A vida é como ela se apresenta. Então, fica claro que não pode ser vivida como certas pessoas sonham.
Os sonhos são construídos pela imaginação fértil, onde as ações movidas por vontade forte inexistem.
Os sonhadores acham que o produto de seus devaneios deveria chegar às suas mãos com facilidade.
Não teriam problemas a resolver se tudo conseguissem sem qualquer esforço. Mas o mundo real é bem diferente do universo fantasioso em que vivem. Ai se revoltam, se queixam da vida que levam. Mas a vida é assim, cheia de dificuldades, de grandes desafios a serem enfrentados e superados.
As diferenças existentes entre as pessoas devem ser compreendidas e toleradas, porque não adianta apontar defeitos nos semelhantes se a própria pessoa não percebe que ela mesma tem imperfeições a corrigir.
O mundo dos sonhadores
Por Humberto Rodrigues
Colaboração: Rute Helena Macário

- Índice
Capítulo
1
'O
governo Lula é o mais corrupto de nossa história'
Capítulo
2
Montanhas
de dinheiro: em pacotes, malas, carros-fortes e até em cuecas
Capítulo
3
Lula, o
chefe
Capítulo
4
A
história do 'acordo criminoso' da chapa Lula/José Alencar em 2002
Capítulo
5
O
escândalo do dossiê: flagrante de R$ 1,7 milhão em dinheiro vivo
Capítulo
6
Os 403
dias que marcaram o escândalo do mensalão
Capítulo
7
Na
denúncia do procurador-geral da República, mensalão foi ação de 'organização
criminosa'
Capítulo
8
O
assassinato do prefeito Celso Daniel, coordenador da eleição de Lula em 2002
Capítulo
9
Promotores
pediram prisão de Antônio Palocci, acusado por envolvimento com a
'máfia do lixo'
Capítulo
10
Oito
ministros do governo Lula. Oito casos de corrupção
Capítulo
11
O
presidente do Senado, aliado de Lula. Outro caso de corrupção
Capítulo
12
Sob a
conveniência da 'segurança nacional', Lula não revelou gastos com cartão
corporativo
Capítulo
13
Em 5
anos, Lula repassou R$ 12,6 bilhões para ONGs. Dinheiro para amigos, mal
fiscalizado
Capítulo
14
Traquinagens
da família Lula da Silva. As andanças de Genival, o "Vavá"
Capítulo
15
Duas
tragédias, apagão aéreo e corrupção na Infraero. Compadre de Lula ganhou
milhões
Capítulo
16
STF
abriu processos contra 40 mensaleiros. José Dirceu foi acusado de corrupção
ativa e formação de quadrilha
Capítulo
17
Dois
anos depois, Polícia Federal desmantelou outra organização criminosa nos
Correios
Capítulo
18
TCU
recomendou paralisar obras irregulares; Petrobras foi campeã em aumento
de custos
Capítulo
19
Apesar
do desgaste, Lula defendeu José Sarney e retribuiu apoio recebido no caso do
mensalão
Capítulo
20
Lula:
'Sarney tem história para que não seja tratado como se fosse pessoa comum'
Capítulo
21
Na
crise do mensalão, o PT temeu o impeachment. A oposição não agiu. Lula deu a
volta por cima
‘O
governo Lula é o mais
corrupto
de nossa história’
- 21- Ela votou contra a cassação do Luiz Estevão. Votou mesmo, e por motivos impublicáveis.Heloísa Helena reagiu, chamando José Dirceu de “ladrão dos cofres públicos” e de an-dar “passeando pelo Brasil e gastando todo o dinheiro que ele roubou do povo”:- Se durante toda a carreira dele de homem público medíocre e ladrão ele cometeu inú-meros atos que certamente não podem ser publicados, eu, como mulher trabalhadora, nuncafui capaz de nenhum ato impublicável.Em 2009, a Polícia Federal desencadeou a Operação Boi Barrica e indiciou FernandoSarney, filho do presidente do Senado, José Sarney (PMDB-AP), um dos maiores aliados deLula. Fernando Sarney foi acusado de montar um esquema para desviar dinheiro públicousando a Valec, empresa estatal encarregada de construir a ferrovia Norte-Sul.A relação de Fernando Sarney com a Valec se dava por intermédio do diretor de Enge-nharia da estatal, Ulisses Assad. Uma parte da obra, no valor de R$ 45 milhões, teria sidoentregue à Lupama. Conforme as investigações, a Lupama era uma empresa de fachadaligada ao grupo de Fernando Sarney para desviar dinheiro da ferrovia.Para pagar pelos serviços de Ulisses Assad, Fernando Sarney teria mandado propina pormeio de seu motorista. Uma mala de dinheiro seguiu de Brasília para São Paulo. Os federaisestavam na cola, mas não contaram com o zelador do prédio da família Sarney na capitalpaulista. Ele percebeu a movimentação e ajudou o motorista a entrar escondido com a maladentro do porta-malas de um carro de Fernando Sarney. O homem se safou.
- 22Lula, o chefeO Palácio do Planalto bem que tentou abafar, mas desde o início o presidente Lulaesteve no centro da crise política. O escândalo do mensalão eclodiu em 14 de maio de2005, com a divulgação de uma gravação clandestina pela revista Veja. Maurício Mari-nho, funcionário dos Correios, pôs no bolso do paletó R$ 3 mil. Propina. De cara, a evi-dente vinculação do PTB ao esquema de corrupção. Os Correios eram área de influênciado partido, uma das agremiações integrantes da base aliada do Governo Federal, capita-neada pelo PT, a legenda de Lula.Enquanto os telejornais escancaravam a fita com as imagens de Maurício Marinhoenfiando o dinheiro no bolso, Lula apressava-se em defender o deputado RobertoJefferson (RJ), presidente nacional do PTB. Palavras de Lula, alto e bom som, em 17 demaio de 2005:- Precisamos ter solidariedade com os parceiros, não se pode condenar ninguémpor antecipação.Lula se pronunciou durante almoço com aliados. O presidente insistiu:- Parceria é parceria. Tem de ter solidariedade.E arrematou, para não deixar dúvidas:- Essa é a hora em que Roberto Jefferson vai saber quem é amigo dele e quem não é.Lula estava preocupado. Recorda-se que, alguns meses antes, dissera a seguinte fraseendereçada a Roberto Jefferson, em meio ao noticiário que especulava sobre um pagamentode R$ 10 milhões do PT ao PTB, com vistas a “comprar” o apoio dos trabalhistas às eleiçõesmunicipais de 2004:- Eu te daria um cheque em branco e dormiria tranquilo.A gravação de Maurício Marinho trouxe outras complicações. Como se sabe, ele desan-dou a conversar com os interlocutores que o subornavam, sem saber que estava sendo gra-vado. O funcionário dos Correios mencionou uma empresa, a Novadata, pertencente a MauroDutra, o “Maurinho”, amigo de Lula havia mais de 20 anos. A Novadata fornecia computa-dores para o Governo Federal. Apenas nos dois anos e meio da primeira administração Lula,faturou R$ 284,5 milhões, sendo R$ 110 milhões em contratos com a Caixa EconômicaFederal, R$ 100 milhões em contratos de locação de 27.500 computadores para a Petrobrase R$ 16,2 milhões em vendas aos Correios.Aqui uma pausa, para registrar: Lula passou o réveillon de 2001 na mansão de MauroDutra em Búzios, no badalado litoral do Rio. O mesmo Maurinho que fez contribuições aoPT, arrecadou dinheiro para o partido e emprestou avião a Lula. Na fita, Maurício Marinhofala de “acertos” em licitações. Descreve manobra da Novadata para superfaturar computa-dores. A empresa tentou fazer o preço de cada computador vendido ao governo dar um saltoinjustificado, de R$ 3.700 para R$ 6.000.Logo nos primeiros dias da crise, Lula trabalhou abertamente contra a ideia de se criaruma CPI para investigar a corrupção nos Correios. Foi decisão de governo: a administração
- 23federal iria liberar dinheiro de emendas ao Orçamento a todos os parlamentares que votas-sem contra a CPI. Faltou combinar com os jornais.Roberto Jefferson foi destaque no noticiário político. As incursões do presidente doPTB nos subterrâneos de Brasília revelaram várias suspeitas de corrupção. Lula achou porbem se afastar do aliado, mas continuou a trabalhar contra a instalação da CPI. RobertoJefferson estava cada vez mais isolado. Os estrategistas do presidente não imaginaram queo desgaste do político fluminense o levasse a uma reação explosiva.Em 6 de junho de 2005, Roberto Jefferson concedeu uma entrevista-bomba ao jornalFolha de S.Paulo. O Brasil não seria mais o mesmo. A manchete, na primeira página, paranão deixar dúvidas: “PT dava mesada de R$ 30 mil a parlamentares, diz Jefferson”. Oescândalo do mensalão assumiria contornos dramáticos.Leal ao presidente que procurou protegê-lo, Roberto Jefferson tentou deixá-lo fora dacrise. Mas logo implicou o superministro José Dirceu (PT-SP).
- 35Durante o depoimento, foi reproduzida frase atribuída a Lula:“Ele dizia: ‘Pô, Oswaldão, tem que arrecadar mais, faz que nem o Celso Daniel emSanto André. Você quer que a gente ganhe a eleição como?”Naquele ano, Lula voltou a perder, pela terceira vez consecutiva. Mas, em 2002, dispu-tou novamente e foi eleito presidente da República. Passou a despachar no gabinete doterceiro andar do Palácio do Planalto. Após mais de três anos como o mais alto mandatáriodo País, ficaria difícil acreditar que não soubesse o que acontecia na sala bem ao lado dasua, ocupada durante parte daquele período de turbulência pelo superministro Antonio Palocci(PT-SP). E ali se urdiu a conspiração contra o caseiro Francenildo Santos Costa.O rapaz havia desmascarado Antonio Palocci. Contestou as mentiras do ministro. Anto-nio Palocci procurava um meio de negar o impossível, o fato de ter sido um frequentador da“casa dos prazeres”. A mansão fora alugada em Brasília pela “república de Ribeirão Preto”,como ficou conhecido o grupo de colaboradores do então ministro, e costumava ser redutopara festas com garotas de programa.Lula participou ativamente da tentativa de blindar Palocci. O presidente teria tramadoo recurso ao STF (Supremo Tribunal Federal) para suspender o depoimento de FrancenildoSantos Costa à CPI dos Bingos. As investigações sobre o caso mostraram que Lula forainformado pessoalmente da ordem de Palocci para a violação do sigilo bancário do casei-ro. Jorge Mattoso, o então presidente da Caixa Econômica Federal, avisara-o em 24 demarço de 2006.A rigor, Lula já recebera informações a respeito quatro dias antes, em 20 de março,quando o ministro da Justiça, Márcio Thomaz Bastos, relatou ao presidente o envolvimentode Antonio Palocci na quebra do sigilo. Palocci só seria afastado em 27 de março, umasemana depois. Naquele momento, não havia mais jeito de desvinculá-lo do crime. Durantetodo o escândalo, para variar, Lula deu uma de quem não sabia de nada.No auge da crise, em 23 de março, houve uma reunião na casa de Antonio Palocci. Arevista Veja relatou que um sindicalista nomeado por Lula na vice-presidência da CaixaEconômica Federal fora escolhido para subornar algum funcionário da Caixa, com R$ 1milhão. A ideia era encontrar alguém para assumir a violação do sigilo.O tal sindicalista, Carlos Augusto Borges, era homem de confiança de Lula. Será possí-vel que o presidente não soubesse da missão de Borges? Ou, ao contrário, teria sido exata-mente o presidente quem o sugerira para pilotar a operação de suborno? Tudo indica queLula considerava sua obrigação fazer o que estivesse ao alcance para salvar Antonio Palocci,que tantos serviços lhe prestara, desde a campanha eleitoral de 2002.Lembra-se que foi Antonio Palocci quem assumiu o papel de coordenador daquela cam-panha, depois da morte de Celso Daniel. Infere-se que Antonio Palocci fez o que CelsoDaniel estaria fazendo. Sabe-se que, depois da reunião na casa de Palocci, o ministro daFazenda e Márcio Thomaz Bastos foram se encontrar com Lula no Palácio do Planalto.Em 16 de abril de 2006, o ex-governador do Rio, Anthony Garotinho, concedeu entre-vista à Folha de S.Paulo. Ele reproduziu as palavras de José Dirceu ao procurá-lo na vésperada votação do processo que cassou o mandato de deputado de José Dirceu. O ex-ministroqueria o apoio de Anthony Garotinho para não perder o cargo. José Dirceu teria dito assim:
- 36- Saiba que tudo o que fiz, tudo, fiz porque o Lula mandou. Você acha que ia mandarbloquear o dinheiro do Rio e o Palocci iria obedecer? Todo político tem alguém que faz olado mau. Estou pagando agora por ter feito o lado mau.Publicada a entrevista, o comentário do ex-deputado José Dirceu, devidamente cassado,sobre a declaração de Anthony Garotinho:- Não vou bater boca com ele.Informações que vieram a público e não foram desmentidas, durante a segunda quinze-na de abril de 2006, davam conta de que José Dirceu, depois de cassado, continuou a sereunir com Lula e integrantes do Governo Federal. Fora incumbido pelo presidente de tocartarefas estratégicas, como a de se encontrar com o ex-presidente Itamar Franco, com quemLula tentava uma aproximação política. A rigor, José Dirceu continuaria a cumprir missõespara as quais seria designado por Lula no segundo mandato do presidente. Exemplos: aarticulação em defesa do mandato do senador José Sarney (PMDB-AP), acusado de quebrado decoro parlamentar; o estreitamento dos laços políticos entre PT e PMDB; e a costurapolítica em prol da candidatura da ministra Dilma Rousseff (PT-RS) à Presidência da Repú-blica em 2010.Se Lula manteve relacionamento estratégico com José Dirceu, era falácia o discurso dopresidente de que fora apunhalado pelas costas no escândalo do mensalão. O afastamentode José Dirceu de seu governo teria sido só um jeito de manter as aparências. Mesmo nosbastidores, Dirceu era essencial a Lula.José Dirceu pagou caro. Foi cassado justamente por ter sido apontado como o responsá-vel pelo esquema de corrupção. Ele apenas o operava. E como Lula não interrompeu aparceria com José Dirceu, era conversa mole a de que o presidente havia sido traído.Este livro é um empenho pela memória. Tantos os caminhos da corrupção, dos persona-gens corruptores e corrompidos, que ao longo dos 403 dias da crise do escândalo do mensalãofizeram esquecer e cansar. Ficamos anestesiados, descrentes. Temos de lembrar.Lula não queria a verdade. Nunca a quis. O chefe de tudo foi, desde o início, como severá no dia a dia dos acontecimentos, o próprio presidente Lula.
51- Todos sabem que o Márcio Thomaz Bastos tem credibilidade para apurar o casodos Correios.Na saída do mesmo encontro, o presidente da Câmara dos Deputados, Severino Cavalcanti(PP-PE), um aliado do governo, desqualifica a CPI. Nas palavras dele:- Todo mundo sabe como começa uma CPI, mas não sabe como termina. Além do mais,quem tem o poder de oratória do Roberto Jefferson sabe colocar bem as palavras. Ele pro-vou que não tem nada para que possa ser condenado.O apelo do presidente e os esforços da tropa de choque do governo não impedem adecisão dos parlamentares, contrária a deixar as investigações só nas mãos da Polícia Fede-ral. A oposição protocola requerimento com o pedido de abertura de CPI. O documentorecebe as assinaturas de 230 deputados e de 46 senadores, dos quais 101 deputados e 10senadores aliados do Planalto.Novos trechos da fita em que Maurício Marinho revelou a corrupção nos Correios sãopublicados nos jornais. Na gravação, o funcionário envolveu a Novadata, do empresárioMauro Dutra, o “Maurinho”, amigo de Lula. Ele já atuara como arrecadador de dinheiropara campanhas do PT. A empresa, especializada em informática, fornecia computadores aoGoverno Federal. Maurício Marinho referiu-se a uma operação favorecendo a Novadata emlicitação. O diálogo começa com o interlocutor que gravava a conversa:- E a Novadata acertou daí direto com a diretoria...- Foi direto com a diretoria.- Ou foi com você?- Não, foi eu, o diretor e o Godoy. Mas como teve um negócio, era um negócio grande, oGodoy saiu... Veio até de São Paulo...Maurício Marinho mencionou o diretor Antonio Osório Batista e um assessor dele,Fernando Godoy, também afastado devido ao escândalo. O diálogo prosseguiu com umapergunta sobre a contratação da Novadata. Como se sabe, Marinho não tinha conhecimentode que estava sendo gravado:- Acertaram com o Osório direto então?- Não, o Osório não acerta. É comigo ou com o Godoy.O jornal Folha de S.Paulo denuncia os negócios da Novadata com o governo Lula. Ren-deram R$ 273,5 milhões em menos de dois anos e meio. Só com a Caixa Econômica Fede-ral, vendas de R$ 95 milhões. Foram fechados três novos contratos com os Correios, por R$15,3 milhões. No quarto acerto com a Novadata, os Correios fizeram um aditivo e acrescen-taram R$ 5,5 milhões a um contrato de R$ 98 milhões.A denúncia assume contorno ainda maior: Lula passou o réveillon de 2001 na mansão deMauro Dutra em Búzios (RJ), uma das praias mais badaladas do Brasil. Maurinho pôs aviãoà disposição de Lula.Em outro trecho da gravação com a câmera escondida, Maurício Marinho trata das rela-ções da Novadata com os Correios:
52- Olha, no fornecimento de material, o mais forte é ele. Aqui no Correio, é. Computador,esses negócios, é a Novadata. Pelo menos nos últimos dois anos eles têm vencido quasetodas aqui dentro.Ainda Maurício Marinho, sobre uma licitação de “se não me engano R$ 60 milhões,coisa assim”. “Eles”, no caso, é a Novadata:- Mas como eles perceberam que só estavam eles e eles achavam que podiam ganharmais, falaram “olha, nós não vamos partir para abrir o processo, você dá como ‘deserta’ emarca uma outra abertura”.“Deserta”, no linguajar dos certames públicos, é a licitação para a qual não se apresen-tam concorrentes. Tem de ser refeita. Diz Maurício Marinho:- O preço inicial do computador que nós tínhamos colocado em R$ 3.700 na licitação,eles pediram para aumentar... Sabe para quanto foi a licitação, um item, eram quatro itens?Foi R$ 6.000. Olha que absurdo...No discurso da véspera na Câmara dos Deputados, Roberto Jefferson chegou a denun-ciar um certo comandante Molina, que o teria procurado duas semanas antes da divulga-ção da fita, em nome do senador Ney Suassuna (PMDB-PB). Molina teria tentado vendera gravação clandestina, a mesma cujo teor fora publicado por Veja. Roberto Jefferson dizque recusou o negócio. Mas não o denunciou. O PMDB, por sua vez, negou qualquerenvolvimento com a corrupção nos Correios. Pressionava o governo. Não queria proble-mas. Ameaçou Lula com CPI para investigar o caso Waldomiro Diniz. O comandanteMolina foi inocentado.Para entender: dentro do loteamento promovido pelo governo Lula, o PTB ficou comuma diretoria dos Correios, o PT com duas e o PMDB com três, incluindo a Financeira. Eisso sem falar na indicação do próprio presidente dos Correios, o ex-deputado João Henriquede Almeida, também uma nomeação da cota do PMDB.Aqui, cabe uma explicação: ao lotear estatais entre vários partidos, a administração Lulaoptou por trabalhar com as “porteiras abertas”, o que tornou a gestão das empresas maiscomplexa. Se tivesse sido adotado o modelo de “porteiras fechadas”, ou seja, se cada estatalfosse entregue em sua totalidade para a administração de um só partido da base aliada, esteseria o responsável direto pelo que acontecesse, para o bem ou para o mal.É por isso que desvendar os meandros do escândalo do mensalão se tornou tarefa com-plicada. Os acertos e as interações envolviam várias forças políticas e interesses diversos,que precisavam ser sempre contemplados, casando diferentes setores da administração, unsse sobrepondo a outros.Mas voltemos ao ex-deputado João Henrique Almeida, o presidente dos Correios. Rapi-damente, ele anuncia a suspensão de uma licitação suspeita. Não era para menos. Os deta-lhes de bastidores foram descritos na gravação clandestina com Maurício Marinho. O negó-cio de R$ 61 milhões pretendia viabilizar a aquisição de medicamentos para funcionáriosdos Correios. João Henrique Almeida também toma outra providência: impede o acesso dejornalistas à documentação sobre o processo de compra de remédios.
53Na gravação, Maurício Marinho cita o diretor de Recursos Humanos dos Correios, RobinsonKoury Viana da Silva, suplente do senador Ney Suassuna. Portanto, outro indicado do PMDB.O relato é rico, traz detalhes de uma parte da negociata tramada com o suplente de senador.Vale a pena:- Todos os projetos dele, nós que fazemos o projeto básico. Mesmo no RH. O pessoaldele não tem muito trâmite no negócio, a gente monta, passa pra ele, aí ele chama o depar-tamento e diz: “Eu quero isso”. Mas ninguém sabe que é nós que estamos fazendo. Então onosso negócio é assim. Tem uma licitação que vai ser... São 60 milhões em beneficiamentode saúde. (...) Fizemos tudo aqui. A decisão dele não conseguia desenrolar, desenrolar, umano sentado em cima. Fechamos o projeto. Apareceram umas quatro empresas, deputado“a”, senador “b”, um rolo danado. “Meu amigo, o negócio é seu. Você quer que a gentetrabalhe com quem?” Ele falou: “Infelizmente vou defender as quatro, porque as quatrovirão através dos caciques e eu não posso fechar porta para ninguém”. “Tudo bem, entãovou colocar o preço com as quatro suas, entendeu, mando a carta, com toda a planilhinha,daquelas quatro”. Fechei todo o processo, eram no mínimo três, tinha quatro, entendeu? (...)O processo está pronto. Tá pronto! Fechado, redondo. Ele adotou o recurso, o recurso édele, da área dele, dos recursos humanos, do RH. Tá? Aí mandaram o processo de volta. Oque nós fizemos chegou pra nós. Aí nós adotamos os nossos documentos, assinamos epedimos autorização. O presidente, é acima de 650 mil, autorizou a abertura. Tá no comitêde análise. Saiu do comitê de análise, está sendo publicado. Dentro de poucos dias vocêsvão ver aí na internet, tá lá, Diário Oficial. Agora, é um negócio grande. O que é que ele fez?Aí o acerto que a gente faz. Nesse tipo de negócio, ele que vai fechar, tem participação. Sóque uma parte da participação vai vir pra nós. Entendeu? O negócio é dele, é capitaneado(inaudível o trecho da gravação)... Ele que levantou a bola, nós fizemos viabilizar o negóciodele. Só isso. Mas nós temos uma participação. Dessa participação dele, a gente passa parao nosso partido. Entendeu? Que é ele que me sustenta, segura a gente aqui.821/5/2005 A revista Veja traz nova denúncia. Com o título “Mesada de R$ 400 mil para oPTB”, a acusação de que Lídio Duarte, o presidente do IRB (Instituto de Resseguros doBrasil), uma estatal federal, vinha sendo pressionado a entregar R$ 400 mil por mês aoPTB. Um corretor de seguros, Henrique Brandão, agia em nome do deputado RobertoJefferson e exigia a quantia do presidente do IRB.A reportagem relata que Lídio Duarte ficou em dúvida, não sabia ao certo se HenriqueBrandão falava mesmo em nome do PTB. A saída foi procurar Roberto Jefferson. A revistaVeja documenta:“Na conversa, Jefferson não deixou dúvidas: disse que era amigo de Henrique Brandãohavia mais de 30 anos, repetiu que as despesas do partido eram altas e que precisava dacolaboração financeira dos dirigentes indicados para seus cargos pelo PTB. Em outras pala-vras: quem tinha cargo tinha que roubar.”Eis a íntegra da transcrição da declaração de Lídio Duarte a Veja
73Federal, a zelosa Corregedoria da União não investigaram a Diretoria de Informática... E60% do depoimento do senhor Maurício Marinho apontam lá para a diretoria do ‘seu’ SilvinhoPereira, secretário-geral do PT.- Não entendi por que não pesquisaram a Novadata ainda. Não sei por que correm atrásde um óbolo de R$ 3 mil, quando os contratos que desfalcam os Correios são de bilhões.Não compreendi ainda como é que o cioso Ministério Público, a ciosa Polícia Federal e aciosa Corregedoria da República ainda não investigaram o correio aéreo noturno, do ‘seu’Silvinho Pereira, onde as contas de superfaturamento nos primeiros anos da atual gestãochegam a superfaturamento de 300%.- A Skymaster? Eu nunca tinha ouvido falar. Sei agora, porque gente boa dos Correiosestá começando a me dar essas informações. E a Novadata? Naquela época não sabia nada,mas gente boa dos Correios começa a me dar agora essas informações. Assim como genteboa começa a me dar informações, deputado Valdemar Costa Neto, das licitações da Valec,do ex-deputado Juquinha, do PL. Como gente boa começa a me dar o que está acontecendono Dnit, lá do PL. Coisas que, se Deus quiser, a CPI vai conhecer.A revista Isto É Dinheiro publica duas entrevistas com Fernanda Karina RamosSomaggio, ex-secretária do empresário Marcos Valério, dono das agências de publicida-de DNA Propaganda e SMPG Comunicação. Fernanda Karina acusa Marcos Valério deenvolvimento com o esquema de compra de deputados. Conta que havia encontros fre-quentes de Marcos Valério com dirigentes do PT. Cita Delúbio Soares, Silvio Pereira ereuniões em hotéis de São Paulo e Brasília.- Em que hotéis?- O Blue Trees, em Brasília, o L’Hotel, em São Paulo, o Sofitel, também em São Paulo.A secretária testemunhou saídas de dinheiro:- Com certeza. O Marcos Valério ficava o tempo todo com o Delúbio Soares. Era oMarcos quem pegava o negócio e levava de um lugar para o outro.- Onde o dinheiro era retirado?- Era sempre no Banco Rural. E era coisa grande. Algumas vezes pouco, R$ 50 mil, R$30 mil. Às vezes muito, mas muito mais.Para ela, Delúbio Soares era o mais próximo de Marcos Valério no esquema:- Depois, o Delúbio abriu as portas e aí tinha o José Dirceu, o Silvio Pereira.- Como era o contato com o ministro José Dirceu?- Havia ligações. A gente ligava e pedia para a menina do Delúbio colocar ele em contatocom o Marcos Valério.- Então o Valério tinha uma comunicação direta com o Dirceu?- Sim.- A senhora relata também que o irmão do ex-ministro Anderson Adauto teria rece-bido dinheiro da agência. Isso aconteceu no Ministério?- Não. O irmão dele foi lá na agência, pegou uma mala de dinheiro e foi embora.A ex-secretária conta que Marcos Valério mantinha contato com os deputados José Mentor(PT-SP) e João Paulo Cunha (PT-SP). Marcos Valério pagou passagens aéreas para Silvana
74Jupiassu, assessora de João Paulo Cunha. A filha de Silvana Jupiassu também ganhoubilhetes aéreos.- Isso porque ela facilitava o contato com o João Paulo.Em outra parte da entrevista, Fernanda Karina envolve outra funcionária de confiança deMarcos Valério nas operações de saques de dinheiro:- Eram pedidos frequentes. Era tudo feito pela Simone Vasconcelos. Era ela quem ia devez em quando para Brasília pagar.Fernanda Karina fala das atividades de Marcos Valério:- Ele faz intermediação de negócios. Por exemplo: a SMPB tem a conta do Banco doBrasil na parte de esportes através da Multi Action, uma das empresas do grupo. E é tudonegociata. Eu sei que eles passam dinheiro para o pessoal do governo.- Como isso é feito?- O Marcos Valério manda e tem um pessoal do Departamento Financeiro que faz isso.- E como a senhora tinha conhecimento?- Ele era meu chefe. Eu estava sempre com ele. Todo mundo sabe que tem mutreta nofato de a empresa ter um bom dinheiro no Banco do Brasil.- Haveria pagamento de propinas a gente do governo?- Eu já vi sair muito dinheiro de lá.- Em que situações?- Vi sair R$ 100 mil em dinheiro para o irmão do Anderson Adauto, no fim de 2003,quando ele era ministro dos Transportes.- E para o pessoal do Banco do Brasil?- O Marcos Valério dá muitas festas para eles, muitos paparicos, muitos mimos.- Ele oferece viagens de jatinho para eles?- Não, o Marcos usa o jato do Banco Rural, eventualmente. O Delúbio Soares tambémanda no jato do Banco Rural.Em outro trecho, o repórter Leonardo Attuch indaga se Marcos Valério fez pagamentospara obter contas publicitárias do governo. Diz Fernanda Karina:- Com certeza. Quando você entra numa concorrência, a gente já sabe quem vai ganhare quem não vai. Eles fazem a licitação pública, mas é um jogo de cartas marcadas. Temquem vai pegar a melhor parte da conta, a pior parte da conta.- A senhora viu?- Olha, para o Banco do Brasil, o Marcos dava festas. Festas para a alta cúpula e para aárea de marketing.A revista Isto É Dinheiro pergunta como os pagamentos eram feitos:- Tinha duas pessoas da área financeira, a Simone Vasconcelos, e uma assistente, a Geysa,que cuidavam de tudo.- A senhora tem noção de quanto?- Já vi o boy sair com motorista para tirar R$ 1 milhão do Banco Rural. Era para depoisdividir o dinheiro, entendeu?A Folha de S.Paulo divulga o relatório “Agências & Anunciantes”, do jornal Meio &
75Mensagem. Traz informações sobre o faturamento da agência DNA Propaganda, de MarcosValério. É o que mais cresceu em 2004, com um aumento superior a 200%. Dos R$ 23,2milhões de faturamento registrados em 2003, o valor subiu para R$ 70,5 milhões. A agênciaatende as contas do Banco do Brasil, Eletronorte e Ministério do Trabalho.Já a SMPB, outra agência de Marcos Valério, cuida da conta dos Correios. Tevefaturamento de R$ 39,9 milhões em 2004, sendo R$ 29,6 milhões apenas com os Correios.Além de atender o Banco Rural, a SMPB foi contratada pelo Ministério dos Esportes e pelaCâmara dos Deputados, na gestão do presidente João Paulo Cunha (PT-SP).Ex-tesoureiro nacional e secretário-geral do PP, Benedito Domingos afirma aos jornaisCorreio Braziliense e O Estado de S. Paulo que tomou conhecimento de um esquema depagamento de mensalões a parlamentares do PP. A distribuição de dinheiro era feita noapartamento do deputado José Janene (PP-PR), localizado em edifício da Asa Sul, em Brasília.- Você sabe que as pessoas tinham, mas não sabia de onde vinha.Benedito Domingos conversa com o repórter Expedito Filho, de O Estado de S. Paulo.Diz que o mensalão era conhecido como “apoio financeiro”, e entendido como uma espéciede caixa 2:- O zunzunzum era muito forte. Um grupo sempre frequentou a casa do Janene. Semprehouve uma grande movimentação. A casa do Janene era chamada de pensão.3315/6/2005 O governo conquista o comando da CPI dos Correios. Nomeia dois aliados paraos cargos principais da comissão: o presidente será o senador Delcídio Amaral (PT-MS), e orelator o deputado Osmar Serraglio (PMDB-PR). Osmar Serraglio tinha boas ligações comJosé Dirceu. Apoiara a candidatura do filho do ministro, José Carlos Becker (PT), a prefeitoda cidade de Cruzeiro do Oeste (PR).Delcídio Amaral e Osmar Serraglio acenam com investigações restritas aos Correi-os, deixando de fora denúncias acerca do mensalão. Na véspera, parlamentares de cincopartidos entregaram ao presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), pedidopara a criação da CPI do Mensalão. O requerimento continha assinaturas de 255 depu-tados e 41 senadores.Os jornais destacam que durante os trabalhos da CPI do Banestado, no início do governoLula, o relator e deputado José Mentor (PT-SP) apresentou sete requerimentos relacionadosao Banco Rural, determinou a quebra de sigilo bancário da instituição, solicitou cópia deinquérito policial sobre investigações de empresas do banco no exterior, ouviu diretores econvocou a presidente da instituição para depor. No final do processo, não concluiu nenhu-ma investigação relativa ao Rural.Outra notícia: o Banco Rural foi condenado a pagar multa de US$ 5,9 milhões por ilega-lidades cometidas no mercado de câmbio, na década de 80. O Rural teria permitido remes-sas de dinheiro ao exterior, com a falsificação dos nomes dos verdadeiros remetentes.
103Belo Horizonte, onde a SMPB mantinha conta bancária. Eram solicitações para pagamen-tos em Brasília. Por fax eram indicados os valores e os nomes dos sacadores.O tesoureiro tinha a responsabilidade de cuidar da liberação dos recursos junto ao BancoCentral, e dos detalhes para a entrega. O dinheiro não deveria fazer volume. Por isso, vinhaem notas de R$ 50 e R$ 100. Era levado para uma sala especial da agência. Ali as cédulaseram colocadas em bolsas que os próprios sacadores traziam. Tudo gente apressada que iaembora, em geral, sem conferir os valores.José Francisco de Almeida Rego relata que Simone Vasconcelos, executiva da SMPBem Belo Horizonte, fazia retiradas na agência do Brasília Shopping. Mas não levava odinheiro com ela. Assinava recibos e listava os nomes daqueles que passariam depois parareceber. Na maioria das vezes eram pacotes de R$ 50 mil ou R$ 100 mil. As pessoas, pordeterminação dela, não precisavam se identificar. A Polícia Federal confirma que localizoudocumentos comprovando saques em nome da SMPB na agência do Banco Rural em Brasília,mas estranhou a falta de identificação dos sacadores.6113/7/2005 Mais uma versão para o caso do petista preso com R$ 200 mil numa maleta eUS$ 100 mil na cueca. No início, José Adalberto Vieira da Silva alegou ser agricultor e odinheiro, resultado da venda de verduras. Agora, o deputado José Nobre Guimarães (PT-CE), chefe dele, envolve outro assessor de seu gabinete, José Vicente Ferreira. Os doisiriam usar o dinheiro para abrir uma locadora de veículos em Aracati (CE), em sociedadecom um terceiro petista, Kennedy Moura Ramos. Diz o deputado Guimarães:- Isso comprova que eu não tenho nada a ver com esse caso, nem o PT e muito menos oex-presidente nacional do partido.José Nobre Guimarães afirma que tudo foi uma “armação” contra o PT. Manifesta-se“decepcionado” e “traído” pelo assessor preso. A primeira pessoa que José Adalberto Vieirada Silva avisou ao ser detido foi Kennedy Moura Ramos. Ele é assessor especial da presi-dência do BNB (Banco do Nordeste do Brasil). O presidente, Roberto Smith, também per-tence às fileiras do PT. Da mesma forma que Kennedy Moura Ramos, assumiu o cargo porconta da amizade e ligação com José Nobre Guimarães, o irmão de Genoino.Kennedy Moura Ramos, ex-marido da presidente do PT do Ceará, Sônia Braga, foi as-sessor jurídico de José Nobre Guimarães. Kennedy Moura Ramos é responsável pelas fi-nanças do PT no Ceará. Avisou José Nobre Guimarães da prisão do assessor. Pede exonera-ção dos quadros do BNB.Em depoimento à CPI dos Bingos, o empresário de jogos Carlos Augusto Cachoeira, o“Carlinhos Cachoeira”, ataca Waldomiro Diniz. Segundo ele, o ex-subchefe da Casa Civil eassessor direto do ex-ministro José Dirceu (PT-SP) pediu propina de R$ 100 mil a R$ 300mil, em troca de favorecimento em licitação. Na época, Waldomiro Diniz presidia a Loterj,estatal que administra loterias no Rio. Waldomiro Diniz teria dito que o dinheiro era parafinanciar campanhas eleitorais. Para Carlinhos Cachoeira, Diniz agia sozinho:- Em todas as conversas, no final, era pedida propina. O Waldomiro dizia: “Quero 1% do
104contrato bruto”. Ele sempre pedia dinheiro para campanha. Hoje, tenho certeza de que essedinheiro ficava com ele.6214/7/2005 O Jornal Nacional, da TV Globo, noticia que assessores e até familiares de depu-tados do PT estiveram no Banco Rural, na agência do Brasília Shopping, local de pagamen-to do mensalão. Anita Leocádia Pereira Costa, assessora do líder do PT na Câmara, deputa-do Paulo Rocha (PA), foi à agência duas vezes. Reação do deputado Rocha: a funcionáriafoi fazer consulta médica em uma clínica neurológica, que também funciona no prédio.Márcia Milanésio Cunha, casada com o deputado João Paulo Cunha (PT-SP), esteve noBanco Rural três vezes. Reação de João Paulo Cunha, por meio de nota à imprensa: a mu-lher esteve na agência bancária para resolver problema relativo ao pagamento de uma contade televisão a cabo.O presidente do PT na Bahia, deputado Josias Gomes, foi pessoalmente ao Banco Rural.Explicação dele:- Como havia almoçado no shopping, fui ao banco pedir uma informação. Não fizsaques.Os três não contaram a verdade.Azeda o caso do assessor do deputado José Nobre Guimarães (PT-CE), preso com R$200 mil numa maleta e US$ 100 mil na cueca. A matéria vai ao ar pelo Jornal Nacional, daTV Globo. Kennedy Moura Ramos, petista afastado do BNB (Banco do Nordeste do Brasil)em consequencia do escândalo, não gostou de ser envolvido na história pelo deputado JoséNobre Guimarães. Não engoliu a versão de que o dinheiro serviria para abrir uma locadorade carros no interior do Ceará. A entrevista ao JN:- Não sei que rancores fizeram com que o deputado me fizesse uma vinculação a umaempresa que nunca ouvi falar.Kennedy Moura Ramos vai além. Relata a conversa com José Nobre Guimarães, padri-nho de seu casamento, quando ele lhe pediu para assumir que era o dono do dinheiro. ParaRamos, foi uma “proposta indecente”:- Ele falou que o Adalberto tinha que ser protegido por questões de Estado.Kennedy Moura Ramos também descreve o diálogo com José Nobre Guimarães, quan-do lhe contou sobre a prisão de José Adalberto da Silva:- Perguntou se ele tinha falado alguma coisa. Disse que não sabia. Ele disse: “Graçasa Deus”.Outra contradição: José Vicente Ferreira, assessor de José Nobre Guimarães apontadopelo deputado como participante do negócio da locadora, havia concedido entrevista aojornal O Povo, do Ceará. Dissera que emprestou um cheque a José Adalberto Vieira daSilva, seu amigo, a fim de que pudesse comprar uma passagem aérea para Recife. JoséVicente Ferreira não sabia da viagem a São Paulo. Muito menos de locadora.O Ministério Público investiga a hipótese de Vieira da Silva ter sido um emissário deKennedy Moura Ramos em São Paulo. A finalidade da viagem, buscar dinheiro de propina
105repassado por empresários que mantêm negócios com o BNB. No dia anterior à prisão,Vieira da Silva teria se deslocado até o escritório de um empresário do setor de construçãocivil do Grupo Cavan.A polícia de Minas Gerais apreende restos de 2 mil notas fiscais da DNA Propaganda. Osdocumentos estavam jogados em 12 caixas de papelão, na casa do ex-policial Marco TúlioPrata, em Contagem (MG). Ele é irmão do contador da agência, Marco Aurélio Prata. Naresidência são localizados dois tambores de lata, com notas fiscais carbonizadas.Entre as notas fiscais queimadas, provavelmente registros frios, recibos da DNA relati-vos a serviços supostamente prestados por empresas terceirizadas ao Banco do Brasil,Eletrobrás e Ministérios do Trabalho e do Esporte.Os policiais também acham documentos carbonizados, nos quais ainda se consegue ler onome da DNA. Estavam numa rua de terra, sem movimento, bem perto da casa do irmão docontador de Marcos Valério. A papelada queimada encheu cinco sacos.Cai o diretor de Marketing e Comunicação do Banco do Brasil, Henrique Pizzolato.Ligado ao ex-ministro Luiz Gushiken (PT-SP), dividiu com ele apartamento em Brasília.Na campanha de Lula, Henrique Pizzolato, militante do PT havia 20 anos, trabalhou comDelúbio Soares para captar recursos.Ele tinha relação próxima com o ministro do Planejamento, Paulo Bernardo (PT-PR), eera amigo de Ricardo Berzoini (PT-SP), ex-ministro do Trabalho e secretário-geral do PT.Henrique Pizzolato é desligado da presidência do Conselho Deliberativo da Previ, o fundode pensão do Banco do Brasil.No governo Lula, Henrique Pizzolato ocupou o posto estratégico de responsável pelosgastos de propaganda do Banco do Brasil. Foram R$ 153 milhões em 2003, e R$ 262milhões em 2004. Afastado Henrique Pizzolato, o Banco do Brasil rescinde contrato depublicidade com a DNA de Marcos Valério. Henrique Pizzolato também era amigo deMarcos Valério.O ex-diretor de Marketing ficou conhecido por participar do episódio dos R$ 70 mil que oBanco do Brasil deu a um show de arrecadação de fundos, com objetivo de comprar uma sedenova para o PT. Com a divulgação da história, o dinheiro teve de ser devolvido. Ele tambémfoi apontado como responsável por um evento artístico considerado suspeito, no valor de R$2,5 milhões, promovido pelo então governador de Mato Grosso do Sul, Zeca do PT.Banho de água fria. A base governista impede que a CPI dos Correios quebre os sigilosbancários, fiscais e telefônicos de José Dirceu, José Genoino, Delúbio Soares, Silvio Perei-ra e do empresário Mauro Dutra, o “Maurinho”, amigo de Lula. O Palácio do Planaltotambém consegue bloquear a convocação e o depoimento do ex-ministro Luiz Gushiken.6315/7/2005 Operação orquestrada. Marcos Valério vem a público por meio de nota e negamais uma vez a existência do mensalão. Explica que, “em atenção a pedidos de Delúbio
148O tesoureiro lista os diretórios do PT que receberam recursos de caixa 2. Cita São Paulo,Rio de Janeiro, Rio Grande do Sul, Santa Catarina, Minas Gerais, Goiás e Distrito Federal.- Pedi para o Marcos Valério resolver com esses Estados.Delúbio se atrapalha ao ser inquirido pelo deputado Júlio Redecker (PSDB-RS). O de-putado procura esclarecer a transferência de R$ 457 mil do valerioduto para Márcio Lacerda,ex-secretário executivo do ministro da Integração Nacional, Ciro Gomes (PSB-CE). O di-nheiro teria sido usado para quitar dívida com a agência New Trade, do publicitário EinhartJacome Paz. Depois de trabalhar para Ciro no primeiro turno de 2002, o publicitário prestouserviços à campanha de Lula no segundo turno. O diálogo é tenso:- O dinheiro foi enviado para Ciro Gomes?- Sim.- Pagou despesas de campanha de Ciro ou de Lula?- De Ciro.- Mas Ciro disse que foi serviço prestado pelo marqueteiro dele no segundo turno àcampanha de Lula.- Não foi. O dinheiro pagou serviços prestados pelo Einhart à campanha de Ciro nosegundo turno.- Mas Ciro não foi candidato no segundo turno. Ele apoiou a candidatura de Lula.- O Einhart trabalhou com o Duda Mendonça. Eles filmaram o Ciro para o programa deLula no segundo turno, o dinheiro pagou despesas que o Ciro teve no segundo turno.- Então o dinheiro de Valério, de caixa 2, pagou despesas de campanha de Lula nosegundo turno.Delúbio silencia.9819/8/2005 Em depoimento na Delegacia Seccional da Polícia Civil de Ribeirão Preto (SP),Rogério Buratti admite esquema irregular de financiamento da campanha de Lula em 2002,com dinheiro de caixa 2 de casas de bingo de São Paulo e do Rio de Janeiro. A operaçãorendeu R$ 2 milhões à campanha, o que lhe foi confidenciado por Ralf Barquete, secretárioda Fazenda do então prefeito de Ribeirão Preto, Antonio Palocci (PT). Para lembrar: oprefeito Palocci virou coordenador de campanha de Lula em 2002, substituindo o prefeitopetista Celso Daniel, de Santo André (SP), assassinado. Ralf Barquete também morreu,vítima de câncer.Rogério Buratti relata que as casas de bingo tinham interesse na regularização do jogono Brasil. A Medida Provisória que regulamentava a atividade, elaborada a pedido do mi-nistro José Dirceu (PT-SP), foi abandonada depois de divulgada a gravação em que WaldomiroDiniz aparecia pedindo propina ao empresário de jogo “Carlinhos Cachoeira”. De Burattiaos seis promotores do Ministério Público que tomaram o depoimento:- Em relação à exploração dos bingos no País, tenho conhecimento de que houve duascontribuições em 2002 para a campanha do presidente Lula, que foram efetivadas por doisgrupos. Um do Rio, cujo nome desconheço, outro de São Paulo. O grupo de São Pauloofereceu R$ 1 milhão. Não sei o montante oferecido pelo grupo do Rio. Acredito que seja
149em torno de R$ 1 milhão ou mais. A contribuição foi encaminhada diretamente ao comitêfinanceiro da campanha, na sede nacional do PT. O comitê era coordenado por DelúbioSoares, ele tinha conhecimento. O interesse dessas contribuições era a regulamentação dojogo de bingo no Brasil, o que não aconteceu.O economista César Queiroz Benjamim, fundador do PT. Em entrevista ao repórter Wil-son Tosta, do jornal O Estado de S. Paulo, ele afirma que tomou conhecimento de financi-amentos irregulares de bancos e empreiteiras ao PT, durante a campanha presidencial de 1994.O dinheiro beneficiava o candidato Lula, derrotado por Fernando Henrique Cardoso (PSDB-SP). Na época, César Queiroz Benjamin fazia parte da coordenação da campanha do PT:- Tentei discutir na direção nacional, não houve possibilidade, e resolvi levar ao encontronacional do PT de 1995, que era o primeiro na sequência da eleição. E aí ficou claro paramim que já estava havendo no PT o início do esquema que agora vem à luz, inclusive comos mesmos personagens. Eu tive a percepção de que isso continha um perigo extraordinário,que era a entrada no PT, pesadamente, de esquemas de financiamento que teriam um impac-to grande na vida interna do partido. O Dirceu foi eleito para a presidência, esse grupo queagora está nas manchetes assume cargos-chave, e fica claro que o PT tinha tido uma inflexãopara pior. A direção passava a gerenciar interesses.Segundo César Queiroz Benjamin, o processo de corrupção no PT talvez tenha começa-do antes, com esquemas de financiamento montados por Delúbio Soares. O tesoureiro petistarepresentara a CUT (Central Única dos Trabalhadores, ligada ao PT) no FAT (Fundo deAmparo ao Trabalhador):- Até essa época, a Articulação, que é o grupo do Lula e do Dirceu, ainda disputava a hegemoniano PT, cabeça com cabeça. A minha interpretação é a de que esse grupo usou esquemas definanciamento heterodoxos para fortalecer a Articulação. Porque o FAT faz convênios com sin-dicatos. E assim fortaleceu as finanças da Articulação, que passa a manejar poder financeiro queé uma arma nova na luta. Passa a ter capacidade de financiar candidaturas, trazer pessoas, esta-belecer pontes. Delúbio se tornou figura paradigmática. Foi tesoureiro da CUT, foi para o PTcomo tesoureiro. E esse grupo começa a ser conhecido como “os operadores”.Para César Benjamin, Lula “dissolveu por dentro os valores da esquerda”:- O Lula garante que foi traído, que não sabia. Mas eu não acredito nisso. Foram práticassistemáticas durante mais de dez anos, do grupo que era mais próximo dele. Parece comple-tamente inverossímil que ele fosse o único a não saber. Eu, que já estava fora do PT, sabia.Como o Lula poderia não saber?- O grande legado do Lula é essa disseminação do antivalor. O valor da esperteza, o valorde se dar bem, de não estudar, ter orgulho de não estudar... Eu diria que o Lula sempre foi umgrande guarda-chuva para os oportunistas no PT. Uma coisa é o partido ter um líder que éhonesto, honrado. Então, quem quer ser picareta fica meio acuado. Pode até querer ser picare-ta, mas não é a regra. Outra coisa é você estar num ambiente em que veio de cima o exemplo.Então, sob a liderança do Lula, eu diria que se formou a pior geração de militantes da esquerdabrasileira de toda a sua história: pragmática, oportunista, individualista, carreirista.
1509920/8/2005 A revista Veja obtém informações exclusivas do doleiro Antonio OliveiraClaramunt, o “Toninho da Barcelona”. Ele responde a uma lista de 20 perguntas do repór-ter Policarpo Junior. Relata o envolvimento do PT com o mundo das remessas de divisaspara o exterior, as trocas de dólares por reais e outras transgressões. Fala de uma contaclandestina do PT operada pelo Trade Link Bank, uma offshore ligada ao Banco Rural,nas Ilhas Cayman.O esquema funcionava para o PT sacar dinheiro do exterior e usá-lo no Brasil. SegundoToninho da Barcelona, a operação era conduzida por Dario Messer, um doleiro do Rio. O TradeLink remetia o dinheiro para a offshore de Dario Messer, no Panamá. Ao mesmo tempo, umaquantia correspondente era liberada, em reais, no Banco Rural, em Belo Horizonte. Do repórter:“O esquema é uma forte evidência de que os R$ 28 milhões que Valério diz ter obtido naforma de dois empréstimos junto ao Banco Rural sejam simplesmente recursos internadospelo PT a partir de sua conta clandestina no exterior.”Conforme a reportagem, “os cofres do PT viviam abarrotados de dólares. Em 2002, noauge da campanha presidencial, a casa de câmbio do doleiro Antonio Oliveira Claramunt, aBarcelona, chegou a fazer trocas de moeda em ritmo quase diário”. A revista implica odeputado Devanir Ribeiro (PT-SP), há 30 anos amigo de Lula:“As trocas de dólares por reais, que se materializavam no gabinete do então vereador ehoje deputado Devanir Ribeiro, integram outro braço do esquema petista. Neste caso, opartido mantinha volumes consideráveis de dólares em dinheiro vivo, escondido em cofresou malas ou cuecas, e acionava a casa de câmbio quando precisava convertê-los em reais.Em geral, quem ligava para a casa de câmbio Barcelona era o assessor legislativo da Câma-ra dos Vereadores, Marcos Lustosa Ribeiro – que vem a ser filho do deputado DevanirRibeiro. No telefonema, Marcão, como é conhecido, perguntava a cotação de venda e infor-mava quanto queria trocar. No início de 2002, as trocas eram esporádicas e ocorriam a cadadez ou 15 dias. No meio do ano alcançaram ritmo alucinado. ‘Com a aproximação daseleições tornaram-se quase diárias’, lembra o doleiro.”O repórter entrevista Marcelo Viana, responsável pelas operações de balcão da Barcelo-na na época. As trocas de dólares por reais chegaram à casa dos R$ 500 mil semanais.Dependendo do volume, as somas eram entregues em sacolas ou envelopes, no gabinete dovereador Devanir Ribeiro. Diz Viana:- Mas também já levei dinheiro preso às meias e debaixo da roupa.Marcos Lustosa, o filho de Devanir, não nega. Ressalva, para livrar o pai:- Não era dinheiro de política, meu pai não tinha nada a ver com isso. Era dinheiro que euganhava com serviços de informática que fazia na Câmara, e trocava por dólar. Coisa pe-quena, para meu uso mesmo.O pai, convenientemente, esconde-se atrás do filho:- Se o Marcos trocou dinheiro com Toninho da Barcelona, o problema é dele. O Marcosé maior de idade, casado, vacinado e cuida da vida dele.Outro esquema relatado por Toninho da Barcelona funcionou em Santo André (SP),durante a administração do prefeito Celso Daniel (PT). Movimentou dinheiro a ponto de a- 10122/8/2005 Cai Marcos Antonio Carvalho Gomes, presidente do fundo de pensão FundaçãoReal Grandeza, dos funcionários de Furnas Centrais Elétricas e da Eletronuclear. Filiado aoPT, ele teria investido irregularmente R$ 151 milhões em certificados de depósitos bancári-os do Banco Santos. Do total aplicado, R$ 131 milhões não foram mais recuperados.10223/8/2005 Em depoimento à CPI do Mensalão, o ex-deputado Valdemar Costa Neto (SP),presidente do PL, dá explicações. Recebeu R$ 6,5 milhões em recursos do caixa 2 do PT,entre janeiro de 2003 e setembro de 2004. Pagou despesas com material de campanha dopresidente Lula, no segundo turno das eleições de 2002. O jogo de Valdemar Costa Neto:- A situação em São Paulo era difícil. Lula tinha vencido José Serra no primeiro turno porapenas 100 mil votos. Tínhamos que entrar com força. Encomendei o material e o dinheirofoi gasto para pagar os fornecedores.Valdemar Costa Neto foi autorizado a fazer os gastos pelo tesoureiro Delúbio Soares,“porque ele estava cheio de dívidas e não podia mais procurar os fornecedores”. Mas Valdemarnão tem como comprovar os dispêndios:- Só tenho recibos de R$ 1,7 milhão. Os outros R$ 4,8 milhões foram entregues semcomprovação. Estou tentando pegar alguns recibos no PT.Ivan Guimarães, ex-presidente do Banco Popular, depõe na CPI dos Correios. Braço doBanco do Brasil, o Banco Popular foi criado em 2003 para fomentar a concessão demicrocréditos. Em 2004, Ivan Guimarães alugou apartamento de Rogério Tolentino, sócio deMarcos Valério. Imóvel vendido por Ângela Saragoça, ex-mulher de José Dirceu (PT-SP).No primeiro ano de funcionamento, o Banco Popular gastou R$ 29,7 milhões com pro-paganda, mais que os R$ 21,3 milhões liberados para a concessão de microcréditos. DizIvan Guimarães:- Os gastos de marketing são mais elevados no primeiro ano, porque é preciso construira imagem da instituição.Em seu depoimento, ele atribui toda a responsabilidade pelas despesas e decisões so-bre gastos de propaganda à diretoria de Marketing do Banco do Brasil, chefiada porHenrique Pizzolato.
151cambista Nelma Cunha ter de acionar Toninho da Barcelona por não dispor das quantiassolicitadas. Sobre a corretora Bônus-Banval, de São Paulo:“Um dos esquemas mais complexos – mas igualmente clássico – do PT funcionavana corretora Bônus-Banval. Toninho da Barcelona conta que a corretora era usada pelopartido para intermediar operações fraudulentas e, assim, tornou-se uma das principaisfontes de pagamento do mensalão. Sua especialidade eram as operações de ‘esquenta-esfria’, nas quais os prejuízos eram sempre dos fundos de pensão das estatais. ‘As liga-ções entre o PT e a Bônus são estreitas. Os sócios são amigos íntimos de José Dirceu’,acusa o doleiro.”
172ter enviado ilegalmente US$ 161 milhões para os Estados Unidos. Birigui admite ter abertoem 1998 a conta Chanani, no Safra National Bank, em Nova York, mas a sua movimentaçãoseria feita por Maluf.De acordo com o doleiro, a conta foi aberta a pedido de Flávio Maluf, filho do ex-prefeito. Pai e filho estão presos na carceragem da Polícia Federal em São Paulo há 12 dias.Ambos são acusados de tentar impedir o depoimento de Birigui no processo que investigaMaluf por corrupção passiva, lavagem de dinheiro, evasão fiscal e formação de quadrilha.Além da conta Chanani, Birigui denuncia a abertura de outras duas contas bancárias noexterior, a pedido de Flávio Maluf. Segundo o doleiro, de uma das contas foram transferidosUS$ 5 milhões para o publicitário Duda Mendonça, responsável pela campanha derrotadade Paulo Maluf a governador de São Paulo, em 1998.Conforme o Ministério Público, Paulo Maluf e parentes dele enviaram outros US$ 446milhões para a Suíça. Os promotores responsáveis pela investigação das atividades do ex-prefeito afirmam que a origem do dinheiro estaria no desvio de verbas públicas da Prefeitu-ra de São Paulo, de 1993 a 1996, durante a gestão do por ora prisioneiro federal.Paulo Maluf, aliado do presidente Lula, ficaria preso por 41 dias.13424/9/2005 A revista Isto É publica entrevista com Soraya Garcia, assessora financeira do PTde Londrina (PR) nas eleições de 2004. Ela trabalhou no comitê de reeleição do prefeitoNedson Micheletti (PT). A reportagem de Luiz Cláudio Cunha trata do esquema de aluguéisde automóveis para a campanha política. Soraya Garcia denuncia 17 notas em nome daYaktur, empresa de turismo de São Paulo, e da Gtech, multinacional norte-americana envol-vida no escândalo da renovação de um contrato de R$ 650 milhões com a Caixa EconômicaFederal. Existe suspeita de extorsão e cobrança de propina na assinatura do contrato, crimesnos quais haveria a participação de dois importantes personagens da era Lula, WaldomiroDiniz e Rogério Buratti.Os automóveis foram alugados para uso de assessores da campanha de Micheletti. Acoisa enrolou quando um deles, Rafael Silva, ex-presidente da União Londrinense de Estu-dantes Secundaristas, bateu o carro. Isto É relata:“Em 10 de novembro de 2004, a Avis ligou para Soraya, no PT, cobrando R$ 200 doseguro pela batida leve num pára-lamas do Celta dirigido por Rafael. ‘Eu não sabia doscarros, não eram pagos por mim’. Soraya, então, ligou para a Avis de Curitiba e, lá, informa-ram que o locador era a Yaktur. Na Yaktur, deram um número de telefone em Brasília paraSoraya tratar do problema. Ela ligou e a voz do outro lado respondeu: ‘SMPB, bom dia!’.Exposto o caso, a moça explicou: ‘Meu chefe, o senhor Marcos, não está. Ele viaja muito’,esclareceu, sem citar o nome Marcos Valério. Mas pediu que Soraya ligasse para o gabinetedo então deputado Paulo Bernardo na Câmara. ‘Foi com ele que fizemos o negócio. A genteficou de pagar só o mês, sem cobrir batidas’.”Em outro caso envolvendo a campanha em Londrina, a revista aborda o depoimento domotorista Rogério Bicheri à Polícia Federal. Ele trabalhava para o PT na época e disse ter
173recolhido dinheiro vivo no apartamento de Zeno Minuzo, um assessor do ex-deputado eministro do Planejamento de Lula, Paulo Bernardo (PT-PR). Palavras do motorista:- Fui duas vezes lá, em setembro e em outubro de 2004, dirigindo o carro de Fábio Reali,assessor do prefeito. Estacionei e o Fábio voltou com 20 envelopes, todos com nomes decoordenadores e vereadores em campanha. Era coisa de uns R$ 50 mil. Ele botou doisenvelopes no porta-luvas, e o resto debaixo do banco. Ele disse que dessa forma, se fôsse-mos roubados, levariam menos dinheiro.13525/9/2005 O jornal Folha de S.Paulo publica entrevista do ex-ministro e deputado JoséDirceu (PT-SP), concedida à repórter Mônica Bergamo. Ela pergunta quem são os respon-sáveis pela crise política. Com a palavra, Dirceu:- Muita gente. Parece que eu fui presidente do PT sete anos sozinho, secretário-geralcinco anos sozinho, né? O PT não foi construído assim. Tem dezenas de dirigentes impor-tantes que hoje são prefeitos, governadores, ministros, deputados e senadores que participa-ram da construção de toda essa estratégia comigo.- E o presidente.- E o próprio presidente da República. É isso o que eu digo. A responsabilidade é detodos nós. Nós temos que debater isso, num congresso do partido, e fazer o balanço.- O senhor acha que o presidente da República assume a responsabilidade que tem?- Não quero nominar ninguém. O que eu não aceito é prejulgamento, que foi tudo errado,que foi tudo um fracasso, que a política de alianças do PT estava errada. Tudo foi aprovadodemocraticamente.José Dirceu responde se Lula participou das discussões:- Participou. Todos participaram. Mas eu quero discutir e avaliar. Eu não quero julgarninguém porque eu não quero que me prejulguem. O que não aceito é a imagem de que eufiz tudo sozinho e depois apareceu Silvio Pereira, Delúbio Soares e Marcelo Sereno, quesão o mal. Então corta esse mal e o PT está salvo. Isso é maniqueísta. E eu não mereço isso.Outro trecho da entrevista:- As pessoas que votaram no PT a vida inteira imaginavam que votavam num par-tido que tinha práticas diferentes.- Esse é um erro e o PT vai pagar por ele. Nós vamos ter que pedir desculpas ao País. Nósassumimos compromissos na campanha eleitoral com partidos e repassamos recursos. Sefossem da arrecadação oficial do PT, não teria problema nenhum. Como foram recursos deempréstimos tomados num banco e foram repassados fora da prestação de contas, há umailegalidade aí que vai ser punida pela Justiça.O próprio deputado indaga à repórter se será julgado pela política de alianças e o progra-ma de governo de Lula. E ele mesmo responde:- Então estão julgando Lula também. Tem de saber qual é o julgamento e qual é o grau deresponsabilidade de cada um.- E a responsabilidade política? As pessoas votam no Lula e ele não sabe de nada? Édifícil acreditar que ele ignorava tudo.
174- Não é isso. É que ele não tem responsabilidade. Eu não posso atribuir responsabilidadea ele no grau dele. O Lula tem responsabilidade política porque ele era líder do PT. Mas osgraus são diferentes. Não posso atribuir a ele responsabilidade sobre o caixa 2. Aí eu nãovou atribuir.- Ele não tem responsabilidade como liderança?- Isso é uma pergunta que tem de ser dirigida a ele. Eu não vou responder por ele.13727/9/2005 Investigações da Receita Federal apontam suspeitas sobre o enriquecimento dopublicitário Duda Mendonça. Em 2002, ano da eleição de Lula, os bens dele totalizavam R$6,8 milhões. Em 2004, chegaram a R$ 13 milhões líquidos, livres de dívidas e obrigações.Apesar do envolvimento de Duda Mendonça no escândalo do mensalão, ele mantém ascontas publicitárias federais da Petrobras e do Ministério da Saúde.O empresário Marcos Valério tinha R$ 5 milhões em 2002. Em 2004, no segundo anodo primeiro governo Lula, seu patrimônio chega a R$ 18,5 milhões. A movimentaçãofinanceira do empresário também impressiona. Passaram R$ 13 milhões por suas contasbancárias em 2003.A Receita Federal vê indícios de sonegação de impostos de sete envolvidos no escânda-lo. São os deputados Romeu Queiroz (PTB-MG), Josias Gomes (PT-BA), Paulo Rocha (PT-PA), José Janene (PP-PR), Vadão Gomes (PP-SP) e os ex-deputados Valdemar Costa Neto(PL-SP) e Carlos Rodrigues (PL-RJ).Romeu Queiroz declarou renda de R$ 420 mil em 2004, mas movimentou como pessoafísica R$ 4,3 milhões, mais de dez vezes os rendimentos informados ao fisco. Josias Gomesdeclarou renda de R$ 33 mil em 2002. Depois que Lula se tornou presidente, passaram R$ 697mil pelas contas do deputado em 2003, e R$ 678 mil em 2004. Em dois anos, 20 vezes mais.Valdemar Costa Neto declarou renda de R$ 293 mil em 2002, mas movimentou R$ 827mil. Carlos Rodrigues informou rendimento de R$ 446 mil, enquanto sua movimentação fi-nanceira chegou a R$ 1,8 milhão. A renda de João Paulo Cunha (PT-SP) e da mulher, MárciaMilanésio Cunha, subiu dos R$ 489 mil, declarados em 2002, para R$ 841 mil em 2004.A Receita Federal descobriu mais: o deputado Paulo Fernando dos Santos (AL), presi-dente do diretório do PT de Alagoas, declarou renda de R$ 80 mil em 2004, mas movimen-tou R$ 1,3 milhão. O deputado Professor Luizinho (PT-SP) teve acréscimo patrimoniallíquido de R$ 477 mil entre 2003 e 2004.O deputado José Janene (PP-PR), estrela do escândalo do mensalão, declarou renda deR$ 565 mil em 2004. A movimentação financeira dele foi de R$ 1 milhão. O deputadoVadão Gomes (PP-SP), outro envolvido no escândalo, declarou renda de R$ 1,2 milhão em2004. A Receita Federal apurou movimentação de R$ 2,8 milhões. E Jacinto Lamas, tesou-reiro do PL, declarou R$ 495 mil em 2004. Movimentou R$ 1,9 milhão.Ligações perigosas. O Jornal Nacional, da TV Globo, noticia as andanças do empresárioArthur Wascheck, tido como o mandante da gravação na qual o alto funcionário dos Correi-os, Maurício Marinho, aparece recebendo propina de R$ 3 mil. Arthur Wascheck teria feito
200Em outro trecho, o relatório afirma que os recursos financeiros serviram para pagar“despesas de campanha presidencial, de governadores de Estado, de deputados federal eestadual, nas eleições de 2002, e de prefeito municipal em 2004”. Não cita culpados:“Não é possível relacionar os parlamentares que perceberam vantagens financeiras ilíci-tas, em virtude da ausência de provas concretas.”O nome de Paulo Abi-Ackel, filho do deputado, aparece na lista de beneficiários docaixa 2, com pagamento de R$ 50 mil. O deputado Abi-Ackel também teria recebido doa-ção de R$ 100 mil de Marcos Valério, na campanha eleitoral de 1998. A indicação de Abi-Ackel para a relatoria da CPI teria sido acertada entre os deputados José Dirceu (PT-SP) eJosé Janene (PP-PR).O TCU (Tribunal de Contas da União) aprova relatórios de auditoria que apontam frau-des e serviços não-executados em contratos de publicidade com o Banco do Brasil, Correi-os e Ministério da Cultura. Prejuízo estimado: R$ 8,3 milhões. Os técnicos do TCU consi-deram que documentos em poder do governo não atestam o cumprimento dos contratos.Houve irregularidades em subcontratações de gráficas e produtoras de vídeo, feitas pelasagências, além de propostas e assinaturas forjadas.Os maiores prejuízos foram encontrados nos contratos da DNA com o Banco do Brasil, sobresponsabilidade de Henrique Pizzolato, o diretor de Marketing da estatal. O Banco do Brasilteria sido omisso e negligente. A DNA ficou indevidamente com R$ 4,2 milhões, dinheiro debonificações que deveria ser repassado ao cliente, ou seja, voltar para o Banco do Brasil.No Ministério da Cultura, os prejuízos do Governo Federal, da ordem de R$ 2 milhões,tiveram origem no contrato com a agência McCann Erickson. Entre as irregularidades, oTCU aponta que empresas participantes de licitações combinaram preços, antecipadamente.Depoimento ao Conselho de Ética da Câmara. O deputado Wanderval Santos (PL-SP) acusa o ex-deputado Carlos Rodrigues (PL-RJ) por saque de R$ 150 mil. A retiradado dinheiro do valerioduto foi feita pelo motorista de Wanderval Santos, Célio Siqueira,no Banco Rural. Carlos Rodrigues renunciou ao mandato, após a acusação de participardo esquema.De acordo com Wanderval Santos, parlamentares ligados à Igreja Universal do Reino deDeus eram submissos a Carlos Rodrigues. Ele costumava se servir dos funcionários dosdeputados, como no caso do motorista Célio Siqueira. Ele teria recebido ordem para sedeslocar até a agência do Brasília Shopping, pegar um envelope e levá-lo à casa de Rodrigues.Diz Wanderval:- Eu não podia punir o Célio, porque ele cumpriu uma ordem. Ele era usado para fazercompras, levar filho na faculdade, pegar pessoas no aeroporto, sem que precisasse daminha autorização.18918/11/2005 Operações suspeitas indicam que a Caixa Econômica Federal favoreceu o BMG,um dos bancos envolvidos no escândalo do mensalão. O BMG, suposto credor de R$ 29,2
201milhões que teriam sido emprestados ao PT e usados no caixa 2 do partido, teve lucro de R$210 milhões ao vender à Caixa Econômica Federal R$ 1,1 bilhão de sua carteira de emprés-timos a aposentados e pensionistas do INSS (Instituto Nacional de Seguro Social).Se tivesse feito diretamente as operações de empréstimo, a Caixa poderia ter lucrado R$696 milhões. Em decorrência das operações com o BMG, os lucros do banco público fica-ram restritos a R$ 346 milhões e, mesmo assim, dinheiro que entraria ao longo de três anos.Do senador Álvaro Dias (PSDB-PR):- Se a Caixa deixou de ganhar, alguém ganhou no lugar dela.Dos R$ 210 milhões de lucro do BMG, R$ 159 milhões correspondem à remuneraçãopela captação de clientes, um ágio integralmente quitado. Além disso, o banco privadomineiro teve lucro extra de R$ 51 milhões, obtido graças à fórmula usada para calcular osaldo devedor dos contratos. Declaração do senador Álvaro Dias:- Temos razões de sobra para supor que essas operações tenham sido instrumento paracalçar os tais empréstimos, que sempre reputamos fictícios, operações meramente contábeis.De acordo com a repórter Marta Salomon, do jornal Folha de S.Paulo, o presidente daCaixa Econômica Federal, Jorge Mattoso, assinou resoluções com vantagens ao BMG. Es-creve a jornalista:“A cronologia das negociações entre BMG e Caixa revela um negócio fechado às pres-sas. Entre a proposta formal do banco mineiro e a resolução do Conselho Diretor da Caixa,que autorizou a primeira compra de créditos referentes a empréstimos concedidos a aposen-tados e pensionistas, passaram-se apenas 23 dias.”Mais: “A cronologia das operações revela um detalhe estranho: a venda de parte dacarteira de empréstimos é concretizada apenas três meses depois de o BMG ser autorizadopor Medida Provisória a operar o crédito a aposentados e pensionistas do INSS com descon-to em folha, em setembro de 2004”.19221/11/2005 Em depoimento ao Conselho de Ética da Câmara, o deputado Roberto Brant(PFL-MG) admite ter recebido R$ 102 mil da agência SMPB, de Marcos Valério. Afirmaque o dinheiro foi doação da empresa siderúrgica Usiminas. A quantia teria quitado despe-sas do programa de televisão de sua campanha a prefeito de Belo Horizonte, em 2004.19322/11/2005 Em depoimento à CPI dos Bingos, Paulo Okamotto, presidente do Sebrae (Ser-viço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas), responsabiliza o ex-tesoureiroDelúbio Soares por tê-lo orientado a pagar em dinheiro vivo a dívida do presidente Lulajunto ao PT, de R$ 29.436,26.Segundo Paulo Okamotto, o dinheiro foi usado por Marisa Letícia, mulher de Lula,durante viagem à China. Também serviu para acertar gastos de Lula com viagens a Cuba ea Europa, despesas médicas e um empréstimo de R$ 5 mil. O valor corresponde à remune-ração mensal de Paulo Okamotto, de “pouco mais de R$ 30 mil”, conforme declaração dele
202à CPI. Além do salário do Sebrae, Paulo Okamotto recebe como integrante do conselho daBrasil-Prev e é aposentado como metalúrgico. Diz Paulo Okamotto:- Não sou um homem de posses.Para o senador Jefferson Péres (PDT-AM), o episódio mostra promiscuidade entrepúblico e privado:- Okamotto fez um favorzão ao presidente e recebe em troca um cargo dos mais cobiçados.Indiciados pela Polícia Federal David Stival, ex-presidente do PT do Rio Grande do Sul,Marcelino Pies, ex-tesoureiro do partido em Porto Alegre, e Marcos Trindade, militantepetista. Todos são acusados de transferir R$ 1,05 milhão de Marcos Valério para o PT, em2003. O dinheiro do valerioduto não foi contabilizado pelo partido. No total, o PT gaúchosacou R$ 1,2 milhão da conta bancária da agência SMPB, sendo que R$ 150 mil teriamacertado despesas gráficas do Diretório Nacional do PT.Depoimentos ao Conselho de Ética da Câmara. O presidente do PP, deputado PedroCorrêa (PE), e o assessor da liderança do partido, José Cláudio Genu, admitem formalmenteo recebimento de R$ 700 mil do valerioduto. O dinheiro pagou honorários do advogado doex-deputado Ronivon Santiago (PP-AC). Eles negam que houve compra de deputados. Ex-plicam que a soma não foi contabilizada porque ficaram aguardando o PT formalizar os“auxílios financeiros negociados com o Partido Progressista”.19423/11/2005 Em depoimento à CPI dos Bingos, Rosângela Gabrilli, proprietária da empresade ônibus Expresso Guarará, afirma que Lula recebeu informação, em 2003, sobre esquemade extorsão montado pelo PT em Santo André (SP). As operações irregulares teriam conti-nuado após a morte do prefeito Celso Daniel (PT), em 2002. O relato da situação foi feito aopresidente da República pela irmã de Rosângela, Mara Gabrilli, num encontro de 20 minu-tos no apartamento de Lula, em São Bernardo do Campo (SP).De acordo com Rosângela Gabrilli, donos de empresas de ônibus em Santo André eramobrigados a contribuir para o caixa do PT desde 1997, no início da segunda gestão de CelsoDaniel. Cabia ao Expresso Guarará o repasse de R$ 40 mil mensais. O dinheiro tinha de serentregue em espécie, mas em determinado período ocorreram depósitos diretamente naconta bancária de Sérgio Gomes da Silva, o “Sombra”, no Banespa.Rosângela Gabrilli diz que Sérgio Gomes da Silva era o arrecadador do dinheiro, en-quanto o empresário Ronan Maria Pinto cumpria o papel de “interlocutor junto aos empre-sários”. Ela também relaciona Klinger Luiz de Oliveira (PT), ex-vereador e ex-secretário deServiços Municipais de Celso Daniel, apontado como o líder do esquema.- Os achaques eram feitos com intimidação e ameaça. Diziam que o Klinger tinha sem-pre um revólver preso na canela. Isso constrangia muito. E ele lembrava a cada momento:“Com o poder não se brinca, o poder tudo pode”.Em entrevista à repórter Mariana Caetano, de O Estado de S. Paulo, Mara Gabrilli dizque aguardou por 32 meses manifestação de Lula sobre as denúncias feitas por ela no en-contro com ele em São Bernardo do Campo. O Palácio do Planalto não se pronuncia sobre
251- O Vladimir, o doutor Rogério, o doutor Ralf, sim.- Por que o senhor decidiu contar tudo isso agora?- É porque o Francisco depôs na CPI e citou a mim e minha mulher. Fiquei meio commedo e resolvi falar logo.A entrevista de Francenildo Santos Costa repercute. Ao tomar conhecimento do teor dasdeclarações do caseiro, antes mesmo da publicação da entrevista, Antonio Palocci apressa-se a informar, por meio de sua assessoria, que reiterava o que dissera à CPI dos Bingos:“Nunca foi à casa do Lago Sul e, portanto, não tem qualquer relação com as atividadesrealizadas na mesma”.Publicada a entrevista, Antonio Palocci aproveita a participação numa teleconferênciapara tratar de desmentir o caseiro. Diz o ministro:- Quero até ressaltar que eu não guio aqui em Brasília. Uso carro oficial ou ando com aminha esposa.Em mais uma nota, a assessoria do ministro da Fazenda volta à carga:“O ministro Antonio Palocci continua afirmando o que disse à CPI dos Bingos. Ele nãofoi àquela casa no Lago Sul e não tem conhecimento de qualquer atividade que acontecia nacasa. E mais: o ministro não sabe dirigir em Brasília.”O Conselho de Ética da Câmara aprova, por 9 votos a 5, pedido de cassação do ex-presidente da Câmara dos Deputados, João Paulo Cunha (PT-SP). Em seu parecer, o relatordo caso, deputado Cezar Schirmer (PMDB-RS), acusa Cunha de mentir sobre o saque de R$50 mil feito por sua mulher. Cunha disse que ela foi ao banco tratar do pagamento de umaconta de TV a cabo, mas a mulher sacou dinheiro do caixa 2 do PT. Entre as denúncias,Cunha é acusado de favorecer Marcos Valério ao conduzir licitação irregular para contratara agência SMPB, de Valério, para administrar conta de publicidade da Câmara.Para o relator, a contratação da SMPB tem “conflito de interesse”, pois Cunha já contra-tara Valério anteriormente, para a campanha à presidência da Câmara. Além disso, Cunhaadmitiu que Valério lhe dera uma caneta Mont Blanc. O empresário pagou passagens aéreaspara uma assessora de Cunha.Cezar Schirmer vincula a conquista da conta de publicidade da Câmara ao saque deR$ 50 mil efetuado na agência do Banco Rural do Brasília Shopping, apenas um diaapós Cunha receber Valério para café da manhã na residência oficial. O relator tambémviu irregularidades em notas fiscais com números sequenciais. Elas foram apresentadaspor Cunha, para tentar justificar os R$ 50 mil sacados pela mulher. O dinheiro pagariapesquisas eleitorais.Novas informações sobre as contas bancárias do publicitário Duda Mendonça no exte-rior. Documentos enviados por autoridades norte-americanas à CPI dos Correios revelama existência de mais seis contas secretas. De acordo com o jornal O Estado de S. Paulo,foi identificada a Stuttgart Company, empresa de Duda Mendonça fora do Brasil. Nototal, são dez as contas no exterior. Das seis novas, a metade foi aberta no BankBoston da
252Flórida, em nome da Stuttgart Company, de Rita de Cássia Santos Moraes, ex-mulher deDuda Mendonça, e de Eduardo de Matos Freiha, sócio do publicitário. As outras três perten-cem à Dusseldorf. Uma delas, no BAC Florida Bank, recebeu US$ 1,1 milhão. Doleirosteriam depositado o dinheiro.30615/3/2006 Francenildo Santos Costa concede entrevista coletiva. Diz que o ministro Anto-nio Palocci (PT-SP) esteve várias vezes na “casa dos prazeres”, entre 2003 e 2004. Segundoo caseiro, Antonio Palocci costumava ir à mansão “quinta-feira sim, quinta-feira não”, alémde alguns sábados e domingos.Francenildo Santos Costa conta que havia sempre uma mulher nas noites de quinta emque Antonio Palocci esteve na “casa dos prazeres”. Normalmente Vladimir Poleto ouAdemirson Ariosvaldo da Silva, secretário particular do ministro, a traziam. AdemirsonAriosvaldo da Silva vinha com um carro Santana preto, com placas de Ribeirão Preto (SP).O caseiro relata que Palocci chegava às 18 ou 19 horas, sempre guiando o Peugeot deRalf Barquete, e ia embora às 20h30, outras vezes às 22 horas, “não tinha hora certa”. Eleafirma, contudo, que Palocci não participava de festas promovidas pelo grupo de pessoas deRibeirão Preto, sempre com três ou quatro garotas, às terças-feiras. Deputados do PT, uns“cinco ou seis” de acordo com o caseiro, também estiveram nas festas. Palavras do caseiro:- Entrei numa barca furada. Pensava que eram pessoas honestas, e não eram. No final eraessa sujeira que está aí. Pessoas que fazem esse tipo de coisa não deveriam estar num cargolá em cima.Francenildo Santos Costa recorda que algumas garotas, certa vez, teriam consumido drogas,o que revoltou Vladimir Poleto. Ele telefonou para alguém e disse que não queria mais aquelasmulheres na casa. O caseiro fala sobre a noite em que conversou com Palocci pelo interfone:- Eu estava fechando a casa quando tocou o telefone. Ele disse: “Estou perdido aqui e tôquerendo sair”. Abri o portão dos fundos e ele foi embora.A Câmara dos Deputados cassa o mandato do presidente do PP, deputado Pedro Corrêa(PE), por 261 votos contra 166. Apenas quatro votos a mais do que o mínimo de 257 neces-sários para a perda do cargo. Em compensação, os votos secretos absolvem o ex-líder do PP,deputado Pedro Henry (MT). Ambos foram acusados de envolvimento no escândalo domensalão. Votam pela absolvição 255 deputados, contra 176 que pedem a condenação.A principal acusação contra Pedro Henry veio de Roberto Jefferson (PTB-RJ). Ele disseque o pepista tentou cooptar dois deputados do PTB, oferecendo-lhes as vantagens domensalão. O PP foi contemplado com R$ 4,1 milhões do caixa 2 do PT, conforme informa-ções de Marcos Valério, mas só admitiu ter posto as mãos em R$ 700 mil. Trecho do relató-rio do deputado Carlos Sampaio (PSDB-SP), que apreciou o caso de Pedro Corrêa:“O PP disse que o dinheiro foi utilizado para pagar o advogado para Ronivon Santiago.Era dinheiro repassado pelo PT. No Acre, o PT movia ações contra Ronivon, mas aqui, noplano federal, o PT fornecia recursos para defender Ronivon; lá, o PT apontava fraudescontra Ronivon, mas aqui oferecia subsídios para o deputado.”- 301Soares. Além disso, como já relatado, uma das antecipações serviu para abater um dosempréstimos do BMG que suportaram a engenharia ora denunciada”.O relatório esmiúça irregularidades descobertas no contrato de R$ 12,8 milhões entre aSMPB e o Ministério dos Esportes, e no contrato da DNA com a Eletronorte, no total de R$42,2 milhões. Entre os expedientes suspeitos, recebimento de comissões sem a correspon-dente prestação de serviços, sobrepreços na aquisição de bens, simulação de cotação nospreços de serviços subcontratados, pagamento por serviços não-realizados e apresentaçãode propostas fraudulentas, para justificar a subcontratação de serviços.O próximo capítulo tem o título de “Lavagem de dinheiro”. O procurador-geral da Repú-blica acusa a existência de um “sofisticado mecanismo de branqueamento de capitais”,implementado pelo núcleo de Valério:“A sistemática criada pelos dirigentes do Banco Rural, aprimorada a partir do início de2003, possibilitou a transferência, em espécie, de grandes somas em dinheiro com a ocultaçãoe dissimulação da natureza, origem, movimentação e destino final.”Cabia a Delúbio dizer a Valério quem receberia e qual valor a ser entregue:“A estrutura articulada pelos dirigentes do Banco Rural possibilitou que o grupo deMarcos Valério, notadamente Simone Vasconcelos e Geyza Dias, comunicasse ao gerenteda conta da SMPB ou DNA no Banco Rural de Belo Horizonte, agência Assembléia, aoperação que seria desencadeada, ou seja, pagamento de determinada quantia, nas praças deBelo Horizonte, Brasília, São Paulo ou Rio de Janeiro, qualificando a pessoa que efetuariao recebimento e transporte, em malas ou sacolas, dos recursos financeiros.”O procurador-geral anotou o comportamento do funcionário do Banco Rural: “Nos doisanos dos intensos saques, o tesoureiro José Francisco destacou que nenhum recebedor faziaconferência do numerário, limitando-se a acondicionar os vultosos recursos em uma mala,bolsa ou sacola que levavam para tal finalidade ou lhes eram entregues pela própria SimoneVasconcelos. Por seu turno, Simone Vasconcelos, conforme declarado na fase inquisitorial,limitava-se a entregar o numerário à pessoa identificada para o seu recebimento, sem confe-rir sequer a identidade”.Do inquérito: “O Banco Rural, embora tivesse conhecimento dos verdadeiros sacadores/beneficiários dos recursos sacados na ‘boca do caixa’, registrou no Sistema do Banco Cen-tral (Sisbacen – opção PCAF 500, que registra operações e situações com indícios de crimede lavagem de dinheiro) que os saques foram efetuados pela SMPB Comunicação e que sedestinavam a pagamento de fornecedores”.A denúncia apresentou “situações de pagamentos, pelo esquema de lavagem”, envol-vendo João Cláudio Genu, assessor do PP, o deputado Josias Gomes (PT-BA) e ainda Jacin-to Lamas, ex-tesoureiro do PL, e José Luiz Alves, assessor do ex-ministro dos Transportes,Anderson Adauto (PL-MG).De acordo com o procurador-geral, as agremiações políticas corrompidas, pagas comvultosas quantias, “chegaram a estruturar quadrilhas autônomas para viabilizar o cometi-mento dos crimes de corrupção passiva e lavagem de capitais, consistentes no recebimentodireto ou disfarçado dos pagamentos de propina em troca de integrarem a base de apoio doGoverno Federal”.
- 302O inquérito prossegue: “Além dos pagamentos que foram comprovados pelos documen-tos obtidos em razão do cumprimento de medida de busca e apreensão no Banco Rural, épreciso registrar que vários repasses foram efetuados diretamente por Marcos Valério eSimone Vasconcelos sem qualquer registro formal, ainda que rudimentar”.Em relação ao PP, a acusação relaciona os deputados José Janene (PR), Pedro Corrêa(PE), Pedro Henry (MT) e o assessor João Cláudio Genu. Todos denunciados pelo “recebi-mento de vantagem indevida” de R$ 4,1 milhões, num acordo que implicava apoio do par-tido ao Governo Federal. A denúncia:“Após formalizado o acordo criminoso com o PT (José Dirceu, Delúbio Soares, JoséGenoino e Silvio Pereira), os pagamentos começaram a ser efetuados pelo núcleo publicitá-rio-financeiro. Os recebimentos, por sua vez, eram concretizados com o emprego de opera-ções de lavagem de dinheiro para dissimular os reais destinatários dos valores que serviramcomo pagamento de propina.”No primeiro momento, os denunciados decidiram receber por meio de um intermediário, oassessor João Cláudio Genu. Os saques eram efetuados por Simone Vasconcelos no BancoRural e repassados a Genu, em malas ou sacolas, dentro da agência do Brasília Shopping, emquarto do hotel Grand Bittar, em Brasília, ou na própria sede da SMPB na capital federal.Depois, com a finalidade de “sofisticar as manobras de encobrimento da origem e naturezados expressivos montantes auferidos pela quadrilha”, foram utilizadas as empresas Bônus-Banval, de Enivaldo Quadrado e Breno Fischberg, e Natimar, de Carlos Alberto Quaglia.No PL, os denunciados são o ex-deputado Valdemar Costa Neto (SP), os irmãos Jacintoe Antonio Lamas, Lúcio Funaro e José Carlos Batista. Os três primeiros receberam, em2003 e 2004, cerca de R$ 10,8 milhões em propina.A denúncia: “O acordo criminoso com os denunciados José Dirceu, Delúbio Soares,José Genoino e Silvio Pereira foi acertado na época da campanha eleitoral para a Presidên-cia da República em 2002, quando o PL participou da chapa vencedora”.Para dissimular os destinatários, operações de lavagem de dinheiro: “De fato, conscientede que os montantes eram oriundos de organização criminosa voltada para o cometimento decrimes contra a administração pública e contra o sistema financeiro nacional, os denunciadosarticularam mecanismo para dissimular a origem, natureza e destino dos valores auferidos”.Os repasses foram intermediados pela Guaranhuns Empreendimentos, de LúcioFunaro e José Carlos Batista. Não obstante, “a obtenção dos recursos em espécie tam-bém era empreendida por Valdemar Costa Neto, que costumava receber altas quantiasem sua própria residência”.O procurador-geral acrescentou: “Logo após, junho de 2003, iniciou-se a sistemática derepasse de dinheiro pelo mecanismo de lavagem disponibilizado pelo Banco Rural, atravésdo recebimento, em espécie, por Jacinto ou Antonio Lamas, na agência do Banco Rural emBrasília; no hotel Kubitschek, em Brasília; no hotel Mercure, em Brasília; e na filial daempresa SMPB, também localizada em Brasília”.Em âmbito do PTB, a propina em troca de apoio político foi recebida pelo ex-presidenteJosé Carlos Martinez, falecido, Roberto Jefferson e o deputado Romeu Queiroz (MG), coma ajuda de Emerson Palmieri. A acusação:
- 303“Os denunciados, cientes de que os montantes recebidos tinham como origem organiza-ção criminosa dedicada ao cometimento dos crimes contra a administração pública e contrao sistema financeiro nacional, engendraram mecanismo para dissimular a origem, naturezae destino dos valores auferidos.” (...)“Em dezembro de 2003, Roberto Jefferson manteve contato com Romeu Queiroz, secre-tário do PTB, para que este retomasse os mecanismos estruturados durante a gestão de JoséCarlos Martinez para a obtenção de recursos financeiros. Romeu Queiroz procurou o entãoministro Anderson Adauto, o qual manteve entendimentos com Delúbio Soares, que seprontificou a retomar as transferências através da empresa SMPB, o que de fato ocorreu,nos termos abaixo narrados.” (...)“Assim, em janeiro de 2004, José Hertz, coordenador do PTB em Belo Horizonte, rece-beu um telefonema de Emerson Palmieri que o orientou a buscar um envelope a ser entre-gue por Simone Vasconcelos. Primeiramente, José Hertz pegou um envelope com dinheirona agência do Banco do Brasil em Belo Horizonte e, depois, recebeu outro envelope conten-do dinheiro na agência do Banco Rural em Belo Horizonte.”“José Hertz deslocou-se até Brasília e entregou ambos os envelopes contendo dinheiro aEmerson Palmieri na data de 5/1/2004, ocasião em que Emerson Palmieri ligou para RobertoJefferson informando o seguinte: ‘assunto resolvido’.”Outro enrosco: o “núcleo central da quadrilha” acertou um repasse de R$ 20 milhões aoPTB, mas só teria providenciado a entrega de R$ 4 milhões, em duas parcelas. O caso já foirelatado em detalhes.Sobre o PMDB: o ex-deputado José Borba (PR), líder do partido na Câmara, “integrou oesquema de corrupção em troca de apoio político”. E recebeu, segundo admitiu Valério, R$2,1 milhões. A denúncia:“Ciente da origem ilícita dos recursos (organização criminosa voltada para a prática decrimes contra a administração pública e contra o sistema financeiro nacional), bem comodos mecanismos de lavagem empregados para a transferência dos valores, José Borba atuoupara não receber diretamente o dinheiro, de forma a não deixar qualquer rastro de sua parti-cipação no esquema”. O relatório ressalva:“No entanto, ficou comprovado o pagamento de uma das parcelas disponibilizadas pelogrupo de Marcos Valério, no valor de R$ 200 mil ao ex-deputado federal José Borba, querecebeu esse dinheiro das mãos de Simone Vasconcelos. Nessa ocasião, o próprio JoséBorba compareceu na agência do Banco Rural em Brasília e procurou o então tesoureiro doBanco Rural em Brasília João Francisco de Almeida para a entrega do dinheiro, o que foiconfirmado por Simone Vasconcelos.”“Todavia, José Borba recusou-se a assinar qualquer documento que comprovasse o rece-bimento da importância acima, fazendo com que Simone Vasconcelos se deslocasse atéessa agência, retirasse, mediante a sua própria assinatura, a quantia acima informada, eefetuasse a entrega desse numerário ao então parlamentar.”O relatório dedica capítulo à “Lavagem de dinheiro (Partido dos Trabalhadores e o ex-ministro dos Transportes)”. A denúncia:
- 357veio de emenda apresentada por Renan ao Orçamento da União. A KSI era controlada porum aliado de Renan, de nome José Albino Gonçalves de Freitas. A obra foi contratada peloprefeito de Murici, Renanzinho.Sem sede própria, a “empresa” teria faturado R$ 1 milhão dos cofres federais, graças aconvênios com várias prefeituras do interior de Alagoas. O tal José Albino, que trabalhoucomo assessor de Renan, chegou a operar uma segunda empresa de fachada em Alagoas, denome Caiçara Construções. Renan também beneficiou a Caiçara. Conseguiu dinheiro paraobras na Prefeitura de Flexeiras (AL), cidade vizinha de Murici, por meio de emendas aoOrçamento. Na época, Flexeiras era governada por uma prima do senador.Havia suspeitas, ainda, sobre outras três empresas. Desde 2004, segundo ano do governoLula, elas faturaram juntas R$ 46 milhões em verbas federais. As empresas Lacerda Engenharia,Maris Construções e Materiais e Cicla Construções e Representações de Materiais atuavam nointerior de Alagoas, em prefeituras que celebravam contratos graças a emendas de Renan.A Operação Carranca, da Polícia Federal, prenderia os empresários ligados a essas eoutras empresas que agiam em Alagoas, inclusive na cidade de Murici, todos acusados defraudar licitações públicas com recursos federais entre 2004 e 2007. O prejuízo apuradopelos federais alcançava R$ 20 milhões. As empresas simulavam que disputavam as licita-ções, mas eram coirmãs ou fantasmas, montadas para fraudar contratos com o governo.Do procurador Rodrigo Tenório, do Ministério Público de Arapiraca (AL), que partici-pou das investigações: “Eles tinham um contrato para pavimentar 300 metros de asfalto efaziam 200. Tinham de fazer casas com muros separados e faziam geminadas”.Supostamente alheio à nova denúncia envolvendo Renan, o presidente interino do Sena-do, Tião Viana (PT-AC), articulou a rejeição das representações contra o senador alagoano.Para agradar a oposição, tratou também da rejeição de uma representação contra o senadorEduardo Azeredo (PSDB-MG), envolvido no caso do mensalão mineiro.O objetivo de Lula era salvar a pele de Renan, evitando a cassação do aliado que ficariasem mandato por 10 anos, mas desde que Renan renunciasse de vez à presidência do Sena-do e pusesse um ponto final à crise. Não importava a quebra do decoro parlamentar. Nuncaimportou. De sobra, o “acordão” facilitaria a aprovação da emenda constitucional que pror-rogaria a CPMF (Contribuição Provisória sobre Movimentação Financeira). A prorrogaçãoaté o ano de 2011 da CPMF, conhecida como imposto do cheque, possibilitaria uma arreca-dação de R$ 40 bilhões por ano e era estratégica para o governo.Havia um problema pela frente: o processo da compra em nome de laranjas de duasemissoras de rádio e um jornal em Alagoas, por Renan Calheiros e o seu aliado na época, ousineiro e ex-deputado João Lyra, que confessou tudo. O caso vinha sendo relatado pelocombativo senador Jefferson Péres (PDT-AM), que seguramente não aliviaria para Renan.A parceria oculta de R$ 2,5 milhões entre Renan e Lyra foi confirmada pelo contadorJosé Amilton Barbosa. Para constar: a Constituição e o Regimento do Senado proíbemparlamentares de dirigirem ou serem proprietários de empresas de comunicação. Desfeita asociedade da dupla Renan/Lyra, uma das rádios acabou em nome de Renanzinho.João Lyra, que virou inimigo de Renan Calheiros, pôs mais lenha na fogueira. Denun-ciou um pagamento de R$ 500 mil que disse ter feito ao então presidente do Senado. O
- 358“pedágio” teria sido cobrança de Renan para facilitar a regularização, no Senado, de con-cessão de operação da rádio que ficara com Lyra depois de desfeita a sociedade. A propinateria sido paga a Tito Uchoa.O relatório de Jefferson Péres pedindo a cassação de Renan Calheiros foi aprovado em14 de novembro de 2007 pelo Conselho de Ética do Senado, por 11 votos a 3. Mas,lembre-se: aqui, o voto foi aberto. A perda do mandato só é decidida em plenário, peloconjunto dos senadores, em votação secreta. E para evitar isso Lula se mexeu, naquelemesmo dia 14 de novembro, sacramentando no Palácio do Planalto uma articulação queabsolveria o aliado. Da série de reuniões para discutir a estratégia governista participa-ram, além do próprio Renan, o presidente interino do Senado, Tião Viana (PT-AC), oministro das Relações Institucionais, Walfrido dos Mares Guia (PTB-MG), e o senadorEdison Lobão (PMDB-MA), aliado de José Sarney (PMDB-AP), que seria nomeado porLula ministro de Minas e Energia.Na véspera da votação secreta, Tião Viana pediu que os senadores não abrissem o voto.“Pelo regimento, se configura quebra de decoro”, ameaçou o petista. Seguindo o scriptacertado com Lula, Renan renunciou à presidência do Senado em 4 de dezembro de 2007.Na mesma sessão secreta, ele acabaria absolvido no processo das compras das rádios e dojornal, por 48 votos a 29. Houve três abstenções. Só 29 senadores, portanto, votaram a favorda cassação. Eram necessários 41 votos para Renan perder o mandato.Na saída do Senado, Renan declarou: “Saio de alma lavada”. Seguiu para a casa dosenador José Sarney, tida como o centro do poder do PMDB. Durante a comemoraçãocom próceres do partido, sonoras gargalhadas foram ouvidas do lado de fora da resi-dência. Dando prosseguimento ao acordão, no dia seguinte o presidente do Conselho deÉtica do Senado, Leomar Quintanilha (PMDB-MS), mandou arquivar todas as outrasdenúncias contra Renan.Renan preservou o mandato de senador. Em pouco tempo voltaria a ser poderoso, após aeleição de José Sarney para a presidência do Senado. Foi recompensado por Sarney com aliderança do PMDB. A história vem depois.
- 359Sob a conveniência da ‘segurança nacional’,Lula não revelou gastos com cartão corporativoAs despesas do governo Lula com cartões corporativos se transformaram numa caixapreta. Só a Presidência da República teria efetuado gastos secretos superiores a R$ 20 mi-lhões entre 2004 e 2007. Na esteira das investigações conduzidas pelo Congresso Nacional,Lula se viu obrigado a afastar a sua ministra da Igualdade Racial, Matilde Ribeiro (PT-SP),que não teve como justificar as despesas com o chamado dinheiro de plástico.Para evitar a quebra de sigilo dos cartões corporativos e amansar deputados e senadoresoposicionistas, o Palácio do Planalto urdiu a elaboração de um dossiê com gastos do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso (PSDB-SP) e da ex-primeira dama, Ruth Cardoso.Os dados foram preparados e divulgados pelo Ministério da Casa Civil, sob o controle deDilma Rousseff (PT-RS).A responsável pela formatação da documentação foi apontada como sendo Maria de laSoledad Castrilho, a “Marisol”, que ocupava os cargos de diretora de Recursos Logísticos echefe de gabinete de Erenice Guerra, a secretária-executiva e principal assessora da ministraDilma Rousseff. E quem vazou o dossiê foi José Aparecido Nunes Pires, militante histórico doPT, levado para o Ministério da Casa Civil pelo antecessor de Dilma Rousseff, José Dirceu.Ora, se Lula não queria divulgar com transparência os seus gastos em nome da seguran-ça do presidente da República, o que justificaria tornar públicas as despesas do antecessor?De qualquer forma, a jogada do governo deu certo. Desviou o foco das atenções da CPI dosCartões sobre desvios, irregularidades e até enriquecimento ilícito para o debate políticosobre o dossiê de FHC.Vale registrar distorções acerca do uso dos cartões corporativos em nome da Presidênciada República no segundo mandato de Lula, mesmo que pouco tenha vindo à tona em razãodas sistemáticas rejeições da base aliada do governo aos requerimentos com pedidos deinformação à CPI. Das poucas coisas que ficaram públicas, houve o pagamento insignifi-cante de R$ 112,11 de uma conta de internet de Fábio Luís Lula da Silva, o “Lulinha”, filhodo presidente, efetuada em setembro de 2003.Dez funcionários da Presidência da República foram autorizados a usar cartõescorporativos para fazer compras de interesse de Lula em 2007. Gastaram R$ 3,6 milhões.Do total, os ecônomos, nome técnico dos funcionários, retiraram R$ 352 mil em dinheirovivo. Com a notícia nos jornais, receberam orientação para não conceder entrevistas. Infor-mações sobre os gastos chegaram a conhecimento público por meio do Portal da Transpa-rência, um site na internet gerenciado pela CGU (Controladoria-Geral da União). Depois osdados foram retirados da rede mundial de computadores.Antes das informações terem sido subtraídas da internet, era possível saber os gastos decada um dos dez ecônomos a serviço da Presidência da República entre 2003 e 2007. Jun-tos, despenderam R$ 11,6 milhões, sendo que sacaram R$ 1,7 milhão em dinheiro vivo emcaixas eletrônicos.