elemento Força associado ao elemento Matéria.
A Força age em obediência às leis evolutivas, naturais e imutáveis,
utilizando-se da Matéria no estado primário desta, e com ela realizando fenômenos incontáveis e
indescritíveis, muitas vezes predominando a Vida e a Inteligência. Ao agente
universal, na sua concepção infinita, chamamos Grande Foco e, quando da sua associação
com a Matéria, para produzir o mundo que nos envolve, chamamos de Força. O Sr.
Racional sempre repetia: “No Universo somente existem Força e Matéria”.
3. Estado positivo ou
científico: o homem, na busca da Verdade, restringe-se somente aos fatos e
tenta explicá-los estudando e descobrindo as leis que os regem. É nesse estado
que atualmente encontra-se a humanidade ocidental, desde que Galileu usou o
método experimental para investigar as leis da natureza.
O pensamento positivista influenciou muito a
primeira legislação republicana brasileira. Promoveu a separação entre a Igreja
Católica e o Estado brasileiro. O lema “Ordem e Progresso” da nossa bandeira
também é de origem positivista.
Como eu estava dizendo, os bantos
eram negros de estatura baixa e fisicamente mais magros do que os sudaneses.
Foram inicialmente instalados no Rio de Janeiro, Minas Gerais, São Paulo e Mato
Grosso. Os bantos desenvolveram cultos afro-brasileiros, bastante marcados pelo
sincretismo, isto é, pela fusão de elementos culturais diferentes. Podemos
entender o sincretismo afro-brasileiro como a associação das crenças indígenas
com as crenças católicas, mais as crenças espíritas kardecistas, adicionando
tudo isso à religião dos orixás e que hoje, genericamente, chama-se de umbanda.
Aqui no Brasil, os bantos, negros
oriundos do sul da África, também chamados de angolas, cabindas, benguelas,
congos e moçambiques, desenvolveram um culto de magia negra, isto é, a magia
praticada com maus propósitos, constituída de bruxarias e também adivinhações
pela invocação de espíritos inferiores, para consertar a vida das pessoas ou
fazer o mal, mediante o pagamento de “serviços” ao pai-de-santo. Esta linha
chama-se candomblé.
A umbanda possui no Brasil
milhares de seguidores num processo cultural onde se misturam as crenças
portuguesas, indígenas e africanas, formadoras da cultura da nação brasileira.
Em seus altares vivem juntas as imagens de Cristo, Nossa Senhora, orixás,
caboclos e pretos velhos. Ela não é a soma das antigas religiões, mas algo
novo, diferente.
O Sr. Racional ensina que o
espiritismo que se pratica no Brasil é magia negra, cuja assistência astral é
obsessora e danificadora de corpos e almas, pois são espíritos do Astral
Inferior ¾ mesmo os benévolos ¾ carregados de fluidos deletérios,
causadores de muitos malefícios aos encarnados. Além do mais, consciente ou
inconscientemente, os freqüentadores desses centros e que também prestigiam os
pais-de-santo e outros médiuns mistificadores, além de muito se prejudicarem
com essa freqüência, correm sérios riscos de ficarem obsedados, paralíticos e
até com a vida material e familiar arruinada, pois vivem saturados de fluidos
pestilentos.
Ensina também que o espiritismo
místico praticado por criaturas ignorantes do que sejam Força e Matéria, base
da composição do Universo e de tudo o que existe, somente males, somente danos
morais e materiais pode produzir, e de fato produz, sendo esta a razão de
muitas criaturas sensatas não levarem a sério tais práticas. Outro não foi
também o motivo de os egípcios e gregos haverem ocultado ao povo ignorante o
conhecimento do espiritismo científico, por não estar a população preparada
para praticar essa verdadeira ciência, cuja chave da sabedoria está no pensamento e na ação.
Cada ser encarnado tem que evoluir
por si, e para isso deve esclarecer-se para não andar por aqui e ali, à procura
da salvação espiritual, da melhoria dos negócios e da família, oferecendo
dádivas aos antros espíritas, aos pais-de-santo, a São Jorge, Cosme e Damião e
outros que tais.
Não negamos que existam criaturas
bem-intencionadas em todas as seitas e no espiritismo religioso, mas a boa
intenção não basta. É preciso luz espiritual, raciocínio clarividenciado para o
ser humano poder habilitar-se à correção de todas as suas fraquezas, domínio
dos seus maus instintos, controle dos pensamentos, e despojar-se de todos os
pensamentos que a consciência lhe apontar como inferiores, e desenvolver
pensamentos puros, de amor à Verdade e ao próximo.
Ninguém melhor do que José
Bonifácio de Andrada e Silva (1763-1838), o Patriarca da Independência, lutou
pela abolição da escravatura no Brasil. Um ano após a Independência do Brasil,
em 1823, apresentou à Assembléia um projeto de lei, constituído por uma análise
da escravidão dos negros e uma exposição de motivos, seguidas de 32 artigos,
para serem objeto de uma nova lei, que ele requereu, para regulamentar e
propiciar a futura libertação dos escravos. Esse trabalho foi publicado em
1825, sob o título Representação á
Assembléia Constituinte e Legislativa do Império do Brasil sobre a Escravatura.
Na exposição de motivos desse
trabalho, vou mencionar o seguinte trecho, que bem retrata a sociedade
brasileira da época: “Qual é a religião que temos, apesar da beleza e santidade
do Evangelho que dizemos seguir? A nossa religião é pela maior parte um sistema
de superstições e de abusos anti-sociais. O nosso clero, em muitas partes, é
ignorante e corrompido, é o primeiro que se serve de escravos, e os acumula
para enriquecer pelo comércio e pela agricultura, e para formar, muitas vezes,
com as desgraçadas escravas um harém turco”.
¾ Bem, queridos sobrinhos! Vamos dormir para repor as energias anímicas
gastas no dia de hoje. Boa noite a todos.
9. Raças III
Os meninos e as meninas, sentados à mesa,
aguardavam a chegada de tio Marcos, que estava terminando uma conversa com vô
Mário.
Tio Marcos chegou, sentou-se e
começou ...
Hoje vamos recordar um pouco da
história do homem branco, conquistador do Brasil.
Um dos períodos da História de
maior interesse para os brasileiros é o das grandes navegações, que na linha do
tempo estão localizadas entre 1400 e 1550.
A História registrou três povos
que se destacaram como grandes navegadores. Foram os fenícios, os lusitanos e
os espanhóis.
Os fenícios tinham as galeras, que
eram embarcações longas e com os bordos baixos, movidas a remos, e serviam
tanto para a marinha de guerra como para a marinha mercante.
As galeras de guerra possuíam
proa reta, terminada num esporão agudo, horizontal, ao nível do mar. Algumas
possuíam dupla ou tripla fila de remeiros. Não conheciam a bússola. Navegavam à
noite, no hemisfério norte, guiados pela estrela Polar, uma estrela fixa de
segunda grandeza localizada mesmo em cima do Pólo Norte. Este meio de
orientação dos navegantes era usado desde a mais remota antigüidade.
Os lusitanos conheciam a técnica
de navegação através de barcos equipados com velas náuticas, impulsionados
somente pelos ventos. Sabiam decompor a força dos ventos em vetores, rumando
para qualquer direção, mesmo contra o vento, usando o “efeito asa” para a
impulsão do barco.
Os espanhóis também foram grandes
navegantes. Em 1492, os reis da Espanha Fernando V, de Aragão, e Isabel I, de
Castela, formaram uma frota de três caravelas, sob o comando de Cristóvão
Colombo, nomeando-o vice-rei das suas futuras descobertas, e propiciaram a
descoberta da América, onde construíram um grande império.
Os portugueses, voltados para a
conquista da África e das Índias, deixaram que a oportunidade dessa grande
descoberta lhes escapasse, em favor da Espanha.
No século XV, os portugueses
iniciaram a exploração do Oceano Atlântico, principalmente da costa ocidental
africana, rumo ao sul. Acabaram por contornar o Cabo da Boa Esperança e
conseguiram chegar às Índias, através do Oceano Pacífico, usando grandes barcos
veleiros.
Para atingir esse objetivo, D.
Henrique (1394-1460), o Navegador, fundou em 1433 a Escola de Navegação de
Sagres.
No Castelo de Sagres, que se
erguia junto ao Cabo de São Vicente, à beira do Atlântico, D. Henrique reuniu
os mais famosos especialistas em navegação da época: geógrafos, cartógrafos,
matemáticos, mestres da construção naval, pilotos, marinheiros e navegadores.
Construiu um observatório astronômico e estaleiros para construção de
caravelas.
Saíram de Sagres os conquistadores
da Guiné, dos Açores, de Cabo Verde, da Madeira, da África, da Ásia e da
Oceania.
O Castelo de Sagres foi destruído
em meados do século XVI, pelo corsário inglês Francis Drake, e o terremoto de
1755 que atingiu Portugal acabou com todas as construções do tempo de D.
Henrique, sobrando somente uma rosa-dos-ventos daquela época.
Desde então, com o funcionamento
da Escola de Sagres, Lisboa passou a ser um importante entreposto comercial,
ampliando suas rotas mercantes do Mediterrâneo para o Atlântico.
A descoberta do Brasil e a
exploração das suas minas de ouro e prata pelos portugueses contribuíram para
maior enriquecimento e fortalecimento de Portugal.
As descobertas da América e do
Brasil forneceram uma grande quantidade de metais preciosos a Portugal e à
Espanha.
Desta forma, foram aumentados o
uso e a cunhagem de moedas metálicas nestes dois países. Contudo, o ouro e a
prata não ficaram em poder do governo português, nem do governo espanhol. Esses
governos, considerando-se ricos, não se preocuparam com o desenvolvimento
econômico de seus países. Passaram a comprar tudo o que precisavam dos países
vizinhos. Suas indústrias regrediram. O ouro e a prata dos portugueses e
espanhóis passaram para as mãos dos burgueses ingleses, franceses e holandeses.
A partir do século XVI, o ouro e a prata oriundos de Portugal e da Espanha
tornaram os burgueses mais ricos que os nobres. Até então, a nobreza era rica
porque possuía somente terras. Iniciava-se, então, a Revolução Comercial,
surgindo o Capitalismo. Estes capitais foram aplicados, principalmente pela
Inglaterra, para expandir a indústria de manufaturas, eliminando a indústria
doméstica. O ouro do Brasil foi, no século XVIII, um dos principais fatores do
surgimento da etapa seguinte: a Revolução Industrial da Europa.
Este ouro possibilitou a Portugal
desenvolver técnicas navais como elaboração de cartas de navegação corretas e o
emprego do astrolábio e da luneta. Toda essa tecnologia avançada para a época
permitiu que as naus portuguesas atingissem mares antes nunca navegados e
monopolizassem o comércio de especiarias.
¾ Tio Marcos, eu não sei quem inventou o astrolábio nem a caravela - quis
saber Boris, com o braço levantado.
O astrolábio é um instrumento
astronômico inventado no século II por Hiparco, um matemático e astrônomo
grego. Esse instrumento serve para medir a altura de uma estrela em relação ao
horizonte, isto é, acima do horizonte. Modernamente foi aperfeiçoado pelo
astrônomo francês André Danjou. Trata-se de um astrolábio de prisma, dotado de
aperfeiçoamento que diminui os erros de observação. O astrolábio, por sua
importância para a navegação, continuou a ser aperfeiçoado e hoje foi
substituído por um outro aparelho, chamado sextante, também destinado a medir a
altura de uma estrela acima do horizonte. O sextante é constituído por dois
espelhos e uma luneta astronômica, presos a um setor circular de 60°. Com o
sextante, os navegantes conferem a rota em que estão, ou melhor, o seu curso,
determinando a latitude em que se encontram.
Os conhecimentos antigos de
navegação são estudados até hoje, embora as posições dos navios e dos aviões
sejam atualmente determinadas por sinais radioelétricos, emitidos por
satélites, por radiofarol e radiogoniômetros instalados a bordo.
Certa ocasião, na década de 60,
visitando um porta-aviões com propulsão nuclear, o Enterprise, de 75 mil
toneladas, perguntaram ao oficial que estava mostrando a cabine de comando:
¾ Se todos os aparelhos eletrônicos de
navegação por satélite fossem destruídos em combate, como é que continuariam
navegando?
E o oficial respondeu:
¾ Temos a bordo uma equipe
de oficiais especializados em navegação astronômica, isto é, pelas estrelas.
Jamais perderíamos o rumo nem a posição.
Agora vou falar sobre a caravela,
a qual foi uma obra-prima da construção naval portuguesa. Era um veleiro
rápido, embora de pequena tonelagem. Possuía casco arredondado, apropriado para
grandes navegações oceânicas. As caravelas eram aparelhadas com quatro mastros
e velas de bastardo, isto é, velas triangulares, que se armam numa verga que
cruza o mastro. Levavam até dezoito canhões. Foram as naus dos descobrimentos,
usadas pelos portugueses.
Já os espanhóis usavam grandes
veleiros chamados galeões, armados para a guerra e utilizados também para
transportar ouro e prata das suas colônias nas Américas.
Os galeões eram navios de bordo
alto e no século XVI os portugueses também os usaram nas rotas comerciais para
as Índias. O galeão também foi criado em Portugal, no final do século XV,
especialmente destinado à proteção das frotas mercantes. Esses navios foram
substituídos pelos "clipper ships" . Eram grandes veleiros de formas finas, mastros
altos, proa lançada e grandes superfícies de velas. Eram velocíssimos para a
época, 1700.
¾ Tio Marcos, o nosso professor de História, comentando as descobertas de
novas terras pelos portugueses, salientou que certos historiadores afirmam que
o Brasil foi descoberto bem antes de 1300. O que o senhor acha disso? -
perguntou Marquinho.
Esta é uma velha controvérsia. A
história do Brasil e a história de Portugal possuem falhas, pois o grande
terremoto que atingiu Lisboa em 1755 destruiu muitos documentos históricos.
Contudo, existem documentos, quer no Vaticano, quer no Arquivo Português, que
comprovam não ter sido a descoberta do Brasil feita por Pedro Álvares Cabral,
nem tampouco a América por Cristóvão Colombo. Historiadores como Assis Cintra
afirmam que o Brasil foi descoberto por Sancho Brandão, pois, em 1342, já havia
portugueses em São Vicente-SP e alguns até com família constituída com índios de
tribos que habitavam a região.
Cabral não foi mais do que um
enviado diplomático, mandado com certeza absoluta ao Brasil, para que se
tornasse pública a sua descoberta. Isto porque fora necessário ocultá-la do
Vaticano na ocasião, pois a Igreja Católica Romana também decidia sobre a posse
das terras descobertas.
Por ocasião da descoberta do
Brasil, o papa de então era espanhol. Sendo assim, o rei de Portugal, D. João
II, teve o cuidado de escondê-la do mundo. Não confiava a ninguém o lugar onde
estavam guardados tais documentos, comprobatórios dessa descoberta, pois trazia
sempre consigo as chaves do esconderijo. Eram mapas e cartas de navegação que
lhe tinham sido entregues, comprovando a localização do Brasil, portanto a sua
descoberta e também a da América do Norte e América Central. D. João II pouco
se importava com o resto. O que ele não queria era perder o Brasil. E assim
sendo, provocou com êxito a celebração do Tratado das Tordesilhas, em julho de
1494, entre ele, rei de Portugal, e Fernando e Isabel de Aragão e Castela, pelo
qual delimitavam-se os direitos de Portugal e da Espanha nos descobrimentos
marítimos realizados e por realizar. Desta forma, tocaria à Espanha todas as
terras situadas a oeste da linha meridiana imaginária, situada a 370 léguas de
Cabo Verde.
Com esse tratado, pertenceria a
Portugal o Brasil, cujas terras eram, então, desconhecidas do Papa Alexandre
VI, que homologou o tratado, pouco importando a D. João II que o restante das
terras, localizadas a oeste dessa linha imaginária, ficasse com a Espanha. O
Brasil estava salvo.
Destacamos que a nação
portuguesa, do século XV ao século XVIII, possuía uma grande e valorosa plêiade
de espíritos superiores encarnados, constituindo um conjunto de almas muito
desenvolvidas, pois Portugal, somente com dois milhões de habitantes, quase
dominou o mundo. Toda essa história, toda essa glória foi cantada pelo poeta
português Luís Vaz de Camões (1524-1580), autor do poema épico Os Lusíadas, no qual ressaltou os grandes
feitos heroicos das descobertas marítimas de Portugal. Este livro foi publicado
em 1572, com licença da Inquisição. Camões morreu pobre, num hospital de
Lisboa.
Mas, continuando a história das
descobertas, o acesso a essas novas terras abriu caminho para o contato com uma
enorme quantidade de fatos, até então ignorados, ampliando extraordinariamente
os conhecimentos acumulados pelos europeus.
Após a descoberta de um novo
território, havia a preocupação de ocupá-lo o mais rapidamente possível, e
também para saber que tipos de dificuldade essas terras ofereceriam à sua
ocupação e à sua exploração econômica.
Aplicava-se o princípio de
“melhor conhecer para melhor dominar”, principalmente no que se referia aos
aspectos militares. Feito o primeiro reconhecimento, isto é, conhecido o
inimigo, o terreno, planejava-se e organizava-se a ocupação, construindo fortes
e outras benfeitorias militares. Era, então, implantada pela força a cultura
católica, impropriamente chamada Cristianismo, como veremos mais adiante, para
catequizar, para pacificar, para explorar economicamente os povos conquistados,
tomando-lhes as melhores terras cultiváveis. Dizia-se depois nas igrejas que
“os mansos herdarão a terra”, sem explicar, porém, que “os mansos” significavam
tropas disciplinadas, isto é, formadas por homens escolhidos, bem pagos,
treinados, armados e cuidadosamente comandados por uma hierarquia selecionada,
com alto grau de escolaridade, preparada por escolas militares criadas para
ensinar tecnologia da guerra e logística e para agir como força de ocupação e
defesa, em qualquer situação de emergência que comprometesse a ordem
estabelecida pela nobreza dominante.
A origem da população branca do
Brasil é muito diversificada. Durante mais de três séculos, o território
brasileiro foi exclusivamente colonizado por portugueses, dos quais herdamos a
língua e a cultura. Após a Independência do Brasil, ocorrida em 1822, grandes
contingentes de imigrantes europeus entraram no país, principalmente italianos,
espanhóis, alemães e poloneses. Contudo, os fundamentos da cultura brasileira
continuaram os mesmos, dados pelos colonizadores portugueses.
A nacionalidade portuguesa e a
sua cultura foram forjadas durante séculos de lutas contra o infiel muçulmano.
A unidade de Portugal foi mantida pela religião católica, numa campanha
heróica, impedindo a expansão da conquista árabe e finalmente expulsando os
mouros em batalhas ferrenhas. Desta forma, na colonização do Brasil, os
portugueses preocuparam-se menos com a unidade racial do que com as questões de
fé. Importava, realmente, que os habitantes do Brasil pertencessem à fé
católica. A colonização do Brasil, culturalmente, ainda foi a continuação das
cruzadas contra os infiéis muçulmanos. Assim a nova cultura gerada no Brasil,
nos últimos cinco séculos, foi profundamente marcada pela religiosidade
católica portuguesa.
No entanto, os portugueses que
passaram a conviver com negros e com índios, num território totalmente
diferente do europeu, transformaram-se, mudaram os seus costumes, o seu modo de
pensar, as suas crenças. Tornaram-se brasileiros. Processo similar ocorreu com
o negro e com o índio. Todos se transformaram. Nenhum deles ficou imune à
presença do outro.
¾ Tio Marcos, ontem ouvi o senhor falar para a Dona Maria, na hora do
café, que nós temos duas vidas.O
senhor poderia nos explicar isso? - perguntou Marquinho.
O Sr. Racional nos ensina que o
ser encarnado tem duas vidas: uma encarnada, material e, simultaneamente, outra
espiritual; que é vivida quando dormimos. Ao desencarnar, o ser passa a ter
somente a vida espiritual. Portanto, cada país possui duas humanidades. Ou
melhor, a Terra carrega, qual imensa astronave, duas humanidades: uma encarnada
e outra desencarnada, invisível aos nossos sentidos físicos.
O Espírito, para viver na
superfície do planeta Terra, precisa vestir um corpo de carne, como os
astronautas vestiram uma roupa própria, uma espécie de escafandro provido de
aparelho respiratório, para poder descer na superfície da Lua.
A humanidade encarnada, todos nós
a conhecemos porque estamos ligados a ela, pelo parentesco, nacionalidade,
família, empregos, estudos, etc. Já a humanidade desencarnada é muito diferente
da primeira, pela sua própria natureza e por serem diferentes as leis que a
regem.
O parentesco existente entre os
encarnados, tais como pai, mãe, filho, irmãos, avós, tios, esposa, marido, como
eu disse, somente existe na Terra, enquanto estivermos encarnados. Na
humanidade desencarnada, esses laços familiares deixam de existir com a
desencarnação, porque os parentes desencarnados partem para mundos diferentes,
por possuírem evolução, ou melhor, graus evolutivos desiguais; daí os
desentendimentos que existem na maioria das famílias, pois a convivência, o
relacionamento entre os espíritos oriundos de mundos diferentes é difícil. Eles
não se entendem. Mesmo os irmãos gêmeos, nenhum deles têm o espírito oriundo do
mesmo mundo. Também essa história que as criaturas românticas cantam em prosa e
verso, letras de músicas, filmes, novelas, etc., etc., dizendo que todos nós
temos uma alma gêmea, é balela. Vem da Bíblia, do Velho Testamento. No primeiro
livro de Moisés, está escrito o seguinte: “Da costela de Adão que o Senhor
tomou do homem, formou a mulher e a trouxe a Adão” (Gênesis, 2:21-22).
¾ Tio Marcos, então quer dizer que o homem não possui mesmo uma alma
gêmea? - perguntou Fernanda.
Não. O que nós possuímos
realmente são várias almas que conviveram conosco, independentemente de termos
sido homem ou mulher, na luta que travamos, nas milhares de encarnações que já
vivenciamos, desde as mais remotas eras. Os românticos fazem fantasia,
sonhando, como nos contos de fadas. Dizem existir em algum lugar uma alma
gêmea, destinada a permanecer indefinidamente ao nosso lado. Na realidade, nós
nos relacionamos, durante as milhares de encarnações que tivemos, com diversos
espíritos. Com eles, vivenciamos intimamente sentimentos como o amor e a
amizade. Há laços fortes e profundos unindo psiquicamente essas almas. Esses
laços, com freqüência, transcendem a simples amizade, até mesmo o amor
biológico, romântico, apaixonado. Essas almas compartilharam juntas os melhores
e os piores momentos em vidas passadas. No primeiro encontro que tivermos com
algumas dessas almas companheiras, sentiremos provavelmente uma afinidade
imediata.
Nós e nossas almas companheiras
freqüentemente reencarnamos em épocas e locais semelhantes, propiciando
encontros, fortalecendo laços.
Em cada vida, em cada
relacionamento, nós plantamos as sementes que nos vão unir a outros espíritos,
pois, lutando juntos, em determinada encarnação, por mais difícil que seja,
todos estão crescendo psiquicamente, estão evoluindo, tendendo a atingir um
grau evolutivo maior. Contudo, não devemos deixar também de considerar a Lei de
Causa e Efeito: “Não as faças que as pagas”. Esta lei, muitas vezes, nos impõe
relacionamentos compulsórios, difíceis, frutos de um passado delituoso. Mas,
desencarnando-se, tudo acaba. Cada qual irá para o seu mundo de estágio,
integrando a plêiade do Astral Superior, se a encarnação proporcionou a
depuração planejada e se sua condição fizer jus, ou, então, integrará as
falanges trevosas do Astral Inferior, se for um espírito que somente viveu para
a vida material, como em seguida vou explicar.
Os espíritos que já
desencarnaram, mas mesmo assim continuam vivendo na atmosfera do planeta Terra,
constituem o Astral Inferior. São espíritos que, por razões de condição mental,
não conseguiram, imediatamente após a desencarnação, demandarem os seus mundos
de origem, lugar em que deveriam permanecer estagiando durante o intervalo que
existe entre as encarnações, quando consolidariam os conhecimentos adquiridos e
se livrariam das imperfeições morais expurgadas pelo sofrimento, durante a vida
física.
Desta forma, contrariam uma lei
natural e imutável, pois o espírito desencarnado não deve continuar no planeta
Terra. A Terra é destinada exclusivamente à evolução dos espíritos encarnados.
Uma vez desencarnados, devem imediatamente alar aos seus mundos, àqueles de
onde vieram para encarnar, de onde tiraram matéria quintessenciada para formar
os seus corpos astrais, para materializar-se através de úteros.
A condição de permanecer na
Terra, após a morte, causa a esses espíritos imperfeitos e ignorantes muito
sofrimento. Muitos não sabem que morreram e voltam para as suas casas, após o
sepultamento, e continuam convivendo com a família ou com quem os atrair pelo
pensamento, ou pelos vícios, provocando mal-estar e doenças várias por ação de
fluidos danosos. Muitas vezes se aproximam dos encarnados querendo ajudar,
querendo participar dos problemas familiares, sem saber que os estão
prejudicando.
O corpo astral desses espíritos,
muitas vezes, logo após a desencarnação, toma a forma que tinha quando
encarnados, pela ação dos seus próprios pensamentos, pois pensar também é
criar. Muitas vezes pensam num pente e ele se forma em sua mão. Pensam na roupa
que estavam vestindo e esta roupa veste-lhe o corpo astral. Percebem que alguma
coisa diferente aconteceu com eles. Permanecendo neste estado, fora do seu
mundo, não ouvem bem o que os encarnados falam e não são ouvidos quando falam,
pois pensam que ainda têm voz. Para eles, os seus pensamentos são como se
tivessem som. Ouvem os seus pensamentos como palavras articuladas.
O espírito desencarnado ainda com
pensamentos materializados precisa, para viver, de energia anímica, que todos
os encarnados possuem em abundância, principalmente os médiuns, em forma de
fluido ectoplasmático, invisível por ser transparente, que exsudam pelos
orifícios do corpo e poros da pele. Pois bem, eles aprendem a sugar esses
fluidos dos encarnados desavisados, sem disciplina mental, quais mata-borrões,
deixando os encarnados fracos, sem ânimo, doentes, ou induzindo doenças, muitas
vezes iguais às que eles tinham ao desencarnar.
Muitos desses espíritos, de
pouquíssimo adiantamento moral, sugam a energia vital do sangue dos animais
domésticos degolados e oferecidos a eles em trabalhos de magia negra, ou então
adentram aos matadouros e sugam, quais vampiros, a energia vital contida no
sangue derramado dos animais abatidos.
Os médiuns são vítimas naturais desses espíritos de
baixo nível evolutivo, razão pela qual quase todos são obsedados, avassalados
por espíritos parasitas, que se apresentam como guias, mentores, etc.
Nesta condição de espíritos
desencarnados, atraídos por pensamentos afins, ocupam as residências, da mesma
forma que os sem-terra invadem as propriedades e ficam morando lá. Quando outro
espírito deseja também compartilhar a mesma casa, o espírito que invadiu
primeiro opõe-se com violência à entrada de mais um desencarnado em seu reduto,
ocorrendo entre eles verdadeiras lutas corporais.
Outras vezes, esses espíritos do
Astral Inferior, por afinidade mental, vão integrar quadrilhas, que vivem em
aglomerados, como aquelas cidades medievais, cercadas de muralhas, fossos e
portões elevadiços, com imperador, rei, príncipes, juízes, papas, guardas,
prisões, etc. Formam grandes falanges, praticantes de maldades ou a serviço de
centros espíritas, que vendem os seus trabalhos para arrumar ou desgraçar a
vida de encarnados incautos, ignorantes da vida espiritual.
Outros espíritos desencarnados,
por ignorar o seu estado, voltam para os lugares em que trabalhavam. Se
médicos, enfermeiros, etc., voltam para os hospitais, para continuar atendendo
aos pacientes e muitos chegam a invadir salas de operações, pensando que ainda
têm braços e mãos para operar. Desta forma, prejudicam o tratamento dos doentes
e perturbam os profissionais encarnados no exercício do seu trabalho.
Outras vezes, vão intuir
cartomantes, jogadores de búzios, astrólogos, tarologos e assemelhados, no
intuito de desvendar o futuro de pessoas que pagam para obter esse serviço. Não
sabem que o destino não existe, pois depende do livre-arbítrio do presente. O
nosso futuro será o que decidirmos de nós próprios hoje. Portanto, não existem
sina, nem provações, nem determinismo. As decisões que tomamos hoje, movidos
pelo nosso livre-arbítrio, constituirão o nosso futuro, com momentos bons ou
maus, dependendo do que nós decidirmos. Por isso recomendamos: nunca decidam
por impulso. Pensem primeiro. Raciocinem e então decidam. Este procedimento é o
mesmo que usar a técnica do Edson Arantes do Nascimento para marcar gol. Ele
dava sempre uma paradinha na porta do gol, se posicionava e chutava. Era gol
certo.
Existem também aqueles que,
avassalando médiuns nos centros espíritas evangélicos, se põem a receitar
remédios para males que só a Ciência tem condições de curar.
Outras vezes até pode ocorrer
cura. É que a quadrilha espiritual, dona do centro, se põe em luta corporal com
algum obsessor que acompanha o doente e o põe para correr. Então o doente
melhora, para mais tarde ser novamente avassalado, pois nesses centros eles não
ensinam a educação do pensamento para não mais atrair espíritos atrasados.
Outros espíritos do Astral
Inferior, mentalmente fixos no ódio, na vingança, perdem a condição de pensar
continuamente e, arraigados a um único objetivo fixo, perdem a forma humana do
corpo astral e transformam-se em bolas negras, do tamanho de cabeças humanas,
geralmente ávidos de vingança e de energia anímica.
Esses espíritos “bolas negras”
são manipulados pelos médiuns inescrupulosos, pais-de-santo e presidentes de
centros, para avassalar, mediante encomenda, espíritos encarnados, com a
intenção de desmanchar lares, arranjar casamentos, obter amantes, conseguir
ganhos fáceis ou provocar aleijões ou desencarnações prematuras. Há avassalados
que se apresentam nas sessões públicas do Racionalismo Cristão carregando
várias bolas pretas, quais balões de gás das festas de crianças, presos por
cordões fluídicos na nuca. Esse processo é usado pelos magos negros para sugar
as energias anímicas das vítimas, enfraquecendo-as e aniquilando-as.
Alguns espíritos do Astral
Inferior são atraídos pelos frequentadores devassos de bares, bailes, motéis,
viciados em sexo, álcool, fumo e drogas, com a finalidade de também usufruir os
mesmos prazeres físicos que os seus intuídos, induzindo-os a exagerar nas
doses, para melhor se satisfazerem.
Muitos desses espíritos do Astral
Inferior vagam ao léu pelas ruas, andando a pé, de ônibus ou táxis e também nos
automóveis particulares, sempre atraídos por passageiros desregrados,
portadores de pensamentos indisciplinados. Estes espíritos são verdadeiros
mendigos dos favores divinos, da ajuda de um deus que não existe, que em vão
tentam encontrar. Muitos são frequentadores de igrejas e de reuniões espíritas
familiares, sempre com o intuito galhofeiro de se divertir à custa dos
encarnados de boa-fé ou ingênuos. Outros adoram política. Frequentam turbas,
reuniões de partidos, de sindicatos, comícios, intuindo conchavos, sempre com o
objetivo de desunir, de provocar desordem, de bagunçar.
Diz o Sr. Racional que tudo nos
vem de fora. Deixem-me explicar melhor este conceito.
Muitas vezes estamos indispostos,
aborrecidos, com mal-estar, sem sabermos o porquê. Talvez estejamos passando
por uma indisposição orgânica, mas também este sintoma pode ser causado pelos
fluidos doentios de um espírito do Astral Inferior que está sugando as nossas
energias anímicas, porque o atraímos com os nossos pensamentos descuidados,
pois pensar é atrair. Por isso é importante que saibamos pensar.
Devemos pensar sempre em coisas
boas e encarar a vida com otimismo. Sabemos que só existem duas correntes de
pensamento cruzando o espaço em todas as direções. Se não estivermos ligados na
do bem estaremos ligados na do mal. Também devemos deixar de ser maledicentes.
A maledicência é o assunto predileto de espíritos grosseiros e maldosos.
Outras vezes podemos estar sendo
vítimas do início de um processo obsessivo. Diz o Sr. Racional que “a obsessão
é uma enfermidade psíquica resultante do mau uso do livre-arbítrio, da vontade
mal-educada, das inclinações sensualistas, do descontrole nos atos cotidianos,
do nervosismo desenfreado, dos desejos insuperáveis, da ambição desmedida, do temperamento
voluntarioso e, consequentemente, do desconhecimento dos ensinamentos
racionalistas cristãos”.
Há uma forte corrente obsessora
nos seguintes lugares: igrejas, hospícios, velórios, necrotérios e cemitérios,
lugares estes em que o Astral Superior não pode irradiar. Também pensar em tais
lugares é entrar nessa corrente obsessora.
O grande repositório da Sabedoria
não está na Terra, vem de fora, do Espaço Superior. Os progressos avançados das
modernas tecnologias não seriam ainda conhecidos, se muitos dos seus princípios
não tivessem sido transmitidos aos seres humanos pela via da intuição, ou pela
força do pensamento, diante da qual todas as distâncias se anulam. Vou citar
apenas dois exemplos, pelas suas relevâncias, apesar de existirem dezenas.
Isaac Newton e Leibniz descobriram simultaneamente o
cálculo diferencial. Este cálculo é uma parte fundamental da Matemática que
utiliza as propriedades das derivadas e as operações de integração, que vocês
estudarão na faculdade.
Charles Darwin, na Inglaterra,
edificou a Teoria da Evolução das Espécies pela seleção natural e sobrevivência
do mais apto simultaneamente com Alfred Russel Wallace, o qual, vivendo na
outra extremidade do planeta, na Indonésia, elaborou a mesma teoria.
¾ Tio Marcos, disso que o senhor está explicando, eu deduzo que grande
parte da humanidade encarnada vive subjugada por esses espíritos do Astral
Inferior -comentou Marquinho.
Não é bem assim. O espírito desencarnado não
pertence mais ao planeta Terra. As leis naturais e imutáveis que regem o
Universo não permitem que eles vivam indefinidamente na Terra, que é destinada
aos encarnados.
O que ocorre é que esses espíritos, por
desconhecerem que existem duas vidas, a material e a espiritual, e por não
sentirem a diferença da mudança para o mundo espiritual, e por não terem parado
de pensar após o fenômeno natural da desencarnação, ficam com suas mentes ainda
fixas na vida material. Conseqüentemente, o seu corpo astral é pesado, escuro
e, como tal, mais uma vez a lei natural e imutável do Universo funciona. Ficam
presos ao planeta pela força da gravidade, a qual impede que atinjam o espaço
sideral, rumo aos seus mundos de origem. Alguns, sendo escuros e pesados, por
terem suas mentes culturalmente bem desenvolvidas, apesar de religiosos ou
materialistas, possuem a capacidade de volitar, quais abutres sarcófagos, isto
é, capacidade de se transladar através do espaço, independentemente do tempo.
Pensam num lugar e imediatamente encontram-se neste lugar. Vocês, então,
poderiam perguntar: o que acontecerá com esses espíritos?
Eu lhes respondo: através do
sofrimento, da dor, de um perambular constante, esses espíritos da atmosfera da
Terra, desiludidos, passam a oferecer condições anímicas para serem ajudados.
Então, têm os respectivos livres-arbítrios coarctados, isto é, suspensos
temporariamente pela ação das correntes do Astral Superior. São coletados com
uma rede fluídica de arrastão, tal qual aquelas dos pescadores. Também são
atraídos por luzes deslumbrantes e conduzidos às casas racionalistas durante as
sessões. Os espíritos assim arrebanhados são trazidos às correntes e, como
assistentes, ouvem as doutrinações dos presidentes. Ao término das sessões são
transportados aos seus mundos de estágio, por uma milícia de espíritos dos
mundos opacos, que estão a serviço do Astral Superior, isto porque os espíritos
superiores, por serem muito sutis e diáfanos, não têm condições de fazê-lo
sozinhos.
É feito desta forma, porque o
transporte dessas multidões de espíritos aos seus mundos de estágio necessita
de uma poderosa corrente fluídica, produzida desde 1910, nas sessões do
Racionalismo Cristão.
A Doutrina Racionalista Cristã,
codificada pelo Sr. Racional, ensina que o segredo da nossa libertação não está
em atingirmos estados psíquicos, pregados por algumas escolas espiritualistas
como o ocultismo, o esoterismo, as induções hipnóticas, os estados alfa, os
movimentos rotativos, isto é, o rodar contínuo dos religiosos muçulmanos, os
dervixes, ou ainda pela ingestão de drogas, as quais arremessam o corpo astral
dos viciados em viagens loucas pelo Astral Inferior. O segredo da libertação,
da conquista da Paz, está na mudança da nossa conduta, começando pela mente.
Precisamos ter a convicção de que
aqui na Terra somos constituídos por Força e Matéria e vivemos duas vidas, a
material e a espiritual, como eu já disse. Como pensar é atrair, pensando no
Astral Superior, atrairemos fluidos desses espíritos que nos lavarão, quais
água e sabão, eliminando do corpo astral os fluidos deletérios que o contaminam
e corroem como ferrugem.
Também a Luz é um estado de
consciência que pode ser alcançado, quando regularmente irradiamos aos
espíritos superiores, nas sessões das casas racionalistas ou durante a limpeza
psíquica praticada no lar. Com a Luz, teremos condições de ampliar nosso
entendimento, nosso raciocínio e de compreender claramente a Verdade e as
intuições das forças superiores.
É necessário que esclareçamos a
nós próprios, através do estudo, do raciocínio e da disciplina. Devemos dividir
o nosso tempo de maneira racional, com horários para todas as nossas
atividades.
O grande violinista e compositor
italiano, Niccolo Paganini (1782-1840), um dos maiores concertistas que o mundo
já conheceu, era um gênio na exploração dos recursos técnicos do violino.
Virtuose, impressionou todas as platéias do mundo.
Certa ocasião, um visitante
ilustre perguntou-lhe qual era o seu segredo. Paganini, segurando o
instrumento, apontou para os dois rasgos que todo violino tem na caixa, em
forma de S, um de cada lado do cavalete que suporta as quatro cordas.
O visitante, vendo que ele
apontava para aqueles esses, pensou que fosse a dimensão dos mesmos ou seu
desenho. Mas Paganini disse:
¾ O meu segredo são esses
dois esses, isto é, studiare sempre (estudar
sempre).
¾ Tio Marcos, o que acontece a um espírito do grau 33 quando desencarna?
- perguntou Marquinho.
¾
Tudo o que o Sr. Racional disse a respeito foi o seguinte: até o grau 17, os
espíritos encarnam com a forma humana no planeta Terra e em outros planetas
semelhantes. Atingindo a classe 18, até a 33, eles perdem o corpo astral,
passando a possuir somente o corpo mental, isto é, o espírito. Nesta fase
evolutiva, apresentam-se aos videntes como intensos focos de luz colorida,
branca, amarela, dourada, brilhantes, resplandecentes, fulgurantes. Passam,
então, a pertencer às humanidades depuradas, num universo onde não existem as
dimensões tempo e espaço, como a Física define. Não sabemos se depois mergulham
no Grande Foco, desaparecendo. Sabemos que continuam com as suas individualidades,
planejando e organizando a humanidade na sua trajetória evolutiva, num presente
eterno.
Nisso, pela janela aberta, entra um pirilampo faiscando, parece que
fugindo do clarão do luar, indo pousar na parede lateral, sempre com o abdômen
acendendo e apagando.
Todos pararam, acompanhando o pirilampo. Maria, então. perguntou:
¾
Tio Marcos. por que eles acendem e apagam? De onde vem a sua luz?
Tio Marcos explicou:
¾
A luz do pirilampo ou vaga-lume provém de dois líquidos que ele fabrica em seu
corpo. Nenhum dos dois líquidos tem luz própria, mas misturados com o ar
iluminam-se. Um vaga-lume não queima a sua mão quando você o apanha. A luz é
fria como a de uma lâmpada fluorescente. Eles atraem os seus pares por meio de
sinais luminosos. A propósito, Severo uma vez me contou que, quando era
criança, a sua mãe pedia para ele apanhar vaga-lumes que apareciam ao
entardecer, e enchia com eles um pé de meia de seda de mulher. Sua mãe, então,
pendurava a meia cheia de vaga-lumes no quarto de dormir para suavizar a escuridão.
Bom, por hoje basta.
Dizendo isto, tio Marcos levantou-se e saiu.
10. O cristianismo I
Terminado o jantar e servido o café, os jovens
subiram. Todos acomodados, tio Marcos começou a aula da noite.
Nós já falamos da religião dos
índios, da religião dos negros e hoje vamos falar da religião dos brancos,
conquistadores e colonizadores do Brasil.
Vamos iniciar falando um pouco
dos povos da Antiguidade.
As pesquisas sobre os tempos mais
remotos da espécie humana indicam que os primeiros homens provavelmente foram
nômades, vivendo da caça, da pesca e da coleta de produtos vegetais, tais como
frutas, grãos, folhas, raízes, etc. Moravam em abrigos rústicos. Cada grupo
exercia isoladamente suas atividades dentro de um espaço territorial
delimitado. Com o esgotamento dos recursos de uma determinada área, a
comunidade era obrigada a mudar-se, a emigrar em busca de novas fontes de
alimentos.
O surgimento das atividades
agrícolas e do pastoreio possivelmente tenha sido o principal fator de
sedentarização, isto é, fixação das populações nômades em sedes. Ou seja,
quando o homem começou a plantar e a colher alimentos, a domesticar e a criar
animais, passou a depender cada vez menos da caça, da pesca e da coleta de
alimentos vegetais. Desta forma, passou a morar mais tempo ou permanentemente
na mesma área. Com isso, foi possível a construção de moradias sólidas, que com
o tempo se transformaram em vilas e cidades.
Não se sabe ao certo quando
surgiram os primeiros aglomerados de habitantes, aos quais se pôde dar o nome
de cidade. Mas, há milhares de anos, existiam concentrações urbanas com
acentuada divisão de trabalho entre os moradores. Há registros de concentrações
deste tipo, entre os povos da Antiguidade, desde 1900 a.C., tais como os
egípcios, os hititas, os antigos chineses e os hebreus.
Os hebreus, pertencentes aos
povos semitas, durante várias fases da sua história foram pastores nômades.
Chegaram à Mesopotâmia e se instalaram na Caldeia, na cidade de Ur, em 1900
a.C., chefiados por Abraão, que os iniciou no monoteísmo, isto é, na adoração
de um só deus. Nessa época adoravam o deus Iavé. Com a ocupação do seu
território pelos indo-europeus, imigraram para o Egito em 1290 a. C. e lá
viveram por quatro séculos, sendo dirigidos por Moisés. Ao saírem do Egito, Moisés
recebeu de seu deus Jeová o Decálogo, no Monte Sinai, contendo os dez
mandamentos. Depois atravessaram o Deserto do Sinai e passaram a viver em
Canaã, a Terra Prometida, situada na Palestina, no Oriente Médio, a partir do
século XIII a. C. Na terra de Canaã, enfrentaram várias guerras. Entregaram,
então, o governo geral aos juízes, que eram militares ou políticos. O primeiro
deles foi Josué, sucessor de Moisés. Em 1250 a.C., Josué atravessou o Rio
Jordão, na Palestina, e conquistou a cidade de Jericó, situada no Vale do
Jordão, junto ao Mar Morto.
Os hebreus eram então
constituídos por doze tribos, sendo cada uma formada por pessoas descendentes
de um dos doze filhos do patriarca bíblico Jacó, que por sua vez era filho de
Isaac.
Ao se estabelecerem em Canaã,
adotaram a monarquia. O seu primeiro rei foi Saul, sucedido por Davi e Salomão.
Ficou na história o Templo de Jerusalém, construído por Salomão, para abrigar a
Arca da Aliança, onde estavam guardadas as Tábuas da Lei, dadas a Moisés por
Jeová, no Monte Sinai.
Após a morte de Salomão, as dez
tribos que viviam ao norte, na Galileia, formaram o reino de Israel, que
existiu de 931 a 721 a. C. e cuja capital era a cidade de Samaria. As duas
tribos restantes, que viviam ao sul, formaram o reino de Judá, cuja capital era
Jerusalém.
Em 721 a.C., os assírios
conquistaram Samaria, destruíram o reino de Israel e levaram os israelitas como
escravos. Essas dez tribos perderam-se. Nunca mais apareceram. Persistiu
somente o reino de Judá e a sua capital Jerusalém.
Em 587 a.C., o Templo de
Jerusalém, construído pelo rei Salomão, foi destruído por Nabucodonosor,
ocasião em que a elite da população da cidade foi deportada para a Babilônia.
Em 538 a.C., Ciro II, rei da
Babilônia, autorizou os judeus a retornar à sua cidade e reconstruir o Templo
de Jerusalém.
Em lá chegando, reergueram o
templo e os muros da cidade.
Na Antiguidade Clássica, a partir
de 900 a. C., ocorreu um grande desenvolvimento das cidades gregas e romanas.
Elas formavam centros de comércio e pontos de concentração, com intensa
circulação de pessoas e de mercadorias, cujo domínio estendia-se do litoral até
o interior da Europa mediterrânea, ocupada e organizada pelo Império Romano,
cuja capital desde 300 a.C. era Roma.
Em 100 a.C., Roma possuía uma
notável organização militar, vencendo guerras contra quase todos os povos
existentes nesse tempo.
Pompeu (106-48 a.C.), general e
político romano, em 64 a.C. invadiu a Síria e ocupou Jerusalém, capital da
Judeia, tornando-a um principado. Era nessa época imperador de Roma César
Otaviano Augusto, o qual desencarnou em 14 d. C. e foi substituído por Tibério
Júlio César.
A Judeia era o antigo reino de
Judá e nessa época, por ocasião da ocupação romana, era urna província do sul
da Palestina. Essa região da Palestina era cortada pelo Rio Jordão, o qual
formava o Lago Tiberíades antes de desaguar no Mar Morto.
No ano zero da linha do tempo,
nasceu em Belém, a pátria do rei Davi, Jesus, o Cristo, um dos espíritos
moralmente mais evoluídos que já encarnaram no planeta Terra.
Quando Jesus nasceu, Roma
governava a Galileia através de procuradores.
¾ Tio Marcos, o que quer dizer “o Cristo”? Era o sobrenome de Jesus? -
perguntou Fernanda.
Não, esse cognome “o Cristo”
significa “redentor” ou “aquele que torna o homem livre através da Verdade”, e
esclareço mais: mas livre de quê?, pode alguém perguntar. Livre do misticismo.
Livre da escravidão mental. Livre do temor aos deuses. Livre para pensar por si
próprio, para resolver os seus problemas existenciais, sem rezas, peditórios ou
promessas.
Resumidamente, a doutrina
libertadora de Jesus, o Cristo, ensinada antes dos Evangelhos, é a seguinte: no
Decálogo de Moisés, pela primeira vez apareceu o conceito de “próximo”. Do
quinto ao décimo mandamento, tudo se refere ao próximo. Na concepção da Tábua
da Lei, Moisés ressaltou o próximo como alguém que deveria ser respeitado nos
seus direitos pessoais e patrimoniais.
Jesus ampliou o conceito de
próximo trazido por Moisés. O próximo não seria mais uma criatura subjugada a
Deus, mas, sim, seu filho, como Partícula da Inteligência Universal que era,
pois emanou dele, para seguir o seu caminho, para fazer a sua trajetória
evolutiva, iterativa, isto é, pela reencarnação e pelos ensaios e erros.
Portanto, o próximo passou a ser a pedra angular do processo libertador do
Espírito.
Jesus ensinou também que o
próximo, além de ser o nosso irmão, pois todos nós temos a mesma origem, a
Força (Deus), é também alguém que, pela Lei da Causa e Efeito, evolui
inter-relacionado conosco, guardando uma estreita relação de débito e crédito.
O próximo está atrelado a nós no processo reencarnatorio e somente poderemos
galgar os graus evolutivos superiores se seguirmos a seguinte lei natural:
“Quem bem faz, para si está fazendo”.
Jesus também acrescentou aos
ensinamentos de Moisés a existência da vida futura, que ele não havia falado, e
das penas e recompensas que esperam o homem depois da desencarnação, de acordo
com a lei: “Não as faças que as pagas”.
Jesus ensinou ainda que a nossa
morada verdadeira não é o planeta Terra. Será um dos milhares de milhões de
mundos que estão no espaço sideral, carregando cada qual suas humanidades de um
ou mais graus evolutivos.
A doutrina de Jesus, o Cristo,
assim que começou a ser difundida, exerceu uma atração muito grande naquele
povo, que passou a propagá-la dia a dia cada vez mais. Ela despertou naquela
nação oprimida a esperança de um futuro melhor. Era uma espécie de aurora para
as pessoas pobres, para. as mulheres e para as crianças, que na ocasião não
possuíam nenhum direito, desde a mais remota Antiguidade. Eram os párias
sociais da época.
Jesus foi um filósofo profundo.
Com os essênios aprendeu e desenvolveu poderosas faculdades paranormais
(mediúnicas) e, mergulhando no estudo, compreendeu a Verdade, em toda a sua
plenitude, divulgando-a depois junto às massas populares, com um alto poder de
comunicação, tanto quanto essas massas podiam entender.
Aos humildes e ignorantes,
ensinava com paciência e com tolerância. Aos escribas e fariseus, ele os
desmascarava e repreendia com energia sempre que eles deturpavam ou
mistificavam conscientemente. Para estes foi um acusador enérgico. Não falava
para agradar. Os fariseus odiavam-no por revelar seus desígnios ocultos e
admoestá-los.
¾ Tio Marcos, quem foram os essênios? - perguntou Solange.
¾
Muito bem, Solange. A sua pergunta vai ajudar a esclarecer qual foi a escola de
Jesus - disse tio Marcos.
Os essênios eram ascetas e
místicos de uma antiga e misteriosa seita judaica. Viviam em pequenas
comunidades localizadas no lado ocidental do Mar Morto e no Lago Maoris, no
Egito, onde eram conhecidos como terapeutas. Em 1947, alguns mercadores
beduínos descobriram rolos de manuscritos, dos quais o principal é o “Manual de
Disciplina”. Esses documentos remontam, pelo menos, ao segundo século
pré-cristão. Essas fontes apresentavam os essênios vivendo uma vida simples,
meditativa e contemplativa. Eram frugais, vegetarianos, castos, contrários ao
sacrifício de animais e à escravatura, e mantinham os seus bens em comum. Foi
uma seita que não teve analogia com qualquer outra, baseada em princípios e
mistérios que são diversamente interpretados como cabalistas, pitagóricos,
orientais, maçônicos, além de judaicos. Ensinavam as doutrinas da preexistência
da alma e da reencarnação. Seus membros mais eruditos expunham as Escrituras
por meio de símbolos e parábolas. Estudavam o Torah, isto é, os primeiros cinco
livros da Bíblia, que contém a essência da lei mosaica. A filiação à seita não
dependia de raça, e sim da livre escolha do pretendente, o que denota não terem
tido ligação com as sinagogas dos fariseus. Foi entre eles que Jesus conviveu
durante vários anos da sua mocidade.
Entre os anos de 1947 e 1956,
mais pergaminhos foram descobertos em onze cavernas, nas vizinhanças do Mar
Morto, onde hoje fica a Cisjordânia, perfazendo aproximadamente mil textos
escritos em pele de carneiro. Ficaram sendo conhecidos como os Pergaminhos do
Mar Morto. Esses pergaminhos registram fatos ocorridos entre os anos 250 a.C. e
68 d.C., justamente na época, segundo os Evangelhos, em que viveu Jesus. A
partir de 1991, um acervo de aproximadamente 800 manuscritos foi liberado aos
pesquisadores, e aproximadamente 250 estão em poder de autoridades israelenses
e de estudiosos católicos.
Os pesquisadores
constataram que os pergaminhos escritos pelos essênios, pelo menos aqueles que
foram liberados ao público, não mencionam, numa primeira constatação, nenhum
dos apóstolos, nem a figura de Jesus conforme a descrita nos Evangelhos. Em
compensação, fornecem um quadro completo das crenças e do modo de vida de
várias seitas judaicas que se confrontavam na época de Jesus.
O escritor John Dominic Crossan,
um especialista em Bíblia, escreveu no seu livro Jesus, uma Biografa
Revolucionária que o pensamento de Jesus era similar ao dos filósofos
gregos da Escola Cínica, vigente na época. Os cínicos eram filósofos gregos
antigos, como Diógenes (327 a.C.), que professavam uma moral ascética e um
desdém absoluto às conveniências sociais da época. Pregavam a libertação em
face do mundo e de todas as paixões humanas. Afirmavam que o bem ideal estava
na Virtude, que era colocada acima dos bens materiais.
Segundo Crossan, Jesus ensinava a
igualdade de condições para todos os membros da sociedade. Era radical nesse
igualitarismo. Jesus também exigia que seus discípulos fossem itinerantes.
Em face desta pregação
libertadora, as adesões à sua doutrina aumentavam diariamente. Isto contrariava
muito os doutores da lei do Sinédrio, isto é, do tribunal dos judeus em
Jerusalém, composto de sacerdotes, os quais julgavam tanto as questões
criminais como as políticas.
No auge da sua pregação na
Galiléia, Jesus entrou definitivamente em conflito com os seus contemporâneos,
autoridades judaicas, governo romano e sacerdotes hebraicos.
As autoridades achavam que a doutrina
ensinada por Jesus implicaria numa transformação política radical. As
autoridades romanas acreditavam que os ensinamentos de Jesus sutilmente
espalhariam a subversão entre o povo. Em face dessa situação, o Sinédrio
insuflou o procurador romano Pôncio Pilatos e este prendeu, condenou e
crucificou Jesus, o Cristo, como se ele fosse um malfeitor.
Antes dos Evangelhos, o ambiente
cultural da Judeia ocupada pelos romanos era elevado, pois predominava a
cultura grega. Muitos possuíam discernimento mental suficientemente
desenvolvido para entender a moralidade ensinada por Jesus e desprezar a
religião vigente.
O desenvolvimento intelectual,
nestes tempos, baseava-se nos ideais morais ensinados pelos gregos, pois, para
esses filósofos, o conceito bíblico de Deus não era lógico. Sócrates (469-399
a.C.) foi o filósofo moralista que mais influenciou essa época, por ter sido o
ponto mais alto do pensamento humano já manifestado. Foi o fundador da ciência
moral. Como introdução das suas aulas afirmava: “Só sei que nada sei”,
“Conhece-te a ti mesmo”, “O Espírito é o único assunto digno de estudo”, “O
verdadeiro Eu não é o corpo, mas a alma, a vida, a vida interior”, “O homem
inteligente fatalmente há de preferir o bem”, “O homem mau é antes de tudo um
ignorante”. Aos 71 anos de idade, virtuoso, recusou escapar da morte imposta
pela lei e bebeu cicuta por “não ter respeitado os deuses e ter corrompido a
juventude”. Sócrates foi o mártir da razão humana.
¾ Tio Marcos, o que quer dizer Evangelho? - perguntou Fernanda.
Evangelho quer dizer boa nova em
grego. O Evangelho é constituído por quatro livros, contendo quatro biografias
de Jesus, cada qual relatada por autores diferentes, chamados evangelistas.
Não devemos aceitar o Jesus
descrito nos Evangelhos, porque seu comportamento relatado nestes livros
discorda fundamentalmente do perfil de um espírito superior, que o bom senso
aceita e a razão compreende.
O escritor Burton Mack, outra
autoridade bíblica, escreveu no seu livro O Evangelho Perdido que: “Os Evangelhos narrativos não podem almejar
serem relatos históricos. Os Evangelhos são criações imaginárias”.
Esses livros são atribuídos a
alguns discípulos de Jesus, também chamados apóstolos. Os autores dos
Evangelhos são Mateus, Marcos, Lucas e João. Em geral, considera-se o que
Marcos escreveu o mais antigo e que serviu de base para os Evangelhos de Lucas
e de Mateus. Já o Evangelho de João é uma redação original. Os Evangelhos de
Mateus, Marcos e Lucas foram escritos entre os anos 70 e 80. Já o de João foi
escrito por volta de 100.
O Evangelho de João é o que menos
fé merece, por estar todo impregnado de influência grega e de ter sofrido
várias revisões para adaptá-lo aos objetivos religiosos e místicos da Igreja
Católica.
Estes Evangelhos incorporam o
Novo Testamento do Cristianismo e foram redigidos inicialmente em grego.
Os 800 pergaminhos do Mar Morto,
que eu já comentei, não falam nada dos apóstolos nem de Jesus, o Cristo. Pode
ser que os 250 restantes, cujo conteúdo não foi ainda divulgado, contenham
alguma coisa.
Jesus viveu num período
particularmente tumultuado da história judaica, marcado por guerras e
revoluções.
A Jerusalém daqueles tempos era
um lugar em que conviviam, juntamente com as tradições gregas, a opressão
romana e a cultura das seitas hebraicas.
Desse caldo de culturas
diferentes, brotou o Cristianismo.
Depois da morte de Jesus, o
número de crentes da doutrina foi crescendo incessantemente. Os
correligionários acreditavam num próximo regresso de Jesus, o qual, voltando
com poderes ilimitados, soberano, absoluto, viria para premiar os seus
discípulos. Essa esperança constituía uma alucinação absorvente e contagiosa,
em virtude da propaganda que neste sentido era feita pelos primeiros cristãos
fanáticos.
Aos poucos foi se extinguindo a
geração contemporânea de Jesus, portanto depositária direta dos seus
ensinamentos, e daí em diante foi se deturpando a doutrina original, surgindo
um Cristianismo sobrenatural, contemplativo, místico, religioso, impregnado de
rezas, orações, lendas e milagres.
No ano 70, por ocasião da grande
revolta dos judeus, os romanos destruíram a cidade de Jerusalém, inclusive o
Templo de Salomão, que tinha sido restaurado por Herodes, rei da Judeia de 40
a. C. a 4 d. C.
A partir da Judeia, o
Cristianismo passou a ser pregado pelos apóstolos itinerantes nos países do
Mediterrâneo.
O apóstolo mais ativo da Igreja
nascente foi Paulo de Tarso, que propagou o Cristianismo a seu modo, na Ásia
Menor, Grécia, Macedônia, Itália e todas as povoações de fala grega. Por isso,
o grego foi a língua do Cristianismo nos primeiros tempos.
Paulo de Tarso nasceu na Cilícia,
região da Turquia asiática, a 15 d. C. e faleceu no ano 67 d. C. em Roma. Era
de origem judia, mas de cidadania romana. Recebeu forte educação religiosa, que
fez dele um fervoroso fariseu, adversário dos cristãos.
Quando Paulo de Tarso apareceu, o
Cristianismo primitivo já estava muito influenciado pela cultura grega e
enveredava para o dogma. Para não ser destruído, defendia-se das possíveis
perseguições atacando aos adversários antes de por eles ser atacado.
Era já o deus cruel e vingativo
dos hebreus quem prevalecia, conforme Moisés ensinou: “Olho por olho, dente por
dente”, que sucedia a doutrina preconizada por Jesus, que havia ensinado ser o
princípio de todas as coisas “o Grande Foco de Luz” que, espargindo-se sobre
todas as consciências humanas, orientava-lhes a trajetória da evolução e do
progresso. Os cristãos de então passaram a aceitar o sobrenatural, os milagres,
enveredando para os peditórios, para o misticismo e para as rezas. Isto porque,
para o homem, a coisa mais difícil foi sempre pensar.
Essa deturpação do Cristianismo,
adotando nova concepção religiosa, iria fazer no futuro, pelos séculos afora,
mais estragos e violências do que haviam feito as superstições do paganismo, já
então em declínio acentuado.
Foi justamente nesta fase que
apareceu o famoso perseguidor dos cristãos.
O aparecimento de Saulo de Tarso
no cenário religioso cristão e suas causas determinantes são fatos que nunca
ficaram bem esclarecidos.
Ninguém ignora que ele foi de uma
crueldade insuperável na perseguição aos cristãos, como autêntico fariseu que
era e discípulo do sumo sacerdote Gamaliel. Na época, ano 37, Estevão era um
dos sete diáconos da primeira comunidade cristã de Jerusalém. Estevão era um judeu
convertido que falava grego. Foi perseguido por Saulo de Tarso e apedrejado. A
ferocidade desse assassinato abalou na época profundamente os cristãos, que
desde então passaram a temê-lo.
A conversão de Saulo de Tarso ao
Cristianismo nunca ficou bem explicada.
Alguns explicam esta mudança
levando-a à conta de histerismo religioso, argumentando que o Saulo convertido
continuou tão violento e intolerante como tinha sido o Saulo fariseu.
Além do histerismo religioso,
outra causa, mais compatível com o perfil comportamental de Saulo de Tarso, a
História registrou. Foi o seguinte: o sumo sacerdote Gamaliel tinha uma filha
de rara beleza e grande cultura, por quem Saulo de Tarso se apaixonou.
Ambicioso, ele pretendia também,
desposando-a, suceder a Gamaliel e tornar-se o chefe religioso dos israelitas,
galgando assim uma posição social invejável em Jerusalém.
Neste sentido expôs ao pai da
jovem a sua pretensão, já certo do êxito.
Contudo, a fúria de Saulo de
Tarso contra os cristãos causava horror à jovem que, mesmo sendo muito
tolerante e compassiva, repeliu o pretendente. Essa atitude da jovem
desnorteou-o terrivelmente. Esta repulsa foi o desmoronamento de um imenso
castelo de cartas e a liquidação das suas pretensões de predomínio, de vir a
ser o sumo sacerdote.
Ambicioso como era, não podendo
obter uma supremacia entre os judeus, pensou em conquistá-la entre os cristãos.
Conseguiu isso à
custa da célebre aparição na Estrada de Damasco, historieta que contou a seu
modo, talvez interessante para crianças de tenra idade, mas sem nexo, sem
lógica, sem fundamento, que somente por medo poderia ter sido aceita por
aqueles que, tendo sido já objeto de suas perseguições, temiam-no
profundamente.
¾ Tio Marcos, que aparição foi essa na Estrada de Damasco? - perguntou Solange.
Saulo de Tarso viu na Estrada de
Damasco uma aparição de Cristo, que fez com que caísse por terra e ouvisse
Jesus dizer:
¾ Saulo, Saulo, por que me
persegues?
E Saulo, atônito, perguntou:
¾ Quem és, Senhor?
E a aparição respondeu-lhe:
¾ Eu sou Jesus, a quem tu
persegues.
¾ Senhor, que queres que eu
faça?
E disse-lhe o Senhor:
¾ Entra na cidade, e lá te
será dito o que te convém fazer.
Saulo levantou-se da terra e,
abrindo os olhos, não via ninguém. Estava cego.
Esteve três dias sem ver.
Em Damasco, o Senhor apareceu a
Ananias, e disse-lhe:
¾ Vai, porque este é para
mim um vaso escolhido, para levar o meu nome diante dos reis, dos filhos de
Israel e dos gentios.
E Ananias foi, entrou na casa e,
impondo-lhe as mãos, disse:
¾ Irmão Saulo, o Senhor
Jesus, que apareceu no caminho por onde vinhas, me enviou, para que tornes a
ver e seja cheio de Espírito Santo.
E logo lhe caíram dos olhos como
que umas escamas e recuperou a vista. Levantando-se, foi batizado.
Esta lenda, contada por Saulo de
Tarso, é inverídica. É impossível ter acontecido. Sabemos, de acordo com as
Leis Naturais e Imutáveis que regem o Universo, que um espírito do Astral
Superior, como Jesus Cristo, não tem condições de se manifestar no planeta
Terra, sem o apoio de uma forte corrente fluídica, formada por dezenas de
médiuns de moral ilibada, honrados e cumpridores do dever.
E pensar que foi sobre essa
historieta que se fundou a Igreja Católica, conforme veremos a seguir.
Saulo, depois de convertido,
mudou o nome para Paulo, como homenagem e reconhecimento a Sergius Paulus,
procônsul romano em Chipre, onde este tolerou que ele um dia fizesse a sua
pregação.
Qual era, porém, a natureza da
pregação de Paulo e que rumos lhe imprimiria o recém-convertido?
Ele fez uma aprendizagem de
alguns dias e logo principiou a pregar nas sinagogas.
Desde então, criou uma doutrina
nova, baseada nos dogmas universais, dizendo-se inspirado pelos doze apóstolos
de Jesus. Passou o Cristianismo a ser uma seita que misturou idéias judaicas
com outras, oriundas do helenismo, firmando-se como religião revelada, isto é,
de origem divina, fazendo de Jesus, “Deus” ele próprio.
Paulo, visitando Antioquia,
centro cristão florescente desde o século I d.C., ali imbuído pela metafísica
grega, pregava que Jesus fora o mediador e o salvador de toda a humanidade.
Esboçava-se já o dogma da divinização de Jesus, que ia deixando de ser o
Messias, como o apresentavam os cristãos da Palestina, para ser o Salvador,
divindade cuja missão era imolar-se para a salvação do gênero humano. Copiava
os deuses do politeísmo de Canaã, da Palestina.
A atuação de Paulo de Tarso foi
tão grande na evangelização dos povos do século I d.C. que certos autores
atribuem-lhe o papel de segundo fundador do Cristianismo.
Para alguns estudiosos do
Catolicismo, quem primeiro exerceu as funções de verdadeiro papa foi Paulo de
Tarso. Era ele quem doutrinava os primitivos súditos, como autoridade suprema.
Paulo, em 58, tinha um
comportamento dúbio. Ora preconizava uma coisa, ora praticava em público
ostensivamente outra. Essas atitudes ocasionavam perturbação e confusão na
comunidade cristã de Jerusalém e incomodavam muito o Sinédrio.
Neste ano, indo a Jerusalém, o
povo fez tudo para linchá-lo. Nessa situação, o procurador romano foi instigado
pelas autoridades judias a prendê-lo. Preso, a sua condição de cidadão romano
valeu-lhe a transferência do seu julgamento para o Tribunal do Imperador e ele
foi transferido para Roma, onde passaria dois anos em liberdade vigiada.
Em continuação a esse fato, há
duas versões: uma diz que entre os anos de 62 e 64, ele foi martirizado em
Roma. Outra, defende a ideia de que ele foi libertado pelos romanos e, após
novas viagens missionárias, teria sido decapitado em 67, na Estrada de Óstia,
em Roma.
A sua contribuição para a
literatura do Catolicismo foram catorze epístolas (cartas), as quais trazem um
resumo do seu pensamento e da sua personalidade.
Entre 64 e 67, Pedro foi
considerado o primeiro papa. Diz a tradição que ele exerceu uma autoridade
superior na Igreja Cristã de Jerusalém.
Escavações realizadas sob uma
basílica em Roma, lugar presumível do túmulo de Pedro, não deram o resultado
esperado. Mostraram, contudo, que desde o ano 120 a lembrança do apóstolo Pedro
era venerada naquele lugar.
Os romanos, em matéria religiosa,
eram em geral tolerantes com os povos conquistados. Mas os cristãos, negando-se
a cultuar os deuses pagãos e a adorar a pessoa do imperador romano, foram
considerados rebeldes, foras-da-lei e inimigos do Império.
Para divertir o povo de Roma,
Nero processou e castigou cruelmente aqueles odiados malfeitores chamados
cristãos. Diz a tradição católica que o apóstolo Pedro foi uma das vítimas das
perseguições de Nero.
Os cristãos eram martirizados,
crucificados e atirados às feras nas arenas dos circos romanos.
Muitas vezes, os cristãos
utilizavam cemitérios subterrâneos, em Roma, chamados catacumbas, como centro
de reunião, a fim de evitar as perseguições dos romanos. Essa perseguição durou
240 anos.
Vimos, até aqui, que a doutrina
de Jesus, o Cristo, por ele ensinada até a data da sua crucificação, foi
deturpada por Paulo de Tarso, o qual criou uma nova religião, o Catolicismo,
apoderando-se da figura de Jesus, respeitado pelo povo humilde da Palestina.
Mais tarde, o Catolicismo de
Paulo foi consolidado pelos evangelistas, em cujos escritos foram inseridos,
além do dogma de Paulo, a “salvação” e outras posturas contrárias à lógica e ao
bom senso, como a adoração, o temor a Deus, Céu, Inferno e outras fantasias,
impedindo as massas de raciocinarem, tornando os católicos escravos mentais
subjugados pelas rezas, em busca do perdão e das graças.
Há vinte séculos a Igreja afirma
que o Catolicismo foi fundado por Cristo. Os estudiosos da História sabem que
esta afirmação é falsa. A massa inculta pode acreditar nisso, mas a História
não. A verdade é que o Catolicismo, sob o nome de Cristianismo, foi fundado
pelo imperador Constantino.
Em 313, pelo Édito de Milão, o
imperador Constantino de Roma concedeu a liberdade de culto aos cristãos. Com
esse ato, o imperador Constantino tornou-se o primeiro imperador cristão de
Roma. A partir de então, justificou a sua dominação sobre o Império, unificado
por uma “teologia política”, pois a sua autoridade vinha de Deus e o seu poder
imperial surgia como uma imagem terrestre da monarquia divina.
Na história da conquista do
Império Romano por Constantino, há muita fantasia, pueril e ingênua, conforme
passaremos a relatar.
Constantino achava-se comandando
as legiões romanas na Grã-Bretanha, quando o imperador Diocleciano foi obrigado
a abdicar, isto em 305, em conseqüência de revoltas em várias legiões, cujos
soldados cristãos promoviam um motim.
Ambicioso ao extremo, Constantino
sonhou com a conquista do trono vago, do qual Maxêncio seria o pretendente
legítimo.
Conhecendo a força de que já dispunham
os cristãos, pela sua expressão numérica, tanto nas legiões como na sociedade
romana, para conquistar o apoio dessas tropas repetiu a farsa de Saulo de
Tarso. Inventou a história do aparecimento nos ares de uma cruz luminosa, com
os seguintes dizeres em latim: “In hoc signo vinces”, que se traduz: Com este
sinal vencerás.
Divulgada a célebre aparição, que
somente ele viu no acampamento militar, obteve a adesão de todos os cristãos,
adotando para os seus exércitos um estandarte em que figurava a cruz, com os
célebres dizeres latinos.
Investiu contra Maxêncio,
derrotando-lhe as legiões. Venceu porque o seu exército era maior e mais
bem-organizado.
Assumindo o Império Romano,
iniciou uma série de crimes dos mais revoltantes. Começou mandando matar Maxencio,
após ter prometido ao general vencido salvar a sua vida.
Constantino também não hesitou em
exterminar a própria família, irmão, esposa e filhos, suspeitos de conspiração.
Perspicaz, aproveitando um
momento político propício, juntou os destroços de várias seitas que se diziam
cristãs e que se hostilizavam reciprocamente, e as fundiu num só bloco
homogêneo. Desde então, tornou-se o senhor dos cristãos e o clero nunca mais
largou o poder.
Em 337, Constantino morreu, em
meio aos preparativos de uma guerra com os persas. Foi enterrado em
Constantinopla.
A legalidade conquistada pelo
Cristianismo permitiu a realização de grandes assembleias de bispos de toda a
cristandade, chamados concílios. Os que acataram a autoridade dos concílios
constituíram a Igreja Católica. Os que não aceitaram foram denominados hereges.
Em 380, pelo Édito de
Tessalônica, o imperador Teodósio proclamou o Cristianismo a religião do
Estado.
Em 391, Teodósio, através do
Édito de Milão, colocou o paganismo fora da lei.
Aos poucos, foi desenvolvida uma
organização eclesiástica, monárquica. Então, o bispo de Roma assumiu o comando
do clero, passando a chamar-se papa.
¾ Tio Marcos - interrompeu Maria -, nisso tudo, como nasceu o Diabo?
Pouca gente sabe como surgiu essa
ficção. Na mesma época em que o imperador Teodósio proclamou o Cristianismo a
religião do Estado, era muito difundido entre os intelectuais o pensamento de
um filósofo persa chamado Maniqueu (215-275). A sua doutrina chamava-se
Maniqueísmo e transformou-se numa seita religiosa, que rapidamente se espalhou
por todo o Oriente, África, Península Ibérica e pelo Império Romano.
Esta doutrina prega que o
Universo foi criado e dominado por dois princípios antagônicos, opostos: o Bem
e o Mal. O Bem é representado por Deus, o bem absoluto, e o Mal, representado
pelo Diabo, o mal absoluto.
Então, tais princípios foram
absorvidos pelo Catolicismo, isto é, pelo Cristianismo religioso do Estado
romano. Isto foi feito da seguinte forma: inventaram uma estória, dizendo que
um anjo mau, rebelando-se contra Deus, foi precipitado no Inferno e, desde
então, ele procura a perdição e a desgraça da humanidade.
Com essa estória, passaram a
dominar pelo terror os seus seguidores, ameaçando-os com os demônios e os fogos
do inferno, domínio do Diabo. Era a condenação máxima dos pecadores ao fogo
eterno.
A tradição popular passou a
representar a figura do Diabo como um ser meio homem, meio cabra, de orelhas
pontudas e chifre, com asas de morcego, braços com mãos aduncas qual garras de
ave de pilhagem, uma cauda de ponta bifurcada e patas com cascos também
bifurcados, geralmente de cor vermelha ou preta.
O incrível é que essa fantasia
persiste até hoje, atemorizando os ingênuos, os semiletrados, os analfabetos e
demais criaturas sem espiritualidade e sem esclarecimento.
Tio Marcos parou de falar, levantou-se, desejando uma boa-noite de sono
a todos, e prometeu voltar ao assunto no dia seguinte.
11. O Cristianismo II
Todos já estavam sentados e
conversavam animadamente. As meninas falavam sobre o clube de campo da cidade
vizinha, o Country Club, onde foram passar o dia com tia Zinha. Vô Mário era
sócio. Os meninos comentavam as pacas que viram na beirada do rio, durante a
pescaria que fizeram com Severo, quando tio Marcos entrou.
¾ Bem, moçada, vamos continuar.
Em 1054 uma dissidência separou a igreja da cidade
de Bizâncio, ou melhor, a Igreja Bizantina, fundada pelos gregos no século VII,
da Igreja Latina. Surgiu dessa separação a Igreja Ortodoxa, também chamada
Igreja Católica Apostólica Ortodoxa ou Igreja do Oriente.
Depois, no século XVI, ouve nova cisão, originada
por um grande movimento religioso, criando numerosas igrejas cristãs
dissidentes, que ficaram conhecidas como Igrejas Protestantes ou Evangelistas
ou, ainda, Evangélicas.
¾ Tio Marcos, esse movimento foi chamado de Reforma?
Meu professor de História falou a respeito por alto - comentou Boris.
A Reforma foi um movimento revolucionário, religioso
e político, ocorrido na primeira metade do século XVI, o qual quebrou a unidade
católica na Europa Ocidental, onde uma parte da Igreja Latina, a maioria
situada em países ao norte da Europa, separou-se, criando outra religião.
A Reforma, denominada também
Reforma Protestante, tem como personagem central o monge alemão Martinho
Luthero (1483-1546).
Em 1511,
constatou, durante a sua estadia em Roma, que o Catolicismo já não era mais do
que uma infeliz caricatura do Cristianismo primitivo e que as sucessivas
deturpações sofridas pelos Evangelhos e outros textos canônicos obedeciam a um
intuito premeditado de adaptá-los aos interesses mercantis da Igreja.
Conscientemente, deu um grito de revolta diante do estado vigente das coisas, a
saber: o ritualismo pagão, as deturpações das Escrituras e o tráfico de
influências crapuloso e imoral que a Igreja de Roma praticava e que tão
profundamente o impressionou.
Luthero, desde
então, fulminou com os seus escritos o celibato sacerdotal, os votos, a
abstinência, o culto dos santos, a confissão, o purgatório, a doutrina do
pecado, respeitando apenas o Batismo e a Eucaristia (presença de Jesus
representada pelo pão e pelo vinho).
O Vaticano,
então, compreendeu que estava surgindo uma convulsão no seio da Igreja, de
conseqüências imprevisíveis.
Em 1520, o Papa
Leão X publicou uma bula excomungando Luthero e enviou um emissário à Alemanha
para a respectiva promulgação solene.
Os escritos de Luthero foram
aparatosamente queimados. Mas, em represália, Luthero, por sua vez, fez a
queima da bula papal e simultaneamente de todas as leis eclesiásticas
promulgadas na Idade Média, isto em praça onde era professor na universidade
local.
O papa ficou
irritadíssimo, pois via o seu prestígio seriamente abalado em todo o orbe
católico.
Imitadores de Luthero surgiram
na Suíça, França, Escandinávia e Grã-Bretanha.
Nos primeiros tempos da Reforma,
foram criadas sucessivamente três novas igrejas cristãs principais: a Luterana,
a Calvinista e a Anglicana.
Houve causas
políticas, econômicas e religiosas na época que ajudaram a implantação da
Reforma. No caso particular da Alemanha, a Reforma permitiu que a nobreza
resistisse à autoridade da Família Imperial, enérgica defensora do Catolicismo.
Reis e nobres de
diversos países do norte da Europa consideravam o papa um estrangeiro e viram
na Reforma um modo fácil de apoderarem-se das propriedades eclesiásticas:
terras, jóias, ouro, etc. As arrecadações de impostos pelo papa esgotavam esses
países e enriqueciam a Igreja. A Europa do Norte sentia-se como se tivesse sido
ocupada e conquistada por uma potência estrangeira que lhe impunha tributo.
Havia também a vontade, por parte dos burgueses alemães, de acumular riquezas,
sem sofrer nenhuma censura religiosa, pois a Igreja condenava os ricos.
O ideal ascético
da Igreja Católica considerava o lucro, a cobrança de juros e o enriquecimento
dos fiéis como imoral, como pecado.
Também, uma das causas do
advento da Reforma foram casos graves de corrupção, tais como: a venda em larga
escala de cargos eclesiásticos; a venda de indulgências, isto é, de perdões,
mesmo para crimes hediondos.
Todo aquele que tivesse dinheiro
e resolvesse canalizar uma parte dele para o Vaticano, tinha todo o direito de
ser patife, crápula, criminoso e prevaricador, porque o pagamento de
indulgências lhe punha a alma limpa. Outra das causas da Reforma está na vida
escandalosa de alguns papas, como o dissoluto Rodrigo Borgia (1431-1503), então
Papa Alexandre VI.
¾ Tio Marcos, eu gostaria de saber alguma coisa a
mais sobre a vida de Luthero! - falou Marquinho, que tinha uma coleguinha muito
simpática que era luterana.
Martinho Luthero nasceu em
Eislebeu, na Alemanha. Foi frade da Ordem de Santo Agostinho e professor de
Teologia na Universidade de Wittemberg. Era muito sensível e constantemente
perseguido pela ideia do pecado. Somente conseguiu a paz de espírito quando,
estudando a obra de Santo Agostinho, convenceu-se de que a chave da salvação
era a fé e a confiança em Cristo.
Deixem-me sair um pouco do
assunto Luthero para falar desse Santo Agostinho, que muita influência teve na
Igreja.
Santo Agostinho (354-430),
padre da Igreja Latina, manteve-se por longo tempo alheio à Igreja, embora
fosse filho de Santa Mônica. Buscava os prazeres carnais, levando uma vida
amorosa conturbada, entregando-se a prazeres que depois condenou. Convertido em
Milão, sob a influência do Bispo Ambrosio e pelas orações de sua mãe, foi
batizado em 387. Retornou para a África. Foi ordenado padre e feito depois
bispo de Hipona, em 398. Sua obra escrita é imensa, destacando-se a obra A
Cidade de Deus (413-427), que é o
tratado fundamental da teologia cristã da História. Santo Agostinho morreu no
início do cerco de Hipona pelos vândalos. Ficou célebre a sua frase: “A mulher
é a porta do diabo”.
O Papa Gregório IX, em 1223,
cheio de zelo, confiou o Tribunal da Inquisição somente aos religiosos da Ordem
de São Domingos. Esses frades, querendo evitar que se dissesse deles o que se
falava dos bispos acusados de serem demasiadamente benévolos, caíram no extremo
oposto, exercendo o seu cargo com muito rigor. Os dominicanos foram os
assassinos da Inquisição. Mais adiante, explicaremos por que essa ordem foi
criada.
Mas voltemos ao nosso assunto,
Luthero.
Como eu estava dizendo, em
1517, Luthero sublevou-se contra a “questão das indulgências”, contra o sistema
de “perdoar pecados” mediante pagamento, o que considerava um comércio torpe.
Atacou os dogmas e rituais da Igreja, o que levou o Papa Leão X a condenar esta
sua posição, exigindo retratação. Luthero, porém, como eu disse, queimou em
praça pública a bula condenatória em dezembro de 1520 e foi excomungado.
Começou então a Reforma.
Condenado como herege, mas
protegido pelo príncipe da Saxônia, refugiou-se, permanecendo oculto até a
morte do Papa Leão X. Nesse período, Luthero traduziu a Bíblia para o alemão
corrente, numa tradução clara e acessível a todos.
Em 1529, Carlos V, imperador
do Sacro Império Romano-Germânico, convocou uma assembléia política, a Dieta de
Spira. Nessa reunião, resolveram tolerar o Luteranismo onde já existisse;
contudo, decidiram evitar a sua propagação às novas cidades. Cinco príncipes e
catorze cidades protestaram contra essa decisão, daí a origem do nome
protestante.
A partir de 1555, o
Luteranismo foi estendido rapidamente da Alemanha para a Suécia, Noruega e
Dinamarca.
Na França, João Calvino aderiu
ao movimento reformista. Em 1533, foi perseguido por Francisco I, rei da França
(1515-1547), e fugiu para a Suíça. Em Basileia, redigiu uma síntese da sua
doutrina, publicada em 1536.
Nessa época, Calvino tinha 26
anos de idade e um caráter ríspido e despótico.
Calvino não permitia o menor
deslize na prática da sua doutrina. E os castigos eram duríssimos, que iam
desde beijar a terra publicamente até ser queimado vivo, como aconteceu com
Miguel Servet (1511-1553), médico e teólogo protestante espanhol que, em seu
livro Restabelecimento do
Cristianismo, negou a divindade de Jesus Cristo.
Essas idéias de Servet foram
consideradas inaceitáveis, tanto pelos católicos como pelos protestantes. Para
escapar da Inquisição espanhola, ele fugiu para Genebra, onde foi preso e
queimado vivo, depois de ter sido processado por Calvino.
Este, julgava-se delegado
divino na Terra. Dizia ele: “Recebo de Deus o que eu ensino, e Deus me outorgou
a graça de declarar o que é bom e o que é mau”. Calvino foi um grande fanático.
O Calvinismo é mais radical
que o Luteranismo. Para ele, a salvação é obtida só pela fé, e não pelas obras.
Preconiza que a fé é um dom concedido por Deus. Há homens que nasceram marcados
para a salvação, os eleitos, ou para a condenação, os réprobos. Esta é a
doutrina da predestinação absoluta, peculiar ao Calvinismo.
Já o Sr. Racional afirma que a
predestinação não existe. O nosso futuro dependerá somente do que fizermos do
nosso livre-arbítrio hoje. Daí a necessidade de aprendermos a pensar e a
raciocinar.
Os huguenotes da França, os
reformistas da Holanda, os presbiterianos da Escócia, os puritanos da
Inglaterra, eram todos calvinistas.
¾ Tio Marcos, agora há pouco o senhor falou em
Inquisição. O que vem a ser isso? - perguntou Solange.
A Inquisição foi um tribunal
eclesiástico, instituído pelo Papa Inocêncio III, encarregado de reprimir a
heresia.
As primeiras vítimas da
Inquisição foram os albigenses, uma seita religiosa que existiu no sul da
França no século XII. Foram todos dizimados. Até 1209, foram massacradas mais
de 50 mil pessoas.
Foi a perseguição aos
albigenses que deu margem à criação da Ordem Dominicana, cuja finalidade era
extirpar a heresia, objetivo que tão tristemente celebrizaria os padres dessa
ordem.
Era lúgubre a procissão que
conduzia os hereges à fogueira. Em Lisboa a procissão saía do paço onde estava
instalado o Tribunal do Santo Ofício. O cortejo era precedido por uma escolta
de arcabuzeiros que no ato da cremação servia para transportar a lenha.
Seguiam-se os padres dominicanos, carregando uma cruz com um Cristo e logo
atrás o estandarte vermelho de São Domingos, com a figura do santo empunhando
uma espada flamejante.
Ante os progressos da Reforma
Protestante, a Inquisição foi restaurada. A última vez que tinha sido acionada
foi no Languedoc, na França, na cruzada contra os albigenses.
Para combater a Reforma, a
reação católica foi a fundação da Companhia de Jesus e a reorganização da
Inquisição.
Em 1534, Ignacio de Loyola
fundou a Companhia de Jesus, aprovada pelo Papa Paulo III, para dedicar-se ao
ensino, tornado indispensável para combater a Reforma Protestante.
Loyola foi um fidalgo e
militar espanhol. Ferido em ação de guerra, durante a sua convalescença
despertou a sua vocação religiosa.
A Companhia de Jesus não foi
criada para a meditação, mas para a ação. Jesuítas, assim era chamados os
padres pertencentes à Companhia de Jesus. Foram escritores, professores e
missionários. Basta lembrar as notáveis figuras do Padre Antonio Vieira, Manoel
de Nóbrega e José de Anchieta, que foram exceções.
O objetivo primordial dos
jesuítas era firmar a crença católica em oposição aos protestantes, por meio da
pregação, da confissão e do magistério.
Na História, eles foram
sinônimos de indivíduos dissimulados, hipócritas e astuciosos.
Em Portugal e nas suas
colônias, contrariaram os interesses da Coroa. Foram banidos pelo Marquês de
Pombal. Pela lei de 3 de setembro de 1759, foram expulsos de Portugal e seus
domínios. Os jesuítas declarados rebeldes, traidores, adversários e agressores
foram exilados e tiveram os seus bens sequestrados. Muitos foram presos, e o
Padre Malagrida foi estrangulado e queimado em Lisboa.
Na Espanha, a Inquisição se
tornou um instrumento político para combater a Reforma Protestante. Ela foi
restaurada na sua forma primitiva, sob as ordens do papa.
Os inquisidores julgavam o
delito de heresia e a justiça Real encarregava-se do castigo, que era aplicado
com toda a crueldade.
O traço característico,
tenebroso deste terrível tribunal era o absoluto segredo da informação
judiciária.
Após uma pequena pausa,
enquanto tia Zinha servia café com pipocas, tio Marcos continuou.
Que diferença existia entre a
tolerância religiosa dos romanos e a tolerância religiosa católica?! As leis
romanas, nos primórdios do Cristianismo, eram muito mais humanas e tolerantes
que as leis católicas. O Panteon Romano admitia em seu interior os deuses de
todas as seitas que dentro do Império tivessem alguns seguidores.
Contam que, um dia,
solicitaram ao imperador Tibério licença para supliciar um cristão que havia
ofendido os deuses romanos. Tibério deu a seguinte resposta:
¾ Não. Deixai que os deuses defendam eles mesmos a sua
honra.
Tomás de Torquemada,
inquisidor espanhol (14201498), prior do convento dominicano de Segóvia,
tornou-se inquisidor-geral de toda a Península Ibérica em 1483. Sua intolerância
manifestou-se pela expulsão dos judeus e pela morte na fogueira de mais de 8
mil pessoas. Essas condenações ocorriam muitas vezes por fanatismo, outras por
razões políticas de interesse da Monarquia e outras por suspeitas de bruxaria.
A Inquisição dispunha de um
exército regular, bem armado, cuja função era procurar hereges protestantes,
judeus e cristãos-novos.
Em 1545, o Papa Paulo III
criou a Congregação da Inquisição, sob o nome de Santo Ofício.
Portugal adotou a Inquisição
em 1557, no reinado de D. João III, seguindo o sistema recebido da Espanha.
Quando os espanhóis foram à
América, levaram consigo a Inquisição. Portugal introduziu-a nas índias
Orientais.
Estima-se um total de
aproximadamente 186 mil o número de pessoas entre as assassinadas, torturadas,
condenadas à prisão perpétua e com os bens confiscados, que foram vítimas da
intolerância católica.
O Catolicismo em nome da
conquista para levar a luz do Evangelho aos gentios massacrou, a partir do
século XVI, 19 milhões de índios na América do Norte, América Central e América
do Sul.
Na Europa, os melhores
artesãos, os mais eminentes sábios, os comerciantes mais importantes, os
melhores médicos, todos procuravam fugir para não cair nas garras sanguinárias
dos Torquemadas.
Joana D'Arc, nascida em Domrémy
em 1412 e desencarnada em Rouen em 1431, foi a heroína francesa que venceu os
ingleses, quando estes procuravam conquistar a França. O rei da França, Carlos
VII, sentindo-se abandonado, pensava em refugiar-se na Escócia, quando o
aparecimento de Joana D'Arc lhe deu consciência da legitimidade do seu reinado.
Joana D'Arc, pela primeira vez na História, difundiu o sentimento nacional, o
patriotismo, o espírito de unidade da nação francesa. Este foi o ponto de
partida de uma difícil reconquista do reino da França aos ingleses. Mas essa
nova postura do povo incomodou muito o Vaticano, pois o clero francês havia
sido submetido ao rei.
Comandando as batalhas contra
os ingleses, Joana D'Arc quis socorrer Compiègne, cidade francesa às margens do
Rio Oise, cercada por tropas do Duque de Borgonha. Foi aprisionada em 1430 e
entregue aos ingleses. Após um processo vergonhoso, foi acusada de feitiçaria,
pois ouvia vozes, intuições do Astral Superior. Por isso, foi condenada à
fogueira pelo Tribunal da Inquisição, presidido pelo bispo de Beauvais,
morrendo na fogueira, na praça do velho mercado, na cidade de Rouen, em 30 de
maio de 1431. Tornou-se, mais tarde, uma heroína nacional. Os bonzos do
Vaticano a canonizaram em 1920.
Foi preciso que Napoleão
Bonaparte, o maior gênio militar de todos os tempos, comandante do grande
exército francês, entrasse vitoriosamente na Espanha, em 1808, para pôr termo
ao canibalismo clerical da Inquisição, vigente na Espanha e em toda Península
Ibérica até aquela época. Em 1834, a Rainha Maria Cristina de Bourbon expulsou
os inquisidores de todos os domínios da Espanha.
¾ Tio Marcos, por que tantos crimes foram praticados em nome de Jesus? -
perguntou intrigada Solange.
O Sr. Racional
explica bem esta questão. Foi pela existência do fanatismo. O fanatismo é
condenável pelo poder que tem de impedir que o raciocínio seja aplicado para
resolver situações difíceis. Com a razão colocada de lado, as pessoas partem
para soluções através da violência.
O fanatismo
religioso é o mais nocivo defeito da alma humana, pois, gerando ódios e
paixões, leva as criaturas a cometerem atos desumanos e crimes abomináveis. Na
história da humanidade, nunca existiram guerras tão bárbaras quanto as
religiosas, de tamanha crueldade e de tanto vandalismo como aquelas em que
participaram os cruzados, cujo ódio os levou a despedaçar mulheres, crianças e
velhos, todos indefesos e aterrorizados.
A pavorosa Noite
de São Bartolomeu, na França, ficou marcada com o sangue de milhares de
vítimas, assassinadas à traição, de emboscada, por serem huguenotes, assim
chamados os calvinistas.
Essa chacina foi iniciada em 24 de agosto de 1572.
Como as prisões também foram muitas, além do morticínio geral, as execuções
prolongaram-se pelos meses de setembro e outubro seguintes, em várias cidades,
nelas tendo tomado parte saliente, tristemente saliente, o clero e muitas
confrarias. Houve historiadores que calcularam em mais de 50 mil o número de
vítimas. Esse é um exemplo bem ilustrativo dos extremos a que o excessivo zelo
religioso pode levar o homem.
O homem, que é
por excelência um espírito criador, quando influenciado pela falsa idéia do
milagre, da fé, da ajuda divina, da proteção celestial, chega muitas vezes ao
fracasso, achando que foi porque Deus assim o quis. Mas não é assim. Fracassou
porque desconhece a existência em si mesmo de duas poderosas forças, as quais
na maioria das pessoas jazem adormecidas e ignoradas. Estas forças são o
pensamento e a vontade.
A força de
vontade é a mais poderosa alavanca de que dispõe o Espírito para chegar ao
triunfo, não existindo dificuldades, dentro das limitações humanas, que ela não
seja capaz de superar.
A força de
vontade não conhece a timidez, nem tampouco o desânimo, e tem o poder de
subjugar todas as fraquezas, todas as paixões, todos os vícios, no momento em
que o ser humano souber como utilizar-se conscientemente desse atributo.
Quando o espírito
encarnado for assaltado por um desejo inferior, se possuir força de vontade bem
desenvolvida, ela intervém, dominadoramente, vencendo esse desejo,
principalmente se o aliarmos à renúncia.
A força de
vontade bem desenvolvida é o resultado de uma série de sucessos alcançados com
esforço e decisão nas encarnações passadas. Desta forma, é uma conquista e um
grande recurso para vencermos as mais árduas pelejas da vida.
¾ A propósito, vocês conhecem a estória das duas moscas? - perguntou tio
Marcos.
¾ Não - responderam todos.
¾ Pois bem, vou contá-la.
Duas moscas, em
busca de alimentos, vieram voando e pousaram na borda de uma xícara contendo
leite frio. Ambas, de tanto ir e vir na borda, acabaram caindo no leite.
Uma delas,
desesperada, começou a gritar:
¾ Socorro, me ajudem! Estou me afogando! Meu Deus, valei-me!
E começou a rezar em
voz alta. Mas como rezas não ajudam ninguém em nada, foi se afundando,
afundando e morreu afogada.
A outra permaneceu
calma, boiando, e começou a raciocinar: “Com a minha força de vontade, eu vou
sair daqui”.
E começou a bater as
pernas incessantemente. Quando o cansaço chegava, ela pensava: “Não vou
desistir, eu vou sair dessa”. E continuava a bater as pernas no leite. Bateu
tanto que o leite foi endurecendo, virou manteiga e ela, galhardamente, apoiada
na manteiga, levantou vôo.
Também a força do
pensamento é um grande recurso que possuímos. Ela tem a grandeza do grau evolutivo
que o ser humano atingiu.
Desde que o Espírito
cresça na consciência de si mesmo e se identifique com as suas poderosas
faculdades latentes, encontrará na força do pensamento o instrumento seguro e
eficaz para a realização de todos os seus anseios e aspirações e saberá como
proteger a sua saúde física e mental.
O pensamento
vigoroso emana do espírito forte, adestrado, experiente. Em cada encarnação bem
aproveitada, trabalha ele conscientemente para melhorar ainda mais a sua
personalidade psíquica. E é na ordem deste progresso que crescem o poder do
pensamento e a capacidade de conceber, de criar e de realizar obras cada vez
mais importantes.
Tio Marcos parou,
olhou para o relógio e disse:
¾
Ainda temos tempo para eu contar uma pequena estória que revela o poder do
pensamento, na prática.
Numa região montanhosa do Canadá, uma empresa
construía uma usina hidroelétrica. Na região nevava muito e as máquinas do
canteiro de obras eram movidas por eletricidade, através de uma linha de
transmissão que vinha de uma subestação, distante vários quilômetros.
A empresa construtora estava
encontrando dificuldades para manter o programa de obras, porque a neve,
acumulando-se nos condutores da linha de transmissão, pesava muito e os rompia,
interrompendo o suprimento de energia elétrica, conseqüentemente paralisando as
obras.
Várias reuniões foram feitas para
que os técnicos encontrassem uma solução.
Houve quem sugerisse desativar a
rede aérea e instalar cabos elétricos em valas pelo chão. Essa solução era
economicamente inviável, porque os cabos elétricos custavam caríssimo, bem como
a instalação era onerosa.
Também houve quem sugerisse
diminuir as distâncias entre as torres de transmissão que sustentavam a rede
trifásica, colocando mais uma torre entre duas já existentes. Essa solução
também era inviável, pois a região era montanhosa e entre as duas torres
existiam vales profundos.
Sugeriram, ainda, substituir os
condutores por outros mais resistentes, com alma de aço, para que aguentassem,
desta forma, o peso do gelo. Solução também inviável por dois motivos: custavam
muito caro os novos condutores propostos e, pelo contrato, não teriam tempo
hábil para fazer a substituição.
Quando faziam uma pequena pausa
para tomar chá bem quente, pois estava fazendo muito frio, um jovem engenheiro
ainda estagiário sugeriu o seguinte:
¾ Considerando-se que a
meteorologia avisa com algumas horas de antecedência se vai ou não nevar, por
que não se coloca de prontidão um helicóptero, para quando a chuva ou a neve
começar o helicóptero levantar voo e fazer passagens rasantes sobre a linha de
transmissão, não deixando acumular água ou gelo nos condutores? Desta forma, o
vento das hélices do helicóptero não deixaria acumular gelo nas linhas.
Todos olharam com admiração para
o jovem e a aprovação da sua ideia foi por unanimidade.
A capacidade de usar o raciocínio
e a criatividade do rapaz resolveu o problema por um custo bem baixo,
considerando-se que o canteiro de obras era uma instalação provisória.
Tio Marcos
levantou-se e despediu-se dizendo:
¾
Amanhã falaremos sobre as nossas duas vidas. Boa noite.
12. As nossas duas vidas
Tio Marcos sentou-se, apanhou um cobertor dobrado
ao lado da sua poltrona e cobriu com ele as pernas, pois fazia frio e estava
chovendo. Depois, olhando para todas as crianças, iniciou.
A alma é o princípio espiritual do homem, oriunda do
Grande Foco, portanto inascível, imortal e independente do corpo físico. Não
possui realidade material ou física. É a sede dos pensamentos, dos afetos, dos
sentimentos, das paixões e do conhecimento.
Nos últimos anos do século XX, a alma acessível à
pesquisa científica de laboratório deixa de ser do “outro mundo” para se
integrar neste.
A sua relação com o corpo físico mostra que ela não
é sobrenatural, mas extrafísica, ou seja, apenas não sujeita às leis físicas.
A alma é uma entidade a que se atribui as
características essenciais à vida e ao pensamento. Manifesta-se para evoluir,
em mundos materializados como o planeta Terra, através da materialização de
longa duração, aproximadamente 80 anos, via útero. Também pode manifestar-se em
materializações de curta duração, utilizando para isso ectoplasma de médiuns de
efeitos físicos.
¾ Tio Marcos, o que é ectoplasma? Eu ainda não estudei
isso - perguntou Marquinho.
Em 1870, William Crooks (1832-1919), físico e
químico inglês de renome internacional, pelas várias descobertas que fez no
campo da Física, fazendo experiências com os médiuns Daniel Dunglas Home, Kate
Fox e Florence Cook, deu um impulso rigorosamente científico à Ciência Espírita.
William Crooks estudou as materializações, ficando célebres as materializações
do espírito de Katie King com a médium Florence Cook.
A materialização ou ectoplasmia se processa pela
condensação do ectoplasma que, conforme os ensinamentos do Dr. Gustave Geley
(médico francês), é uma substância amorfa, ora sólida, ora vaporosa,
transparente ou de cor branca leitosa, que os médiuns segregam pelos poros do
corpo e pela boca, nariz e ouvido. Os espíritos, geralmente do Astral Inferior,
possuem a faculdade de moldar o ectoplasma, produzindo objetos ou novas formas
com característicos anatômicos ou fisiológicos de órgãos do corpo humano,
iguais aos dos vivos.
William Crooks publicou várias obras relatando suas
pesquisas, destacando-se, entre elas, os livros Fatos Espíritas e Katie
King.
O barão prussiano Shrenk-Notzing mandou fazer em
laboratórios de Berlim e de Viena a análise química do ectoplasma. Essas
análises revelaram tratar-se de matéria orgânica, com muitas células
epiteliais, isto é, do tecido de revestimento da pele e das mucosas. Com isso,
ficou provado que o ectoplasma provinha realmente do organismo do médium.
Caberia aos russos, a partir de 1939, continuar esse
estudo utilizando câmaras kirlian, adaptadas a poderosos microscópios
eletrônicos. Essas experiências estão relatadas no livro Experiências
psíquicas atrás da Cortina de Ferro, de Sheila Ostrander e Lynn Schroeder,
da Editora Cultrix.
As máquinas kirlian são máquinas fotográficas que
tiram fotografias da aura humana.
¾ Tio Marcos, o senhor poderia falar um pouco mais
sobre a fotografia Kirlian? - pediu Marquinho.
Desde a Antiguidade, cerca de 3.000 a.C., os
artistas das civilizações da época desenhavam um halo de luz em volta dos seus
deuses e de pessoas moralmente evoluídas.
Na Idade Média, entre os anos 1000 e 1500, os
pintores desenhavam os santos da Igreja Católica com uma auréola, tal qual um
círculo dourado, envolvendo-lhes a cabeça.
Os egípcios, já em 3.000 a.C., afirmavam que os
homens possuíam um segundo corpo espiritual, denominado KA. Afirmavam que o KA
prendia-se ao corpo material por cordões de luz prateada. Após a morte do corpo
material, com a decomposição, lentamente estes cordões vão se desfazendo, até
libertar o corpo KA. Com a técnica do embalsamento, os egípcios impediam que o
corpo físico entrasse em decomposição, impedindo o rompimento desses cordões
fluídicos de luz prateada, ficando o KA preso indefinidamente ao corpo
embalsamado. Desta forma contrariavam a lei natural, razão pela qual, segundo
hipóteses de alguns estudiosos espiritualistas, foi banida do planeta Terra a
civilização egípcia, não restando dela nem a raça nem a língua.
Algumas seitas esotéricas, como a Teosofia, a Yoga,
o Ocultismo, a Maçonaria Filosófica, etc., afirmam que possuímos um segundo
corpo chamado corpo astral, significando corpo de luz.
Esse corpo de luz irradia uma luminosidade que
denominaram aura. Possuem aura os elementos minerais, as plantas, os animais e
o homem. No homem ela é uma luz que envolve a superfície do corpo numa
espessura de vinte centímetros.
As seitas espíritas dizem que possuímos um segundo
corpo, chamado perispírito. Quem criou essa terminologia foi Allan Kardec, em
1854. Kardec afirmava que o homem é constituído de três partes, a saber:
espírito (imaterial), corpo físico (material), e ligando o espírito ao corpo
físico, por laços, existe um corpo semi-material, ao qual deu o nome de
perispírito. Essa nova palavra surgiu da analogia entre a constituição do homem
e a constituição de um fruto. Envolvendo as sementes dos frutos há uma polpa,
chamada pela ciência botânica de perisperma. Como o perisperma envolve a
semente, também o perispírito envolve o espírito. Nesta analogia, a casca do
fruto representaria o corpo físico.
O corpo de cada pessoa possui aura específica. A luz
que essa aura irradia é a somatória das três auras: a aura do corpo material, a
aura do perispírito e a aura do espírito.
Com o advento do Espiritismo Científico,
desenvolvido por vários estudiosos do final do século passado e no início do
século XX, vários videntes passaram então a narrar a existência das auras das
pessoas, descrevendo as suas cores.
A partir de 1908, o Dr. Walter Kiler, em Londres,
descobriu que uma película de diacina, produto químico derivado do
carvão-de-pedra, era um estimulante da visão e era possível enxergar, através
dessa película, uma luz em volta das pessoas observadas.
Em 1939, na Rússia, o casal Kirlian descobriu como
fotografar a aura.
A fotografia kirlian é uma fotografia sem luz. A luz
é substituída por uma radiação eletromagnética, na faixa de 75 a 200 mil ciclos
por segundo. Portanto, é uma fotografia tirada com alta freqüência.
Opera-se da seguinte forma: coloca-se a mão, um dedo
ou uma folha de árvore sobre um filme colorido, numa câmara escura, e
dispara-se um fluxo de radiação de alta freqüência.
Revelado o filme, aparece, por exemplo, a figura da
mão, e saindo da ponta dos dedos uma efluviografia com diversos raios de luz
colorida de vários matizes.
Esta seria a fotografia da aura humana. Os
cientistas descobriram que a coloração e a forma dessas efluviografias
determinam o estado emocional e a saúde da criatura.
Para explicar as efluviografias, os cientistas
russos dizem que possuímos um corpo energético, equivalente ao corpo físico, e
deram a esse corpo o nome de corpo bioenergético ou corpo bioplasmático.
Essa descoberta propiciou a construção de
microscópios e também de máquinas filmadoras cinematográficas para fazer
pesquisas sobre o corpo bioenergético. Desde então, muita coisa descobriram, a
saber:
1. As doenças dos homens, como a dos animais e das
plantas, podem ser diagnosticadas primeiro no corpo bioenergético, através da
fotografia da aura.
2. Os estados de espírito como o ódio, o pessimismo,
a infelicidade, os sofrimentos, aparecem com efluviografias escuras, sem brilho,
puxadas para a cor marrom lodosa e de formatos irregulares.
3. A felicidade, o otimismo, aparecem como
efluviografias lindamente coloridas, luminosas, regulares e fulgurantes. As
filmadoras kirlian revelaram que, quando duas criaturas humanas simpáticas
entre si se encontram, suas auras se fundem, formando um ovoide brilhante,
abrangendo as duas pessoas. Quando se antipatizam, as auras se repelem.
Em Curitiba, o médico psiquiatra Dr. Alexandre Sech
é um grande pesquisador das efluviografias e do corpo bioenergético. Em algumas
conferências que ele proferiu em Santos, afirmou que a aura de um espírito
desencarnado pode causar interferência na aura de um encarnado. Em casos de
obsessão essa interferência é tão grande que chega a predominar na efluviografia
do encarnado somente a aura dominadora do obsessor.
Parece-nos que, em futuro próximo, a efluviografia
será mais um importante recurso ao alcance da Medicina para fazer diagnóstico
de doenças, como o são atualmente a radiografia, a tomografia e a ultra-sonografia.
Tio Marcos fez uma pausa, olhou o relógio de
pulso e disse:
¾ Agora, vamos continuar o nosso assunto, quando
discorríamos sobre o ectoplasma.
Na pesquisa dos cientistas russos, o ectoplasma
revelou-se como um fluxo de protoplasma, constituído de partículas atômicas,
elétrons, prótons ionizados e outras partículas ainda não identificadas.
Portanto, a sua constituição é de natureza material.
Segundo os cientistas russos, o corpo astral é tal
qual um organismo unificado e apresenta-se resplandecente como um céu
estrelado. A luminosidade ou a luz descrita pelos médiuns videntes tem agora a
sua comprovação científica.
Mas voltando ao assunto, alma, para continuarmos é
muito importante aceitar a reencarnação do Espírito que, pode-se dizer, foi
provada pelas pesquisas do Prof. Ian Stevenson da Universidade de Virginia, nos
Estados Unidos, conforme publicou no seu livro 20 Casos Sugestivos de Reencarnação, Editora Edicel.
São também importantes para comprovar a teoria da
reencarnação as pesquisas sobre as comunicações de espíritos, obtidas em
gravação de fitas magnéticas, sem a intermediação de médiuns, iniciadas por
Friederich Juraenson na Suécia, por Konstantin Randive na Alemanha e pelo Dr.
Giuseppe Crosa em Gênova, na Itália, fundando a Transcomunicação.
Não podemos deixar de mencionar novamente a
descoberta do corpo bioplasmático do homem, cuja existência foi comprovada
pelos cientistas soviéticos, estudando a fotografia kirlian. Eles descobriram
que o corpo bioplasmático do homem retira-se do respectivo corpo físico no
momento da morte. Este corpo, descoberto pelos cientistas russos, é o mesmo
corpo astral, isto é, o intermediário que liga o espírito ao corpo físico e,
portanto, o que o modela e configura.
Em face desses fatos, existe no mundo científico uma
tendência para a aceitação da tese do Prof. Joseph Banks Rhine, da Duke
University dos Estados Unidos, a qual defende a sobrevivência do homem após a
morte física e a possibilidade de sua ação sobre a matéria.
Outros cientistas de renome internacional, sérios e
altamente competentes, chegaram a sustentar, com base nas suas investigações, a
sobrevivência da mente após a morte física.
O Prof. Whately Carington, da Universidade de
Cambridge, fazendo experiências de telepatia com a transmissão de desenhos,
forneceu as primeiras provas científicas da precognição, isto é, de se poder
conhecer algo antes de acontecer. Ele chegou a formular uma teoria da
continuação da existência após a morte.
O Prof. Harry, catedrático de Lógica da Universidade
de Oxford, sustenta a tese da continuação da vida post-mortem. afirmando que a
mente humana sobrevive à morte do corpo e tem o mesmo poder da mente do homem
vivo, de influir sobre outras mentes e sobre o mundo material. O parecer deste
homem da ciência comprova a existência de obsessores, conforme os casos
tratados pelo Racionalismo Cristão.
O Prof. Rhine, que já mencionamos aqui, no seu livro
O Novo Mundo da Mente, reconhece
que nas experiências estudadas por sua esposa, a Profa. Louise Rhine, também na
Duke University, tratou ela de casos que sugerem a participação de uma entidade
extracorpórea.
As pesquisas científicas de Rhine seguem um curso
ascendente. Na primeira fase dos seus estudos provou que os fatos espíritas
“paranormais” existem. Em seguida provou que a mente não é física e age por
vias extrafísicas sobre a matéria. Em continuação, os seus seguidores provarão
a sobrevivência do Espírito, satisfazendo os métodos da ciência oficial.
Eu quero lembrar a vocês que até agora os homens de
ciência nada provaram contra a Ciência Espírita. Pelo contrário, somente têm
comprovado os seus postulados, os quais vêm sendo anunciados desde a segunda
metade do século XIX, por vários cientistas como William Crooks (1832-1919),
Cezar Lombroso (1835-1909), Pinheiro Guedes (1842-1909), Charles Richet
(1850-1935), Sir Oliver Lodge (1851-1940) e muitos outros.
O médico Dr. Pinheiro Guedes escreveu no seu livro Ciência
Espírita, publicado pelo Racionalismo Cristão, que: “Por demonstração
analítica, o Espiritismo é uma ciência. É ciência de observação, a qual também
recorre ao método experimental; prova a existência da alma e que é ela quem
dirige o corpo, quem o anima e o domina; que o corpo é para a alma o que a
roupa é para o corpo, um agasalho, um abrigo contra as intempéries”.
Como a alma não tem os limites exteriores da matéria
de que é constituído o corpo e que confere a este uma configuração, um aspecto
particular, ela apresenta-se com a figura que lhe aprouver. Os espíritos do
Astral Inferior geralmente são vistos pelos médiuns videntes como pessoas
escuras, encapuzadas, sem mostrar o rosto ou, então, como bolas negras,
conforme já nos referimos.
Estes espíritos estão por toda parte, aguardando a
oportunidade de se associar àqueles cujos pensamentos e sentimentos se afinem
com os seus, geralmente concernentes aos vícios, maledicência, sensualismo,
fúria, usura e outros.
São esses espíritos que se manifestam, a qualquer
hora, nas reuniões espíritas feitas em casas de família ou nos centros
espíritas, tendas de umbanda, candomblé, ou mesmo na rua, num ônibus, se o
médium não tiver controle. Desta forma, basta uma vacilada que, pela Lei de
Atração, eles se apresentam às dezenas. São todos obsessores e pululam nos
círculos esotéricos, reuniões teosóficas, lojas rosa-cruz, templos protestantes,
centros kardecistas, reuniões carismáticas católicas; assessoram cartomantes,
astrólogos, grafólogos, jogadores de búzios, assembleias sindicais, comícios e
reuniões políticas.
Organizados em falanges, muitos ditam livros, fundam
doutrinas, criam seitas e sistemas religiosos, cultuando e defendendo vivamente
a sua “verdade”, que agrada o seu paladar psíquico, achando impura e
dissociativa a “verdade” que não é da sua simpatia.
As religiões ou os sistemas que se julgam certos
estão em guerra com os sistemas que julgam errados e a confusão aumenta porque
todos apregoam que o seu sistema é o melhor e o único detentor da última
verdade, quando não da verdade integral.
Isto ocorre porque estes espíritos do Astral
Inferior não precisam de corrente fluídica pura para se manifestar. Basta a
faculdade mediúnica do sensitivo, independentemente da sua moralidade, para lhe
tomarem o controle da mente. Todos esses espíritos trazem os seus corpos
astrais impregnados de fluidos maléficos, provenientes das regiões astrais onde
vivem. Portanto, o relacionamento com eles só trará malefícios.
Essa foi a grande descoberta de Luiz de Mattos e de
Luiz Alves Thomaz, fazendo pesquisas no Centro Amor e Caridade, em Santos, em
1910.
Os espíritos superiores, apoiados numa forte
corrente fluídica, mantida por dezoito médiuns honrados e de moral elevada,
apresentam-se aos videntes como grandes focos de luz colorida de elevada
intensidade, geralmente com formato geométrico.
À medida que esses espíritos vão alcançando graus
evolutivos mais elevados, opera-se neles a mudança na cor e no aroma que lhes
são próprios, em virtude do novo estado moral alcançado.
Esses espíritos somente conseguem chegar até nós
atraídos magneticamente por forte corrente fluídica, conforme acima nos referimos,
obedecendo à rígida disciplina prescrita pelo Racionalismo Cristão, sendo tudo
supervisionado pelo Presidente Astral do Racionalismo Cristão na Terra, o
imortal Antonio do Nascimento Cottas, pelos presidentes astrais das Filiais do
Centro Redentor e por um exército de espíritos auxiliares dos mundos opacos,
verdadeiros soldados que preparam o terreno para os espíritos do Astral
Superior se manifestarem, ainda assim por poucos minutos, oito ou dez no
máximo.
Nas sessões do Racionalismo Cristão, nos dez minutos
iniciais, quando se processa a limpeza psíquica, com o auxílio das correntes
fluídicas, como antes já explicamos, os espíritos do Astral Superior penetram
na atmosfera da Terra e coarctam o livre-arbítrio dos espíritos desencarnados
presentes, arrebatam os obsessores de toda espécie, dos mais pacatos aos mais
agressivos, e os transportam para os seus mundos de estágio.
¾ Tio Marcos, o que é obsessão? - perguntou Serginho.
Existem dois sentidos para a palavra obsessão.
O primeiro sentido diz respeito à neurose obsessiva,
que pertence ao campo da Psicanálise.
O segundo diz respeito à Ciência Espírita e foi
muito estudado pelo Racionalismo Cristão.
Vamos falar sobre o que sejam esses dois casos.
A Psicanálise preocupa-se com a análise da alma,
denominada psique. É uma ciência que estuda a alma com enfoque materialista.
A Ciência Espírita se preocupa com as provas da
existência e da sobrevivência da alma, e com o futuro que a espera, de acordo
com a sua trajetória evolutiva. Estuda a alma com enfoque espiritualista.
A neurose obsessiva foi estudada pelo Dr. Sigmund
Freud (1356-1939), médico austríaco que desenvolveu a Teoria Psicanalítica. No
início do desenvolvimento dessa teoria, Freud foi muito combatido na Alemanha.
Em 1933, os nazistas queimaram uma pilha de livros de Freud, em Berlim. Ele
comentou o fato:
¾ É um progresso o
que está se passando. Na Idade Média, eles teriam jogado a mim na fogueira.
Hoje em dia, contentam-se em queimar os meus livros.
Foi Freud quem revelou ao mundo o que existe nos
porões da nossa consciência.
Vejamos os conceitos principais da sua teoria
psicanalítica.
A mente é constituída de consciente, inconsciente e
pré-consciente.
O consciente é somente uma pequena parte da mente.
Contém tudo o que sabemos num dado momento.
No inconsciente estão os elementos instintivos, que
nunca foram conscientes e que não são acessíveis à consciência. Além disso, há
material que foi excluído da consciência, censurado e reprimido. Este material
não é esquecido nem perdido; contudo, não é permitido que seja lembrado. Os
processos mentais inconscientes não são influenciados pelo tempo. Isto
significa que é um arquivo o qual não é ordenado sequencialmente, obedecendo a
uma ordem de tempo. O tempo de modo algum os altera. A ideia de tempo não lhes
pode ser aplicada.
A maior parte da consciência é inconsciente. Ali
estão os principais determinantes da personalidade: as fontes de energia
psíquica e os instintos.
O pré-consciente é uma parte do inconsciente, mas,
uma parte que pode tornar-se consciente com facilidade. As porções da memória
que são facilmente recordadas fazem parte do pré-consciente. Por exemplo: tudo
o que fizemos ontem, o nosso segundo nome, a data do nascimento, etc.
Isto explicado, podemos dizer que muitas
dificuldades com as quais lidamos no dia-a-dia têm origem nos primeiros anos da
nossa infância.
Deve-se sempre ensinar as criaturas a enfrentar os
problemas, principalmente aqueles que possam induzir em suas mentes
auto-imagens negativas.
As crianças são extremamente vulneráveis durante os
primeiros anos de vida, pois os padrões de suas ondas cerebrais são similares à
hipnose, tornando-as suscetíveis à programação, sem as funções da lógica e da
razão.
Se chamarmos freqüentemente uma criança de burra e a
acusarmos de não conseguir aprender, mesmo tendo capacidade para tornar-se um
futuro Einstein, seu desenvolvimento intelectual será abaixo da média.
O subconsciente será convencido através da
repetição. Introjetamos, desta forma, uma imagem negativa na criança,
geralmente produto de coisas impensadas que se diz à criança, nos momentos de
raiva, de impaciência, como, por exemplo: “você é desajeitada (ou lerda,
briguenta, gorda, magra, burra, etc)”, “não consegue fazer nada direito”,
“nunca será alguém”, “nunca conseguirá nada”, “é fraca, ruim”, etc., etc.
A criança recebe programação similar nos comerciais
e nos filmes da TV.
Na TV, ao invés de se enfatizarem valores como
caráter, moral, estudo, trabalho ou tipo de personalidade desejados, mostra-se
à criança que ela obterá sucesso, prazer, será amada e tudo estará bem no seu
mundo se usar determinado vestuário ou se alimentar com as guloseimas
anunciadas. Semelhante processo se dá com filmes cujas estórias ressaltam ações
de roubo, assassinato, vícios, ensinando o desrespeito total à lei e à ordem,
com mocinhos solucionando tudo, no fim, através da agressividade e da
violência.
Não é de se admirar que existam tantos jovens sem
objetivos, frustrados e infelizes no mundo.
Mas continuemos com o nosso assunto: Freud definiu
ainda instintos, libido e energia agressiva.
Os instintos são pressões que dirigem o organismo
para fins particulares. São forças propulsoras que incitam as pessoas à ação.
Cada instinto tem uma fonte de energia em separado.
Libido, palavra latina que significa desejo, anseio,
é a energia dos instintos de vida, isto é, de toda conduta ativa e criadora do
homem. Explica os fenômenos psicossexuais.
A energia agressiva é a energia do instinto de
agressão ou da morte.
Esse modelo psíquico que acabei de apresentar foi
usado por Freud até 1920, quando então publicou o livro Além do Princípio do
Prazer, no qual expôs uma importante mudança no seu pensamento. Introduziu
a noção de compulsão da morte, bem como um novo modelo do aparelho psíquico,
formado por id, ego e superego.
O id é o reservatório da energia de toda a
personalidade. É a parte mais profunda da personalidade. No id estão os
impulsos dominados pelo Princípio do Prazer e pelos desejos impulsivos.
As leis lógicas do pensamento não se aplicam ao id.
Os conteúdos do id são quase todos inconscientes. Eles incluem configurações
mentais que nunca se tornaram conscientes. O id pode ser comparado a um rei,
cujo poder e autoridade são totais e criadores, mas depende dos outros para
distribuir e usar esse poder. Um pensamento ou uma lembrança, excluídos da
consciência, são localizados no porão do id e são capazes de influenciar o
comportamento mental de uma pessoa. Pensamentos esquecidos conservam o poder de
agir com a mesma intensidade, mas sem o controle do consciente.
¾ Tio Marcos, pelo que o senhor acabou de explicar,
nós somos verdadeiros fantoches do nosso id, isto é, iguais àqueles bonecos
movimentados por cordões, não é? - comentou Silvinho.
Ser ou não títere do nosso id depende do nosso
valor. O Sr. Racional ensina que: “O Valor do indivíduo principia onde começa o
domínio de si mesmo”. A qualidade essencial, necessária ao desenvolvimento do
valor, consiste em saber controlar os nervos e os pensamentos, subjugando os
ímpetos e as inclinações condenáveis para que o raciocínio possa apontar-lhes
as melhores soluções.
Fortalecer os atributos de valor para resistir aos
procedimentos indignos é uma necessidade imperiosa e inabalável.
Quem tem valor, tem coragem e também paciência, isto
é, possui a virtude de suportar os infortúnios, com perseverança tranquila.
Conta-se que, um dia, três intelectuais discutiam
diante do Conde de Chatham, célebre estadista inglês do século XVIII, a questão
de saber qual era a qualidade mais necessária a um primeiro ministro.
Um dos interlocutores disse que era a eloquência; o
outro, a ciência; e o terceiro, o trabalho.
¾ Não - disse o Conde Chatham. - É a paciência.
Assim se manifestou por saber, por experiência
própria, que a paciência implica no domínio de si mesmo, condição
imprescindível para vencer as dificuldades.
Antonio do Nascimento Cottas (1892-1983), Presidente
do Racionalismo Cristão em continuação a Luiz de Mattos, escreveu no livro Cartas
Doutrinárias de 1949 a 1952, publicado em 1956, na página 85, a seguinte
orientação: “A confiança nas Forças Superiores origina paz de espírito. Estamos
no mundo Terra para lutar e trabalhar sem revolta, todos temos horas boas e
horas más, mas quando se dá valor ao pensamento e se sabe aquilo que se quer,
nunca se deseja o impossível, vai-se conseguindo transpor as barreiras da vida,
aumentando sempre as forças espirituais para palmilhar com segurança a estrada
que nos há de levar ao fim da jornada”.
Voltando ao nosso assunto, o ego é a parte da
personalidade que está em contato com a realidade externa. Desenvolve-se a
partir do id, à medida que o bebê torna-se cônscio de sua própria identidade.
Como a casca de uma árvore, o ego protege o id. O ego tem a tarefa de garantir
a saúde, a segurança e a sanidade mental.
O superego desenvolve-se a partir do ego. Atua como
juiz ou censor sobre a atividade e os pensamentos do ego. O superego é o
depósito dos códigos morais e dos modelos de conduta. O superego é responsável
pelas seguintes funções: consciência, auto-observação e formação de ideais.
Uma vez explicados estes conceitos básicos, podemos
dizer que a neurose obsessiva é um distúrbio proveniente de desejos reprimidos
ou de ansiedades neuróticas referentes à força das paixões do id.
Em 1933, num de seus livros, Freud escreveu o
seguinte: “E aqui gostaria de acrescentar que não penso poderem nossas curas
competir com as que se verificam em Lourdes. São muito mais numerosas as
pessoas que creem nos milagres da Santa Virgem do que aquelas que acreditam na
existência do inconsciente”.
Freud escreveu exaustivamente. Sua obra compreende
24 títulos.
Em 1938, os alemães ocuparam a Áustria e permitiram
que Freud fosse para Londres. Um ano depois, morreu de câncer na boca e na
mandíbula.
O jornal O Globo de 29 de junho de 1959
publicou pronunciamento do Dr. Leônidas Martins, diretor da Casa Humaitá, sobre
as doenças mentais: “Os neuróticos ainda constituem um grande problema para a
Psiquiatria. A Psicanálise tem tentado resolver o caso das neuroses, porém, na
minha opinião, não tem adiantado grande coisa, porque, além de outros fatores,
é um tratamento moroso e dispendioso”.
Na Suécia, numa assembléia de médicos, o Prof. Dr.
Odenkrantz propôs aos médicos psiquiatras que procurassem curar os seus loucos
pelos processos espíritas, lembrando o êxito que vinha tendo com tais procedimentos
o famoso médico Dr. Wickland.
Com essa proposta, se ainda existissem as fogueiras
da Inquisição, ele na oportunidade teria sido queimado.
A imprensa caiu matando e o Dr. Odenkrantz foi tido
como louco.
Aos protestos veementes de seus colegas, ele
respondeu que o Espiritismo Científico curava e era mais humano.
Foi o que provaram Luiz de Mattos e Luiz Alves
Thomaz, fundando em 1912 dois hospitais para curar loucos, um em Santos e o
outro na cidade do Rio de Janeiro.
Luiz de Mattos, comerciante muito bem sucedido na
cidade de Santos, a partir de 1910 começou uma larga campanha de divulgação
pela imprensa do que era a Doutrina Racionalista Cristã.
Jornalista brilhante, escreveu uma série de artigos
em que explicava que a loucura, assim como muitas outras enfermidades julgadas
incuráveis pela classe médica, era curável com o tratamento preconizado pelo
Racionalismo Cristão, na cidade de Santos.
Luiz Alves Thomaz, no Centro Espírita Amor e
Caridade, adido ao hospital em Santos, e Luiz de Mattos, presidindo o Centro
Redentor e o hospital no Rio de Janeiro, ambos desde 1912, conhecendo que os
espíritos do Astral Superior, pela ação fluídica, acabavam com as obsessões e
com a loucura, afastando espíritos obsessores e destruindo os miasmas
deletérios que envolviam os enfermos, começaram a curar loucos, cegos,
paralíticos, tuberculosos e enfermos de doenças várias, que a medicina oficial
não conseguia curar, porque desconhecia que a causa da doença era um agente
desencarnado.
Estes hospitais da Doutrina Racionalista Cristã
funcionaram até 1915, quando foram desativados, pois, apesar de Luiz de Mattos
ter convidado os médicos e o governo a comparecer para estudar e concorrer com
os seus conhecimentos para esclarecer as curas excepcionais de loucos que se produziam
em grande escala, infelizmente esses fatos não despertaram interesse da ciência
médica da época.
Desta forma, à luz da Doutrina Racionalista Cristã,
o segundo sentido da palavra obsessão é o seguinte: a obsessão é uma
enfermidade psíquica resultante do mau uso do livre-arbítrio, da vontade
mal-educada, das inclinações sensualistas, do descontrole nos atos cotidianos,
do nervosismo desenfreado, dos desejos que não se podem vencer, da ambição
desmedida, do temperamento voluntarioso, da falta de disciplina, do
desconhecimento ou da inobservância dos ensinamentos do Racionalismo Cristão.
A obsessão é também um estado da alma devido à ação
mais ou menos direta de espíritos desencarnados ou mesmo de pessoas encarnadas,
influindo sobre as criaturas de diversos modos, desde a simples sugestão
insistente, perene, tenaz, até a ação discreta, enérgica, violenta, provocando
os chamados ataques.
O espírito obsessor age movido sob o influxo do amor
ou do ódio. Dominando a sua paixão, ele procura captar a confiança da sua
vítima. Sua ação é intencionalmente demorada, branda, incessante, delicada. Se,
porém, a paixão o domina, a agressão é violenta e brutal.
¾ Tio Marcos, como se processa a obsessão espiritual?
- perguntou Marquinho.
Tio Marcos, olhando para todos, disse:
¾ Prestem atenção!
Foi necessário que primeiro fosse aberta uma brecha
intelectual, com o poder da Ciência, para romper a golpes de descobertas e
invenções o pensamento religioso fanático existente no século XIX, para que os
homens pudessem entender o fato espírita, fazendo analogia desses fatos com as
coisas que os inventores e pesquisadores descobriram mediante observação,
dedução e principalmente pelo método experimental de Galileu.
Para vocês compreenderem bem como se processa a
obsessão, eu vou discorrer, antes, sobre como foi descoberta a telegrafia sem
fio, pois o espírito obsessor e o obsedado se comunicam usando uma espécie de
sintonia, tal qual numa comunicação de rádio, quando ambos atuam
simultaneamente como transmissor e receptor.
Em 1887, o físico alemão Heinrich Hertz (1857-1894),
estudando os campos magnéticos criados por uma corrente elétrica ao atravessar
um condutor, verificou que se essa corrente fosse alternada de alta freqüência,
os campos magnéticos circulares que normalmente se produzem ao longo do
condutor (como ondas formadas por uma pedra que cai num lago de águas paradas)
irradiam-se por todo o espaço que circunscreve o fio. Essa propagação também é
em ondas circulares, tal qual as ondas na água formadas pela queda da pedra, mas
percorrendo o espaço com a velocidade da luz.
Estes campos de alta freqüência descobertos por
Hertz foram inicialmente chamados de ondas sem fio e posteriormente de ondas
hertzianas, em homenagem ao seu descobridor.
Em 1890, o físico francês Edouard Branly (1844-1940)
inventou um instrumento para indicar a presença das ondas hertzianas no espaço
ambiente, cujo instrumento foi chamado coesor a limalha, o qual mais tarde foi
aperfeiçoado, substituindo-se a limalha por um cristal de sulfeto de chumbo
chamado galena.
Em 1895, Aleksander Popov (1859-1906), engenheiro
russo, criou a antena radielétrica e no ano seguinte construiu o primeiro
receptor de ondas eletromagnéticas.
Neste mesmo ano de 1895, o físico italiano Guglieno
Marconi (1847-1937), juntando o oscilador de alta freqüência de Hertz, mais o
coesor de Branly, mais a antena de Popov, conseguiu em Bolonha, Itália,
transmitir e receber sinais eletromagnéticos, a uma distância de 1600 metros.
Estava inventado o telégrafo sem fio.
Em 1897, o físico inglês Sir Oliver Lodge
(1851-1940), estudando as ondas hertzianas, descobriu que um oscilador de alta
freqüência, funcionando com um capacitor variável, fazia com que as ondas
hertzianas existentes no espaço pudessem ser sintonizadas, isto é, fluir
livremente por este circuito, quando oscilava na mesma freqüência das ondas
hertzianas recebidas. Com esta descoberta, vários transmissores de ondas
hertzianas poderiam funcionar simultaneamente, desde que possuíssem frequências
diferentes, sem causar interferências nas comunicações. Com essa invenção,
Oliver Lodge deu grande impulso à telegrafia sem fio. É esta invenção que
permite mudarmos as estações de rádio e os canais da TV.
Em 1899, Marconi estabelece comunicação pela
telegrafia sem fio, através do Canal da Mancha e depois, em 1901, através do
Oceano Atlântico.
Em 12 de outubro de 1931, às 19 horas, por ocasião
das festividades da inauguração do Cristo Redentor do Rio de Janeiro, erigido
no Corcovado, Marconi, de Roma, acionou pela telegrafia sem fio a iluminação desse
monumento.
Mas, voltando ao nosso assunto, obsessão, quando uma
criatura encarnada emite, ou melhor, irradia pensamentos de ódio, cobiça,
inveja, maledicência, revolta, etc., da mesma forma que um aparelho de rádio,
sintoniza-se com espíritos do Astral Inferior, passando a receber desses
espíritos fluidos deletérios e intuições perniciosas e imorais, passando com o
tempo a ser totalmente avassalada, num processo idêntico à simbiose.
Vocês sabem o que é simbiose? Vou lhes recordar.
Em Botânica, define-se simbiose como a associação de
duas plantas, na qual ambos organismos interagem entre si, ainda que em
proporções diversas. É o caso dos líquenes. O líquen é um vegetal formado pela
íntima associação de uma alga verde ou azul com um fungo superior. As algas
ficam dentro do talo, formando uma camada verde. Os líquenes são muitos usados
pela indústria farmacêutica para a produção de antibiótico.
Portanto, pensar é o mesmo que atrair, é o mesmo que
sintonizar pensamentos iguais, atraindo espíritos do Astral Superior ou do
Astral Inferior, como se os espíritos encarnados e desencarnados fossem
verdadeiros transmissores e receptores de rádio, funcionando simultaneamente.
Uma vez atraído o espírito do Astral Inferior, começa a ocorrer uma espécie de
simbiose fluídica, com muito prejuízo para o encarnado. Um exemplo disto são os
hospitais psiquiátricos e hospícios, repletos de obsedados.
Mas retornemos ao nosso assunto: quando nós
estudamos a colonização do Brasil, vimos que a sua população encarnada é
constituída por brancos, índios (vermelhos), negros e seus descendentes.
A heterogeneidade existente na sociedade brasileira,
tanto quanto em relação aos grupos étnicos como aos respectivos níveis
culturais, também existe entre os espíritos que habitam a atmosfera astral do
Brasil. Por serem invisíveis e espargirem fluidos deletérios, próprios dos
ambientes astrais em que vivem, são muito nocivos aos homens.
Esses espíritos, apesar de desencarnados, continuam
com os mesmos conhecimentos que possuíam antes de desencarnar, com os mesmos
vícios, os mesmos defeitos morais e a mesma religião. O estado de desencarnado
não os melhora em nada. Muitos continuam sendo fanáticos rezadores das linhas
de umbanda, candomblé, católica, espírita kardecista, ocultista, evangélicos, protestantes,
etc.
A perda do corpo carnal não lhes proporcionou nenhum
adiantamento moral, nem tampouco os conduziu aos seus respectivos mundos de
estágio.
Ficaram aqui na atmosfera da Terra por ignorância,
por desconhecerem a vida fora da matéria e não saberem como viver em espírito.
Tudo nós temos que aprender com esforço próprio. Nada nos cai do céu, inclusive
como viver a vida de espírito correspondente ao nosso grau evolutivo. E como
desconhecem que temos outra vida, pensando que só existe a realidade física,
desconhecem até que desencarnaram.
Para que isso não aconteça conosco quando
desencarnarmos, precisamos aprender tudo o que for possível sobre a vida
espiritual, bem como viver nos mundos espirituais de estágio.
Devemos nos conduzir como se nos preparássemos para
morar em um país cuja língua, costumes e moda fossem desconhecidos por nós.
Muitos encarnados, por desconhecerem a existência da
espiritualidade superior, praticam um espiritismo grosseiro, difundido por
pessoas incultas, semiletradas, que conseguem ludibriar as pessoas de destaque
social, muitas mesmo portadoras de títulos universitários. Essas pessoas
frequentam sessões em casa de família, ou vão a terreiros, lugares estes que
são verdadeiras pocilgas espirituais, onde, muitas vezes, para satisfazer a
animalidade de espíritos obsessores, habitantes das regiões do Astral Inferior,
são sacrificados bodes, patos, galinhas, todos de cor preta, para que os
espíritos ignorantes, quais vampiros, possam sorver a energia vital do sangue
desses animais. Daí o nome de magia negra.
Não compreendemos como pessoas decentes, de destaque
social, podem se enganar e se misturar aos praticantes de magia negra, achando
que tal miséria lhes poderá trazer sorte, resolver problemas financeiros e
amorosos, vencer inimigos, conquistar a mulher do próximo e até acertar na
loteria.
Todas essas pessoas são espiritualmente cegas,
instrumentos dóceis de espíritos do Astral Inferior, de entidades zombeteiras,
gozadoras, galhofeiras, que se aproveitam da ignorância de assistentes, de
médiuns e de donos de centro para ludibriar os que levam esses trabalhos a
sério. Muitos, apesar de possuir estudo, não têm luz. A luz é um estado de
consciência que pode ser alcançado quando irradiamos regularmente aos espíritos
superiores, nas sessões das Casas Racionalistas Cristãs ou durante as sessões
de limpeza psíquica praticadas no lar. Com a luz, teremos condições de ampliar
nosso entendimento, nosso raciocínio e de compreender claramente a Verdade e as
intuições provenientes das Forças Superiores.
Consciente ou inconscientemente, esses seguidores do
baixo espiritismo, além de muito prejudicarem a si próprios frequentando esses
centros, correm o risco de ficarem obsedados, loucos e até com a vida material
e financeira arruinada, contribuem também para a proliferação dessa chaga
social, que se vai estendendo cada vez mais, por toda parte, com graves riscos
para a sanidade mental das criaturas encarnadas.
Todos aqui conhecem a estória daquele médium
espírita que atuava aqui perto, na cidade de Palmelo-GO. Era um médium de
efeitos físicos, semiletrado, que talvez nunca tenha lido Kardec. Fazia
operações cobrando por esse serviço. Ficou riquíssimo. Os médicos da região o
chamavam de Antonio Capador. Gostava muito de beber pelos bares das cidades vizinhas
a Palmelo, e também de pescar. Certa ocasião, indo pescar num lago de uma das
suas fazendas, depois de ter tomado uns goles, eis que surge um enxame de
abelhas africanas, que o atacou na canoa. Levou instantaneamente mais de 2 mil
picadas. Quando o socorreram estava morto, pois era alérgico a picadas de
abelha e não sabia.
Por isso, caros sobrinhos, vocês precisam, nesta
encarnação, estudar a vida fora da matéria. Precisam se esclarecer, pois
somente serão vítimas dessas misérias as pessoas fracas e as que tiverem medo
dessa marginalidade astral, as que forem supersticiosas, religiosas, fanáticas,
revoltadas, as nervosas que se irritam por qualquer coisa, as que maldizem de
tudo e de todos, as gozadoras da vida, que como suínos vivem para a engorda,
para a satisfação e o abuso de todos os prazeres, não querendo ter a menor
noção do que sejam respeito ao próximo e moralidade.
Tio Marcos olhou para o seu relógio e disse:
¾ Para encerrar o assunto desta noite, vou falar um pouco
sobre as adversidades, sobre os reveses da vida, principalmente para vocês que
estão saindo da infância e entrando na mocidade.
O Espírito, quando encarnado, passa por quatro fases
distintas da vida e em cada uma colherá valiosos ensinamentos.
Estas fases são a infância, a mocidade, a madureza e
a velhice. Em cada fase, tem deveres a cumprir, trabalhos a realizar e
obrigações a satisfazer.
A vida durante essas fases é balançada por angústias
e tormentos. São contrariedades que não deixam de vir, para sacudir e para
despertar, pois fazem parte da nossa trajetória evolutiva. Quando submetida a
um revés, se a criatura não for esclarecida, se não conhecer a verdade
espiritual, poderá sentir-se indolente, perplexa, atordoada pela insegurança
que constata no vácuo da sua existência.
Para vocês usufruírem uma felicidade relativa, o Sr.
Racional aconselha sempre, em todas as situações da vida, a leitura do livro Racionalismo
Cristão.
Deverão ter sempre à mão este livro e fazer dele um
manual de cabeceira. Deverão estudá-lo freqüentemente, com disciplina, um
pouquinho de cada vez, porém incessantemente. Quando chegarem ao fim, retornem
ao começo. Desta forma, minimizarão a dor da existência quando os reveses
chegarem.
Outra coisa: quando vocês saírem da madureza e
adentrarem a velhice, não devem pensar: “Estou velho, acabado, no fim da vida”.
Esta postura mental é errada, pois quem pensa é o espírito, que é eterno,
portanto imortal e inascível. Por isso deve-se pensar: “Estou na fase da
madureza eterna, a velhice, apesar de ser uma lei natural no planeta Terra, não
é condição permanente do Espírito. A velhice não condicionará o meu espírito”.
Para vocês sentirem a importância desse livro, posso
dizer-lhes que o Racionalismo Cristão ensinou-me que, enquanto eu dependesse de
alguém para alguma coisa de foro íntimo ou para me sentir completo, realizado,
seria infeliz, frágil e qualquer satisfação seria efêmera. Então passei a
aplicar as minhas energias vitais para a vida, para o trabalho, para o estudo e
não mais para queixas, revoltas e lamentações.
Consegui, desta forma, encontrar a paz e a
felicidade relativas, livrando-me da necessidade ou da dependência de coisas,
pessoas, protetores espirituais, guias, deuses e demais criações da imaginação.
Passei a reagir aos estímulos da vida, respondendo
com pensamento e raciocínio, embutindo também nessa atitude, quando fosse
necessário, o planejamento, a organização, a disciplina e o controle de todos
os meus cursos de ação, para bem atingir os objetivos de ordem material e
também os de ordem espiritual.
Também será de bom senso vocês aceitarem as
informações que lhes chegarem por diferentes meios, tais como mídia (jornais,
revistas, cinema, rádio, etc.), conferências, estudo, leitura, etc... Vocês não
devem descartar informações recebidas simplesmente por serem novas, diferentes.
Tratem e trabalhem com elas até que provem ser verdadeiras ou falsas. Tenham
coragem de desafiar a si próprios e às respectivas crenças, empenhem-se em
viver a vida espiritual para descobrir a Verdade, que lhes trará a libertação
dos condicionamentos e a independência dos seus pensamentos.
Para encerrar a aula de hoje, vou lhes lembrar uma
pequena poesia de Cora Coralina, poetisa de Goiás (1895-1985), a qual sintetiza
a nossa trajetória evolutiva, nesse mundo-escola, em versos magistrais, pois
tanto a Poesia quanto a Matemática dão grandes definições, fazem grandes
demonstrações com um mínimo de palavras ou caracteres. Disse ela:
DAS PEDRAS
Ajuntei todas as pedras
Que vieram sobre mim
Levantei uma escada muito alta
E no alto eu subi
Teci um tapete floreado
E no sonho me perdi
Uma estrada,
Um leito,
Uma casa,
Um companheiro.
Tudo pedras
Entre pedras
Cresceu minha poesia
Minha vida ...
Quebrando pedras
E plantando flores
Entre as pedras que me esmagavam
Levantei a pedra rude
Dos meus versos.
E tio Marcos encerrou a aula, dizendo:
¾ Bem, por hoje basta, a noite está muito fria.
¾
Tio Marcos, espera um pouquinho. Explique-nos a razão pela qual foi fundado o
Racionalismo Cristão - pediu Serginho.
¾
Serginho, o ideal seria eu contar a história do Racionalismo Cristão, mas isto
ficará para uma próxima oportunidade. Contudo, vou lhes falar resumidamente
sobre a origem dessa doutrina e qual foi a sua contribuição para o pensamento
da humanidade, considerando que vocês ainda não estão com sono.
A Filosofia Racionalista Cristã não é literatura de
ficção. Não serve para as pessoas que gostam de viver de ilusões decorrentes de
sonhos e fantasias. Os religiosos e os fanáticos de várias seitas não a
entendem. Acham que somos ateus, pois ela não fala para agradar. Fala para
revelar à humanidade os esclarecimentos necessários de que precisa para sair da
cegueira religiosa, da escravidão mental imposta por mestres, gurus,
sacerdotes, pastores e demais “iluminados” aos seus prosélitos, geralmente
pessoas bem-intencionadas, ingênuas, laboriosas, porém, em sua grande maioria,
de poucas letras e quase todas desconhecendo as leis do pensamento e os
atributos valor, força de vontade e o livre-arbítrio.
No transcorrer de 1909, em Santos-SP, Luiz Mattos
foi acometido por um colapso circulatório. Esteve às portas da morte, durante
três dias e três noites.
Como era intelectual e livre-pensador, raciocinou e
concluiu que não era possível um homem extinguir-se na sepultura. Algo mais
importante que o corpo deveria existir. E este algo deveria ser a alma, cuja
vida seria perene, obedecendo a uma lei natural a que todos nós estaríamos
sujeitos. E o que era a alma? Não sabia até então.
Tempos depois, acompanhando um amigo que levava a
esposa para tratamento num centro espírita, conheceu como lá trabalhavam,
apesar de detestar o espiritismo popular.
Ao entrar pela primeira vez neste centro, o
Presidente Astral, Padre Antonio Vieira, entregou-lhe a presidência da sessão,
apesar da sua veemente relutância em aceitar. Mas aceitou e nessa ocasião
doutrinou o jesuíta desencarnado Ignácio de Loyola. Desde então, passou um ano
e meio estudando as comunicações e receituários obtidos psicograficamente
naquele centro. Nesta época, através da mediunidade de um instrumento do centro,
manteve diálogo com um grande amigo seu, desencarnado, o filólogo e romancista
Julio Ribeiro, falecido em 1890, portanto dezenove anos antes desse episódio.
Junto com Luiz de Mattos (1860-1926), também Luiz
Alves Thomaz (1871-1931) frequentava este centro, em busca de cura para uma
doença que sofria e que os médicos não davam jeito.
A partir de então, Luiz de Mattos uniu-se a Luiz
Alves Thomaz para estudar o fato espírita, e ambos concluíram que a vida fora
da matéria era real e que o espiritismo científico podia curar doenças
psíquicas.
Desde então, Luiz de Mattos dedicou-se integralmente
ao estudo científico do Espiritismo, começando pela obra escrita pelo Dr.
Pinheiro Guedes, em 1901, intitulada Ciência Espírita. Contava nessa
época com quase 50 anos de idade e era um comerciante abastado e jornalista
muito conceituado pelas campanhas abolicionista e republicana que mantinha.
Então, juntamente com Luiz Alves Thomaz, também
capitalista e grande fazendeiro, produtor e exportador de café, ambos fundaram,
em 26 de janeiro de 1910, o Centro Espírita Amor e Caridade, cuja primeira sede
era alugada, situada na Rua Amador Bueno, n° 190, em Santos.
Em 21 de junho de 1912, ambos inauguraram a sede
própria do Centro Amor e Caridade, construída em terreno de propriedade de Luiz
Alves Thomaz, na Avenida Ana Costa, 67, onde funciona até hoje.
Simultaneamente, foi também construído um edifício semelhante à casa de Santos,
na Vila Isabel, na cidade do Rio de Janeiro, que recebeu o nome de Centro
Redentor.
Portanto, desde 1912, estava fundado o Racionalismo
Cristão no planeta Terra, para divulgar tudo aquilo que Jesus, o Cristo,
ensinou há 2000 anos na Judeia e que Paulo de Tarso deturpou com a fundação do
Catolicismo, conforme lhes expliquei.
Neste evento, quais foram os grandes méritos de Luiz
de Mattos e Luiz Alves Thomaz?
O mérito de Luiz Alves Thomaz foi o de ter sido o
sustentáculo econômico da nova doutrina que nascia, pois custeou do próprio
bolso a Casa Racionalista de Santos e a do Rio de Janeiro e contribuiu com uma
vultosa quantia para a fundação do jornal A Razão em 1916. Quando
desencarnou em 1931, legou por testamento quase toda a sua imensa fortuna ao
Racionalismo Cristão, tornando-o economicamente independente. Esta imensa
fortuna foi magistralmente administrada por Antonio do Nascimento Cottas,
sucessor de Luiz de Mattos a partir de 1926 ao assumir a presidência do
Racionalismo Cristão, multiplicando muito mais o seu valor.
Já Luiz de Mattos, o seu maior mérito foi contribuir
para a História do Pensamento, trazendo-nos uma nova cosmovisão.
Antes dele, as filosofias explicavam o Universo de
três maneiras diferentes: através das doutrinas místicas, através das
afirmações agnósticas ou através dos postulados materialistas.
Nessa nova cosmovisão racional de Luiz Mattos, o
Universo não se originou de uma criação mística, nem agnóstica, nem
materialista. Ele justificou o Universo pela existência dos princípios Força e
Matéria. A Força não é divina. Através das Leis Naturais e Imutáveis, ela se
manifesta em tudo que tem vida. A Matéria é qualquer substância sólida, líquida
ou gasosa que ocupa lugar no espaço.
Destas colocações, inferimos que:
1. Luiz de Mattos divulgou uma nova cosmovisão,
assim definida: “O Universo e tudo que tem vida é constituído por Força e Matéria”.
Portanto, o deus antropomórfico das religiões deixou de existir, sendo
substituído por conceitos mais condizentes com a Verdade, tais como Força
Criadora, Inteligência Universal ou Grande Foco de Luz. Esta foi uma
contribuição magistral para o Pensamento, pois até então a cosmovisão
científica era materialista e a cosmovisão religiosa, uma fantasia mística
transformada em comércio para vender indulgência, proteção, graças,
transformando os seus seguidores em súditos ingênuos e submissos.
2. Luiz de Mattos ensinou que nós, homens
encarnados, possuímos uma constituição astral e uma constituição física;
portanto, somos constituídos em essência também por Força e Matéria.
Consequentemente vivemos ao mesmo tempo duas vidas: uma vida espiritual regida pela
Força e uma vida material que obedece às leis naturais e imutáveis da Matéria.
3. Luiz de Mattos, continuando, ensina que o
Espírito Imortal é uma partícula da Força em evolução. Portanto, vivemos para
evoluir. Conseqüentemente, possuímos recursos valiosos, intrínsecos, para
enfrentar as dificuldades da vida, da existência, sozinhos, sem ajuda de santos
ou rezas e sem precisar filiar-nos a qualquer seita religiosa. Estes recursos
são os atributos do Espírito, a saber: o pensamento, o raciocínio, a força de
vontade, o livre-arbítrio, a renúncia, a capacidade de concepção
(criatividade). Portanto, o homem é exatamente aquilo que pensa. Quem pensar no
mal, o mal o acompanhará como a roda acompanha o boi que puxa o carro. O
pensamento é o poder soberano do Universo; liberta o sábio e escraviza o
néscio.
Julio Ribeiro, após ter sido doutrinado por Luiz de
Mattos, lá pelos idos de 1909, como acima relatamos, tempos depois, no Centro
Redentor do Rio de Janeiro, deu uma comunicação que resumidamente dizia o
seguinte: “Somos um barco, navegando em mar tempestuoso, cujo norte, cuja
bússola é a nossa razão, o nosso raciocínio, o nosso pensamento. Nada existe
que nos proteja. Nem deus, nem santos, nem guias, nem anjos da guarda. Somente
a retidão de caráter, a honra, o dever, a disciplina, o livre-arbítrio para o
bem nos protegem neste mar agitado da vida”.
Continuando esta tese, vou lhes revelar
resumidamente a principal razão da existência desta doutrina, começando a
explicar por que a atmosfera da Terra é um espaço habitado pelos espíritos do
Astral Inferior.
Sabemos que a Terra é um mundo-escola e também um
planeta depurador, envolvido por uma camada gasosa, a qual denominamos
atmosfera.
Sabemos muita coisa sobre a atmosfera, por exemplo:
que o vapor d'água, o gás carbônico e as impurezas dos mais variados tipos de
poluição podem atingir até 3 km de altura.
Sabemos que, nas alturas superiores a 100 km,
encontramos a predominância de gases leves, tais como o hélio, o nitrogênio, o
hidrogênio, etc.
A partir de 1000 km de altura, as moléculas mais
leves do ar escapam da força de gravidade e se evadem para o espaço sideral.
A atmosfera é indispensável à vida em virtude dos
gases que contém, destacando-se o oxigênio, o gás carbônico e o ozônio. O
oxigênio é o gás da vida. O gás carbônico é imprescindível aos vegetais para
sintetizar a glicose, e o ozônio, por sua condição de tela protetora diante da
radiação solar, impede que os raios ultravioleta emitidos pelo sol prejudiquem
os olhos e a pele quando em exposições prolongadas.
A atmosfera é constituída por uma mistura de
elementos gasosos, formados por corpúsculos chamados moléculas. A molécula é a
menor porção de uma substância. Ela é constituída por partículas ainda menores
chamadas átomos, que se mantêm coesos por forças intrínsecas de atração.
Como já estudamos em nossas aulas anteriores, os
elétrons movimentam-se em torno do núcleo, a distâncias relativamente grandes.
Agora pergunta-se: o que existe neste espaço que vai do núcleo ao elétron? Os
cientistas do século XVII diziam existir o éter. Albert Michelson, cientista
norte-americano, em 1907 provou que o éter não existe. Então pergunto: se o
éter não existe, como o calor, a luz e as ondas eletromagnéticas se transmitem
através do espaço?
Respondo: nós espiritualistas sabemos que esse éter
nada mais é do que o Universo Astral, o qual, interpenetrando os espaços
interatômicos do ar atmosférico, constitui uma região em nosso planeta
denominada Astral Inferior. E a Teoria dos Quanta de Max Planck não invalida
esta hipótese.
Sabemos que o Astral Inferior é tal qual um imenso
deserto, onde penetra pouquíssima luz, não permitindo, em alguns casos, nem a
irradiação do Astral Superior.
O Astral Inferior está ligado intrinsecamente junto
à mente humana, pela atração exercida pelos pensamentos. É em nossa mente que
começam as trevas da atmosfera da Terra ou as luzes dos mundos superiores.
Existem em nossa esfera física as dimensões tempo,
espaço e velocidade, com as quais tudo está relacionado.
Já nos mundos astrais e na região compreendida pelo
Astral Inferior encontramos o tempo subjetivo, predominando um presente eterno.
O espaço é determinado pela condição mental e a velocidade é a do pensamento.
Essas fronteiras dependem do grau evolutivo do espírito que lá se encontra.
Um grande problema dos espíritos do planeta Terra é
o desconhecimento da vida fora da matéria, e esta lamentável ignorância é o
motivo de existir uma grande população desencarnada prisioneira das trevas,
levada a esta situação pela cegueira da convicção religiosa, cujo estado mental
de adoração a mantém tal qual materializada.
Os habitantes do Astral Inferior vivem absorvidos em
si próprios, envolvidos pelas preocupações egoísticas e pelas concepções da
religiosidade submissa, constituindo grandes falanges inimigas da humanidade.
Se, na sua última encarnação, um espírito somente se
preocupou em gozar a vida em detrimento dos valores espirituais e da
moralidade, seu corpo astral, qual um mata-borrão, ficará impregnado de matéria
deletéria, e terá uma textura quase tão materializada quanto a do próprio corpo
físico. Portanto, terá peso, ficando preso à atmosfera da Terra ao desencarnar,
atraído pela força gravitacional do planeta.
Geralmente, as criaturas sem esclarecimento têm uma
desencarnação de agonia, de sofrimento, de remorso, de perturbação, porque, na
hora que se aproxima a morte física, afloram todas as misérias do seu espírito
e desencarnam lutando contra a morte, naquele remorso, naquela tortura
espiritual, envolvidos pelas trevas do Astral Inferior.
No século passado foi aberta uma brecha intelectual
com o surgimento do pensamento científico, trazido por homens notáveis, cujas
descobertas propiciaram o surgimento das ciências e da tecnologia, as quais
culminaram com a Revolução Industrial, a partir de 1850, possibilitando
mudanças radicais nas estruturas econômicas e sociais dos Estados e o
surgimento do fato espírita.
O fato espírita não surgiu através de rezas, de
missas ou de ladainhas. Somente surgiu quando a razão humana podia entendê-lo.
O conhecimento das leis que regem a matéria deveria preceder o conhecimento das
leis que regem o espírito.
O Astral Superior, sabedor de que a humanidade
encarnada já possuía base científica e moral para entender o fato espírita,
destacou uma plêiade de espíritos superiores, valorosos, para ajudar a
humanidade a se esclarecer e purificar as regiões do planeta ocupadas pelo
Astral Inferior.
Desta forma, designou espíritos de luz para a
implantação do Racionalismo Cristão na Terra, a partir de 1910.
Astralmente os fundadores do Racionalismo Cristão
foram os seguintes espíritos de cultura portuguesa, pois sempre reencarnaram em
terras de Portugal: João de Deus, Camilo Castelo Branco, Luiz Camões, Padre
Antonio Vieira, Custódio José Duarte e Pinheiro Chagas.
Em Santos, desde 1910, o primeiro Presidente Astral
que norteou as sessões comandadas por Luiz de Mattos, no Centro Amor e
Caridade, foi o Padre Vieira, o Patrono do Racionalismo Cristão, posteriormente
substituído pelo médico Dr. Custódio José Duarte.
Luiz de Mattos apoiou-se nas excelentes condições
financeiras de Luiz Alves Thomaz e, a partir de 1911, os dois iniciaram a
construção da Casa de Santos e em seguida da Casa do Rio de Janeiro, ambas
inauguradas em 1912: a Casa de Santos em 21 de junho de 1912 e a Casa do Rio em
24 de dezembro de 1912.
A partir de 1913, os Princípios Racionalistas
Cristãos começaram a ser consolidados por Luiz de Mattos com o lançamento, em
1914, da primeira edição do livro base da doutrina, Racionalismo Cristão, que passou a ser a “carta de alforria” da
humanidade, libertando-a da escravidão religiosa.
Desde então, iniciaram-se as implantações das Casas
Racionalistas Cristãs no planeta Terra. Estas casas começaram como centros
espíritas filiados ao Centro Redentor do Rio de Janeiro ou ao Centro Espírita
Amor e Caridade de Santos.
Mais tarde, em 1916, Luiz de Mattos, obedecendo a
instruções do Astral Superior, promoveu a consolidação desses centros, formando
centros filiais, coligados a uma casa-chefe, na época denominada Centro-Chefe,
o Centro Redentor do Rio de Janeiro, porque era a casa do Rio de Janeiro que
oferecia as melhores condições ao Astral Superior para espargir as luzes e
dirigir a expansão da doutrina para o mundo.
A Doutrina Racionalista Cristã está apoiada na
moralidade de Jesus, o Cristo, conforme já explicado anteriormente, e isso é
tão sério que em 1911, quando se estava fundando o Centro Redentor do Rio de
Janeiro, o Padre Antonio Vieira, presidindo astralmente uma reunião
preparatória, fez o seguinte comentário: “Disse eu que, para se conseguir
alguma coisa superior, indispensável era ser-se, tanto quanto possível, puro”.
Sintetizando, o Racionalismo Cristão destina-se a
cumprir dois objetivos principais, a saber:
1. Arrebatar da atmosfera da Terra milhares de
espíritos obsessores, galhofeiros e falanges inteiras enlouquecidas, cuja
ocupação é fazer mal ao próximo e prejudicar as instituições particulares e
governamentais.
2. Ensinar o homem encarnado a conhecer-se como
Força e Matéria para que ele mude a sua conduta, deixando de ser um aleijado
mental dependente das muletas da religião.
Desde então, o Racionalismo Cristão foi combatido.
Mas nós não nos importamos com isso, pois “as idéias novas, tanto na arte, na
ciência como na vida, são sempre sistematicamente combatidas pelos obstinados e
pelos moribundos da inteligência”.
Tio Marcos terminou, levantou-se e saiu da sala
dando boa-noite a todos.
Lá fora, vindo da casa de Severo, ouvia-se o som
melodioso de uma toada sertaneja.
Severo era um exímio violeiro. Era sempre convidado
para tocar nas festas da região.
Ele possuía uma viola caipira de estimação, que vô
Mário comprara para ele em Montes Claros-MG, fabricada de imburana, madeira
nobre do cerrado, construída por Zé Coco do Riachão, o Beethoven do sertão que,
além de grande compositor e um virtuose da viola e da rabeca, construía sob
encomenda instrumentos notáveis.
Havia certas ocasiões que, nostálgico, Severo
relembrava a sua mocidade, fazendo a viola traduzir os sentimentos da sua
juventude. Ele fora nascido, criado e curtido no sertão goiano.
Era um mulato trigueiro, forte, de estatura mediana,
cujo perfil comportamental refletia tanta pureza d'alma que se chegava a pensar
que era um ingênuo. Sua aura era radiosa, pois em sua presença sentia-se bem.
Toda essa pureza ele transformava em melodias transcendentes que interpretava
com a viola afinada na modalidade “cebolão”.
Naquela noite, todos dormiram embalados pelo som
relaxante das valsas sentimentais de Zé Coco do Riachão e pela musicalidade
suave de Severo, acompanhado muito de longe pelos grilos e rãs, melodiando
monótonos.
No dia seguinte, os circuitos de luz e força da
fazenda foram restabelecidos.
Após o jantar, tia Zinha levantou-se e falou:
¾ Atenção, meninos! Acabaram-se as aulas do tio Marcos.
Mas eu gravei todas elas. Vou datilografá-las e darei uma cópia para cada um,
para recordarem de vez em quando. Agora, prestem atenção ¾ prosseguiu tia Zinha. ¾ Eu quero que vocês durmam
cedo, porque amanhã, logo após o café, nós iremos viajar. Primeiramente iremos
a Brasília, porque eu quero que vocês conheçam um dos acidentes geográficos de
maior expressão nacional. É a Reserva Biológica das Águas Emendadas, onde se
originam as nascentes dos rios que irão formar duas grandes bacias
hidrográficas brasileiras: a Amazônica e a Platina. O jornalista José Hypo1ito
da Costa, lá pelos idos de 1813, reivindicava em seu jornal Correio
Brasiliense a interiorização da
capital do Brasil junto às nascentes dos rios São Francisco e confluentes dos
rios Paraguai e Amazonas, no planalto central goiano.
“Com 5 mil hectares de área, a reserva abriga todo
tipo de vegetação do cerrado, além da fauna característica da região. Lá vocês
poderão ver os lobos guarás, habitantes dos nossos cerrados, ouvir o canto das
seriemas e quem sabe, se tivermos sorte, ver uma arara-azul.”
Depois iremos a Goiás Velho, fundada em 1726. Essa
cidade é o repositório das tradições históricas do Estado de Goiás. Lá
visitaremos o Museu das Bandeiras.
Por Goiás Velho, em 1682, passou o bandeirante
paulista Bartolomeu Bueno da Silva, o Velho, também chamado Anhanguera, que
penetrou nos sertões de Goiás, acompanhado do seu filho ainda menino. Em 1772
seu filho, herdeiro do nome, do apelido e da profissão do pai, voltou a Goiás e
às margens do Rio Vermelho encontrou muito ouro. Por esta descoberta, recebeu
do rei de Portugal muitas terras no território goiano.
E para terminar nossa viagem, iremos até a cidade de
Aruanã, localizada às margens do Rio Araguaia, na confluência com o Rio
Vermelho, a qual, nessa época do ano, é muito procurada para a prática da
pesca.
Em seus rios, pontilhados de praias e areias
brancas, o peixe é abundante. Na temporada de março a outubro, os acampamentos
se sucedem nas praias e o fluxo turístico é intenso.
¾ Viva! - gritaram
em uníssono todas as crianças.
Na manhã seguinte, três carros partiram da fazenda,
rumo a Brasília. Vô Mário e Severo iam na frente. Em seguida, tia Zinha e as
meninas e, por último, tio Marcos e os rapazes. A primeira parada foi na cidade
de Catalão, junto à rodovia BR-50, que liga Uberlândia a Cristalina. Pararam em
um posto muito grande, repleto de carros vindos de Brasília, do Triângulo
Mineiro, de São Paulo e do interior de Goiás, todos cobertos de pó vermelho,
cor predominante das terras da região. Enquanto os carros eram abastecidos, as
crianças entraram no restaurante do posto, que estava repleto de gente. Eram
casais, crianças, velhos, moços e moças, os quais lanchavam, tomavam pingado e
compravam brinquedos, utilidades mil e enfeites, bem como doces, mel, frutas,
fumo e pingas de todas as marcas e procedências, pimenta e açafrão, condimento
muito apreciado na região. Todo o ambiente era envolvido por música melodiosa,
sentimental, das duplas Leandro e Leonardo e Chitãozinho e Chororó. A moçada de
Goiás adorava essas duplas country.
Saindo do posto, rumaram para Cristalina. Passaram
ao lado de Luziânia e, já no Distrito Federal, chegaram a Brasília.
Atravessaram a W-3, passaram por Sobradinho, Planaltina e chegaram à Reserva
Biológica das Águas Emendadas.
De Brasília iriam para Goiânia, sendo que vô Mário e
Severo ficariam em Anápolis, para comprar uma peça sobressalente para a máquina
picadeira de forragem que havia quebrado. Os demais, demandariam Goiânia,
depois Goiás Velho e finalmente Aruanã.
No trajeto, encontraram margeando a estrada
inumeráveis ipês-amarelos. Estas árvores são dotadas de uma floração belíssima,
quando a árvore perde todas as folhas e fica inteirinha carregada de flores. O
ipê é considerado árvore nacional. Também existem muitas palmeiras nas regiões
montanhosas, onde predominam os coqueiros babaçu, o buriti e os amargosos
chamados guarirobas. De vez em quando, apareciam pastos imensos repletos de
bois e de cupinzeiros construídos no solo pelos insetos. Viram também enormes
áreas agrícolas, destacando-se as vastíssimas plantações de soja que se perdiam
no horizonte e, quais ilhas solitárias num mar verde, sobressaíam-se os silos
metálicos reluzentes a grande distância, refletindo a luz do sol. Tudo isso
envolvido pela atmosfera de um azul puríssimo, pejada de grandes nuvens
brancas, tão baixas que se tinha a impressão de poder pegá-las com as mãos,
esparramadas pelos horizontes abertos, infinitos.
¾ Ah! Não há céu como o da minha terra - dizia sempre tia
Zinha.
No volante do carro, tio Marcos, quedando-se na
contemplação da natureza exuberante que o cercava, em meditação sobre as
incomensuráveis grandezas do Infinito, a perscrutar o sentido criador da vida e
o poder ilimitado da Inteligência Universal, que tudo envolvia, percebeu que
não passava de um ser de reduzidíssimas dimensões diante da grandiosidade do
Grande Foco, da Forca Criadora. E se compenetrou, então, da imensa caminhada
que teria de fazer na sua longa, interminável Trajetória Evolutiva.
E voltando-se para Marquinho, que viajava no banco
da frente, falou alto para que Boris, Silvinho e Serginho, que estavam no banco
de trás, também ouvissem:
¾ Vocês que são moços, “procurem estudar o Racionalismo
Cristão, pois ele é a chave da Sabedoria e da Felicidade. O que é preciso é
saber pegar esta chave e movimentá-la para que ela abra as portas do
esclarecimento, e nesse abrir de portas deverão encontrar algo superior para a
sua própria felicidade” (Luiz de Mattos).