Trajetória Evolutiva
Cap. Aviador Felino Alves de Jesus
Durante a Campanha da Itália
(1944)
FELINO ALVES DE JESUS
Trajetória evolutiva
1983
CENTRO
REDENTOR
Rua
Jorge Rudge, 119
Rio
de Janeiro, Brasil
Índice
Prefácio
da 6ª edição
Prefácio da 2ª edição
Síntese biográfica
Prólogo
Introdução
1. Matéria e energia
2. Matéria viva
3. Racionalismo Cristão
4. Força e Matéria
5. Vibrações
6. O homem como um aparelho receptor-transmissor de
fluidos espirituais
7. O pensamento
8. A ação dos espíritos
Homenagem póstuma
Asas partidas
O adeus dos
colegas da Escola Naval
Capitão
Aviador Felino Alves de Jesus
Ad
imortalitatem
O exemplo de
uma vida
Prefácio da 6ª edição
Já tínhamos a felicidade de conviver com um rapaz, garboso oficial da
Aeronáutica, pelo qual nutríamos profunda admiração e respeito, e o amávamos
como a um irmão mais velho.
Seu hobby era a prática do radioamadorismo. Nas poucas horas de
lazer de que dispunha, como higiene mental, entregava-se a essa atividade. A
aparelhagem de radioamador achava-se instalada no edifício da antiga sede da
Casa-Chefe do Centro Redentor, na rua Jorge Rudge, 121, em Vila Isabel.
Era comum, aos domingos, sairmos juntos após o almoço, e nos dirigirmos
para aquele local. Ficávamos admirados vendo a satisfação com que ele se
entregava a esse momento de lazer.
Numa
dessas ocasiões, ainda no caminho para a sede do Centro Redentor, lá íamos nós
conversando, como sempre, sobre os mais variados temas: política, assuntos de
estudos etc., quando do outro lado da calçada passou um cidadão que ambos
conhecíamos, como sendo um despeitado, invejoso e que já tinha, em outras
oportunidades, demonstrado a sua inimizade gratuita e sem fundamento para com o
nosso querido amigo e acompanhante.
Fingimos que não o vimos e seguimos nossa caminhada. Imediatamente, no
ardor e entusiasmo de nossa adolescência, externamos a grande ojeriza que
sentíamos por aquele cidadão, passando a desancar o verbo através de críticas
ferinas e depreciativas. Pensávamos até que estávamos agradando . . . Puro
engano ! . . .
Eis
que, para nossa grande surpresa, o nosso estimado acompanhante mergulhou no
mais profundo mutismo, franziu o cenho, e sem dizer uma palavra, deixou que
prosseguíssemos em nosso veemente libelo contra aquela criatura por quem
passáramos. Percebendo sua atitude, demonstrada pela fisionomia fechada, sentimo-nos
constrangidos e interrompemos nossa verbosidade destemperada, assim continuando
até o final do trajeto, sem mais alimentarmos qualquer diálogo, como “dois
amigos zangados”.
Quando já no interior do edifício, ao passarmos pelo salão da
biblioteca, em gestos que chegavam a assumir aspectos de solenidade, ordenou
com austeridade:
– Sente-se nesta cadeira e ouça: não admito que um homem de caráter
fale de outro pelas costas, nem que seja o seu pior inimigo. Quando for
necessário atacá-lo, seja pela palavra ou por outros meios, faça-se pela frente
a não por trás. Se repetir essa
atitude, não podemos continuar amigos.
Timidamente, balbuciamos qualquer explicação, inclusive argumentando
que o indivíduo que acabáramos de criticar, também vivia a denegrir sua figura.
Interrompendo-nos bruscamente, disse:
– Não quero continuar a falar sobre esse assunto, que considero
encerrado e não aceito a argumentação. O que essa pessoa fala de mim não
interessa. Se falar na minha frente terá o revide à altura. Uma criatura de
caráter jamais se nivela às atitudes inferiores do seu antagonista.
Após isso, encaminhamo-nos para o aposento onde havia a instalação de
radioamador, voltamos a conversar e ele continuou a tratar-nos como se nada
houvesse acontecido.
Esse homem que estimávamos como irmão mais velho, chamava-se: Felino
Alves de Jesus!
Oferecendo-se a oportunidade de elaborarmos o prefácio da 6.a edição de
Trajetória Evolutiva, ocorreu-nos, de imediato, a idéia de o ilustrarmos
com um fato que marcou indelevelmente nossa formação moral de jovem
adolescente, e o que é mais relevante, patenteou de modo inequívoco a
personalidade inconfundível e superior do autor deste livro, esteada nos mais
lídimos princípios da lealdade, sinceridade, desprendimento, simplicidade
extremada, natural e espontânea, amor e dedicação ilimitados pelas pessoas de
sua amizade, meigo e carinhoso para com elas, e ao mesmo tempo rigoroso,
intransigente e às vezes até violento, contra atitudes indignas, inconvenientes
e desleais. Analisando o fato ora descrito, observa-se claramente que ele não
admitia a deslealdade nem contra o próprio inimigo.
A lição que recebemos desse grande amigo serviu inegavelmente para
forjar nosso caráter, razão por que não podemos nos sentir bem em criticar
alguém pelas costas.
Jamais o vimos abrir a boca para atacar quem quer que seja, mas muitas
vezes testemunhamos suas reações radicais, ríspidas, firmes e decididas, frente
à frente, contra criaturas que procediam desabonadoramente, não só contra ele,
mas, inclusive, contra seus amigos, entes queridos e familiares.
Desaparecido prematuramente do cenário da vida física com apenas 31
anos de idade, esse tempo, apesar de tão efêmero e fugaz, foi suficiente para
projetar a sua figura inolvidável no ambiente militar em que trabalhou e,
também, nos meios racionalistas, legando à posteridade seus exemplos
dignificantes e fecundos para as gerações vindouras e deixando, ainda, uma
admirável exposição dos princípios racionalistas cristãos, através de sua obra Trajetória
Evolutiva.
Ipso facto, o seu nome fulgurante está definitivamente gravado nas páginas da
História do Racionalismo Cristão.
Os 31 anos de sua vida demonstram que, para um espírito de
incomensurável valor, uma curta existência física basta para a projeção imortal
de sua figura humana em nosso pobre e atrasado planeta Terra.
A própria História da Civilização, desde os seus primórdios, isso nos
comprova.
Basta analisarmos a biografia do extraordinário Alexandre, o Grande,
gênio militar, estrategista e estadista inigualável da História Antiga que,
depois de já ter dominado praticamente todo o mundo de sua época, anterior a de
Cristo, faleceu com 33 anos de idade.
E o
que dizermos de Jesus, o Cristo?! Seus apenas 33 anos de vida física foram
suficientes para legar à humanidade os princípios da autenticidade
incontestável da vida espiritual, chegando até a marcar o advento de uma nova
era, a chamada era cristã, principiando nova contagem cronológica da
civilização terrena.
O
valoroso espírito do nosso querido Felino Alves de Jesus, podemos proclamar,
sem jactância, não fugiu a essa regra. Seus 31 anos bastaram para
imortalizá-lo, através da divulgação do Racionalismo Cristão.
Graças à sua profunda intelectualidade e intuição espiritual, foi feliz
não só na feitura e desenvolvimento do
conteúdo desta obra, como também na
escolha do seu título “Trajetória evolutiva”; porque realmente abrange um termo
que, em síntese, define a base de toda a filosofia do Racionalismo Cristão, o
qual, como doutrina espiritualista autêntica, demonstra que o verdadeiro
sentido da vida não só no planeta Terra, como em todo o Universo, obedece
irretorquivelmente a uma Trajetória Evolutiva.
Após este prefácio da 6ª edição, o leitor encontrará o prefácio da 2ª
edição, da autoria de Othon Ewaldo, pseudônimo do saudoso e querido Sr. Orlando
José da Cruz, que foi amigo íntimo e incondicional da família Cottas e emérito
colaborador intelectual do Racionalismo Cristão, prefácio esse, elaborado no
seu conhecido estilo fluente, leve e agradável, demonstrando em breves pinceladas
a alta relevância da obra de Felino Alves de Jesus.
Em seguida o leitor se deliciará com a síntese biográfica do autor,
redigida por sua viúva D. Maria Luiza Cottas de Jesus. Evidentemente, ninguém
mais do que ela teria autoridade para tão nobre empreitada, aquela a quem ele
tanto amou como esposa, e que, como viúva, soube comportar-se com dignidade,
honrando a memória de um marido excepcional. Nesses traços biográficos
observamos a história de um menino carente de recursos que se tornou, através
do seu próprio esforço, num brioso militar, impondo admiração e respeito,
inclusive, aos seus superiores hierárquicos.
Em continuação, o leitor penetrará no início da obra propriamente dito,
com o Prólogo e Introdução do autor, depois os capítulos subsequentes e,
finalmente, a conclusão.
A partir da 2ª edição observam-se dois Prólogos e duas Introduções.
Objetivando um sentido mais prático e assimilável ao entendimento do leitor,
decidiu-se estabelecer a fusão de ambos, Prólogos e Introduções, surgindo, então,
nesta 6ª edição, um só Prólogo e uma só Introdução.
Como complemento, após a conclusão, temos a transcrição de Homenagens
Póstumas, onde se verifica, através de indescritível calor humano e
sensibilidade espiritual, o enaltecimento justo de uma figura ímpar que se
notabilizou pelo seu caráter sem jaça.
Analisando o conteúdo da obra e a exposição de motivos contida no
Prólogo e Introdução, sentimos que a finalidade precípua do autor foi a de
tentar despertar a criatura humana para a realidade inexorável da fenomenologia
advinda da interligação constante entre Força Inteligente (espírito) e Matéria
Organizada (corpo), através dos subsídios de estudo e pesquisa prodigalizados
por Racionalismo Cristão.
Essa tentativa ele a fez brilhantemente com o seu magistral
desdobramento dos princípios racionalistas cristãos. Começando pela descrição e
análise das mais diversas teorias de conceituados pesquisadores, pensadores e
filósofos, como Alexis Carrel, Luiz Büchner, e outros, focalizando e
dissecando, inclusive, fundamentos científicos de tendências materialistas, ele
conclui para o leitor que a única explicação está na verdade filosófica contida
na teoria espiritualista exposta à humanidade pela doutrina racionalista
cristã.
No incipiente, materializado e atrasado ambiente terráqueo é impossível
a existência de seres humanos “absolutamente perfeitos”. Todavia, raras vezes,
têm surgido na História da Humanidade os “quase perfeitos”. Podemos afirmar,
com segurança, que Felino Alves de Jesus foi um deles.
Obviamente,
quem souber assimilar a verdadeira essência desta obra, poderá desfrutar a
inefável e dupla felicidade de sentir o incentivo e o despertar do seu espírito
para o estudo contínuo das concepções filosóficas do Racionalismo Cristão, e
ainda, a satisfação íntima de usufruir o que definiríamos como sendo um
“convívio espiritual” com o autor, que em vida física soube se impor aos seus
contemporâneos e aos pósteros, pelas atitudes firmes e definidas.
Esta, a mais auspiciosa e incentivadora recomendação que poderíamos
expressar ao leitor que se inicia no manuseio das primeiras páginas da sexta
edição de Trajetória Evolutiva.
Humberto
Rodrigues
Abril de 1980
Prefácio da 2ª edição
Ao volver a última página deste livro, o leitor compreenderá a razão de
a sua primeira edição ter-se esgotado tão rapidamente.
Porque o assunto nele tão despretensiosamente tratado, é da mais alta
transcendência.
Acostumados a vê-lo exposto em alentados volumes, de linguagem
exuberante e exaustivas dissertações, surpreende-nos a maneira franca e sincera
como somos conduzidos pelo autor, desde os conhecimentos
técnicos às suas convicções espiritualistas.
Irreconciliáveis à primeira vista, conhecimentos e convicções como que
se completam e entrosam, porque o autor no-los explica e argumenta, convence e
prova, dentro do que ao nosso pobre entendimento é permitido compreender, na
limitação atual dos conhecimentos humanos.
Por isso, o livro está eivado de interrogações, ainda não respondidas
pelos cientistas, e o próprio autor assim arremata sua interessante explanação
sobre Matéria a Energia: “Que concluímos de tudo o que foi exposto neste
capítulo? -Nada...”.
Para, logo em seguida, baseado em cientistas de renome mundial, estudar
a Matéria Viva, para poder concluir com a sua tese vitoriosa da intervenção e
preponderância do princípio - Inteligência (espírito) sobre a matéria
inanimada.
E, se na verdade, dúvidas e interrogações sempre existiram sobre o
fascinante tema – A Vida fora da matéria – o expô-las de maneira tão clara e
simples, ressaltando os entendimentos da ciência com o espiritualismo, não será
meritório galardão para o autor?
Já estavam escritas estas linhas, quando, em meio aos papéis
pertencentes ao estudioso autor deste livro, foram encontrados os trabalhos
aqui inseridos sob os títulos “Prólogo da 2a edição” e “Introdução
da 2a edição”.
Este último, substancial digressão pelas várias Filosofias e Doutrinas,
das quais ainda existem remanescentes nos dias que correm, mostra que era sua
intenção refundir ou revisar quase toda a obra para esta segunda edição.
E, se não lhe foi concedida a ventura de concluir
seus trabalhos de pesquisa e esclarecimento, resta-nos o consolo de, por eles,
poder-se avaliar do seu ingente esforço nesse sentido.
No final do livro, reunimos numa “HOMENAGEM PÓSTUMA”, diversas
publicações doutrem sobre o saudoso autor, esparsas em jornais desta capital.
E' sem valia a oferenda, mas possa ela servir de estímulo e exemplo aos
que nascem pobres e têm de, pelo seu próprio esforço, com trabalho e
perseverança, conquistar o seu lugar ao sol.
Esses, os nossos desejos.
Othon
Ewaldo
Janeiro de
1953.
Síntese biográfica
Como
viúva de Felino Alves de Jesus que, apesar de sua partida do mundo físico, com
apenas 31 anos de idade, deixou com a pujança do seu caráter excepcional
exemplos dignificantes para aqueles que tiveram a felicidade de usufruir de sua
convivência, inclusive no meio racionalista, e, ainda, por insistência e
sugestão de um amigo do Racionalismo Cristão e da família Cottas, Professor
Edgard Ribeiro Bastos, senti-me impelida e incentivada para acrescentar algo
mais à esta obra, sob feição de síntese biográfica do seu autor, homem
inesquecível pelas atitudes marcantes que sempre soube assumir, objetivando a
narração de fatos que não deveriam permanecer apenas circunscritos ao âmbito
familiar e de amigos mais íntimos, mas sim pela sua grandeza, serem estendidos
ao conhecimento dos leitores e da juventude.
A
vida de Felino Alves de Jesus deu motivo para que fosse aprovada a indicação do
seu nome como Patrono de um Centro Cívico e de uma Biblioteca. O Centro Cívico
Felino Alves de Jesus foi criado em 22 de maio de 1950, na Escola José Linhares
e a Biblioteca Felino Alves de Jesus foi criada em 11 de setembro de 1954, na
Escola Arthur Azevedo. A lembrança destas indicações junto à Secretaria de
Educação do antigo Distrito Federal, depois Estado da Guanabara, e hoje Cidade
do Rio de Janeiro, deve-se ao Professor Edgard Ribeiro Bastos que as sugeriu
influenciado não somente pela amizade que dedicava ao homenageado, mas, também,
pelo que admirava na sua vida escolar e profissional.
Recordando
inaugurações e cerimônias realizadas, desejo reverenciar a figura do tão leal e
dedicado amigo Orlando José da Cruz (o Othon Ewaldo das crônicas), por minha
mãe carinhosamente tratado “o Amigo da Onça”. Era o orador oficial da família
em todas as cerimônias e melhor do que ninguém se desincumbia daquela missão,
pois aliada à sua cultura e facilidade de expressão, suas palavras exprimiam
muito da admiração que sentia pela figura dos Patronos e do carinho e amizade
que nutria pela família dos homenageados[1].
Dizia
sempre o amigo Orlando que não desmerecendo a figura dos demais Patronos de
Escolas, Centros Cívicos e Bibliotecas existentes, ninguém melhor do que Felino
para simbolizar um exemplo a ser seguido pelas gerações vindouras.
Era
Felino Alves de Jesus filho de Maria Alves de Jesus e Saturnino Antonio de
Jesus, pais humildes, mas honrados, e com algumas carências transcorreu a sua
infância. Morou em ambiente muito simples e alguns de má vizinhança, a ponto de
sua mãe ocupá-lo em atividades na Igreja de Santo Afonso, no bairro do Andaraí
(onde chegou a ser sacristão), a fim de afastá-lo do meio ambiente em que
residiam, nas proximidades do Morro do Arrelia, um dos famosos locais perigosos
daquela época. Envidados esforços, mudou-se a família para Jacarepaguá e aí
tudo começou a se modificar. O menino é matriculado na antiga Escola Bahia, em
Jacarepaguá (escola pública de ensino gratuito) e de tal modo se destacava, que
sua professora, a sempre lembrada D. Olimpia Bitting Borges, passou a tomar
interesse por ele, procurando seus pais para que interrompidos não fossem os
estudos do aluno brilhante, que concluído o curso primário não teria
possibilidades de prosseguir estudando.
Naquele
tempo, apenas existia um colégio de nível ginasial, mantido pelo governo e
gratuito, o tradicional Colégio Pedro II, com vagas sempre ocupadas por
recomendação. Era aprimorado o seu ensino e altamente conceituado o seu Corpo
Docente composto de grandes mestres.
–
Quem recomendaria um menino desconhecido e carente de recursos financeiros?!
D.
Olimpia, ciente das dificuldades existentes, empenha-se com um amigo, diretor
de um colégio particular, para conseguir uma matrícula gratuita no curso
ginasial. Todavia, não satisfeita com a orientação que o seu ex-aluno vinha
recebendo, resolve apelar, através de reportagem no jornal “O Globo”, para que
melhor fosse olhado o aluno carente de recursos financeiros e com capacidade
intelectual, citando como exemplo o caso do seu aluno querido, impedido de ter
acesso às escolas de nível ginasial.
Logo
se fizeram sentir os resultados daquele alerta! Foi conseguida matrícula no
Colégio Pedro II e Felino recebe aulas dos grandes mestres daquela época.
Cursava
ele o 4º ano ginasial, quando sua amiga e ex-professora D. Olimpia o alerta
para a tomada de uma decisão quanto à carreira a seguir. Na situação dele, com
carência de recursos financeiros, deveria ser escolhida uma carreira militar.
Felino escolheu a Marinha. Talvez fosse desnecessário dizer que ele optou pela
de mais difícil acesso, quer pelo exame de habilitação, quer pelo critério de
seleção na admissão à matrícula em sua escola preparatória de oficiais – a
famosa Escola Naval (Villegagnon).
É
incentivado por D. Olimpia. Apesar de ainda estar no 4º ano ginasial, arrisca,
sem nenhum preparo em curso especializado, o exame de habilitação à Escola
Naval, por causa do limite de idade que seria ultrapassado, caso ele esperasse
concluir o curso ginasial (na época de 5 anos).
Agradável
surpresa: é aprovado em 11º lugar! E, depois?!
Surgem
os sérios obstáculos do critério de admissão, rigorosíssimo na seleção dos
candidatos, porque para a Escola Naval, naquela época, era selecionada uma
espécie de elite da mocidade que desejava uma carreira militar.
Analisados
os antecedentes do aluno classificado em 11º lugar, a Diretoria da Escola Naval
rejeita a admissão por ser filho de um praça da Polícia Militar do antigo
Distrito Federal. Novamente, D. Olimpia se movimenta. Procura seu amigo Almirante
Protógenes Guimarães, na época interventor do Estado do Rio de Janeiro, expõe o
problema do seu pupilo e ameaça com uma reportagem sobre o critério de
discriminação social na Escola Naval. O Almirante Protógenes Guimarães
interessa-se pelo assunto e envida esforços junto à direção da Escola Naval e
junto ao Ministério da Marinha, alertando para o censurável critério que tanto
desmerecia a famosa Marinha Brasileira e o sério problema criado com a exclusão
de um aluno classificado dentro do número de vagas e num dos primeiros lugares,
após rigoroso exame de habilitação.
Satisfatoriamente,
é resolvido o problema, e a partir daquela época começa a se modificar o
critério de admissão dos alunos aprovados na Escola Naval.
Novo
obstáculo: aquisição do enxoval, bastante custoso, dado o número de fardas e
complementos, roupa de cama, calçados etc.
Diante
da situação dos pais de Felino, D. Olimpia lembra um ofício endereçado ao
Comando da Policia Militar do antigo Distrito Federal, relatando a notícia
alvissareira: um filho de praça daquela corporação matriculado na Escola Naval!
O ofício é enviado pelo próprio Ministério da Marinha. Recebido o ofício, é
imediatamente transcrito na Ordem do Dia da Corporação e por sugestão do
Comandante Aragão o enxoval do futuro Oficial da Marinha ia ser fornecido pela
Policia Militar. Mas, tal foi o regozijo e tão estimado era o praça Saturnino
Antonio de Jesus, que cada praça fez questão de doar um dia de seu soldo para
ajudar na aquisição do enxoval!
Em 23
de abril de 1934, Felino ingressa na Escola Naval e inicia sua carreira
militar. Destaca-se nos estudos, disciplina, trato social e atitudes
patrióticas. Em 30 de dezembro de 1939 sai Guarda-Marinha e classifica-se num
dos primeiros lugares. Faz a viagem de instrução no Navio-Escola Almirante
Saldanha e, após, recebe o galão de 2º Tenente da Marinha.
Decorridos
40 anos, em 1979, numa festividade comemorativa, a figura do colega Felino é
lembrada com carinho e saudade. Seus companheiros de Escola Naval solicitaram a
presença da viúva e filhas às cerimônias comemorativas dos 40 anos de
Oficialato. Hoje são Almirantes, e os da ativa ocupam cargos de evidência e
responsabilidade.
Felino
queria ser aviador. Todavia, teria que esperar o posto de 1º Tenente para
ingressar na Aviação Naval.
É
criado o Ministério da Aeronáutica, em janeiro de 1941. Felino pede
transferência para a Força Aérea Brasileira (FAB). É matriculado na Escola de
Aeronáutica dos Afonsos em 10 de maio de 1941, tendo como companheiros os
Aspirantes de Villegagnon (Escola Naval) e os Cadetes de Realengo (Escola de
Aviação Militar). É considerado Oficial-aluno. Terminado o Curso de Pilotagem,
em 30 de setembro de 1942, tira o Curso de Pára-quedista, na Escola do
Aeroclube de S. Paulo, onde surgiu o pára-quedismo no Brasil. Ao término do
Curso, em 3 de março de 1943, recebe Menção Honrosa e classifica-se em 1º
lugar. Passou a ser o Primeiro Pára-quedista da FAB e chegou a executar 31
saltos, alguns do tipo retardado.
O
Brasil entra na 2ª Guerra Mundial.
Surge
o 1º Grupo de Caça e é aberto o voluntariado. Felino inscreve-se como
voluntário para Controlador de Radar. Ocupa uma das 4 vagas existentes e é
enviado, em 30 de março de 1944, para uma Base de Treinamento da Força Aérea
Americana, no Canal do Panamá. Antes de partir, despede-se do Comando da Escola
de Aeronáutica dos Afonsos, e seu Comandante, Brigadeiro Fontenelle, em ofício
diz: “Elogio o Tenente Felino pela correta disciplina militar, dedicação e
espírito de sacrifício”.
Em
agosto de 1944, em companhia de três colegas ruma para a Itália, desembarcando
em Nápoles. Permanece agregado à Força Aérea Americana, enquanto aguarda a
chegada do 1º Grupo de Caça. Em 7 de outubro de 1944, na Base Aérea próximo a
Tarquínia (Itália) recebe o 1º Grupo de Caça e fica incumbido da ligação desse
Grupo de Caça com a Força Expedicionária Brasileira (FEB). Diziam seus colegas
que ele era tudo: desde mensageiro, até oficial indicado para tratar de
assuntos ligados com o Estado-Maior das forças em combate. Por ser de grande
iniciativa, merecedor da confiança do Comando do Grupo, só recorria ao
Comandante Nero Moura quando se tratava de problema de extrema gravidade.
Apesar das funções em terra, não deixou de ser aviador. Realizou onze missões
de transporte, pilotando o B-25 do Grupo.
Em 2 de
maio de 1945, dia em que terminaram as hostilidades na Itália, ele se desliga
do 1º Grupo de Caça recebendo do Comandante Nero Moura o seguinte elogio: “Por
ter de regressar ao Brasil, louvo o 1º Tenente Aviador Felino Alves de Jesus
pelos bons serviços prestados a este comando com tanta espontaneidade e
dedicação. Afastado do voo por imposição da função que lhe coube, serviu ao
Grupo com o mesmo espírito de sacrifício e patriotismo, trabalhando para a
Unidade, em guerra, com interesse e boa vontade. Inicialmente treinado como
controlador de voo, e neste teatro de operações não tendo oportunidade para
empregar os conhecimentos adquiridos nos cursos e estágios que realizou no
Panamá, Estados Unidos e Itália, destacou-se em outras funções que lhe foram designadas:
coordenador da mala do correio, ligação com a FEB e chefia da Seção de
Armamento do lº Grupo de Caça. Trabalhador incansável, organizador metódico e
oficial disciplinado, o Tenente Felino, pelas suas qualidades e conhecimentos
obtidos em operações de guerra, será sem dúvida uma fonte permanente de
consultas futuras no âmbito da Forca Aérea Brasileira”.
No
dia 11 de maio de 1945, Felino volta à Pátria.
Estava
havendo no Brasil como que um movimento para o retorno do país à democracia.
Vivia-se a fase da ditadura de Vargas. Liderava um movimento, em prol de um
regime democrata, o inconfundível Brigadeiro Eduardo Gomes. Felino,
recém-chegado dos campos de batalha, procura o Brigadeiro e apresenta-se:
“Brigadeiro, vim de lutar por um mundo melhor, quero ao seu lado lutar por um
Brasil melhor”.
A
partir desse encontro, começa a participar ativamente da campanha pela
redemocratização do país, sem temer conseqüências. Estava no serviço ativo da
Força Aérea Brasileira. Em serviço, era o militar disciplinado. Fora do serviço
era o lutador incansável, idealista, colaborador dedicado e leal, grande
incentivador da Campanha liderada pelo Brigadeiro Eduardo Gomes que tinha por
lema: “O preço da Liberdade é a eterna Vigilância”.
Era
indicado para viagens aéreas com a responsabilidade de conduzir autoridades
civis, militares e eclesiásticas. Apesar de seus superiores hierárquicos
conhecerem suas convicções e ideais espiritualistas, era freqüentemente
indicado para conduzir padres e bispos a Congressos, e numa dessas viagens teve
a responsabilidade de conduzir o Cardeal D. Jaime Câmara que havia solicitado à
Diretoria de Rotas Aéreas um piloto competente para conduzi-lo à sagração de
Bispos, no Norte do país. Naquela época, a aviação brasileira como que
engatinhava; suas rotas recém-criadas, falta de radiocomunicações em alguns
campos de pouso; não havia os recursos e a segurança de hoje. Era uma aventura
sobrevoar o rio Tocantins, atravessar o Amazonas, alcançar Fernando Noronha, no
Oceano Atlântico, e aterrar com aparelhos de maior porte em pequenos campos de
pouso. Daí a indicação dos pilotos da FAB para missões de major
responsabilidade. Em todos os lugares onde pousava, Felino fazia amigos,
recebia presentes (pássaros, corcinhas, micos, tartarugas, jabutis) e até uma
coleção de arco e flechas ganhou do cacique de uma tribo, quando pela primeira
vez o cacique viu pousar um avião do Correio Aéreo Nacional, em Xavantina,
próximo à tribo. Os padres e missionários protestantes eram seus admiradores,
pela boa vontade com que o piloto Felino, às vezes até infringindo o
regulamento, mas tentando salvar vidas, conduzia enfermos para as localidades
aonde pudessem ser prestados socorros imediatos. Quantas vidas ajudou a salvar
e crianças a nascer! . . . Mas tal era a sua noção de disciplina, que chegado
ao final de viagem, em seus relatórios sempre citava “as indisciplinas"
cometidas.
Resolveu
cursar Engenharia. Desejava tirar o Curso de Engenheiro em Radiocomunicações.
Concorre ao exame de seleção à antiga Escola Técnica do Exército, hoje
Instituto Militar de Engenharia (IME) e é aprovado em 1º lugar! Inicia o curso
em março de 1945 e chega até a metade do 2º ano, quando faleceu. A turma a que
pertenceu concluiu o Curso no Instituto Tecnológico de Aeronáutica (ITA) e é
cognominada Turma 1951, 1a
turma formada por aquele estabelecimento de ensino. Apesar do pouco
tempo de convivência, a figura do colega Felino foi tão marcante que a
rapaziada de então, até hoje, recorda-o
pelo seu coleguismo, capacidade
intelectual, sua liderança. Anualmente reúnem-se e relembram, apesar de
decorridos 30 anos do falecimento do colega, passagens e acontecimentos
relacionados com eles. Aos que comparecem às reuniões da Turma 1951 há como que
a impressão de que Felino desapareceu recentemente, tão viva ainda está a
lembrança de quem foi para eles um autêntico líder! Nas homenagens póstumas
prestadas por ocasião da Formatura de Engenheiros do ITA de 1951, foi lembrado,
citado, como que o símbolo de união das Forças Armadas – iniciara sua carreira
militar na Marinha, prosseguira na Aeronáutica e quando de seu falecimento
estava agregado à Escola Técnica do Exército. “Para eles foi o líder a ser
seguido” (palavras do orador da Turma 1951, Engenheiro Antonio Carlos Junqueira
de Moraes).
Quando
aluno do Colégio Pedro II, Felino auxiliava os camelôs da antiga rua Larga
(hoje rua Marechal Floriano) e com isso adquiria alguns trocados para as
despesas com passagens de bonde e trem. Na Escola Naval, era o aluno-mestre, a
quem os colegas recorriam para elucidar dúvidas. Com enorme satisfação, sempre
transmitia seus conhecimentos aos carentes de melhores esclarecimentos. De nada
fazia mistério ou segredo. O que sabia, transmitia a quem a ele recorria. No
período de férias, arranjava alunos particulares a fim de poder ajudar nas
despesas de casa e iniciar sua biblioteca.
Existe
uma passagem interessante: agravando-se o seu estado de saúde, foi-lhe
recomendada uma transfusão de sangue, naquela época feita de doador para
receptor. Terminada a transfusão, enquanto o doador repousava, inicia-se uma
conversa entre eles. O doador comenta que ele fazia lembrar um colega de escola
primária, em Jacarepaguá, muito estudioso, que passava o recreio lendo ou
ensinando aos colegas, o tipo do bom companheiro, que tinha um nome tão engraçado,
esquisito e que nunca se esqueceu do nome dele: Felino!
Veja-se
a coincidência: decorridos mais de 20 anos, em 1949, um doador de sangue,
pertencente à Policia Especial (Polícia de elite criada à época da ditadura de
Vargas) ajudando a salvar a vida do colega de escola primária!
Concluído
o Curso da Escola Naval, quando já possuía uma remuneração, resolveu, como que
em agradecimento a tudo que havia obtido, ajudar “alguém que quisesse ser
alguém”. Custeou os estudos de um afilhado de seus pais, filho de mãe viúva
enfrentando dificuldades. Matriculou-o num dos melhores colégios do Rio de
Janeiro, e até as despesas com material escolar pagava. Mesmo quando ausente do
país, durante a guerra, nada faltou ao afilhado de seus pais. Encaminhou o
rapaz, terminado o ginásio, para a Escola de Aeronáutica dos Afonsos, não tendo
ali concluído o curso, por motivo de saúde. Depois, já em espírito, Felino deve
ter tido a satisfação de ver seu pupilo formado em Engenharia Civil, na antiga
Escola Politécnica, a melhor da época, do Rio de Janeiro.
Felino
era afável, comunicativo, discreto, despido de vaidades, convivia com humildes,
como com grandes personalidades, sabia estar em ambientes simples, como em
ambientes de requinte, apenas se transformava quando envergava sua farda, e em
serviço era rigoroso na disciplina e no cumprimento do dever.
Com
estas divagações tive também a intenção de mostrar que vence na vida quem faz
por isso. Apesar das dificuldades e obstáculos “o menino sem recursos
financeiros” estudou. Pelo seu esforço e interesse, recebeu ajuda, teve uma
carreira e destacou-se sempre. Nunca alimentou sentimentos de inveja, recalques
ou despeito. Foi sempre amigo de ajudar e nunca aninhou em seu espírito
sentimentos de revolta pelas adversidades que enfrentou. Dizia ele, recordando
o passado, que tudo parecia como que um sonho e era para ele como que a
valorização do que havia alcançado.
Felino
nasceu em 9 de maio de 1918. Realizou seu último vôo, comandando um avião do 2º
Grupo de Transporte, em serviço na rota de Fernando Noronha, em 11 de junho de
1949. Faleceu em 12 de julho de 1949. Apenas 31 anos de vida física. Deixou
exemplos a serem seguidos e que enchem de orgulho aqueles que lhe pertenceram.
Desculpem
a falta de modéstia de uma viúva orgulhosa do marido que teve.
Maria Luiza Cottas de Jesus
Prólogo
O
ambiente confuso em que se encontra mergulhada a humanidade, no qual as
ambições e paixões descomedidas, os vícios, se entrechocam violentamente, há de
produzir, embora paradoxalmente, o despertar inteligente da criatura, quanto à
sua própria razão de existir, à sua composição astral e física, quanto enfim,
ao seu contínuo caminhar evolutivo, tendente a elevá-la, em último estágio, à
Inteligência Máxima, à Inteligência Universal.
Os obstáculos e dificuldades que se contrapõem à marcha livre e
desimpedida da criatura humana produzem-lhe tais lutas, tantos sofrimentos,
tamanha quantidade de desilusões, que as conseqüências imediatas são de molde,
já, a fazê-la duvidar da veracidade e da eficácia dos falsos dogmas e
preconceitos religiosos, assim como de certas afirmativas absurdas e
materialistas da Ciência.
E esta fuga do raciocínio humano ao domínio político e sectário das
religiões, será função direta das lutas e sofrimentos por que passarão os seres
na ânsia instintiva de afirmarem sua existência.
Pelo sofrimento acordará o homem e se libertará de sua tremenda
tendência adoratória aos falsos ídolos religiosos, de sua inexaurível
capacidade de imploração das graças divinas; chegará à conclusão de que de nada
vale implorar, de nada vale adorar; aprenderá que é, ele próprio, o verdadeiro
construtor de sua felicidade espiritual, agindo, que esteja, perfeitamente de
acordo com as leis naturais e imutáveis que regem as ligações, as relações
mútuas existentes entre os dois únicos Princípios reais do Universo: o
Princípio Força e o Princípio Matéria.
Por isso reafirmamos, convictamente, que, embora paradoxo, o tremendo
ambiente confuso que asfixia a humanidade será o instrumento seguro para a sua
liberdade mental, espiritual, porque a forte densidade de entrechoques de
paixões nele existentes vai resultar-lhe em lutas cada vez mais rudes.
E desde que o homem se liberte do domínio sectário, religioso,
compreenderá sua própria composição astral e física, saberá utilizar-se dos
dois princípios existentes no Universo – Forca e Matéria – e aprenderá,
sobretudo a utilizar o Pensamento para adquirir os elementos que lhe permitirão
caminhar seguramente pela estrada evolutiva, cuja estação final é de
compreensão demasiado transcendente, ainda, para o curto campo de lucidez
intelectual que possuímos.
Estamos, ainda, nas primeiras estações, nos primeiros estágios da
viagem evolutiva e ininterrupta, cujo ponto terminal será a reunião em uma
massa única final de Inteligência de todas as partículas de Inteligências
esparsas.
Esta noção de intensidade do campo de lucidez intelectual é muito fácil
de compreender.
Evidentemente não se pode conversar com uma criança do “jardim da
infância” a respeito, mesmo, das primeiras noções de álgebra elementar, e, no
entanto, esse assunto é considerado, geralmente, fácil, entre os alunos do
curso ginasial. Paralelamente, o ginasiano não compreenderá as transcendências
matemáticas próprias dos técnicos, dos engenheiros.
– Deverá a criança do “jardim da infância” chorar porque não consegue
compreender a álgebra elementar? É claro que não: ela deverá continuar a
estudar, segundo um método racional e próprio para sua idade, a fim de que,
anos após, possa compreender o que inicialmente lhe surgia como insolúvel a
misterioso: a álgebra elementar.
– E deverá, por outro lado, desesperar-se o ginasiano, considerar-se um
inútil intelectual, por não ser capaz de assimilar a matemática própria dos
engenheiros? Seria, também, absurdo, e isto realmente não acontece na prática.
O ginasiano limita-se a estudar os assuntos constantes dos programas
previamente preparados pelos professores, que, práticos e experimentados, dosam
os conhecimentos a ministrar, de modo a torná-lo apto a aprender, futuramente,
os mais elevados e difíceis problemas técnicos.
Cada um deve, somente, de acordo com as suas possibilidades mentais,
tentar compreender o que realmente estiver dentro da zona de ação do seu campo
de lucidez intelectual.
O homem, em geral, é vaidoso, e se julga, já, possuidor de uma
considerável bagagem intelectual. Entretanto, atentemos ao seguinte: a
velocidade da luz é de 300.000 quilômetros por segundo, isto é, a luz, ante a
diminuta precisão dos sentidos físicos, se nos apresenta como de propagação
instantânea; por outro lado, os raios cósmicos que alcançam o planeta Terra
provêm de pontos tão distantes que, viajando com a velocidade da luz, gastam
anos para até nós chegarem. Por aí podemos aquilatar da pequenez, da humildade
do planeta Terra.
– Ora, sendo tão humilde o nosso planeta, por que não considerarmos no
mesmo plano a Inteligência nele contida?
Assim, pois, seguros de não conseguirmos compreender, materialmente,
aquilo que só nosso futuro progresso espiritual nos permitirá apreender,
tratemos de pôr em prática os ensinamentos que dilatarão o nosso campo de
lucidez espiritual, saibamos obedecer às relações que unem os dois únicos
Princípios existentes no Universo – o Princípio-Força e o Princípio-Matéria –
estabeleçamos, finalmente, um equilíbrio harmônico entre o plano espiritual e o
plano material.
Para isso libertemo-nos, antes de tudo, do domínio das seitas e
religiões, que apenas têm tornado o homem um fraco, um medroso, um escravo.
A finalidade deste trabalho é tentar atrair a atenção do leitor para o
conhecimento de si próprio e de seu papel no Universo.
Nos dois capítulos iniciais é feito um estudo rápido sobre a matéria e
a energia, tal como no-las apresentam cientistas e filósofos.
As noções científicas utilizadas estão expostas em caráter bastante
elementar de modo a poderem ser apreendidas facilmente.
Uma vez estudadas, matéria e energia, como elas se nos apresentam
apoiadas nos cálculos físicos e químicos, solicita, insistentemente , o nosso
raciocínio, a existência de um outro princípio, que não o princípio matéria e
energia, para, em conjunto, ambos transformarem a complicada heterogeneidade de
funções de nosso corpo na perfeita homogeneidade fisiológica com que elas
maravilhosamente surgem ante as minuciosas pesquisas dos cientistas.
Afirmam, entretanto, em geral, os fisiologistas, que as manifestações
de vida, e mesmo de inteligência, nada mais são que propriedades da matéria,
embora concordem que a matéria componente do corpo humano é exatamente a mesma
matéria inanimada conhecida.
Mas a verdade é que devem eles próprios, os fisiologistas, sentir-se
hesitantes e confusos ao afirmarem serem os movimentos executados pelo homem, o
equilíbrio e o funcionamento de seu complexo corpo, as vibrações da matéria
cerebral nada mais que propriedades da matéria.
– Então, as maravilhosas concepções humanas, as Artes, as Ciências em
geral, serão apenas emanações, propriedades da matéria? Desaparecerá, portanto,
a personalidade humana, com a morte do corpo, uma vez que a matéria desagregada
deste corpo volte a outros estados, tomando novas formas?
Evidentemente há um outro princípio, o Princípio-Inteligência, que
animando e excitando a matéria inanimada, nos apresenta a solução para
problemas considerados, anteriormente, insolúveis e misteriosos.
O capítulo 3 apresenta, condensadamente, a doutrina Racionalista
Cristã.
Os capítulos 5, 6 e 7 estudam a ação vibratória nos fenômenos físicos e
químicos, noções ligeiras sobre sintonia, o homem como um aparelho
receptor-transmissor de fluidos espirituais, a ação do pensamento, o médium,
como ele age, a obsessão etc.
Também nestes capítulos as noções científicas estão apresentadas
elementarmente.
Finalmente, o trabalho é concluído com considerações gerais sobre o que
foi exposto.
As citações extraídas de obras de outros autores estão colocadas entre
aspas com as respectivas indicações de suas origens.
Se o que o leitor vai ler despertar sua curiosidade, poderá encontrar
nas obras básicas Racionalismo Cristão e A vida fora da matéria
conhecimentos mais amplos, que lhe servirão como um guia seguro na sua
trajetória pelo planeta Terra.
Felino
Alves de Jesus
Rio de
Janeiro, 1947
Introdução
A origem do homem, sua razão de existir, suas relações com o Universo,
são assuntos que têm preocupado a mente de não poucos estudiosos e investigadores.
Sábios de todos os ramos da Ciência têm exposto suas teorias, algumas
vezes razoáveis, outras vezes absurdas, sobre a matéria inanimada, a matéria
viva, o pensamento, a morte, a destruição ou a imortalidade do indivíduo, o
Universo em geral.
Entretanto, fisiologistas, materialistas, espiritualistas, astrônomos
etc., não chegam a um acordo sobre este tão magno assunto – a Ciência da Vida.
Dogmas e preconceitos religiosos, sobretudo, mantêm a mente humana
embrutecida e acorrentada de tal maneira que, acalentada com a doce esperança
de um paraíso eterno, parece ter ela perdido a capacidade de distinguir o
plausível do absurdo, a verdade da mentira, a ciência do misticismo.
Temos de reconhecer que, atualmente, as circunstâncias em que se
encontra o mundo não são mais de molde a permitir uma indefinida escravidão do
raciocínio humano a estes antigos dogmas e preconceitos.
É, entretanto, necessário que aqueles, esclarecidos, que tenham liberto
suas mentes do império do misticismo e do terror ao desconhecido, sejam
audaciosos suficientemente para declará-lo publicamente, a fim de animarem os
tímidos e os covardes a assumirem uma atitude de repúdio aos falsos princípios
explanados pelas seitas e religiões.
Sobretudo, estas últimas, e o baixo espiritismo exercem profundo
domínio, tremenda opressão sobre o raciocínio da criatura, tornando-a medrosa,
supersticiosa e imploradora constante das falsas graças divinas.
A influência é tal que certa seita impede decididamente que seu rebanho
tome conhecimento de qualquer luz esclarecedora sobre o papel do homem neste
ínfimo grão de poeira que é a Terra dentro do espaço universal e infinito.
Revelações não contestadas feitas publicamente nos descrevem os
processos indignos e mesmo imorais utilizados por certas e determinadas
criaturas, cuja ação criminosa e essencialmente política, são prova evidente de
um plano seguro de embrutecimento a perversão da humanidade para um melhor
domínio e escravidão.
Inegavelmente os conhecimentos científicos humanos se estão alargando
de modo notável.
Paralelamente com o desenvolvimento da ciência industrial, utilitária,
muitos investigadores já se têm dedicado ao estudo do papel do Homem dentro do
majestoso equilíbrio universal.
O mundo invisível é um tema que indubitavelmente agita, neste século de
profunda inquietude, a mente sequiosa de conhecimentos do curioso habitante do
planeta Terra.
E, à proporção que os conhecimentos se vão desdobrando, à proporção que
o invisível vai sendo vislumbrado com maior amplitude, as concepções espirituais
se vão modificando consideravelmente, permitindo ao raciocínio humano ter uma
ideia suficientemente compreensiva do quadro geral evolutivo universal.
Teorias ousadas explicam a natureza da matéria. O átomo deixou de ser
indivisível e passou a ser estudado como um verdadeiro sistema planetário,
contendo uma extraordinária quantidade de energia,
O éter não é mais considerado como uma simples hipótese. Sua existência
é solicitada insistentemente para justificar determinados fenômenos. – Como
explicar a propagação da luz ou do calor, ou as atrações e repulsões elétricas
e magnéticas sem o suporte éter para as vibrações correspondentes a estes
fenômenos?
Gustavo Le Bon adianta mesmo que é, provavelmente, da condensação do
éter efetuada na origem dos tempos por um mecanismo ignorado, que se derivam os
átomos, considerados por vários sábios como núcleos de condensação do éter, que
têm a forma de pequenos torvelinhos animados de uma enorme velocidade de
rotação. Indubitavelmente, diz ele, a grande velocidade de rotação das
partículas de éter, transformadas em torvelinhos, dão à matéria a rigidez e o
peso.
Há uma luta contínua entre as teorias apresentadas por cientistas,
filósofos ou simples investigadores, a respeito de força e matéria, ou, melhor,
relativas à existência do Homem e às suas ligações com o Universo em geral.
A quantidade e a heterogeneidade de funções existentes no nosso corpo é
notavelmente grande. E, entretanto, todas estas funções, heterogêneas e
complicadas, engrenam-se surpreendentemente num magnífico equilíbrio
fisiológico.
Este
extraordinário equilíbrio existente no corpo humano existe igualmente em todos
os outros corpos de todos os reinos da natureza.
Querem os materialistas eliminar a personalidade humana, transformando
suas maravilhosas manifestações inteligentes em exclusiva emanação da matéria.
“Por que é que o sangue, pergunta Raul Pictet em seu Estudo crítico
do materialismo e do espiritualismo, deposita aqui o músculo, ali o osso,
mais adiante o humor vítreo, a unha, a cartilagem, os cabelos, a sinóvia, o
conjunto dos tecidos de que o corpo de todos os animais é constituído?”
Esta pergunta e outras de caráter fisiológico são explicadas por alguns
como a resultante da energia chamada vital, que dirige o crescimento do ser no
período chamado de assimilação, e que aos poucos vai diminuindo de ação,
permitindo, inicialmente, o equilíbrio da assimilação e da desassimilação, e,
em seguida, o predomínio da desassimilação. Qualquer concepção de espírito
nestes fenômenos é afastada por estes
fisiologistas, atribuindo eles as manifestações de inteligência, o pensamento e
a vontade, exclusivamente às funções particulares dos aparelhos orgânicos ou
nervosos. Para eles a alma é a resultante das funções cerebrais e quem pensa é
a massa cerebral em seus movimentos moleculares.
Outras teorias consideram o homem diferente dos outros animais,
possuindo um corpo, como estes últimos, porém, também um espírito, eterno e
imutável de onde emanam os atos mentais – inteligência, pensamento, vontade,
amor, inveja, egoísmo etc.
Baseados na existência do espírito imortal, muitos imaginam
imediatamente um ser transcendente que lhes dirigirá esta existência eterna:
Deus. E se apegam implorativa e adorativamente a esta entidade, perdendo toda a
sua personalidade. Entretanto, de nada vale implorar se o ser não se coloca de
acordo com as leis universais e imutáveis; o que vale é justamente ter o ser
conhecimento destas leis e saber aplicá-las devidamente.
Diz Stuart Mill que “a idéia de Deus e principalmente de uma religião é
uma coisa inútil, porque o homem se acha no mundo abandonado, como todos os
outros seres orgânicos, às violências das leis da natureza, onde não se
encontra nenhum atributo de justiça e bondade para se dizer que o mundo fora
criado por um ser dotado destes atributos”.
As escolas positivistas e naturalistas contemporâneas encerram o
pensamento e o destino do homem no círculo das realidades fenomenais e
sustentam que os fenômenos psíquicos não passam de uma função cerebral, segundo
E. Caro, que diz que “vivemos sob o império matemático de forças fatais e que a
idéia que formamos da vida se reduz a uma série de fenômenos produzidos em um
momento preciso, donde amanhã outros fenômenos nos hão de retirar, verdadeiras
aparições acidentais na superfície do tempo e espaço infinitos. O mundo, pois,
não é mais este todo harmonioso em que cada ser – o mais humilde e o mais
sublime – tem a sua natureza determinada, seu destino especial, em um conjunto
de fins previstos e coordenados pelo pensamento criador. Se a harmonia se
produz aqui ou ali, não foi com uma intenção, mas como um resultado.
A moderna concepção exclui a finalidade que presidia a todo o Universo
e regulava cada minúcia, o pensamento supremo que a explicava, e a bondade
perfeita que fazia amá-la. A necessidade reina em lugar da finalidade, uma
necessidade mecânica, segundo uns, dinâmica, segundo outros, mas em todo o caso
uma necessidade sem consciência e sem amor.
Não há senão uma lei e uma força, uma lei que rege as manifestações de
uma força única. Esta força, idêntica a si mesma, debaixo de suas metamorfoses
aparentes, exclui qualquer idéia de começo e de fim; ela não pode ter começado
nem cessar de existir; é tudo o que é ou pelo menos tudo o que nos é indicado
sob essa noção de existência. Conceber que ela tenha podido começar ou que
possa acabar, seria conceber o nada, colocá-la antes ou depois, isto é,
conceber uma contradição. As forças físicas, vitais, sociais, são manifestações
diversas dessa força, elas representam, por assim dizer, os diversos graus de
intensidade. A natureza não é mais de que o círculo imenso em que se agitam
eternamente essas diversas manifestações da força, transformando-se umas em
outras. Urna multidão de sistemas se formam e se decompõem, segundo ritmos
determinados. Nisto está todo o segredo do nascimento e da morte. Movimentos
que se integralizam e se desintegralizam, eis a história uniforme, debaixo de
aparências variadas, dos grandes corpos astronômicos, dos organismos vivos e
dos organismos sociais. A história de um corpo vivo é, em ponto reduzido, a do
mundo inteiro. A evolução, o equilíbrio, a dissolução são três fases pelas
quais passa toda existência individual ou coletiva. A astronomia, a geologia, a
fisiologia, a história das sociedades humanas, não representam realmente aos
olhos do observador senão combinações dos mesmos fenômenos elementares variados
ao infinito. A vida Universal não passa de uma sucessão de seres e de formas
que exprimem essas combinações de ordem determinada.
A vida individual não é mais do que um instante nessas variedades
infinitas de movimento, não passando a humanidade de uma coleção desses
instantes. A história inteira da vida coletiva não é mais do que episódios
imperceptíveis, perdidos na obra imensa e eterna da natureza, acidentes sem fim
e sem alcance, quantidades infinitesimais que o pensador pode desprezar na
produção universal e infinita. O incomensurável nos afoga e nos esmaga por
todos os lados. De que valeriam aqui os protestos de uma mesquinha
personalidade que não quisesse resolver-se a desaparecer e que lançasse no
vácuo o grito de sua impotência revoltado? Dever-se-ia por isto povoar a
imaginação humana de falsas esperanças, com as quais as velhas religiões e as
velhas filosofias a embriagavam e exaltavam?
Há um meio digno de nos consolar, e que revela a verdadeira
imortalidade representada por nossas obras, nossos trabalhos, nossos
pensamentos e pela raça que procede de nós.
É ainda preciso saber que essa imortalidade é toda relativa e
provisória. Não é mais do que um prolongamento abstrato de nossa existência em
um tempo indefinido, mas certamente limitado, ainda que o limite escape aos
nossos olhos e mesmo ao nosso pensamento. A humanidade morrerá, como cada
sociedade a seu turno há de morrer. A Terra mesma, que os homens habitam,
semelhante a um navio que conduz os seus passageiros, morrerá, não nas forças
elementares que a constituem, mas em sua forma e organismos atuais. O Sol, que
é a fonte da vida nesta parte do mundo, se extinguirá. A morte se estenderá
sobre a imensidade sideral, constituindo esta uma espécie de necrópole
gigantesca em que flutuarão confusamente os cadáveres dos mundos e dos sóis
extintos. A própria revolução cósmica terá um fim, pois que ela é um movimento,
mas esse fim não atingirá senão as manifestações efêmeras: só a força é que não
se extinguirá e irá talvez produzir novos universos iguais ou diferentes de
tudo o que existe atualmente.”
“As questões que se agitam no mundo do pensamento e envolvem toda a
vida psíquica do homem, diz o Visconde de Sabóia em sua obra A vida psíquica do homem, não afetam, como
bem disse Max Müller, os interesses da ciência, mas vão diretamente ao coração,
e se devem tornar para todo o homem, aos olhos de quem a verdade, quer
científica, quer religiosa, é sagrada, questões de vida e morte na plena
acepção da palavra, e deixar que a alma constantemente atormentada pelas
tremendas lutas e dificuldades da vida, sorva em doutrinas nefastas o veneno
sutil que acaba por destruir as crenças e todos os frutos da razão, abalando os
impulsos generosos do coração, propondo o desprezo de toda a obrigação e
deveres morais, para atender de preferência aos instintos da animalidade, e não
deixar ver no mundo senão uma lei fatal que abre o campo ao interesse ignóbil,
à exploração e satisfação de todas as paixões, é concorrer para um mal
irreparável e faltar à consciência de nossa razão de ser e do dever social.”
* * *
Eis aí a origem deste trabalho, modesto e sincero, em que, aliás, não
exibimos a pretensão de haver formulado qualquer doutrina especial da concepção
do mundo e da vida, mas no qual nos propomos a demonstrar e sustentar que as
escolas – materialista, positivista, transformista, evolucionista, determinista
ou fatalista – não dão desses grandes problemas senão uma solução paradoxal e
as mais das vezes falsíssima, apesar de dizerem que têm o apoio da ciência,
cujo nome invocam a cada passo, quando são certamente muito menos científicas e
elevadas em suas conseqüências ou em relação aos fenômenos psíquicos, à origem
e à natureza do homem, ao destino e aos deveres deste no mundo do que nos
mostra a doutrina espiritualista, a partir de Platão, Sócrates, Aristóteles,
Santo Agostinho, São Tomás de Aquino, até Descartes, Kant, Leibniz, Pascal,
Malebranche, M. de Biran, e um sem número de escritores e filósofos modernos,
cujas obras forneceram-nos os elementos fundamentais para este trabalho e para
refutar as doutrinas que vimos expostas nas obras dos mais notáveis e admirados
chefes da escola materialista, a começar por Demócrito, pelos enciclopedistas e
por Spinoza, até Lamarck, Darwin, Haeckel, Herbert Spencer, Stuart Mill, Alex
Bain, Mandsley, Wundt, Luyes, Ribot, Letourneau, Bordeau, Fouillée, Le Dantec,
Guyau, Le Bon, Büchner, Sergi, Mosso, Lombroso e dezenas de outros escritores e
biologistas, sem nos esquecermos de Schopenhauer, Hartmann e Nietzsche, como
conspícuos representantes da grande escola.
Respeitando o gênio e saber imenso de todos estes filósofos,
biologistas e grandes pensadores não deixamos por isto de reconhecer que se eles,
dotados de um espírito superior, foram e são incapazes de se desviar uma só
linha da estrada do dever moral, não quiseram ver a influência que as suas
asserções e doutrinas podiam exercer sobre o ânimo de tantos desequilibrados
por uma má educação, sobre os céticos, frívolos, sem cultura intelectual, além
da que lhes é fornecida pela leitura de romancelhos e revistas pornográficas,
dando expansão à ferocidade de seus instintos, a esse egoísmo que não conhece o
amor da pátria, da sociedade e da família e o sacrifício, o heroísmo e a
virtude, e reduzem tudo à aquisição de meios para gozar, e gozar ao infinito,
porque as idéias materialistas, que lhes são incutidas por todos os meios,
dão-lhes a segurança de que não há Deus, não há alma, não há liberdade, não há
vontade nem vida de além túmulo, nem castigo, nem recompensa em outro mundo, e
tudo isto por uma forma que seduz e encanta, mostrando que não há restrição à
liberdade moral, e que só existem leis fatais e mecânicas a que o homem não
pode escapar.
* * *
São várias as doutrinas e teorias que, desde a Antiguidade, procuram
explicar a gênese do mundo e, conseqüentemente, de todos os seres e coisas nele
existentes, entre os quais o Homem.
Na Grécia e em Roma, de acordo com a documentação que chegou até nossos
dias, parece ter surgido a primeira teoria organizada, o Epicurismo, combatendo
a crença da criação do Homem diretamente por Deus, crença essa plenamente em
vigor na época.
Nessa teoria organizada, Epicuro afirmava resultar o mundo e todos os
seres do encontro puramente fortuito e casual dos germes da vida, representados
pelos átomos em contínuo movimento. Era, pois, assim, anulada a idéia de Deus e
da alma imortal.
Foram muitos os adeptos da doutrina epicurista em grande parte porque
ela, afirmando ser o homem um contínuo produto do acaso, pregava o gozo e a
satisfação de todos os apetites sensuais, assim como a renúncia a qualquer
idéia de deuses, espírito ou outra vida.
Entretanto, houve filósofos e pensadores que à luz dos ensinamentos de
Zenon, se insurgiram contra a aceitação integral da teoria epicurista, e
constituíram a seita dos estóicos.
Os estóicos tal qual como os epicuristas, negaram a idéia de um Deus
especialmente criador assim como a de uma alma imortal. Não aceitaram, porém,
que os seres ou coisas fossem produtos do acaso ou do encontro fortuito de
átomos, e sim que tudo se encontrava predeterminado e preestabelecido com a
maior perfeição por uma força contida na natureza, agindo segundo leis
imutáveis. O mundo era, de acordo com os estóicos, em sua essência primordial,
uma espécie de fogo que, perdendo a tensão primitiva, deu lugar à formação da
água de que uma parte se condensou a solidificou constituindo a Terra, e a
outra se transformou em vapores aeriformes. Em seguida, surgiram as plantas, os
animais e o homem, procedendo os animais das plantas, e o homem dos animais.
Enquanto que o Epicurismo anulava definitivamente a idéia de Deus e da
alma imortal, afirmando resultar o mundo e todos os seres do encontro puramente
fortuito e casual dos germes da vida, representados pelos átomos em continuo
movimento, outra doutrina, o Positivismo, encarava o problema sob novo ponto de
vista.
Este sistema filosófico, de uma amplitude demasiado larga e complexa,
foi criado por Augusto Comte e prega que somente se deve admitir como real e
verdadeiro o que pode ser observado diretamente, experimentado, medido e
pesado. Portanto, os fatos devem ser observados e analisados cuidadosamente
para, pela comparação e pelo estudo das relações, simples ou complexas que os
ligam, serem deduzidas as leis e causas próximas de que dependem.
Não se deve confundir o Positivismo com as ciências positivas. Estas
últimas, entre as quais estão incluídas a Física e a Química, por exemplo, são
baseadas no conhecimento das leis determinantes dos fenômenos, assim como das
causas que lhes dão origem ou do porquê de suas manifestações.
Não há dúvida, entretanto, de que o Positivismo adotou o princípio
experimental.
Afirma-nos, porém, Claude Bernard, o mais notável representante da
escola experimental, que nas ciências físicas, químicas e biológicas, não há
fenômeno que se manifeste sem ser determinado por uma causa imediata e por ela
explicado, ficando tudo nas ciências positivas reduzido a fenômenos sujeitos a
estudo e conhecimento das condições materiais de suas manifestações, à
determinação das leis dessas manifestações, o que, no consenso unânime, forma a
base, a regra e o princípio fundamental de toda a ciência experimental ou
positiva; que não podemos saber porque são necessários dois volumes de
hidrogênio e um de oxigênio para a formação da água; que não conhecemos mais do
que as relações dessas coisas e que os fenômenos não são a manifestação dessa
essência oculta e sim o resultado da relação das coisas entre si.
Embora Claude Bernard afirme que as condições da vida podem ser
estabelecidas pelas ciências físicas e químicas, esclarece também que estas
ciências não explicam, e nem o conseguiriam, o começo da máquina viva ou a sua
criação, e que, se o físico e o químico estudam os corpos e os fenômenos
isoladamente e deixam fora de seus estudos as causas finais, o fisiologista é
levado pelos seus estudos a admitir uma finalidade harmônica e preestabelecida
nos corpos organizados, em virtude dessa unidade central que torna todas as
ações parciais solidárias e geradoras umas das outras.
A escola experimental não procura afastar definitivamente as coisas que
não compreende, e, pelo contrário, defende o princípio de que a verdadeira
ciência deve preocupar-se com tudo.
Porém, o Positivismo apenas se detém no exame do que pode ser levado ao
domínio dos instrumentos de precisão, da balança, do cálculo.
“Em rigor (Tristeza contemporânea
- Fierens - Gevaert) poder-se-ia desculpar a Comte de haver repelido as
questões de origem última, e de não ter querido conhecer senão as causas
físicas, a fim de estabelecer sobre bases seguras o seu sistema científico; mas
para que privar teimosamente os homens de qualquer prazer especulativo? Ele
proibiu mesmo que se ocupassem do estudo da Astronomia sideral, condenando até
o estudo do sistema solar quando se estendesse aos planetas invisíveis a olho
nu.”
“Entretanto, replica com razão Stuart Mill, o hábito de meditar sobre
tão vastos objetos e a tão enormes distâncias não deixa de ter uma unidade
estética que inflama e exalta a imaginação, faculdade, cujo valor intrínseco e
a reação sobre o entendimento Augusto Comte não poderia deixar de apreciar,
sendo uma vergonha que Comte quisesse que a psicologia que repousa sobre a
observação dos fenômenos íntimos inapreensíveis, fosse incluída na frenologia.”
“Em todo o caso (A vida psíquica do homem – Visconde de Sabóia), não podendo ele negar o
pensamento, o sentimento e a vontade, reduz tudo a uma secreção ou função do
cérebro que inclui no domínio da fisiologia, e em relação à crença de um
criador de todas as maravilhas da natureza e de uma alma ou de um espírito
humano, ele responde que disso não cogita nem quer saber, por ser do domínio da
metafísica, que é uma ciência inútil, vã e estranha aos fatos experimentais.”
Stuart Mill, adepto do positivismo, vendo também que era por demais
absoluto o seu dogmatismo, procurou sustentar que o modo positivo de pensar não
levava necessariamente à negação do sobrenatural, que apenas podia ser incluído
na questão da origem das coisas, pelo que o filósofo positivista era livre de
formular a respeito a opinião que lhe parecesse mais verossímil.
Ao seu encontro saiu Lithé como intérprete rigoroso da ortodoxia
comtista, para lhe responder que esta não dava liberdade a adepto algum para
tratar do que se pode referir às causas primeiras, por serem coisas
desconhecidas do filosofar positivo, que as eliminava, sem procurar afirmá-las
ou negá-las, e ninguém podia arbitrariamente repudiar a ausência de afirmação
para se ligar à ausência de negação. Eram duas coisas indivisíveis e Lithé
acrescentou que era também um erro formar da psicologia, como queria Stuart
Mill, uma reunião de noções desligadas da biologia, julgando comprometida a
filosofia positivista, se fosse demonstrado que a psicologia, como ciência
especial, se tornasse indispensável à constituição dessa filosofia.
Mas, como muito bem diz Caro, não é possível guardar neutralidade entre
a negação e a afirmação, e o resultado entre os positivistas se traduz
geralmente pela negação ou então pela dúvida, e tornar dependentes dos
fenômenos vitais as manifestações intelectuais e morais para fundir a
psicologia na biologia e afirmar só por indução que a substância nervosa pensa,
como se já houvesse quem visse um cérebro pensando. Incluir, como faz Augusto
Comte, na grande ciência dos corpos organizados – as ciências filosóficas –
colocar o estudo positivo das faculdades intelectuais na fisiologia e dar o
nome de física social à teoria da ordem e progresso no mundo moral, é cair no
puro materialismo de que ele é uma forma equívoca e bastarda e antecipadamente
resolver pelo niilismo intelectual todas as questões concernentes à alma, ao
pensamento e à liberdade.
Em resumo: o positivismo adotou alguns dos princípios das ciências
positivas, e com eles formou uma doutrina filosófica, que, ao ultrapassar o
estudo dos fenômenos materiais e das leis que presidem as suas manifestações,
começou em sua aplicação na ordem física e moral, pela afirmação de que uma
substância material, como o cérebro ou a massa nervosa, dá produtos imateriais,
como o pensamento, a memória, a consciência, a volição etc., pela negação da
alma e de sua imortalidade, pela supressão de Deus e de sua justiça, pela
abolição da recompensa dos bons e o castigo dos maus, e terminou em política,
pela defesa da ditadura governamental, a que deu o nome de científica, e pela
glorificação de chefes de Estado, como Luís XI, Cromwell, Francia etc., cujos
atos formam páginas negras na história dos povos.
Se a única missão da ciência consistisse, como queria Comte, em
coordenar os fatos ou fenômenos que caem debaixo da observação, e podem ser
pesados, medidos e experimentados o que reduz tudo ao sensismo, resultaria daí
que um positivista, se ficasse adstrito a esse programa, não atingiria jamais,
segundo Naville, o mínimo elemento de verdadeira ciência, e não teria nenhuma
idéia das coisas que não oferecem semelhança com objetos que afetam os
sentidos.
Mas, onde as incongruências e contradições se ostentam mais assombrosas
na doutrina positivista não é tanto no método adotado para lhe dar os moldes
das ciências experimentais, como nos princípios de que ulteriormente Comte
lançou mão para fundar uma religião e que ele deu o nome de positivista ou de
religião da Humanidade.
Comte, desprezando ou afastando qualquer idéia que se relacionasse com
a teologia, criou uma religião de adoração, não a Deus como as outras tantas
existentes, porém à humanidade. Esta doutrina, sem dúvida alguma original,
Comte a codificou em um catecismo em que os sacramentos eram em número de nove,
e foram denominados: apresentação, iniciação, admissão, destinação, casamento,
madureza, aposentadoria, transformação e incorporação. As preces deviam ser
feitas três vezes por dia.
O positivismo não apresenta qualquer explicação sobre a gênese dos
seres orgânicos e especialmente a respeito da vida na substância animal.
Falaremos agora, rapidamente, sobre as teorias evolucionista a monística sob o ponto de vista geral do
transformismo ou darwinismo.
* * *
Embora vários filósofos e escritores tenham, talvez muito tempo antes
de Darwin, tentado demonstrar a doutrina de provirem as espécies superiores de
seres orgânicos de espécies inferiores, não há dúvida de que foi ele quem
apresentou, realmente, uma solução que calou no espírito de muitos sábios a
respeito desta matéria.
Em seus livros procurou, com notável originalidade, demonstrar que os
seres orgânicos, sob a ação de várias leis, foram sujeitos, lenta e
paulatinamente, desde a sua fase primordial, e talvez durante milhares e
milhares de séculos, a modificações sucessivas, transformando-se de umas
espécies em outras.
O próprio homem passou por todas essas transformações, segundo o que
expõe Darwin no livro Descendência do
Homem e a Seleção da Espécie.
“Foi, entretanto, diz o Visconde de Sabóia, única e exclusivamente
pelos fatos resultantes do cruzamento de diferentes espécies animais e do que
obtivera com o enxerto e reprodução de diversas espécies vegetais e do estudo
minucioso da vida em muitas espécies de seres, que Darwin, depois de alcançar
mediante uma direção paciente e admirável inteligência grandes modificações em
diversas espécies animais e vegetais, que eram transmitidas por herança aos
produtos seguintes, sempre em contínuo progresso, e dando geralmente uma variedade
mais perfeita, julgou que podia estabelecer como certo ou ao menos como muito
provável o fato que as espécies vivas – vegetais e animais – descendiam de
espécies fósseis, representadas através de gerações e de épocas geológicas
sucessivas por uma diminuta série de organismos originários, e talvez por um
só, bem rudimentário e imperfeito que, sem dúvida, servira de intermediário
entre o reino vegetal e o animal.”
“Ele diz que esse ou esses organismos primitivos, tão simples como a
vesícula germinativa – que é o ponto de desenvolvimento de muitos seres –
foram-se sucedendo em miríades de séculos uns aos outros, transformando-se e
dando origem a novas espécies vivas, até chegarem na escala zoológica ao homem,
pelo princípio, segundo Darwin, de que: natura
non facit saltum. As espécies, segundo o célebre naturalista, que vão
aparecendo por meio de lentas e sucessivas modificações e transformações de
espécies precedentes progridem geralmente, mas não universalmente, nem
forçosamente. Algumas até mesmo desaparecem e interrompem a cadeia que as
prendia às espécies anteriores e às posteriores; outras, em virtude de
condições especiais, não desaparecem logo, mas degeneram e ocasionam por fim a
extinção do tipo.”
“E assim, continua o Visconde de Sabóia, partindo do germe amorfo,
protótipo de toda a organização, do qual resultaram, nessa sucessão
considerável de séculos – de que a imaginação só pode formar uma idéia abstrata
– os seres orgânicos que cobriram a crosta terrestre, depois de seu
resfriamento, Darwin chega à cadeia zoológica na classe dos vertebrados e faz
surgir o homem de um tronco que deu origem ao homem-macaco ou pitecoide e por
outro lado aos antropoides ou macacos catarrinianos sem cauda, como o
orangotango, o gorila, o chimpanzé.
O homem atual é, pois, o resultado de vinte e uma espécies de seres
que, de transformações em transformações, vieram constituir o homem-macaco, de
que procedeu o gênero humano, muito vizinho ou talvez parente muito próximo,
segundo Darwin, Haeckel e outros, dos macacos sem rabo, e assim como estes
procedem dos catarrinianos com cauda – o homem-macaco ou o nosso primeiro
antepassado devia ser dotado de rabo servido por músculos apropriados, ter o
corpo coberto de pelos, orelhas pontiagudas e móveis e pés com artelhos ou
dedos que lhe permitiam trepar nas árvores e ali viver habitualmente, dispondo
como arma defensiva de grandes caninos.”
Em sua obra Antropologia e história da criação natural, Haeckel,
aceitando e defendendo a doutrina de Darwin, estabeleceu a teoria do
transformismo monístico ou da unidade da obra da natureza. Referindo-se à
gênese do homem chegou à conclusão de que o estado unicelular, pelo qual este
começa a vida individual, permite-lhe afirmar serem os mais antigos
antepassados da humanidade e do reino animal, procedentes de simples células.
– Entretanto, como surgiram essas
células no começo do mundo orgânico?
“Eis-nos, pois, chegados, diz Haeckel,
ao protoplasma – origem das moneras.
A
questão da origem da vida está toda ligada à da geração espontânea. Nos limites
em que a circunscrevemos, a geração espontânea é uma hipótese necessária, sem a
qual não se poderia conceber o começo da vida sobre a Terra; ela se reduz,
então, a saber como as moneras se formaram à custa dos compostos carbônicos
inorgânicos, e como os corpos vivos apareceram no princípio sobre o nosso
planeta até então puramente mineral. Eles deviam ter-se formado quimicamente à
custa de compostos inorgânicos. Assim devia ter aparecido essa substância
complexa, contendo ao mesmo tempo azoto e carbono e a que damos o nome de
protoplasma; ela se acha no mar em enorme profundidade, e a cada uma de suas
partículas amorfas e vivas, damos o nome de monera.
As moneras primitivas nasceram no mar por geração espontânea, pelo
mesmo modo que os cristais salinos se formam nas águas-mãe. É uma hipótese
exigida pela necessidade de casualidade inerente à razão humana. Com efeito,
toda a história inorgânica da Terra é regida por leis mecânicas, e o mesmo se
dá com a história orgânica. A teoria da geração espontânea não pode ser
experimentalmente refutada. Em verdade, cada experiência negativa demonstra
somente que nas condições sempre muito artificiais em que essas experiências se
realizam, nenhum organismo poderá surgir de substâncias inorgânicas. Mas também
é muito difícil provar a geração espontânea por experiências. Para quem não
admite conosco a geração espontânea das moneras para explicar a origem da vida,
não há outra alternativa senão o milagre.”
A teoria evolucionista de Spencer admite a hipótese de que o mundo se
constituiu por uma matéria homogênea dotada de movimento, movimento esse
realizado no sentido da menor resistência. Toda vez que o referido movimento da
matéria homogênea, de acordo com Spencer, encontrou qualquer resistência,
diminuindo de intensidade, a matéria passou de um estado mais difuso a um
estado mais concreto, formando agregados múltiplos e heterogêneos ainda
confusos. Em virtude desses agregados múltiplos, sobre os quais atuou a lei de
segregação de acordo com as afinidades químicas, se agruparam e formaram seres
definidos e distintos. É, pois, uma explicação da causa das variedades de raça
e de espécie.
A doutrina transformista, se, por um lado, conta com grande número de
adeptos, por outro lado, paralelamente, é combatida por uma série de estudiosos
notáveis que apresentam várias objeções às suas
afirmativas.
* * *
Falaremos,
agora, rapidamente sobre a doutrina materialista
propriamente dita.
O
materialismo tenta demonstrar que a existência do mundo e de todas as suas
manifestações, é uma conseqüência direta da matéria, isto é, das propriedades e
forças a esta inerentes.
Em
todas as épocas o materialismo teve seus adeptos, ora apresentado sob um
aspecto, ora sob outro.
Um
dos mais célebres pregadores do materialismo foi Luiz Büchner. Com a
apresentação de seu livro Força e
matéria, Büchner tornou‑se rapidamente célebre na Europa, mas em
compensação sofreu tais ataques, foi tão combatido que as autoridades
acadêmicas lhe cassaram o direito de exercer o professorado daí por diante.
A
obra Força e matéria de Büchner foi
traduzida em muitos idiomas, com edições numerosas em inglês, francês, italiano, português, espanhol, húngaro, polaco, sueco,
holandês, grego, russo, dinamarquês, armênio e rumáico.
“Não
há força sem matéria”, diz Büchner, “não há matéria sem força. Como coisas em
si, não são nem possíveis, nem mesmo concebíveis. Consideradas separadamente,
são abstrações vazias servindo‑ apenas para pôr em evidência os dois aspectos dum só e único ser, cuja
essência própria me é ainda desconhecida. A força e a matéria são, pois, no
fundo, uma só e a mesma coisa, encarada sob pontos de vista diferentes.”
“Todos
os pretensos imponderáveis, como se chamava antigamente as forças consideradas
como matéria que se não podia pesar, o calor, a luz, a eletricidade, o
magnetismo, não são outra coisa senão modificações nas relações recíprocas ou
nos estados de atividade das mais pequenas partículas; modificações que passam
duma substância a outra por uma espécie de transmissão do movimento. Do mesmo
modo, as forças não podem ser nem comunicadas nem criadas, como o diz muito
justamente Mulder; podem ser apenas despertadas pela ação da matéria sobre a
matéria ou reconduzidas do estado latente ao estado livre. O magnetismo não se
comunica, mas provoca-se e sua aparição mudando o estado de atividade íntima do
seu substrato. O calor, esta forca primordial da natureza, que se encontra por
toda parte e sempre nos processos naturais, que pode transformar-se não importa
em que força e pode ser tirado de cada uma delas, não é como dantes se
imaginava, uma substância imponderável passando dum corpo a outro; a um
movimento molecular ou atômico, extremamente rápido, vibratório ou giratório
das mais pequenas moléculas dum corpo, em virtude do qual essas moléculas se
afastam mais ou menos umas das outras, enquanto que se aproximam sob a
influencia do seu contrario, isto e, do frio.”
“Não
é fora da matéria [2], fora
dos corpos, mas sim neles próprios que se encontra a força ou propriedade; a
ideia de que a afinidade poderia ter uma existência distinta dos corpos a que é
inerente ou a que comunica faculdades de harmonia com as suas condições
próprias, é tão completamente incompreensível que seria afrontar o senso comum
demorarmo-nos mais tempo sobre o assunto.”
Referindo-se
à forma da matéria, Büchner afirma que ela é o resultado necessário de ações e
reações materiais conforme o demonstra o desenvolvimento gradual do mundo
orgânico; que com o tempo, pelo concurso duma série por assim dizer infinita de
anos, essas formas orgânicas puderam chegar a esse grau de perfeição, com as
inumeráveis variedades que hoje nos apresentam; que, dessa forma, todas as
diferenças imagináveis aparecem como o resultado de transições e duma
transformação incessante da forma e dos modos da existência, em relação com a
diferença das influências interiores ou exteriores no meio das quais os seres
viveram ou foram forçados a viver; que foi somente passando por metamorfoses
sem número que os animais e os vegetais, saídos
de tão humildes e tão imperfeitos princípios, puderam chegar a essa riqueza
exuberante de formas que os caracteriza hoje.
“Essa teoria, continua Büchner, encontra ainda uma
prova mais evidente neste fato em foco pelas ciências biológicas modernas, a
saber: que o mundo orgânico por completo, desde os seres mais inferiores aos
mais elevados, desde os mais simples até os mais complicados, reduz‑se, em
última análise a um elemento morfológico extremamente simples e aos seus
derivados, isto é, a célula, e que esse elemento composto dum invólucro, dum
conteúdo e dum núcleo, deriva por si próprio de uma combinação ainda muito mais
simples e primordial, o protoplasma ou matéria plásmica. Este protoplasma,
base ou substância da vida, cujas notáveis propriedades vitais se manifestam
como o resultado das propriedades químicas
e físicas do carbono que ele encerra e
das suas combinações, apresenta‑se unicamente sob a forma de pequenas
massas albuminoides meio coaguladas, homogêneas, susceptíveis de nutrição
e de proliferação, e nas quais todas as funções em vez de aparecerem como propriedades de
certos órgãos, como se vê nos animais
superiores, derivam imediatamente da matéria orgânica amorfa. Essas pequenas massas encontram‑se no limite exato
entre os corpos organizados e as substâncias
inorgânicas, e assim se vê como,
pelo fato de influências e de circunstâncias de que mais adiante se falara, as
formas orgânicas desenvolvem-se pouco a pouco de combinações mais ou menos
amorfas da matéria.”
Segundo
Büchner, o cérebro é a sede e o órgão dos pensamentos, estando o seu volume, a
sua forma, o seu desenvolvimento, a sua estrutura, a sua conformação ou a de
suas diversas partes em uma relação estreita com a extensão e a forma das
faculdades psíquicas ou intelectuais de que é a origem. Ele procura demonstrar,
pela anatomia comparada, que o volume e as outras particularidades anatômicas
do cérebro se desenvolvem duma forma determinada, gradualmente ascensional,
através de toda a série animal, até ao mais elevado de todos os seres – o
homem. Este, com algumas exceções, possui, tanto sob o ponto de vista absoluto
como relativo, o cérebro mais volumoso em todo o reino animal, o que explica
suas maiores faculdades intelectuais.
“Se o
encéfalo de alguns dos maiores animais existentes [3],
tais como a baleia, o elefante, as grandes espécies de delfins, excede o do
homem sob o ponto de vista da massa, essa aparente exceção provém unicamente do
desenvolvimento mais considerável das partes deste órgão que presidem não a
inteligência, mas as funções do sistema nervoso geral, consideradas sob a
relação do movimento e da sensibilidade, a que, em razão do número e do
diâmetro mais consideráveis dos cordões nervosos que recebem, apresentam
necessariamente um maior volume; – pelo contrário, as partes do cérebro que
presidem as funções intelectuais não apresentam em nenhum animal um volume tão
considerável, uma conformação e uma estrutura tão complicadas como no homem.
Chega-se
a um resultado muito diferente, se se considerar o peso relativo do cérebro,
isto é, a relação desse peso com o do corpo. Aqui ainda, a parte algumas
exceções insignificantes, o homem leva vantagem a todo o resto do reino animal,
numa proporção enorme, pois que o cérebro humano varia entre a quinquagésima e
a trigésima quinta parte do peso do corpo, enquanto que no delfim o cérebro não
representa senão a centésima, no elefante as cinco centésimas, na baleia as
três milésimas partes do corpo desses animais. Avaliando essa relação pelo
cálculo, verifica-se (segundo Leuret) – sendo representado o peso total por
10.000 que o do cérebro é representado nos peixes por 1,8, nos répteis por 7,8,
nos pássaros por 42,2, nos mamíferos por 53,8 e no homem por 277,8.
“Não é somente a quantidade[4], é
também a qualidade do tecido nervoso e a intensidade correspondente da força e
da atividade recíproca de cada elemento, que determinam o nível das faculdades
intelectuais.”
O
pensamento, à luz da doutrina materialista, nada mais é que uma segregação
funcional do cérebro.
Diz Carl Vogt que há a mesma relação entre o pensamento e o cérebro que
entre a bílis e o fígado e que entre a urina e os rins”.
E, segundo o filósofo francês Cabanis, “é preciso considerar o cérebro
como um órgão particular destinado especialmente a produzir o pensamento, da
mesma maneira que o estômago e os intestinos a operar a digestão, o fígado a
filtrar a bílis etc.”.
Entretanto, a doutrina materialista não especifica claramente o que é
força e o que é matéria. O próprio Büchner diz que “nós não sabemos hoje, como
não sabíamos antes, o que é a matéria em si e a força em si, nem temos
necessidade de saber, pois que a sua separação em duas entidades distintas não
se pode efetuar senão pelo pensamento e nunca em realidade... São sinais que
servem para caracterizar dois aspectos ou duas manifestações de um só e mesmo
ser, constituindo a força, segundo Lewes, o aspecto dinâmico da matéria, e a
matéria o aspecto estático da força”.
Um
dos grandes argumentos dos materialistas é que a matéria é indestrutível,
imortal e eterna, como a química o tem demonstrado: em todas as combinações, em
todas as composições e decomposições, enquanto que o que foi criado com a
matéria morre e desaparece. Concluem, conseqüentemente, que, em virtude do
movimento incessante da matéria, em suas contínuas transformações, não teve ela
princípio nem terá fim, visto que nada pode vir do nada e nada do que existe
pode ser destruído.
De acordo com as conclusões científicas há uma tendência geral das
forças para o repouso relativo ou aparente. Assim sendo, a matéria tende para o
repouso absoluto em uma época imprevisível. Entretanto, quem transmitiu à
matéria inerte o movimento inicial?
O Visconde de Sabóia, em seu livro A vida psíquica do homem, faz
um belo estudo destas questões. Aconselho, aos que conseguirem obter esta obra,
a sua leitura e exame cuidadosos.
A nossa finalidade, ao expormos em linhas rápidas e gerais, diversas
das várias teorias existentes sobre força, matéria, origem e fim dos seres
orgânicos etc., não é propriamente combatê-las, refutá-las, mesmo porque isto
exigiria um longo e documentado volume.
Temos por único fito, ao passar por alto por estes pontos, mostrar a
confusão em que se debatem os estudiosos destas questões, e as profundas
divergências entre vários deles.
Na realidade não procuraremos demonstrar qualquer teoria. Limitar-nos-emos
a expor aquilo que estamos convictos ser a verdade. Tentaremos explicar ao
leitor sua composição astral e física e como utilizar a considerável força de
que dispõe: o pensamento.
O pensamento não é, para nós, uma segregação do cérebro da mesma
maneira que a urina é uma segregação dos rins, embora muitos estudiosos
notáveis e conceituados assim o afirmem.
Diz, por exemplo Charles Richet, em seu livro Humanidade impotente:
“Nossa máquina pensante não é mais do que um pequeno amontoado de células
microscópicas (micróbios de uma espécie particular) sedentas de oxigênio e
absorvendo esse oxigênio do sangue que as irriga. Encerradas em uma sólida
caixa craniana, as células são unidas umas às outras apenas por um filamento de
conexões de milésimos de milímetro. Frágil, muito frágil construção. É
milagroso que esses débeis corpúsculos possam efetuar, bem ou mal, suas
múltiplas e delicadas operações durante trinta milhões de minutos – tal é mais
ou menos a duração da vida humana – sem rápido desgaste.
– Que? Esse mesquinho aparelho compreenderá o imenso Cosmos do qual não
é mais do que um imperceptível fragmento? – Que? Essas pequenas granulações
poderiam penetrar um só dos mistérios que vibram em redor deles? Desvendar o
imenso trabalho das leis que governam o mundo, esclarecer as enormes e
complicadas regulações que se prolongam no tempo e no espaço? ”
Querendo demonstrar depender continuadamente a alma do corpo, escreve
Richet: “De fato a alma está em estreita dependência do corpo. A ele esta
sujeita dia e noite a despeito de todas as belas frases que se compraz em
pronunciar sobre o seu domínio.
Basta ficar meio minuto será respirar para compreender até que ponto
essa alma, que é tão orgulhosa, está a mercê do oxigênio. São precisos a essa
pobre alma, que tem sede de conhecimentos infinitos, vinte litros de ar por
minuto. Somente a um tal preço pode lançar-se no espaço e conceber grandes
coisas. Toda a nossa capacidade moral depende da quantidade de oxigênio que
circula nos nossos pulmões. Evidência fragorosa, triste e banal ao mesmo tempo.
O servilismo às condições físico-químicos da vida é inexorável.
Pertence ao coração como a respiração”. Se o coração cessa de bater, bate mal,
muito depressa ou muito lentamente, desaparecem: pensamento, vontade,
inteligência, tudo. Mesmo quando os pulmões respiram um bom ar carregado de
oxigênio, mesmo quando o coração bate regularmente e descarrega um sangue
normal no cérebro e nos tecidos, o pensamento está, ainda, sujeito às condições
fisiológicas mais humilhantes.
Que nossa digestão seja laboriosa porque tenhamos comido uma avantajada
fatia de empadão ou algumas batatas mal cozidas, então nossa vontade se torna
subitamente vacilante, nosso caráter rabugento. Acabam-se as idéias, acabam-se
os sorrisos. Todas as coisas se revestem de um aspecto sombrio. Nossa atenção
evolou-se e não nos resta no espírito mais do que uma agitação infecunda. O
sono apodera-se de nós, as pálpebras fecham-se, a vista turva-se, as idéias
tornam-se confusas.
Que um mesquinho micróbio verta no sangue alguns centésimos de
miligrama do seu veneno e subitamente, com a febre, toda a energia intelectual
desaparece.
Sobre um navio que joga, por pouco que seja, o enjôo paralisa toda a
ideologia.
Uma nevralgia dentária, provocada pela imperceptível lesão do esmalte,
perturba grandemente a pobre alma e ela não se pode acalmar senão quando a
nevralgia consente em ir embora.”
Da mesma maneira que Charles Richet, outros estudiosos de prestígio
negam, convictamente alguns, com má-fé outros e, ainda outros ironicamente, a
existência do espírito, simplesmente porque suas manifestações externas se
modificam quando o funcionamento de qualquer órgão é abalado momentaneamente,
rompendo o equilíbrio normal fisiológico.
Entretanto, se o corpo humano é o instrumento de que se serve o
espírito para dar existência material às suas manifestações, claro está que
qualquer alteração no funcionamento deste corpo deturpará, conseqüentemente,
suas relações harmônicas com o espírito. Um pintor não poderá obter telas
perfeitas se trabalha com pincel defeituoso; uma máquina defeituosa não poderá
produzir materiais perfeitos mesmo que o operário que a dirige seja competente
e cuidadoso.
E, no entanto, a inteligência é relegada completamente para o plano das
segregações materiais.
São ainda de Richet as afirmativas de que “a inventiva, a facilidade de
palavra, a facilidade de estilo, a aptidão para fazer multiplicações ou versos,
para resolver problemas matemáticos, para compor músicas, a forma da escrita,
são tão involuntárias quanto a memória. A vontade não tem a mínima ação sobre a
inteligência. E assim como nada podemos modificar na disposição dos órgãos de
nosso corpo, nada podemos modificar nas nossas capacidades intelectuais. Assim,
por uma terrível complicação de incapacidade, não só a alma nada pode contra o
corpo, mas torna também as atitudes e as aptidões que o corpo lhe quiser dar.
Todo esse servilismo da alma se resume em uma pequena frase que, como
um dobre fúnebre, soa a cada passo que fazemos no tempo, sem remissão e sem
repouso: a alma envelhece ao mesmo tempo que o corpo.
E essa velhice se manifesta pela transformação da inteligência. Pouco
importa, se é para tal ou qual personagem, aos cinqüenta, sessenta ou oitenta
anos que a senilidade se torna grave. Pouco importa! Ela cresce, progride,
triunfa. O ancião não se pode mais iniciar nas coisas novas; repete as mesmas
histórias; perde todo o interesse nos acontecimentos que o envolvem; sua
sensibilidade se atrofia para as coisas morais como para as cores e para os
sons. Tem o espírito de sua idade e embora advertido pelos exemplos que teve
quando jovem, sob os olhos, nada pode alterar nessa fatalidade inexorável que o
arrasta no seu fluxo. Curva-se a cada ano, a cada dia, a cada minuto. Assiste,
sem querer compreender, a essa decadência crescente. Nada corrige, nada
melhora, pois a própria vontade se enfraquece, como a memória, como a vista,
como os ouvidos. Então sobrevive a si mesmo. Por felicidade, quase sempre está
bastante degradado para não se dar conta de sua degradação.”
E com a disseminação de teorias de tal ordem, vai o espírito humano se
embrutecendo, se perturbando, se obsedando, perdendo a noção do caminho exato a
seguir para promover sua evolução contínua aos planos astrais superiores.
Após esta introdução, em que foram apresentados mui resumidamente
algumas das idéias e teorias em vigor, passaremos ao assunto real desta obra
despretensiosa, cuja única finalidade é tentar arrancar o homem do fanatismo
religioso e científico em que vive, de sua tendência excessivamente adoratória
aos falsos ídolos sectários, de seu misticismo, de seu terror, enfim, ao
desconhecido.
Liberto o homem de tudo isto, compreenderá claramente que só ele
próprio é o verdadeiro construtor de sua felicidade terrena e de seu progresso
espiritual, e que de nada vale implorar adorativamente auxílio aos fictícios
deuses.
Aprenderá, sobretudo, a viver em ressonância com as leis naturais e
imutáveis que regem o Universo.
Não é, em absoluto, de nosso escopo, neste trabalho, atacar a quem quer
que seja.
Respeitamos a opinião alheia embora desejemos que ela seja baseada no
raciocínio e na compreensão clara das coisas.
Cada um, de acordo com seu livre-arbítrio e raciocínio, que siga pela
estrada que julgue certa e condutora à Verdade.
Desejamos apenas indicar ao leitor um caminho seguro para chegar, de
fato, ao conhecimento de si próprio.
Este trabalho é um incentivo, um convite, ao estudo do Racionalismo
Cristão.
Felino
Alves de Jesus
TRAJETÓRIA EVOLUTIVA
O Universo,
todo ele, resume-se, basicamente, em Força e Matéria.
O movimento
evolutivo de tudo o que existe no Universo, inclusive daquilo que, à apreciação
do Homem, parece ser ínfimo e desprezível, é contínuo e ininterrupto, função
definida do parâmetro Tempo.
No início da
trajetória evolutiva, a matéria é densa, pesada, dos seus mais primitivos
estados, enquanto que, paralelamente, a Força (Inteligência) a animá-la é
mínima. À proporção que as manifestações inteligentes vão aumentando, a
densidade material vai diminuindo, isto é, a Matéria de que se serve a Força
torna-se mais leve, mais diáfana.
No ponto P,
por exemplo, que se supõe o estado evolutivo atual de um determinado ser ou
coisa, o valor gráfico da Força animadora é dado pelo vetor OF, enquanto que o
estado da Matéria de que se serve esta partícula da Força (Inteligência
Universal) nos é indicado pelo vetor OM.
Observe-se,
ainda, pelo exame do gráfico simbólico que, durante o movimento evolutivo
contínuo, o valor da Força animadora cresce sempre, tendendo para o infinito,
isto é, tendendo a confundir-se com a Inteligência Universal (Absoluta), e que,
paralelamente, a Matéria se torna sempre mais leve, mais diáfana, tendendo a
anular-se definitivamente, o que se dará no momento transcendente em que a
Força animadora alcançar a Inteligência Universal (Absoluta) e com ela
confundir-se in totum.
Este momento
supremo é de compreensão ainda impossível para o limitado campo de lucidez
intelectual dos habitantes do planeta Terra.
1. Matéria e energia
Inúmeras
têm sido as pesquisas de estudiosos para saberem o que é realmente a matéria,
como é constituída, sua formação, seu fim. Conseqüentemente, numerosas são as
teorias que surgem.
Suponhamos
que tomamos uma certa quantidade de uma determinada matéria: um pouco d'água em
uma vasilha, por exemplo. Suponhamos que entornemos metade da água contida na
vasilha, permanecendo nela a outra metade; admitamos que, em seguida, tornemos
a derramar metade da água restante. Se pudéssemos repetir, pelos meios
mecânicos de medida, continuamente, esta operação, chegaria um momento em que
não mais poderíamos fazer uma nova divisão na água restante, pois teríamos
chegado à partícula mínima que caracteriza a água, isto é, teríamos chegado à
molécula de água.
Entretanto,
se estudarmos quimicamente esta molécula, chegaremos à conclusão de que ela é
formada por outras pequenas partículas: ela pode ser decomposta, por intermédio
de uma corrente elétrica, em duas partículas de hidrogênio e uma partícula de
oxigênio.
Uma
substância que não possa ser decomposta em outras substâncias é denominada
elemento. O hidrogênio e o oxigênio são elementos, pois não podem ser
subdivididos em outras substâncias.
A
menor partícula de um elemento é denominada átomo.
Portanto,
vimos que a molécula da água é constituída de dois átomos de hidrogênio e um
átomo de oxigênio.
O
número de corpos simples, isto é, de elementos conhecidos, é de noventa e dois.
Os átomos do mesmo elemento são semelhantes; entretanto, os átomos de elementos
diversos diferem entre si. O átomo do hidrogênio, por exemplo, difere do átomo
do oxigênio.
Os
átomos dos diferentes corpos simples, ligados entre si de modos diversos,
formam as moléculas dos corpos compostos.
Portanto,
fazendo combinações com os corpos simples conhecidos, o homem pode obter um
número enorme de corpos compostos.
Durante
muito tempo se pensou que o átomo fosse a menor partícula de matéria conhecida.
Entretanto, veremos que as investigações mais recentes nos mostram que mesmo os
átomos são constituídos de partículas menores.
Os
cientistas concordam unanimemente com a descontinuidade da matéria, embora
filósofos afirmem a sua continuidade.
Quando
falamos em continuidade ou descontinuidade da matéria, queremos saber se a
matéria, que a nossos olhos se apresenta como um todo, realmente o é, ou se se
trata de partículas reunidas, muito próximas, com maior ou menor força de
atração entre elas.
Conseqüentemente,
se a matéria é descontínua, suas pequenas partículas componentes devem estar
envolvidas pelo vazio, isto é, pelo éter.
Já
falamos antes a respeito da descontinuidade da matéria até os átomos, isto é, a
matéria é formada de moléculas que, por sua vez, são constituídas de átomos.
Vejamos,
porém, a descontinuidade dentro do átomo.
Depois
de uma série enorme de experiências chegou-se à conclusão de que os átomos são
constituídos de duas partes: uma central, denominada núcleo, e outra exterior. O núcleo é formado de prótons e
nêutrons, em conjunto; a parte exterior é formada apenas de elétrons.
Chama-se
elétron a menor quantidade de
eletricidade negativa que se pode obter livre. São os elétrons as partículas
elétricas que formam os raios catódicos das válvulas Crookes e
as partículas beta do radium e
outros elementos radioativos.
Chama-se
próton a menor quantidade de
eletricidade positiva que se pode obter livre. Tem a mesma carga elétrica do
núcleo do hidrogênio, razão porque é também conhecido com o nome de núcleo de
hidrogênio ou de partícula H.
Chama‑se
nêutron uma partícula que não contém
carga elétrica e pode ser obtida pela fusão nuclear de alguns elementos.
A figura
1 nos mostra esquematicamente um átomo com o núcleo formado de quatro prótons e
quatro nêutrons.
Os
elétrons giram com movimentos rapidíssimos em torno do núcleo.
Os átomos em estado normal são eletricamente neutros, isto é, possuem
tantos elétrons quanto prótons.
O núcleo tem sempre carga positiva, pois possui mais prótons que
elétrons. Por outro lado, a parte externa tem sempre carga negativa por só
possuir elétrons.
Se, por qualquer meio, conseguirmos introduzir em um átomo, em estado
normal, alguns elétrons, ele ficará com carga elétrica negativa, pois haverá
excesso de elétrons em relação ao número de prótons. Inversamente, se
conseguirmos retirar de um átomo, em estado normal, alguns elétrons, ele ficará
com carga elétrica positiva, pois haverá falta de elétrons em relação ao número
de prótons, ou, em outras palavras, haverá excesso de prótons em relação ao
número de elétrons.
Todo átomo que não esteja em estado neutro, isto é, que possua uma carga
positiva ou negativa, tem a tendência de voltar ao equilíbrio, se possuir meio
para isso, adquirindo os elétrons necessários ou expelindo os em excesso.
Agora que já falamos sobre cargas elétricas, positiva e negativa,
podemos mostrar, esquematicamente, como se produz a corrente elétrica.
Suponhamos que coloquemos em posição horizontal um tubo, cujo diâmetro
interno coincida com o diâmetro de uma bola de bilhar, permitindo o
deslocamento desta pelo seu interior.
Se
ambas as extremidades, A e B, estiverem abertas, e se empurrarmos mais uma bola
de bilhar pela extremidade A, imediatamente sairá uma bola pela extremidade B,
assim como haverá o deslocamento de uma bola em qualquer ponto do tubo. Em dois
pontos quaisquer, M e N, por exemplo, haverá o deslocamento de uma bola.
Se, em um segundo, empurrarmos cinco bolas pela
extremidade A, igualmente passarão, em um segundo, cinco bolas pelos pontos M e
N e sairão cinco bolas pela extremidade B. Em outras palavras, a velocidade de
deslocamento das bolas será a mesma em todo o comprimento do tubo.
Se
introduzirmos um elétron no átomo da extremidade A, um elétron deste será
empurrado para o átomo M; o átomo M mandará um elétron para o átomo N, e assim
por diante, de modo que sairá um elétron do átomo da extremidade B.
Este deslocamento de um elétron ao longo da série de átomos produz o que
se chama corrente elétrica.
Se,
em um segundo, introduzirmos cinco elétrons no átomo da extremidade A,
igualmente em todos os pontos da série de átomos passarão, em um segundo, cinco
elétrons e sairão cinco elétrons na extremidade B. Portanto, a intensidade da
corrente elétrica é a mesma em todos os pontos do caminho por ela percorrido.
Admitamos que, no tubo da Figura 2, coloquemos um obstáculo na
extremidade B, de tal modo que as bolas de bilhar não possam sair, e que, na
extremidade A, ajustemos um tubo vertical cheio de bolas de bilhar, cuja
tendência natural será de penetrarem pela extremidade A pela ação da gravidade
(Fig. 4).
Façamos o mesmo raciocínio para o caso da série de átomos da Figura 3. Suponhamos que coloquemos na extremidade B um obstáculo (isolante) que não permita a passagem dos elétrons, e que, na extremidade A, ajustemos uma massa de elétrons com a tendência de penetrarem na série de átomos (Fig. 5).
Façamos o mesmo raciocínio para o caso da série de átomos da Figura 3. Suponhamos que coloquemos na extremidade B um obstáculo (isolante) que não permita a passagem dos elétrons, e que, na extremidade A, ajustemos uma massa de elétrons com a tendência de penetrarem na série de átomos (Fig. 5).
Os elétrons da massa acumulada na extremidade A não poderão se deslocar
em virtude de ter o isolante I barrado a passagem da corrente elétrica.
Como a extremidade A tem excesso de elétrons em relação à extremidade B,
dizemos que a extremidade A é negativa e que a extremidade B é positiva.
Se substituirmos a série de átomos por um fio de uma determinada
matéria, os fenômenos se passarão identicamente; apenas os elétrons terão maior
quantidade de átomos por onde se deslocarem.
Admitamos, agora, que coloquemos em contato com uma série de uma mesma
matéria, uma certa massa M de elétrons (Fig. 6)
Apesar da resistência oferecida pelo átomo A à penetração dos elétrons
da massa M, esta tem força suficiente para vencê-la e fazer o deslocamento dos
elétrons ao longo da série de átomos. Entretanto, pode acontecer que esta massa
não seja suficiente para vencer a reação oferecida pelos átomos de uma outra
matéria, e que seja necessária uma outra massa maior M1, a fim de
que a corrente possa ser produzida (Fig. 7).
Portanto,
concluímos que, para que possa circular corrente por um material, é necessário
que a diferença de potencial entre as extremidades, isto é, o excesso de
elétrons de uma extremidade em relação à outra, seja de valor tal que vença a
resistência oferecida pelos átomos ao longo do qual deve ser estabelecida a
corrente.
As diversas substâncias existentes oferecem diferentes resistências à
passagem da corrente, de acordo com a constituição atômica de cada uma. Os
metais, geralmente, oferecem pequena resistência à passagem da corrente, e são,
por isso, denominados bons condutores. O
melhor condutor conhecido é a prata. Há substâncias que oferecem tal
resistência à passagem da corrente, isto é, deixam passar uma quantidade de
corrente tão desprezível, que são denominadas isolantes. O vidro e a borracha, por exemplo, são
substâncias isolantes.
Em princípio, podemos afirmar, porém, que todas as substâncias permitem
a passagem de alguma corrente, desde que a diferença de potencial seja
suficientemente alta para isto.
Uma
coisa nos chama imediatamente a atenção. Se colocarmos em série átomos de
substâncias diferentes e forçarmos a passagem de elétrons por uma extremidade,
acontecerá o mesmo fenômeno explicado: os elétrons de um átomo passarão para o
átomo vizinho simultaneamente com a entrada de elétrons no átomo da
extremidade. Portanto, concluímos imediatamente que o elétron de uma
determinada matéria é semelhante ao elétron de qualquer outra matéria, o mesmo
acontecendo com o próton. E, então, podemos dizer que todas as substâncias têm
a mesma origem - prótons e elétrons - variando as propriedades de cada matéria
com sua estrutura molecular e atômica.
A Figura 8 nos mostra a estrutura eletrônica dos átomos de hidrogênio,
hélio, oxigênio e magnésio, cujos números atômicos são, respectivamente, 1, 2,
8 e 12.
A emissão de elétrons, obtida pelos raios catódicos, pelo calor ou pela
luz, por exemplo, é feita com relativa facilidade e sem que sejam produzidas
mudanças químicas nos átomos em que se efetue a emissão. Daí se conclui que os
elétrons, nestas emissões, saem da parte externa do átomo e não do núcleo.
Entretanto, observa-se, também, uma outra espécie de emissão de
elétrons, completamente espontânea, sem que possa ser regulada por meios
artificiais. É o caso das emissões dos corpos radioativos. Nessas emissões há
sempre uma modificação química nos átomos, pois, os elétrons, uma vez emitidos,
já não voltam mais aos átomos. Daí se conclui que estes elétrons pertencem ao
núcleo do átomo.
Cada próton pesa cerca de 1.840 vezes mais que o elétron, de modo que o
peso atômico é fornecido quase que exclusivamente pelo núcleo, onde ficam
localizados todos os prótons.
Os cientistas comparam os átomos a diminutos sistemas planetários em que
o núcleo é o centro de atração e os elétrons giratórios fazem o papel dos
planetas.
Ultimamente se admite que as partículas elementares dos átomos não são
apenas as duas estudadas: prótons e elétrons. Admite-se que são quatro: nêutrons, de massa 1 e carga elétrica 0;
pósitons, de massa 0,0015 e carga
elétrica + 1 ; négatons, de massa
0,0015 e carga elétrica -1; e mésotons, também
denominados elétrons pesados, cuja
massa é 200 em relação ao elétron. [5]
Entretanto, não nos estenderemos a respeito.
Constantemente
fala-se em éter. – Entretanto, o que é o éter? – Existe o éter? – E se existe,
quais são suas propriedades?
A razão
principal, supomos, que levou à crença da existência do éter, foi a
impossibilidade da ação à distância sem alguma coisa portadora desta ação. Se o
som produzido pelas vibrações de determinado objeto é transmitido pelo ar,
semelhantemente alguma coisa deve ser o suporte, por exemplo, para a propagação
da luz, ou para as atrações e repulsões elétricas e magnéticas.
Diz
Gustavo Le Bon [6] que “sem
o éter não haveria o peso, a luz, a eletricidade, o calor; o universo estaria
silencioso e morto, ou se revelaria sob uma forma que não podemos pressentir.
Diz que, embora a natureza íntima do éter chegue apenas a ser suspeitada, sua
existência se impôs desde muito tempo, parecendo a alguns ser mais certa sua
existência que a da própria matéria; e que sua existência se impôs quando foi
preciso explicar a propagação das forças e a ação à distância.”
Admitida a existência do éter, diz-se, então, que todos os astros estão
mergulhados neste mar fluídico, etéreo, cujo início e cujo fim, isto é, cujas posições
limites, nosso campo de lucidez intelectual ainda não pode conceber e que se
chama espaço.
Provavelmente todos viram, no mar ou em rios, o que se chama redemoinho.
A água, girando velozmente, produz forças de atração e de tensão.
Admite-se que
o éter possua igualmente, seus torvelinhos, seus redemoinhos, com forças de
atração ou de repulsão. E a estas forças de atração ou de repulsão dá-se o nome
de eletricidade. Aos redemoinhos em si, que produzem a eletricidade, dão-se os
nomes de prótons e elétrons. A tensão que os
prótons e elétrons produzem é denominada magnetismo.
“Provavelmente,
diz ainda Gustavo Le Bon [7],
da condensação do éter efetuada na origem dos tempos por um mecanismo ignorado,
se derivam os átomos, considerados, por vários sábios, e especialmente por
Lamor, como núcleos de condensação do éter, que têm a forma de pequenos
torvelinhos animados de uma enorme velocidade de rotação. A molécula material,
escreve este último físico, está inteiramente constituída por éter, nada mais.
Indubitavelmente, a grande velocidade de rotação das partículas de éter,
transformadas em torvelinhos, dão à matéria a rigidez e o peso.”
Portanto, fisicamente falando, tudo o que vemos, sejam os astros, seja a
cadeira em que sentamos, seja a água que bebemos, nada mais representa que a
reunião de um número extraordinário de prótons e elétrons.
Por
esta teoria nós nada mais seríamos que a condensação do éter, isto é,
condensação de torvelinhos do éter.
O número de estrelas que se movem no espaço é enorme. Cada uma delas é
um sol luminoso, e formam, com seus planetas envoltórios, inumeráveis sistemas
solares.
A
distância entre os sóis é tão extraordinariamente grande, que se mede pelo
caminho que a luz, com sua velocidade de 300.000 quilômetros por segundo,
percorre em anos ou milênios.
A
velocidade média de deslocamento dos sóis no espaço é de cerca de 100
quilômetros por segundo, formando espirais.
O
nosso planeta, a Terra, gira em torno de nosso Sol a uma distância de
150.000.000 de quilômetros. Por aí podemos ver quão desprezível é a quantidade
de matéria de nosso planeta em relação ao Universo.
Da
mesma forma que dizemos que a Terra é desprezível em relação ao Universo,
podemos dizer que o elétron é desprezível em relação à Terra. Basta dizer que,
para conseguirmos um comprimento de um milímetro, colocando elétrons lado a
lado, seriam necessários 10.000.000.000.000.000.000.000.000 de elétrons.
Em um
átomo, a distância entre os elétrons da parte externa e o núcleo atômico não
chega a um bilionésimo de milímetro; a velocidade destes elétrons é de 1.000 a
150.000 quilômetros por segundo, e em um segundo eles dão milhões ou bilhões de
voltas em torno do núcleo.
Portanto,
um átomo contém em si uma quantidade fantástica de energia. Se a indústria
pudesse utilizar esta energia, teria à sua disposição uma fonte gigantesca e
inesgotável de força. Entretanto, tudo indica que não está longe a época de ser
possível a aplicação industrial da energia atômica. A bomba atômica já foi um
passo para isso.
Diz
Fritz Kahn [8] que “com
a energia existente em um átomo de cobre de uma moeda, seria possível, a um
navio de 50.000 toneladas, dar várias vezes a volta da Terra; que, com uma
colher de chá de carvão em pó – desde que ele não fosse queimado mas
desintegrado em seus átomos –, poder-se-ia aquecer por 24 horas, em pleno
inverno, todas as casas de Nova Iorque”.
Muitos
físicos adotam a teoria do átomo inextensível, isto é, como sendo condensação
do éter, em movimentos violentamente fortes. À primeira vista parece ser
absurdo; a matéria é formada de partículas que realmente não existem. Neste
caso a matéria não existiria: seria apenas uma ilusão.
–
Entretanto, será o éter uma matéria em outro estado, que não o sólido, o
líquido ou gasoso?
“A
verdade, diz Paul Gibier [9], é
que os físicos estão hoje de acordo, considerando os corpos mais densos como
representando apenas em aparência uma superfície contínua, como por exemplo,
uma esfera oca de prata, cheia de água e soldada hermeticamente. Colocando
sobre uma bigorna esta bola e batendo-se-lhe com um martelo, a água escapa-se
por todos os poros do metal a cada golpe do martelo e vem aflorar a sua
superfície, segundo experiências dos acadêmicos de Florença.”
“O
volume das moléculas, continua ele, pode ser, quando muito, avaliado por
milionésimos de milímetros, e mesmo levando em conta o espaço relativamente
considerável que as separa, é ainda por trilhões, quintilhões, sextilhões, que
devemos contá-las em um milímetro cúbico.”
“Elas
estão em um estado contínuo de agitação, de projeção, de choques violentos, de
atrações, de repulsões enérgicas, das quais é, sem dúvida, um pálido reflexo o
movimento browniano das partículas microscópicas. Fazemos uma idéia do seu
tremendo turbilhão, quando vemos que no hidrogênio, em pressão e temperatura
ordinárias, as moléculas deste gás estão animadas de velocidade mais ou menos
de
2.000
metros por segundo (Joule) e que cada uma sofre de suas vizinhas cerca de 17
bilhões de choques no mesmo espaço de tempo.”
A Ciência já conseguiu obter vastos conhecimentos sobre os movimentos
dos corpos celestiais. E se admite que as leis dos movimentos moleculares são
perfeitamente semelhantes às que regem os dos corpos-celestiais.
Afirmam
estudiosos famosos que a quantidade de energia existente no sistema solar com
possibilidade de transformação não chega a mais de 454a parte da
energia que possuía no estado de nebulosa. Esta quantidade de energia
transformável ainda é enorme, considerada por nossos sentidos, mas ela também
ir-se-á degradando. Haverá uma época, incomensuravelmente distante ainda, sem a
menor dúvida, em que não haverá mais energia transformável no universo. A
energia em si persistirá, porém, sob a forma de movimentos atômicos.
– Como poderia acontecer isto?
Os movimentos dos corpos celestiais ir-se-iam amortecendo, os planetas
não mais circulariam em torno dos sóis extintos; as massas ir-se-iam
aglomerando cada vez mais, ficando, finalmente, reunidas em uma única; esta
massa única giraria ainda muito tempo sobre si mesma até ficar completamente
imóvel em relação ao espaço ambiente.
“Tal é o destino do Mundo, diz Paul Gibier [10],
como todo o ser que vive, passou pelo estado embrionário, teve sua infância,
adolescência e maturidade; a decrepitude da velhice já começou.”
Tais são, pelo menos, as conclusões da Ciência moderna com o
conhecimento dos dois elementos “que estão colocados nos dois ângulos
inferiores do triângulo”, quero dizer, a matéria e a força ou energia.
Fato curioso: os bramas e os pandits
(sábios filósofos do Oriente), possuem há milhares de anos uma cosmogonia
idêntica; em sua linguagem simbólica denominam eles este “desmoronamento final”
das esferas, esta parada do Universo no ponto
morto, “a noite de Brahma”, a noite durante cujos inúmeros séculos, depois
de haver reabsorvido tudo em si, os deuses juntamente com as coisas, “o Antigo
dos dias” repousa contemplando-se em seu Parabrahm Eterno.
– Que fica sendo o homem no meio dos destroços de astros,
volatilizando-se ao choque uns dos outros? – Que fica sendo a Consciência do
ser e que sorte vai ser a sua?
A Ciência ainda não se ocupa disso, mas forçosamente vai ser levada ao
estudo destas coisas, porque as manifestações de consciência no além-da-vida
começam a chamar-nos a atenção, a reclamar o nosso exame.”
* * *
– Que concluímos de tudo o que foi exposto neste capítulo?
Nada.
As teorias são revolucionárias, mas o nosso raciocínio, o alcance de
nosso campo de compreensão, não está ainda em condições de apreender totalmente
estas sutilezas.
– Na prevista parada da massa material do Universo, reunida em uma massa
única, o que a envolverá? - Não encontramos resposta.
– Existe realmente a matéria? – Ou é uma propriedade da energia
movimentando o éter? – Existe o éter? – E, existindo, não é, ele próprio,
matéria num outro estado não conhecido ou analisado?
– Como foi produzida inicialmente a energia do Universo?
– Não será, talvez, a energia, um efeito da matéria excitada por algo
que não é matéria nem energia?
Fizemos então surgir a necessidade de um princípio excitador da matéria.
Se a matéria é a condensação da energia, algo produziu a energia. Se a energia é proveniente da matéria, algo agiu sobre esta última.
De qualquer forma o nosso raciocínio solicita a existência de um
princípio animador.
– Eu disse raciocínio?
– Será entretanto razoável admitir-se que o raciocínio emane da matéria
ou da energia?
– Não será, talvez, mais aceitável considerarem-se como emanação do
Princípio animador as manifestações de raciocínio ou de inteligência?
Evidentemente deve haver um princípio, o Princípio-lnteligência, que, animando e excitando a matéria
inanimada, nos apresenta a solução para problemas considerados, anteriormente,
insolúveis e misteriosos.
2. Matéria viva
As
pesquisas sobre a matéria inerte alcançaram, não há a menor dúvida, um notável
progresso.
A Física, a Química, a Astronomia permitiram ao homem a concepção de
hipóteses realmente extraordinárias. Estas hipóteses levadas ao cálculo, nos
apresentam, por vezes, resultados surpreendentes e mesmo inimagináveis
anteriormente.
Entretanto, neste contínuo avançar e progredir das ciências, a Biologia,
reconhecidamente, não manteve o mesmo ritmo de esclarecimento de seus
intrincados e complicados fenômenos.
Na Biologia as coisas se estudam mais hipoteticamente que mesmo à luz
dos cálculos matemáticos.
Não podemos negar, é verdade, o esforço de um número não pequeno de
cientistas que tentam, a todo o custo, desvendar os segredos que envolvem os
fenômenos da matéria viva.
Mas a realidade é que, não obstante todo esse esforço, a ciência dos
seres vivos ainda estaciona no estágio puramente descritivo.
O corpo humano é cortado, dividido e estudado em todas as suas minúcias,
mas é um estudo exclusivamente constitucional, que não chega a permitir a
apresentação rigorosa dos cálculos algébricos.
A ciência ainda não sabe definir o que seja a vida e todas as teorias
apresentadas sobre a origem da vida sobre a Terra, não chegam a convencer e são
rejeitadas.
A matéria viva de todos os seres é formada por uma substância plástica
denominada plasma.
Não se obtém o plasma por meio de nenhuma combinação química ou mistura
de combinações.
O plasma em si é uma verdadeira máquina em ponto pequeno. A substância
viva plasma apresenta-se em um corpúsculo microscópico denominado célula.
Portanto, a célula é a unidade elementar da vida.
Em média o comprimento das células é de 0,02 mm.
O modo clássico de explicar a constituição de uma célula é compará-la
com um ovo, embora este seja cerca de um milhão de vezes maior que uma célula.
Dentro do ovo a gema amarela flutua no meio da albumina líquida. Dentro da
célula seu núcleo flutua no meio do plasma.
O
plasma assemelha-se à espuma de sabão, em que os alvéolos estão cheios de
líquidos, açúcares, soluções de albuminas e sais diversos. A substância das
paredes desses alvéolos embora sólida, de albumina viscosa, amido e gorduras
espessas, não é impermeável, pois deixa passar certos grupos de moléculas não
muito grandes através de poros moleculares extremamente pequenos.
A alimentação, para poder penetrar pelos poros moleculares, deve ser
bastante dividida em suas porções moleculares. Em média o corpo humano
compõe-se de 30 trilhões de células.
Admite-se e demonstra-se experimentalmente que a célula funciona como um
aparelho emissor-receptor de ondas éter.
As células reunidas formam os tecidos e os órgãos.
Só ultimamente os anatomistas conseguiram analisar as propriedades das
células, embora já conhecessem anteriormente os caracteres gerais dos tecidos e
dos órgãos.
Como já o dissemos, cada célula é um verdadeiro organismo muito
complicado.
Atualmente já se consegue projetar em uma tela, filmes de células com
tal aumento que seu tamanho fica superior ao de um homem. Assim sendo, os
órgãos das células se tornam visíveis e podem ser analisados.
Escreveu Alexis Carrel [11],
referindo-se à célula : No meio do seu corpo vê-se flutuar uma espécie de balão
ovóide, de paredes elásticas, que parece cheio duma gelatina completamente
transparente. Este núcleo contém dois nucléolos que mudam lentamente de forma.
à volta dele há uma grande agitação que se produz sobretudo ao nível dum
amontoado de vesículas, correspondentes àquilo a que os anatomistas dão o nome
de aparelho de Golgi ou de Renaut. Grânulos, quase indistintos, movem-se sempre
em grande número nesta ocasião, correndo também até aos membros móveis e
transitórios da célula. Mas os órgãos mais notáveis são uns longos filamentos,
as mitocôndrias, que se assemelham a serpentes, ou, em certas células, a
pequenas bactérias. Vesículas, grânulos e filamentos agitam-se violenta e
continuamente no líquido intercelular.
A complexidade aparente das células vivas já é muito grande. A sua
complexidade real é muito maior. O núcleo que, com exceção dos nucléolos,
parece completamente vazio, contém, não obstante, substâncias de maravilhosa
natureza. A simplicidade atribuída pelos químicos às núcleo-proteínas que o
constituem é ilusória. De fato, o núcleo contém os genes, esses seres de que tudo ignoramos, exceto que são as
tendências hereditárias das células, e dos homens que delas derivam. Os genes são indivisíveis. Mas sabemos
que habitam nos cromossomos, esses corpos alongados que aparecem no núcleo
claro da célula, quando esta se vai dividir. Nesse momento os cromossomos
desenham confusamente as figuras clássicas da divisão indireta. Depois os dois
grupos afastam-se um do outro. Vê-se, então, nos filmes, o corpo celular abanar
violentamente, agitar em todos os sentidos o seu conteúdo e dividir-se em duas
partes, as células-filhas que se separam deixando atrás de si filamentos
elásticos que acabam por desaparecer. É assim que individualizam dois novos
elementos do organismo. Tal como os animais, as células pertencem a várias
raças, que são determinadas por caracteres estruturais e funcionais. Células
que sejam provenientes de regiões espaciais diferentes, por exemplo da glândula
tireóide, do baço ou da pele, mostram naturalmente tipos diferentes. Mas, coisa
inexplicável, se, em momentos sucessivos, se reconhecem células duma mesma
região espacial, verifica-se que também elas,constituem raças diferentes. O
organismo é tão heterogêneo no tempo como no espaço. Os tipos celulares
dividem-se grosseiramente em duas classes. As células fixas, que se unem para
formar os órgãos, e as células móveis, que viajam por todo o corpo. As células
fixas compreendem a raça das células conjuntivas, e a das epiteliais, células
nobres que formam o cérebro, a pele, as glândulas endócrinas. As células
conjuntivas constituem o esqueleto dos órgãos. Existem em toda parte. Em volta
delas acumulam-se substâncias variadas, cartilagens, ossos, tecido fibroso,
fibras elásticas que dão ao esqueleto, aos músculos, aos vasos sangüíneos e aos
órgãos a solidez e a elasticidade necessárias; metamorfoseiam-se também em
elementos contráteis. São os músculos do coração, vasos do aparelho digestivo e
também os do aparelho locomotor. Embora nos pareçam imóveis e usem o seu velho
nome de células fixas, são, no entanto, dotadas de movimento, assim como a
cinematografia nô-lo mostrou. Mas os seus movimentos são lentos. Deslizam no
seu meio como óleo estendendo-se na água, e arrastam consigo o núcleo que
flutua na massa líquida do seu corpo. As células móveis compreendem os
diferentes tipos de leucócitos do sangue e dos tecidos; o seu movimento é
rápido. Os leucócitos de vários núcleos assemelham-se a amebas. Os linfócitos
arrastam-se mais lentamente, como pequenos vermes. Os maiores, os monócitos,
são verdadeiros polvos que, além dos seus braços múltiplos, são rodeados por
uma membrana ondulante; com as pregas desta membrana envolvem as células e os
micróbios, de que em seguida se nutrem com voracidade.
Quando se cultivam em frascos estes diferentes tipos celulares, os seus
caracteres tornam-se tão aparentes como os das diferentes raças de micróbios.
Cada tipo possui propriedades que lhe são inerentes, e que conservam mesmo
quando está separado do corpo durante anos. As raças celulares caracterizam-se
pelo seu modo de locomoção, pela maneira de se associarem umas às outras, pelo
aspecto de suas colônias, e pela proporção do seu crescimento, pelas
substâncias que segregam e pelos alimentos que exigem, tanto como pela sua
forma. Cada sociedade celular, isto é, cada órgão, deve as suas leis próprias a
essas propriedades elementares. As células não seriam capazes de constituir o
organismo caso apenas possuíssem os caracteres conhecidos pelos anatomistas.
Graças às suas propriedades habituais, e à enorme quantidade de propriedades
virtuais, susceptíveis de se manifestarem em resposta a modificações
físico-químicas do meio, as células fazem face às novas situações que se
apresentam no decorrer da vida normal das doenças. As células associam-se em
massa densa cuja disposição é regulada pelas necessidades estruturais e
funcionais do conjunto.
O corpo humano é uma unidade compacta e móvel, cuja harmonia é garantida
pelo sangue e pelos nervos de que estão providos todos os grupos celulares. A
existência dos tecidos não pode conceber-se sem a de um meio líquido. A forma
dos órgãos é determinada pelas relações necessárias das células com seus vasos
nutritivos. Essa forma depende ainda da presença das vias de eliminação das
secreções glandulares. Toda a disposição interior do corpo depende das
necessidades nutritivas dos elementos anatômicos. O plano arquitetônico de cada
órgão é inspirado pela necessidade que as células têm de estar imersas num meio
sempre rico em matérias alimentares e nunca obstruído pelos resíduos da
nutrição.
Sendo a harmonia do corpo humano garantida pelo sangue, vejamos o que é
esta substância. Nada mais que um tecido análogo aos outros em que, entretanto,
as células ficam suspensas num líquido viscoso, o plasma, em vez de estarem
fixadas por uma estrutura. O tecido sangüíneo contém cerca de trinta mil
bilhões de glóbulos vermelhos e cinqüenta bilhões de glóbulos brancos.
Todas as partes do corpo, por menores que sejam, são penetradas por este
tecido móvel, o sangue, que é o meio condutor de alimento para todas as células
do corpo. O sangue, ao entregar o alimento às células, e conseqüentemente aos
tecidos, recebe de volta os resíduos da vida dos tecidos.
Os glóbulos vermelhos são pequenos sacos contendo hemoglobina que, ao
passarem pelos pulmões, recebem oxigênio e o distribuem por todas as células
dos diversos órgãos, recebendo em troca ácido carbônico e outros resíduos. Os
glóbulos vermelhos não são como os glóbulos brancos, células vivas. Estes
últimos glóbulos ora flutuam no plasma dos vasos, ora se dirigem, pelos
interstícios dos capilares, à superfície das células das mucosas do intestino e
de todos os órgãos.
Os glóbulos brancos dão, pois, ao sangue a característica de tecido móvel,
sendo susceptível de se dirigir a qualquer ponto em que sua presença for
solicitada. Se uma região do organismo é invadida por micróbios, imediata e
rapidamente os glóbulos brancos acumulam em torno dos micróbios grandes
quantidades de leucócitos que combatem e infecção.
São os glóbulos brancos, ainda, que, indo às feridas da pele e dos
órgãos, produzem a sua cicatrização.
Para nutrir-se, para modificar-se, as células do corpo humano estão
continuamente recebendo matéria do meio exterior. Durante a passagem da matéria
exterior através das células, estas retiram a energia de que necessitam.
Portanto, a existência de nosso corpo físico se esteia completamente na matéria
do mundo inanimado.
Entretanto, as leis são infalíveis: mais cedo ou mais tarde nosso corpo
devolve ao mundo inanimado toda a matéria absorvida.
Falando sobre o enfraquecimento do corpo, diz ainda Alexis Carrel, no
seu interessante livro - O Homem, Esse Desconhecido: “Sabe-se que uma
alimentação rica ou pobre demais, o alcoolismo, a sífilis, as uniões
consangüíneas, assim como a prosperidade e o ócio, diminuem a qualidade dos
tecidos e dos órgãos. A ignorância e a pobreza têm os mesmos efeitos que a
riqueza. Os homens civilizados degeneram nos climas tropicais, e desenvolvem-se
sobretudo nos climas temperados ou frios. Têm necessidade dum modo de vida que
imponha, a cada um, um esforço constante, uma disciplina fisiológica e moral, e
algumas privações. Tais condições de existência dão-lhes a possibilidade de
resistir tanto à fadiga como às preocupações. Preservam-nos de muitas doenças,
principalmente nervosas, e impelem-nos irresistivelmente para a conquista do
mundo exterior.
A doença é uma desordem funcional e estrutural. A variedade dos seus
aspectos é tão grande como a das nossas atividades orgânicas. Há doenças do
estômago, do coração, do sistema nervoso etc. Mas no corpo doente mantém-se a
mesma unidade que no normal: todo ele está doente, porque não há doença que
fique estritamente confinada num único órgão. Pela velha concepção anatômica do
ser vivo, os médicos foram levados a fazer de cada doença uma especialidade. Só
aqueles que conhecem o homem nas suas partes e no seu todo, sob o seu tríplice
aspecto, anatômico, fisiológico e mental, podem compreendê-lo quando está
doente.”
Todos os órgãos possuem nervos sensitivos. Por intermédio destes nervos,
comandados pelo sistema nervoso central, os nossos órgãos entram em contato com
o mundo exterior. Portanto, nós sentimos as coisas exteriores de acordo com a
constituição e o grau de sensibilidade de nossos órgãos dos sentidos.
“Se, por exemplo, a retina registrasse os raios infravermelhos de grande
extensão de onda [12],
a natureza apresentar-se-ia aos nossos olhos com um aspecto completamente
diverso. Devido às modificações da temperatura, a cor da água, das rochas e das
árvores variaria com as estações. Os dias claros de julho, em que as menores
particularidades da paisagem se distinguem, seriam obscurecidos por um nevoeiro
avermelhado. Os raios caloríficos, tornados visíveis, esconderiam todos os
objetos. Durante os frios do inverno, a atmosfera tornar-se-ia clara e precisos
os contornos das coisas. Mas o aspecto dos homens seria bem diferente. O seu
perfil apareceria indeciso. Uma nuvem vermelha, saindo das narinas e da boca
esconderia o rosto. Após um exercício violento, o volume do corpo aumentaria,
porque o calor libertado formaria à sua volta uma larga aura. Do mesmo modo, o
mundo exterior modificar-se-ia, embora de outra maneira, se a retina se
tornasse sensível aos raios ultravioletas, a pele aos raios luminosos, ou,
simplesmente, se a sensibilidade de cada um dos nossos órgãos dos sentidos
aumentasse de modo notório.
Ignoramos as coisas que não exercem ação sobre as terminações nervosas
da superfície de nosso corpo. É por isso que os raios cósmicos não são
apreendidos por nós embora nos atravessem de lado a lado. Parece que tudo o que
atinge o cérebro tem de passar pelos sentidos, isto é, impressionar a camada
nervosa que nos rodeia. Apenas o agente desconhecido das comunicações
telepáticas faz talvez exceção a esta regra. Dir-se-ia que, nos fenômenos de
vidência, o sujeito apreende diretamente a realidade exterior sem utilizar as
vias nervosas habituais. Mas tais fenômenos são raros. Os sentidos são a porta
pela qual o mundo físico penetra em nós.”
Evidentemente o corpo humano surge diante de nossos sentidos como uma
tremenda complexidade. As células que se encontram mais afastadas uma das
outras trocam, entre si, suas secreções. No entanto, apesar da complicada
heterogeneidade do corpo humano, ele age, fisiologicamente, com uma
homogeneidade extraordinária.
– O que, pois, administra esta complicada heterogeneidade de funções,
transformando-as numa perfeita homogeneidade fisiológica?
Deixemos,
ainda, a pergunta sem resposta.
Em geral, os fisiologistas afirmam que as manifestações de vida, e mesmo
de inteligência, nada mais são que propriedades da matéria, embora concordem
que a matéria componente do corpo humano é exatamente a mesma matéria inanimada
conhecida. Eles, portanto, admitem que a matéria, formando os corpos inanimados
ou os corpos vivos, funciona diferentemente.
–
Será, porém, razoável e racional que os movimentos executados pelo homem, que o
equilíbrio e o funcionamento de seu complexo corpo, que as vibrações da matéria
cerebral, sejam simples propriedades da matéria, quando as propriedades desta
mesma matéria nos corpos inanimados, estão tão exaustivamente estudadas pela
Física e pela Química?
Se
as manifestações da vida nada mais fossem que propriedades da matéria, a
personalidade humana desapareceria com a morte do corpo, pois a matéria, uma
vez desagregada do corpo, voltaria a outros estados, tomando novas formas.
– E,
por que, no momento da morte, deixa a matéria de possuir as propriedades da
vida, se ela, em si, continua sendo a mesma matéria?
Há,
portanto, um outro princípio que não a matéria ou a energia, que abandona o
corpo humano, cessando, conseqüentemente, as manifestações de vida.
Entretanto,
dizem os materialistas, se há um Princípio-Inteligente que dá vida e movimento
à matéria inerte, por que a inteligência é afetada, se afetados são alguns
órgãos do corpo humano?
Com
esta teoria os materialistas crêem ter provado definitivamente que a
inteligência é uma propriedade da matéria, pois basta lesar a matéria
organizada para afetar a inteligência.
Podemos,
porém, responder a este argumento dizendo que, se um homem dirige uma máquina,
e se algum órgão desta última sofre alguma lesão, conseqüentemente ele não mais
pode obter a mesma produção da máquina, e não se pode afirmar, também, que o
homem é uma propriedade da máquina.
O
grande fisiologista Claude Bernard é de opinião que a matéria, mesmo viva, é
inerte, isto é, desprovida de toda a espontaneidade, porém que pode manifestar
suas propriedades especiais de vida sob a influência de uma excitação, porque a
matéria é irritável.
As
religiões dizem que o homem possui uma alma, e que esta, ao abandonar o corpo,
vai para um determinado lugar do espaço receber os prêmios ou castigos, de
acordo com seus bons ou maus atos na Terra.
Cada
religião apresenta um Deus à sua moda e feitio.
São
atribuídas a Buda, as seguintes palavras, ditas, em seu leito de morte, a seus
discípulos[13]:
“Todas estas opiniões teológicas não passam de quimeras; todas essas narrativas
da natureza dos deuses, de seus atos, de suas vidas, apenas alegorias, emblemas
mitológicos, sob os quais se escondem idéias engenhosas de moral e o
conhecimento das operações da natureza, no jogo dos elementos e na marcha dos
astros.
A
verdade é que tudo se reduz ao nada; que tudo é ilusão, aparência, sonho, que a
metempsicose moral não é mais que o sentido físico da metempsicose física,
deste movimento sucessivo, pelo qual os elementos de um mesmo corpo, que não
perecem, passam, quando ele se dissolve, para outros meios e formam outras combinações.
A alma não é mais que o princípio vital, resultante das propriedades da matéria
e do jogo de elementos existentes no corpo, onde elas criam um movimento
espontâneo. Supor que este produto do jogo dos órgãos nascido com eles,
adormecido com eles, subsiste quando os órgãos não mais existem, é um romance
talvez agradável, mas realmente quimérico, fruto de imaginação iludida. O
próprio Deus não é senão o princípio motor, a força oculta espalhada nos seres,
a soma de suas leis e propriedades, o princípio animador, em uma palavra, a
alma do universo, a qual, em razão da infinita variedade de suas relações e
operações, considerada ora como simples e ora como múltipla, agora como ativa e
logo como passiva, apresentou sempre ao espírito humano um enigma insolúvel.
Tudo quanto ele pode compreender de mais claro nisto, é que a matéria não
perece nunca; que ela possui essencial mente propriedades pelas quais o mundo é
regido como um ser vivo e organizado; que o conhecimento dessas leis em relação
ao homem, é o que constitui a sabedoria; que a virtude e o mérito residem na
observância delas, e o mal, o pecado, o vício, em sua ignorância e infração;
que a felicidade e infelicidade resultam delas, pela mesma necessidade que faz
as coisas pesadas descerem, e as coisas leves subirem, e por uma fatalidade de
causas e de efeitos cuja cadeia vai do último átomo até aos astros os mais
elevados.”
* * *
De
tudo o que foi exposto neste capítulo o leitor pode depreender que cientistas e
filósofos não chegaram ainda a um acordo ou a uma conclusão sobre a matéria
viva.
Materialistas
e espiritualistas defendem veementemente a validade de suas teorias sem se
convencerem mutuamente.
– E
por que isto?
Por
que os homens geralmente só se entendem sobre aquilo cuja existência os
sentidos podem constatar, discutir e analisar.
–
Como poderá, então, haver este entendimento, se não podemos ter provas reais da
existência do Princípio-Inteligente?
Mas
estas provas existem. O conhecimento do homem já é um fato definitivo.
O
alcance intelectual do homem está apto a apreender os magníficos princípios
explanados pelo Racionalismo Cristão, doutrina que, fundada em 1910, se vem
batendo para libertar a humanidade de turco o que seja dogma, mistério,
preconceito, acorrentamento do raciocínio.
Estuda,
leitor, com isenção de ânimo, o Racionalismo Cristão, analisa friamente suas
afirmativas, sem religiosidade, sem fanatismo, simplesmente como um pesquisador
desejoso de descobrir as leis e os princípios básicos da ciência máxima, da
“Ciência da Vida”.
3. Racionalismo Cristão
Racionalismo
Cristão é a doutrina que, fundada por Luiz de Mattos, difunde a afirmativa
básica de que no Universo tudo se resume simplesmente nos princípios Força e
Matéria.
Baseado
nestes dois princípios, o Racionalismo Cristão explica o que antes era mistério
nas doutrinas ocultistas e espiritualistas.
O Racionalismo Cristão explana e esclarece os princípios que Jesus, infelizmente, não teve tempo de consolidar, porque foi
prematuramente arrancado à vida.
O Racionalismo Cristão explica que Jesus não realizou milagres; que apenas se utilizou das leis
naturais e imutáveis que regem o universo.
Não convinha aos sacerdotes das religiões da época, não convinha aos
dominadores do povo, que Jesus continuasse
com suas explanações revolucionárias de que o homem em si é um deus, porque
contém em si uma partícula de Deus, que é Força Universal, o Foco da
Inteligência Universal.
Igualmente não convém hoje às religiões o esclarecimento da massa
humana, porque ela, esclarecida, repudiará suas maldades, sua hipocrisia, sua
tendência de embrutecimento do raciocínio humano, para melhor dominá‑lo.
Afirmando serem Força e Matéria os únicos princípios componentes do
Universo, o Racionalismo Cristão ensina o ser humano a aplicar a lei psíquica
de atração a estes dois princípios.
Explica como, pela ação do pensamento, se atraem as Forças Superiores e
se repelem as inferiores.
Soluciona uma multidão de fenômenos não compreendidos, e, por isso
mesmo, considerados como inadmissíveis pela ciência e como sobrenaturais ou
milagres por toda a gente.
Dá ao homem o conhecimento das categorias de ordem espiritual, e como
elas se manifestam e operam, quer para o bem, quer para o mal, para beneficiar
ou danificar o ser humano.
Demonstra que são as forças inferiores as causadoras de muitos males
psíquicos e fisiológicos de que sofre a humanidade.
Nos capítulos anteriores fizemos algumas considerações sobre teorias
existentes, no meio científico, a respeito da matéria, da energia etc.
Entretanto, a nossa finalidade não é complicar a linguagem, não é subir
às transcendências científicas.
Temos interesse de descer nossa linguagem, nossa explanação, ao máximo
de simplicidade. Desejamos que aqueles que não tiveram a oportunidade de
alcançar um certo grau de cultura, apreendam o que expomos, e alcancem, com
seus raciocínios, a importância desta Doutrina, apresentada com clareza e sem
exageros e pernosticismos científicos.
Basicamente são dois os princípios existentes no Universo: Força e
Matéria.
Quando dizemos Força não nos queremos referir à força tal como é
estudada na Física, representando um produto de uma massa por uma aceleração.
Força, para nós, é a Inteligência Universal, é o princípio animador da
Matéria.
Não nos deteremos, também, mais, sobre o estudo da Matéria. Bastam as
divagações que, a respeito, já fizemos nos capítulos anteriores.
O que é importante frisar é a ação contínua da Força sobre a Matéria,
em todos os fenômenos.
O Universo inteiro – este Universo que não podemos compreender em toda
a sua plenitude e sim apenas em uma mínima fração, pois o alcance de nosso
raciocínio é, ainda, demasiado limitado – a Força o mantém regido sob leis
naturais e imutáveis. A imutabilidade destas leis pode ser verificada,
facilmente, em qualquer dos ramos das Ciências. Os movimentos dos astros podem
ser previstos, exatamente, com centenas de anos de antecedência.
Dentro dessas leis naturais e imutáveis deve ser colocado o homem.
Ele tem por dever estudar e compreender a verdade sobre si próprio,
sobre sua composição astral e física.
Sabendo que Força e Matéria são os únicos princípios fundamentais do
Universo; que a Força é o agente ativo, inteligente, transformador; que a
Matéria é o elemento passivo, inerte, plasmável; que ambos, na sua forma
original, indivisível, fundamental, imponderável, penetram em todos os corpos,
estendendo-se pelo espaço infinito Universal, o homem deve indagar como agem
esses princípios na sua própria constituição.
Da mesma maneira que é mantido o equilíbrio perfeito nos inúmeros
sistemas solares do espaço, igualmente é mantido o equilíbrio dos movimentos
executados pelas diversas partículas que constituem o átomo.
Portanto, mesmo no átomo, a Força demonstra a sua existência, sua ação.
Começando sua evolução na estruturação do átomo, a Força passa, depois,
a outras ordens de aplicação construtiva, animando moléculas, células, tecidos.
Agregando, desagregando, transformando os corpos, a evolução da
partícula de Força se vai efetuando, ela vai adquirindo maior grau de
inteligência. E, à proporção que esta evolução se torna sensível, a partícula
de Força vai animando corpos que apresentam maior grau de atributos
inteligentes.
Assim, depois de ter entrado na composição de corpos do reino mineral,
do reino vegetal e do reino animal, a partícula de Força fica em condições de
constituir microrganismos de ínfima espécie. Destes microrganismos de ínfima
espécie, vai passando, evolutivamente, através de outras espécies e de outros
organismos de maior desenvolvimento.
Enquanto que nos átomos e moléculas a Força Inteligente se limita a
movimentos vibratórios internos, já nos microrganismos apresenta, também, a
ação do movimento exterior, de locomoção. E quando estes organismos se tornam
mais desenvolvidos, aparecem as primeiras manifestações de Inteligência.
À proporção que vai passando de um corpo para outro mais evoluído, a
partícula de Força vai adquirindo maiores e mais evidentes qualidades de
Inteligência. Neste evoluir contínuo ela alcança um estágio em que já pode
animar os corpos humanos dos mais embrutecidos estados.
Ao alcançar este grau de evolução a partícula de Força recebe o nome de
espírito, e, como espírito, encarna inumeráveis vezes, isto é, anima corpos
humanos sucessivamente, adquirindo sempre mais inteligência, mais luz, mais
experiência, mais conhecimentos, mais clara concepção da vida e maior
capacidade de raciocínio.
Na sua trajetória evolutiva de corpo em corpo, de encarnação em
encarnação, o espírito vai passando pelos diversos estados, pelas contínuas
lutas, pelos vários ambientes necessários ao seu progresso, até o momento em
que a evolução alcançada permita que ele continue a viagem, rumo à perfeição
total, em outros mundos mais adiantados que o planeta Terra.
A mente humana não se conforma com a concepção do infinito, e só a
aceita como um apoio teórico que lhe facilita os cálculos matemáticos.
O raciocínio do homem, utilizando todos os seus conhecimentos
adquiridos, não está apto, ainda, a transpor um curto limite que é, no entanto,
já por ele, considerado transcendente.
Em outras palavras: o campo de lucidez intelectual humano é ainda muito
curto, e ele deve limitar-se a pôr em prática a fração da Verdade já contida
dentro desse seu restrito campo lúcido de compreensão, para, adquirindo novos
conhecimentos, avançando pela estrada evolutiva, poder apoderar-se de mais uma
fração da Verdade, e, nesse movimento sucessivo e dependente mutuamente de
avançar para adquirir Verdade e de adquirir Verdade para avançar, chegar ao
término da viagem, alcançar o repouso eterno, apreender e dominar a Verdade
absoluta.
Consciente, portanto, o ser humano de sua limitada compreensão, deve
concentrar-se, apenas, nos pontos aproveitáveis para a sua evolução,
dedicando-se ao estudo e à luta, para dilatando seus atributos espirituais,
aumentar a capacidade irradiativa de seu raciocínio.
O planeta em que vivemos, onde tanta luta, tanta inveja, tanta ambição
se entrechocam violentamente, nada mais é que uma partícula de pó em relação ao
Espaço Infinito.
É tão vasto o espaço, que a medida utilizada para avaliar as distâncias
astronômicas é a extensão que os raios luminosos percorrem por segundo, isto é,
cerca de 300.000 km.
Para chegar à atmosfera da Terra, as ondas dos raios cósmicos viajam
uma distância que a luz, com sua velocidade de 300.000 km por segundo, percorreria
em dezenas de milhares de anos.
Evidentemente, sendo tão humilde o planeta Terra diante da
magnificência infinita do Universo, é justo que, igualmente, seus habitantes
sejam humildes e modestos no saber, na inteligência, na evolução.
Se dissermos ao leitor que a Inteligência Universal é Luz Astral
contínua que chega a todos os pontos, tudo animando, tudo vivificando, a
qualquer momento, seja dia ou seja noite, talvez um sorriso cético e desdenhoso
lhe aflore aos lábios.
Entretanto, os sentidos físicos são muito limitados, e os seres
geralmente só crêem no que estes sentidos podem constatar.
Se, por exemplo, os raios caloríficos se tornassem visíveis,
esconderiam todos os objetos; se pudéssemos constatar visualmente a existência
dos raios infravermelhos a natureza se apresentaria aos nossos olhos com
aspecto notavelmente diverso.
E, no entanto, os raios caloríficos ou infravermelhos são fenômenos
puramente físicos. Portanto, como maior razão, não é absurdo declarar-se que a
Luz Astral, que é um fenômeno espiritual, seja invisível aos olhos físicos.
Os espíritos, de acordo com sua evolução, são divididos em classes. Os
que fazem sua evolução neste planeta pertencem às primeiras dezessete classes
de uma série de trinta e três. Os espíritos das classes restantes da série
continuam a evoluir em meios adequados e mais adiantados que o do planeta
Terra.
Acima da classe décima-sétima só eventualmente algum espírito encarna,
não por exigência de sua própria evolução, mas para auxiliar a humanidade a
levantar-se, espiritualmente, numa espontânea manifestação de abnegação e
desprendimento. Milhões de outros destes, embora não encarnados, se dedicam,
especialmente por intermédio das Casas Racionalistas Cristãs, a auxiliar o
progresso dos seus semelhantes menos desenvolvidos e encarnados no planeta.
Os espíritos, distribuídos pela série de trinta e três classes, de
acordo com o grau de evolução de cada um, processam o seu desenvolvimento
espiritual partindo da seguinte ordem de mundos:
a) mundos
materializados - espíritos da 1a à 5a classe;
b) mundos
opacos – espíritos da 6a à 11a classe;
c) mundos
brancos – espíritos da 12a à 17a classe;
d) mundos
diáfanos – espíritos da 18a à 25a classe;
e) mundos
de luz – espíritos da 26a à 33a classe.
Depois
da trigésima-terceira classe a evolução do espírito prossegue por uma nova fase
cada vez mais acentuada, para a perfeição absoluta.
Dissemos
que os espíritos pertencentes às primeiras dezessete classes da série de trinta
e três acima especificadas fazem sua evolução, quando encarnados, no planeta
Terra.
Isto
quer dizer o seguinte: existem os mundos de estágio e os mundos escolas. Os
espíritos, quando desencarnados, permanecem nos mundos de estágio a que
pertencem, de acordo com suas classes. Os mundos escolas são aqueles em que os
espíritos, como no planeta Terra, fazem sua evolução no estado de encarnados.
Normalmente
só encarnam no planeta Terra os espíritos pertencentes aos mundos
materializados, opacos e brancos.
A
evolução dos espíritos até chegar à décima-oitava classe exige um número enorme
de reencarnações que se efetuam em períodos diversos de espírito para espírito,
mas que se elevam a milhares e milhares de anos. Se uma encarnação é mal
aproveitada, há necessidade de repeti-la, tendo o espírito de passar pelas
mesmas fases até conseguir dominar a fraqueza que o tenha feito perder a
referida encarnação.
O
espírito, no mundo que lhe é próprio, tem conhecimento do que se passa nos
mundos das classes inferiores à sua, mas desconhece o que ocorre nas
superiores.
Neste
seu mundo, antes de encarnar, ele faz a previsão aproximada de sua trajetória
pelo mundo-escola. Ele sabe, de antemão, as lutas e os dissabores que terá de
enfrentar, como encarnado, mas desejando fazer sua evolução aos mundos
superiores, decide-se a enfrentar todos os embates.
Jesus
é um espírito evoluidíssimo que veio à Terra com o desejo de implantar uma
Doutrina espiritualista, capaz de auxiliar o progresso das massas embrutecidas
pelos vícios de toda espécie.
A
Doutrina que Jesus tentou explanar, o Racionalismo Cristão já conseguiu
codificá-la e a difunde desde 1910, indiferente aos cegos, aos céticos e aos
que não querem compreender a realidade da Vida.
Antes
de encarnar, o próprio espírito, de acordo com as lutas que necessite travar,
com as dificuldades que precise enfrentar para sua evolução, escolhe,
cuidadosamente, a família que mais lhe convém e que maiores oportunidades lhe
ofereça para destruir suas más qualidades e desenvolver as boas.
O
espírito é Luz, é Inteligência, é imaterial. Entretanto, possui um corpo astral
que é material, que é constituído de matéria fluídica, invisível aos olhos
humanos. Esta matéria fluídica é retirada do mundo em que estagia o espírito
quando não encarnado, isto é, do mundo a que pertence, de acordo com sua
classe.
Quanto
mais evoluído é um espírito, mais diáfano é o seu corpo astral, porque mais
diáfana é a matéria fluídica do mundo a que pertence.
Uma
vez tendo o espírito escolhido sua mãe carnal, por ocasião da fecundação,
acompanha a gestação até o terceiro mês ligando-se ao feto por cordões
fluídicos. O seu corpo astral, formado de matéria fluídica, vai envolvendo,
molécula a molécula, o corpo carnal em formação, tomando-lhe a forma exata;
esta operação é feita ficando o espírito do lado de fora do corpo da gestante,
onde se conserva, irradiando para o feto, até o momento em que este vem à luz..
Nessa ocasião, quando a criança chora, dá-se a posse total do corpo pelo
espírito, que se conserva justaposto ao lado esquerdo do mesmo.
A
partir desse momento o espírito está encarnado, havendo, portanto, três corpos,
a saber:
a) corpo
mental (espírito);
b) corpo
astral ou perispírito (matéria fluídica);
c) corpo
carnal (matéria organizada composta).
Portanto,
o ser encarnado possui em si os dois princípios básicos componentes do
Universo: Força e Matéria. Conseqüentemente deve saber viver, distintamente, as
duas variações da vida, a material e a espiritual.
O
corpo mental é o agente vivo e inteligente que governa os outros dois corpos.
Enquanto que a matéria, quer do corpo astral, quer do corpo carnal, vai sendo
substituída, de acordo com a evolução do espírito, este último cada vez mais dá
demonstrações de inteligência, de potencialidade e de Vida.
O
corpo astral ou perispírito é o intermediário entre o corpo mental e o corpo
carnal. Ele se liga ao corpo mental, partícula por partícula, por intermédio da
vibração inteligente, que é contínua e ininterrupta. Quando o corpo carnal
adormece, o espírito afasta-se dele, juntamente com o seu corpo astral, do qual
não se separa. Entretanto, mesmo afastado, mantém-se ligado ao corpo carnal
pelos cordões fluídicos do corpo astral. O espírito pode afastar-se a
distâncias incomensuráveis, porque a natureza dos cordões fluídicos permite
esse fato, e também porque a relatividade das distâncias conhecidas na vida
terrena são completamente diversas na vida espiritual; esses cordões só se
despregam do corpo carnal no ato da desencarnação.
O
corpo carnal, esse corpo tão estudado pela Ciência Médica, apenas serve para
fornecer ao espírito a oportunidade de travar as lutas, realizar os trabalhos,
combater os defeitos, desenvolver as boas qualidades a que se dispôs antes de
encarnar.
Quando
o espírito encarna, isola-se de seu passado, isto é, esquece-se das suas
encarnações anteriores e da sua existência quando em estágio em seu mundo
próprio, no intervalo entre as várias encarnações. Esse esquecimento temporário
do passado só lhe traz vantagens, pois a lembrança dos erros anteriores nunca
lhe permitiria cumprir com tranqüilidade seus deveres correspondentes à
encarnação atual. Entretanto, ele conserva o resultado das lições aprendidas, a
experiência das provas por que passou, as tendências derivadas do uso que fez
de seu livre-arbítrio. Isso explica perfeitamente o fenômeno do atavismo, não
somente físico como também psíquico, isto é, a retentividade e reprodução de
anteriores formas físicas e psíquicas.
Uma
vez encarnado, o espírito passa por fases distintas, em cada uma das quais
colhe ensinamentos adequados. Essas fases são a infância, a mocidade, a
madureza e a velhice. Em cada uma delas o espírito tem predeterminados deveres
a cumprir, obrigações a satisfazer, trabalhos a realizar. Ele deve alcançar,
normalmente, a última fase, a velhice, pois cada uma delas lhe proporciona
experiências e ensinamentos novos. Entretanto, para chegar ao fim da velhice,
tem obrigação de andar bastante atento quanto aos cuidados com a sua saúde, a
fim de não desencarnar prematuramente.
As condições físicas do planeta, compreendidas pelas mudanças bruscas
de temperatura, pela insalubridade de certas regiões, pelos surtos epidêmicos,
pelas abundantes vias de contaminações e pelas atuações do astral inferior, são
sumamente favoráveis a essa desencarnação prematura, que representa, sempre, um
lapso na evolução.
Jesus foi um espírito evoluidíssimo que encarnou com a missão especial
de despertar a humanidade para as finalidades da Vida, ensinando-lhe o que
atualmente já o Racionalismo Cristão tem elementos para difundir. Entretanto,
Jesus foi prematuramente arrancado à vida sem ter podido terminar sua missão.
Seus ensinamentos foram, depois, completamente deturpados e explorados com fins
políticos, chegando aos nossos dias sob o nome de religiões ou seitas
completamente mentirosas e falsas.
O espírito, ao desencarnar, retira-se com seu corpo astral. Os cordões
fluídicos, ligados desde o período da gestação ao cérebro e ao coração,
desprendem-se, deixando o corpo inerte, sem mais a expressão da vida,
resultando apenas em um composto de matéria que, instantes após a retirada do
espírito, começa a desintegrar-se. Posteriormente esta matéria desintegrada
passará a compor outras formas, e integrar outros organismos.
Uma vez desencarnado o espírito, nenhum auxílio lhe prestarão os
encarnados mandando rezar missas, encomendando orações etc. Pelo contrário,
essas missas, essas orações, essas evocações, prejudicam o espírito
desencarnado, porque o prendem atrativamente à atmosfera da Terra, quando ele
necessita justamente abandonar o ambiente terráqueo e seguir para seu mundo
próprio, seu mundo de estágio.
O espírito ao encarnar, conforme já o dissemos, vem de seu mundo
próprio com seu corpo astral, imponderável aos sentidos físicos, constituído de
fluidos da atmosfera desse mundo. Entretanto, no estado de encarnado, se não
sabe viver racionalmente as duas vidas – a material e a espiritual – vai
embrutecendo seu perispírito, seu corpo astral, vai tornando-o pesado, denso,
pela introdução dos fluidos da atmosfera da Terra.
Assim sendo, ao abandonar o corpo físico com o corpo astral demasiado
materializado, sente-se perturbado e continua a viver, no estado de espírito,
na atmosfera da Terra, como se encarnado ainda estivesse. Portanto, todos os
espíritos que se encontram na atmosfera da Terra são perturbados, isto é, não
compreendem ainda a sua real situação, não têm consciência de que devem seguir
para um outro mundo a que pertencem. Os conhecimentos que eles possuem são
exatamente os mesmos adquiridos quando encarnados.
Toda essa camada atmosférica que envolve o planeta Terra, e em que
perambulam os espíritos desencarnados perturbados, denomina-se astral inferior.
Assim, quando dizemos espíritos do astral inferir, queremos nos referir aos
espíritos que, ignorantes de sua própria trajetória evolutiva, estacionam e
vagueiam na atmosfera da Terra.
Sendo a mediunidade intuitiva comum a todos os encarnados, os espíritos
do astral inferior dela se servem para incutir no mental dos mesmos os mais
disparatados propósitos. Resulta que muitos indivíduos apresentam manias de
perseguição, alguns o hábito de ver as coisas sempre pelo lado negro, e, ainda
outros, a tendência, já por si doentia, de se sentir atacados das mais variadas
moléstias.
Podemos, mesmo, afirmar que a maioria dos suicídios, dos casos de
loucura, das desavenças, das incompatibilidades, das malquerenças, dos
distúrbios, das arruaças, dos conflitos, das agressões, das discussões, das
desordens, das intrigas, das convulsões por paixão política, é provocada pela
interferência das forças do astral inferior.
Embora existam espíritos bem intencionados no astral inferior, eles
nada de útil podem proporcionar à humanidade, pois suas melhores intenções são
neutralizadas pela ação direta dos fluidos próprios ao meio, produzindo males
que variam de aspecto e de intensidade de acordo com o grau espiritual do
desencarnado.
O primeiro dever do espírito, ao desencarnar, é ascender ao mundo
próprio, diretamente, sem estagiar na atmosfera da Terra. O espírito que,
quando encarnado, soube respeitar as qualidades espirituais inatas, soube dar à
vida material apenas o valor que ela tem, soube reconhecer no trabalho uma das
razões de viver e soube vibrar em harmonia com a Consciência Universal, esse
espírito, ao desencarnar, sente a ação atrativa das Forças Superiores e
translada-se imediatamente, para o mundo próprio à sua classe, sem estagiar,
por um só instante, no astral inferior.
O espírito, no mundo próprio à sua classe, não pode evoluir, pois todos
os espíritos que se encontram numa mesma classe possuem o mesmo grau de
evolução, não havendo, conseqüentemente, transmissão de saber de uns para
outros. Lá, no seu mundo de estágio, tem conhecimento de tudo quanto se passou
com respeito às suas encarnações, pois, desde a sua origem grava, pela ação
vibratória do pensamento, em matéria fluídica, todas as ocorrências verificadas
na sua existência.
Os espíritos até o décimo-sétimo grau de evolução fazem o seu progresso
espiritual reencarnando. Desse grau para cima a evolução se processa no Espaço,
o qual tem a denominação de Astral Superior.
Um dos deveres dos espíritos do Astral Superior é o de concorrer para a
evolução dos encarnados nos planetas escolas.
Os espíritos do Astral Superior não podem alcançar a Terra sem que nela
sejam estabelecidos pólos de atração, suficientemente fortes, para esse
expresso fim. Esses pólos são estabelecidos com o concurso de espíritos dos
mundos opacos, isto é, espíritos da 6a à 11a classe, que
trabalham a serviço das Forças Superiores. Estes espíritos deveriam fazer a sua
evolução encarnando no planeta, mas, tendo perdido várias encarnações sem
progresso, decidiram processar a sua evolução no Espaço a serviço das Forças
Superiores. Por este processo o curso da evolução é muitíssimo mais lento, mas
tem a vantagem de não haver risco de perda de tempo, afogando-se, como acontece
a milhões de encarnados, em paixões mundanas.
Os espíritos dos mundos opacos dispõem de corpos astrais de matéria
fluídica mais ou menos densa com os quais podem se locomover na superfície do
planeta. Estes espíritos, rigorosamente disciplinados pelas Forças Superiores,
conseguem desenvolver valioso trabalho, com que habilitam aquelas Forças a
desempenhar seus elevados misteres, nos trabalhos de alto valor espiritualista.
Nenhum espírito encarna partindo do astral inferior, isto é, da
atmosfera da Terra.
O espírito só encarna partindo do seu mundo próprio, após ter examinado
os atos de sua última encarnação e de ter feito os planos necessários para
avançar sempre e sempre pela estrada evolutiva que o conduzirá à Inteligência
Absoluta.
Neste capítulo foi exposta, simples e condensadamente, a Doutrina
Racionalista Cristã, consolidação dos princípios explanados por Cristo.
A preocupação nossa foi falar com clareza, fugindo de divagações
transcendentes, de modo a que o leitor, num relance, pela leitura de um simples
capítulo de um pequeno livro, pudesse vislumbrar a Verdade, pudesse se
compreender a si próprio.
4. Força e Matéria
“Muitas
tentativas têm sido feitas, no setor das ciências filosóficas, sem resultados
satisfatórios, por inúmeros intelectuais, para apreender e explicar à
humanidade o que sejam Força e Matéria, na sua concepção genérica.
Força e Matéria, no entanto,
constituem, hoje, um tema de simples análise, desde que desdobrado, sem graves
reflexões teóricas, na seqüência dos princípios racionais. Deste modo ficou o
tema ajustado aos moldes de uma invulgar simplicidade, acessível ao raciocínio
comum. Vale dizer que os princípios racionais são espiritualistas, e que,
somente no campo da espiritualidade encontram solução os problemas do Espírito.
A definição de Força e Matéria acha-se, pois, dentro da lógica dos fenômenos
psíquicos, divulgados pelo Astral Superior.
Todos os acontecimentos da vida
estão indissoluvelmente ligados à ação da Força sobre a Matéria, e, por isso,
nenhuma compreensão clara pode ser obtida dos fenômenos que convidam à
investigação, sem que, primeiramente, adquira o ser esse conhecimento básico,
fundamental, elementar embora, da composição do Universo.
Daí a importância do assunto e a
necessidade de ser ele colocado em posição de elevada evidência no terreno das
cogitações da vida terrena, uma vez que, sem pleno conhecimento do que seja a
criatura humana como Força e Matéria, de nada valem as divagações filosóficas,
no sentido de conduzir o indivíduo pelas normas rígidas de uma conduta
exemplar.
Quanto mais nítida e real for a
compreensão do ser no que diz respeito à ação do espírito sobre o corpo físico,
ou generalizando mais, da Força sobre a Matéria, mais depressa a clarividência
do sentido espiritual lhe revelará as funções vitais da natureza universal.
Força e Matéria são duas expressões
que centralizam em si a ciência que confere o conhecimento de toda a verdade.
Os princípios que esta obra reúne apenas encerram a parcela de ensinamentos
contidos naquela Verdade, que estão ao alcance da compreensão humana, desde que
haja por parte do indivíduo o interesse pelo estudo e pela observação, sem o
caráter irredutível de subordinação aos processos empíricos de falsas
proposições.
O ser encarnado tem obrigações
intransferíveis a satisfazer, e, por isso, necessita de apurar os seus
conhecimentos sobre a vida, para não estar incorrendo, constantemente, no erro,
em detrimento próprio e da coletividade.
– E que é a vida se não a ação
permanente da Força sobre a Matéria?”
A Matéria não possui atributos;
estes pertencem à Força e se exteriorizam nas manifestações do espírito e na
substanciação dos três reinos da natureza; os atributos que se evidenciam nos
seres encarnados constituem, apenas, um reduzido número daqueles que podem
revelar espíritos mais esclarecidos que, em decorrência do seu mais alto grau
de evolução, não estagiam mais por este planeta inferior.
“A Força mantém o Universo regido
sob leis naturais e imutáveis; são naturais porque decorrem de uma seqüência
lógica no processo da evolução, e são imutáveis porque são absolutas, e neste
sentido não há lugar para o imprevisto, para o acaso ou para a dúvida; impera,
só e sempre, a exatidão, a certeza, a perfeição.
Dentro deste regime deve o ser
humano compreender que está a sua atuação, está a sua responsabilidade e está o
seu dever.
Como partícula da Força que é, não
pode contrariar o que determinam as leis naturais, ou alterar o que nelas está
estabelecido, sem sofrer as conseqüências dos seus atos, os quais repercutem,
diretamente, na marcha da sua evolução, retardando-a.
Assim, sem este conhecimento inicial
do modo pelo qual se desenvolve a partícula da Força, no ritmo da sua evolução,
e sem saber dar à Matéria o valor relativo que ela possui, não pode conduzir-se
a criatura com o aproveitamento que lhe está determinado, disso resultando ter
de submeter-se, em coordenação com aquelas leis, pela sua livre vontade e em
duras experiências, a uma multiplicidade de reencarnações, que, de outro modo,
seriam grandemente reduzidas.
Procurar conhecer a verdade sobre si
mesmo é um dever que assiste a todo o indivíduo, e os melhores esforços que
forem empregados para atingir esse objetivo, não deverão ser poupados, nunca
serão demais e nem serão perdidos.
A Força e a Matéria são os dois
únicos princípios fundamentais de que se compõe o Universo. A Força é o agente
ativo, inteligente, transformador; a Matéria é o elemento passivo, inerte,
plasmável. Ambos, na sua forma original, indivisível, fundamental,
imponderável, penetram todos os corpos, estendendo-se pelo espaço Infinito
Universal.
A Força age, dispondo dessa
inteligência absoluta, que também a define, e utiliza-se da Matéria, naquele
seu estado primário, como condição ou meio para a sua evolução, a qual não pode
ser contida, em obediência a leis imutáveis, que escapam à apreciação comum,
com os limitados recursos que tocam ao planeta Terra
No Universo nada há de novo. Nele,
nada se perde. Tudo está criado. Há, só transformações da Matéria e evolução da
Força. Transforma-se a Matéria em matéria organizada básica, pela ação da
Força, e por esta mesma ação formam-se os inumeráveis corpos compostos, em
combinações incontáveis das partículas da matéria organizada. Composição e
decomposição, agregação e desagregação dos corpos, são os resultados da ação
mecânica da vida.
A ciência química, nas suas
constantes investigações, classificou perto de uma centena de elementos básicos
da matéria organizada, e deu à partícula fundamental infinitésima desses
elementos o nome de átomo. Os átomos são combinados entre si, cientificamente,
para formar as moléculas, que são, por sua vez, as partículas infinitésimas dos
corpos compostos. Tanto os átomos como as moléculas mantêm-se agregados uns aos
outros enquanto a Força exercer sobre eles a sua ação coesiva, e se desagregam
quando essa ação deixar de atuar.
A matéria organizada, representada
por um simples átomo que seja, contém um potencial de força de extraordinário
poder, e cada um desses núcleos de alta condensação de força mantém-se em
perfeito equilíbrio com os demais, na composição do Todo, em completa
uniformidade, cada qual dentro da sua classe, sem nenhuma alteração na sua
constituição específica, justamente porque o que as leis têm estabelecido não
pode sofrer alterações e não há imprevistos para a Sabedoria que é Una, Integral,
Total.
A Força, utilizando-se da Matéria,
começa a sua evolução nas subdivisões do átomo, onde se encontram as primeiras
partículas de força concentrada. Passa, depois, na composição das moléculas, a
uma nova ordem de aplicação construtiva.
Em todo o constante agregar e
desagregar dos corpos a intensidade da força nesses núcleos infinitésimos vai
aumentando; as vibrações da vida vão se acentuando, o grau de inteligência vai
progredindo, até que, depois de terem, tais núcleos de forca, feito o ciclo, primeiramente
pelo reino mineral,, em seguida, pelo vegetal e depois pelo animal, ficam em
condições de se constituírem em microrganismos de ínfima espécie.
Desses microrganismos, partindo da
espécie ínfima, faz a partícula de força a sua evolução através de outras
espécies e de outros organismos, de maior desenvolvimento no tocante à ação,
atingindo sempre formas mais elevadas.
A Força Inteligente que, na molécula
e suas subdivisões, se apresenta, apenas, pela sua expressão vibratória, ou de
movimento interno, intranuclear, já nos microrganismos, além daquela vibração,
revela a ação de movimento exterior, a locomoção. Em organismos mais
desenvolvidos, além dessas primeiras exteriorizações, demonstra o afloramento
da inteligência.
Assim, de mudança em mudança, de um
corpo para outro, imediatamente superior, vai evoluindo a partícula da Força,
até atingir o grau de espírito, estado em que fica em condições de encarnar em
corpo humano, porque a inteligência nesse grau de intensidade está apta para
raciocinar e assumir com a responsabilidade de exercer a faculdade do
livre-arbítrio.
Como espírito encarna inumeráveis
vezes, adquirindo sempre mais inteligência, mais luz, mais experiência, mais
conhecimentos, mais clara concepção da vida e maior capacidade de raciocínio.
O espírito inicia a sua trajetória,
no planeta, em condições próprias ao seu estado de adiantamento, e em cada
reencarnação passa a viver em meio que favoreça o seu progresso, até que o
ambiente que lhe tenha de servir para continuar a sua evolução, não seja mais o
deste mundo.” [14]
O globo terrestre é uma esfera de
matéria organizada, impregnada de forças que atuam diretamente sobre os átomos,
constituindo-os, unindo-os e mantendo-os em equilíbrio, na sistemática de uma
complexidade de movimentos.
O átomo está em vibração constante
pela ação da força no seu interior; liga-se a outro átomo pela força de coesão,
na composição da molécula; as moléculas, por sua vez, estão ligadas entre si,
também, pela ação de uma força de coesão; de um pólo a outro da Terra passam
linhas de força denunciadas pelas bússolas; a força de gravidade exerce a sua
ação sobre cada átomo, atraindo-o para um centro no interior do globo; há
forças que atuam nos átomos para conduzir a esfera terrestre em todos os seus
movimentos.
O diagrama que se segue dará uma
idéia geral, porém rudimentar, de como Força e Matéria se acham associadas no
planeta, para a constituição dos reinos da natureza.
Vê-se, pois, que, no reino mineral,
é a força o atributo fundamental predominante; no reino vegetal, predominam a
força e a vida, e, finalmente, no reino animal, além destes últimos dois
atributos, predomina, também, a inteligência.
Não quer isto dizer que não haja
vida no reino mineral, nem inteligência no reino vegetal, mas que, apenas, para
simplificar a compreensão de um assunto da mais transcendente apuração
científica, vale dizer que nesses reinos predominam os atributos fundamentais
apontados.
Diagrama
demonstrativo da ação da Força (universal) sobre a Matéria (universal), na
criação e animação de todos os corpos, destacando-se, em cada caso, os seus
atributos fundamentais predominantes, nos três reinos da natureza.
5. Vibrações
[1] Refiro-me
às cerimônias realizadas na Biblioteca Luiz de Mattos, na Escola Itália, e
Centro Cívico Maria Cottas, na Escola Lavínia Escragnolle Dória.
[2] A. Mayer
[3] Força e
Matéria - Luiz Büchner.
[4] Traité
de Psychologie - Valentin.
[5] Esta
obra foi escrita em 1947. Neste parágrafo respeitou-se o texto do seu autor.
Tendo em vista as modificações científicas que se têm operado, deliberou-se
transcrever a informação colhida pelo Professor Lázaro Moreira Cezar a respeito
do mesmo assunto: "Atualmente, além do próton, do nêutron e do elétron,
são conhecidas dezenas de outras partículas elementares como, por exemplo, os
fótons, os neutrinos, os antineutrinos, os pósitrons que têm a mesma massa, mas
carga oposta à do elétron e os múons cuja massa de repouso é 207 vezes maior
que a do elétron."
[6] Teorias Físico-Matemáticas -
Ignacio Puig S. J.
[7] Análise das Coisas - Paul
Gibier
[8] O Corpo
Humano, Fritz Kahn.
[9] Análise das Coisas - Paul Gibier
[10] Análise
das Coisas, Paul Gibier.
[11] O
Homem, Esse Desconhecido, Aléxis Carrel
[12] O
Homem, Esse Desconhecido, Alexis Carrel.
[13] Análise
das Coisas, Paul Gibier
[14]
Capítulo II, do livro “Racionalismo Cristão”
Os
cientistas são unânimes em afirmar a ação vibratória nos fenômenos físicos e
químicos.
Suponhamos que, sobre uma superfície líquida em repouso, um lago por
exemplo, se deixe cair um objeto de um determinado peso P. O objeto, ao
penetrar na água, comprime-a para os lados, produzindo uma elevação em torno do
ponto do choque (Fig. 9).
Esta
elevação circular se desfaz para fora do ponto do choque, tendendo a ocupar sua
primitiva posição horizontal de repouso. Entretanto, a água que está descendo
não pára instantaneamente na posição horizontal: ela se afunda um pouco,
produzindo outras elevações nas partículas de água da vizinhança externa. Estas
últimas elevações, ao se desfazerem, produzem outras, e assim por diante, de
modo que, a partir do ponto em que o objeto se chocou com a água, forma-se um
movimento ondulatório, isto é, vibratório, em todas as direções (Figs. 10 e
11).
Suponhamos
que, a certa distância do ponto de queda do objeto, houvesse um obstáculo à
passagem do movimento ondulatório da água (Fig. 12).
Neste
obstáculo a água ondulante produziria um choque. Vimos, portanto, que a água
serviu de veículo para o transporte de alguma energia do ponto de queda do
objeto até o obstáculo. Entretanto, a água não se consumiu: ela serviu apenas
de suporte da energia que transitou por intermédio do movimento vibratório.
Suponhamos, agora, que amarremos, em uma argola fixa, a extremidade de
uma corda; que a estiquemos pela outra extremidade, e que, utilizando a nossa
força muscular, a movimentemos bruscamente. Produzir-se-á um movimento
vibratório na corda, conduzindo a energia muscular que foi posta em ação. O
movimento vibratório, ao chegar à argola, pára bruscamente, transmitindo a esta
última a energia de que é portadora (Fig. 13).
O som
é transmitido, igualmente, por movimentos vibratórios do ar.
O som ao ser produzido, choca-se com as camadas de ar vizinhas,
produzindo ondulações análogas às que estudamos anteriormente. Estas vibrações,
ao se chocarem com nossos ouvidos, nos dão a sensação do som.
Se pusermos um despertador tocando dentro de um recipiente fechado,
ouviremos o ruído. Entretanto, se extrairmos o ar de dentro deste recipiente,
não mais ouviremos o som, porque não mais haverá o veículo portador da energia.
A Ciência nos afirma que a luz e o calor se transmitem igualmente por
meio de movimentos ondulatórios.
Entretanto, a Física prova que a luz e o calor se transmitem no vácuo.
– Qual é então o meio portador das
vibrações produzidas pela luz e pelo calor?
Admite-se
que este meio seja o éter. Não há realmente prova de que o éter exista.
Entretanto, essa sua existência é solicitada para a explicação de vários
fenômenos, como, por exemplo, para servir de meio às vibrações luminosas,
caloríficas e de rádio.
A distância entre dois pontos análogos de duas ondas sucessivas, por exemplo
a distância entre os dois picos superiores, é o que se chama o comprimento da
onda (Fig. 14).
O
caminho percorrido por uma onda é denominado ciclo.
O número de ciclos por segundo denomina-se freqüência. Assim, se
dizemos que uma determinada vibração tem a freqüência de mil ciclos, isto quer
dizer que, em um segundo, as ondas se completam mil vezes.
A distância de um pico de onda ao plano de equilíbrio, denomina-se
amplitude da onda.
Os
elétrons tendem a saltar, atraídos por seu centro de força, das trajetórias
eletrônicas mais externas para as internas, libertando, portanto, energia, que
se manifesta sob a forma de uma modificação da tensão eletromagnética do éter
na vizinhança do átomo. Esta modificação de tensão eletromagnética se propaga
em forma de ondas, com a velocidade de 300.000 quilômetros por segundo, e é
denominada onda do éter ou raio.
Os movimentos das ondas do éter se transmitem sempre com a velocidade
de 300.000 quilômetros por segundo; o que varia é a freqüência das ondas, isto
é, o comprimento da onda, assim como sua amplitude.
A ação de produzir onda, isto é, movimentos vibratórios, denomina-se
irradiação.
De acordo com os comprimentos médios das ondas, são as seguintes as
espécies de irradiações do éter que foram descobertas ou produzidas
artificialmente:
a)
Corrente elétrica alternada: 1.000 km.
b)
Telegrafia sem fio: 1 a 20 km.
c)
Ondas de radiotelefonia: 0,1 a 1 km.
d)
Ondas curtas: 10 a 100 m.
e)
Ondas ultracurtas: 1 a 10 m.
f)
Ondas milimétricas: 1 mm.
g)
Raios caloríficos: 0,01 mm,
h)
Raios luminosos: 0,0006 mm.
i)
Raios ultravioletas: 0,000.2 mm.
j)
Raios X: 0,000.001 mm.
k)
Raios da morte: 0,000.000.1 mm.
l)
Raios gama: 0,000.000.000.1 mm.
m)
Raios cósmicos: 0,000.000.000.006 mm.
A
ciência e a indústria já se utilizam largamente da produção de raios.
Em
uma extremidade de uma lâmpada é posto um filamento; na outra extremidade urna
placa. Existem, pois, dois elementos: é uma válvula diodo. Suponhamos que
consigamos retirar, por meio de uma bomba extratora, todo o ar do interior da
válvula; portanto, fica apenas o éter envolvendo o filamento e a placa.
Em seguida, por meio de uma bateria, faz-se passar uma corrente
elétrica pelo filamento, que o leva à incandescência. O aquecimento do
filamento produz o desprendimento de elétrons. Se ligarmos externamente o
filamento e a placa por intermédio de um fio que passe por um medidor M,
notaremos uma pequena corrente passando por este medidor. Isto significa que os
elétron libertos do filamento formaram raios e alcançaram a placa, produzindo
uma corrente elétrica no circuito da placa.
O filamento denomina-se catodo; a corrente de elétrons do interior da
válvula forma os raios catódicos.
A medicina, principalmente, utiliza em suas pesquisas os aparelhos de
raios X ou raios Roentgen.
O princípio dos raios X é baseado nos raios catódicos: uma corrente
elétrica incandesce um fio denominado catodo; os elétrons libertos formam os
raios catódicos; o facho de raios catódicos é dirigido contra uma placa; como
os elétrons vão animados de alta velocidade produzem, ao se chocarem com a
placa, ondulações eletromagnéticas, chamadas raios X ou raios Roentgen (nome de
seu descobridor).
A freqüência destas oscilações, destas vibrações, isto é, o número de
ondas por segundo é de cerca de 300 milhões de trilhões. Como a velocidade de
propagação de todas as ondas produzidas no éter, é de 300.000 quilômetros por
segundo, basta dividirmos esta distância percorrida pelas ondas em um segundo,
pelo número de ondas por segundo (freqüência) para termos o comprimento médio
da onda (0,000.001 mm).
Comprimento
de onda (Fig. 17):
g = (300.000 km/s)/F (Kcs) =
0,000.001 mm.
Como
vimos, os raios luminosos têm para comprimento médio das ondas 0,000.6 mm.
Portanto, os raios X têm as ondas milhares de vezes mais curtas que as
ondas luminosas. Assim sendo, podem atravessar as partes moles do corpo humano,
só não conseguindo propagar-se pelas porções densas, tais como os ossos,
coração e fígado. Colocando-se o corpo humano entre uma máquina produtora de
raios X e uma chapa fotográfica, aparece apenas a imagem das partes do corpo
humano que não são atravessadas pelos raios X.
Modernamente já há aparelhos radiológicos que trabalham com tensões
superiores a um milhão de volts. Os raios X produzidos são de tão curto
comprimento de onda que se assemelham aos raios gama. Estes raios matam à distância
os seres vivos.
Está provado e demonstrado experimentalmente que os átomos do elemento
radium, por meio de explosões, expulsam partículas de sua massa, emitindo ondas
de curto comprimento, cerca de 0,000.000.000.1 mm. Estas ondas formam os raios
gama, que chegam a ser 1.000 vezes mais longos que os raios cósmicos e 10.000
vezes mais curtos que as ondas luminosas sensíveis. Os raios gama, embora sejam
1.000 vezes mais longos que os raios cósmicos, são, contudo, extremamente
penetrantes e, portanto, perigosos.
Os raios gama matam plantas, animais e mesmo os homens, pois fundem os
tecidos humanos.
Os efeitos de uma pequena quantidade de radium podem ser observados a
1.000 metros de distância.
São os raios cósmicos que possuem as ondas mais curtas até hoje
conhecidas. A ciência ainda não sabe determinar de que pontos do Universo são
irradiados estes raios.
Para chegar à atmosfera da Terra, as ondas dos raios cósmicos viajam
uma distância que a luz, com sua velocidade de 300.000 quilômetros por segundo,
percorreria em dezenas de milhares de nos.
Sendo a matéria descontínua, como já o dissemos, os raios cósmicos, que
são tão inimaginavelmente curtos, conseguem passar pelos intervalos existentes
entre as partículas da matéria. Atravessam a matéria como se ela não existisse.
Ultimamente (1946) cientistas brasileiros solicitaram à Força Aérea
Brasileira aviões que os levassem à sub-estratosfera para, munidos de aparelhos
especiais, fazerem pesquisas sobre os raios cósmicos.
Dos raios descobertos, o homem só percebe os luminosos e os
caloríficos.
Hoje o homem pode chegar a uma conclusão: tudo no mundo é composto de
movimentos vibratórios.
Escreve Fritz Kahn, em seu livro O corpo humano: “Talvez nesse
momento o Sol esteja por cima da casa. Ele que nos envia não só luz e calor,
mas também, através das crateras que constituem as manchas solares, enxames de
elétrons e raios de comprimento de onda análogos aos dos raios Roentgen, que
incidem sobre o nosso teto, atravessam-no e vão agir sobre o nosso sistema
nervoso. Mas pode ser também que seja noite. Não haverá então apenas a
irradiação das estrelas ou o pálido reflexo da luz solar sobre o espelho da
Lua, mas do espaço escuro, que nos parece inteiramente negro, incidem sobre
nós, em cada segundo, trilhões de raios cósmicos, vindos de mundos situados a
centenas de milhares de anos-luz de nós e que olho algum pode enxergar. Olhe-se
agora para o chão: das profundezas da Terra raios gama ascendem para o nosso
Sol e talvez mesmo, como pretendem os rabdomantas, os veios de água e metal das
profundidades enviem para cima raios com influência sobre a saúde e doença dos
homens e animais. Coloquemos, agora, a mão sobre o coração e sintamos-lhe as
pulsações: a cada batimento uma corrente elétrica flui de suas fibras e se
propaga, com a velocidade da luz, até a ponta dos dedos, pés e cabelos. O
homem, com o coração a pulsar dentro do peito, é um gerador que faz uma
oscilação por segundo! Passemos agora ao pomar e colhamos uma maçã: os frutos
emitem raios, o leite também, enfim tudo quanto vive em torno de nós– as folhas das árvores, as flores, os vermes
do chão, os grãos de poeira no ar – tudo irradia. Tomemos agora do rádio e
liguemos sucessivamente para os diversos pontos da escala, de forma a ouvir o
concerto gigantesco de todas as emissões do mundo. Quer o rádio esteja ligado
ou não, as ondas do éter propagam essas emissões para nossa casa, pelo nosso
quarto, nosso crânio e nosso sangue ininterruptamente, dia e noite, nas horas
de sono e de vigília: as notícias sobre as bolsas de Londres e Nova Iorque, os
preços do trigo do Ohio, sinfonias de Mozart e previsões do tempo, propagandas
políticas e as mensagens de navios e aeronaves. Ininterruptamente esse concerto
monstro – fogo cruzado de ondas de éter vindas de todas as estações do mundo –
penetra o nosso cérebro, dia e noite, mesmo no momento em que estamos a meditar
sobre as maravilhas das irradiações deste nosso mundo. Um estalo do aparelho
vem perturbar o nosso pensamento: é que no outro lado da rua o dentista pôs a
funcionar o seu motor. E por sua vez penetram no nosso quarto as ondas de éter
vindas do motor do dentista, do automóvel que passa, do elevador da casa
vizinha, dos motores de corrente alternada, tudo isto envia raios através das
casas, de nós, de nosso cérebro. Fossem visíveis todas essas ondas do éter e
veríamos luzes brotarem subitamente de todos os lados e profundezas, das
maiores distâncias à mais próxima vizinhança e teríamos que fechar os olhos ou
protegê-los com a mão. Mas de nada nos serviria isso, pois também o interior do
nosso corpo irradia, cérebro, sangue, músculos e glândulas, e cada célula é uma
microscópica estação de rádio: não só o homem vive num mundo que irradia, como
até ele próprio é um ser radiante! É essa talvez a maior descoberta da ciência
moderna e dentro de 50 anos talvez estejam antiquados todos os livros até hoje
escritos sobre a natureza, só porque os seus autores nada sabiam sobre os
raios.”
Com a finalidade de explicar o que seja o circuito sintonizador de um
rádio receptor, falemos rapidamente sobre o que seja uma bobina e um
condensador.
Se enrolarmos um fio em torno de um tubo, uma espira ao lado da outra,
teremos o que se chama uma bobina (Fig. 18).
O valor elétrico de uma bobina é denominado indutância, cujo
símbolo é L. A unidade para a medida da indutância é o henry (h). A
indutância de uma bobina varia de acordo com o número de espiras da bobina, com
o comprimento desta última, com o diâmetro do tubo em que os fios estão
enrolados e com o material que está dentro do tubo.
Se pusermos duas chapas de metal uma em frente á outra, separadas por
um isolante, teremos o que se chama um condensador. A matéria isolante
denomina-se dielétrico. O símbolo do condensador a (Fig. 20)
O valor elétrico de um condensador é denominado capacitância, cujo
símbolo é C. A unidade para a medida da capacitância é o farad (f). A
capacitância de um condensador varia de acordo com a área que fica entre as
placas, com o material do dielétrico e com a grossura deste último. Se
variarmos um desses três fatores acima, automaticamente variaremos a
capacitância do condensador.
O símbolo de um condensador cuja capacitância podemos fazer variar à
vontade, isto é, o símbolo de um condensador variável, é (Fig. 21):
Suponhamos que carreguemos uma das placas de um condensador com carga
negativa, isto é, suponhamos que coloquemos elétrons em uma das placas.
Imediatamente correm elétrons da placa 1 para a placa 2, para ser
estabelecido o equilíbrio do condensador, isto é, surge uma corrente elétrica
indo da placa 1 para a placa 2. Entretanto, na prática, correm elétrons em
excesso, de modo que a placa 2 fica negativa, se bem que com uma carga menor
que a anterior, da placa 1. Em seguida os elétrons tornam a correr para a placa
1, e assim sucessivamente, até que o equilíbrio se restabeleça, cessando a
passagem de corrente elétrica pelo circuito. Cada vez que os elétrons saem de
uma placa, vão à outra e regressam à primitiva, realiza-se um ciclo, isto é,
completa-se uma onda. Se isto acontece mil vezes por segundo, por exemplo,
dizemos que a freqüência desta corrente é de mil ciclos, ou um quilociclo.
Suponhamos agora que temos um circuito com uma bobina e um condensador
carregado (Fig. 23).
A freqüência F de descarga em tal circuito é dada pelo produto da indutância (L) da bobina pela capacitância (C) do condensador.
A freqüência F de descarga em tal circuito é dada pelo produto da indutância (L) da bobina pela capacitância (C) do condensador.
F=L x C
Esta freqüência denomina-se freqüência natural do circuito.
Para modificar a freqüência natural deste circuito, basta, por exemplo,
modificar a capacitância do condensador. Podemos usar, então, um condensador
variável para modificarmos, querendo, a freqüência natural do circuito. Um
circuito de tal ordem denomina-se circuito sintonizador (Fig. 24).
Se
ligarmos este circuito a uma antena aérea, e se mandarmos a um par de fones a
corrente elétrica obtida, só serão ouvidos os sinais que tenham sido
transmitidos na mesma freqüência natural do circuito sintonizador (Fig. 25):
Se quisermos ouvir, por exemplo, uma estação de rádio que esteja
transmitindo com a freqüência de 7.500 kcs (quilociclos, teremos de agir no
condensador variável C, até que a freqüência natural do circuito sintonizador
seja de 7.500 kcs. Quando isto acontece, dizemos que o nosso rádio receptor
está em sintonia com o rádio transmissor: neste caso a estação transmissora é
ouvida.
Concluindo: em tudo se manifesta vibração; em torno e através de nós
passam, velozmente, vibrações de todas as espécies e naturezas; para poder
captar as vibrações que são lançadas no ar por uma estação radioemissora, o
receptor deve estar em sintonia com a mesma, isto é, a freqüência natural de
seu circuito sintonizador deve ser igual à freqüência com que está transmitindo
a estação radioemissora.
6. O homem como um aparelho receptor-transmissor de
fluidos espirituais
Estudamos diversas formas de transmissão de energia por meio de
vibrações.
Vimos como a energia de radiofrequência era lançada no ar e captada
quando encontrava as necessárias condições de sintonia.
O homem, quando pensa, age analogamente a um aparelho rádio transmissor
que lança vibrações de radiofreqüência no éter.
O pensamento é uma vibração do espírito.
Dissemos, no capítulo anterior, que vibrações inúmeras, das diversas
formas de energia, viajam velozmente pelo espaço, e algumas com tão elevada
freqüência, isto é, com tão curto comprimento de onda, que atravessam o nosso
corpo sem que as sintamos, sem que as percebamos.
Podemos dizer, a título de comparação, que o homem, quando pensa, emite
vibrações de freqüência espiritual, lançando no espaço as modulações do seu
estado de espírito.
Inversamente, poderíamos dizer que o modo de pensar do homem age como
um condensador variável que determina qual a freqüência natural espiritual em
que se encontra. De acordo com esta freqüência natural espiritual, são captados
os pensamentos que estejam em sintonia, pensamentos estes que cortam o espaço
em todas as direções.
Antes de realizar qualquer ação, o homem a imagina, em pensamento, e
transmite aos seus órgãos, aos seus músculos, as ordens, as instruções para a
sua efetivação.
Em outras palavras, o pensamento precede toda a ação.
Portanto, ao criar em pensamento a ação que pretende realizar na
prática, o homem põe seu espírito em uma freqüência natural espiritual de valor
tal que atrai para si os pensamentos afins que cortam o espaço, isto é, os
pensamentos que estejam em sintonia com o seu.
Daí a veracidade do adágio popular que diz: “conforme pensares assim
serás” ou “quem mal faz, para si o faz”.
Pensar mal é atrair e captar as correntes deletérias e avassaladoras
existentes com tão forte densidade na atmosfera terrestre.
Estas correntes deletérias, pesadas, avassaladoras prejudicam o ser
humano não só psiquicamente, porém, também, fisicamente. Se um maquinista não
presta a devida e necessária assistência à sua máquina, evidentemente esta
última, dentro de pouco tempo, passa a apresentar defeitos no seu
funcionamento. Semelhantemente, se o espírito se deixa perturbar, não excita e
não anima seu corpo carnal com o indispensável influxo. E como a matéria, por
si só é inerte, se não tiver a animá-la o Princípio-Inteligente (o espírito),
resulta, conseqüentemente, que o corpo se ressente das perturbações do
espírito.
O ser deve, pois, procurar educar sua vontade de modo a poder ter
domínio sobre seus pensamentos.
Pensamentos indecisos, medrosos, suplicantes, adoradores, são
prenúncios da derrota do espírito, são caminho aberto ao fracasso e às
desilusões.
Contrariamente, os pensamentos de audácia, decisão, desprendimento,
valor, desprezo pelas envolventes e ambientes irradiações de ódio e inveja
reinantes, são a bússola que indica o rumo a seguir para alcançar o sucesso nos
empreendimentos e a tranqüilidade de consciência.
A vida é, essencialmente, um conjunto de lutas. Ela não é feita de uma
seqüência de sucessos; existem também as derrotas, os revezes. Entretanto, os
revezes devem ferir o amor próprio do homem, de modo a incentivá-lo a insistir,
a perseverar, até vencer.
Conhecendo sua composição astral e física, tendo noção segura da
existência da Inteligência Universal, e sabendo fazer seu pensamento romper a
camada pesada e deletéria de fluidos materiais que envolvem a Terra, e
elevar-se aos mundos superiores, o homem atrairá para si os fluidos leves e
diáfanos destes mundos superiores, purificando, filtrando seu perispírito e
tornando-se mais apto a raciocinar e a enfrentar as lutas cotidianas.
O homem deve disciplinar-se espiritualmente, pondo-se em contato,
diariamente, com as Forças Superiores, refazendo-se para as lutas a que é
obrigado a sustentar na Terra.
Conhecendo sua composição astral e física, deve procurar desligar seu
pensamento dos seres e coisas materiais e eleva-lo às Forças Superiores para,
recebendo destas os fluidos dos Mundos de Luz, limpar seu perispírito dos
fluidos materiais deste planeta, e pôr seu espírito em condições de receber as
instituições para o bem, para o trabalho e para a justiça.
Para facilitar a concentração, o homem repete, mentalmente ou em voz
alta, palavras que indiquem que ele sabe o que está fazendo.
As palavras em si pouco importam. O que importa é que se compreenda o
que elas significam. Não são preces, são apenas um modo de afastar o pensamento
das coisas materiais e de enviar irradiações às Forças Superiores.
No Racionalismo Cristão as irradiações são iniciadas com as seguintes
palavras:
“Ao Astral Superior!
Grande Foco! Força Criadora!
Nós sabemos que as leis que regem o Universo são naturais e imutáveis,
e a elas tudo está sujeito!
Sabemos também que é pelo estudo, o raciocínio e o sofrimento, derivado
da luta contra os maus hábitos e as imperfeições, que o espírito se esclarece e
alcança maior evolução.
Certos do que nos cabe fazer, e pondo em ação o nosso livre-arbítrio
para o bem, irradiamos pensamentos aos espíritos superiores, para que eles nos
envolvam na sua luz e fluidos, fortificando-nos para o cumprimento dos nossos
deveres”.
Em seguida são repetidas, continuamente, durante uns cinco minutos, as
seguintes palavras:
“Grande Foco! Vida do Universo!
Aqui estamos a irradiar pensamentos às Forças Superiores para que a luz
se faça em nosso espírito e ele tenha a consciência dos seus erros a fim de
repará-los e evitar o mal.”
7. O pensamento
Inúmeras são as obras e os artigos que estudam o pensamento, analisando
seus efeitos e procurando desenvolver nos homens a convicção de que, por seu
intermédio, estarão em condições de realizar seus sonhos e desejos.
A força do pensamento, Poder da vontade, Vencer pelo
pensamento, eis alguns dos títulos dos livros que, diversos bem salutares e
encorajadores, incutem nas mentes dos que os lêem novas esperanças de sucesso e
felicidade pela energia e confiança com que souberem dirigir seus pensamentos.
Entretanto, se esses livros se dedicam tão exaustivamente à elogiável
tarefa de sacudir os indivíduos do letargo em que vivem e de lhes indicar um
caminho seguro para o sucesso nas lutas diárias a que as contingências terrenas
os obrigam, por outro lado, na maior parte das vezes, não se detêm no estudo do
pensamento, ele próprio, da realidade de sua existência palpável, da sua ação
irradiativa e dos fenômenos físicos e psíquicos a que está subordinado.
Esse estudo, essa discussão, essa análise das funções que envolvem os
fenômenos físicos e psíquicos constituintes do pensamento é assunto para obras
volumosas.
Na realidade nós, os humanos seres, não poderemos chegar a um resultado
exato e definitivo sobre esta complexidade de fenômenos que se relacionam com o
pensamento, pois o seu estudo abandona o terreno físico e avança ousadamente
pelo plano astral, região essa que devemos penetrar com precaução e as devidas
restrições.
Entretanto a Ciência caminha a um ritmo acelerado, dentro da
relatividade das cousas terrenas, e as últimas teorias e hipóteses sobre a
natureza da matéria, sobre a sua desagregação, exigem, paralelamente, a atenção
dos sábios quanto aos fenômenos do plano astral. Sim, porque, evidentemente, há
um elemento inteligente que rege e mantém em equilíbrio, todas essas leis que
dirigem não somente o conhecimento da Ciência atual, como também tudo aquilo
que essa mesma Ciência desconhece. E se os cientistas se eximirem de vaidade,
hão de concluir, ante as maravilhas que têm descoberto ou antevisto, que os
conhecimentos de existência real possuídos são realmente desprezíveis
confrontados com a complexidade e amplitude daquilo que se não conhece,
vislumbra ou antevê.
O penetrar pelo plano astral já nos deu o conhecimento de que no
Universo tudo se resume basicamente nos princípios Força e Matéria. Quando
dizemos Força não nos referimos à força tal como é estudada na Física,
representando um produto de uma massa por uma aceleração. Força, para nós, é a
Inteligência Universal, é o princípio animador da Matéria.
Dentro desses princípios naturais e imutáveis, deve o homem estudar-se.
No momento em que a criança nasce e dá o primeiro choro, encontra-se
constituída dos três seguintes corpos:
a) corpo
mental (Força);
b) corpo
astral ou perispírito (Matéria fluídica);
c) corpo
carnal (Matéria organizada composta).
Portanto, o ser encarnado possui em si dois princípios básicos
componentes do Universo: Força e Matéria. Conseqüentemente deve saber viver,
distintamente, as duas variações da Vida, a material e a espiritual.
O corpo mental é o agente vivo e inteligente que governa os outros dois
corpos.
O corpo astral ou perispírito é o intermediário entre o corpo mental e
o corpo carnal. Ele se liga ao corpo mental, partícula por partícula, por
intermédio da vibração inteligente, que é contínua e ininterrupta.
O corpo carnal, esse corpo tão estudado pela Ciência Médica, apenas
serve para fornecer ao espírito a oportunidade de travar as lutas, realizar os
trabalhos, combater os defeitos, desenvolver as boas qualidades a que se dispôs
antes de encarnar.
O Espírito (Força) ao encarnar vem do mundo a que pertence, mundo esse
que se encontra deslocando, no espaço infinito, como deslocando-se está o
planeta Terra, que é um planeta-escola.
Traz o Espírito, de seu mundo próprio, o seu corpo astral, imponderável
aos sentidos físicos, constituídos de fluidos da atmosfera daquele mundo.
Entretanto, no estado de encarnado, se não sabe viver racionalmente as duas
vidas – a material e a espiritual – vai embrutecendo seu perispírito, seu corpo
astral, vai tornando-o pesado, denso, pela introdução de fluidos da atmosfera
da Terra.
Normalmente, pois, no corpo astral do homem, existem os fluidos que ele
trouxe do seu mundo próprio e os fluidos absorvidos da atmosfera do planeta
Terra.
Todos os fenômenos físicos se realizam por intermédio de vibrações,
sonoras, caloríficas, luminosas etc.
Igualmente a Força (Espírito) produz suas manifestações por meio de
vibrações. O pensamento, pois, que é uma manifestação da Força, dá origem a uma
série de vibrações.
Ora, dissemos anteriormente que o corpo astral se liga ao corpo mental
(Força) partícula por partícula, por intermédio da vibração inteligente, que é
contínua e ininterrupta.
Portanto, conclui-se que as vibrações produzidas pelo pensamento atuam
imediatamente na matéria fluídica do corpo intermediário.
Sob o impulso dessas vibrações o corpo astral lança para o exterior,
para o espaço, uma porção vibrante de si próprio, vibração essa que toma uma
forma determinada, conforme a natureza das referidas vibrações.
Assim sendo, o pensamento adquire uma forma definida e real, isto é,
que não tem apenas existência virtual, e que existe como o livro que lemos
existe, com a única diferença de que o livro tem uma densidade material capaz
de torná-lo sensível aos sentidos físicos normais, enquanto que a imagem do
pensamento é constituída de matéria fluídica.
Para fixar idéias, podemos avançar ainda e dizer que o pensamento é
susceptível de ser fotografado e que experimentadores já obtiveram tais
fotografias.
Resta, ainda dizer que, conforme a qualidade, natureza e precisão das
vibrações produtoras das imagens do pensamento, são lançados no espaço ou
fluidos do mundo próprio do espírito, ou fluidos da atmosfera da Terra que
estavam impregnados no corpo astral, ou, finalmente, uma mescla de todos esses
fluidos
A qualidade
das vibrações define a cor das imagens do pensamento; a natureza determina sua
forma, e a precisão delineia mais ou menos firmemente os contornos.
Há estudos e classificações quanto à cor, à forma e à precisão de
contornos fornecidos pelos pensamentos.
Para finalizar este estudo ligeiro, afirmamos que pensamentos
indecisos, medrosos, suplicantes, adoradores, são prenúncios da derrota do
espírito, são caminho aberto ao fracasso e às desilusões.
Contrariamente,
os pensamentos de audácia, desprendimento, valor, desprezo pelas envolventes e
ambientes irradiações de ódio e inveja reinantes são a bússola que indica o
rumo a seguir para alcançar o sucesso nos empreendimentos e a tranqüilidade de
consciência.
(Publicado no jornal A Razão em 8-12-48)
8. A ação dos espíritos
Em geral se admite, pelo menos por se ouvir dizer, que os médiuns são
os intermediários entre os espíritos e os encarnados, isto é: que os espíritos
se comunicam com os homens utilizando-se de médiuns.
Vulgarmente se pensa que a mediunidade é um privilégio de determinadas
pessoas.
Entretanto, a mediunidade é uma condição inata no espírito de cada ser.
Evidentemente são várias as modalidades de apresentação dos fenômenos
de mediunidade, de acordo com o estado de evolução de cada espírito.
Em princípio podemos afirmar que todo o ser encarnado dispõe, pelo
menos, da mediunidade intuitiva, em um grau correspondente ao seu adiantamento
espiritual.
Pensar com elevação e com altruísmo é predispor o espírito para a
recepção das vibrações de progresso emanadas das Forças Superiores.
Contrariamente, os pensamentos de fraqueza, inveja, ódio, maldade
sintonizam o espírito para as intuições obsessoras dos espíritos do astral
inferior.
A mediunidade, quando mal orientada, quando mal utilizada, expõe o ser
a sérios perigos.
Muitos
loucos são médiuns desenvolvidos que se obsedaram por desconhecerem as suas
faculdades mediúnicas.
Geralmente só se dá a um indivíduo a denominação de médium quando ele
possui a faculdade da mediunidade de incorporação, isto é, aquela mediunidade
em que o espírito desencarnado aparentemente se apossa do corpo do ser
encarnado.
A sensibilidade e o sistema nervoso dos possuidores de mediunidade de
incorporação chegam a tal ponto que basta a ação atrativa do pensamento para
que, imediatamente, sejam atuados pelos espíritos do astral inferior.
Os médiuns ignorantes, que se concentram e se deixam atuar pelos
espíritos do astral inferior, isto é, da atmosfera do planeta Terra, terminam
por se tornar escravos dessas forças inferiores.
* * *
O leitor já ouviu dizer, talvez, que se pode adaptar a um rádio uma
vitrola. Neste caso o circuito sintonizador do rádio deixa de captar as ondas
de rádio-freqüência transmitidas por estações emissoras, isto é, o equipamento
perde a sua característica de captar as transmissões feitas à distância. Em
outras palavras, deixa-se, por exemplo, de ouvir a música que uma estação de broadcasting
esteja transmitindo. Passa-se, então, a ouvir a música proveniente de um disco.
Como é isto conseguido? De uma maneira muito simples. Por meio de um
interruptor separa-se a parte do rádio correspondente à amplificação de
áudio-freqüência e liga-se esta parte a um cristal que, por intermédio da
agulha da vitrola, está em contato com o disco. As vibrações enviadas pela
agulha, ao correr pelo disco, produzem voltagens alternadas no cristal. Estas
voltagens alternadas, indo ao amplificador de áudio-freqüência acima referido,
produzem, no alto-falante, música gravada no disco.
Portanto, o equipamento deixa de trabalhar como rádio para, cedendo uma
parte do seu circuito, o amplificador de áudio-freqüência e o alto-falante,
transmitir as músicas gravadas nos discos postos na vitrola.
Um tal equipamento chama-se eletrola.
* * *
Para efeito de exposição, podemos fazer analogia entre um médium e uma
eletrola.
– Como agem os espíritos sobre os médiuns para externarem seus desejos
e opiniões? Utilizam-se de alguns órgãos dos médiuns, da mesma maneira que
alguns órgãos do aparelho rádio-receptor são utilizados para tornar audíveis as
vibrações contidas no disco posto na vitrola.
Entretanto, na eletrola, é indispensável ser feita uma ligação entre o
disco da vitrola e o alto-falante. Há uma chave que, quando voltada para a
posição vitrola, produz a ligação acima referida. Sem que ela seja efetivada,
não é possível ouvir-se a música do disco.
Da mesma maneira, para que um espírito possa externar fisicamente seus
desejos e opiniões, é necessário que o médium se ponha em condições
determinadas tais que permitam ao espírito utilizar os órgãos necessários de
seu corpo físico.
Dissemos haver, na eletrola, uma chave por intermédio da qual é feita a
ligação entre o disco e o alto-falante.
– Qual é a chave que permite ao espírito utilizar-se do médium?
– A vontade do médium.
Sem que este o permita, nenhum espírito pode nele atuar.
Portanto, uma vontade fraca, mal educada, que permita a religação do
ser com os espíritos do astral inferior, produzir-lhe-á, fatalmente, a obsessão
em algum dos seus diversos graus.
A obsessão encontra-se desenvolvida pela humanidade numa extensão
realmente extraordinária.
A obsessão não se apresenta somente nos casos chamados comumente de
loucura, de distúrbios mentais. São formas também de obsessão as manias, os
pavores, as esquisitices, as fobias, os cacoetes, as excentricidades, os
exotismos, as extravagâncias, as paixões, os vícios, os fanatismos, as
indolências, as covardias e todos os excessos, como os sexuais, os de comer, os
de rir, os de chorar etc.
A obsessão não somente perturba o espírito da criatura, mas lhe produz,
também, distúrbios no organismo físico que podem ser maiores ou menores
conforme o grau da obsessão e da natureza malévola dos espíritos obsessores que
estiverem atuando.
As pessoas mais sujeitas à obsessão são as que possuem desenvolvidas as
faculdades rnediúnicas. Por isso mesmo estas pessoas devem ter um viver
racional e disciplinado, evitando deixar-se atuar pelos espíritos inferiores.
Conclusão
Meditando friamente, sem deixar seu raciocínio influenciar-se pelos
dogmas religiosos ou preconceitos sociais em vigor, o leitor deve ter chegado à
conclusão de que o Racionalismo Cristão é o caminho certo e sem tortuosidades
que o conduzirá ao conhecimento de si próprio, de sua razão de existir no
planeta Terra, da evolução contínua de sua personalidade rumo à Suprema
Inteligência, ao Grande Foco.
Embora afirmando a existência do espírito, o Racionalismo Cristão nada
tem a ver com o baixo espiritismo, que é tão largamente praticado em todo
mundo.
O Racionalismo Cristão pratica o espiritismo cientificamente, com
disciplina rigorosa e com a finalidade de limpeza astral da atmosfera
terrestre, a fim de que a humanidade, num ambiente mais leve, menos perturbado,
possa mais facilmente cumprir os deveres necessários à sua evolução.
Sem a obediência à disciplina indispensável aos trabalhos, o
Racionalismo Cristão proíbe intransigentemente a prática do espiritismo, por
ser prejudicial e perigosa ao progresso do indivíduo.
O ser que desencarna sem o exato conhecimento de si mesmo como Força e
Matéria, paira na atmosfera da Terra, tornando-se um elemento do astral
inferior.
Entretanto, o ser esclarecido na sua composição astral e física e que
soube pautar sua existência, na vida terrena, dentro de normas sãs de trabalho
e honradez, este, ao desencarnar, sabe operar o seu desligamento do ambiente da
Terra e alçar-se ao seu mundo próprio.
O Racionalismo Cristão não é uma nova religião e nem combate as
religiões existentes.
O
Racionalismo Cristão deseja, sobretudo, libertar a criatura dessa tremenda
tendência adoratória que lhe cerceia o raciocínio, lançando-a numa confusão tal
que contempla, com terror e misticismo o problema que lhe surge como terrível e
insolúvel – A vida fora da matéria.
Homenagem póstuma
Asas partidas
Othon
Ewaldo
Nascido
no então Distrito Federal, em 9 de maio de 1918, Felino Alves de Jesus, era,
nessa época, um rapazinho alto e espigado, moreno e circunspecto demais para a
sua idade. E, não raro, mesmo nos momentos destinados ao recreio, era visto
agarrado aos livros, longe do bulício dos folguedos dos colegas na Escola
Pública Bahia, em Jacarepaguá.
Filho de pais providos de poucos recursos, bem sabiam suas professoras
do sacrifício que eles faziam para custear os estudos daquele aluno brioso e
inteligente, cuja dedicação pelos livros e ótimo procedimento lhes despertava
tanta simpatia.
E ao terminar o curso primário, o jovem estudante revelava à sua
professora, D. Olímpia Borges, o ideal que acalentava: ser um dia oficial da
marinha.
Predispôs-se a educadora a orientá-lo em seus estudos, em tamanha conta
tinha não só a inteligência do seu dileto discente, mas também a força de
vontade e dedicação aos estudos, tão cedo por ele revelados.
Iniciado o curso secundário no antigo Ginásio 28 de Setembro, em
Riachuelo, novos e maiores tributos eram agora impostos aos Pais e Professora,
que gostosamente os suportavam ao verificar os progressos que o jovem estudante
apresentava.
Transferido para o Colégio Pedro II, onde terminou o ciclo secundário,
Felino Alves de Jesus concluía, em 23 de abril de 1934, a primeira etapa
exigida pelos cursos a que se propusera seu espírito sequioso de conhecimentos:
matriculava-se no Curso Prévio da Escola Naval.
Passados os primeiros tempos, à proporção que o seu espírito se
impregnava dos segredos da astronomia e da matemática, inclinava-se também para
os aspectos e fenômenos entre este mundo e o invisível.
Datam dessa época suas primeiras indagações sobre as relações entre o
espírito e a matéria, dirigidas a conhecida instituição espiritualista desta
capital, à qual, posteriormente, se filiou.
Fascinavam-no o estudo e a meditação sobre os assuntos transcendentes,
em geral menosprezados pelos de sua idade.
Quantas vezes, em viagens de instrução, quedava-se, à noite, sondando o
firmamento que crepitava de luzes, que o faziam entrever os mistérios
insondáveis do infinito ignoto! ...
– Que
haveria no espaço infinito, lá em cima, que se lhe afigurava tão alto, a ele
que tinha os pés num convés de navio que singrava as águas revoltas do oceano,
também insondável?
– Viveria,
então, a criatura humana entre duas amplitudes – céu e mar – qual mísero grão
de areia, impelido por forças desconhecidas, que seu espírito curioso e ávido
de conhecimentos pressentia povoarem aquele infinito todo, impregnado de
movimento e vibrações?
O
tempo avançava e, terminado o curso e recebidas as platinas de oficial de
marinha em 30 de dezembro de 1939, continuava o Tenente Felino seus estudos no
ambiente naval, quando a aviação brasileira entrou numa fase de grande
progresso.
Ao
espírito investigador e desejoso de evoluir do Tenente Felino afigurou-se
excepcional a oportunidade de poder prosseguir em seus estudos, sob o aspecto
que, agora, mais o seduzia.
Transferiu-se,
assim, a 10 de maio de 1941, para a Escola de Aeronáutica dos Afonsos, como
oficial-aluno, matriculado no curso de piloto-aviador.
Era a
segunda etapa de sua vida de estudos que se iniciava.
Agora,
sim, poderia voar, subir bem alto, e, perdido entre as nuvens, envolvido pelo
silêncio das regiões siderais, meditar sobre a grandeza do que nos cerca, a ele
que continuava a sentir-se pequenino grão de areia manobrando embora um pássaro
de aço!
Então,
mais se agigantava em suas convicções a idéia de que não era somente a matéria
– o cérebro apertado em seu capacete de aviador, as mãos nervosas que corriam
sobre o painel dos aparelhos – a responsável por tudo, mas sim uma força
inteligente que comandava seus gestos, inspirava seus pensamentos, e fazia-o
sorrir ao dominar aquele orgulhoso pássaro de guerra, que, obediente, subia e
descia entre as nuvens, submisso à sua vontade e fazendo faiscar suas asas de
alumínio aos raios do sol matinal.
Mais
um curso terminado, em 30 de setembro de 1942 e, promovido a 1o
Tenente, era designado, por suas qualidades, como auxiliar de instrução da
gloriosa Escola de Aeronáutica, o Tenente Felino Alves de Jesus.
Suas
atividades agora se inclinavam para o rádio e mecânica, a eletricidade e
astronomia e sua biblioteca, especializada e enriquecida de obras adquiridas no
exterior do país, era o ponto predileto das poucas horas de lazer que passava
no seio da família.
Oficial
disciplinado e disciplinador, de acentuado senso de responsabilidade e
qualidades excepcionais de excelente piloto que sempre foi, apontavam-no como o
instrutor ideal para os jovens que tinham escolhido para a vida a maneira mais
perigosa de vivê-la.
Porque
o Tenente Felino não se limitava a ministrar-lhes os segredos da audaciosa arte
de voar.
Há
muito conhecedor dos princípios racionalistas, perscrutava-lhes a alma,
aprimorava-lhes as virtudes, ressaltava-lhes o talento para corrigir-lhes os
defeitos, modelar-lhes o caráter e de cada comandado – a flor da juventude
aviatória brasileira – fazia um homem consciente de si mesmo, valoroso e nobre
no seu espírito de renúncia e na sua coragem.
Porque
a vida dos aviadores brasileiros, naquela época, era uma epopéia de heroísmos e
sacrifícios.
Nossa
vastidão territorial, de escassa densidade de população, principalmente no
interior do país, a deficiência de campos de pouso em boas condições e dos serviços
de meteorologia, sabido que as informações pelo rádio das condições
atmosféricas são fator importante na segurança do vôo, provam, de sobejo, que o
extraordinário desenvolvimento da aviação no nosso país é um hino à competência
e desprendimento dos nossos valorosos patrícios aviadores.
É
como se eles mantivessem como ponto de honra a preservação do precioso legado
que nos deixaram os geniais Bartolomeu de Gusmão e Santos Dumont de que o Brasil é a pátria da aviação !
* * *
Em
numerosas ocasiões os aviadores brasileiros têm demonstrado suas virtudes de
coragem habilidade e espírito de renúncia.
Às
vezes, cruzando os céus de nossa Pátria, a caminho dum longínquo campo de pouso
– qual clareira aberta no oceano verdejante de nossas florestas, que ondula lá
em baixo –, os aparelhos de bordo denunciam a aproximação do inimigo.
Envolve-o
ainda o enganoso azul do infinito, mas, o aviador pressente mais do que vê -
que ele o espera, inexorável, em sua rota, para o bote traiçoeiro!
Mas,
continua a avançar, impávido e destemeroso, em direção à fera, ainda emboscada.
De
repente, o horizonte começa a escurecer. Grossas nuvens negras se acumulam
rapidamente à sua frente, tocadas pelo furacão que avança ao seu encontro.
E,
dentro em breve, o dia claro e luminoso de há pouco desaparece, engolido pela
escuridão que precede o ciclone que se aproxima, como se as trevas da noite
envolvessem, de repente, a imensidão do infinito!
Um
rápido olhar aos aparelhos, um gesto brusco de comando e o pássaro de aço -
pequeno e frágil ante o infinito que o cerca - começa a ganhar altura.
Apesar
da velocidade com que procura fugir da tempestade que se aproxima cada vez
mais, as nuvens prenhes de eletricidade se avolumam por todos os lados e
abrangem tão vasta região que parece não haver tempo para escapar à sua fúria.
O
solitário navegador dos ares prepara-se para enfrentar a fera ... continua a
subir: 3.800, 4.200, 4.700 metros ... já sente a respiração opressa ...
O
ciclone açoita o minúsculo pássaro de aço, cujos pulmões possantes resfolegam
com estertor..
O
semblante sereno do aviador torna-se mais grave ...
De
repente, um fio de luz vivíssimo ziguezagueia entre as nuvens negras, qual
serpente de fogo!
A
fera está solta!
Estruge
o trovão, medonho urro do furacão que se desencadeia nas alturas.
O
frágil aparelho é, repentinamente, iluminado por mil clarões dos relâmpagos
incendiários, como se alguém pretendesse - num flash gigantesco - gravar para
sempre aquelas convulsões da natureza em revolta.
O
avião sobe vertiginosamente, envolvido pelo ciclone em redemoinho, que uiva e
assovia em suas asas metálicas, que parecem desprender-se a todo o instante aos
repelões violentos do furacão.
A
orgulhosa máquina de aço nada mais é que uma frágil folha seca ao sabor da
tempestade! ...
O
avião avança, agora, aos repelões, em plena tempestade, envolvido pela massa
líquida que sobre ele desaba e estala, com fragor, em sua fuselagem e nas asas
longas e trepidantes. Parece avançar lentamente, como gigantesca escavadeira
que cava, abre sua passagem dentro da escuridão, que o envolve por todos os
lados .-. .
Ao
clarão dos relâmpagos instantâneos e das descargas elétricas, o aviador lança
rápido olhar ao painel de aparelhos e nota, orgulhoso, como aquela frágil
máquina enfrenta o imprevisível cataclismo.
É a
luta do homem, orgulhoso e prepotente, contra a natureza, desencadeada em
fúria!
O
avião sobe e descai, avança e mergulha, açoitado pela forte ventania e
temporal, já agora desfeito.
Os
segundos assim vividos parecem séculos ... Sobe o avião ainda mais: 5.000
metros, 5.400 metros, acusa o altímetro, e só então sente-sé o furacão rugindo
lá em baixo, em direção à Terra
Um
quase sorriso de vitória - enigmático e breve - ilumina o rosto moreno do
piloto.
E,
dentro em pouco, o infinito azul tranqüilo e imenso, envolve-o outra vez,
silenciosamente...
* * *
Noutra
ocasião, prestes a chegar ao seu destino, o nevoeiro cerca-o por todos os
lados. O avião avança em plena escuridão ...
O
aviador tem os olhos fixos nos aparelhos que, inexoráveis, apontam-no
sobrevoando o objetivo ... Está a 2.800 metros de altura e a névoa seca é densa
...
–
Como descer, se não enxerga a um metro de distância em sua frente?
É
forçoso descrever largas curvas para não se afastar muito do ponto de chegada
...
Mas,
sente que a descida é impossível, sem graves riscos. Envolve-o a névoa seca,
que penetra tudo ...
–
Retroceder ao ponto de partida? A altivez que acompanha nossos aviadores
militares desde a escola, repele a insinuação da prudência. Seria confessar-se
vencido, quase sem luta e sem tentar, pelo menos, dominar as condições
atmosféricas adversas ...
E ele
continua a voar, às cegas, sempre descrevendo largas curvas ...
–
Procurar atingir o campo mais próximo, onde, talvez, não haja esta maldita
névoa a cegá-lo?
–
Descer, de qualquer maneira, arriscando-se a ir de encontro a uma montanha ou
edifício alto, a cair, enfim, quando sabe e sente que lá em baixo está o
aeródromo, com sua larga pista de cimento e a grande cidade orgulhosa e
frívola?
De lá
aconselham-no a retroceder.
–
Mas, como?
Há minutos que o problema se apresentou inquietante e urgente ante o
aviador, sereno e quase resignado ao seu destino, enquanto mais um largo
círculo é descrito em meio à escuridão reinante, olhos fixos no indicador de
gasolina ...
Súbito,
adelgaça-se limitado trecho no espaço: é um raio de sol, brilhante e vivo, que
rompe a névoa e se projeta, como um beijo de luz, sobre a face da Terra!
No rosto sereno do aviador esboçasse um ríctus - quase um sorriso -
enigmático e breve.
O olhar lampeja o pensamento fugaz e comanda o gesto.
A mão nervosa e crispada corre rápida sobre os aparelhos ... Uma
alavanca é acionada. O avião descreve um movimento brusco e se lança,
desvairado, pela clareira de luz aberta para baixo!
A máquina de alumínio brilha, agora, orgulhosa, envolvida pelo feixe de
luz, enquanto desce vertiginosamente ... Precisa aproveitar esse funil luminoso
que se abre à sua frente e pode se fechar de um momento para o outro ... E que
já está se fechando novamente ...
É forçoso aproveitá-lo ... Até onde?
Em três minutos o avião descera 2.500 metros, e, agora, surgia ante o
olhar perscrutador do aviador vitorioso o fundo da Guanabara, com suas águas
revoltas e cinzentas e as montanhas que abraçam a cidade envoltas em brumas.
Mais uma vez, o homem triunfara sobre a natureza adversa.
* * *
Depois foi a paixão pelo pára-quedismo, outro curso a exigir bravura e
desprendimento, que empolgou o Tenente Felino.
Continuava, assim, fiel ao lema que nortearia toda sua existência:
renúncia e sacrifício.
Eram as primeiras apresentações em nosso país da audaciosa intervenção
de forças atiradas do espaço e cujo oportuno emprego, em determinadas ocasiões,
transforma o curso de acontecimentos militares.
O estágio em São Paulo fora breve e, classificado em primeiro lugar,
com menção honrosa, em 3 de março de 1943, pela Escola do Aero Clube de São
Paulo, foi o Tenente Felino o primeiro pára-quedista da FAB.
* * *
Fomos, então, arrastados à guerra. Nossas forças armadas adestravam-se
para as contingências do momento e o Tenente Felino partia para os Estados
Unidos, a fim de tirar o curso de Controlador de Combate.
De volta, ao se despedir da Escola d-3 Aeronáutica, que ele tanto amou,
por ter sido designado para integrar o famoso 1o Grupo de Caça,
criado em dezembro de 1943, o Brigadeiro Fontenele a ele se referiu nos
seguintes termos: “Elogio o Tenente Felino pela correta disciplina militar,
dedicação e espírito de sacrifício”.
Dedicação e espírito de sacrifício, escrevera o experimentado Chefe e
se essa tinha sido até agora a norma de viver do Tenente Felino, ela o
acompanharia até ao término de sua breve existência, marcado para tão próximo
...
O Tenente Felino tinha-se consorciado em março de 1944 e, logo após,
partira para os estágios de treinamento no Mar das Caraíbas e Canal do Panamá,
onde o 1o Grupo de Caça se
adestrava, antes de seguir para o teatro das operações de guerra, na Itália.
Decorreram meses de sobressaltos e apreensões, perigos e lutas até que,
vitorioso e feliz, o já agora Capitão Felino, a 14 de maio de 1945, regressou à
Pátria.
Voltara a rever o azul do firmamento de sua Pátria, que tantas vezes
cruzara.
Acabara a guerra. O Capitão Felino traçara o seu programa para o
futuro. Desencaixotara seus livros, queridos companheiros de toda a sua vida, e
reiniciara seus estudos.
E em março de 1948, matriculava-se na Escola Técnica do Exército, para
tirar o Curso de Radiocomunicações, tendo sido classificado em 1o
lugar na sua turma.
O seu tempo era agora dividido entre os vôos, na Diretoria de Rotas
Aéreas, que tinha a dirigi-la o Brigadeiro Eduardo Gomes, e as aulas na escola.
E a 11 de junho de 1949, comandando um avião do 2o G.T., em
serviço na rota de Fernando de Noronha, fez o Capitão Felino seu último vôo.
* * *
Voltara dessa viagem febril, o corpo combalido pelo excesso de estudos
e canseiras e ainda assim compareceu à escola para fazer uma prova.
Depois, não mais se levantou.
Voando por regiões inóspitas, contraíra a insidiosa infecção que
deveria levá-lo ao túmulo, dentro de três semanas, vítima do cumprimento do
dever.
Ferido de morte, imobilizado em sua cadeira de sofrimento, o aviador,
através da janela aberta, vê o azul do firmamento que seu avião não mais
cruzará.
Volta a recordar-se, então, da velha chácara de Jacarepaguá ...
Sente-se, agora, menino ainda, perseguindo as grandes borboletas de
asas também azuis, por entre as copadas mangueiras, que sombreavam os caminhos
tranqüilos da antiga escola ...
As trepadeiras da varanda desatam suas flores vermelhas à brisa fresca,
que passa ...
Lá fora, a vida continua egoísta e tumultuosa, para os que ainda têm
esperanças e podem acalentar um sonho ...
– Esta é a minha guerra, diz o aviador, resignado em sua dor, sem uma
queixa para o mundo.
E o seu olhar sereno e penetrante, que desvendava os mistérios das
trevas e dos perigos, vê a vida pela última vez, na manhã de 12 de julho de
1949.
Mas, o seu derradeiro brilho refletia como que uma flama interior, um
clarão de redenção que envolvia tudo, a chama ardente de suas convicções
espiritualistas de que a vida terrena nada mais é que a transitoriedade dum
minuto que passa em comparação com a eternidade do espírito! ...
O adeus dos colegas da Escola Naval
Exa.
Sra. Viúva Felino Alves de Jesus, familiares e meus colegas:
Com muita tristeza nos reunimos neste Campo, para render preito de
saudade ao nosso companheiro Felino Alves de Jesus, que a nós se antecipou no
caminho da Eternidade. O que para os presentes ainda consiste em Fé, para o
Felino já é certeza; ele já sabe o que vem após o grande salto do Além, e, nós,
uns com ardorosa Fé, outros com certa dose de dúvida, aguardamos a nossa vez de
ver confirmadas as nossas crenças ou incredulidade.
Maria Luiza. O seu esposo era um excelente colega, muito estudioso, e,
singularmente inteligente, sempre andava na dianteira da turma nos
conhecimentos das disciplinas escolares. Também no desbravamento da Grande
Verdade ele se antecipou a quase todos os seus companheiros de estudos.
Qualquer lapso de tempo cabível no entendimento humano, não passa de simples
instante, em presença da Eternidade. Dizemos isso, porque o sentimento dessa
circunstância, alivia o sofrimento que nos faz a ausência de um ente querido e
avaliamos o quanto Felino falta à sua família. A certeza que dentro de um mero
instante - nada mais que isso, embora possa demorar um século - estaremos
juntos de uma pessoa que nos deixou neste mundo, é o maior consolo que pode
existir. Palavras carinhosas de amigos e parentes valem muito, reconfortam,
porém a Esperança e a Filosofia de que a despedida não representa um “adeus
para sempre” e sim um “até breve” é o melhor lenitivo para essa infinita dor.
Não há razão de ser, daquele pensamento cruciante que nos momentos de
desnorteio nos vem à mente “nunca mais”.
Este cemitério, como qualquer outro, está repleto de sepulturas sobre
as quais em certos dias há muitos anos, tal como neste momento, na do Felino,
lágrimas foram derramadas. Entretanto, hoje, pranteados e saudosos, juntos
estão, no outro lado da Vida, talvez mesmo recordando aquelas ocasiões de
soluços, em que lágrimas angustiadas foram vertidas. Talvez pensem esses
corações, que se naqueles tempos tivessem refletido na brevidade do prazo que
os separava, certamente menos despedaçados estariam então, e melhor conformados
suportariam o resto da luta que lhes faltava na Terra.
Nos dias da Escola Naval, o Felino foi sempre prestativo aos seus
colegas; a todos que a ele recorriam, acudia com boa vontade. Tive a bela
oportunidade de ser seu companheiro de camarote. Juntos fizemos a viagem de
instrução com Guardas-Marinha e inopinadamente ele passou para a Aeronáutica.
Nunca antes havia falado nisso. Daí por diante, somente de tempos em tempos nos
víamos. A última vez em que o encontrei foi para receber dele outro obséquio.
Foi em Ponta Porã, em outubro do ano passado. Levou-me em seu avião até Campo
Grande, onde após o café matinal na Base Aérea nos despedimos, seguindo ele
viagem para o Rio.
Meus colegas, o Felino era então, tal qual nos tempos de Escola Naval,
o mesmo gênio alegre, comunicativo e cativante.
Ao nos despedirmos no Aeroporto de Campo Grande, entre abraços nós
dissemos “até a vista”, sem mesmo meditarmos no sentido amplo de nossa frase.
Referimo-nos até o nosso próximo encontro, sem preocupação do local que bem
poderia ser no Rio, em São Paulo, no norte do Brasil, mas não imaginávamos que
seria do lado de lá, no Mundo Perfeito.
Felino, aqui estão hoje os seus colegas da mocidade, que com um punhado
de flores e na presença de sua esposa, parentes e amigos, vieram recordar as
passagens de nossa juventude em comum, tempo em que nem de leve, supúnhamos
quão furioso seria o vendaval da vida, e trazer o nosso “até à vista”, estimado
colega.
(Palavras do então Capitão Tenente Paulo Antoniolli, hoje
Almirante)
Capitão Aviador Felino Alves de Jesus [1]
J.
Garcia de Souza
Faleceu
no dia 12 do corrente, vítima de uma infecção adquirida em serviço, o Capitão
Aviador Felino Alves de Jesus. Perdeu, assim, a FAB, um distinto e estudioso
oficial da nova geração.
Nascido em 9 de maio de 1918, nesta capital; fez o curso primário numa
escola pública de Jacarepaguá, e o secundário no Ginásio 28 de Setembro e
Colégio Pedro li. Matriculou-se, em 23 de abril de 1934, no Curso Prévio da
Escola Naval graduando-se Guarda-Marinha em 30 de dezembro de 1939. Criado o Ministério
da Aeronáutica em 20 de janeiro de 1941, foi com seu colega Mario Soares
Castelo Branco, em 10 de maio desse ano, matriculado na Escola de Aeronáutica
dos Afonsos, como oficia) aluno, no curso de piloto aviador; terminando o curso
em 30 de setembro de 1942, foi promovido a 1o tenente em 4 de
dezembro de 1943 e designado por suas qualidades como auxiliar de instrução da
Escola de Aeronáutica. Foi o 1o pára-quedista da FAB, tendo sido
aprovado com “menção honrosa” em 3 de março de 1943, pela Escola do Aero Clube
de São Paulo. Ao se despedir da Escola de Aeronáutica por ter de seguir para a
guerra, o Brigadeiro Fontenele, a ele se referiu nos seguintes termos: “Elogio
o Tenente Felino, pela correta disciplina militar, dedicação e espírito de
sacrifício”. Nos Estados Unidos tirou o curso de “controlador de combate” e
nessa função seguiu para o teatro de operações na Itália, integrando o famoso 1o
Grupo de Caça; foi oficial de ligação, fez 11 missões de transporte em avião
“B-25 C”. Em 14 de maio de 1945, regressou da guerra e foi classificado no 2o
G. T. O ano passado foi matriculado na Escola Técnica do Exército para tirar o
curso de “Radiocomunicação”, tendo sido classificado em 1o lugar na
sua turma. Sua folha de assentamentos consta de 2.940 horas de vôo; 31 saltos
de pára-quedas. Possui as medalhas da “Campanha da Itália” e “Cruz de Aviação”.
Deixou-nos dois livros: Navegação astronômica e Trajetória evolutiva.
Eis
em resumo o que sabemos da vida profissional do saudoso Capitão-Aviador Felino
Alves de Jesus, que fez seu último vôo em 11 de junho, comandando um avião do 2o G.T. em serviço na rota de Fernando de
Noronha.
Ad imortalitatem [2]
Afonso
de Morais Gomes
Dentre
aqueles que transpõem os umbrais da eternidade muitos há que deixam como
profundos sulcos os estigmas da mais sentida saudade, porém, no mais das vezes,
deixam somente saudade e a lembrança de um ou outro feito notável de sua
existência.
Raríssimas vezes assistimos a partida de alguém que, como Felino Alves
de Jesus, haja vivido tão intensamente para as elevadas realizações do espírito
e da inteligência. Sim, que haja vivido tão intensamente para tais realizações,
somente assim se pode expressar quem lhe acompanhou os passos na parte talvez
mais árida de sua preparação para a carreira da qual foi chamado para passar
certamente a um plano condizente com o seu caráter, com a sua elevação moral e
com a abnegação que constituíam traços predominantes de sua personalidade.
Partiu na idade em que muitos começam a revelar o aprimoramento de suas
qualidades; partiu, porém, depois de exuberantemente haver provado a sua
destemida capacidade para a luta; partiu, não como os heróis das batalhas que
deixam o campo juncado de cadáveres, mas sim com a convicção de se haver
desobrigado de todos os deveres inerentes ao verdadeiro homem; ao verdadeiro
cidadão como ao verdadeiro soldado; ao verdadeiro amigo como ao verdadeiro
chefe de família; dos deveres inerentes, enfim aos que vivem, não simplesmente
o tempo presente, mas principalmente aos que sabem que uma existência só é
realmente útil e exemplar quando se torna uma perfeita preparação para a vida
extraterrena!
Lamenta-se
a partida do batalhador no mais aceso da luta, do filho que encheu de orgulho
os seus genitores, que deixou inconsolável a esposa amantíssima e órfãs as suas
adoradas filhinhas; a perda que sofreu a Pátria, precisamente quando lhe seria
possível uma recompensa à altura de seu desprendimento e fervoroso devotamento.
Mas, quando assim procedemos, esquecemo-nos dos desígnios do Criador. Consideramos
principalmente o verdor dos anos, a primavera estuante de entusiasmo
subitamente substituída pelo inverno da desolação e do pesar e, então, choramos
... choramos, quando deveríamos entoar hosanas; sim, porque no torvelinho das
paixões e do desenfreado egoísmo que avassala o mundo, ainda aparecem os
cavalheiros da estatura moral do Capitão Felino Alves de Jesus.
Viveu
o Capitão Felino 31 anos, dizemos nós, mas na realidade ele viveu séculos,
séculos de crescente aplicação ao trabalho, séculos de renúncia e de
sacrifícios, por isso sua partida não foi prematura; foi no tempo próprio,
porquanto os planos do Onipotente estão acima da humana compreensão.
Disse
alguém que “na vida o homem veste-se de trevas e na morte veste-se de luz”, mas
você, Capitão Felino, já em sua trajetória por este planeta, cobriu-se, com as
roupagens luminosas que lhe permitiram bem cedo librar-se [3]para
as elevadas paragens onde só os bons batalhadores penetram.
O exemplo de uma vida [4]
Realizou-se
em 22 de maio próximo passado, na Escola Presidente Linhares, a inauguração do
retrato do patrono do Centro de Civismo e Intercâmbio Escolar Capitão-Aviador
Felino Alves de Jesus, daquela escola, dirigida pela Professora Léa Labarte
Lebre.
Às 15 horas, presentes o Dr. Secundino Ribeiro Júnior, superintendente
do 5.O Distrito Educacional, o representante do Diretor do Departamento de
Educação Complementar, o ilustre corpo docente da Escola, Professor Edgard
Ribeiro Bastos, Sr. Saturnino de Jesus, Sras. Maria Alves de Jesus e Maria Luíza
Cottas de .Jesus, os últimos, respectivamente, genitores e viúva do
homenageado, numerosos professores, amigos e admiradores do saudoso
Capitão-Aviador Felino, o disciplinado corpo discente na escola deu início à
cerimônia, cantando o Hino Nacional.
Em seguida discursou a Professora Adelaide Ferreira, ressaltando a
feliz escolha do Governo Municipal dando àquele Centro o nome de quem ascendera
de aluno pobre de uma escola pública de Jacarepaguá, às estrelas do oficialato,
desempenhando-se com brilhantismo de missões de paz e guerra fora de seu país,
deixando em sua curta existência exemplos dignificantes de dedicação aos
estudos, esforçado labor, impecável conduta e bravura intemerata.
Relembrou as dificuldades vencidas pelo então aluno gratuito do Ginásio
28 de Setembro, no Riachuelo, já então orientado pela Professora Olímpia
Borges, os seus cursos na Marinha e Aeronáutica, estágios de treinamento no Mar
das Caraíbas e Canal do Panamá e no teatro de operações de guerra, na Itália,
integrando o famoso Primeiro Grupo de Caça, da nossa gloriosa FAB.
Perorou, apontando essa vida de estudos e trabalho, renúncia e
sacrifício, como exemplo digno de ser seguido pelos seus jovens alunos,
almejando que “a luz de seu exemplo seja farol e guia de vossas vidas em flor”.
Depois de vários alunos terem declamado poesias alusivas à vida dos
aviadores, foi descerrada a bandeira que cobria o retrato do homenageado, tendo
os alunos do Jardim de Infância desfilado, atirando flores ao retrato e
entoando a canção “Asas”.
Findo um minuto de silêncio de evocação e saudade à memória do
Capitão-Aviador Felino, a Professora Eunice Obino, encarregada da biblioteca da
escola, agradeceu em nome dos alunos a doação de livros feita pela Sra. Maria
Luíza Cottas de Jesus à mesma biblioteca.
Depois falou, de improviso, o Dr. Secundino Ribeiro Júnior, dizendo que
o patrono daquele Centro de Civismo podia servir, de fato, de paradigma aos
alunos de escolas públicas, pois fora numa delas que iniciara seus estudos e,
ainda mais, orientado por uma professora de escola pública, a Sra. Olímpia
Borges, graças à sua inteligência, perseverança e caráter, confirmara em adulto
as virtudes do estudante, realizando, integralmente, as promessas e esperanças
do menino e adolescente.
Militar brioso, disciplinado e disciplinador, seu amor pelos estudos,
levara-o a aperfeiçoar-se nos Estados Unidos e a tirar o curso de
radiocomunicação na Escola Técnica do Exército, desta capital, onde era um dos
alunos mais distintos, quando a morte o surpreendeu aos 31 anos de idade.
Calorosa salva de palmas abafou as últimas palavras do eloqüente
discurso do superintendente do 5o Distrito Educacional.
Um dos amigos do Capitão Felino, em nome de sua família, ofereceu à
diretora, D. Léa Labarte Lebre, uma braçada de rosas, numa homenagem às
professoras de escolas públicas, que têm naquela educadora lídima
representante, na nobre carreira que abraçaram, e agradeceu todas as homenagens
prestadas à memória do CapitãoAviador Felino Alves de Jesus.
Em breves, mas significativas palavras, a Sra. D. Léa Labarte Lebre,
visivelmente comovida, agradeceu a delicada lembrança e, depois do corpo de
alunos ter cantado o Hino Nacional, sob os aplausos dos presentes, encerrou a
sessão, que deixou profunda impressão a todos que tiveram a ventura dela compartilhar,
pelo cunho de civismo de que se revestiu.
A revisão dos nomes das escolas [5]
Flora
Nobre
Há
atualmente uma comissão encarregada de rever os nomes dos patronos de nossas
escolas primárias. Realmente se fazia sentir tal reparo, porquanto nem sempre
atende o patrono ao padrão exigido para que seu nome credencie um
estabelecimento de ensino. Não que geralmente lhe faltem as qualidades dignas
de serem enaltecidas publicamente; mas é que às vezes seu valor atinge setores
estranhos ao meio escolar.
A condição indispensável a uma correta es colha é estar o patrono em
situação de ser compreendido e servir como exemplo à infância escolar. Não é o
prestígio mais alto nem o mais alto valor que atendem aos requisitos exigidos:
um lugar comum, uma vida às vezes singela em sua repercussão pública, mas
grandiosa em esforços realizados, apresenta muito maior soma de estímulos para
o pequeno estudante.
A revisão dos nomes de patronos das escolas impedirá certamente que, de
agora em diante – a Comissão que se ocupa de tais estudos tem caráter
permanente – nomes que uma indicação menos avisada possa sugerir, sejam, sem
utilidade prática, aproveitados designando nossas escolas primárias.
Já
que focalizamos tal assunto, seria interessante lembrar uma vida modesta em sua
projeção – não foi assombro nem gênio – mas foi mais talvez que isso. Uma vida
eivada de exemplos edificantes é algo de grandioso que muitas vezes vultos de
projeção não conseguiram viver.
Qualquer escola, estamos certos, se orgulharia de ter como patrono o
Capitão Aviador Felino Alves de Jesus que tão intensamente lutou pelas
realizações do espírito e da inteligência.
Distinto e estudioso oficial da FAB, faleceu há pouco vitimado por
infecção adquirida em serviço.
Ouçamos o que os jornais dele disseram:
“Nascido em 9 de maio de 1918, nesta capital, fez o curso primário numa
Escola Pública de Jacarepaguá e o secundário no Ginásio 28 de Setembro e
Colégio Pedro II. Matriculou-se, em 23 de abril de 1934, no Curso Prévio da
Escola Naval graduando-se Guarda-Marinha em 30 de dezembro de 1939. Criado o
Ministério da Aeronáutica em 20 de janeiro de 1941, foi com seu coleia Mário
Soares Castelo Branco, em 10 de maio desse mesmo ano matriculado na Escola de
Aeronáutica dos Afonsos, como oficial-aluno, no curso de piloto aviador;
terminando o curso em 30 de setembro de 1942, foi promovido a 1o
tenente em 4 de dezembro de 1943 e designado por suas qualidades como auxiliar
de instrução da Escola de Aeronáutica. Foi o primeiro páraquedista da FAB,
tendo sido aprovado com “menção honrosa” em 3 de março de 1943, pela Escola do
Aero Clube de São Paulo. Ao se despedir da Escola de Aeronáutica por ter de
seguir para a guerra, o Brigadeiro Fontenele, a ele se dirigiu nos seguintes
termos: “Elogio o Tenente Felino pela correta disciplina militar, dedicação e
espírito de sacrifício”. Nos Estados Unidos tirou o curso de “controlador de
combate” e nessa função seguiu para o teatro de operações na Itália integrando
o famoso 1o Grupo de Caça; foi oficial de ligação e fez 11 missões de
transporte em avião B-25 C. Em 14 de maio de 1945, regressou da guerra e foi
classificado no 2o GT. Matriculou-se posteriormente na Escola
Técnica do Exército para tirar o curso de Radiocomunicação, tendo sido
classificado em 1o lugar na sua turma. Sua folha de assentamentos
consta de 2.940 horas de vôo; 31 saltos de páraquedas. Possui as medalhas da
“Campanha da Itália” e “Cruz de Aviação”. Deixou dois livros: Navegação
astronômica e Trajetória evolutiva. Fez seu último vôo em 11 de
junho de 1949, comandando um avião do 2o GT, em serviço, na rota de
Fernando de Noronha”.
Bela
vida! Simples, humana, eivada de lutas, inglórias algumas, brilhantes outras.
Um verdadeiro homem que pode mostrar a nossos pequeninos escolares como trilhar
a velha e sempre nova estrada do cumprimento do dever!
Aqui
fica a sugestão, numa época em que se procura renovar os pontos de vista de
apreciação dos valores humanos: já não são as trajetórias brilhantes nem as
mais extraordinárias capacidades humanas as únicas dignas de se render honra ao
mérito.
As verdadeiras vidas, humanas e simples, mas sabiamente vividas são as
que devem servir de padrão e designar com seu exemplo edificante e tão
facilmente imitável, nossas escolas públicas primárias.
[1]
Transcrito da seção “Aviação”, do Correio da Manhã, de 20 de julho de
1949.
[2]
Transcrito do Correio Leopoldinense, de 21 de agosto de 1949
[3]
Librar-se: no sentido de elevar-se (Dicionário Aurélio Viana)
[4]
Transcrito de A Razão, do Rio de Janeiro, de 1o de julho de
1950.
[5]
Transcrito da seção “Educação e Ensino”, do Jornal do Brasil, de 8 de
agosto de 1952.